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Luíza Barreto – Medicina 2020.1 SAÚDE MENTAL ➢ Saúde mental é um campo ou uma área de conhecimento e de atuação técnica no âmbito das políticas de saúde. ➢ Saúde mental não pode ser reduzida ao estudo e tratamento das doenças mentais, pois é mais amplo e deve incluir os fatores da vida dessa pessoa, não podendo focar apenas na terapêutica. ALIENADO: ➢ É alguém “de fora”, estrangeiro, alienígena. Pode significar estar fora da realidade, fora de si, fora do mundo, sem o controle de suas próprias vontades e desejos. ➢ Na medida em que o alienado pode representar um sério perigo à sociedade, por perder o juízo ou a capacidade de discernimento entre o erro e a realidade, o conceito de alienação mental nasce associado à ideia de periculosidade. - Alienado é alguém que está de fora, podendo significar alguém que está fora da realidade e do mundo, podendo oferecer um risco à sociedade por perder seu juízo de realidade e valor e sua capacidade de discernir o errado do certo. CIDADÃO: ➢ O termo vem de cidade, espaço público de trocas sociais, políticas, econômicas, etc. ➢ Cidadania é a responsabilidade e possibilidade de conviver e partilhar com os outros de uma mesma estrutura política e social. ➢ O alienado estaria impedido de ser admitido como cidadão. PHILIPE PINEL: É considerado o pai da psiquiatria; libertou os loucos das correntes, mas os manteve em tratamento asilar, sob isolamento. De acordo com esse paradigma, o tratamento iria restituir ao homem a sua liberdade subtraída pela alienação. Para Pinel, o hospital seria, ele próprio, uma instituição terapêutica. - O tratamento iria restituir ao homem sua saúde a partir de estarem nesses lugares de tratamento. Ele defendia que o próprio hospital já era terapêutico. INSTITUCIONALIZAÇÃO: ➢ Se as causas da alienação mental estão presentes no meio social, é o isolamento que permite afastá-las. ➢ Isolamento = institucionalização e hospitalização integral. ➢ Esquirol, o primeiro discípulo de Pinel, argumentava que uma casa de alienados, nas mãos de um hábil alienista, seria o agente mais poderoso para a cura da alienação mental. ➢ Princípios fundamentais do hospício por Esquirol: 1. Garantir a segurança do louco e de suas famílias. 2. Libertá-los das influências externas. 3. Vencer suas resistêcias pessoais. 4. Submetê-los a um regime médico. 5. Impor-lhes novos hábitos intelectuais e morais. - Se o paciente estava no hospício, ele estava seguro, e sua família também estaria segura dele. - Seria um lugar de controle social. FUNÇÕES TERAPÊUTICAS: Segurança e periculosidade (afastar o doente da sociedade para segurança dele e dos outros) TRATAMENTO MORAL: ➢ Requer ordem e disciplina para que a mente desregrada possa encontrar seus objetivos e verdadeiras emoções e pensamentos. ➢ O ‘isolamento do mundo exterior’ é uma construção de Pinel que até hoje não está totalmente superada na prática psiquiátrica. ➢ Entre as mais importantes estratégias do tratamento moral, estava o ‘trabalho terapêutico’. - É como se as pessoas alienadas precisassem seguir uma determinada disciplina para voltar ao seu estado mental normal. - Trabalho terapêutico: Os pacientes deveriam trabalhar dentro do hospital como parte do tratamento. ➢ O conceito de alienação mental contribuiu para produzir uma atitude social de medo e discriminação para com as pessoas identificadas como tais. ALIENISMO NO BRASIL COLÔNIAS DE ALIENADOS: Surgiram no início do século XX, em áreas agrícolas, onde ocorria o trabalho terapêutico. Famílias eram contratadas para cuidar dos internos. Considerava-se que o trabalho estimulava a vontade e a energia, levando ao desaparecimento dos delírios. Com Juliano Moreira, foram criadas dezenas de colônias pelo país, e Adalto Botelho, nas décadas de 40 e 50, ampliou esse projeto. - O trabalho era considerado terapêutico, inclusive porque não tinham o arsenal de medicamentos que se tem hoje. EXPERIÂNCIAS DE REFORMA: Com o tempo, as colônias mostraram-se iguais aos asilos tradicionais. De uma aldeia de pessoas livres, nasceram instituições asilares de recuperação pelo trabalho. Após a Segunda Guerra, começaram as críticas sobre os hospícios, nascendo as primeiras experiências de ‘reformas psiquiátricas’ como a Comunidade Terapêutica e Psicoterapia Institucional (a Antipsiquiatria). - As pessoas começaram a ser obrigadas a trabalhar, não eram mais livres como no caso das colônias. REFORMA PSIQUIÁTRICA ➢ Processo histórico de formulação crítica e prática que questiona os modelos existentes, elabora proposta de transformação destes e do paradigma da psiquiatria. Luíza Barreto – Medicina 2020.1 ➢ A reforma abarca a clínica, política, o social, cultural e as relações com o jurídico. Agrega novas conquistas dos direitos humanos e busca ações humanistas. - Ações humanistas não eram algo muito presente na história da psiquiatria. ANTECEDENTES DA REFORMA NO BRASIL: ➢ Psiquiatria comunitária e as comunidades terapêuticas das décadas de 60 e 70. ➢ 1978 – Movimento dos trabalhadores em saúde mental. Avançou até assumir o seu caráter antimanicomial. ➢ 1987 – I Conferência Nacional de Saúde Mental (tratou- se da desinstitucionalização) e II Encontro Nacional dos Trabalhadores de Saúde Mental (por uma sociedade sem manicômios). - O movimento dos trabalhadores da saúde mental foi quando começaram a questionar algumas posturas, principalmente a respeito dos manicômios. LEI DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: - Foi a partir