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1 SÍNDROME DE CUSHING Glândulas Suprarrenais As duas glândulas suprar renais, cada uma localizada em cima de cada rim no espaço retroperitoneal, apresentam formato de pirâmide achatada. No adulto, cada glândula suprarrenal tem de 3 a 5 cm de altura, 2 a 3 cm de largura, um pouco menos de 1 cm de espessura, massa variando de 3,5 a 5 g e apenas metade do seu tamanho ao nascimento. Durante o desenvolvimento embrionário, as glândulas suprarrenais se diferenciam em duas regiões distintas de ponto de vista estrutural e funcional: um córtex da glândula suprarrenal grande, perifericamente localizado, que compreende 80 a 90% da glândula, e uma pequena medula da glândula suprarrenal, localizada centralmente. Uma cápsula de tecido conjuntivo reveste a glândula. As glândulas suprarrenais, assim como a glândula tireoide, são altamente vascularizadas. O córtex da glândula suprarrenal produz hormônios esteroides essenciais à vida. A perda total dos hormônios adrenocorticais leva à morte por desidratação e desequilíbrios eletrolíticos no período de poucos dias a 1 semana, a não ser que se comece prontamente a terapia de reposição hormonal. A medula da glândula suprarrenal produz três hormônios catecolaminas – norepinefrina, epinefrina e uma pequena quantidade de dopamina. 2 Córtex da Adrenal - 3 Zonas: Glomerular, Fasciculada e Reticular. Zona Glomerular (mais externa): Secretam Mineralocorticoides -> afetam a homeostasia mineral -> Principal Mineralocorticoide: ALDOSTERONA. Zona Fasciculada (Intermediária e mais larga): As células da zona fasciculada secretam principalmente glicocorticoides, em especial CORTISOL, assim chamados por afetarem a homeostasia da glicose. Zona Reticular: Suas células sintetizam pequenas quantidades de androgênios fracos, que são hormônios esteroides que exercem efeitos masculinizantes. - Aldosterona: Regula a homeostasia de dois íons minerais – íons sódio (Na+ ) e potássio (K+ ) e ajuda a ajustar a pressão arterial e o volume de sangue. A aldosterona também promove a excreção de H+ na urina -> essa remoção de ácidos do corpo pode ajudar a evitar a acidose (pH abaixo de 7,35). -> Desidratação, deficiência de Na+ e hemorragia são estímulos que iniciam a via da renina-angiotensina-aldosterona -> Menor volume sanguíneo -> Queda da PA -> Estimula as células justaglomerulares a secretar renina -> Angiotensina - > Angiotensina I -> ECA -> Angiotensina II -> Córtex Suprarrenal -> Aldosterona -> Sangue vai para os rins c/ níveis altos de aldosterona -> Aumento da Reabsorção de NA+ -> Osmose – Reabsorção de água -> Intensa secreção de K+ e H+ na urina pelos rins -> Aumento do vol. de sangue -> PA se eleva 3 Glicocorticoides - Cortisol (mais abundante,95%), Corticosterona e Cortisona. Efeitos: 1. Degradação de Proteínas: -> intensificam a taxa de degradação de proteína (principalmente nos músculos) -> aumentam a liberação de aminoácidos na corrente sanguínea -> podem ser usados pelas células corporais na síntese de novas proteínas ou na produção de ATP. 2. Formação de glicose: Estimulam -> Os hepatócitos a converterem determinados aminoácidos ou ácido láctico em glicose, que será usada por neurônios e outras células para produzir ATP -> Gliconeogênese. 3. Lipólise: Estimulam a lipólise, degradação dos triglicerídios e liberação de ácidos graxos do tecido adiposo para o sangue. 4. Resistência ao estresse: Os glicocorticoides trabalham de muitas maneiras para promover a resistência ao estresse. A glicose extra fornecida pelos hepatócitos oferece aos tecidos uma pronta fonte de ATP para combater inúmeros estresses, inclusive exercício, jejum, medo, temperaturas extremas, altitudes elevadas, sangramento, infecção, 5. 