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FACULDADE FUTURA CONTEÚDO E METODOLOGIA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA VOTUPORANGA – SP 1 1 MATERIAL DE APOIO A Educação Inclusiva se configura na diversidade inerente à espécie humana, buscando perceber e atender as necessidades educativas especiais de todos os sujeitos-alunos, em salas de aulas comuns, em um sistema regular de ensino, de forma a promover a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal de todos. Para Strieder e Zimmermann (2010), a educação inclusiva deseja compreender e aceitar o outro na sua singularidade. Implica mudança de perspectiva educacional e abre horizontes para o desenvolvimento de sociedades inclusivas. Dessa forma, pode- se dizer que a educação inclusiva é aceita quando abandona-se a ideia de que as crianças devem se tornar normais para contribuir para o mundo. Isso requer a superação da tradicional concepção antropológica de seres humanos ideais1. 1.1 Recursos para a educação inclusiva Para quem não enxerga ou não consegue se movimentar, equipamentos, objetos e brinquedos inclusivos possibilitam um aprendizado mais fácil A criança chega à escola sem falar ou mexer braços e pernas. É possível ensiná-la a ler, por exemplo? Sim, e na sala regular. Para quem tem deficiência, existe a tecnologia assistiva, composta de recursos que auxiliam na comunicação, no aprendizado e nas tarefas diárias. As chamadas altas tecnologias são, por exemplo, livros falados, softwares ou teclados e mouses diferenciados. "Existem recursos para comandar o computador por meio de movimentos da cabeça, o que ajuda quem tem lesão medular e não move as mãos", afirma a fisioterapeuta Rita Bersch, diretora do Centro Especializado em Desenvolvimento Infantil, em Porto Alegre, onde as crianças que aparecem nesta reportagem são atendidas. Já as baixas tecnologias são adaptações simples, feitas em materiais como tesoura, lápis ou colher. Com o mesmo intuito de promover a inclusão, há brinquedos que divertem crianças com e sem deficiência. Os mostrados aqui foram feitos por alunos de 1 Extraído na íntegra: <http://oincrivelze.com.br/2015/09/educacao-inclusiva-2/> 2 Arquitetura da Universidade Federal de Santa Catarina. Já os livros táteis são do Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual, de Florianópolis. O educador da classe regular pode procurar esses materiais na sala de atendimento educacional especializado (a sala de apoio). "Nela, o professor especializado oferece recursos e serviços que promovem o acesso do aluno ao conhecimento escolar. Por isso, o diálogo entre os dois profissionais é fundamental", afirma Rosângela Machado, coordenadora de Educação Especial do município de Florianópolis. Confira alguns materiais que podem favorecer a aprendizagem da sua turma. Teclado versátil Matheus Levien Leal, 10 anos, está na 4a série e tem paralisia cerebral e baixa visão. Ele usa um teclado com várias lâminas, trocadas de acordo com a atividade. A de escrita, por exemplo, tem cores contrastantes e letras grandes. O equipamento é programado para ajustar o intervalo entre os toques, evitando erros causados por movimentos involuntários. Digitação sem erros O suporte, colocado sobre o teclado, chama-se colméia. Ele impede que o estudante com dificuldade motora pressione a tecla errada. 3 Num piscar de olhos O acionador faz a função do clique do mouse e pode ser ativado ao bater ou fechar a mão, puxar um cordão, piscar, soprar, sugar... O aparato pode ser colocado em qualquer parte do corpo do aluno. Com ele, é possível acessar livros virtuais, brincar com jogos e até digitar, usando um teclado virtual. 4 Jogos coloridos João Vicente Fiorentini, 10 anos, tem deficiência física e está na2a série. Por causa da dificuldade de segurar o lápis, ele usa materiais adaptados e aprende a escrever com jogos feitos de tampinhas e cartões plastificados. O material permite a João ainda relacionar cores e quantidades. 