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2 AGRADECIMENTOS Ao prof. Licurgo Brito pelo incentivo na elaboração desta segunda edição. Aos meus alunos do curso de redação. Através da convivência com eles percebi a necessidade de melhorar a primeira edição deste livro. Espero ter conseguido. 3 DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO LEITOR Artigo primeiro e único: “Todo leitor tem direito a um texto claro, interessante, organizado de modo lógico e agradável de ser lido, independentemente de seu idioma natal, raça, posição social, convicções políticas ou crenças religiosas”. Cliente_W10 Realce 4 NOTA DO AUTOR As citações que não constam da lista de referências foram usadas apenas como ilustrações nos diversos exemplos de texto e não correspondem necessariamente a uma obra real. 5 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO DEDICATÓRIA AGRADECIMENTOS DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO LEITOR 1 INTRODUÇÃO 2 UMA VISÃO GERAL 2.1 OS ALICERCES DO TEXTO INTELIGÍVEL 2.1.1 A clareza 2.1.1.1 A fuga da união por vírgula. 2.1.1.2 O Efeito “Conto de Fadas” 2.1.1.3 O paralelismo 2.1.1.4 O tempo verbal: presente ou passado? 2.1.2 A organização 2.2 A CONSTRUÇÃO DO TEXTO INTELIGÍVEL 2.3 OS OITO PASSOS MAIS IMPORTANTES 3 O PARÁGRAFO 3.1 AS CINCO LEIS BÁSICAS 3.1.1 Lei do foco 6 3.1.2 Lei da unidade 3.1.3 Lei da coerência 3.1.4 Lei da continuidade 3.1.5 Lei do desenvolvimento 3.2 OS TRÊS TIPOS FUNDAMENTAIS DE PARÁGRAFO 3.2.1 Parágrafo de discussão 3.2.1.1 A sentença-tópico: caracterização 3.2.1.2 O que uma sentença-tópico deve ser 3.2.1.3 O que uma sentença-tópico não deve conter 3.2.1.4 Sentenças de suporte primário e suporte secundário 3.2.2 Parágrafo introdutório 3.2.2.1 Tipos de sentença de abertura 3.2.2.2 A sentença-tese 3.2.2.3 Sentenças intermediárias 3.2.3 Parágrafo de conclusões 3.2.4 Exemplo de uma composição 3.3 AS PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS 3.3.1 A estratégia de definição 3.3.1.1 A sentença-tópico 7 3.3.1.2 Os exemplos 3.3.1.3 As palavras de transição 3.3.2 A estratégia de descrição 3.3.3 A estratégia de prescrição 3.3.4 A estratégia de comparação-contraste 3.3.4.1 O padrão meio a meio 2.3.4.2 O padrão característica 3.3.4.3 As palavras de transição 3.3.5 A estratégia causa-e-efeito 3.3.5.1 A técnica causa para efeito 3.3.5.2 A técnica efeito para causa 3.3.5.3 As palavras de transição 4 O CAPÍTULO 4.1 O CAPÍTULO INTRODUTÓRIO 4.1.1 O parágrafo de abertura 4.1.2 Os parágrafos de revisão 4.1.3 O(s) parágrafo(s) de apresentação 4.2 OS CAPÍTULOS DE DISCUSSÃO 4.2.1 O capítulo de metodologia 8 4.2.1.1 A estratégia de definição 4.2.1.2 A estratégia de prescrição 4.2.2 O capítulo de testes controlados 4.2.2.1 A estratégia de descrição 4.2.2.2 A estratégia de comparação-contraste 4.2.2.3 A estratégia de causa-e-efeito 4.2.3 O capítulo de interpretação de dados reais 4.2.3.1 A estratégia de descrição 4.2.3.2 A estratégia de prescrição 4.2.3.3 A estratégia de causa-e-efeito 4.3 O CAPÍTULO DE CONCLUSÕES 4.3.1 O parágrafo de reafirmação da apresentação 4.3.2 O(s) parágrafo(s) de sumário 4.3.3 Os parágrafos de generalização 5 O RESUMO 6 CONCLUSÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 9 EXERCÍCIOS Exercícios sobre a sentença-tópico: Fragmentos de texto Exercícios sobre a sentença-tópico: Clareza Exercícios sobre a sentença-tópico: Especificidade Exercícios sobre a sentença-tópico: Substitutos vulgares Exercícios sobre a sentença-tópico: Substitutos desgastados Exercícios sobre a sentença-tópico: Substitutos fracos Exercícios sobre a sentença-tópico: Verbosidade Exercícios sobre a sentença-tópico: Múltiplos significados Exercícios sobre a sentença-tese I Exercícios sobre a sentença-tese II 10 1 INTRODUÇÃO Qualquer sistema, do mais simples ao mais complexo, está sujeito a leis e regras. Leis são necessárias para manter a ordem e a harmonia de um sistema, caso contrário ele se tornará aleatório, imprevisível, difícil de entender. Evidentemente para bem desempenhar o seu papel, uma lei deve ser eficaz. Ela não pode ser absolutamente inócua como aquela vigente em Vermont, Estados Unidos que estabelece a ilegalidade de se assobiar debaixo d’água. Não pode ser tampouco truculenta, como a lei indonésia que pune com a decapitação aquele que se masturba. As leis da Natureza, como a lei da gravitação universal de Newton, são exemplos de economia e eficiência. Apenas algumas dezenas ou centenas delas conseguem manter virtualmente todo o universo funcionando. Toda lei é feita para atuar em algum elemento. A lei de Newton atua em qualquer partícula do universo que contenha massa. Os artigos do código penal atuam em indivíduos de uma sociedade. Uma língua também contém leis que atuam em diversos elementos. Por exemplo, a Ortografia é um conjunto de leis que atuam nas letras. Não é qualquer combinação de letras que forma um vocábulo. A Sintaxe, por sua vez é um conjunto de leis que regulamentam tanto a disposição das palavras na frase como a disposição das frases no discurso. Estas leis são rígidas e o não cumprimento delas implica erro gramatical. Neste livro estudaremos regras que, à semelhança da Sintaxe, atuam sobre sentenças para formar parágrafos. Além disso, trataremos das leis que agem na disposição dos parágrafos para formar um capítulo e na dos capítulos para formar uma Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 11 dissertação. Estas leis não são tão rígidas como as leis gramaticais. O seu descumprimento implica apenas o perigo de o texto tornar-se menos claro. Na próxima seção apresentaremos uma visão geral sobre a estruturação de um texto claro e organizado. Nas seções seguintes analisaremos em detalhes as estruturas do parágrafo e do capítulo. A seção final será reservada a recomendações para a redação do resumo. Em adição a estas seções apresentamos em seções anexas, ao final do livro, exercícios resolvidos e propostos. Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 12 2 UMA VISÃO GERAL 2.1 OS ALICERCES DO TEXTO INTELIGÍVEL A capacidade de escrever bem é um dom restrito a uns poucos privilegiados? A facilidade de escrever bons textos pode, sem dúvida, ser devida a um dom trazido do berço. Machado de Assis, por exemplo, mesmo não tendo tido acesso a cursos regulares, publicou, aos 15 anos, seu primeiro trabalho literário. No entanto, qualquer estudante pode aprimorar a prática na redação de textos que transmitam ao leitor informação de forma fluida e agradável através de duas ferramentas fundamentais: a clareza e a organização. 2.1.1 A clareza São diversas as recomendações existentes para tornar uma sentença mais clara. Muitas delas serão estudadas ao longo deste livro. Descreveremos nas próximas seções quatro preceitos fundamentais que são pouco conhecidos e pouco usados pela maioria dos estudantes, pelo menos de forma consciente. 2.1.1.1 A fuga da união por vírgula A união por vírgula consiste em unir duas orações principais através de uma vírgula ao invés de uni-las através de uma conjunção. Alternativamente, as orações principais podem ser separadas por um ponto ou por ponto e vírgula. Este mau hábito, bastante comum até mesmo em escritores profissionais, deve ser ferrenhamente combatido por ser um potencial gerador de textos obscuros. Considere o exemplo “Em 1937, num jornal local, começa a publicar em folhetins A Solidão, sua primeira peça teatral, encenada no Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 13 Teatro Dom Pedro II em junho de 1939, foi escrita especialmente para a comemoração do bicentenário da cidade”. A confusãoexistente nesta sentença só é percebida pelo leitor bem perto do seu término porque a união das duas orações principais por uma vírgula, fortuitamente permitiu uma continuidade, não só gramatical, mas também contextual. A sentença, corretamente pontuada seria “Em 1937, num jornal local, começa a publicar em folhetins A Solidão. Sua primeira peça teatral, encenada no Teatro Dom Pedro II em junho de 1939, foi escrita especialmente para a comemoração do bicentenário da cidade”. Assim, a união por vírgula, associada a uma fortuita continuidade contextual pode produzir textos muito difíceis de serem lidos, obrigando o leitor a retornar ao início da sentença para tentar desvendar a verdadeira mensagem que o autor desejaria transmitir. 2.1.1.2 O Efeito “Conto de Fadas” Como segundo exemplo de técnicas voltadas ao aprimoramento da clareza mencionamos o “Efeito conto de fadas”, desenvolvido por Williams (2000). Leia as duas sentenças abaixo e escolha a que você acha mais clara. 1) “Uma vez, quando um passeio através da floresta estava sendo dado por parte de Chapeuzinho Vermelho, o surgimento do Lobo Mau ocorreu, causando susto em Chapeuzinho Vermelho.” 2) “Uma vez, Chapeuzinho Vermelho estava passeando na floresta quando o Lobo Mau surgiu e a assustou.” Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 14 É quase certo que você tenha preferido a sentença 2. Por quê? Desde a nossa infância, nos acostumamos a escutar narrativas simples em que o sujeito gramatical de uma oração coincide com o personagem da história e os verbos da oração coincidem com as ações da história. Veja abaixo como na sentença 1 os sujeitos gramaticais (em negrito) não coincidem com os personagens (sublinhados) ao passo que na sentença 2 eles coincidem (ambos em itálico). 1) “Uma vez, quando um passeio através da floresta estava sendo dado por parte de Chapeuzinho Vermelho, o surgimento do Lobo Mau ocorreu, causando susto no Chapeuzinho Vermelho.” 2) “Uma vez, Chapeuzinho Vermelho estava passeando na floresta quando o Lobo Mau surgiu e a assustou.” Além disso, observe abaixo como na sentença 1 as ações (negrito) não coincidem com os verbos (sublinhado) ao passo que na sentença 2 ações e verbos coincidem (ambos em itálico). 