6. cirurgia, traumatismo e doença. Uma vez que tornam os vasos sanguíneos mais sensíveis a outros hormônios que causam vasoconstrição, os glicocorticoides elevam a pressão sanguínea. Esse efeito é vantajoso nos casos de perda significativa de sangue, que faz com que a pressão arterial caia. 5. Efeitos Anti-inflamatórios: Inibem a participação dos leucócitos nas respostas inflamatórias -> os glicocorticoides também atrasam o reparo tecidual; em consequência disso, retardam a cicatrização de feridas. 6. Depressão das respostas imunes: Doses elevadas de glicocorticoides deprimem as respostas imunes. Por esse motivo, os glicocorticoides são prescritos para receptores de órgãos transplantados com objetivo de retardar a rejeição tecidual promovida pelo sistema imune. Regulação por feedback negativo da secreção de glicocorticoide 4 ->O ACTH flui no sangue para o córtex da glândula suprarrenal onde estimula a secreção de glicocorticoide (em grau muito menor, o ACTH também estimula a secreção de aldosterona). Androgênios O principal androgênio secretado pela glândula suprarrenal é a desidroepiandrosterona (DHEA). Nos homens, depois da puberdade, o androgênio testosterona também é liberado, e em quantidade muito maior, pelos testículos -> Dessa forma, a quantidade de androgênios secretada pela glândula suprarrenal masculina é normalmente tão baixa que seus efeitos são insignificantes. Nas mulheres, no entanto, os androgênios suprarrenais desempenham funções importantes. Eles promovem a libido (desejo sexual) e são convertidos em estrogênios (esteroides sexuais feminilizantes) por outros tecidos corporais -> Após a menopausa, quando a secreção ovariana de estrogênios cessa, todos os estrogênios femininos são provenientes da conversão dos androgênios suprarrenais -> Os androgênios suprarrenais também estimulam o crescimento de pelos axilares e púbicos nos meninos e nas meninas e contribuem para o estirão de crescimento pré-puberal -> o principal hormônio que estimula sua secreção é o ACTH. Medula da glândula suprarrenal A medula da glândula suprar renal, consiste em um gânglio simpático da divisão autônoma do sistema nervoso (SNA) modificado -> Em vez de liberar um neurotransmissor, as células da medula da glândula suprarrenal secretam hormônios. As células produtoras de hormônio, chamadas de células cromafins, são inervadas por neurônios pré-ganglionares simpáticos do SNA. Uma vez que o SNA exerce controle direto sobre as células cromafins, a liberação de hormônio pode ocorrer com muita rapidez. Os dois principais hormônios sintetizados pela medula suprarrenal são a epinefrina e a norepinefrina, também chamadas de adrenalina e noradrenalina, respectivamente. As células cromafins da medula da glândula suprarrenal secretam quantidades desiguais desses hormônios – cerca de 80% de epinefrina e 20% de norepinefrina. Os hormônios da medula da glândula suprarrenal intensificam respostas simpáticas que ocorrem em outras partes do corpo. 5 Fisiopatologia, etiologia e as manifestações clínicas da Síndrome de Cushing A síndrome de Cushing (SC) é a condição resultante da exposição prolongada a quantidades excessivas de glicocorticoides (GC). Pode resultar da administração prolongada de doses suprafisiológicas de GC (SC exógena ou iatrogênica) ou, bem menos frequentemente, da hiperprodução crônica de cortisol (SC endógena). ETIOLOGIA As causas da SC dividem-se em duas categorias, de acordo com os níveis circulantes de ACTH, também chamado corticotrofina: ACTH-dependentes (71 a 80% dos casos) e ACTH-independentes (20 a 29% dos casos). Etiologia mais comum: 1. Doença de Cushing 2. Distúrbios Adrenais 3. S. do ACTG Ectópico 6 de Doença de Cushing Resulta na maioria dos casos -> microadenoma (diâmetro < 10 mm) hipofisário secretor de ACTH -> 10 a 20% dos casos são associados um macroadenoma - > Os carcinomas são raros. - Prevalência: Sexo Feminino(8:1) entre20 