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Educação inclusiva: relação família - escola

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Educação inclusiva: refletindo sobre a relação escola-família 
Paloma Roberta Euzebio Rodrigues 
 Claudia Gomes 
 Thaynara da Cruz Campos
Introdução
Em resposta às políticas públicas de universalização da educação, as diferenças nos espaços escolares têm aumentado ligeiramente desde as últimas décadas do século XX (Pereira & Santos, 2009).
O ato de inserir o aluno com necessidades educacionais especiais no ensino regular, por si só, seria uma pseudo-inclusão, o que soa, no mínimo, como irresponsabilidade (Facion, 2005).
São inúmeros os desafios que a educação inclusiva apresenta às instituições de ensino comum.
Segundo Gomes (2005), a educação deve ter como fim a criação de uma escola que seja, ao mesmo tempo, de qualidade e democrática, isto é, que não ofereça aos pobres uma escolaridade pobre, mas que efetivamente consiga que os alunos, mesmo socialmente desprivilegiados, aprendam.
O processo de educação inclusiva é, nesta perspectiva, uma provocação cuja intenção é melhorar a qualidade de ensino das escolas, atingindo todo os alunos que fracassam em sala de aula (Mantoan, 2006).
Vale ressaltar que o processo de educação inclusiva é de responsabilidade de todos os profissionais que trabalham nas escolas, isto é, não é de única responsabilidade do docente, uma vez que o trabalho de inclusão corresponde à tentativa de adaptar todo o espaço de ensino para receber as diferenças de todos os discentes, de acordo com suas especificidades (Kassar, 2006).
Nesse sentido, há a necessidade de repensar e aprimorar a formação de todos os profissionais que atuam nas escolas.
Para Facion (2005), o professor é constantemente desafiado em seus contextos de trabalho e a educação inclusiva vem para ampliar ainda mais esses desafios, enfatizando a importância da formação inicial e continuada.
Sendo assim, a formação continuada e em exercício de professores voltada para a educação inclusiva necessita de formação de espaços de participação e reflexão para que esses profissionais aprendam a lidar e adaptar-se com a nova realidade da inclusão e suas próprias incertezas sobre a sua profissão (Facion, 2005).
A efetivação de uma relação saudável entre família e escola demanda formação e esforço por parte dos profissionais da educação.
Procedimentos Metodológicos
A investigação lançou como objetivo compreender os desafios e limites da relação escola-família na perspectiva da educação inclusiva.
Pesquisa qualitativa interventiva
Instrumentos de coleta de dados
Questionário de Caracterização 
Dinâmica de Grupo de Discussão
Resultados e Discussão
A análise de dados se deu através da construção e definição de núcleos de significação, que expressam os pontos fundamentais de implicações dos sujeitos com as realidades estudadas. 
O núcleo de significação explorado foi “Da representação à Constituição da Educação Infantil”, com dois indicadores que sistematizavam as compreensões das professoras quanto à ação relacional escola-família.
O indicador “dilema cuida x educar” evidenciou três questões:
Desconhecimento da função docente
P1: Não vem, você entendeu? Eles não têm esse interesse, porque eu falo muito com as meninas, eles ACHAM que aqui é CRECHE, eles acham, a concepção que eles tem é que nós somos pajens, a concepção é essa. Entendeu? A concepção é essa. Então, por exemplo, quando tem feriado, “uai, mas a CRECHE não vai funcionar não?” NÃO, não vai por que aqui é ESCOLA, são duzentos dias letivos com os professores. 
P1: Não. Às vezes, por exemplo, você pede o material e as mães falam assim, ó: “Pra que isso?” Entendeu? “Pra que isso?”, “Ah, mas vai gastar esse tanto de folha?”. 
P5: São poucas que preocupam assim, como que ele tá, né? Tá desenvolvendo? 
Falta de conhecimento real dos objetivos da educação infantil
P1: Não, não é só vim, vir ela vem todo dia e vai buscar, são poucas as que não vem, você entendeu? É conscientizar esses pais da importância, igual a gente já falou e bate na tecla de novo que isso aqui não é babá, entendeu, é essa conscientização que eu acho que é o principal dessa escola que a gente tem que embutir nos pais, eu acho que é o principal, por exemplo, igual sexta-feira não teve aula, então eles já dão um pulo “Quem vai ficar com os meus meninos?” pera aí, não é quem vai ficar com seus filhos, entendeu? A hora que ele tiver na escola você vai perguntar isso? Entendeu? Então eu acho que o problema maior que a gente tem que conscientizar é em cima disso. 
P10: Nós estamos CUIDANDO dos filhos deles, que eles não cobram nós do pedagógico, eles cobram o cuidado. “Ah, machucou? Ah, isso.... O que que meu filho tá fazendo?” Pergunta pra gente, não flui assim... 
Pais contribuem para a desmotivação desses profissionais
O indicador “naturalização e distanciamento da relação escola-família” evidenciou três questões:
Demanda de conhecimento da concepção de família por parte dos docentes
P1: Eu acho que tinha que ter a participação DOS PAIS 
P4: Participação, colaboração. 
