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Saúde Mental 01

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1 Camila Carneiro Leão Cavalcanti 
Saúde Mental 
História da Psiquiatria 
 
 Várias culturas primitivas utilizavam hipóteses demonológicas para explicar os 
transtornos psiquiátricos. 
 Os acontecimentos inexplicáveis eram lidados com magia e misticismo, ou seja, o doente 
mental era divinizado ou demonizado. No início da Idade Média, os loucos eram vistos pela 
ordem do sagrado [ex: visões de santos | possessões]. 
 A loucura faz com que o indivíduo não consiga se colocar no lugar do outro, causa 
estranhamento. Por isso, não consegue se fechar laços sociais, deixando esse indivíduo sem 
lugar na sociedade, excluído. 
Tendências da psiquiatria 
- Doente mental divinizado ou demonizado 
- Explicar as doenças mentais através da fisiologia e biologia: psicocirurgias, choque insulínico, 
eletrochoque. 
- Explicar as doenças mentais pelo viés psicológico (a partir do século XIX – início da psicologia 
com Freud) 
 
Reformas psiquiátricas no mundo 
▪ Escola Francesa – 1ª Reforma Psiquiátrica 
Século XV: a identificação das doenças mentais era feita a partir de critérios 
socioculturais imprecisos. 
Século XVII: surgimento de locais para o cuidado de doentes mentais. 
Século XVIII: Luís XV sanciona lei que permite prender ou exterminar portadores de 
doenças mentais. 
Ainda no século XVIII, coincidindo com o período da Revolução Francesa surge e 1ª 
reforma psiquiátrica – igualdade, fraternidade, liberdade. 
 
A Reforma Psiquiátrica na França aboliu o caráter demoníaco da doença mental, que 
agora passa a ser reconhecida como uma patologia digna de cuidados médicos. A noção da 
doença mental se destaca com nitidez e o objetivo da psiquiatria se forma. 
 
 Ato Pineliano [Philipe Pinel] 
Enfatizou os princípio humanitários nos cuidados médicos psiquiátricos nos hospitais 
que trabalhou, aprimorou a identificação de doenças mentais e formou vários médicos 
franceses. 
Os doentes psiquiátricos passaram a ser da ordem da Medicina, deixando de partir do 
princípio da periculosidade do louco. 
Dinheiro → mãe → quartel → SOLDADO 
Se insere o paciente na sociedade, o dando um papel social uma vez que ele se 
identifica como “soldado”. 
 
Você não entra na loucura, mas não diz ao paciente que ela não existe. 
Essa técnica evita gatilhos. 
 
 
2 Camila Carneiro Leão Cavalcanti 
Pinel ordenou “desagrilhar” os doentes psiquiátricos. Agora, eles estavam livres dentro 
dos hospitais, mas continuavam internados. Como ele acreditava que a loucura era provocada 
pela sociedade, esses pacientes ainda continuaram internados nos hospitais psiquiátricos para 
funcionar como um local de proteção para eles, além de promover um melhor ambiente para o 
estudo de cada caso [descrição das doenças para estudar posteriormente]. 
- Esquirol, seu herdeiro disciplinar, incrementou as descrições detalhadas dos doentes; 
- J. P. Falret descreveu a loucura circular e J. Baillarger descreveu a loucura de dupla 
forma, o atual Transtorno Bipolar. 
- J. Moureau de Tours estudou a influência do haxixe na saúde mental através de seu 
efeito na dissociação de comportamento → foi o precursor da psicofarmacologia. 
- Ernest Laségue descreveu quadros delirantes de evolução crônica e a folie-à-deux 
(loucura a dois). 
 
▪ Escola Alemã – 2ª Revolução psiquiátrica 
Aconteceu no contexto cultural romântico. 
Desprezava o espírito iluminista francês, enfatizava o aspecto irracional [o sentimento 
de contato com a natureza e os valores individuais] e considerava mais a empatia do que a razão. 
Enfatizava as particularidades individuais em conflito com suas pulsões irracionais, em 
busca do equilíbrio. 
Não melhoraram as condições de tratamento (caráter especulativo-teórico). 
 
 Ernst von Feuchtersleben 
Criou o termo psicose, que foi relacionado a qualquer transtorno mental sem intenção 
classificatória. Além disso, concebe a doença mental de forma monista (corpo e mente não 
podem ser dissociados) e a reação somaticista (baseada na neuroanatomia e na neurofisiologia, 
exercendo a profissão em hospitais específicos – hospitais psiquiátricos). Ernst promoveu a 
formação de neuropsiquiatras e do ensino prático da psiquiatria, acumulando dados de várias 
áreas do conhecimento. 
- Kraepelin realizou o estudo das doenças psiquiátricas (nosologia psiquiátrica) baseada 
no curso natural da doença. Ele critica a mitologia cerebral por acreditar que a patologia deve 
ser estudada in vivo. 
 
 
 
Transtornos de pensamento 
Bleuler – define esquizofrenia (“mente dividida”) e identifica seus sinais fundamentais: 
dissociação dos processos de pensamento, ambivalência, autismo e embotamento afetivo. 
Kurt Schneider – identificou e especificou sintomas de primeira ordem da esquizofrenia: tipos 
específicos de delírios e alucinações. 
Freud e a Psicanálise – passagem do suporte físico ao psicológico após encontro com Charcot. 
Nesse ponto a fronteira rígida entre o normal e o patológico se dissolve. Rigor científico e 
extração das leis naturais universais para a compreensão do psiquismo. 
 
 
A Reforma Psiquiátrica Brasileira (RPB) – marcos históricos, conceituais e 
políticos 
Forma como foi designado o processo histórico marcado pela mudança da política de 
saúde mental e assistência psiquiátrica. 
 
