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ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Saúde, gestão e humanidades IV CAUSALIDADE E RISCO A causa de uma doença ou agravo à saúde é um evento, condição, característica ou uma combinação desses fatores que desempenham um papel importante no desenvolvimento de um desfecho em saúde. Nexo: uso de evidências acumuladas sobre a associação entre fator precedente (causa) e efeito (desfecho). Causalidade epidemiológica como modelo estatístico: comparação do aumento ou diminuição do número de afetados em um grupo exposto [incidência] em relação a outro não exposto. Ou seja, é o efeito relativo do aumento da Incidência entre expostos comparado a não expostos; Logo: a expressão fator de risco (RR ↑1) é utilizada para descrever fatores que estão associados ao risco (probabilidade) de desenvolvimento da doença, mas que não são suficientes para ocasioná-las. Já a expressão fator de proteção (RR ↓1) é utilizada para descrever fatores que estão associados a redução do risco (probabilidade) de desenvolvimento de determinado evento. ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS Estratégias metodológicas direcionadas à identificação de associações entre supostas causas e seus efeitos sobre a saúde de populações humanas. TIPOS DE ASSOCIAÇÕES Associação espúria (associação não causal) Associação real (verdadeira) Associação não causal ou secundária Ex: multiparidade e síndrome de Down Associação causal - Indireta - Direta ASSOCIAÇÃO CAUSAL Quando uma mudança da frequência ou qualidade de uma exposição ou característica resulta em uma correspondente mudança na frequência da doença ou desfecho de interesse. POSTULADOS DE HENLE-KOCH I. A presença do agente deve ser sempre comprovada em todos os indivíduos que sofram da doença em questão e, a partir daí, isolado em cultura pura; II. O agente não poderá ser encontrado em casos de outras doenças; III. Uma vez isolado, o agente deve ser capaz de reproduzir a doença em questão, após a sua inoculação em animais experimentais; IV. O mesmo agente deve poder ser recuperado desses animais experimentalmente infectados e de novo isolado em cultura pura. Podemos dizer que estes postulados atendem a totalidade de casos da atualidade? ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Saúde, gestão e humanidades IV PRINCÍPIOS DA CAUSALIDADE Critérios de Hill (1965) MODELO DE ROTHMAN: CAUSA SUFICIENTE X CAUSA NECESSÁRIA Causa necessária: A doença somente se desenvolve na presença de determinado fator Ex: Mycobacterium tuberculosis Causa suficiente: Conjunto de condições e eventos mínimos que inevitavelmente produzem a doença. Ex: A hipertensão arterial sistêmica (+ outros componentes) é causa suficiente para IAM. Enfim, qual a diferença entre a causa suficiente e causa necessária? - Uma causa suficiente geralmente possui diversos componentes. - Em geral, a causa necessária é um desses componentes. - Nas doenças infecciosas sempre há uma causa necessária. - Dificilmente se conhecem todos os componentes das causas suficientes – principalmente, quando se discute uma doença crônica. OBS.: O mesmo fator causal pode estar presente em diferentes doenças, como vários fatores causais podem estar presentes em uma única doença. MÚLTIPLOS FATORES E FATORES DE CAUSALIDADE Os modelos unicausais já parecem estar inadequados, principalmente nas doenças crônicas. Ao menos quatro grupos de fatores desempenham papel importante no comportamento das doenças/fenômenos. 1. Fatores predisponentes: idade, sexo, traço genético, etc. 2. Fatores capacitantes ou incapacitantes: pobreza, dieta insuficiente, moradia inadequada, etc. 3. Fatores precipitantes: exposição a um agente especifico e/ou nocivo. 4. Fatores reforçadores: exposições repetidas, condições ambientais, etc. INTERPRETAÇÃO DO RISCO RELATIVO APLICABILIDADE DOS ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS Diagnóstico local de saúde Avaliação de serviços de saúde (estudos de demanda; avaliação da qualidade da assistência prestada; etc.) Avaliação de eficácia/efetividade de tratamentos individuais e ações de saúde pública Estudo de fatores de risco/proteção para agravos à saúde Estudo de fatores prognósticos Avaliação de acurácia de novos testes diagnósticos. ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Saúde, gestão e humanidades IV TIPOLOGIA DOS DESENHOS DE INVESTIGAÇÃO EM EPIDEMIOLOGIA TIPOLOGIA DOS ESTUDOS Estudos observacionais: Permitem que a natureza determine o seu curso: o investigador mede, mas não intervém sobre o objeto de pesquisa. Não há controle sobre a exposição, só observação. Estudos experimentais: Também chamados de estudos de intervenção, envolvem a tentativa de controlar / mudar os determinantes de um fenômeno / doença (ex. Tratamento). Dois grupos são comparados em relação ao fator (tratamento/exposição) que está sendo estudado. Ex.: Um grupo recebe o tratamento e o outro uma terapia alternativa ou placebo. Estudos quase-experimentais: dois grupos são comparados para avaliação da eficácia de um tratamento sem que haja randomização. Estes estudos