e 40 anos. Casos Pré-puberais há maior ocorrência no Sexo Masculino. - Doença de bases genéticas desconhecidas -> Raramente, a DC surge como parte da neoplasia endócrina múltipla (MEN) tipos 1 ou 4, ou em consequência de mutações germinativas do gene da proteína de interação do receptor aril- hidrocarboneto (AIP). Recentemente, tem sido mostrado que mutações no gene da protease 8 ubiquitinaespecífica (USP8) são frequentes nos corticotropinomas. Síndrome do ACTH ectópico SAE integra 5 a 10% dos casos de SC e cerca de 20% dos casos de SC ACTH- dependente. - Prevalência: Homens – 40 e 60 anos -> É muito rara a ocorrência de SAE em crianças e adolescentes. - Principal/Mais comum causa : Carcinoma pulmonar de células pequenas(12%) - Sintomatologia atípica: tosse, perda de peso e anemia-> ventualmente associada a hiperglicemia, hipertensão e/ou hipocalemia. - Outras causas bem documentadas são os carcinoides tímicos e, menos comumente, os carcinoides de outros órgãos (vesícula, fígado, intestino delgado, 7 cólon etc.), o feocromocitoma, o carcinoma de ilhotas pancreáticas e o carcinoma medular da tireoide (CMT). - Causas bem mais raras de SAE incluem outros tipos de carcinomas (p. ex., ilhotas pancreáticas, ovário, próstata, vesícula biliar, células pequenas da vagina etc.), tumores ovarianos (p. ex., androblastoma, carcinoma de células de Sertoli, tumor carcinoide, teratoma e tumor de células esteroides), paraganglioma nasal, neuroblastoma olfatório etc. Recentemente, foi relatado o primeiro caso de SAE relacionado com uma doença tireoidiana benigna (adenoma oncocítico). Síndrome do CRH ectópico Esta síndrome é bastante rara (menos de 30 casos descritos na literatura) e difícil de ser diagnosticada. A maioria dos casos é secundária a carcinoides brônquicos, CMT e carcinoma prostático. A secreção combinada de ACTH e CRH é muito mais comum do que a secreção isolada de CRH. 28 Recentemente, foram relatados casos de SC resultante da produção de CRH por tumor pancreático, hamartoma hipotalâmico, 29 metástases hepáticas de CMT, feocromocitoma e carcinoma pulmonar metastático. Síndrome de Cushing ACTH independente Distúrbios adrenais Macroadenomas secretores de ACTH (setas) respondem por apenas 10 a 20% dos casos de doença de Cushing. 8 Os distúrbios adrenais primários representam até 30% dos casos da SC. - Causas: Em geral, são causados por um adenoma (cerca de 80%) ou, menos comumente, um carcinoma produtor de cortisol. - Normalmente os adenomas medem menos de 3 cm, são unilaterais e facilmente visualizados à tomografia computadorizada (TC) ou à ressonância magnética (RM). Causas muito raras de SC de origem adrenal são a hiperplasia nodular pigmentada primária bilateral, o complexo de Carney, a hiperplasia adrenal macronodular bilateral e a síndrome de McCuneAlbright (SMA). Em crianças com idade < 5 anos, os tumores adrenais, sobretudo os carcinomas, destacamse como uma das principais causas, senão a mais prevalente. Carcinomas - Os carcinomas adrenocorticais (CAC) representam cerca de 20% do total de casos de SC ACTH independentes. - Geralmente, são grandes (> 6 cm), quando diagnosticados, e até 10% são bilaterais. - Devem ser sempre suspeitados, quando o tumor adrenal for > 6 cm e/ou cursar com hipercortisolismo associado a marcante hiperandrogenismo, na presença de achados à TC sugestivos de malignidade. Prevalência: Mulheres (1,5) - têm uma distribuição etária bimodal, com picos na infância e na adolescência, bem como ao final da vida. Adenomas Lesões pequenas (<3 cm) e unilaterais -> Benignidade. - Diferentemente dos CAC, tendem a cursar com hipercortisolismo de início mais gradual e menor intensidade, bem como produção excessiva de apenas uma classe de esteroides. - Prevalência: Mulheres – Idade 35 anos - A ausência de mutações explicaria por que estes