3 Camila Carneiro Leão Cavalcanti 
Acompanhou o período da ditadura militar e a construção do SUS. 
Na reforma brasileira aconteceu: 
- Descentralização do discurso médico 
- Demarcação da interdisciplinaridade 
- Rede de suporte [campo da ação territorial] 
- Território – conjunto de referências socioculturais e econômicas que moldam o 
cotidiano de determinada população 
 
O século XVII trouxe a criação de modalidades de hospitais, a saber, o hospital geral, 
que passou a cumprir a função de mantenedor da ordem social e política mais explícita. Para 
Foucault, o hospital geral foi de fundamental importância para a definição de um novo “lugar 
social” para o louco e a loucura na sociedade ocidental (AMARANTE, 2007). 
 
➔ Hospital geral – HC – enfermarias – o internamento dura de 3 a 6 meses 
[adolescentes em crise, devido ao abuso de química e casos descompensados]. 
➔ A enfermaria de psiquiatria é apenas mais uma área médica que poderia ser tratada 
no hospital geral. 
➔ O paciente chega no hospital geral a partir da atenção básica e do ambulatório. 
 
O grupo composto pela Comunidade Terapêutica e pela Psicoterapia Institucional 
defendiam que o fracasso estava na gestão do próprio hospital e que a solução seria introduzir 
mudanças na instituição. O segundo grupo é formado pela Psiquiatria de Setor, e a Psiquiatria 
Preventiva defendia que o modelo hospitalar estava obsoleto e deveria ser substituído por 
outros serviços assistenciais, a saber, os hospitais-dia, oficinas terapêuticas e centros de saúdes 
mental. Existia um terceiro grupo, da Antipsiquiatria e a Psiquiatria Democrática, que colocava 
em questão o modelo científico psiquiátrico, assim como as instituições psiquiátricas 
(AMARANTE 2007). 
Como a Psiquiatria de Setor apontava para um trabalho externo ao manicômio, era 
preciso adotar formas de continuidade terapêutica após alta hospitalar. Nesse sentido, foram 
criados os Centros de Saúde Mental, distribuídos nos diferentes “setores” administrativos das 
regiões francesas. Esses serviços foram estabelecidos de acordo com a distribuição populacional 
das regiões, e pela primeira vez na história da assistência psiquiátrica se falou em regionalização 
(AMARANTE 2007). 
Ela propõe a ‘transversalidade’, como encontro e confronto dos papéis profissionais 
com o intuito de problematizar as hierarquias e hegemonia (AMARANTE, 2007). Isso tira a 
hierarquia e a responsabilidade da transmissão do conhecimento do psicólogo e psiquiatra. 
Outros profissionais da saúde estão agora envolvidos no tratamento da saúde mental, propondo 
hegemonia. 
 
➔ USF (1º) – UPA (2º) – Hospital geral (3º) 
USF (1º) – CAPS (2º) – Hospitais psiquiátricos (3º) 
➔ Alguns CAPS funcionam com acolhimento 24 horas. 
➔ O CAPStem função mista, ou seja, tem a especialidade e lida com momentos de 
crise. Nem todos os serviços estão implantados onde deveriam. 
➔ Manicômios judiciários são locais efetivos que continuam mesmo depois da reforma 
psiquiátrica. 
➔ Moro no Espinheiro. Tenho uma crise psicótica em boa viagem. O CAPS de boa 
viagem é obrigado a me atender, iniciais o tratamento e entrar em contato pela rede 
com o CAPS da região do Espinheiro para continuar o tratamento. 
 
 
 
4 Camila Carneiro Leão Cavalcanti 
Após a IIWW, surgiram as primeiras tentativas de transformar o hospital psiquiátrico 
(AMARANTE, 1995): 
- A Comunidade Terapêutica na Inglaterra; 
- Psiquiatria Institucional e a Psiquiatria de Setor na França; 
- Psiquiatria Preventiva nos EUA. 
 
No Brasil, essa transformação aconteceu no período da ditadura militar a partir do 
Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM). 
 
1ª Fase da Reforma Psiquiátrica Brasileira 
Crítica ao asilo e à mercantilização da loucura. 
Primeiras denúncias de violência e abandono. 
Em meio a um movimento de indignação pelas condições de tratamento do doente foi 
construída a primeira articulação entre jovens trabalhadores da saúde mental de SP, RJ, BA e 
MG → Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental (MTSM). 
Basaglia visita o Hospital Colônia de Barbacena e o compara a um campo de 
concentração [III Congresso Mineiro de Psiquiatria]. 
*Lembrar: as colônias agrícolas foram a base para a conformação Hospital Colônia. 
 
As primeiras formulações do movimento, o qual adotou o nome Movimento dos 
Trabalhadores de Saúde Mental (MTSM), baseavam-se na denúncia contra: 
 O desrespeito aos direitos humanos dos pacientes; 
 As condições de trabalho desfavoráveis para os profissionais de saúde mental (não havia 
concurso público, os trabalhadores tinham contratos ilegais – de bolsistas, por exemplo – e o 
ambiente interno dos hospitais era de abandono e confinamento); 
 A mercantilização da loucura, isto é, a proliferação de hospitais psiquiátricos privados 
financiados pela Previdência Social. 
 Franco Basaglia 
Década de 60; 
Psiquiatria democrática italiana; 
Gorizia e Trieste – dois polos da mudança; 
Ruptura; 
Lei 180 (13/05/1978) → Lei da Reforma Psiquiátrica Italiana 
Criticava a redução do sujeito à sua doença (institucionalização do indivíduo). 
Enxergava o internamento como a aniquilação da individualidade do doente e sua 
objetificação. 
Introduziu uma noção de desinstitucionalização – retirar a instituição de dentro do 
sujeito. 
- Desospitalização: alternativas de tratamento fora do ambiente de internação e 
reclusão. 
*Os pacientes eram retirados das suas instituições e levados para outros lugares. 
Esse procedimento mecânico promovia uma mudança, fazendo com que o paciente 
percebesse que ele tem outras formas de vida e leva o ser ao protagonismo da sua própria 
história. 
*A reforma italiana foi a que mais influenciou a brasileira. 
 
