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Ana Clara Quirino – 69 Página | 1 FACULDADE DE MEDICINA DE BARBACENA GASTROENTEROLOGIA, CLÍNICA MÉDICA I AULA 8 – Prof. José Eugênio INTOLERÂNCIA ALIMENTAR Conceitos: são coisas diferentes o Intolerância: Comprovada por exames e prova terapêutica (tratamento leva a melhora); Não imunológica Existe uma incapacidade de digerir algumas substâncias (principais: lactose, frutose, rafinose); Sintomas: distensão abdominal (inchaço da barriga), flatulência (gases) diarreia; Testes cutâneos negativos; Teste H2 expirado positivo. o Hipersensibilidade: Relação com mecanismos imunológicos (tipo III mediada IgG, tem memória, ou retardada tipo IV); Reação não tóxica Sintomas tardios (1/2 hrs depois de comer); Testes cutâneos negativos; Teste H2 expirado negativo; Quadro + leve que intolerância. o Alergia alimentar: Mecanismos imunológicos (tipo I IgE). Uma pequena quantidade pode desencadear resposta; Reação não tóxica; Sintomas imediatos (15/20 min): prurido, asma, dermatite atópica Testes cutâneos positivos; Exame de sangue: IgE positivo especifico para trigo, carne de porco, gema, camarão e vários outros alimentos. Sensibilidade não muito alta (pode dar negativo, mas o teste cutâneo confirma). Ana Clara Quirino – 69 Página | 2 Carboidratos SIMPLES: Monossacarídeos: Glicose; Frutose; Galactose. COMPLEXOS: Oligossacarídeos: Rafinose; Dissacarídeos: Lactose, Maltose e Sacarose. Principais intolerâncias: Quadro clínico: INTOLERANCIA À LACTOSE, FRUTOSE, RAFINOSE o Bastante variável na intensidade e sintomas; o Por vezes somente gases e distensão mais comum; o Em alguns casos cólica e diarreia; o Náuseas e/ou vômitos em crianças e adolescentes; o Diagnóstico Diferencial: principalmente com doenças funcionais, sobretudo síndrome do intestino irritável (principal, é comum ter os dois) e super crescimento bacteriano intestinal (relacionado à intolerância a lactose). Ana Clara Quirino – 69 Página | 3 1. INTOLERÂNCIA À ACÚCARES Lactose, sacarose e maltose são fracionadas pelas enzimas lactase, sacarase e maltase, que estão localizados na mucosa do intestino delgado; As enzimas clivam em açúcares simples (glicose) que são absorvidos pela parede intestinal; Porém na ausência das enzimas os açúcares mantêm-se no intestino delgado, aumentando a osmolaridade da luz, levando a exagerada secreção de água para o intestino, causando fermentação de bactérias e provocando sintomas. As mais conhecidas são: Intolerância a lactose Intolerância a frutose Intolerância ao sorbitol Intolerância a sacarose 2. INTOLERÂNCIA À LACTOSE Deficiência congênita de lactase: Grave, muito semelhante à APL (alergia proteína leite); Rara; Tratada pelo pediatra. Deficiência primária (em adultos): 90% asiáticos, 50% sul americanos, 30% USA/Europa Piora com a idade, o idoso quase no tem lactase (acomete 80% dos idosos aos 80 anos) produz H+ e tem gases, solta pum. Às vezes é oligossintomático, não incomoda. Deficiência secundária: Quando o paciente tem enterovirose, giardia, doença celíaca, Crohn, supercrescimento bacteriano intestinal. Papel da microbiota: por isso repõe lactobacilos Intolerância à Lactose: Teste diagnóstico POSITIVO Sintomas (distensão, gases) durante o teste: PRESENTES Má Absorção à Lactose: Teste diagnóstico POSITIVO Sintomas durante o teste: AUSENTES Ana Clara Quirino – 69 Página | 4 TESTE DO HIDROGENIO EXPIRADO (Gastrolyser): o paciente ingere o substrato (lactose) e