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Rayssa Oliveira Santos – P2 – Medicina – Unit/SE O ritmo circadiano é definido pela ocorrência num período de vinte e quatro horas, de acordo com o tempo de rotação da Terra em torno do seu próprio eixo, por exemplo, a concentração de cortisol sérico apresenta pico nas primeiras horas da manhã e cai ao longo do dia. Nos mamíferos, os ritmos biológicos estão relacionados a um sistema de temporização localizado no sistema nervoso central, o núcleo supraquiasmático (SCN). Este sistema é um conjunto de aproximadamente 20.000 neurónios do hipotálamo responsáveis pela organização temporal de várias funções que vão desde o sono, ingestão alimentar, temperatura corporal, frequência cardíaca e produção hormonal. Noutras espécies a glândula pineal ou epífise, através da secreção de melatonina, é outro grande temporizador. Contudo é sabido que embora o SCN regule a maioria dos ritmos circadianos nos mamíferos, direta ou indiretamente, muitos órgãos/tecidos do corpo podem gerar ritmos circadianos independentemente ou não do SCN. Estes osciladores circadianos periféricos são encontrados em células extra SCN, como sangue, tecido adiposo, fígado, coração e outras regiões do sistema nervoso central. As principais características dos ritmos circadianos são: 1. Universalidade – podem ser observados em todas as classes eucarióticas incluindo organismo unicelulares. 2. Descendência – São geneticamente determinados 3. Influência externa – Os marcadores externos como ciclo claro/escuro, temperatura, disponibilidade de alimento são capazes de arrastar os ritmos circadianos A ritmicidade circadiana é mantida por mecanismos de temporização que, consistem em um conjunto de processos fisiológicos, produzidos por estruturas e sistemas diferentes de maneira integrada. Essas estruturas incluem algumas regiões do cérebro, em insetos; os olhos, em alguns invertebrados e vertebrados; e a glândula pineal. Em mamíferos, os ritmos circadianos são controlados por um relógio central, os Núcleos Supraquiasmáticos, que estão localizados no hipotálamo, este relógio recebe sinais do ambiente por fotorrecepção pela retina e transmite essas informações por vias eferentes neurais e humorais. O SCN envia sinais para os osciladores periféricos para prevenir o amortecimento dos ritmos circadianos nestes tecidos, esta tarefa é realizada através de conexões neuronais ou fatores humorais e reciprocamente a ritmicidade do SCN pode ser alterada por inputs neuroendócrinos, contudo estes mecanismos ainda não estão totalmente esclarecidos.b A luz é o zeitgeber ou sincronizador direto mais potente do SCN. A luz incide na retina e este sinal é transmitido através do trato retinohipotalámico para o SCN, influenciando vários fatores neurohumorais. Esta via visual é necessária e suficiente para sincronizar o SCN para o ciclo ambiental dia/noite. Após ter recebido informações fóticas, o SCN envia projeções para o hipotálamo dorsomedial e posteriormente transmite as informações para os osciladores periféricos. O hipotálamo dorsomedial como centro transmissor tem a função de enviar projeções para áreas envolvidas na regulação dos sistemas neuroendócrinos (núcleo paraventricular), termorregulação (área medial pré-óptica) e ciclo do sono (hipotálamo lateral, núcleo pré- óptico ventromedial). O hipotálamo dorsomedial pode estar envolvido na integração de sinais fóticos com outros sinais, incluindo sinais de ingestão alimentar. Na ausência da luz os ritmos podem ser modulados por horários regulares de ingestão alimentar que ajudam a ajustar os ritmos circadianos. Esta relação direta entre a regulação do sistema Circadiano Rayssa Oliveira Santos – P2 – Medicina – Unit/SE circadiano e a alimentação é suportada pelo facto de alterações no sistema circadiano levarem a alterações no metabolismo e regulação do peso corporal. Esta situação acontece no trabalho por turnos, em que há uma associação deste tipo de horário de trabalho a doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e outros distúrbios metabólicos. Várias hormonas envolvidas no metabolismo, como insulina, (68) glicagina, adiponectinas, (corticosterona, leptina e grelina, exibem um padrão de oscilação circadiano. A leptina é uma hormona de saciedade produzida pelo tecido adiposo num padrão circadiano independente do horário das refeições. Em estudos experimentais, a extração do SCN elimina a ritmicidade circadiana da leptina em roedores, sugerindo que o relógio circadiano central regula a expressão de leptina. O aumento matinal de concentrações de adrenocorticotropina e cortisol parecem ser primeiramente induzidos por osciladores circadianos, (4) contudo outros fatores estão também