 Franco Basaglia visitou o Hospital Psiquiátrico de Barbacena em 1979 – O Holocausto 
Brasileiro. 
 
5 Camila Carneiro Leão Cavalcanti 
 
 Determinantes políticos, econômicos e sociais para o abandono: 
 Ideologia de que o louco era incapaz de viver fora do confinamento; 
 Ausência de assistência à saúde mental fora dos hospitais; 
 Inexistência de uma política de saúde mental nacional, suas organizações relacionadas 
à saúde (INAMPS e Ministério da Saúde) nem se comunicavam. 
 
2ª Fase da Reforma Psiquiátrica Brasileira 
Primeiros esforços de desinstitucionalização, criação de ambulatórios e movimento pela 
mudança de conceitos e legislação. 
 
Dois maiores desafios: 
 - Entrar no sistema asilar e transformá-lo; 
 - Ampliar a oferta de atendimento em saúde mental fora dos hospitais. 
 
 1987 
 - I Conferência Nacional de Saúde Mental (CNSM) – favoreceu a articulação pró-reforma, 
apesar de ser pouco representativa e com convocação restrita. 
 - Essas articulações levaram a MTSM a convocar o II Encontro Nacional de Trabalhadores 
em Saúde Mental. 
 
 “Por uma sociedade sem manicômios” → lema criado pelo movimento internacional 
de redes alternativas. Surge o Movimento Nacional da Luta Antimanicomial (MNLA) surge para 
apoiar a RPB e congrega ativamente os usuários de serviços de saúde mental. 
 É necessário a quebra do paradigmas e invalidação social e jurídica do louco. 
 Implantação dos Centros de Apoio Psicossocial (CAPS) como alternativa aos hospitais 
psiquiátricos. 
 [A experiência de Santos – mostrou que é possível substituir os hospitais psiquiátricos 
pelo CAPS e os leitos psiquiátricos por hospitais gerais] 
 
➔ Os CAPS surgiram quando os leitos dos hospitais psiquiátrico foram fechados. 
Entretanto, a reforma psiquiátrica não foi tão efetiva, pois não foram criados CAPS 
ou equipes suficientes para atender esses pacientes. Os CAPS precisam ter uma 
estrutura para evitar as hospitalizações. Como não há estrutura suficiente, então, 
esses pacientes são transferidos para os hospitais para os hospitais psiquiátricos que 
ainda existem. 
 
1989 
Deputado Paulo Delgado – entrada no projeto de lei da reforma psiquiátrica. 
 
3ª Fase da Reforma Psiquiátrica Brasileira 
Construção de uma política nacional de saúde mental. 
 As propostas da RPB passam a fazer parte das orientações de política da saúde pública. 
A redemocratização do país, junto ao surgimento do SUS, permitam as ideias da RPB se 
desenvolverem em bases institucionais. 
 O Ministério da Saúde criou as primeiras regulamentações para os serviços comunitários 
(CAPS). 
 II CNSM – participação expressiva de usuários e familiares, que apoiam a substituição 
do modelo hospitalocêntrico por uma rede aberta e inovadora. 
 
6 Camila Carneiro Leão Cavalcanti 
 Teve início o processo de redução dos leitos psiquiátricos que não cumpriam as 
exigências mínimas a partir de uma fiscalização do SUS e do Ministério da Saúde. 
 
4ª Fase da Reforma Psiquiátrica Brasileira 
Implantação e consolidação da Nova Política Nacional de Saúde Mental [a partir de 2001] 
 Aprovação da Lei 10.216 que passou a regulamentar a assistência em saúde mental e 
realização da III Conferência Nacional de Saúde Mental (CNSM). 
 A III CNSM foi um marco na consolidação da reforma a consolidação dos objetivos 
centrais que são a cidadania do louco e da rede comunitária e territorial de serviços de saúde 
mental. Baseado na lei e na III CNSM, o governo federal estabeleceu normas de financiamento 
e organização da rede de serviços comunitários por meio da portaria 335. Essa portaria definiu 
as diversas modalidades de CAPS, incluindo serviços destinados à população de crianças e 
adolescentes e aos usuários de álcool e outras drogas. Além disso, apontou o papel dos CAPS na 
organização da atenção psicossocial, definindo que os conceitos de rede e território e sua 
articulação deveriam ser centrais. 
 2002 – Complementação da lei 10.216 – Portaria 335 → definiu como os CAPS deveriam 
funcionar. Foram definidas as diversas modalidades de CAPS, incluindo serviços destinados à 
população de crianças e adolescentes e ao usuário de álcool e outras drogas. Além disso, 
apontou o papel dos CAPS na organização da atenção psicossocial no território, definindo que 
os conceitos de rede e território e a sua articulação deveriam ser centrais para a nova 
modalidade de atenção comunitária. 
 [o paciente AD tem muito mais criticidade quando comparado com o paciente psicótico 
– eles precisam de clínicas diferentes] 
 2019 – Nota técnica → [nenhum serviço substitui mais o outro – ou seja, o hospital 
psiquiátrico não pode mais ser substituído] os hospitais psiquiátricos voltam; as crianças passam 
a poder ser hospitalizadas se o médico avaliar que é do interesse para o bem maior da criança 
(em espaços que não tenham contato com pacientes adultos); ECT como opção de 1ª escolha 
de tratamento. 
 
