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1 NEMOEL ARAUJO NUTRIÇÃO CLINÍCA GASTRITE E ÚLCERA FISIOPATOLOGIA DA GASTRITE Gastrite consiste na inflamação da mucosa gástrica. Ela aparece de repente, tem curta duração e desaparece, na maioria das vezes, sem deixar sequelas. Pode ser desen- cadeada por medicamentos (ácido acetilsalicílico, anti-in- flamatórios, etc.), ingestão de bebidas alcoólicas, fumo, situações de estresse (queimaduras graves, politrauma, etc.). A gastrite crônica é definida histologicamente pela atrofia crônica progressiva da mucosa gástrica. O ponto central é o desequilíbrio entre os fatores que agri- dem a mucosa (como ácido clorídrico, pepsina, bile, me- dicamentos ulcerogênicos) e os que a protegem (como barreira mucosa, prostaglandinas, secreção mucosa). Esse desequilíbrio resulta em lesão da mucosa. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL A subnutrição pode ocorrer principalmente nos casos em que existe estenose, a qual impede a ingestão normal de alimentos. É fundamental a investigação sobre a existên- cia de deficiências nutricionais, com a finalidade de plane- jar sua recuperação a partir do plano dietético. As defici- ências mais comuns são de energia, proteínas e ferro (que pode ocorrer por causa de hemorragias constantes). Na gastrite crônica, é comum a deficiência de vitamina B12. TERAPIA NUTRICIONAL Objetivos Recuperar e proteger a mucosa gastrintestinal; Facilitar a digestão; Aliviar a dor; Promover um bom estado nutricional. RECOMENDAÇÕES Cabe aqui um relato histórico para que determinados ta- bus alimentares possam ser compreendidos. No início do século XX, foi proposta uma dieta à base de leite e creme de leite, associada a antiácidos, para o tratamento da úl- cera gastrintestinal. Baseava-se no princípio de que o leite proporcionaria a alcalinização gástrica e aliviaria a dor. A partir de 1940, a eficácia dessa dieta passou a ser questi- onada, ao mesmo tempo que o tratamento medicamen- toso evoluiu e surgiram os bloqueadores H2, bem como evoluíram as técnicas diagnósticas, com o aparecimento da endoscopia. Outro fator que condenou essa dieta, chamada de tradi- cional, foi o aumento na incidência de óbitos por doenças cardiovasculares nesses pacientes, correlacionado ao alto consumo de gordura saturada, que está presente no leite e no creme de leite. O conceito atual é de que o leite não é um alimento indi- cado para aliviar a dor ou queimação, sintoma comum nesses pacientes. Embora possa levar ao alívio instantâ- neo quando ingerido, o leite, por ser rico em cálcio e pro- teínas, resulta em rebote ácido, isto é, estimula a produ- ção ácida gástrica e acaba intensificando a dor. Ele deve ser consumido como parte da alimentação, na quantidade recomendada nos guias alimentares (2 a 3 porções/dia), e não em quantidades abusivas com o objetivo de aliviar a dor. ÚLCERA Tanto na úlcera como na gastrite, o ponto central é o de- sequilíbrio entre os fatores que agridem a mucosa (como ácido clorídrico, pepsina, bile, medicamentos ulcerogêni- cos) e os que a protegem (como barreira mucosa, prosta- glandinas, secreção mucosa). Esse desequilíbrio resulta em lesão da mucosa. ETIOPATOGENIA DA ÚLCERA Um fator importante na etiopatogenia da úlcera é a pre- sença da Helicobacter pylori, que aparece em cerca de 70% das úlceras gástricas e de 90% nas duodenais. Essa bactéria, Gram-negativa, microaerófila, que possui forma espiralada e flagelos unipolares, é capaz de movimentar- se em meios de alta viscosidade, aderindo-se ao epitélio superficial da mucosa, onde permanece protegida. Pos- tula-se que, por meio de sua atividade mucolítica, altera o muco