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1 Agatha carvalho e Luiza Lyrio MED-103C Psicologia ADOECIMENTO A doença pode ser entendida como uma ruptura da linha de continuidade da vida, da interrupção temporária ou definitiva, dos sonhos e de alguma previsibilidade que guardamos sobre o dia de amanhã (Bo- tega,2007) OBS.: O adoecer está relacionado com a forma com que cada um lida com a doença, tem a ver com subjetividade. O adoeci- mento é a forma única de viver o processo de doença, a experiencia de estar doente é sentida de uma forma sempre única pela pessoa. “mesma doença, momentos diferen- tes, experiências únicas, formas de viver di- ferente”. Cada um vive a sua dor; a experi- ência do adoecer é sempre única, vivenciada pelo sujeito A doença impede o indivíduo de trabalhar, de divertir, tira-o do convívio familiar e dos amigos, isola-o. Cada um vive a sua dor; por mais que os outros se esforcem para compreende-lo, ninguém sentirá o que ele sente. A experiência de estar doente é sentida de uma forma sempre única, pela pessoa. (Campos,2003:42) Não é só a dor que a doença traz que inco- moda, é algo mais subjetivo; é a dor de sa- ber-se doente, de perder a condição de sa- dio. Em muitos casos, a não-elaboração do luto pela perda da saúde leva o indivíduo para a cronicidade (Coelho,2001:70) O processo de adoecer pode ser tão dolo- roso para o paciente, que mesmo após se reestabelecer, ele pode ficar com sequelas emocionais “cronicidade emocional”. Ess processo está muito relacionado a duas coi- sas: ao sentido da doença na vida das pes- soas e ao ganho secundário, que é um me- canismo de defesa que de alguma forma, inconscientemente, traz um beneficio pelo processo. Depois que o paciente fica cu- rado, por vezes ele ainda se vê na condição de adoecido para se beneficiar. Vale ressal- tar que esse mecanismo ocorre de forma inconsciente. RETOMANDO... Cada um vive a sua dor; a experiência do adoecer é sempre única, vivenciada pelo sujeitoc •Descoberta da doença: de um modo ge- ral está relacionada ao momento de crise. Esse momento inicial de crise, as vezes pa- ralisa. A equipe espera que o paciente reja rapidamente, mas nem sempre isso ocorre, justamente porque ocorre uma suspensão de uma certa estabilidade na vida do su- jeito •A doença transforma o homem de sujeito de intenção em sujeito de atenção. “Fiz um trato com meu corpo. Nunca fique doente. Quando você quiser morrer eu deixo” (Leminski). Acordo com o corpo escravo e obediente: assim deixa de existir angústia diante de duas incertezas da vida: o sofrimento da do- ença e o morrer •Sofrimento quando o sujeito se depara com uma realidade diferente da poesia. Adoecimento e hospitalização 2 Agatha carvalho e Luiza Lyrio MED-103C Psicologia • “O sentimento de uma pessoa que, de re- pente, se vê gravemente enferma é a de que a partir do seu próprio corpo, deixou de ser dona de si.” (Botega,2006:49). HOSPITALIZAÇÃO •A vivência da perda da condição de sadio, a convivência com a doença e a possibili- dade da hospitalização comprometem psi- quicamente qualquer sujeito, mesmo que em maior ou menor intensidade. Perder a condição de sadio, a convivência com as pessoas que você gosta por conta dessa hospitalização, lidar com essa reali- dade de uma doença aguda ou crônica e a possibilidade de ficar hospitalizado, com- promete o paciente emocionalmente. “Quando fui admitido no hospital, senti que estava perdendo o controle sobre a minha vida.” •Hospital: geralmente não é visto como um lugar muito hospitaleiro. • Isso se dá porque o bem-estar psicológico do paciente ainda é pouco considerado no atendimento da saúde moderna. • O excesso da valorização dos insumos tec- nológicos relacionados aos avanços cientí- ficos da área biomédica tem contribuído para dessubjetivação das práticas de saúde e dos atores envolvidos nesse cenário. É pre- ciso pensar de forma total. •Os pacientes, ao entrarem no hospital se sentem absorvidos por aquilo que Goffman descreveu como instituição total (que as- sume o controle de praticamente todos os aspectos da vida). OBS.: Conceito de instituição total- Essa institucionalização, já que estar hospitali- zado é estar institucionalizado, traz esse sentimento de que a instituição assume o controle das coisas da sua vida. •Espera-se que os pacientes permaneçam passivos, cooper ativos e não se envolvam. •Despersonalização •Estigma de doente (sinal que a sociedade utiliza para discriminar o indivíduo que apresenta determinadas características). •Importante ressaltar que todo esse processo de perda pode deixar o paciente muito fra- gilizado. (perda de autonomia, independên- cia, das suas coisas, ou até uma mutilação, perda da vida, etc) •Qualquer pequeno evento estressor que aconteça pode significar um sofrimento imenso •No caso de pacientes hospitalizados é ne- cessário considerar não só o adoecer, mas também a internação como um fator que provoca emoções e sentimentos dolorosos (Nigro,2004). ESTRESSE PSICOLÓGICO A QUE ESTÁ O APCIENTE HOS- PITALIZADO AMEAÇA BÁSICA A INTEGRIDADE NARCÍSICA São atingidas as fantasias onipotentes de imortalidade, de controle sobre