Premissas éticas e teóricas, pressupostos e as diretrizes gerais da RPB 
Direito do paciente e seu estatuto jurídico na sociedade democrática; 
Atenção psicossocial como caminhopara o acesso ao tratamento com qualidade e garantia da 
autonomia e liberdade do paciente; 
Construção de um novo lugar social para a loucura, o que significa o esforço de superação das 
concepções sociais que ainda sustentam o preconceito, estigma e a negação da autonomia 
possível do paciente. Isso também implica na existência de acolhimento e tratamentos capazes 
de sustentar os direitos e a subjetividade dos usuários que necessitam de acompanhamento 
mais permanente ou intensivo; 
O conhecimento sobre o sofrimento e tratamento, apontando a necessidade de uma construção 
permanente de práticas que aliviem o sofrimento e ampliem a autonomia e o protagonismo dos 
pacientes. 
Lei 10.126 e ONU – Direito dos usuários – direito ao tratamento, a ser informado, a recusar 
métodos terapêuticos, ao acesso as políticas sociais e ao reconhecimento de sua autonomia 
como sujeito de direitos; 
Lei 10.126: Organização da rede de serviços abertos e próximos à residência e a eliminação de 
características asilares ou confinamento. O Estado deve redirecionar o capital e os recursos 
humanos para serviços territoriais e comunitários, reservando ao hospital a função para 
situações de maior gravidade. 
 
7 Camila Carneiro Leão Cavalcanti 
Desinstitucionalização: pacientes submetidos a formas asilares de tratamento devem ser 
apoiados para construir alternativas fora das instituições recebendo suporte de moradia. A 
garantia de vida dos asilos é um pressuposto ético da RPB. 
Descentralização e ampliação da rede de serviços com incorporação decisiva da atenção 
primária: ESF como porta de entrada através da articulação do CAPS com a atenção primária. 
Desenvolvimento de estratégias ativas de inclusão social por meio de ações de trabalho: 
cultura, educação, lazer e esporte. 
 
Principais transformações da RPB 
Mudança do modelo de atenção com a hegemonia da atenção psicossocial de base comunitária; 
Leitos psiquiátricos reduzidos e os CAPS, residências terapêuticas e centros de convivência 
implantados; 
Ampliação do acesso ao tratamento, especialmente em regiões muito desprovidas de serviços; 
Os municípios com menos de 15.000 habitantes deverão ter seu atendimento assegurado por 
meio da atenção primária ou da organização de CAPS intermunicipais, de abrangência 
microrregional; 
Desenvolvimento de diversas iniciativas de inclusão social e produção de autonomia para 
usuários, como projetos de geração de renda, cooperativas sociais; 
Desenvolvimento de um importante campo de reflexões e produção de conhecimento, o campo 
da atenção psicossocial, que é multidisciplinar (psiquiatria, psicologia, psicanálise e assistência 
intersetorial) com importante participação nas universidades e na formação de novos 
profissionais. 
CAPS – Centro de Atenção Psicossocial 
É um serviço de saúde aberto e comunitário do SUS ele é um lugar de referência e 
tratamento para pessoa que sofrem com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e 
demais quadros, cuja severidade e/ou persistência justifiquem sua permanência no dispositivo 
de cuidado intensivo, comunitário, personalizado e promotor de vida [trabalho – lazer etc]. 
O objetivo do CAPS é 
oferecer atendimento à 
população de sua área de 
abrangência, realizando o 
acompanhamento clínico e a 
reinserção social dos usuários 
pelo acesso ao trabalho, lazer, 
exercício dos direitos civis e 
fortalecimento dos laços 
familiares e comunitários. 
É um serviço de 
atendimento de saúde mental 
criado para ser substitutivo às 
internações em hospitais 
psiquiátricos. 
 Existem quatro tipos de 
CAPS: I (infanto-juvenil), AD 
(álcool e outras drogas), ADI 
(infanto-juvenil álcool e outras 
drogas) e adultos. 
 
 
 
8 Camila Carneiro Leão Cavalcanti 
Os CAPS visam: 
✓ Prestar atendimento em regime de atenção diária; 
✓ Gerenciar os projetos terapêuticos oferecendo cuidado clínico eficiente e 
personalizado; 
✓ Promover a inserção social dos usuários através de ações intersetoriais que envolvam 
educação, trabalho, esporte, cultura e lazer, montando estratégias conjuntas de 
enfrentamento dos problemas. Os CAPS também têm responsabilidade de organizar a 
rede de serviços de saúde mental de seu território; 
✓ Dar suporte e supervisionar a atenção à saúde mental na rede básica, USF, PACS 
(Programa de Agentes Comunitários de Saúde); 
✓ Regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental de sua área; 
✓ Coordenar junto com o gestor local as atividades de supervisão de unidades hospitalares 
psiquiátricas que atuem no seu território; 
✓ Manter atualizada a listagem dos pacientes de sua região que utilizam medicamentos 
para a saúde mental. 
 
É comprovado que a chance de recaída é muito menor quando o paciente recebe terapia 
medicamentosa personalizada e ainda se mantém no trabalho, em atividades de lazer 
[promotoras de vida], entre outros → Gestão de cuidado do paciente. 
 
O CAPS deve contar, no mínimo, com os seguintes recursos físicos: 
✓ Espaço próprio e adequadamente preparado para atender à sua demanda específica, 
sendo capazes de oferecer um ambiente continuamente estruturado [precisa ter a 
estruturação de uma casa]; 
✓ Consultórios para atividades individuais (consultas, entrevistas, terapias); 
✓ Salas para atividades em grupo; 
✓ Espaço de convivência; 
✓ Oficinas; 
✓ Refeitórios (deve ter a capacidade de oferecer refeições de acordo com o tempo de 
permanência de cada paciente na unidade); 
✓ Sanitários; 
✓ Área externa para oficinas, recreação e esportes. 
 