o aparelho mede a quantidade de hidrogênio que sai pela expiração. a) Faz a medida do basal, antes de oferecer a lactose (em jejum) b) Oferece 25/50g de lactose diluído em 250 ml de água c) Realiza medidas de 30 em 30 minutos (com 1 hr já esta no duodeno, com 1:30 hr já esta no jejuno) d) Positivo: valores 20 ppm acima do valor basal (ex: basal 2 negativo se der menos de 22) e) Sintomas podem ocorrer até 8 horas após o teste TESTE POSITIVO 1. INTOLERÂNCIA A LACTOSE: TESTE POSITIVO + SINTOMAS PRESENTES DURANTE O TESTE 2. MÁ-DIGESTÃO DA LACTOSE: TESTE POSITIVO + SEM SINTOMAS DURANTE O TESTE TESTE DE TOLERÂNCIA À LACTOSE POR EXAME DE SANGUE Exame falho. Funciona pela medida de glicemia, após ingestão de lactose; Paciente toma leite lactose chega ao delgado lactase absorve a lactose e trás de dentro da luz intestinal para o sangue se quebra em glicose e galactose glicemia sobe; Laboratório: deve subir 20mg/dl da glicemia jejum; Na ausência de lactase a lactose é degradada pelas bactérias e formam muito H+ Ana Clara Quirino – 69 Página | 5 Se passar do basal de 80 p 100mg/dl: ótimo, tinha lactase que degradou lactose e jogou glicose p sangue; Sugere intolerância a lactose quando a glicemia não sobe (não houve absorção). Falso positivo: Quando faz medida de 30 e 60 minutos apenas. O momento certo seria 2h após ingestão (a lactose chega ao delgado) Falso negativo: Reserva natural de glicose: a glicose pode subir p mecanismo DM: começa a abaixar a glicemia Usa quando o paciente não pode pagar pelo outro, esse de sangue o SUS dá; Usado mais para rastreio (se vier positivo, pede o teste do H+ expirado) 3. INTOLERÂNCIA À FRUTOSE o Intolerância a frutose ou má absorção a frutose é uma condição benigna que ocorre quando a quantidade de frutose ingerida ultrapassa a capacidade de metabolização e absorção do intestino; o A prevalência e de 50% em indivíduos adultos normais; o Depende da quantidade que é ingerida (presente em fruta, cereal, mel); o A frutose não absorvida pode levar a sobrecarga osmótica (diarreia) ou fermentação bacteriana (flatulência, distensão abdominal e náuseas); o Corresponsável por sintomas da SII e na doença celíaca – às vezes ajuda a piorar a SII; o A má absorção de frutose pode associar-se a baixas concentrações de triptofano (aminoácido precursor da serotonina) com consequente depressão em crianças e adolescentes; o Diagnóstico: teste de tolerância à frutose 4. INTOLERÂNCIA À RAFINOSE o Ser humano não possui a enzima alfa-galactosidase que fragmenta a rafinose e no colón é fermentada por bactérias; o Depende da quantidade e da susceptibilidade individual; o Ex: come feijoada grande quantidade de rafinose distensão, gases Ana Clara Quirino – 69 Página | 6 o Geralmente gases e distensão devido à eliminação de mercaptano; o Raramente diarrea; o Diagnóstico clínico; o Presente em feijão, cereais, vegetais. Feijoada, batata doce, repolho. 5. INTOLERÂNCIA AO GLÚTEN o Sensibilidade ao glúten NÃO celíaco: provas diagnósticas não são claras, sintomas somente digestivos, sem relação com autoimunidade. o Doença Celíaca: doença com provas diagnósticas claras, sintomas digestivos e sistêmicos, é autoimune; É uma enteropatia autoimune mediada por intolerância ao glúten (proteína constante no trigo, centeio, cevada e aveia cerveja também, café barato), com lesão de mucosa em pacientes geneticamente suscetíveis; Epidemiologia: Mulher 2:1 Homem. 