o próprio destino e de um corpo indestrutível. Fanta- sias mórbidas podem aparecer dando sensa- ção de pânico e impotência. (Botega,2006) É um fator sob o qual os pacientes estão submetidos, uma vez que ameaça a integri- dade, torna fragilizada uma condição de onipotência sobre a imortalidade. Tem como consequência sensação de pânico, im- potência abandono, etc. 3 Agatha carvalho e Luiza Lyrio MED-103C Psicologia •Ansiedade da separação: Separação da vida cotidiana, da família, dos objetos pes- soais e estilo de vida. (Botega,2006) •Medo de estranhos: Entregar à vida a pes- soas desconhecidas, sem saber de condição técnica e humana de cada um deles. (Bo- tega,2006) •Culpa e medo de retaliação: Fantasias em relação à doença como um castigo por al- gum erro ou fracasso (Botega,2006) •Medo da perda de controle: Desde o con- trole do momento vivenciado como também da perda da fala, dos movimentos. (Bo- tega,2006) •Perda de amor e aprovação: Preocupação com as mudanças de papéis, prejudicando a auto-estima devido à dependência, aumento de despesas. (Botega,2006) •Medo de perda de, ou de dano a partes do corpo: Questão da mutilação muito pre- sente junto com a questão da imagem cor- poral. Ex.: mastectomia. •Medo da morte e da dor (Botega,2006) INSERÇÃO E SIGNIFICAÇÃO DA DOENÇA NA VIDA DA PESSOA •Reações diversas ao aparecimento e insta- lação da doença, considerando: • Caráter temporário ou definitivo da doença; • Repercussões do diagnóstico; • Valor simbólico das funções corpo- rais ou dos órgãos atingidos A doença pode vir com a possibilidade de ser uma reorganização dos elos entre o indi- víduo e seu meio social; Remanipulação da imagem do próprio corpo; •Atualização de conflitos afetivos silencio- sos, até o momento; • “O modo pelo qual a doença é vivida, sua repercussão psicológica mas também socio- profissional, dependem intimamente de pa- râmetros ligados à doença em questão e das características de personalidade do paciente que é atingido, assim como da organização de suas capacidades defensivas.” (Jeam- met,2000p.287) • “Numerosos fatores podem intervir para desenvolver a receptividade do organismo à ação patogênica do meio ou para restringir suas capacidades habituais de defesa. Entre esses fatores, o equilíbrio psicológico, a carga emocional, a qualidade das relações afetivas desempenham um papel primordial ao lado dos fatores propriamente físicos, bi- oquímicos e infecciosos.” (Jeammet 2000, p.287) “integralidade do sujeito” CASO CLÍNICO •“O Sr.A é um trabalhador imigrante portu- guês, de 44 anos de idade. Suas perturba-ções se instalaram em alguns dias, sob a forma de dores epigástricas pós-prandiais, com náuseas e vômitos, enquanto o trânsito intestinal e as evacuações estavam normais. Essas perturbações fizeram suspeitar de uma pancreatite aguda; o doente foi hospi- talizado num serviço de cirurgia. Durante essa internação, um certo diagnóstico foi eliminado e uma anamnese muito completa não encontrou nenhuma causa orgânica para os sintomas do paciente. Portanto, as perturbações persistiram no meio hospita- lar. O Sr. A se alimenta mal e continua a emagrecer. Ainda que na França já há sete anos e dominando suficientemente a língua para entrar em contato com seus interlocu- tores, ele adota uma atitude de retraimento, permanecendo isolado de outros pacientes, só exprimindo aos prestadores de cuidados uma queixa estereotipada. 4 Agatha carvalho e Luiza Lyrio MED-103C Psicologia ...Soubemos que o Sr.A. trabalha na cons- trução civil desde sua chegada à França. Ele não parou jamais por motivo de doença, nem acidente de trabalho. Ele é casado e tem 04 filhos, mas espera, para poder trazer sua família à França, que lhe concedam uma moradia mais espaçosa. Até um mês antes da hospitalização, ele dividia o apartamento com sua irmã e seu cunhado, mas após uma discussão bastante violenta em torno de pro- blemas familiares, o cunhado lhe fez com- preender que era por favor que lhe ofere- ciam a hospitalidade e que se ele não esti- vesse contente, ele só tinha partir. Ferido em seu amor-próprio, o Sr.A foi morar num ho- tel, e se viu embaraçado para pagar um alu- guel nitidamente mais alto do que sua con- tribuição para o aluguel anterior, permane- cendo desde então privado do único apoio familiar com que contava na França. Foi nesse contexto que as perturbações digesti- vas se fixaram. ... Com a prescrição de convalescença em Portugal, as perturbações desapareceram, graças em particular, segundo o Sr. A , pelo preparo por sua mulher de uma comida que seu estômago é capaz de suportar, mas desde o retorno à França as perturbações re- apareceram.” Observações: 1. Trauma afetivo aparentemente menor como desorganizador de um equilí- brio frágil (Nunca apresentado ante- riormente, sem sinais) 2. Perturbações aparecem como reação a uma situação de perda. 3. Sintomas estão inseridos num con- texto deprimido. A inapetência e a re- jeição alimentar como lembrança de se deixar alimentar por um meio am- biente hostil. 4. Função corporal substituindo as pos- sibilidades de expressão verbal;
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