Quem pode ser atendido? 
✓ Pessoas com intenso sofrimento psíquico que lhes impossibilita de viver e realizar seus 
projetos de vida; 
✓ Transtornos mentais severos e/ou persistentes; 
✓ Transtornos relacionados a substâncias psicoativas (álcool e drogas); 
✓ Crianças e adolescentes com transtornos mentais. 
 
Como se faz para ser atendido? 
Para ser atendido em um CAPS, pode-se procurar diretamente esse serviço ou ser 
encaminhado por qualquer serviço de saúde. A pessoa pode ir sozinha ou acompanhada, 
devendo procurar, preferencialmente o CAPS que atende a região onde mora. 
Quando chegar, deverá ser acolhida e escutada em seu sofrimento. Esse acolhimento 
poderá ser de diversas formas, de acordo com a organização do serviço. O objetivo nesse 
primeiro contato é compreender a situação, de forma mais abrangente possível, e iniciar um 
vínculo terapêutico e de confiança com os profissionais que lá trabalham. Estabelecer um 
diagnóstico é importante, mas não deverá ser o único e muito menos o principal objetivo desse 
momento de encontro do usuário com o serviço. 
 
 
 
9 Camila Carneiro Leão Cavalcanti 
O acolhimento 
Consiste em reconhecer que o usuário e sua família têm demandas e expressões 
legítimas e fazer um aprofundamento em relação a isso. Como é o primeiro contato do indivíduo 
com o serviço, é o início de um relacionamento que abarcada as demandas trazidas pelo usuário 
e os recursos que o serviço dispõe. Logo, um dos trabalhos das equipes dos serviços é discutir 
este acolhimento e seus objetivos, pois, na prática cotidiana este acolhimento pode ser realizado 
de diferentes maneiras e por diferentes profissionais. 
O sofrimento psíquico não se mostra como uma entidade mórbida ou enfermidade, de 
apenas uma pura classificação. Ele envolve relações que se estruturam em torno da identidade 
e do sentimento de si mesmo ou pessoalidade nas diferentes relações que uma pessoa 
estabelece. Uma parte importante do sofrimento psíquico se relaciona com a impossibilidade 
de viver junto aos outros e de se inserir efetivamente na sociedade. 
O atendimento precisa ser feito em dupla, porque no CAPS todo o cuidado é feito em 
equipe interdisciplinar. O técnico de referência é o profissional da equipe que, independente da 
sua especialidade, fará a ponte entre a equipe, o paciente e o território. Ele constrói junto com 
o paciente o projeto terapêutico e faz os atendimentos e escutas de forma individual, além do 
acompanhamento das famílias. Na anamnese existe o examepsíquico, que avalia o humor, 
linguagem, afetividade, consciência, senso-percepção, entre outros. Essa é a etapa da “triagem”, 
que é uma tarefa que muitos serviços ainda se organizam em seus primeiros contatos com os 
usuários. 
Ao propiciar o acolhimento, é necessário acolher! Deve-se demonstrar um interesse 
genuíno, olhar nos olhos e realizar uma entrevista adequada. O contato inicial com o sujeito em 
sofrimento psíquico e seus familiares deve buscar o diálogo com as pessoas que estão ali e não 
enfatizar queixas, sintomas e diagnósticos, mas permitir a expressão e reflexão da situação. Em 
termos práticos, trata-se considerar que a pessoa que procura o serviço não é apenas portadora 
de problemas, mas capaz de se envolver com a transformação da situação. Quando se está com 
o paciente, é preciso ser amoral, ou seja, sua religião, time de futebol, crenças políticas, entre 
outros, não vão interferir no cuidado com o sujeito. 
RAPS - Rede de Atenção Psicossocial 
A Rede de Atenção Psicossocial é destinada às pessoas em sofrimento psíquico ou transtorno 
mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas no âmbito do 
Sistema Único de Saúde. Foi instituída pela Portaria nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011, 
republicada em 21 de maio de 2013 e disposta anteriormente pelo Decreto nº 7.508, de 28 de 
junho de 2011. 
A RAPS é composto pelas Regiões de Saúde, que são espaços geográficos contínuos constituídos 
por agrupamentos de municípios limítrofes, delimitados a partir de identidades culturais, 
econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes 
compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de 
ações e serviços de saúde. Traz a noção de território para o cuidado da saúde mental. 
A Rede de Saúde é o conjunto de ações e serviços de saúde articulados em níveis de 
complexidade crescente, com a finalidade de garantir a integralidade da assistência à saúde. Fica 
definido que a Atenção Psicossocial é um componente mínimo obrigatório de serviços e ações 
que são necessários às institucionalizações das Regiões de Saúde, e estes serviços e ações são 
portas de entrar do usuário na Rede de Atenção à Saúde. 
Os objetivos das RAPS são: 
✓ Ampliar o acesso à atenção psicossocial da população em geral; 
✓ Promover o acesso das pessoas com transtornos mentais e com necessidades 
decorrentes do uso do crack, álcool e outras drogas e suas famílias aos pontos de 
atenção; 
 