1.2 Mudanças na escola2 Para atender a todos e atender melhor, a escola atual tem de mudar, e a tarefa de mudar a escola exige trabalho em muitas frentes. Cada escola, ao abraçar esse trabalho, terá de encontrar soluções próprias para os seus problemas. As mudanças necessárias não acontecem por acaso e nem por Decreto, mas fazem parte da vontade política do coletivo da escola, explicitadas no seu Projeto Político Pedagógico - PPP e vividas a partir de uma gestão escolar democrática. É ingenuidade pensar que situações isoladas são suficientes para definir a inclusão como opção de todos os membros da escola e configurar o perfil da instituição. Não se desconsideram aqui os esforços de pessoas bem intencionadas, mas é preciso ficar claro que os desafios das mudanças devem ser assumidos e decididos pelo coletivo escolar. 2 Extraído na íntegra: ROPOLI, E. A.; MANTOAN, M. T.E.; SANTOS, M. T. C. T.; MACHADO. A educação especial na perspectiva da inclusão escolar: a escola comum inclusiva. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial; [Fortaleza]: Universidade Federal do Ceará, 2010. 5 A organização de uma sala de aula é atravessada por decisões da escola que afetam os processos de ensino e de aprendizagem. Os horários e rotinas escolares não dependem apenas de uma única sala de aula; o uso dos espaços da escola para atividades a serem realizadas fora da classe precisa ser combinado e sistematizado para o bom aproveitamento de todos; as horas de estudo dos professores devem coincidir para que a formação continuada seja uma aprendizagem colaborativa; a organização do Atendimento Educacional Especializado (AEE) não pode ser um mero apêndice na vida escolar ou da competência do professor que nele atua. Um conjunto de normas, regras, atividades, rituais, funções, diretrizes, orientações curriculares e metodológicas, oriundo das diversas instâncias burocrático- legais do sistema educacional, constitui o arcabouço pedagógico e administrativo das escolas de uma rede de ensino. Trata-se do que está INSTITUÍDO e do que Libâneo e outros autores (2003) analisaram pormenorizadamente. Nesse INSTITUÍDO, estão os parâmetros e diretrizes curriculares, as leis, os documentos das políticas, os regimentos e demais normas do sistema. Em contrapartida, existe um espaço e um tempo a serem construídos por todas as pessoas que fazem parte de uma instituição escolar, porque a escola não é uma estrutura pronta e acabada a ser perpetuada e reproduzida de geração em geração. Trata-se do INSTITUINTE. A escola cria, nas possibilidades abertas pelo INSTITUINTE, um espaço de realização pessoal e profissional que confere à equipe escolar a possibilidade de definir o seu horário escolar, organizar projetos, módulos de estudo e outros, conforme decisão colegiada. Assim, confere autonomia a toda equipe escolar, acreditando no poder criativo e inovador dos que fazem e pensam a educação. 1.3 A organização e a oferta do AEE O Decreto Nº. 6.571, de 17 de setembro de 2008, que dispõe sobre o Atendimento Educacional Especializado, destina recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica - FUNDEB ao AEE de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular, admitindo o cômputo duplo da 6 matrícula desses alunos em classes comuns de ensino regular público e no AEE, concomitantemente, conforme registro no Censo Escolar. Esse Decreto possibilita às redes de ensino o investimento na formação continuada de professores, na acessibilidade do espaço físico e do mobiliário escolar, na aquisição de novos recursos de tecnologiaassistiva, entre outras ações previstas na manutenção e desenvolvimento do ensino para a organização e oferta do AEE, nas salas de recursos multifuncionais. As Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado (2009) reiteram que, no caso de a oferta do AEE ser realizada fora da escola comum, em centro de atendimento educacional especializado público ou privado sem fins lucrativos, conveniado para essa finalidade, a oferta conste também do PPP do referido centro. Eles devem seguir as normativas estabelecidas pelo Conselho de Educação do respectivo sistema de ensino para autorização de funcionamento e seguir as orientações preconizadas nestas Diretrizes, como ocorre com o AEE nas escolas comuns. Conforme as Diretrizes, para o financiamento do