e propicia a retrodifusão de íons H+, resultando em mudança no equilíbrio entre os fatores protetores e agres- sores. A bactéria, segundo alguns estudos, por ser sensível às alterações do pH, migraria para outra área na qual a ca- mada de muco estivesse íntegra. O epitélio, livre do micro- organismo, pode regenerar-se ou, já inflamado (gastrite) pela presença do bacilo, ulcerar-se quando atingido por agentes agressores. Embora os tipos de lesão nas gastri- tes e úlceras sejam distintos do ponto de vista morfoló- gico, no que diz respeito ao tratamento dietético podem estabelecer-se as mesmas diretrizes. OUTRAS RECOMENDAÇÕES A associação de gastrites e úlceras com Helicobacter pylori levou a várias liberações na dieta. Alguns até pro- põem que não há necessidade de nenhum tipo de reco- mendação dietética, bastando apenas a erradicação da bactéria. Deixando de lado posições extremistas, as recomenda- ções dietéticas estão resumidas na Tabela 12.4, ressal- tando que estas são para pacientes em acompanhamento ambulatorial, ou que estejam internados, mas sem inter- corrências. 2 Fonte: GUIAS DE MEDICINA AMBULATORIAL E HOS- PITALAR DA EPM-UNIFESP - NUTRIÇÃO 3ª EDIÇÃO LILIAN CUPPARI GASTRITE Inflamação da mucosa gástrica Aguda: rápido início da inflamação e dos sintomas Crônica: meses a décadas com redução e exacerbação dos sintomas Atrofia da mucosa gástrica Perda das células parietais do estômago perda da secreção de ácido clorídrico e fator intrínseco = ANEMIA FERROPRIVA E MEGALO- BLÁSTICA (deficiência de ferro e vitamina B12) Gastrite AGUDA: medicamentos (aspirina, AAS, anti-inflamatórios não esteroides, corticoides), es- tresse físico ou psíquico, bebidas alcoólicas e a ingestão acidental ou proposital de substâncias corrosivas Gastrite CRÔNICA: Infecção por H. pylori é res- ponsável pela maioria dos casos de inflamação CRÔNICA da mucosa gástrica, úlceras pépti- cas e gastrite atrófica (inflamação crônica com deterioração da membrana mucosa e das glându- las, resultando em acloridria e perda do fator in- trínseco) e câncer gástrico A infecção não se resolve espontaneamente e os riscos de complicações aumentam com a duração da infecção O uso crônico de aspirina ou outros anti-inflamatórios não esteroides, bebidas alcoólicas, substâncias erosivas, ta- baco > pode aumentar a chance da gastrite aguda evoluir para crônica SINTOMAS Náuseas, vômitos, mal-estar, anorexia, hemorragia e dor epigástrica ÚLCERA Apresenta erosão através da camada muscular da mu- cosa para dentro da submucosa ou muscular própria A mucosa gástrica e duodenal é protegida das ações digestivas de ácido e pepsina pela secreção de muco, produção de bicarbonato, remoção do excesso de ácido pelo fluxo sanguíneo normal e pela renovação e re- paro rápidos das lesões de células epiteliais A úlcera péptica se refere à lesão que ocorre em decorrência da falha dos mecanismos normais de defesa CAUSAS H. Pylori Gastrite crônica Aspirina e outros AINE Doença grave (úlcera de estresse) Estresse O uso excessivo de formas concentradas de etanol pode danificar a mucosa gástrica, agravar os sintomas de úlce- ras e interferir na cicatrização Doses moderadas de bebida alcoólica em indiví- duos saudáveis não parecem causar úlcera O consumo de cerveja e vinho aumenta as secre- ções gástricas, enquanto as baixas concentrações de ál- cool não o fazem O uso de nicotina diminui a secreção de bicarbo- nato, diminui o fluxo sanguíneo da mucosa e exacerba a inflamação SINTOMAS Dor ou desconforto abdominal Anorexia Perda de peso Náuseas Vômitos Azia 3 COMPLICAÇÕES Hemorragia Perfuração ÚLCERAS GÁSTRICAS X DUODENAIS Gástricas: Podem ocorrer em qualquer parte