1,5% pop.mundial; 0,5% pop. BR; Sintomas digestivos: flatulência, distensão, diarreia crônica, cólica, perda de peso; Sint. NÃO digestivos: anemia ferropriva, fadiga, osteopenia, cosntipação, enxaqueca (também causada por chocolate, vinho e queijo amarelo), AST/ALT elevadas, dermatite herpetiforme (dermato encaminha pro gastro), infertilidade, aborto, DM tipo I. o Diagnósticos: Sangue ► Anti tTG (anti transglutaminase) IgA ► Anti endomisio IgA ► Anti gliadina IgA e IgG (quando somente IgG reagente possível sensibilidade a glútenNÃO celíaco) EGD com biópsia duodeno (bulbo duodenal e duodeno descendentes) – fecha diag ► Normal ► Linfocitose intraepitelial Atrofia de mucosa (classificação histopatológica de Marsh (0,1,2,3,4) Exames genéticos: HLA DQ2 e DQ8 ► Caro, pedir em dúvida (sangue – e endoscopia + ou o contrário) ► Se tiver 1 dos exames de sangue (IgA) + e endoscopia + fecha diag ► Não pede direto o genético, não é especifico p doença celíaca. Tem vários pacientes DQ2 e DQ8 + que não tem doença celíaca (não tem IgA nem endoscopia +) Conclusão: Doença celíaca? Sensibilidade ao glúten NÃO celíaco? Alergia a trigo? Ana Clara Quirino – 69 Página | 7 Dieta restrita de FODMAPs como opção terapêutica na Síndrome do Intestino Irritável Biópsia do duodeno na doença celíaca. Ana Clara Quirino – 69 Página | 8 Quais são os tipos de FODMAP e em que alimentos posso encontrá-los? TRATAMENTO Intolerância à lactose o Avaliar o consumo e a quantidade e derivados que ocasionam sintomas o Restrição dos lácteos, sobretudo leite em pó e substituir por leite e derivados sem lactose (queijo, creme de leite, sorvete); o Lactase (por ex se o paciente não tira o leite): 9000 U, para adultos, sachê ou comprimido, ao ingerir leite. Resposta satisfatória após 2 semanas do uso o Probióticos: de preferência Lactobacillus, que o uso em longo prazo estimula a produção da lactase. o Tratar supercrescimento bacteriano intestinal, principal causa de IL secundária. Ana Clara Quirino – 69 Página | 9 TRATAMENTO Intolerância à Frutose o Retirar gradativamente as frutas e observar melhora dos sintomas; o Suspeitando de alguma, reintroduzir e observar retorno dos sintomas, para confirmação; o Frutas com baixo teor de frutose, que podem ser usadas: lima, limão, e abacate. o Complementação com vitamina C; o Não existe enzima, nem fruta sem frutose. TRATAMENTO Intolerância à Rafinose o Enzima digestiva que quebra carboidratos complexos, ajudando a digestão da rafinose: Alfa Galactosidase tomar a enzima em pó; o 1 a 2 sachês (2g) nas refeições, sobretudo que contenham arroz, aveia, milho, brócolis, banana, laranja, ervilha, castanhas, nozes, alho-poró, batata, grão de bico, cogumelo, pimentão, etc. o Não tem exame, mas tem tratamento faz teste terapêutico, se houver melhora, confirma diagnóstico. TRATAMENTO Glúten o Evitar alimentos que contenha trigo, centeio, aveia e cevada; o Substituir por alimentos que contenha fubá, amido de milho, creme de arroz, polvilho, farinha de mandioca e de milho; o Bebidas alcoólicas evitar: cerveja, whisky, vodca; o Café pode ter cevada no seu preparo comercial; o Cuidado com alimentos sem glúten produzidos em padaria que podem conter glúten por contaminação de bandejas e vasilhas. “Pulo do Gato” o Excluída a possibilidade de patologias orgânicas, e antes de rotular como patologia funcional clássica (SII), considerar estas intolerâncias alimentares; o Alergia X Intolerância X Hipersensibilidade; o Diagnóstico complementar com exames.