AEE são exigidas as seguintes condições: a) matrícula na classe comum e na sala de recursos multifuncional da mesma escola pública; b) matrícula na classe comum e na sala de recursos multifuncional de outra escola pública; c) matrícula na classe comum e em centro de atendimento educacional especializado público; d) matrícula na classe comum e no centro de atendimento educacional especializado privado sem fins lucrativos. A organização do Atendimento Educacional Especializado considera as peculiaridades de cada aluno. Alunos com a mesma deficiência podem necessitar de atendimentos diferenciados. Por isso, o primeiro passo para se planejar o Atendimento não é saber as causas, diagnósticos, prognóstico da suposta deficiência do aluno. Antes da deficiência, vem a pessoa, o aluno, com sua história de vida, sua individualidade, seus desejos e diferenças. Há alunos que frequentarão o AEE mais vezes na semana e outros, menos. Não existe um roteiro, um guia, uma fórmula de atendimento previamente indicada e, assim sendo, cada aluno terá um tipo de recurso a ser utilizado, uma duração de atendimento, um plano de ação que garanta sua participação e aprendizagem nas atividades escolares. 7 Na organização do AEE, é possível atender aos alunos em pequenos grupos, se suas necessidades forem comuns a todos. É possível, por exemplo, atender a um grupo de alunos com surdez para ensinar-lhes LIBRAS ou para o ensino da Língua Portuguesa escrita. Foto: Mostra uma sala de recursos multifuncional e a professora ensinando Língua Portuguesa escrita para crianças com surdez. Esse ambiente apresenta recursos visuais fixados na parede. Fonte: ROPOLI et al. (2010, p. 23). Os planos de AEE resultam das escolhas do professor quanto aos recursos, equipamentos, apoios mais adequados para que possam eliminar as barreiras que impedem o aluno de ter acesso ao que lhe é ensinado na sua turma da escola comum, garantindo-lhe a participação no processo escolar e na vida social em geral, segundo suas capacidades. Esse atendimento tem funções próprias do ensino especial, as quais não se destinam a substituir o ensino comum e nem mesmo a fazer adaptações aos currículos, às avaliações de desempenho e a outros. É importante salientar que o AEE não se confunde com reforço escolar. O professor de AEE acompanha a trajetória acadêmica de seus alunos, no ensino regular, para atuar com autonomia na escola e em outros espaços de sua vida social. Para tanto, é imprescindível uma articulação entre o professor de AEE e os do ensino comum. Na perspectiva da inclusão escolar, o professor da Educação Especial não é mais um especialista em uma área específica, suas atividades desenvolvem-se, preferencialmente, nas escolas comuns, cabendo-lhes, no atendimento educacional 8 especializado aos alunos, público-alvo da educação especial, as seguintes atribuições: a) identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias, considerando as necessidades específicas dos alunos de forma a construir um plano de atuação para eliminá-las (MEC/SEESP, 2009). Fonte: ROPOLI et al. (2010, p. 24) Foto: Mostra equipamentos e materiais pedagógicos para alunos com deficiência visual b) Reconhecer as necessidades e habilidades do aluno. Ao identificar certas necessidades do aluno, o professor de AEE reconhece também as suas habilidades e, a partir de ambas, traça o seu plano de atendimento. Se ele identifica necessidade de comunicação alternativa para o aluno, indica recursos como a prancha de comunicação, por exemplo; se observa que o aluno movimenta a cabeça, consegue apontar com o dedo, pisca, essas habilidades são consideradas por ele para a seleção e organização de recursos educacionais e de acessibilidade. Com base nesses dados, o professor elaborará o plano de AEE, definindo o tipo de atendimento para o aluno, os materiais que deverão ser produzidos, a frequência do aluno ao atendimento, entre outros elementos constituintes desse plano. Outros dados poderão ser coletados pelo professor em articulação com o professor da sala de aula e demais colegas da escola. d) Elaborar e executar o plano de AEE, avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos