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Rousseau e Kelsen contratualistas complementares

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Rousseau e Kelsen: contratualistas complementares
Luisa Duarte Torres Alves 
Segundo Rousseau, o homem se distingue dos animais porque eles são, naturalmente, seres de razão e de liberdade. Logo, estão no mundo da cultura enquanto animais são movidos apenas por instintos. Dado este estado do homem pré-político ou de natureza, portanto, nós seres humanos somos livres de moralidade, uma vez que este é naturalmente bom, mas a sociedade o corrompe por meio da cultura. Além disso, para o selvagem existe apenas vontades particulares, levando em consideração apenas sua individualidade. 
O estado civil político surgiu então a partir de pactos sociais firmados pelos homens para sair de seu estado de natureza e, traz como consequência a principal causa da desigualdade social: a propriedade privada, que para o contratualista, é a tomada de posse arbitrária e também fundante do estado civil político. Nesse estado, o homem é corrompido pela sociedade e, ao contrário do que foi dito anteriormente sob as circunstancias de seu estado natural, há aqui uma vontade geral. Essa vontade geral, portanto, funda o pacto social e é a garantia das liberdades entre os indivíduos. Acrescento ainda que, essa mesma vontade geral que sobrepõe as vontades particulares e visa o bem comum acaba por legitimar o poder político uma vez que, se não existisse, seria de maior vantagem continuar no estado de natureza onde só era levada em consideração vontades particulares de cada indivíduo. Dito isso, o estado de natureza passa então a deteriorar e se constituir como um estado de natureza que, assim como o teórico político Thomas Hobbes acreditava, era um estado de natureza de guerra permanente.
Somando ao raciocínio anterior, Hans Kelsen afirma que ser cidadão é ser político e, consequentemente, se sujeitar a um ordenamento político de determinado local e, isso o faz pertencente ao povo de lá. Dito isso, a liberdade no estado de natureza é, para o contratualista, uma liberdade negativa, uma vez que o ideal de igualdade entre os homens faz acreditar que ninguém deve mandar em ninguém e que, se a terra é de todos, logo não é de ninguém, causando uma falsa sensação de liberdade, posto que o indivíduo só será livre quando sujeito de suas próprias vontades, como explicitado no trecho seguinte do livro “A Democracia” de Hans Kelsen, 1920: 
“Da idéia de que somos -idealmente- iguais, pode-se deduzir que ninguém deve mandar em ninguém. Mas a experiência ensina que, se quisermos ser realmente todos iguais, deveremos deixar-nos comandar. Por isso a ideologia política não renuncia unir a liberdade com igualdade.”
Entretanto, se partirmos do ponto que somos de fato todos iguais, teremos de deixar algum de nós mesmos comandar, uma vez que havendo Estado é necessário também haver poder. Logo, são as instituições legais o mecanismo regulador do mesmo, responsáveis por uma igualdade jurídica que só existirá de fato quando todos estiverem sujeitos aos mesmos direitos. Para explicitar essa compreensão da necessidade de um poder a fim de regular as relações entre homens de determinada sociedade, cito aqui dois trechos do mesmo livro “A Democracia” de Hans Kelsen:
“Se deve haver sociedade e, mais ainda, Estado, deve haver um regulamento obrigatório das relações dos homens entre si, deve haver um poder. Mas, se devemos ser comandados, queremos sê-lo por nós mesmos. (...) É politicamente livre aquele que está submetido, sim, mas a vontade própria e não alheia.”
Concluo meu pensamento, pois, afirmando que o Kelsen confirma de forma prática e verossímil aquilo que ainda era uma ideia abstrata para Rousseau, portanto, assim se faz por concreto a concepção de complemento de ideias de um contratualista para com o outro.

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