1) “Uma vez, quando um passeio através da floresta estava sendo dado por parte de Chapeuzinho Vermelho, o surgimento do Lobo Mau ocorreu, causando susto no Chapeuzinho Vermelho.” 2) “Uma vez, Chapeuzinho Vermelho estava passeando na floresta quando o Lobo Mau surgiu e a assustou.” Numa oração, a presença de ações sob a forma de substantivos (passeio, surgimento) e de verbos vazios que não expressam nenhuma idéia (sendo dado, ocorreu) são Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 15 diagnósticos de fuga da estrutura “conto de fadas”, indicando que a sentença está ficando perigosamente obscura. Observe nas sentenças 3 e 4 abaixo como, num exemplo mais complexo, o “efeito conto de fadas” melhora substancialmente a clareza da sentença. 3) “A despeito do seu conhecimento sobre a necessidade, por parte das cidades, de mais verba, seu veto sobre um orçamento maior para a educação almejava produzir pressão nos prefeitos por um aumento nos impostos municipais. (Sem o efeito conto de fadas)” 4) “Embora o governador soubesse que as cidades precisavam de mais verbas para educação, ele vetou um aumento no orçamento para encorajar os prefeitos a aumentar os impostos municipais. (Com o efeito conto de fadas)” 2.1.1.3 O paralelismo O paralelismo pode ser melhor entendido através da analogia com a propriedade distributiva da soma, que garante a igualdade 3a+3b+3c = 3(a+b+c). A colocação do número 3 em evidência no termo da direita da equação acima a torna mais simples e menos cansativa. A mesma estrutura aparece na construção de sentenças. Considere o exemplo “A poluição está aumentando nos rios, está aumentando nos lagos e está aumentando nos mares.” Note como o texto fica pesado e cansativo de ser lido devido à repetição da locução “está aumentando nos”, que pode ser colocada em evidência: “A poluição está aumentando nos rios, lagos e mares.” Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 16 Observe que, se a sentença fosse ligeiramente diferente, “A poluição está aumentando nos rios, está aumentando nos lagos e está aumentando nas florestas.”, não seria possível colocar a locução “está aumentando nos” em evidência porque “florestas” é substantivo feminino. Assim, teríamos que evidenciar apenas “está aumentando”, produzindo: “A poluição está aumentando nos rios, nos lagos e nas florestas.”. Este ganho em concisão pode, no entanto, ameaçar a clareza da sentença se esta se tornar mais longa e o autor for descuidado. Veja o exemplo abaixo. “A poluição está aumentando em Belo Horizonte e São Paulo ameaça a qualidade de vida em Porto Alegre e Curitiba já está atingindo cidades serranas como Petrópolis e Teresópolis”. A confusão nesta sentença foi causada pelo desrespeito a uma regra fundamental chamada paralelismo, que deve ser observada ao se colocarem locuções “em evidência”. A sentença acima, usando o paralelismo e a pontuação correta seria: “A poluição está aumentando em Belo Horizonte e São Paulo, ameaçando a qualidade de vida em Porto Alegre e Curitiba e atingindo cidades serranas como Petrópolis e Teresópolis”. Observe que o paralelismo exige que os primeiros vocábulos de cada segmento de sentença que foi agrupado (vocábulos em negrito na sentença acima que doravante serão Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 17 chamados “marcadores”) devem pertencer à mesma classe gramatical. Se forem verbos, o mesmo tempo verbal deve ser usado. Os marcadores, quando corretamente empregados, ajudam a tornar a sentença mais clara porque indicam que está começando um novo segmento de sentença com uma nova idéia. Na sentença mal-construída dois dos marcadores são verbos (em tempos diferentes) e um é advérbio (mostrados em negrito na sentença abaixo). “A poluição está aumentando em Belo Horizonte e São Paulo ameaça a qualidade de vida em Porto Alegre e Curitiba já está atingindo cidades serranas como Petrópolis e Teresópolis”. A falta de paralelismo é um erro comum em sentenças grandes porque induz o autor a se esquecer que cada sentença introduzida não é independente do termo que foi posto em evidência. Para testar se o paralelismo está correto, basta aplicar a propriedade distributiva, re-introduzindo a locução que foi posta em evidência. No primeiro caso a sentença fará sentido. “A poluição está aumentando em Belo Horizonte e São Paulo, está ameaçando a qualidade de vida em Porto Alegre e Curitiba e está atingindo cidades serranas como Petrópolis e Teresópolis.”, mas não fará qualquer sentido no segundo caso: “A poluição está aumentando em Belo Horizonte e São Paulo, está ameaça a qualidade de vida em Porto Alegre e Curitiba e está já está atingindo cidades serranas como Petrópolis e Teresópolis”. A não observância do paralelismo pode ser catastrófica, como no exemplo abaixo. Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 18 “Preciso de um empregado para ordenhar vacas e preciso de cozinheiras.” Ao colocar “Preciso” em evidência a sentença correta seria “Preciso de um empregado para ordenhar vacas e de cozinheiras.” Note que os primeiros vocábulos dos segmentos de sentença que foram agrupados pertencem à mesma classe gramatical (a preposição “de”). Uma falha ao esquecer essa preposição muda completamente o sentido: “Preciso de um empregado para ordenhar vacas e cozinheiras.” 2.1.1.4 O tempo verbal: presente ou passado? Os tempos verbais devem ser uniformizados? Qual o tempo mais apropriado? São comuns dúvidas deste tipo na hora de redigir uma dissertação. Ostempos verbais certamente não devem ser uniformizados porque eles não carregam apenas conotação cronológica. O presente do indicativo é empregado também para expressar ações válidas a qualquer tempo, como: “A luz se propaga a uma velocidade de trezentos mil quilômetros por segundo.” Cliente_W10 Realce 19 Por sua vez, o pretérito perfeito do indicativo, ao denotar uma ação já finalizada é associado a experimentos realizados, medições, observações, como: “O veículo se deslocou a uma velocidade média de sessenta quilômetros por hora entre os pontos A e B.” Assim, na descrição de procedimentos bem estabelecidos ou de leis bem conhecidas usa-se o presente do indicativo. Exemplo: “Existem três meios de se extraírem células-tronco adultas. A mais eficaz é a punção com agulha do sangue de cordão umbilical, após o nascimento da criança. É um procedimento indolor e que não oferece nenhum tipo de risco para a mãe ou para o recém nascido.” Por outro lado os relatos de experimentos, realizados pelo autor, devem ser expressos no pretérito perfeito do indicativo ou na forma passiva “ser + particípio”, dependendo se o autor quer que sua própria presença nos experimentos seja notada ou não. Exemplo: a presença do autor é explícita na descrição do experimento. “Após o ato anestésico, posicionei a paciente em posição de litotomia e visualizei o colo através de um espéculo. Injetei 2 ml do corante no colo uterino utilizando uma agulha de raquianestesia. Apliquei a injeção às 3, 6, 9 e 12 horas na mucosa e estroma próximo ao tumor. Evitei a injeção do corante dentro do tumor sempre que possível para diminuir o extravasamento do corante.” Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 20 Exemplo: a presença do autor não é explícita na descrição do experimento. “Após o ato anestésico, a paciente foi posicionada em posição de litotomia e o colo foi visualizado através de um espéculo. Foi injetado 2 ml do corante no colo uterino utilizando-se uma agulha de raquianestesia. A injeção foi aplicada às 3, 6, 9 e 12 horas na mucosa e estroma próximo ao tumor. A injeção do corante dentro do tumor foi evitada sempre que possível para diminuir o extravasamento do corante.” 2.1.2 A organização Mostramos acima que a clareza é fundamental para que a mensagem do autor seja captada corretamente. O leitor, entretanto deseja mais do que simplesmente entender a mensagem. Ele quer que a mensagem, corretamente recebida através da leitura, seja registrada na sua memória semântica (aquela que arquiva os conhecimentos gerais) para ser resgatada em momento oportuno. As informações recebidas pelo cérebro são classificadas e armazenadas em uma “vizinhança” onde informações correlatas já estão armazenadas. Assim, o cérebro funciona em módulos cooperativos, que se ajudam na hora de recuperar informações. Quanto mais caminhos levarem a elas, mais fácil será o "resgate". Se, por exemplo, um conceito estiver conectado simultaneamente a uma imagem e a um som, pelo menos três áreas diferentes do cérebro trabalharão para recuperá-lo. Existem diversas fórmulas mnemônicas como a associação de números a cores, música a frases complexas. A organização da mensagem transmitida ao leitor é de extrema importância, porque ela ajuda o cérebro a classificar e a armazenar a informação, facilitando assim o seu futuro resgate. Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 21 Para ilustrar a importância da organização na recuperação da informação pelo cérebro, leia as duas seqüências de letras e números abaixo apenas uma vez. Depois disso, feche o livro e tente reproduzir ambas as seqüências de memória. R 7 T 1 P 4 Q 3 V 2 U 6 S 5 P 1 Q 2 R 3 S 4 T 5 U 6 V 7 Muito provavelmente você conseguiu reproduzir a segunda seqüência, mas não a primeira. A organização imposta à segunda seqüência permitiu o armazenamento da informação numa vizinhança do cérebro onde informações anteriores sobre ordenamentos crescente e decrescente de números e letras já estavam armazenadas. No caso da primeira seqüência, o cérebro apresenta dificuldade em descobrir uma vizinhança contendo informação correlata, dificultando, desse modo, a recuperação da informação. Note que ambas as seqüências são formadas pelo mesmo grupo de letras e números. Como exemplo adicional da importância da organização, estude atentamente a figura abaixo por 20 segundos. Depois, feche o livro e tente lembrar da forma e da cor de cada objeto, bem como da sua posição no plano da figura. 