últimos adenomas raramente evoluem para SC com o tempo. Hiperplasia adrenal micronodular bilateral - O principal representante desta categoria é a doença adrenal nodular pigmentada primária (PPNAD), a qual pode ocorrer isoladamente ou, em mais de 90% dos casos, associada ao complexo de Carney (CNC). - PPNAD é uma forma muito rara de SC, com um pouco mais de 100 casos descritos na literatura. - Prevalência: Mulheres - Características: pequenas glândulas adrenais com múltiplos e pequenos nódulos (< 6 mm) pigmentados, bilaterais (rodeados por córtex atrofiado), que, 9 contudo, podem alcançar 1,5 cm nos pacientes com a progressão da doença. Na TC, os cortes precisam ser < 3 mm; caso contrário, os nódulos podem passar despercebidos. - A produção de cortisol pode ser variável, sendo frequentemente cíclica ou periódica. Por isso, muitas vezes, observase elevação paradoxal do cortisol durante os testes de supressão com dexametasona (DMS). Tipicamente, o hipercortisolismo da PPNAD manifestase em indivíduos com menos de 30 anos de idade (muitas vezes, antes dos 15 anos de idade) e, ocasionalmente, nos primeiros 2 a 3 anos de vida. Uma característica clínica marcante do CNC são as lesões cutâneas pigmentadas tipo sardas (sobretudo, em face, lábios e pálpebras) que podem estar presentes desde o nascimento e têm seu número aumentado com o passar dos anos. O tratamento de escolha da PPNAD é a adrenalectomia bilateral. Em estudos de necropsia, quase todos os pacientes com CNC têm PPNAD, mostrando que, não raramente, a PPNAD pode ser assintomática. As principais manifestações do raro CNC estão listadas no Quadro. Entre elas, incluemse lesões pigmentadas de pele e mucosa, mixomas cardíacos, cutâneos e em outros órgãos, além de tumores endócrinos múltiplos. O principal distúrbio endócrino é a PPNAD. Manchas tipo sardas (lentigens) encontradas em pelo menos um terço dos pacientes com o complexo de Carney, em pálpebras (A), lábios e face (B) 10 Hiperplasia adrenal macronodular primária manifestações clínicas do complexo de Carney. 11 A hiperplasia adrenal macronodular primária (HAMP) é uma causa rara de hipercortisolismo, de fisiopatologia heterogênea, habitualmente insidiosa, que pode apresentarse de forma uni ou bilateral, caracteristicamente com macronódulos adrenais.Estudos recentes começam a elucidar aspectos importantes, como prevalência subestimada e hereditariedade da doença. ASPECTOS CLÍNICOS Entre as manifestações clássicas associadas à síndrome de Cushing (SC) incluemse ganho de peso, letargia, fraqueza, irregularidades menstruais, perda da libido, hirsutismo, acne, estrias cutâneas purpúricas, miopatia proximal, disfunção erétil e transtornos psiquiátricos (p. ex., depressão, ansiedade e, mais raramente, psicose). - Mais de 70% dos pacientes com SC manifestam sintomas psiquiátricos, que variam de ansiedade ou instabilidade emocional a depressão ou franca psicose. Tais manifestações psiquiátricas podem, ocasionalmente, ser a apresentação inicial da síndrome, a exemplo da hiperglicemia, da hipertensão, das fraturas osteoporóticas ou dos distúrbios gonadais. 80,81 Problemas associados, como hipertensão e diabetes melito (DM), são comuns e podem ser o motivo que leva os pacientes a procurar assistência médica. Raramente, observase necrose asséptica da cabeça do fêmur, mas ela já foi relatada como manifestação inicial da síndrome. Sinais e Sintomas 12 13 Alterações bioquímicas Entre os pacientes com SC, 30 a 40% têm DM, e tolerância alterada à glicose ocorre em 20 a 30%. 