do estômago, mas a maioria ocorre ao longo da curvatura me- nor Geralmente estão associadas à gastrite generali- zada, envolvimento inflamatório de células pa- rietais (produtoras de ácido) e atrofia das células produtoras de ácido e pepsina com o avançar da idade Duodenais: Caracterizada pelo aumento da secreção ácida, em muitos casos da secreção noturna e diminui- ção da secreção de bicarbonato A maioria ocorre nos primeiros centímetros do bulbo duodenal,em uma área logo abaixo do pi- loro TRATAMENTO CLÍNICO Antibióticos: erradicação do Helicobacter pylori (???) Medicamento supressores da secreção ácida (inibidores da bomba de prótons ou bloqueadores de receptores de H2) Hemorragias, estenoses e perfurações tratamento ci- rúrgico TRATAMENTO NUTRICIONAL Durante várias décadas, fatores dietéticos ganha- ram ou perderam importância como um compo- nente importante na causa e tratamento de dis- pepsia, gastrite e úlcera. Há poucas evidências de que fatores dietéticos específicos podem causar ou exacerbar a gastrite e úlcera péptica Valor energético total: suficiente para manter ou recu- perar o estado nutricional DISTRIBUIÇÃO CALÓRICA Carboidratos 50 a 60% Proteínas 10 a 15% Lipídios 25 a 30% Atenção para deficiência de micronutrientes (Fe e B12) Dieta de Sippy: leite, ovos e nata batidos Mathewson: estudou efeito lácteo do aumento na produção de ácido pelos aminoácidos derivados da hidrólise das proteínas do leite OBSERVAÇÃO E ORIENTAÇÃO Os alimentos ricos em proteína abrandam temporaria- mente as secreções gástricas, mas também estimulam a secreção de gastrina, ácido e pepsina O leite ou creme de leite não são considerados terapêuticos Na gastrite crônica, deve-se avaliar o estado do ferro e da vitamina B12 Os estados de baixa acidez resultam em redução da ab- sorção de ferro, cálcio e outros nutrientes, devido ao papel do ácido clorídrico na biodisponibilidade dessas substân- cias O pH dos alimentos tem pouca importância terapêutica, exceto em pacientes com lesões na boca ou no esôfago pH gástrico: 1,0 a 3,0 pH do suco de laranja: 3,2 a 3,6 pH dos refrigerantes: 2,8 – 3,5 Respeitar a tolerância individual do paciente O consumo de grandes quantidades de álcool pode causar no mínimo uma lesão da mucosa superficial e agravar a doença existente ou interferir no tratamento da úlcera Bebidas alcoólicas aumentam a secreção ácida = potente irritante da mucosa gastrintestinal Cervejas e vinhos aumentam significativamente as secreções gástricas Cafés e chás (cafeína / mateína): aumento da produção ácida gástrica, resultando em irritação da mucosa e pode diminuir a pressão do EEI Refrigerantes: são relacionados ao aumento da produ- ção ácida e por serem gasosos provocam distensão gás- trica e podem relacionar-se à dispepsia Pimentas malagueta, caiena e preta (capsaicina): irri- tantes da mucosa gastrointestinal Boas práticas alimentares com nutrientes adequados, in- gestão de frutas, vegetais e fibras podem diminuir o risco de complicações por H. pylori Deficiências nutricionais x cicatrização de feridas DIETA PARA DOENÇA ULCEROSA PÉPTICA Seguir uma dieta leve; Investigar se há anemia e, quando presente, cor- rigir; Verificar se há deficiência de cobalamina e, quando presente, corrigi-la; Evitar grandes refeições (fracionamento); Evitar alimentos condimentados (pimenta); Evitar excesso de café; Evitar o álcool e fumo; Incluir cotas extras de proteínas e vitamina C para a cicatrização. IRRITANTES GÁSTRICOS E ESTIMULANTES DA SE- CREÇÃO ÁCIDA DO ESTÔMAGO Irritantes: Pimenta, curry, páprica Estimulantes da secreção ácida: Café, chá, refrigerante e álcool
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