educacionais e de acessibilidade (MEC/SEESP, 2009). Na execução do plano de AEE, o professor terá condições de saber se o recurso de 9 acessibilidade proposto promove participação do aluno nas atividades escolares. O plano, portanto, deverá ser constantemente revisado e atualizado, buscando-se sempre o melhor para o aluno e considerando que cada um deve ser atendido em suas particularidades. e) Organizar o tipo e o número de atendimentos (MEC/SEESP, 2009). O professor seleciona o tipo do atendimento, organizando, quando necessários, materiais e recursos de modo que o aluno possa aprender a utilizá-los segundo suas habilidades e funcionalidades. O número de atendimentos semanais/mensais varia de caso a caso. O professor vai prolongar o tempo ou antecipar o desligamento do aluno do AEE, conforme a evolução do aluno. f) Acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular, bem como em outros ambientes da escola (MEC/SEESP, 2009). O professor do AEE observa a funcionalidade e aplicabilidade dos recursos na sala de aula, as distorções, a pertinência, os limites desses recursos nesse e em outros ambientes escolares, orientando, também, as famílias e os colegas de turma quanto ao uso dos recursos. O professor de sala de aula informa e avalia juntamente com o professor do AEE se os serviços e recursos do Atendimento estão garantindo participação do aluno nas atividades escolares. Com base nessas informações, são reformuladas as ações e estabelecidas novas estratégias e recursos, bem como refeito o plano de AEE para o aluno. g) Ensinar e usar recursos de Tecnologia Assistiva, tais como: as tecnologias da informação e comunicação, a comunicação alternativa e aumentativa, a informática acessível, o soroban, os recursos ópticos e não ópticos, os softwares específicos, os códigos e linguagens, as atividades de orientação e mobilidade (MEC/SEESP, 2009). h) Promover atividades e espaços de participação da família e a interface com os serviços de saúde, assistência social e outros (MEC/SEESP, 2009). O papel do professor do AEE não deve ser confundido com o papel dos profissionais do atendimento clínico, embora suas atribuições possam ter articulações com profissionais das áreas da Medicina, Psicologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia e outras afins. Também estabelece interlocuções com os profissionais da arquitetura, engenharia, informática. 10 No decorrer da elaboração e desenvolvimento dos planos de atendimento para cada aluno, o professor de AEE se apropria de novos conteúdos e recursos que ampliam seu conhecimento para a atuação na Sala de Recursos Multifuncional. São conteúdos do AEE: Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e LIBRAS tátil; Alfabeto digital; Tadoma; Língua Portuguesana modalidade escrita; Sistema Braille; Orientação e mobilidade; Informática acessível; Sorobã (ábaco); Estimulação visual; Comunicação alternativa e aumentativa (CAA); Desenvolvimento de processos educativos que favoreçam a atividade cognitiva. São recursos do AEE: Materiais didáticos e pedagógicos acessíveis (livros, desenhos, mapas, gráficos e jogos táteis, em LIBRAS, em Braille, em caracter ampliado, com contraste visual, imagéticos, digitais, entre outros); Tecnologias de informação e de comunicação (TICS) acessíveis (mouses e acionadores, teclados com colmeias, sintetizadores de voz, linha Braille, entre outros); e Recursos ópticos; pranchas de CAA, engrossadores de lápis ponteira de cabeça, plano inclinado, tesouras acessíveis, quadro magnético com letras imantadas, entre outros. O desenvolvimento dos processos de ensino e de aprendizagem é favorecido pela participação da família dos alunos. Para elaborar e realizar os Planos de AEE, o professor necessita dessa parceria em todos os momentos. Reuniões, visitas e entrevistas fazem parte das etapas pelas quais os professores de AEE estabelecem contatos com as famílias de seus alunos, colhendo informações, repassando outras e estabelecendo laços de cooperação e de compromissos. As parcerias intersetoriais e com a comunidade onde a escola está inserida estão entre as prioridades do