12,85 Dislipidemia – caracterizada por elevação dos triglicerídeos e LDL- colesterol, além de redução do HDLcolesterol – também é comum na SC. DIAGNÓSTICOA investigação da SC endógena inclui duas etapas: confirmação do hipercortisolismo e definição de sua etiologia. - A confirmação do estado de hipercortisolismo precisa ser estabelecida antes de qualquer tentativa de diagnóstico diferencial. Caso contrário, essa abordagem resultará em diagnóstico equivocado e tratamento inadequado. Os exames de imagem somente devem ser realizados após a adequada avaliação hormonal. -> Os três principais instrumentos diagnósticos atualmente empregados para estabelecer o diagnóstico de SC são o teste de supressão noturna com 1 mg de DMS (1 mgDST), a dosagem do cortisol salivar ao final da noite e a medida do cortisol livre urinário (em amostra de 24 h). -> DEFINIÇÃO DA ETIOLOGIA DO HIPERCORTISOLISMO - Testes Basais: ACTH Plasmático K+ Plasmático ➔ Testes dinâmicos não invasivos: ➔ Teste de supressão com dose alta de dexametasona ➔ Teste do CRH ➔ Teste da desmopressina ➔ Combinação de teste: A combinação do teste do CRH (ou da desmopressina) com o HDDST propicia maior acurácia diagnóstica do que a obtida com esses testes isoladamente (98 a 100% de sensibilidade, com especificidade de 88 a 100%). ➔ Testes dinâmicos invasivos ➔ Cateterismo bilateral dos seios petrosos inferiores ➔ Adrenal ➔ Secreção ectópica de ACTH ➔ OctreoScan 14 15 Tratamento • A alta ingestão de proteínas e a administração de potássio (ou fármacos que poupam potássio, como a espironolactona) • Inibidores adrenais como metirapona, cetoconazol e, raramente, mitotano • Cirurgia ou radioterapia para remover tumores hipofisários, adrenais ou tumores produtores de ACTH ectópica • Às vezes, análogos da somatostatina, agonistas da dopamina ou mifepristona, um antagonista do receptor de glicocorticoide Inicialmente, a condição geral do paciente deve ser mantida por uma dieta rica em proteínas e administração adequada de potássio. Se as manifestações clínicas forem intensas, pode ser razoável bloquear a secreção de corticoides com metirapona (250 mg a 1 g, 3 vezes ao dia) ou cetoconazol (400 mg por via oral uma vez ao dia), aumentando até a dose máxima de 400 mg, 3 vezes ao dia. O cetoconazol provavelmente têm início de ação mais lento e, às vezes, é hepatotóxico. O etomidato parenteral (um anestésico intravenoso que também bloqueia a produção de cortisol) pode salvar a vida em pacientes com sintomas fulminantes; é administrado em infusão intravenosa: a dose inicial geralmente é 1 a 2 mg/hora, aumentando conforme necessário, com avaliações frequentes dos níveis de cortisol e a dose titulada de acordo. Os tumores hipofisários que produzem excesso de ACTH são removidos cirurgicamente ou extirpados com radioterapia. Se a imagem não identificar tumor, mas houver uma fonte hipofisária provável, pode-se tentar realizar hipofisectomia total, em particular em pacientes idosos. Pacientes mais jovens podem receber radioterapia de supervoltagem na hipófise, fornecendo 45 Gy (Gray). Entretanto, em crianças, a irradiação pode reduzir a secreção de GH e, ocasionalmente, causar puberdade precoce. Em centros especializados, a radiação com raios de partículas pesadas, fornecendo cerca de 100 Gy, costuma ser bem-sucedida, bem como o tratamento com raio único focalizado administrado em dose única (radiocirurgia). Alternativamente, pode-se usar terapia com feixe de prótons, se disponível. A resposta à irradiação ocasionalmente requer vários anos, mas é mais rápida em crianças. Estudos sugerem que casos leves de doença persistente ou recorrente podem se beneficiar do pasireotido, um análogo da somatostatina. Mas hiperglicemia é um efeito adverso significativo. A cabergolina, um agonista da dopamina, também pode ser ocasionalmente útil. Alternativamente, os receptores de 16 corticoides podem ser bloqueados com mifepristona. A mifepristona, um antagonista do receptor de glicose, aumenta o cortisol sérico, mas bloqueia os efeitos dos corticoides e pode causar hipocalemia. A adrenalectomia bilateral é reservada a pacientes com