interligados, por exemplo o referido aumento matinal é sensível a fatores cognitivos como a antecipação pelo acordar, sugerindo uma preparação do organismo para o próximo período de vigília associado ao aumento das necessidades energéticas. O HPA e os seus mecanismos intrínsecos de feedback negativo. A CRH é produzida em neurónios parvocelulares do PVN do hipotálamo, que enviam projeções para o sistema porta- hipofisário. A CRH irá estimular a produção de ACTH na hipófise anterior, que por sua vez irá promover a produção e libertação de cortisol no córtex da SR. A ACTH possui também um efeito de feedback negativo sobre a produção de CRH. O cortisol irá por sua vez exercer feedback negativo sobre a produção de CRH e ACTH . A duração do período noturno é determinada por um sinal humoral, a melatonina, hormônio peptídico sintetizado pela epífise, que pode ser a base referencial tanto de ritmos circadianos como sazonais. A melatonina desempenha um papel central na sintonia do sistema circadiano mas muitas outras funções são conhecidas, particularmente o seu papel crucial desempenhado na vasta variedade das funções metabólicas como antioxidante, oncostático, anti-idade e imunomodelador. A diminuição da duração do sono pode desempenhar um papel significativo na etiologia das doenças associadas com a síndrome metabólico, como a obesidade, diabetes e hipertensão. A privação do sono diminui a tolerância a glicose e compromete a sensibilidade a insulina. Indivíduos normais sujeitos a restrição do sono evidenciaram hiperglicemia característica da resistência à insulina e estado metabólico pré-diabético. As diferenças individuais no cronotipo – preferencias pela hora do dia – são um aspecto notável sobre o comportamento dos indivíduos. Estas diferenças são em parte hereditárias, mas fatores sociais, culturais e ambientais podem modular o cronotipo. L E P T I N A A C T H E C O R T I S O L M E L A T O N I N A Indivíduos que trabalham por turno são um exemplo onde a normal sincronização entre o ciclo sono-vigília e alimentação estão alterados. Vários estudos têm associado esta classe de trabalhadores a doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e outros distúrbios metabólicos, apontando possíveis razões biológicas e comportamentais para os referidos problemas de saúde. Rayssa Oliveira Santos – P2 – Medicina – Unit/SE Adicionalmente a exposição prolongada a curtos períodos de sono podem contribuir para o desenvolvimento e manutenção da hipertensão e complicações cardíacas e vasculares. Estudos experimentais em humanos mostraram que a privação do sono aumenta a pressão sanguínea e a atividade do sistema nervoso simpático. Estudos sobre a atenção também comprovam os efeitos negativos que a perda de sono pode trazer sobre o funcionamento cognitivo (Lim e Dinges, 2008; Ratcliff e Van Dongen, 2009). Partindo da ideia de que a privação de sono compromete o desempenho cognitivo em algumas tarefas envolvidas com a região frontoparietal, Bocca e Denise (2008) avaliaram os efeitos da privação de sono total na atenção visuoespacial,que se refere à focalização e retirada da atenção em alvos visuais localizados no espaço. Há evidências de que a privação de sono pode afetar também o estado de vigilância, de alerta e as funções executivas. Estágios do sono Quando dormimos, geralmente passamos por cinco fases distintas do sono: estágios 1, 2, 3, 4 e REM (rapid eye movement). Estes estágios progridem num ciclo, do estágio 1 ao sono REM, e, então, o ciclo se inicia novamente com o estágio 1. Gastamos, em média, 50% do nosso tempo total de sono no estágio 2, cerca de 20% em sono REM e 30% nos demais estágios. ✓ Estágio 1 - é superficial e fugaz, mergulhamos no sono, voltamos à vigília e podemos ser despertados com facilidade. Quando despertamos a partir deste estágio, freqüentemente, é possível ter lembranças fragmentadas de eventos ambientais ocorridos no período. ✓ Estágio 2 - nossos movimentos oculares param, e nossas ondas cerebrais tornam-se mais lentas. ✓ Estágio 3 - começam a aparecer ondas extremamente lentas (0,3 a 2Hz), as chamadas ondas delta, intercaladas por ondas menores e mais rápidas. ✓ Estágio 4 - as ondas são quase que exclusivamente de frequência delta. É muito difícil acordar alguém durante os estágios 3 e 4, que juntos são chamados de estágio delta ou de sono profundo. Neste estágio, não há movimento ocular ou atividade muscular. ✓ Estágio REM - Quando passamos para o sono REM, nossa respiração se torna mais rápida, irregular e superficial. A frequência cardíaca e a pressão arterial tornam-se variáveis. Ocorre atonia muscular, que atinge toda a musculatura corporal, exceto o diafragma e os músculos oculomotores. Os olhos movimentam-se em