são direcionados a uma ou mais populações. Ex.: Ensaios comunitários para a prevenção e controle da Leishmaniose. ESTUDO OBSERVACIONAL: FORMA DE TRATAMENTO DOS DADOS Epidemiologia descritiva: É a simples descrição a partir de dados rotineiramente coletados na comunidade (dados secundários) ou coletados diretamente por meio de instrumental específico (dados primários). Os estudos puramente descritivos não se propõem a analisar possíveis interações entre exposição e efeito. São utilizados, geralmente, para o monitoramento dos fenômenos. Ex: a detecção de aumento importante na frequência de um evento em um determinado momento é um dos critérios para diagnosticar epidemias. Epidemiologia analítica: Aborda de maneira mais aprofundada as correlações entre os resultados obtidos no estudo. Tem o objetivo básico de avaliar (não apenas descrever) se a ocorrência de um determinado evento é diferente entre indivíduos expostos e não expostos a um determinado fator ou de acordo com as características das pessoas. Propõe a geração de hipóteses explicativas ou relações de causalidade entre uma exposição e um desfecho. DESENHOS: ESTUDOS TRANSVERSAIR/ SECCIONAIS Medem a prevalência de determinado agravo em determinado momento e, por isso, também podem ser denominados “estudos de prevalência”. São feitos a partir de uma coleta de dados primários e úteis na investigação de exposições que são características individuais fixas, tais como aspectos socioeconômicos. Servem também no delineamento de perfis epidemiológicos e, com isso, nas necessidades populacionais. Aplicabilidade: magnitude do fenômeno e estimação do perfil. Respeitados os princípios de validade, este desenho possibilita a generalização de dados para populações similares -> gera hipóteses explicativas. ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Saúde, gestão e humanidades IV ATENÇÃO!!!!! FALÁCIA ATOMÍSTICA É um erro comum entre os pesquisadores iniciantes, quando realizam estudos transversais. Consiste em conclusões / inferências extraídas de relações no nível individual, refletindo as relações contextuais – de nível macro. Em se tratando de estudos “particularistas” deve-se ter cuidado para não praticar inferências que incorram nesta falácia. Ex: Um exemplo de falácia atomística aplica-se à relação entre o nível de renda e a mortalidade por doença coronária cardíaca. Na análise realizada no nível individual, a correlação entre essas duas variáveis é negativa, ou seja, um aumento no nível de renda reduz a probabilidade do indivíduo morrer devido à doença coronária. O problemada falácia atomística irá ocorrer se, com base nesta análise, inferirmos que essa mesma correlação será observada no nível agregado. Nesse caso, iremos erroneamente concluir que um aumento na renda per capita está associado a reduções nas taxas de mortalidade devido a esta doença. Na realidade, no âmbito macro, a correlação entre essas duas variáveis é positiva sugerindo que um aumento na renda per capita aumenta a taxa de mortalidade segundo essa causa. Esse resultado é observado uma vez que, em sociedades mais ricas, devido à maior longevidade da população, as taxas de mortalidade por doenças crônico- degenerativas são mais altas. ESTUDOS ECOLÓGICOS Estudo no qual as unidades de observação são as populações ou grupos de pessoas, ao invés de indivíduos. Estes grupos tomam a forma de uma área definida geograficamente (Estado, cidade, setor censitário). São estudos mais baratos e com coleta de dados mais rápida -> utilizam as medidas agregadas presentes nos sistemas de informações (ex.: Datasus, IBGE) Servem para avaliar o papel do contexto social e ambiental na determinação da saúde -> medidas coletadas no nível individual muitas vezes não são capazes de refletir adequadamente os processos que ocorrem no nível coletivo (efeitos indiretos) Exemplo: desigualdade social -> maior mortalidade. Servem para gerar ou testar hipóteses etiológicas. Possibilitam três tipos de mensurações ecológicas: A) Medidas agregadas: medidas resumo de observações feitas em indivíduos (% fumantes, renda média) B) Medidas ambientais: características físicas do lugar onde a população vive C) Medidas globais: atributos de grupos, lugares e organizações (legislação, desorganização social, etc) ATENÇÃO!!!! FALÁCIA ECOLÓGICA O inverso dos erros previstos pela falácia atomística é representado pela Falácia Ecológica. É definida como uma tentativa de estimar associações entre indivíduos a partir de dados agregados. Por exemplo, ao analisar o problema dos atropelamentos, observamos que as taxas são maiores nos municípios mais ricos. Nunca poderíamos concluir que os indivíduos mais ricos é que são atropelados, o que não seria verdade, mas sim, que nos municípios mais ricos, há mais carros, e estes atropelam os pedestres, que são em geral crianças dos estratos mais pobres da população. Neste caso a observação da existência de uma relação entre duas variáveis a nível populacional não implica necessariamente que a mesma relação se mantenha a nível individual.
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