Projeto Político Pedagógico, pois a educação não é apenas uma área restrita aos órgãos do sistema educacional. Elas aparecem nas ações integradas da escola com todos os segmentos da sociedade civil e da sociedade política dos Municípios e Estados com as escolas. Indicadores importantes das parcerias intersetoriais são as ações desenvolvidas entre as escolas e as Secretarias de Educação, de Saúde, Poder Executivo, Poder Legislativo, Poder Judiciário, Ministério Público, instituições, empresas e demais segmentos sociais. O PPP, ao propor essas parcerias, está consubstanciado em uma visão de complementação e de alinhamento da educação escolar com outras instituições sociais. No caso do AEE, faz parte do seu Plano a previsão, desenvolvimento e avaliação de ações sincronizadas com a Saúde, Assistência Social, Esporte, Cultura 11 e demais segmentos. As parcerias fortalecem esse Plano, sem correr o risco de perder o foco no AEE, na medida em que a participação de outros atores amplia o caráter interdisciplinar do serviço. 2 COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E/OU SUPLEMENTAR3 A American Speech and HearingAssociation (ASHA) refere que as Comunicação Suplementar e Alternativa (CSA) abrange todas as formas de comunicação alternativas à fala, sendo usada para expressar pensamentos, necessidades, pedidos e ideias de pessoas com complexas necessidades comunicativas. No Brasil a área da CSA apresentou crescimento, mas ainda necessita ampliar o seu número de pesquisadores. As áreas do conhecimento relacionadas com o atendimento ao usuário na implementação de recursos de CSA foram: fonoaudiologia, psicologia, pedagogia e terapia ocupacional; já as áreas de informática e engenharia elétrica poderão influenciar ou impactar na criação de recursos eletrônicos (MANZINI, 2011). Em outro estudo (CESA; MOTA, 2015) foram identificados dois trabalhos da área da fisioterapia com CSA e onze na fonoaudiologia. Sobre esse aspecto, percebe- se que um grande número de estudos de CSA tem foco nas questões tecnológicas do recurso, acessibilidade e portabilidade. Não se discute a importância, mas sinaliza-se que o foco principal é a pessoa com complexa necessidade comunicativa que almeja expressar seus desejos e ideias, desenvolver relacionamentos e ampliar sua participação social (LIGHT; McNAUGHTON, 2013-2014). O fonoaudiólogo, profissional que atua na área da comunicação (BRASIL, 1981), tem condições de colaborar ainda mais na equipe interdisciplinar, considerando sua expertise acerca dos aspectos linguísticos implicados no processo de implementação de um sistema de CSA. O Comitê de Comunicação Suplementar e Alternativa do Departamento de Linguagem da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa) visa organizar ações que ampliem a inserção da atuação do 3 Extraído na íntegra do artigo: CESA, C. C.; MOTA, H. B. Comunicação suplementar alternativa: da formação a atuação clínica fonoaudiológica. Revista CEFAC, v. 19, n. 4, p. 529-538, jul./ago., 2017. 12 fonoaudiólogo na área, com discussões científicas a respeito dos referenciais teóricos e práticos. A atuação fonoaudiológica nas práticas com CSA precisa ser ainda mais investigada e difundida, através de estudos baseados em evidências clínicas e científicas. A própria diversidade de nôminas no Brasil (CSA, Comunicação Alternativa, Comunicação Ampliada, Comunicação Alternativa e Ampliada, Comunicação Aumentativa e Alternativa, Comunicação Alternativa e Facilitadora, dentre outras) para uma mesma área do conhecimento sinaliza o processo de expansão, entretanto carente ainda de uma terminologia brasileira unificada. Nesse sentido, o presente estudo tem o objetivo de investigar o perfil de atuação e a formação do fonoaudiólogo que atua com a CSA no Brasil. 