22 Agora repita o procedimento para a figura abaixo Muito provavelmente você conseguiu reproduzir as posições dos objetos no caso da segunda figura, mas não no caso da primeira. Isto se deve ao fato da organização dos objetos por grupo ter permitido você armazenar a informação demandada numa vizinhança do cérebro onde estava previamente armazenada informação sobre ordenamento linear de objetos idênticos. Conseqüentemente, foi preciso apenas que você identificasse cada categoria e contasse o número de objetos em cada uma. No caso da primeira figura, além da quantidade de objetos de cada tipo, foi preciso armazenar a posição de cada objeto. Como o padrão da distribuição de objetos no caso da primeira figura é aleatório, o cérebro não encontrou uma vizinhança com informação correlata previamente armazenada, tornando a tarefa praticamente impossível. Ao longo deste livro serão estudadas diversas técnicas de organização de texto. Na próxima seção será mostrada, de modo sintético, a construção passo a passo de uma composição clara e organizada. Nos capítulos subseqüentes estas técnicas serão analisadas em detalhe. Cliente_W10 Realce 23 2.2 A CONSTRUÇÃO DO TEXTO INTELIGÍVEL Antes de começar a escrever, o autor deve definir o público-alvo e estruturar a obra. A definição do público-alvo determina essencialmente o vocabulário a ser empregado. Ela permite que o autor não se sinta na obrigação de explicar ou definir jargões ou termos técnicos que são correntemente empregados por um determinado grupo de pessoas. A definição do público-alvo deixará claro para o autor que não se pode escrever para todas as pessoas e agradá-las ao mesmo tempo. Um texto sobre gravitação dirigido a alunos do primeiro grau será enfadonho e desinteressante para estudantes de pós- graduação em física e vice-versa, mas o público-alvo eleito, em qualquer dos casos (os alunos do primeiro grau ou os estudantes de pós-graduação em física), certamente ficará satisfeito. Um texto que se proponha a atingir desde estudantes de primeiro grau até alunos de pós-graduação provavelmente não satisfará nenhum dos dois grupos. A estruturação de uma composição deve ser feita do seguinte modo. Primeiramente estabelece-se o assunto a ser desenvolvido, que contém a idéia ou tese que se deseja defender perante o leitor. A seguir, definem-se os suportes que irão servir de subsídio para a demonstração da tese. Por exemplo, imagine que você quer convencer o leitor sobre a enorme dependência do homem moderno em relação ao automóvel. Esta é a tese. Para dar suporte a ela, selecionamos algumas evidências, ou causas para essa suposta dependência exagerada do homem em relação ao automóvel. Uma vez definida a tese e o suporte, podemos construir a mais importante sentença isolada de uma composição: a sentença-tese. Esta sentença é importante porque ela ao mesmo tempo estrutura e organiza a composição. Por exemplo, considere a sentença-tese: “O homem moderno está cada vez mais dependente do automóvel porque este lhe proporciona conforto e status social”. Esta sentença não está Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 24 só estruturando a composição,ou seja, estabelecendo a tese e o suporte. Ela está também organizando a composição, ou seja, indicando que, primeiramente será reservado um parágrafo para mostrar ao leitor como o conforto influencia na dependência em relação ao automóvel, e depois um parágrafo sobre a influência do status social. De posse da sentença-tese podemos construir o parágrafo de abertura que consiste de três partes: a sentença de abertura, as sentenças intermediárias e a sentença-tese. Estas sentenças articulam-se do seguinte modo. INTERMEDIÁRIAS TESE ABERTURA A sentença de abertura é uma sentença com conotação ampla, ao passo que a sentença-tese é específica. As sentenças intermediárias têm o papel de produzir uma transição suave entre estas duas sentenças. A sentença de abertura é uma sentença que tem a finalidade de atrair a atenção do leitor. Existem para isso quatro estratégias envolvendo: a) humor; b) drama; c) citação; d) polêmica. Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 25 Exemplos: a) “Carro é como marido: ruim com ele, pior sem ele!”; b)“A poluição causada pelos automóveis está começando a comprometer a estabilidade climática do planeta”; c) “Aquilo que guia e arrasta o mundo não são as máquinas, mas as idéias.”; d) “Devemos alimentar o sonho do carro próprio, ou investir na produção de melhores veículos coletivos?”. Suponha que escolhemos a opção (a). As sentenças intermediárias deverão fazer uma transição suave entre as já definidas: sentença de abertura e sentença-tese, como ilustrado abaixo. “Carro é como marido: ruim com ele, pior sem ele!”. Este foi o desabafo de dona Teresa ao receber a conta do mecânico. O duplo protesto de dona Teresa reflete um sentimento cada vez mais comum entre a classe média brasileira: a crescente dependência física e psicológica do homem em relação ao automóvel. O dependente compulsivo desta droga mecânica executa ações tresloucadas, gastando mais com um eventual conserto do carro do que com alimentos para a família. Um viciado em estágio avançado que for temporariamente privado deste entorpecente ficará confinado em casa incapaz de encarar o mundo sem a sua armadura mecânica. O homem moderno está cada vez mais dependente do automóvel por que este lhe proporciona conforto e status social.” Neste ponto estamos preparados para começar o corpo da composição, isto é, os parágrafos de discussão. Como foi visto acima teremos dois parágrafos, de acordo com a estruturação dada pela sentença-tese: um sobre o conforto e o outro sobre o Cliente_W10 Realce 26 status social que o automóvel proporciona ao seu dono. Vejamos agora a estrutura de um parágrafo de discussão. Ele é composto por três tipos de sentenças: a) a sentença-tópico; b) as sentenças de suporte primário; e c) as sentenças de suporte secundário. Estas sentenças articulam-se no parágrafo de discussão do seguinte modo. SENTENÇA-TÓP SUPORTE PRIM SUPORTE SECUND ICO ÁRIO ÁRIO Uma sentença-tópico é uma sentença que funciona como o rótulo do parágrafo. Ela estabelece e limita o assunto do parágrafo a um grau de detalhe que possa ser escrito em poucas linhas. Para tanto, ela tem que ser específica. Sentenças-tópico genéricas levam o autor a divagar, fugir do assunto e a introduzir mais de uma idéia no parágrafo (cada parágrafo deve ter apenas uma única idéia). Assim, uma possível sentença-tópico para nossa composição seria: “Um automóvel moderno proporciona alto grau de conforto aos passageiros”. Observe como essa sentença é suficientemente específica para ser desenvolvida em um parágrafo. No entanto, a sentença-tópico não deve conter apenas vocábulos específicos, caso contrário não haverá espaço para o desenvolvimento do parágrafo. Neste caso a sentença seria uma mera constatação de um fato. No exemplo acima o termo “conforto” permaneceu amplo porque ele será detalhado na discussão que será o alvo do parágrafo. Esse detalhamento se dá em dois níveis: o do suporte primário e o do suporte secundário. 27 Uma sentença de suporte primário é aquela que atua sobre a idéia da sentença-tópico, reafirmando, explicando, dividindo, adicionando ou ilustrando o que foi dito na sentença- tópico. Assim, um exemplo que introduz uma subdivisão do termo “conforto” na sentença-tópico acima seria: “O isolamento acústico permite que o motorista se desconecte do ruidoso mundo exterior”. Esta sentença especifica um subgrupo do grupo “conforto”, que é o isolamento acústico. Devem seguir a sentença de suporte primário, uma ou mais sentenças de suporte secundário. Estas são sentenças que fornecem explicações ou ilustrações adicionais e mais específicas que as de suporte primário. São exemplos concretos na forma de citações, explicações, estatísticas que esclarecem os termos ainda gerais das sentenças de suporte primário, aumentando a chance do leitor entender e acreditar no que você está dizendo. Exemplo: “No interior do Honda Civic 2007, por exemplo, a intensidade sonora é 40 decibéis abaixo da intensidade sonora produzida pelo tráfego médio de uma cidade”. Observe que um outro conjunto de suportes primário e secundário poderia ser incluído neste mesmo parágrafo, como: “Adicionalmente, o ambiente climatizado de um veículo moderno proporciona ao motorista controle de temperatura e umidade. O ar condicionado de um Renault Clio, por exemplo, é capaz de manter a temperatura em 21 o C e a umidade em 75%, mesmo sob condições de verão tropical”. O segundo parágrafo de discussão deve, por sua vez, na nossa composição, abordar a elevação do status social promovida pela posse de um automóvel. Um exemplo, com a mesma estrutura de sentença-tópico, suporte primário e suporte secundário, seria: “A posse de um automóvel é comumente associada a um status social acima da média. O valor de compra e as despesas com a manutenção do veículo, por exemplo, evidenciam que o dono de um automóvel pertence a 28 uma das classes mais elevadas em relação à renda familiar. O gasto com combustível e manutenção, mesmo para um carro pouco luxuoso, é de pelo menos R$700,00 por mês, o que limita o acesso ao carro às classes sociais A e B”. Finalmente, o último parágrafo de uma composição, chamado de parágrafo de conclusão consiste de três partes: a) sentença de reafirmação da tese; b) sentenças de síntese; c) sentença generalizadora. Estas sentenças articulam-se no parágrafo de conclusão do seguinte modo. SUMÁRIO REAF. TESE GENERALIZAÇÃO Note que a estrutura deste parágrafo é invertida em relação ao parágrafo de abertura. Na primeira sentença é feita uma reafirmação do sentido da sentença-tese. Esta reafirmação não deve ser, evidentemente, palavra por palavra. Exemplo: “Se quisermos entender a dependência do homem moderno em relação ao automóvel, devemos analisar que benefícios ele traz aos seus proprietários”. As próximas sentenças devem efetuar um sumário dos principais resultados apresentados na composição. Exemplo: “Como proprietário de um automóvel, o homem desfruta do conforto proporcionado pela tecnologia moderna e se destaca da maioria em relação ao status social”. Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 29 A última sentença de um parágrafo de conclusões deve conter uma generalização que mostre a relevância, universalidade ou profundidade da composição. Exemplo: “Tudo aquilo que traz intensas e agradáveis sensações físicas e emocionais no homem, podem induzi-lo à dependência”. Vejamos agora como ficou a composição de corpo inteiro. Observe que sua estrutura global é: INTERMEDIÁRIAS TESE ABERTURA SENTENÇA-TÓPICO SUPORTE PRIMÁRIO 1 SUPORTE SECUNDÁRIO 1 SUPORTE PRIMÁRIO 2 SUPORTE SECUNDÁRIO 2 SENTENÇA-TÓPICO SUPORTE PRIMÁRIO SUPORTE SECUNDÁRIO GENERALIZAÇÃO REAF. TESE SUMÁRIO “Carro é como marido: ruim com ele, pior sem ele!”. Este foi o desabafode dona Teresa ao receber a conta do mecânico. O duplo protesto de dona Teresa reflete um sentimento cada vez mais comum entre a classe média brasileira: a crescente dependência física e psicológica do homem em relação ao automóvel. O dependente compulsivo desta droga mecânica executa ações tresloucadas, gastando mais com um eventual conserto do carro do que com alimentos para a família. Um viciado em estágio avançado que for 30 temporariamente privado deste entorpecente ficará confinado em casa incapaz de encarar o mundo sem a sua armadura mecânica. O homem moderno está cada vez mais dependente do automóvel por que este lhe proporciona conforto e status social. Um automóvel moderno proporciona alto grau de conforto aos passageiros. O isolamento acústico permite que o motorista se desconecte do ruidoso mundo exterior. No interior do Honda Civic 2007, por exemplo, a intensidade sonora é 40 decibéis abaixo da intensidade sonora produzida pelo tráfego médio de uma cidade. Adicionalmente, o ambiente climatizado de um veículo moderno proporciona ao motorista controle de temperatura e umidade. O ar condicionado de um Renault Clio, por exe,plo, é capaz de manter a temperatura em 21 o C e a umidade em 75%, mesmo sob condições de verão tropical. A posse de um automóvel é comumente associada a um status social acima da média. O valor de compra e as despesas com a manutenção do veículo, por exemplo, evidenciam que o dono de um automóvel pertence a uma das classes mais elevadas em relação à renda familiar. O gasto com combustível e manutenção, mesmo para um carro pouco luxuoso, é de pelo menos R$700,00 por mês, o que limita o acesso ao carro às classes sociais A e B”. Se quisermos entender a íntima relação do homem moderno com o automóvel, devemos analisar que benefícios ele traz aos seus proprietários. O proprietário de um automóvel desfruta do conforto proporcionado pela tecnologia moderna e se destaca da maioria em relação ao status social. É preciso, no entanto ser prudente. Tudo aquilo que produz intensas e agradáveis sensações físicas e emocionais pode levar à dependência”. 2.3 OS OITO PASSOS MAIS IMPORTANTES Cliente_W10 Realce 31 Os oito passos mais importantes na construção de um texto inteligível são: 1) Escrever, ler, reescrever; 2) Reler, reescrever; 3) Reler, reescrever; 4) Reler, reescrever; 5) Reler, reescrever; 6) Reler, reescrever; 7) Reler, reescrever; 8) Reler, reescrever. Colocada desta maneira, a recomendação pode parecer uma anedota, mas na realidade ela retrata, de modo fidedigno, exatamente o que fazem os bons escritores. A leitura repetida de um texto aumenta a percepção do autor sobre possíveis erros, inconsistências e falta de clareza. No entanto, reler um texto escrito por você mesmo pode não ser tão trivial como parece. Em primeiro lugar é preciso atenção e concentração extremas. Além disso, é preciso estar imbuído de um grande senso de humildade e auto-crítica, ou seja, ser extremamente exigente consigo, tendo a certeza que um texto sempre pode ser melhorado. É bastante pertinente neste contexto a sentença: “O gênio é composto por 1% de talento e de 99% de exaustivo trabalho”. Esta sentença (e suas variantes) é atribuída a tantas figuras ilustres, de Beethoven a Einstein, passando por Thomas Edison. Os bons textos, da mesma forma, demandam apenas 1% de inspiração, mas 99% de trabalho duro. Finalmente, uma das qualidades essenciais para se reler um texto e melhorá-lo é conseguir imaginar jamais tê-lo lido. Dessa maneira, abstraindo- se de toda informação a priori sobre o texto, o autor poderá avaliá-lo, analisando apenas o emprego das palavras, se a mensagem está clara. Exatamente como fará o leitor. Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 32 3 O PARÁGRAFO 3.1 AS CINCO LEIS BÁSICAS A menor unidade de comunicação com sentido completo é a frase. Ex.: “O fim da inflação.” Uma frase é caracterizada por: a) elemento básico: palavra. b) lei atuante no elemento básico: as palavras devem formar um sentido completo. Se mantivermos o elemento básico, mas mudarmos a lei, definiremos a oração como a menor unidade de comunicação formando um pensamento completo. Ex.: “O fim da inflação deve ser buscado.” Assim, uma oração é caracterizada por: a) elemento básico: palavra. b) lei que atua no elemento básico: as palavras devem formar um pensamento completo. Definição de Parágrafo: Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 33 “Parágrafo é um conjunto de orações conectadas lógica e suavemente, contendo uma única idéia central, bem definida, bem dividida e bem balanceada.” A definição acima mostra que o elemento básico do parágrafo é a oração. A estrutura do parágrafo é caracterizada pelas cinco leis estruturais abaixo definidas. 3.1.1 Lei do foco: “Escolherás um assunto sobre todos os demais.” A analogia com uma fotografia é bem pertinente. Você não consegue fotografar todas as pessoas da sua cidade, nem tampouco todos os estudantes de sua turma. É mais apropriado fotografar uma única pessoa. Mesmo neste caso pode ser atrativo fotografar um detalhe do indivíduo, como o rosto, os olhos. Assim, o que vai ser enfatizado deve estar contido na foto, com enquadramento e foco adequados. Se se quer chamar a atenção para um detalhe do nariz, por exemplo, a foto não deve ser de corpo inteiro. Ao contrário, se se quer chamar a atenção para a proporção do corpo, não se pode tirar uma foto somente da cintura para cima. Se se deseja descrever o corpo todo em detalhe, serão precisas várias fotos de detalhe. Assim é na redação. Não se consegue escrever sobre tudo. O elemento fundamental da redação, o parágrafo, corresponde a uma foto, que deve ter enquadramento e foco para descrever um detalhe escolhido. A reunião de vários parágrafos conterá a descrição detalhada de um assunto mais complexo, por partes. Exemplo: parágrafo focalizado Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 34 “A dissertação de XXX está muito bem redigida. Em primeiro lugar, a introdução claramente estabelece o tema a ser estudado, bem como a abordagem empregada no trabalho. Além disso, observa-se o uso efetivo de técnicas de redação como as estratégias de definição, no capítulo de metodologia, e a de comparação-contraste, na descrição dos testes, em que a metodologia proposta é comparada com outras. Finalmente, o capítulo de conclusões reforça, de modo conciso, os principais resultados alcançados, culminando com sugestões de extensão da metodologia proposta a situações mais complexas, bem como de possíveis aplicações a outras áreas do conhecimento. A leitura dessa dissertação é um prazer para qualquer leitor.” Exemplo: parágrafo fora de foco “A dissertação de mestrado de XXX demorou muito tempo para ser concluída. No entanto, os resultados conseguidos foram muito importantes. A análise foi principalmente teórica e não houve exemplos práticos para substanciar as conclusões. O grau de originalidade não é muito elevado devido à semelhança com certos trabalhos já publicados. A redação é razoavelmente clara, embora pudesse melhorar bastante. A dissertação de XXX é polêmica.” 3.1.2 Lei da unidade: “Não fugirás do assunto.” O assunto escolhido como idéia central do parágrafo não deve ser mudado dentro do parágrafo. Uma das maneiras mais fáceis de quebrar a unidade e a atenção do leitor é pular de um 35 assunto para outro. O primeiro exemplo, além de foco, contém unidade: o assunto é a redação da dissertação de XXX. O segundo exemplo contém unidade, uma vez que o assunto é a própria dissertação de mestrado de XXX. Entretanto, em vez de escolher um aspecto do trabalho, vários aspectos foram abordados (falta de foco). O exemplo abaixo ilustra a falta de unidade em um parágrafo. Exemplo: falta deunidade “Concluir uma dissertação de mestrado é muito trabalhoso. Depois de escolher o tema, é preciso fazer uma pesquisa bibliográfica. No entanto, as bibliotecas de nossas universidades são muito pobres em quantidade e qualidade de títulos. Isto é uma conseqüência do estado de subdesenvolvimento ao qual nosso país é submetido. A instabilidade econômica do país condiciona grandes flutuações no mercado de trabalho e às vezes eu me pergunto se conseguirei um emprego que compense o esforço dispendido durante a pós-graduação.” 