10 Camila Carneiro Leão Cavalcanti 
✓ Garantir a articulação e integração dos pontos de atenção das redes de saúde dentro 
do seu território, qualificando o cuidado por meio do acolhimento, do 
acompanhamento contínuo e da atenção às urgências. 
As diretrizes das RAPS são: 
✓ Respeito dos direitos humanos, garantindo a autonomia e a liberdade das pessoas; 
✓ Ênfase em serviços de base territorial e comunitária, com participação e controle social 
dos usuários e de seus familiares; 
✓ Promoção da equidade, reconhecendo os determinantes sociais da saúde; 
✓ Desenvolvimento de estratégias de Redução de Danos 
[Em 2019, a política redução de danos foi retirada do cuidado de saúde mental e passou 
a ser de abstinência total. O sujeito só está apto a receber o cuidado caso passe pelo 
processo de abstinência] 
✓ Desenvolvimento de atividades no território que favoreça a inclusão social com vistas à 
promoção de autonomia e ao exercício da cidadania; 
✓ Desenvolvimento da lógica do cuidado para pessoas com transtornos mentais e com 
necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, tendo como eixo 
central a construção do projeto terapêutico singular; 
[No projeto terapêutico pessoal não se ressalta a doença, mas sim a saúde. São 
ressaltados os pontos de saúde do sujeito para que isso seja trabalhado para que o 
sujeito consiga refazer seus laços sociais] 
✓ Garantia do acesso e da qualidade dos serviços, ofertando cuidado integral e assistência 
multiprofissional, sob lógica interdisciplinar; 
✓ Organização dos serviços em rede de atenção à saúde regionalizada, com 
estabelecimento de ações intersetoriais para garantir a integridade do cuidado 
[intersetor = pediatria, psicóloga, psiquiatra e UBS conversando – são setores de 
cuidado dialogando]. 
✓ Atenção humanizada e centrada nas necessidades das pessoas [projeto terapêutico 
pessoal]; 
✓ Promoção de estratégias de educação permanente; 
✓ Combate a estigmas e preconceitos do sujeito com transtorno mental [retirada da noção 
de incapacidade e periculosidade do louco, ou seja, dos estigmas que levam ao 
preconceito]; 
✓ Diversificação das estratégias de cuidado. 
 
O RAPS se baseia na Psiquiatria Preventiva. 
 
➢ Atenção Básica em Saúde 
Prevenção Primária – intervenção nas condições possíveis de formação da doença 
mental, condições etiológicas, que podem ser de origem individual e/ou do meio [“O 
que se pode evitar para que o sujeito caia em adoecimento psíquico?”] 
*Evitar o contato de qualquer fator que possa ser o gatilho de algum transtorno mental. 
Exemplo: transtorno mental por uso de substância psicoativa – uso de projetos sociais 
como meio para não deixar que a criança/jovem entre no mundo do tráfico e/ou faça 
uso das substâncias. 
Prevenção Secundária – intervenção em busca da realização do diagnóstico e 
tratamento precoce da doença mental [ao fazer a prevenção primária é possível 
diagnosticar mais rápido o sujeito, sendo hábil a realizar o tratamento precoce dessa 
doença mental] 
Prevenção Terciária – busca da readaptação do paciente à vida social após a sua 
melhoria. 
[nenhum indivíduo após um episódio de surto volta ao que era antes. Após a 
estabilização e a melhoria, esse indivíduo passa por uma reestruturação]. 
 
11 Camila Carneiro Leão Cavalcanti 
 
 Para o melhor manejo da saúde mental na Atenção Básica, propõe-se um trabalho 
compartilhado de suporte às equipes de Saúde da Família (SF) por meio do desenvolvimento do 
apoio matricial em saúde mental pelos profissionais dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família 
(NASF). O apoio matricial é um arranjo técnico-assistencial que visa à aplicação da clínica das 
equipes de Saúde da Família, superando a lógica de encaminhamentos indiscriminados para 
uma lógica de corresponsabilização entre as equipes de SF e Saúde Mental, com a construção 
de vínculos entre profissionais e usuários. 
 
O trabalho articulado dos profissionais da Saúde Mental com a equipe da Estratégia 
Saúde da Família rebela-se fundamental para o estabelecimento e o fortalecimento de vínculos 
entre a Atenção Estratégica (CAPS) e a Atenção Básica, possibilitando a corresponsabilidade dos 
casos, ampliando a capacidade resolutiva dos problemas de saúde pela equipe local e 
favorecendo a atenção territorializada. 
Uma das estratégias utilizadas foi a criação das Equipes de Consultório na Rua. Essas 
equipes são constituídas por profissionais que atuam de forma itinerante, ofertando ações e 
cuidados de saúde para a população em situação de rua, considerando suas diferentes 
necessidades de saúde, sendo responsabilidade dessa equipe, no âmbito da Rede de Atenção 
Psicossocial, ofertar cuidados em saúde mental. 
Outro ponto são os Centros de Convivência e Cultura, que são pontos públicos 
articulados às RAS, em especial à RAPS, onde são oferecidos à população em geral espaços de 
sociabilidade, produção e intervenção na cultura e na cidade. Um exemplo são as oficinas de 
geração de renda, que é um espaço que proporciona ao sujeito uma ocupação e um meio de se 
sustentar. 
Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), vinculado à USF é constituído por 
profissionais de saúde de diferentes áreas de conhecimento, que atuam de maneira integrada, 
sendo responsável por apoiar as ESFs, as equipes de Atenção Básica e equipes da academia de 
saúde, atuando diretamente no apoio matricial e, quando necessário, no cuidado compartilhado 
com as equipes das unidades nas quais o NASF está vinculado (pode ser mais de um), incluindoo suporte ao manejo de situações relacionadas ao sofrimento ou transtorno mental e os 
problemas relacionados ao uso de crack, álcool e outras drogas. 
 