2.1 Definindo a comunicação alternativa e/ou suplementar Quando pensamos em discutir a respeito de comunicação suplementar e/ou alternativa não podemos nos esquecer que é uma das áreas que faz parte da Tecnologia Assistiva, ou seja, nas mais diferentes culturas através da história as pessoas criaram adaptações e utilizaram ferramentas e equipamentos especiais para auxiliar as pessoas com necessidades especiais em suas sociedades. A tecnologia assistiva engloba áreas como: comunicação suplementar e/ou alternativa, adaptações e acesso ao computador, equipamentos de auxílio para déficits sensoriais, adaptações de postura, adaptações de jogos e atividades de brincadeiras nas diferentes situações como na escola, casa e outros ambientes, permitindo a possibilidade de inclusão social e escolar. Os estudos de comunicação alternativa e/ou suplementar começaram a ser desenvolvidos a partir da década de 70, quando se começou a repensar as definições da deficiência mental, física ou auditiva levando-se em conta que se tratava, também, de grupos “marginalizados” na sociedade, mas que deveriam participar e poderiam ser capazes. Comunicação suplementar e/ou alternativa refere-se a todas as formas de comunicação que possam complementar, suplementar e/ou substituir a fala. Dirige-se a cobrir as necessidades de recepção, compreensão e expressão da linguagem e, 13 assim, aumentar a interação comunicativa dos indivíduos não-falantes (VON TETZCHNER; JENSEN, 1996). De acordo com Thiers (1995); Von Tetzchner (1997) e Von Tetzchner e Martinsen (2000) a comunicação alternativa tem como objetivo promover a fala e garantir uma forma alternativa de comunicação. Por sua vez Nunes (2001), complementou afirmando que comunicação alternativa envolve o uso de gestos, expressões faciais, símbolos gráficos (incluindo a escrita, desenhos, gravuras e fotografias) como forma de efetuar a comunicação de pessoas incapazes de se utilizarem à linguagem verbal. A comunicação ampliada ou suplementar possui um duplo propósito: promover e suplementar a fala e garantir uma forma alternativa, caso o indivíduo não tenha possibilidade de desenvolver a fala. Segundo Capovilla (1996, 2001) a definição de sistemas suplementares e/ou alternativos de comunicação seria um conjunto de elementos organizados para sustentar a comunicação expressiva. Há dois tipos: sistemas sem ajuda: quando mensagens são produzidas por um membro do corpo e sistemas com ajuda: quando é necessário algo exterior ao corpo para transmissão da mensagem. Como o professor poderia indicar um aluno a começar a utilizar recursos de comunicação alternativa? Seriam os alunos com determinadas deficiênciasdefinidas? Como no caso da paralisia cerebral, afasia, anartrias, alexias e agrafias, distrofia muscular progressiva, esclerose lateral amiotrófica, deficiência mental entre outros. Sem o diagnóstico não seria possível pensar no início de um trabalho? Poder-se-ia argumentar e discutir que os usuários dos sistemas de comunicação suplementar e/ou alternativa seriam avaliados pelas suas reais possibilidades expressivas, ou seja, crianças, jovens e adultos que não conseguem falar ou ainda, indivíduos que falam, mas não são compreendidos por diferentes interlocutores (MANZINI, 2001; DELIBERATO, 2005). 2.2 Principais sistemas de comunicação A literatura a respeito de Comunicação Alternativa tem apontado para uma série de conjuntos e/ ou sistemas de símbolos que permitem a comunicação de pessoas que não produzem linguagem oral, como, por exemplo, Sistema “Bliss” (HEHNER, 1980; MCNAUGHTON, 1985), Picture Exchange Communication System- 14 PECS (FROST; BONDY, 1996), Picture Communication Symbols-PCS (JOHNSON, 1992) e Pictogram- Ideogram Communication-PIC (MAHARAJ, 1980). O processo de escolha dos recursos e/ou estratégias de comunicação suplementar e/ou alternativos a serem utilizados deve ser feito com muita cautela e participação conjunta da família e da escola. A devida seleção e implementação destes recursos e estratégias poderão garantir a efetividade da comunicação do usuário não-falante e sua interação em diferentes ambientes naturais (DELIBERATO; MANZINI, 1997; NUNES, 2003). Para Reily (2004), a família deve ser envolvida no processo de decisão sobre o sistema mais conveniente para determinado momento, devendo participar da identificação do léxico essencial a compor a prancha de comunicação. A decisão dos materiais pode estar vinculada desde o uso de objetos, figuras, fotos até os sistemas de símbolos já organizados, como os