3.1.3 Lei da coerência: “Darás uma seqüência lógica às partes de teu parágrafo.” O assunto escolhido no parágrafo é abordado por meio de alguns aspectos selecionados pelo autor. No primeiro exemplo, os aspectos são a introdução, o corpo e as conclusões da dissertação de XXX. Estes aspectos formam as partes do parágrafo, que devem estar conectadas de modo lógico por meio de uma ordem ou seqüência. Há casos em que as partes do parágrafo naturalmente definem uma ordem cronológica ou 36 espacial. Receitas, por exemplo, começam pelos ingredientes, seguindo-se a preparação na ordem de execução. No primeiro exemplo, a ordem natural é acompanhar a seqüência da própria dissertação. O exemplo abaixo mostra o mesmo tipo de parágrafo com falta de coerência. Exemplo: falta de coerência “A dissertação de XXX está muito bem redigida. As conclusões estão reforçadas de modo conciso, bem como os principais resultados alcançados, culminando com sugestões de extensão da metodologia proposta a situações mais complexas. Não menos importante foi a maneira clara de apresentar o tema na introdução, junto com a abordagem empregada no trabalho. O desenvolvimento central da dissertação mostra o uso efetivo de técnicas de redação, como as estratégias de definição, no capítulo de metodologia, e o de comparação-contraste em que a metodologia proposta é comparada com outras. A leitura da dissertação de XXX é um prazer para qualquer leitor.” 3.1.4 Lei da continuidade: “Lubrificarás as partes de teu parágrafo.” As partes de um parágrafo devem estar conectadas de modo a haver uma transição suave entre elas. Os “lubrificantes” são as conjunções, preposições, advérbios e as correspondentes locuções. A introdução dos lubrificantes tem dupla finalidade. Primeiro, torna o parágrafo mais agradável de ser lido. Segundo, torna a leitura mais fácil e mais clara, porque o tipo de lubrificante no início da oração já antecipa ao leitor a conexão da oração em questão com as anteriores ou com as subseqüentes. Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 37 Por exemplo: “É muito trabalhoso redigir de modo claro. Uma boa redação melhora muito a comunicação com o leitor. Vale a pena investir tempo aprimorando as técnicas de redação.” Observe como o fragmento de parágrafo acima pode ser melhorado através da conexão das três orações: “É muito trabalhoso redigir de modo claro. Entretanto, uma boa redação melhora muito a comunicação com o leitor. Portanto, vale a pena investir tempo aprimorando as técnicas de redação.” Observe que as duas primeiras orações carregam idéias opostas, realçadas pela conjunção entretanto. Contudo, a predominância da segunda idéia sobre a primeira permite uma conclusão em favor da segunda. A conclusão está reforçada pelo emprego da conjunção portanto na terceira oração. O fragmento acima poderia ser melhorado mais ainda, introduzindo-se desde o início a tese de predominância da segunda idéia sobre a primeira, de modo explícito por meio da conjunção embora, ligando a primeira oração (que passará a ser subordinada) com a segunda oração (que continuará a ser principal): “Embora seja muito trabalhoso redigir de modo claro, uma boa redação melhora muito a comunicação com o leitor. Portanto, vale a pena investir tempo aprimorando as técnicas de redação.” O domínio sobre o uso de conjunções, preposições e advérbios deve ser cultivado por todo autor. Um texto preliminar deve sempre ser relido tendo em mente a utilização dos “lubrificantes” mais eficientes possíveis. Esse trabalho é Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 38 como o de uma lapidação que transforma a pedra bruta, sem brilho nem beleza, numa rica peça de ornamento, agradável de se olhar. O parágrafo abaixo mostra como o primeiro exemplo de parágrafo poderia ter sido um parágrafo sem continuidade, se os “lubrificantes” em primeiro lugar, além disso e finalmente não tivessem sido empregados: Exemplo: falta de continuidade “A dissertação de XXX está muito bem redigida. A introdução claramente estabelece o tema a ser estudado, bem como a abordagem empregada no trabalho. Observa-se o uso efetivo de técnicas de redação como as estratégias de definição, no capítulo de metodologia, e a de comparação-contraste na descrição dos testes, em que a metodologia proposta é comparada com outras. O capítulo de conclusões reforça, de modo conciso, os principais resultados alcançados, culminando com sugestões de extensão da metodologia proposta a situações mais complexas, bem como de possíveis aplicações a outras áreas do conhecimento. A leitura dessa dissertação é um prazer para qualquer leitor.” 3.1.5 Lei do desenvolvimento: “Serás justo na divisão de teu parágrafo, porque somente os justos entrarão para o reino dos bons autores.” Um parágrafo apresenta, naturalmente, uma divisão em três segmentos: a introdução, a discussão e a conclusão (note a semelhança com as divisões da dissertação e do capítulo). O Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 39 parágrafo deve estar bem balanceado nesta divisão, de modo que a introdução e a conclusão componham, cada uma, aproximadamente 1/6 do parágrafo. Os restantes 4/6 devem caber à discussão. Cada segmento (particularmente a discussão) deve ser plenamente desenvolvido. Os parágrafos seguintes ilustram os casos de parágrafos mal desenvolvidos e mal balanceados. Exemplo: parágrafo mal desenvolvido “A dissertação de XXX está muito bem redigida. Em primeiro lugar, a introdução claramente estabelece o tema a ser estudado, bem como a abordagem empregada no trabalho. Além disso, observa-se o uso efetivo de técnicas de redação como as estratégias de definição, no capítulo de metodologia, e a de comparação-contraste na descrição dos testes, em que a metodologia proposta é comparada com outras. A leitura dessa dissertação é um prazer para qualquer leitor.” Observe que a proposta é analisar a dissertação de XXX, e uma parte dessa dissertação, a conclusão, não foi referenciada. Desse modo, o parágrafo não está totalmente desenvolvido. Exemplo: parágrafo mal balanceado “A dissertação de XXX está muito bem redigida. O estudante dedicou boa parte de seu treinamento aprimorando técnicas de redação, chegando a fazer um curso especial sobre o assunto. Este treinamento mostrou-se muito útil durante a redação final da dissertação. Inicialmente, ele sentiu alguma dificuldade, e até mesmo um certo desânimo por achar que não Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 40 conseguiria melhorar de modo qualitativo a sua habilidade como autor. Contudo, com o passar do tempo, ele assimilou as idéias globais sobre uma boa redação e adquiriu um domínio efetivo sobre elas. Sua dissertação mostra que tanto a introdução e a conclusão, como os capítulos de discussão foram elaborados com bastante cuidado, utilizando as técnicas que ele aprendeu. A leitura de sua dissertação é um prazer para qualquer leitor.” Observe, no exemplo acima, que a introdução toma aproximadamente 4/6 do parágrafo, ao passo que a discussão apenas 1/6 (o oposto é o desejável). O que o parágrafo propõe é a análise da dissertação de XXX, e isto é feito somente com uma sentença. Este parágrafo está desbalanceado e tem a proporção INTRO DISC CO DUÇÃO USSÃO NCLUSÃO em vez da proporção “áurea”: 41 INTRODUÇÃO DISCUSSÃCONCLUSÃO 3.2 OS TRÊS TIPOS FUNDAMENTAIS DE PARÁGRAFO Os tipos fundamentais de parágrafo são: introdutório, de discussão e de conclusões. O parágrafo introdutório capta a atenção do leitor, apresenta e restringe o tema a ser discutido no capítulo. O parágrafo de discussão desenvolve a análise ou discussão do tema, substanciando as idéias apresentadas com exemplos específicos. O parágrafo de conclusões resume os principais pontos discutidos e esboça uma generalização que evidencie a relevância da discussão apresentada. Apresenta- remos inicialmente o parágrafo de discussão que forma o corpo do capítulo (ou pequena composição). Uma vez dominada a técnica de redigir parágrafos de discussão, estudaremos como começar (parágrafo introdutório) e como terminar um capítulo (parágrafo de conclusões). 3.2.1 Parágrafo de discussão Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce IMPORTANNNTE! 42 3.2.1.1 A sentença-tópico: caracterização O parágrafo de discussão começa com uma sentença- tópico, que deve não só indicar de que o parágrafo irá tratar, como também deixar claro do que o parágrafo não irá tratar. Assim, a sentença-tópico define e limita o tópico do parágrafo. A sentença-tópico difere de um título de três maneiras. Primeiro, ela é colocada dentro do texto e não fora dele. Se- gundo, a sentença-tópico contém um pensamento completo, ao passo que o título não contém um sentido completo, mas apenas um fragmento de pensamento (frase). Terceiro, a sentença- tópico tem o papel de estabelecer uma envoltória convergente que limita o parágrafo, ao passo que o título estabelece uma envoltória divergente que tende a expandir uma composição. Envoltória divergente expandindo a composição Envoltória convergente limitando o parágrafo TÍTULO SENTENÇA-TÓPICO Exemplo: sentença-tópico Cliente_W10 Realce 43 “Elaborar uma tese de doutorado requer muito mais auto- confiança que elaborar uma dissertação de mestrado.” Exemplo: sentença-tópico “Estudantes de Matemática, em geral, não gostam de Literatura porque a última é um assunto subjetivo.” 