Atenção Psicossocial Estratégica 
CAPS I 
Atende pessoas de todas as faixas etárias que apresentam prioritariamente intenso sofrimento 
psíquico decorrente de transtornos mentais graves e persistentes, incluindo aqueles 
relacionados ao uso de substâncias psicoativas ou outras situações clínicas que impossibilitem 
estabelecer laços sociais e realizar projetos de vida. É indicado para municípios ou regiões de 
saúde com população acima de 15 mil habitantes. 
CAPS II 
Atende prioritariamente pessoas em intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos 
mentais graves e persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso de substâncias psicoativas, 
e outras situações clínicas que impossibilitem estabelecer laços sociais e realizar projetos de 
vida. Indicado para municípios ou regiões de saúde com população acima de 70 mil habitantes. 
CAPS III 
Atende prioritariamente pessoas em intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos 
mentais graves e persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso de substâncias psicoativas, 
e outras situações clínicas que impossibilitem estabelecer laços sociais e realizar projetos de 
vida. Proporciona serviços de atenção contínua, com funcionamento 24 horas, incluindo 
feriados e fins de semana, ofertando retaguarda clínica e acolhimento noturno a outros serviços 
 
12 Camila Carneiro Leão Cavalcanti 
de saúde mental, inclusive o CAPS AD. Indicado para municípios ou regiões de saúde com 
população acima de 150 mil habitantes. 
CAPS AD 
Atende pessoas de todas as faixas etárias, que apresentam intenso sofrimento psíquico 
decorrente do uso de crack, álcool e outras drogas. Indicado para municípios ou regiões de 
saúde com população acima de 70 mil habitantes. 
CAPS AD III 
Atende pessoas de todas as faixas etárias que apresentam intenso sofrimento psíquico 
decorrente do uso de crack e outras drogas. Proporciona serviços de atenção contínua, com 
funcionamento 24 horas, incluindo feriados e fins de semana, ofertando retaguarda clínica e 
acolhimento noturno. Indicado para municípios ou regiões de saúde com população acima de 
150 mil habitantes. 
CAPSi 
Atende crianças e adolescentes que apresentam prioritariamente intenso sofrimento psíquico 
decorrente de transtornos mentais graves e persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso 
de substâncias psicoativas e outras situações cínicas que impossibilitem estabelecer laços sociais 
e realizar projetos de vida. Indicado para municípios ou regiões com população acima de 70 mil 
habitantes. 
Política Nacional de Saúde Mental Infanto Juvenil 
A introdução sistemática da SMCA na agenda da saúde pública se inicia com a aprovação da 
Lei no 10.216 e com a realização da III CNSM, ambas em 2001. Em 2002, a Portaria do 336 
introduziu no SUS um novo dispositivo específico para a atenção psicossocial de crianças e 
jovens: o Centro de Atenção Psicossocial para a Infância e Adolescência. 
 
São delimitados três períodos históricos na estruturação da Clínica da Criança: 
- O retardamento [único transtorno mental infantil]: compreende grande parte do século XIX. 
Nesse período, a possibilidade da loucura na criança não era aceita, conforme Griesinger, afirma 
“o eu nesta idade não está ainda formado de maneira estável para apresentar uma perversão 
durável e radical; assim as doenças produzem nas crianças verdadeira interrupções do 
desenvolvimento que atingem a inteligência em todas as suas faculdades”. A perversão possui 
sentido de doença psíquica, não na conotação atual de utilização. 
▪ O mito fundador 
Em 1799, um menino com cerca de 12 anos, Victor, foi capturado no interior da França. 
Não falava e se movimentava como um quadrúpede. Itard, discípulo de Pinel, propôs-se a educá-
lo, persuadido de que se tratava de uma criança normal, mas privada de um desenvolvimento 
comum devido ao isolamento extremo. A tentativa de Itard não foi um sucesso do ponto de vista 
de Victor, mas inaugurou uma tradição fecunda envolvendo a educação especial. 
- A loucura (do adulto) na criança (adultomorfismo): o segundo período começa no final da 
década de 1880, com as publicações dos primeiros tratados de psiquiatria infantil, calcadas na 
clínica e na nosologia elaboradas para o adulto. A possibilidade da existência de psicoses 
autísticas, diferenciadas do retardo mental, na criança, começa a criar corpo no final dessa 
fase. A principal diferença entre a fantasia e a psicose infantil, é que a criança tem total controle 
da fantasia, de como ela acontece, tem a consciência de que aquilo não é real, como entra e que 
também causa alegria – é egosintônico, que está em sintonia com o eu. Já a psicose infantil se 
apresenta como algo incontrolável, que assusta, a criança não sabe como começou ou terminou 
e é contrário aos afetos é egodistônico, não está em sintonia com o eu. Além disso, outro fator 
importante é que quanto mais velha a criança, mais complexo se torna esses acontecimentos. 
 