citados acima, além do uso dos gestos, língua de sinais e a escrita (MANZINI; DELIBERATO, 2004) Os sistemas de comunicação podem ser de alta tecnologia como no caso do uso de computadores, máquinas que sintetizam sons, tabuleiros sonoros e de baixa tecnologia como o uso dos sistemas em tabuleiros e pranchas confeccionados em papel. Os dois principais sistemas de comunicação alternativa são: o Sistema Bliss de Comunicação e o Sistema Pictográfico de Comunicação. O sistema Bliss de Comunicação foi desenvolvido de 1942 a 1965 por Charles K. Bliss e baseava-se na filosofia de Leibinitz, buscava criar uma linguagem que ultrapassasse diferenças de línguas. Em 1971 Mcnaughton utilizou–o com indivíduos com severos distúrbios de linguagem, adaptando o sistema e alguns de seus símbolos. O sistema é composto por símbolos gráficos, coloridos e derivado de um número básico de figuras geométricas. Há certa diversidade quanto à classificação dos símbolos, ou seja, os pictográficos são os que se assemelham ao objeto que representam; idiográficos – cujas formas sugerem o conceito que representam; dupla classificação; possuem características pictográficas e/ou idiográficas; e por último, símbolos arbitrários: quando a forma não tem relação direta convencional com o seu significado (HEHNER, 1980). O segundo sistema é o Picture Communication Symbols. Foi desenvolvido por Roxana Mayer no EUA, em 1981. Possui desenhos bidimensionais, constituindo 15 relação idêntica com o objeto a que se refere. Inclui alfabeto e números além de permitir o uso de fotos. Algumas palavras têm dois ou mais pictogramas correspondentes, o que permite ao usuário escolher o símbolo mais próximo de seu contexto. Devido a sua configuração, basicamente formada por desenhos que indicam substantivos, pronomes, verbos e adjetivos, o nível de dificuldade de abstração é menor por parte do usuário sendo por isso, também, indicado para crianças menores. O nível de iconicidade desse instrumento é maior em relação ao sistema de comunicação Bliss. Isso ocorre porque o Picture Communication Symbols é um tipo de sistema pictorial que apresenta uma relação dialógica e contínua com os seus referentes comunicando conceitos concretos e imagináveis de modo não ambíguo o que possibilita que o emissor e o receptor não falem a mesma língua (JOHNSON, 1981, 1985, 1992). A composição das cores do sistema Bliss e do Picture Communication Symbols é distribuída da seguinte forma: Figuras sociais – cor rosa (contorno ou fundo); Figuras de pessoas – cor amarela (contorno ou fundo); Figuras de verbos – cor verde (contorno ou fundo); Figuras descritivas (adjetivos e advérbios) – cor azul (contorno ou fundo); Figuras miscelâneas: cor branca; Figuras de substantivos: cor laranja. As cores podem auxiliar significativamente a rápida localização dos símbolos. Durante o processo de avaliação, seleção e implementação de recursos de comunicação suplementar e/ou alternativa alguns cuidados são necessários procurando identificar as habilidades do aluno não-falante. Neste sentido, o professor e demais profissionais devem estar atentos: Como o aluno se comunica, ou seja, ele vocaliza, utiliza gestos, olhares, expressões faciais etc. Com quem ele se comunica? O que ele comunica? E em quais situações? Quais são suas habilidades visuais e auditivas? Qual a sua atitude frente à comunicação? Quais são as habilidades motoras? (função global e fina, mobilidade, postura etc). Quais os recursos já utilizados para a comunicação? Quais são os parceiros de comunicação? 