3.2.1.2 O que uma sentença-tópico deve ser a) Completa – Uma sentença-tópico deve conter um pensamento completo e não apenas um fragmento. Exemplo: - fragmento: “Uma maneira segura de se trocar um pneu.” - sentença completa: “Há um modo seguro de se trocar um pneu.” b) Clara - A sentença-tópico é o rótulo do parágrafo, comunicando ao leitor o que será nele tratado. Assim, a sentença-tópico não deve confundir o leitor com a introdução de mais de um possível significado. Exemplo: sentença com vários possíveis significados. “Para se tocar qualquer tipo de instrumento, é preciso conhecer alguma coisa sobre ele.” Observe a multiplicidade de possíveis tópicos específicos que estão englobados nesta sentença, como: Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 44 Exemplo: “Para se tocar qualquer tipo de instrumento de percussão é preciso ter um bom senso de ritmo.” Exemplo: “Para se tocar trombone é preciso desenvolver lábios fortes” c) Específica – Esta qualidade está diretamente relacionada com a anterior. Uma sentença específica tende a ser clara, ao passo que sentenças genéricas tendem a ser obscuras. Há, entretanto, diferença entre ser claro e ser específico. Ser claro significa fazer uma asserção óbvia em vez de sugeri-la apenas. Ser específico significa limitar o tópico ao tamanho adequado ao parágrafo. Exemplo: sentença muito ampla “Hoje em dia é difícil seguir Os Dez Mandamentos, mesmo para os religiosos.” Exemplo: sentença específica “O pai de uma criança faminta é dolorosamente compelido a desrespeitar o sétimo mandamento.” Uma das estratégias mais eficazes na elaboração de sentenças-tópico específicas é a introdução de uma idéia controladora. Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 45 Exemplo: sentença muito ampla “O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz, é um livro interessante.” Exemplo: sentença específica pela introdução de uma idéia controladora. “O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz, é uma crítica incisiva aos valores religiosos da sociedade portuguesa”. Observe o papel literalmente controlador da idéia controladora. Adicionando mais ou menos detalhe à idéia controladora, o escopo do parágrafo é adequadamente sintonizado. A idéia controladora (grifada no exemplo acima) atua sobre uma classe mais ampla de características (“crítica incisiva”, no exemplo acima), especificando-a em nível desejado de detalhe. A classe mais ampla de características não deve, no entanto, ser tão ampla a ponto de impedir a atuação da idéia controladora. Assim, palavras como interessante, importante, polêmico não são suficientemente específicas para permitir a introdução de uma idéia controladora, devendo, portanto, ser evitadas em sentenças-tópico. Da mesma forma, tanto a classe mais ampla de características, como a idéia controladora não devem ser completamente específicas, caso contrário a sentença não conterá uma idéia a ser desenvolvida no parágrafo, mas uma simples constatação de um fato. Por exemplo “O motorista que avança o sinal vermelho é multado em cento e cinqüenta reais”. 46 O que pode ser acrescentado a esta sentença? Posso discutir as causas que levam o motorista a avançar um sinal, ou a adequação da penalidade imposta, mas estas análises introduzirão uma nova idéia, o que me fará violar a Lei da unidade. Não há praticamente espaço para detalhamento ou ilustração da idéia contida na sentença. A sentença-tópico deverá conter uma, ou no máximo duas palavras representando classes “ligeiramente” amplas. Entende- se por “ligeiramente” ampla uma classe que permitir a alguns de seus elementos serem selecionados para ilustrar a idéia da sentença tópico. Considere o exemplo da sentença-tópico usada no capítulo 1: “Um automóvel moderno proporciona alto grau de conforto aos passageiros” Nesta sentença, a palavra “conforto” representa a classe “ligeiramente” ampla, de modo que dois ou três de seus elementos podem ser selecionados como suportes primários (V. seção 3.2.1.4) para ilustrar a idéia contida na sentença-tópico. Os elementos, pertencentes à classe “conforto” escolhidos neste exemplo foram “isolamento acústico” e “ambiente climatizado”. No exemplo “O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz, é uma crítica incisiva aos valores religiosos da sociedade portuguesa” há duas classes ligeiramente amplas: “crítica incisiva” e “valores religiosos”. Na seção que trata dos suportes primário e Cliente_W10 Realce 47 secundário, ilustraremos como deve ser gerenciado o caso de haver mais de uma classe ligeiramente ampla na sentença- tópico. Mais de duas classes ligeiramente amplas numa sentença tópico, entretanto, tendem a degradar a clareza do parágrafo, e devem, portanto, ser evitadas por quem está começando o treinamento na técnica de redação. 3.2.1.3 O que uma sentença-tópico não deve conter a) Substitutos vulgares. São palavras que não são exatamente palavras, mas substitutos de palavras. Exemplo: substituto vulgar “Avião é uma coisa que voa.” b) Substitutos desgastados. Algumas palavras ou expressões já estão literalmente gastas de tanto uso e são chamadas clichés. Atualmente, elas não transmitem vitalidade a um texto. Exemplo: substitutos desgastados “Aquele homem é forte como um touro.” “Ele é tão delicado que é incapaz de ferir uma mosca.” “Minha boca é um túmulo.” c) Substitutos fracos. São palavras e expressões que carecem de força e exatidão. Devem ser substituídas por comparações ou por medidas exatas. Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 48 Exemplo: substituto fraco “Está muito quente hoje.” O termo muito quente acima pode ser substituído por: Exemplo: uso de comparação em lugar de substitutofraco “O calor de hoje chega a derreter o asfalto.” Exemplo: uso de medidas exatas em lugar de substitutos fracos “Hoje está fazendo um calor de 40 graus.” d) Verbalismo – A escolha da palavra certa é como a busca de uma gema perfeita. O autor deve dar maior peso à qualidade e não à quantidade de palavras. Especialmente trabalhos que serão submetidos à publicação devem sofrer uma redução drástica de palavras desnecessárias. Exemplo: verbalismo “Em nossos ensaios com a droga K, feitos com o propósito de testar seu efeito em coelhos, ela foi administrada a esses animais por via endovenosa. Nessas experiências, utilizamos quantidades relativamente pequenas de K, injetando de 2 a 3 centímetros cúbicos de solução que continha 1% da substância ativa, em coelhos com 2 a 3 quilogramas de peso. Em todos os casos observados o resultado sempre foi fatal, morrendo os animais apenas decorrido um lapso de tempo igual a 5 minutos após a injeção” (Rey, 1972). Cliente_W10 Realce 49 Exemplo: redução do verbalismo do exemplo 23 “A injeção endovenosa de K mata os coelhos em 5 minutos, na dose de l0 mg por quilograma de peso” (Rey, 1972). e) Substitutos para evitar repetição de palavras: este, esse, aquele, ele. – Embora a repetição excessiva das mesmas palavras seja cansativa ao leitor, a potencial perda de exatidão decorrente do uso dos pronomes este, esse, aquele e ele é muito mais prejudicial, de modo que tais substitutos devem ser evitados. Exemplo: perda da clareza através do uso de substituto para evitar repetição de palavras “O padre, o delegado e o médico chegaram simultaneamente ao local do acidente. Esse, no entanto não conhecia aquele.” 3.2.1.4 Sentenças de suporte primário (SP) e suporte secundário (SS) A sentença de suporte primário consiste de grupos de palavras que atuam diretamente sobre a classe “ligeiramente” ampla discutida na seção 3.2.1.2. A estratégia fundamental do suporte primário é a divisão. Entretanto, a divisão pura leva a textos pouco enriquecidos. Eles podem ser melhorados bastante com as estratégias de divisão ilustrativa e divisão explicativa. A sentença de suporte secundário tem como objetivo detalhar a informação contida na sentença de suporte primário. O suporte secundário pode atuar tanto na classe (através de explicações, ilustrações, estatísticas ou citações) como no Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 50 indivíduo membro da classe (através de exemplos concretos). No primeiro caso, qualidades da classe são especificadas enquanto no segundo, atributos do indivíduo são relacionados. As sentenças de suporte secundário, além de dar mais vida ao parágrafo, fornecem o detalhe suficiente para aumentar as chances de o leitor entender e acreditar na idéia contida na sentença-tópico. Nos exemplos a seguir usaremos as convenções: ST para sentença-tópico, SP para suporte primário e SS para suporte secundário. Na sentença-tópico, a classe ligeiramente ampla a ser detalhada está realçada em negrito e o tipo de estratégia usada está assinalado em itálico. Os exemplos concretos são fictícios. A. (ST) Há trezentos anos atrás, Londres não era um local muito saudável para se viver. (SP divisão-ilustração) Londrinos, ricos ou pobres, banhavam-se raramente. (SS explicação) A maioria das famílias comprava diariamente uma quantidade limitada de água e não possuía banheiros privativos. B. (ST) Há trezentos anos atrás, Londres não era um local muito saudável para se viver. (SP divisão-ilustração) Não havia, por exemplo, coleta de lixo pela prefeitura. (SS ilustração) O lixo era acumulado em quintais ou despejado nas ruas. C. (ST) Há cem anos atrás, Londres apresentava sérios problemas acerca do lixo doméstico. (SP divisão-ilustração) O lixo era acumulado em quintais ou despejado nas ruas. (SS ex.concreto) Em 1880, a célebre Trafalgar Square, por exemplo, acumulava tanto lixo que a estátua do almirante Nelson parecia ter afundado um metro no solo. Cliente_W10 Realce 51 D. (ST) Viver nas grandes cidades pode ser uma experiência desagradável. (SP divisão) A falta de solidariedade humana, por exemplo, é muito freqüente. (SS estatística) Uma pesquisa divulgada pelo Jornal da Tarde em 6 de maio de 1998 relata que 90% dos entrevistados na cidade de S. Paulo declararam não parar para ajudar uma pessoa acidentada na rua. E. (ST) Viver nas grandes cidades pode ser uma experiência desagradável. (SP divisão-ilustração) A violência, por exemplo, pode provocar traumas psicológicos em muitas pessoas. (SS ex.concreto) Meu vizinho, após ser vítima de um seqüestro-relâmpago no Rio de Janeiro, em que foi ameaçado com uma arma apontada para sua cabeça, precisou de assistência constante de um analista durante seis meses. F. (ST) Uma dieta não balanceada pode ser prejudicial à saúde. (SP divisão-ilustração) Por exemplo, a ingestão de gorduras em excesso pode predispor uma pessoa a sofrer de doenças cardíacas. (SS citação-estatística) Um estudo da Sociedade Brasileira de Cardiologia (Weiss, 1999) relata que 75% dos pacientes com enfarte do miocárdio atendidos no Instituto do Coração durante o ano de 1998 praticavam uma dieta rica em gorduras saturadas. G. (ST) Uma dieta não balanceada pode ser prejudicial à saúde. (SP divisão-ilustração) O hábito de ingerir suplementos vitamínicos, por exemplo, pode provocar doenças tão ou mais sérias que aquelas provocadas por um quadro de hipovitaminose. (SS ilustração) A ingestão de doses de vitamina A superiores a 3 mg diários, por exemplo, pode provocar doenças hepáticas graves, segundo uma pesquisa divulgada pelo Instituto de Medicina Americano. 