hiperadrenocorticismo hipofisário que não respondem à exploração da hipófise (com possível adenomectomia) nem à radioterapia, ou em pacientes nos quais a cirurgia não foi bem-sucedida e radioterapia é contraindicada. A adrenalectomia torna necessária a reposição de corticoides por toda a vida. Tumores adrenocorticais são removidos cirurgicamente. Os pacientes devem receber cortisol durante a cirurgia e no período pós-operatório, em razão da supressão e atrofia do córtex adrenal não tumoral. Adenomas benignos podem ser removidos por via laparoscópica. Na hiperplasia adrenal multinodular, a adrenalectomia bilateral pode ser necessária. Mesmo após adrenalectomia total presumida, ocorre recrescimento funcional em alguns pacientes. A síndrome de produção de ACTH ectópico é tratada pela remoção do tumor não hipofisário que produz ACTH. Entretanto, em alguns casos, o tumor está disseminado e não pode ser removido. Os inibidores enzimáticos da adrenal, como metirapona (500 mg por via oral 3 vezes ao dia, até um total de 6 g/dia) ou mitotano (0,5 g por via oral uma vez ao dia, aumentando até o máximo de 3 a 4 g/dia) geralmente controlam os distúrbios metabólicos graves (p. ex., hipopotassemia ). Quando se utiliza mitotano, podem ser necessárias altas doses de hidrocortisona ou dexametasona, algumas vezes tornando a medição da produção de cortisol não confiável. Também pode se desenvolver hipercolesterolemia grave. Cetoconazol (400 a 1.200 mg por via oral uma vez ao dia) também bloqueia a síntese de corticoides, embora possa causar toxicidade hepática e sintomas de Addison. A mifepristona também pode ser útil no tratamento da síndrome ectópica do ACTH; entretanto, como bloqueia a ação do cortisol, mas não reduz os níveis séricos, o monitoramento do seu uso pode ser problemático. Em uma situação de emergência, o etomidato parenteral pode produzir uma queda rápida no cortisol sérico, mas seu uso requer monitoramento cuidadoso. Algumas vezes, tumores que secretam ACTH respondem aos análogos da somatostatina (p. ex., octreotida e/ou outros), de ação prolongada, embora sua administração por > 2 anos exija acompanhamento rigoroso porque pode ocorrer gastrite leve, colelitíase, colangite, icterícia e má absorção. Resumo A síndrome de Cushing (SC) pode ser endógena ou, mais comumente, exógena, a qual resulta do uso crônico de glicocorticoides, seja qual for a via de administração. A SC endógena tem como principal etiologia a doença de https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-eletrol%C3%ADticos/hipopotassemia 17 Cushing (DC), presente em 61 a 66% dos casos, seguida pelas doenças adrenais (16 a 32%) e pela síndrome do ACTH ectópico (SAE), correspondente a 5 a 10% dos casos. A avaliação diagnóstica da SC endógena representa um grande desafio. Inicialmente devese confirmar o hipercortisolismo e, somente depois disso, procurar identificar sua etiologia. Os exames de rastreamento para SC são o teste de supressão com 1 mg de dexametasona (DMS), a dosagem do cortisol livre urinário e a medida do cortisol salivar no final da noite. Na definição da etiologia da SC, o exame inicial a ser solicitado é a mensuração do ACTH plasmático. Valores suprimidos (< 10 pg/mℓ) apontam para patologias adrenais (SC não ACTHdependente). Na DC, o ACTH encontrase normal ou elevado em cerca de 40 a 60% dos casos, e na SAE geralmente está elevado, embora possa estar normal. Testes dinâmicos não invasivos (supressão com 8 mg de DMS, CRH e desmopressina), o cateterismo bilateral do seio petroso inferior e os exames de imagem (ressonância magnética [RM] da sela túrcica, RM ou tomografia computadorizada toracoabdominais, cintilografia com pentetreotide e 18FDGPET/CT) possibilitam a distinção entre DC e SAE em quasetodos os casos.
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