16 Qual a rotina do aluno? Quais são os centros de interesse? Quais as tarefas a serem realizadas. Durante o processo de avaliação é importante estar atento ao tempo de atenção dos usuários assim como ao cansaço demonstrado nas atividades. No momento de avaliação devemos respeitar as etapas de aprendizagem de símbolos: objeto real, miniatura, fotografias, desenhos coloridos, desenho em preto e branco, símbolos gráficos e por fim a escrita. Durante a avaliação do aluno a participação da família, escola e/ou instituição é de fundamental importância para o levantamento das situações funcionais, ou seja, do vocabulário inicial a ser desenvolvido no momento da confecção do recurso. Neste contexto é importante destacar: A seleção do vocabulário é constante. O objetivo do recurso deve direcionar a escolha do vocabulário. O número de símbolos deve variar de acordo com a habilidade do sujeito. Os símbolos selecionados devem ser funcionais. A participação da família é imprescindível nesse momento. O recurso pode e deve ser alterado de acordo com a necessidade do sujeito. O recurso poderá ser confeccionado por meio de frases e/ou tópicos. O formato do recurso varia de acordo com as possibilidades e interesse do sujeito. 2.3 Alguns cuidados no momento da confecção do recurso de comunicação suplementar e/ou alternativa Durante a confecção e adaptações dos materiais de comunicação suplementar e/ou alternativa a literatura tem discutido alguns cuidados: O tabuleiro, pasta, prancha podem ser confeccionados com o sujeito, principalmente quando o aluno apresentar deficiência mental. Iniciar a confecção das fotos e ou figuras a partir do vocabulário funcional. Cada figura deve ser trabalhada e vivenciada antes da colagem. 17 O local da colagem deve ser orientado, mas não determinado pelo profissional. Quando o profissional confecciona a prancha sem a participação do usuário ela deverá ser vivenciada pelos diferentes parceiros comunicativos. O uso do recurso deve envolver os diferentes parceiros de comunicação: escola, família e demais pessoas. Os recursos de baixa tecnologia podem estar organizados em diferentes dispositivos como: cartões, pranchas, pranchas de olhar, pastas, coletes, aventais, colares, livros, fichários e outros. As pranchas de comunicação podem ser construídasutilizando-se objetos ou símbolos, letras, sílabas, palavras, frases ou números. As pranchas são personalizadas e devem considerar as possibilidades cognitivas, visuais e motoras de cada usuário. As pranchas podem estar soltas ou agrupadas em álbuns ou cadernos. O acesso poderá ser feito pelo olhar, apontar ou ser indicada pelo parceiro de comunicação. 2.4 Técnicas de seleção dos símbolos São as formas pela qual o usuário escolhe os símbolos na prancha de comunicação. É importante determinar a forma de seleção mais eficiente para cada indivíduo. Neste sentido, a participação de outros profissionais, como o terapeuta ocupacional, é muito importante. Neste momento deve ser escolhido o posicionamento ideal da prancha e do usuário. As técnicas de seleção segundo Suárez et al. (2003) são: 1. Seleção direta: é o método mais rápido e pode ser feito por meio de apontar com o dedo ou outra parte do corpo, com uma ponteira de cabeça ou uma luz fixada à cabeça. 2. Técnica de seleção pelo olhar: geralmente utilizada pelos indivíduos com severas alterações motoras. 18 3. Técnica de seleção por varredura: exige que o usuário tenha uma resposta voluntária consistente como piscar os olhos, balançar a cabeça, sorrir ou emitir um som para que possa sinalizar a resposta. Os métodos de varredura podem ser linear, circular, de linhas e colunas ou em grupos. 4. Técnica da codificação: permite a ampliação de significados a partir de um número limitado de símbolos e o aumento de velocidade. Utilizada com alunos com severos distúrbios motores, mas envolve um maior grau de abstração. 2.5 Cuidados nas estratégias selecionadas para o uso de comunicação alter- nativa4 O ambiente deve ser o mais natural possível, ou seja, deve demonstrar a utilidade do recurso no dia-a-dia do aluno. Neste sentido, preparar procedimentos em situações de vivencias são fundamentais, como por exemplo: preparar um bolo, pipoca, ir à padaria etc. O sistema de comunicação vai ser mais eficiente no momento em que os profissionais estiverem atentos nas diferentes técnicas utilizadas: gestos, linguagem de sinais, vocalizações, expressões faciais. Os símbolos e as pranchas podem ser elaborados para uma atividade específica ou mesmo para um jogo. Nestas situações devem-se colocar rótulos nos objetos, sequência de cartões para uma determinada atividade durante a rotina, receitas e livros adaptados etc. 4 Ibidem.
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