 
13 Camila Carneiro Leão Cavalcanti 
História da saúde mental na infância e adolescência no Brasil 
Marco inicial (1903) 
Criação do Pavilhão Escola Bourneville no Hospício Nacional de Alienados no Rio de Janeiro em 
1903 e a criação do Pavilhão Infantil no Hospital Juqueri em São Paulo no ano de 1921. 
Segundo a orientação da época, nessas duas unidades as crianças recebiam orientação 
pedagócica. 
A Liga Brasileira de Higiene Mental (1920 – 1940) 
Criada por Gustavo Riedel, tinha por objetivos: 
- Prevenção das doenças nervosas e mentais pela observação dos princípios da higiene geral, 
em especial do sistema nervoso; 
- Proteção e amparo no meio social aos indivíduos que saíram dos manicômios e aos deficientes 
mentais passíveis de internação; 
- Realização de um programa de Higiene Mental e Eugenética no domínio das atividades 
individuais, escolares, profissionais e sociais. 
Criação da APAE (1954) 
São organizações não-governamentais que surgem pelo vazio deixado pelo estado. Tinham o 
objetivo de atender pessoas com deficiência mental a partir da modalidade pedagógica de 
assistência. Atualmente apresenta outra proposta de atuação que não foca apenas na 
modalidade pedagógica. 
Inserção da psicanálise de crianças nos pais e emprego desta modalidade no tratamento 
(1920-1950) 
A psicanálise de crianças nos pais foi utilizada no contexto educacional com o intuito de melhor 
gerir a educação das crianças e solucionar seus problemas escolares, e o emprego deste modelo 
teórico como elemento complementar no tratamento de crianças com problemas emocionais 
atendidas em instituições dedicadas à promoção da saúde mental infantil, em sua maioria 
vinculadas ao meio psiquiátrico. 
SUS (década de 1990) 
O SUS foi sendo implantado como protagonismo dos municípios brasileiros, se voltando 
principalmente para a ampliação do acesso e a universalização do cuidado por meio do 
investimento na Atenção Primária. Em 1991, foi criado o Programa de Agentes Comunitários de 
Saúde (PACS) e, em 1994, o Programa de Saúde da Família (PSF), hoje denominado Estratégia 
da Saúde da Família. No entanto, não ocorreram ações mais globais voltadas para a saúde 
mental de crianças, que permaneceram, na maioria dos casos, sob cuidados da filantropia. 
Em relação às crianças, após promulgação do ECA, em 13 de junho de 1990, ocorreu um grande 
esforço para sua implementação, que ficou mais dirigido para os campos da Assistência Social e 
da Justiça, com grande participação de organizações não governamentais. A criação dos 
Conselhos dos Direitos, dos Conselhos Tutelares e de outros dispositivos preconizados na lei 
consumiram grande parte dos esforços despendidos pela sociedade. Em 1992, foi criado o 
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA). 
Início de uma nova era (2001-2005) 
Em 2001 foi aprovada no Congresso Nacional a lei 10.216 e a realização da III Conferência 
Nacionalde Saúde Mental com o objetivo de estabelecer diretrizes gerais para a definição de 
uma política da saúde mental para crianças e adolescentes no âmbito do SUS. O Estado 
brasileiro foi convocado à tomada de responsabilidade pelo cuidado e tratamento de crianças 
e adolescentes com problemas mentais e afirmou que este cuidado deveria se pautar no 
reconhecimento deles como sujeitos psíquicos, sendo exercido em dispositivos de base 
territorial e ter a inclusão social como norte ético. 
 
 
14 Camila Carneiro Leão Cavalcanti 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Centro de Atenção Psicossocial (CAPSi) 
O CAPSi é um serviço de atenção diária destinado ao atendimento de crianças e adolescentes 
gravemente comprometidos psiquicamente. Estão incluídos nessa categoria os portadores de 
autismo, psicoses, neuroses graves e todos aqueles que, por sua condição psíquica, estão 
impossibilitados de manter ou estabelecer laços sociais. Surge com o objetivo de ampliar as 
possibilidades de tratamento para crianças e adolescentes, iniciando o atendimento o mais cedo 
possível e estabelecendo as parcerias necessárias com a rede de saúde, educação e assistência 
social ligadas ao cuidado da população infanto-juvenil. 
As psicoses da infância e o autismo infantil são condições clínicas para as quais não se conhece 
uma causa isolada que possa ser responsabilizada por sua ocorrência. Apesar disso, a 
experiência permite indicar algumas situações que favorecem as possibilidades de melhora, 
principalmente quando o atendimento tem início o mais cedo possível, observando-se as 
seguintes condições: 
- Manter a criança ou adolescente em seu ambiente doméstico e familiar; 
- As famílias como parte integrante do tratamento, quando possível [há maior dificuldade de 
melhora quando se trata a criança ou adolescente isoladamente] 
- Tratamento sempre feito com estratégias e objetivos múltiplos, preocupando-se com a 
atenção integral a essas crianças e adolescentes, o que envolve ações não somente no âmbito 
da clínica, mas também ações intersetoriais. É preciso se envolver com as questões das relações 
familiares, afetivas e comunitárias com justiça, educação, assistência, moradia, entre outros. 
- Equipes técnicas atuando sempre de forma interdisciplinar [Equipe mínima de trabalho = 
médicos com experiência no atendimento infantil, psicólogos, enfermeiros, terapeutas 
ocupacionais, fonoaudiólogos e assistentes sociais – devem ter experiência de trabalho com 
famílias] 
- A visão do tratamento como melhora importante na condição de vida do indivíduo e da sua 
família [obter progressos a nível de desenvolvimento e em qualquer aspecto de sua vida mental, 
mesmo quando não é possível trabalhar com a hipótese de remissão total do problema] 
- Atividades de inclusão social geral e escolar em particular como parte do projeto terapêutico 
individual. 
 
As atividades desenvolvidas no CAPSi são: 
✓ Atendimento individual 
✓ Atendimento grupal 
✓ Atendimento familiar 
✓ Visitas domiciliares 
✓ Atividade de inserção social (privilegiando a inclusão social) 
✓ Oficinas terapêuticas 
✓ Atividades socioculturas e esportivas 
✓ Atividades externas 
TRÊS PRINCIPAIS MARCOS 
1) Portaria 336 de 2002 atualiza a Portaria MS/SAS no 224 (de 1992), 
criando o Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi), o 1º 
serviço público voltado para o cuidado em saúde mental de crianças. 
2) Implantação do Fórum de Saúde Mental Infantojuvenil pela 
portaria 1.608 de 2004. 
3) Publicação do documento Caminhos para uma Política de Saúde 
Mental Infantojuvenil que determinava os parâmetros para a 
abordagem das crianças e adolescentes. 
 
15 Camila Carneiro Leão Cavalcanti 
[As atividades são iguals ao CAPS adulto, mas o CAPSi foca, principalmente, na inserção 
social] 
Caminhos para uma Política de Saúde Mental Infantojuvenil 
Princípios norteados pelo documento: 
- Reconhecimento de que a criança e o adolescente como sujeito de direito – o que implica a 
responsabilidade e singularidade das propostas de cuidado 
- Acolhimento universal 
- Encaminhamento implicado [procurar dentro do território o melhor encaminhamento] 
- Construção permanente da rede de cuidados [RAPS] 
- Atendimento de base territorial 
- Intersetorialidade na ação e cuidado

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