52 H. (ST) Uma dieta muito pobre em gorduras pode ser prejudicial à saúde. (SP divisão-explicação) As vitaminas A, D, E e K, por exemplo, são melhor absorvidas na presença de gordura. (SS citação) Flinn (1997) reporta uma grande incidência de casos de cegueira noturna entre pessoas que praticaram uma dieta isenta de gordura por mais de seis meses. Observe, nos exemplos F e G, o estabelecimento de mais de uma classe ligeiramente ampla na sentença-tópico. A estratégia a ser usada para a sentença de suporte primário neste caso é a exemplificação de um elemento de cada classe. Note como no exemplo F, a sentença de suporte primário “Por exemplo, a ingestão de gorduras em excesso pode predispor uma pessoa a sofrer de doenças cardíacas” apresenta um elemento da classe “dieta não balanceada”, que é “ingestão de gorduras em excesso” e um elemento da classe “prejudicial à saúde”, que é “doenças cardíacas”. Note também que o grau de detalhe sobre o assunto a ser discutido num parágrafo (Lei do foco) é variável e depende do objetivo que o autor quer atingir. O exemplo C apresenta uma sentença-tópico com grau de detalhe muito próximo ao da sentença de suporte primário do exemplo B. Para estudantes que estão iniciando na técnica de redação é recomendável que não se escolha um assunto muito abrangente porque ele pode induzir à fuga do assunto, quebrando a Lei do foco e a Lei da unidade. É importante ressaltar que as diretrizes mostradas neste livro não devem ser vistas como regras rígidas, que não possam ser quebradas, mas apenas como uma ajuda para o treinamento na produção de textos claros e organizados por aqueles que estão iniciando nas técnicas de redação. Uma vez dominadas as técnicas, as regras podem ser flexibilizadas desde que não prejudiquem a clareza. Cliente_W10 Realce 53 Mostramos abaixo dois parágrafos que abordam assuntos extremamente amplos na sentença-tópico. Eles foram escritos por um autor experiente (Parenti, 1980), que, ao invés de uma sentença de suporte primário e uma de suporte secundário, lançou mão de um grupo de sentenças de suporte primário (negrito) e um grupo de sentenças de suporte secundário (itálico). Apesar de não seguir rigorosamente as regras aqui apresentadas, o texto é claroe apresenta com fluência os suportes para a mensagem contida na sentença-tópico. 1) Quanto mais rico o indivíduo, maiores serão suas oportunidades de gozar de isenções de imposto sobre ganhos de capital, títulos municipais e estaduais não tributáveis, ações e vários tipos de deduções profissionais e em transações comerciais. Para os muito ricos, virtualmente qualquer investimento pode ser protegido contra impostos. É permitido, por exemplo, que se lancem como perdas a manutenção ou a depreciação de: rebanhos de gado, times de baseball, plantações de laranja e edifícios comerciais durante o tempo em que eles não são lucrativos. Assim, lucros imaginários que não se concretizaram podem ser declarados como prejuízos, de modo que uma pessoa muito rica pode auferir lucros reais astronômicos, mas demonstrar prejuízo e gozar, portanto, de uma substancial dedução de imposto. Em 1976, 182 milionários não pagaram um centavo sequer de imposto. Bilionários como H. L. Hunt e J. Paul Getty, com rendas anuais de US$ 50 milhões e US$ 100 milhões, respectivamente, pagaram somente alguns milhares de dólares de imposto. Em contraste, um lavador de pratos em Nova Iorque, que ganha US$ 4800 por ano, paga US$ 1213 em impostos federais, estaduais e municipais, mais outros US$ 200 de ICM, ou seja, o equivalente a quatro meses de salário (Stern 1977). 54 2) Recentemente tem havido notícias sobre corrupção envolvendo funcionários federais, estaduais e municipais em todos os estados da União. No Congresso, “A corrupção é tão endêmica que se torna escandalosa. Mesmo os homens honestos são corrompidos normalmente por grandes grupos econômicos e por indivíduos ricos que financiam campanhas eleitorais” (Agree, 1976). “Em alguns estados Louisiana, por exemplo os escândalos são tão numerosos que expô-los não causam mais nenhum impacto na opinião pública”, relata um observador (Simon, 1964). Um republicano do estado de Illinois estima que um terço de seus colegas legisladores aceitam suborno. Num período de seis anos, o número de funcionários públicos condenados em cortes federais incluía um vice-presidente, três chefes de gabinete, três governadores, trinta e quatro deputados estaduais, cinco procuradores gerais, vinte e oito prefeitos, onze promotores públicos e 170 delegados e esta lista inclui somente os mais azarados ou descuidados que puderam ser apanhados (Washington Monthly, fevereiro 1972) Corrupção generalizada tem sido constatada nas forças policiais de Chicago, Filadélfia, Indianápolis, Cleveland, Houston, Denver e inúmeras outras cidades menores, envolvendo práticas como proteção ao narcotráfico e a jogadores, aceitação de suborno, roubo ou encobrimento de roubo de lojas, pilhagem de parquímetros extorsão de prostitutas e intimidação de testemunhas que se propõem a depor contra crimes na polícia. 3.2.2 Parágrafo introdutório O parágrafo introdutório é a parte mais crítica de uma composição ou capítulo. Ele contém a isca, ou sentença de abertura, especialmente construído para atrair a atenção e o Cliente_W10 Realce 55 interesse do leitor. O parágrafo introdutório contém ainda, no seu término, a sentença-tese, que organiza e estrutura o desenvolvimento dos parágrafos seguintes. 3.2.2.1 Tipos de sentença de abertura A sentença de abertura, de acordo com seu conteúdo pode pertencer a quatro gêneros: humor, drama, citação e polêmica. a) Humor Exemplo: “ No Rio de Janeiro, atletas que não levarem ouro, prata ou bronze, poderão ainda levar chumbo”. b) Drama Exemplo: “O desmatamento da floresta amazônica pode ocasionar profundas mudanças climáticas em todo o planeta.” c) Citação Exemplo: “Aquele que destruir o olho de outro homem terá seu olho destruído, escreveu Hammurabi em 2100 a.C.” d) Polêmica Cliente_W10 Realce 56 Exemplo: “Apesar da crescente especialização do conhecimento humano, precisam os geofísicos de uma formação ampla?” 3.2.2.2 A sentença-tese A sentença-tese é a mais importante sentença isolada porque ela limita e organiza a discussão nos parágrafos subseqüentes ao parágrafo introdutório. Esta sentença apresenta a tese (proposição) que será defendida na composição ou capítulo. Além disso, ela indica a ordenação dos argumentos. Observe a sentença-tese usada no capítulo anterior: “O homem moderno está cada vez mais dependente do automóvel por que este lhe proporciona conforto e status social”. Ela especifica que o primeiro parágrafo após a sentença-tese tratará da influência do conforto na dependência do homem em relação ao automóvel. Este parágrafo deverá começar com uma sentença- tópico limitando-o a discutir essa influência. O parágrafo seguinte, por sua vez tratará da influência do status social e deverá iniciar com uma sentença-tópico que o limite a discutir este aspecto. Este exemplo mostra que uma sentença-tese bem dividida irá naturalmente dividir a composição (ou capítulo) em seções que a tornarão mais fácil de ser redigida, mais bem estruturada e mais agradável de ser lida. Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 57 Os exemplos abaixo comparam sentenças-teses divididas e não divididas. Exemplo: sentença-tese não dividida “Escrever uma boa dissertação exige muito esforço.” Exemplo: sentença-tese dividida “Ser policial requer importantes qualidades como prudência, coragem e rapidez em tomar decisões”. A divisão da sentença-tese pode seguir diversos critérios: a) Cronológico: deve-se proceder do mais antigo para o mais recente. Exemplo: divisão cronológica da sentença-tese “Sendo tão dependentes da mãe ao nascer, tão vulneráveis ao acasalamento e tão úteis ao morrer, as baleias são uma espécie em risco de extinção.” b) Espacial: deve-se proceder do mais afastado para o mais próximo. Exemplo: divisão espacial da sentença-tese “Para combater o mosquito transmissor da dengue, devemos acabar com os focos de águas paradas nos bosques, jardins, e em casa.” Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 58 c) Importância: deve-se proceder do menos para o mais importante. Exemplo: divisão por importância da sentença-tese “O vazamento de óleo provocado pela colisão de dois petroleiros foi uma calamidade porque manchou os cascos de vários barcos, sujou as areias da praia e levou milhares de aves e peixes à morte.” Na divisão da sentença-tese, o paralelismo deve ser rigorosamente respeitado (V. seção 2.1.1.3). 3.2.2.3 Sentenças intermediárias Uma vez construídas a sentença de abertura e a sentença- tese, conheceremos o início e o fim do parágrafo de abertura. Saberemos de onde sair e aonde chegar. As sentenças intermediárias têm o papel de promover uma transição suave e gradativa entre a sentença de abertura e a sentença-tese. Exemplo de parágrafo de abertura. “Em plena avenida Atlântica no Rio de Janeiro, lê-se o nome sui generis de um bar: O Engenheiro que Virou Suco. Esse nome refere-se ao proprietário, o senhor João, que, após padecer por inúmeros anos sem emprego na sua profissão, decidiu abrir o próprio negócio. O caso do senhor João não é único no país e reflete uma dura realidade brasileira para aqueles que passaram quatro anos ou mais em uma universidade e não conseguiram concretizar o sonho de se tornarem profissionais na área que tanto almejaram. Os tempos mudaram e o desemprego está atingindo cada vez mais as pessoas portadoras de diplomas de Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 59 curso superior. Os jovens estão cada vez mais desmotivados a ingressar em um curso superior devido à alta taxa de desemprego entre os profissionais que cursaram universidades, à falta de direcionamento de ensino à carreira profissional e ao distanciamento entre os interesses acadêmicos e empresariais. 3.2.3 Parágrafo de conclusões A estrutura do parágrafo de conclusões é oposta à do parágrafo introdutório. O parágrafo introdutório começacom uma sentença geral e caminha para a sentença-tese através de sentenças de transição mais e mais específicas. Assim, o parágrafo de conclusões começa com uma reafirmação da sentença-tese (não deve, entretanto, ser uma repetição palavra- por-palavra da sentença-tese). As próximas sentenças devem resumir as idéias desenvolvidas na composição (ou capítulo). Por último, deve-se acrescentar uma generalização relevante que fará a composição terminar decisivamente, reforçando as idéias principais. Esta generalização é necessária para mostrar a relevância, universalidade ou aplicabilidade das idéias desenvolvidas. O parágrafo de conclusões é a última chance de persuadir o leitor; assim, devem-se evitar: a) expressões como eu acho, na minha opinião; b) introdução de novas idéias ou novas evidências; c) introdução de dúvidas ou questões. 60 O conteúdo do parágrafo de conclusões é o que o leitor carregará consigo. Desse modo, deve-se tirar proveito desta última oportunidade de demonstrar segurança e convicção sobre o que foi escrito. 3.2.4 Exemplo de uma composição As regras estabelecidas anteriormente para elaboração dos 3 tipos de parágrafos (e também as cinco leis básicas) serão ilustradas na composição abaixo. Com a finalidade de guiar o estudante, os diversos tipos de sentenças estão marcados no texto, seguindo as seguintes convenções: (AB): sentença de abertura (IN): sentença intermediária (TE): sentença-tese (TO): sentença-tópico (SP): sentença de suporte primário (SS): sentença de suporte secundário (RT): sentença de reafirmação da tese (SI): sentenças sintetizadoras, ou de sumário (GE): sentenças generalizadoras Cliente_W10 Realce 61 ÍNDIOS VS. COLONIZADORES: UMA BATALHA DESIGUAL (AB) “Nós desenvolvemos nossa grandiosidade num período em que uma sociedade migrante tomou conta de um continente rico e vazio”, disse o reitor Conant da Universidade de Harvard em 1948, referindo-se à colonização dos Estados Unidos pelos europeus. (IN) Sua afirmação foi correta, a menos do fato que a América do Norte no século XVI dificilmente poderia ser rotulada como vazia em termos de habitantes. (IN) Ao contrário, alguns milhões de índios, agrupados em centenas de tribos, encontravam-se espalhados por todo o país. (IN) Nesse momento, um conflito entre duas forças desiguais teve lugar. (IN) Os colonizadores brancos, graças à sua supremacia em número, organização e poder de destruição, expulsaram continuamente os índios de suas terras. (TE) Das raízes do conflito, três principais causas são evidentes como as mais decisivas na constante perda de terra sofrida pelos índios: o interesse do homem branco na exploração dos recursos naturais, a sua necessidade da própria terra e as dificuldades criadas pelos índios para a exploração e posse da terra pelo homem branco. (TO) A ganância do homem branco com respeito aos recursos altamente lucrativos, contidos no novo continente, foi uma força decisiva na constante destituição dos índios de suas terras. (SP1) Em primeiro lugar, o território ocupado pelos índios continha enormes quantidades de pedras preciosas e metais nobres. (SS1.1) Wissler (1941) afirma que por volta de 1849 a Corrida do Ouro na Califórnia era tão intensa que os Teton, uma divisão dos Dakotas e Sioux, tornaram-se alarmados Cliente_W10 Realce 62 e hostis. (SS1.2) Este mesmo autor diz que os Pueblos e os Mound Builders eram muito ricos em turquesa que eles próprios lavravam e trabalhavam, produzindo ornamentos. (SP2) Além disso, por todo o país os recursos florestais eram abundantes. (SS2) Alpern et al. (1977) reportam que em uma área em Maine, usurpada dos índios, as indústrias atuais estão extraindo madeira e utilizando-a na fabricação de celulose. (TO) Outra principal causa da perda de terra pelos índios foi a necessidade que teve o homem branco da posse da terra para suas próprias finalidades. (SP1) Primeiramente, os colonizadores precisavam de um lugar para viver. (SS1) Trippett (1977) escreve que os pioneiros americanos possuíam um desejo incontrolável de possuir terras. (SP2) Adicionalmente, o número crescente de novas indústrias e a expansão desenfreada das indústrias antigas demandavam grandes extensões de terra, não só para as construções e equipamentos, mas também para a produção de matéria-prima. (SS2) Alpern et al. (1977) reportam que uma área altamente industrializada de 125 milhões de acres em Maine foi tomada ilegalmente dos índios em 1794. Hoje, essa área contém pelo menos quatro fábricas de celulose, duas indústrias madeireiras e milhares de acres ocupados por plantações de batata. (TO) Os índios criaram sérios problemas ao homem branco com respeito à exploração da terra, uma vez que eles pertenciam a mundos completamente diferentes e possuíam diferentes escalas de valores. (SP1) Primeiro, os índios não costumavam extrair da Natureza nada que fosse além de suas necessidades imediatas. (SS1) Mr. X (1978) diz que mesmo Cliente_W10 Realce 63 atualmente muitos índios antiquados são contrários à extração de seus próprios recursos naturais nas reservas indígenas, porque eles ainda são sensíveis ao culto de reverência à Natureza. (SP2) Além disso, os índios usavam a terra de modo comunitário, diferentemente do homem branco, que herdou dos europeus um sistema econômico baseado essencialmente na propriedade privada. (SS2.1) Trippett (1977), por exemplo, reporta que os índios viam a terra como uma dádiva a ser usada por todos e que a idéia de que a terra pudesse ser vendida era para eles inconcebível. (SS2.2) Al Chacon (1978, com. pess.) diz que, para os índios, a terra era como o fogo, o ar e a água, que obviamente não podem ser vendidos. (RT) Se desejamos entender as causas da perda de terra pelos índios, devemos concentrar nossa atenção para as discrepâncias econômicas e culturais entre a sociedade indígena e a do homem branco. (SI) O homem branco demandava uma exploração em larga escala dos recursos naturais, enquanto os índios usavam somente o essencial para a sua sobrevivência e respeitavam o equilíbrio ecológico natural. (SI) Além do mais, o sistema econômico da sociedade ao qual o homem branco pertencia era baseado na propriedade privada, enquanto, do ponto de vista do padrão cultural indígena, a terra era uma entidade doada pelo Grande Espírito, para uso coletivo por todos os homens. (GE) Desde o início do conflito entre os primeiros colonizadores e os índios, o futuro resultado já era claramente previsível: a derrota dos índios. (GE) Quando duas forças desiguais são confrontadas, o resultado é sempre a destruição da mais fraca.” Cliente_W10 Realce Cliente_W10 Realce 64 3.3 AS PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS Dependendo da mensagem a ser transmitida ao leitor, o autor pode lançar mão de diversas estratégias de redação de parágrafos. Analisaremos aqui apenas as estratégias que consideramos as mais importantes na redação de uma dissertação: definição, descrição, prescrição, comparação- contraste e causa-efeito. Estas estratégias são aplicadas somente aos parágrafos de discussão. Assim, uma composição do tipo causa-efeito deverá ser constituída por parágrafos de discussão que sigam a mesma estratégia. 3.3.1 A estratégia de definição Esta estratégia é empregada quando o autor quer explicar o que é um sistema, uma qualidade, ou com o que ela se assemelha, ou como ela funciona. Uma definição explica, limita e especifica. Um parágrafo de definição é constituído de duas partes: a sentença-tópico e os exemplos. 3.3.1.1 A sentença-tópico A sentença-tópico de um parágrafo de definição deve apresentar uma classe à qual o termo a ser definido pertence, e sua diferenciação, que esclarece como o termo difere dos outros membros da mesma classe. Existem cinco regras fundamentais para a elaboração de uma sentença-tópico de definição. a) A classe e o termo a ser definido devem pertencer à mesma classe gramatical.
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