P1: RESPONSABILIDADE dos pais. 
P3: Participação efetiva dos pais, que não tem. Pode contar nos dedos. 
P3: Participação efetiva dos pais, responsabilidade e compromisso da família. 
P3: Por exemplo, eu mandei bilhete pra uma mãe vim que eu precisava dela, e nada, nada, e também outra coisa, é incapaz de colocar “OK” no bilhete, não, simplesmente NADA. 
Famílias que não respondem à demanda esperada pela escola
P1: Não passa. Sabe por que que não passa? Porque as mães, elas não têm responsabilidade com o caderno e dever de casa do menino. Então é... Os pais não têm essa conscientização da importância do dever, entendeu? Eles acham que o dever, que o menino tem que levar o dever, e o dever tem que vir perfeito... Eles ainda não conscientizaram que dever de casa é pra que? Pro professor ver o que que a criança aprendeu e o que elas não aprenderam. Que é que eles mais erraram? Eu tenho que repetir. Entendeu? Principalmente que no caso de cinco anos, porque o dever já é mais, né? 
P3: Que é isso! Letra cursiva, letra de forma, é... minúscula, que é isso! Coisas que eles nem aprenderam vem, então você fala assim: É a criança que achou, foi lá, procurou? 
P4: No dia que ela quebrou o portão lá ainda comentei com a Ivana, falei assim, ela (a criança) chegou lá na sala toda autoritária, “Minha mãe tá ligando pra polícia porque vai vim prender a Suelen” mas assim, sabe se achando o máximo, do mesmo jeito que a mãe fez ela agindo na sala, eu falei assim: “É?” aí eu continuei a aula, não dei chance pra ela falar mais nada não, se não ia ter jeito, não ia dar nem aula, porque do jeito que age, reage. 
Falta de estratégias para que a participação familiar seja efetivada
P1: Elas não vêm. Eu ainda procuro, na época quem estava aqui sabe, eu falei: “A escola tá aberta, vamos fazer um rodízio de pais” eu ainda pensei, a minha ignorância foi tanta que achei assim, vai vim um monte de pai querendo, porque eu pensei assim: “Os pais vão querer vim aqui pra ver como que os meninos são tratados”. É, eu pensei assim: “Os pais vão querer vir porque eles vão querer saber como que esses meninos são tratados aqui na escola, o que come, o que tem, o que não tem” veio uma, é verdade ou mentira? 
P10: A mãe do J. e a mãe do M... Chegou as 16h00 ela chegou perto de mim e falou assim: “Olha, quero te dar os parabéns”. 
P1: Obrigar, a gente não pode obrigar... 
P1: Não, a gente fez uma reunião, e assim, veio pouquíssimas pessoas, depois o projeto não foi pra frente, porque justamente, igual eu te expliquei, a gente também fica pensando nas meninas porque elas moram longe, então pra você tá fazendo isso, entendeu, todas as pessoas tem que voltar. Então assim, já é sacrificado pra elas chegar aqui às 07h00 sair às 16h00, um monte aqui, a maioria não vai nem em casa almoçar. Entendeu? 
Considerações Finais
Uma das dificuldades latentes na relação escola-família se dá pela visão equivocada que os pais/responsáveis das crianças têm dos espaços de educação infantil e de seus profissionais.
Por outro lado, outro desafio é a concepção naturalizante da compreensãode família, sem reconhecerem os novos formatos, necessidades e capacidades de enfrentamentos que as famílias possuem para a relação com a escola.
Por fim, foi possível perceber, através do estudo, que uma das maiores demandas é em relação a uma atuação crítica do profissional, que vincule a necessária formação técnica, teórica e política a uma ação de qualificação relacional da docência, favorecendo a constituição de relações escolares que efetivem o direito de acesso, permanência e desenvolvimento aos alunos em seus mais variados perfis, ação esta possível apenas com o estabelecimento de uma relação entre escola-família.
Referências
FACION, José Raimundo. (2005). Inclusão Escolar e suas Implicações. Curitiba: editora IBPEX.
GOMES, Candido Alberto Pacheco. (2005). A Escola de Qualidade para Todos: Abrindo as Camadas da Cebola. Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.13, n.48, p. 281-306.
KASSAR, Mônica de Carvalho Magalhães. (2006) Integração/Inclusão: desafios e contradições. In: BAPTISTA, Claudio Roberto; BEYER, Hugo Otto et al. (org). Inclusão e escolarização: múltiplas perspectivas. Porto Alegre: Mediação, p. 119–126.
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. (2006). Inclusão Escolar: o que é? por quê? como fazer? 2ª edição. São Paulo: Moderna.
PEREIRA, Cleide Lucia; SANTOS, Marilane. (2009). Educação Inclusiva: Uma Breve Reflexão sobre Avanços no Brasil após a Declaração de Salamanca. Revista da Católica, Uberlândia, v. 1, n. 2, p. 265-274.
Obrigada!

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