desse projeto de lei que muitas discussões foram feitas, até que chegasse realmente à reforma psiquiátrica. - Esse projeto visava a não construção de instituições manicomiais, asilares. - Antes as pessoas eram internadas a força, e a pessoa não podia dizer não, e essa lei dizia que essas internações forçadas só poderiam ser feitas com ordem de um juiz. - Produziu muitos efeitos antes mesmo de ela ser aprovada, já que ela só foi aprovada em 2001 (e mesmo assim, foi aprovada com muitas modificações), inclusive por conta das portarias fundamentais, que já tiveram efeito antes dessa lei ser aprovada. PORTARIAS FUNDAMENTAIS: NAPS E CAPS: O NAPS surgiu na década de 80 em São Paulo e o CAPS surgiu em 1987 em São Paulo. A Portaria 224 do Ministério da Saúde de 1992 formalizou as funções dos NAPS/CAPS como unidades de saúde locais e regionalizadas com população adscrita, como possibilidade de funcionamento 24 horas durante os 7 dias da semana. As funções dos novos serviços era prover cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar; atuar como porta de entrada da rede de serviços de saúde mental e atender pacientes referenciados dos serviços de urgência ou egressos de internação psiquiátrica. O CAPS é o Centro de Atenção Psicossocial, e é um serviço de saúde oferecido pelo SUS. É um lugar de referência e tratamento para pessoas que sofrem com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e demais quadros, cuja persistência e/ou severidade justifiquem sua permanência num dispositivo de cuidado intensivo, comunitário, personalizado e promotor de vida. - Apareceu para substituir os hospitais psiquiátricos integrais antigos. Alguns objetivos do CAPS: Oferecer atendimento à população de sua área de abrangência, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários; prestar atendimento em regime de atenção diária; promover a inserção social; organizar redes de serviços de saúde mental de seu território; dar suporte e supervisionar a atenção à saúde mental na rede básica; regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental de sua área. → As condições institucionais ratificadas pela Lei 10.216/2001 transformaram, em política pública instituída, os objetivos originais da reforma psiquiátrica: a reduçãodos leitos em hospitais psiquiátricos e o desenvolvimento de alternativas assistenciais comunitárias. - O trabalho deve ser com objetivo de retornar o paciente à sociedade. - Vai se utilizar da multidisciplinaridade, incluindo psicólogos, educadores físicos, psiquiatras, enfermeiros, etc. - No CAPS 1, pode ter apenas o médico generalista como responsável, devido à dificuldade de encontrar psiquiatras em cidades pequenas. Luíza Barreto – Medicina 2020.1 - O CAPS 3 vai ser usado caso o paciente não tenha condições de voltar para casa ou caso tenha um quadro que possa ser resolvido de forma mais rápida, sem precisar internar em um hospital psiquiátrico integral CAPS ESPECIAIS: - No CAPS ad, os leitos para observação não são usados para pernoite. - O CAPS i é permitido até 18 anos, depois disso, vai para o CAPS adulto. ➢ Os CAPS devem se responsabilizar por 100% da demanda dos portadores de transtornos mentais severos de seu território. ➢ Pode ser considerado intensivo se o paciente vai ao CAPS até 25 dias no mês. ➢ Semi-intensivo é quando ele vai até 12 dias no mês. ➢ Não intensivo é quando vai até 3 dias no mês. - O plano terapêutico deve ser individualizado para cada paciente, inclusive pela média de dias em que ele vai precisar ir ao CAPS. - Uma possibilidade intermediária entre o hospital integral e o CAPS é o hospital dia, onde o paciente fica durante o dia no hospital dia, faz os serviços e faz as refeições lá, mas dorme em casa. Apresenta leitos de observação, mas o paciente não dorme lá, pois é apenas um centro de convivência, e o paciente está livre para ir e voltar. RESIDÊNCIAS TERAPÊUTICAS: ➢ São casas preferencialmente inseridas na comunidade, destinadas a servir de moradia e cuidado aos pacientes egressos de internações de longa permanência, que não possuam suporte social e laços familiares. ➢ Devem abrigar no máximo 8 usuários e estarem vinculados ao ambulatório de saúde mental mais próximo. - Lares abrigados não são residências terapêuticas porque não estão no ambiente da comunidade. - Deve ter uma equipe responsável por monitorar as pessoas que vivem nas residências terapêuticas. REFORMA: ➢ Usuário como sujeito ➢ Território: Campo de cuidado da clínica psicossocial ➢ Reabilitação psicossocial: Inclusão social como meta ➢ Ações terapêuticas coletivas ➢ Projeto terapêutico individual - O paciente deve ser tratado como pessoa que pode resgatar a sua autonomia. - O tratamento não deve buscar apenas a cura, mas deve procurar a inclusão na sociedade, mesmo que ele ainda tenha sintomas. - Se os profissionais no CAPS não souberem trabalhar a saúde mental no contexto geral, buscar essa ressocialização do paciente, e sabe apenas tratar sintomas, o CAPS acaba se tornando um pequeno hospital, no mesmo processo antigo. A intenção é que o paciente precise cada vez menos do CAPS, e se os profissionais trabalharem com o paciente indo sempre todos os dias da semana, acaba tendo uma institucionalização do CAPS (quando o paciente só consegue viver por meio daquela instituição, se ele não for, ele não vive). Fonte extra: Artigo “Reforma Psiquiátrica, Federalismo e Descentralização da Saúde Pública no Brasil” - 2011 Luíza Barreto – Medicina 2020.1
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