várias direções, em surtos rápidos, a intervalos regulares e, em homens, ocorre ereção peniana. Um ciclo completo de sono dura entre 90 e 110 minutos. Os primeiros ciclos de sono a cada noite contêm períodos relativamente curtos de sono REM e períodos longos de sono profundo. À medida que a noite passa, os períodos de sono REM aumentam enquanto os de sono profundo diminuem. Por Stress entende-se todo o processo ou série de processos que provoquem uma alteração da homeostasia, sendo necessária uma resposta adaptativa do organismo de forma a recuperar a mesma. Os agentes que induzem stress podem ser emocionais/psicológicos ou fisiológicos. Como exemplos de stress emocional ou psicológico temos: problemas interpessoais, término de uma relação, luto e desemprego e como exemplos de stress fisiológico temos: fome, insónia, hipo e hipertermia, efeitos do uso de drogas psicoativas e sua privação e ainda doenças crónicas e intervenções cirúrgicas. Estas alterações são sentidas em diversos órgãos e sistemas, nomeadamente: o sistema cardiovascular, com consequências como a hipertensão arterial (HTA), alterações do ritmo cardíaco e Rayssa Oliveira Santos – P2 – Medicina – Unit/SE enfarte agudo do miocárdio, o sistema músculo-esquelético, com cefaleias de tensão e lombalgias, o sistema pulmonar com asma, o sistema imunitário com imunodeficiências, o sistema gastrointestinal com úlceras pépticas, colite ulcerosa e síndrome do intestino irritável, o sistema génito-urinário com disfunções na diurese, disfunção eréctil e impotência ou frigidez, o sistema endócrino, com amenorreia, fadiga, letargia e Diabetes Mellitus, o sistema nervoso central (SNC), com alterações do apetite, insónia, depressão, ansiedade, convulsões, amnésia, falta de concentração, fadiga e letargia e a pele, com diversos sinais de atopia, como eczema, alergias, seborreia do couro cabeludo e também acne. O estresse psíquico ou emocional resulta de acontecimentos que afetam o indivíduo psíquica ou emocionalmente, ou seja, mudança de moradia ou de emprego, casamento, divórcio, viuvez etc. Sem dúvida, durante o estado de estresse emocional, a atividade cerebral, principalmente no sistema límbico, aumenta consideravelmente em relação aos períodos rotineiros. Além da atividade neural ordinária, há o acréscimo relativo à adaptação, que é dependente dos processos de memória e aprendizagem. Tal ativação envolve a criação de “registros novos” e a remodelagem de antigos, a partir das informações que alcançam às áreas sensoriais. A termorregulação, definida sucintamente como o conjunto de estratégias utilizadas pelos seres vivos para regulação da temperatura corpórea, apresenta-se como um mecanismo fundamental para a adaptação e manutenção de espécies animais em diferentes habitats. Diante de estímulos que provoquem desequilíbrio nesse sistema, o organismo recorrerá aos métodos de feedback negativo ativados pela interação neuroendócrina a fim de evitar os transtornos causados por um possível desajuste na homeostasia do organismo animal. A termorregulação é regulada por dois sistemas que atuam em conjunto, o sistema endócrino e o sistema nervoso. Ambos enviam mensagens por meio de fibras sensitivas ou aferentes ao centro regulador - o hipotálamo - que processa as informações e envia respostas através de fibras eferentes e neurônios de associação até aos órgãos efetores, que produzem os efeitos necessários à regulação da homeostase . No hipotálamo situa-se o sistema de controle central, que regula a temperatura do corpo ao integrar os impulsos térmicos provenientes de quase todos os tecidos do organismo, e não apenas em relação à temperatura central do organismo, o que tem sido considerado como temperatura corporal média. Quando o impulso integrado excede ou fica abaixo da faixa limiar de temperatura, ocorrem respostas termorreguladoras autonômicas, que mantêm a temperatura do corpo em valor adequado. No hipotálamo anterior é feita a integração das informações aferentes térmicas, enquanto no hipotálamo posterior iniciam-se as respostas efetoras. Na área préóptica do hipotálamo existem neurônios sensíveis e não sensíveis à temperatura, sendo que os primeiros podem ser classificados em neurônios sensíveis ao calor e neurônios sensíveis ao frio, estes últimos predominantes. Ressalte-se ainda a presença de neurônios sensíveis à estimulação térmica local no hipotálamo posterior, na formação reticular e na região medular. Os glicocorticoides são as moléculas responsáveis por regular a intensidade da resposta ao estresse, sendo o cortisol o hormônio primário responsável por restaurar a homeostase, sendo liberado após exposição a situações estressantes.
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