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AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao prof. Licurgo Brito pelo incentivo na elaboração 
desta segunda edição. 
 
 
Aos meus alunos do curso de redação. Através da 
convivência com eles percebi a necessidade de 
melhorar a primeira edição deste livro. Espero ter 
conseguido. 
 
 3 
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO LEITOR 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Artigo primeiro e único: “Todo leitor tem direito a um texto 
claro, interessante, organizado de 
modo lógico e agradável de ser lido, 
independentemente de seu idioma 
natal, raça, posição social, convicções 
políticas ou crenças religiosas”. 
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NOTA DO AUTOR 
 
 
 As citações que não constam da lista de referências 
foram usadas apenas como ilustrações nos diversos exemplos de 
texto e não correspondem necessariamente a uma obra real. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO 
 
DEDICATÓRIA 
 
AGRADECIMENTOS 
 
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO LEITOR 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
2 UMA VISÃO GERAL 
 
2.1 OS ALICERCES DO TEXTO INTELIGÍVEL 
 
2.1.1 A clareza 
 
2.1.1.1 A fuga da união por vírgula. 
2.1.1.2 O Efeito “Conto de Fadas” 
2.1.1.3 O paralelismo 
2.1.1.4 O tempo verbal: presente ou passado? 
 
2.1.2 A organização 
 
2.2 A CONSTRUÇÃO DO TEXTO INTELIGÍVEL 
 
2.3 OS OITO PASSOS MAIS IMPORTANTES 
 
3 O PARÁGRAFO 
 
3.1 AS CINCO LEIS BÁSICAS 
 
3.1.1 Lei do foco 
 6 
3.1.2 Lei da unidade 
3.1.3 Lei da coerência 
3.1.4 Lei da continuidade 
3.1.5 Lei do desenvolvimento 
 
3.2 OS TRÊS TIPOS FUNDAMENTAIS DE PARÁGRAFO 
 
3.2.1 Parágrafo de discussão 
 
3.2.1.1 A sentença-tópico: caracterização 
3.2.1.2 O que uma sentença-tópico deve ser 
3.2.1.3 O que uma sentença-tópico não deve conter 
3.2.1.4 Sentenças de suporte primário e suporte 
secundário 
 
3.2.2 Parágrafo introdutório 
 
3.2.2.1 Tipos de sentença de abertura 
3.2.2.2 A sentença-tese 
3.2.2.3 Sentenças intermediárias 
 
3.2.3 Parágrafo de conclusões 
 
3.2.4 Exemplo de uma composição 
 
3.3 AS PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS 
 
3.3.1 A estratégia de definição 
 
3.3.1.1 A sentença-tópico 
 7 
3.3.1.2 Os exemplos 
3.3.1.3 As palavras de transição 
 
3.3.2 A estratégia de descrição 
 
3.3.3 A estratégia de prescrição 
 
3.3.4 A estratégia de comparação-contraste 
 
3.3.4.1 O padrão meio a meio 
2.3.4.2 O padrão característica 
3.3.4.3 As palavras de transição 
 
3.3.5 A estratégia causa-e-efeito 
 
3.3.5.1 A técnica causa para efeito 
3.3.5.2 A técnica efeito para causa 
3.3.5.3 As palavras de transição 
 
4 O CAPÍTULO 
 
4.1 O CAPÍTULO INTRODUTÓRIO 
 
4.1.1 O parágrafo de abertura 
4.1.2 Os parágrafos de revisão 
4.1.3 O(s) parágrafo(s) de apresentação 
 
4.2 OS CAPÍTULOS DE DISCUSSÃO 
 
4.2.1 O capítulo de metodologia 
 8 
 
4.2.1.1 A estratégia de definição 
4.2.1.2 A estratégia de prescrição 
 
4.2.2 O capítulo de testes controlados 
 
4.2.2.1 A estratégia de descrição 
4.2.2.2 A estratégia de comparação-contraste 
4.2.2.3 A estratégia de causa-e-efeito 
 
4.2.3 O capítulo de interpretação de dados reais 
 
4.2.3.1 A estratégia de descrição 
4.2.3.2 A estratégia de prescrição 
4.2.3.3 A estratégia de causa-e-efeito 
 
4.3 O CAPÍTULO DE CONCLUSÕES 
 
4.3.1 O parágrafo de reafirmação da apresentação 
4.3.2 O(s) parágrafo(s) de sumário 
4.3.3 Os parágrafos de generalização 
 
5 O RESUMO 
 
6 CONCLUSÕES 
 
 REFERÊNCIAS 
 
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 
 
 9 
EXERCÍCIOS 
Exercícios sobre a sentença-tópico: Fragmentos de texto 
Exercícios sobre a sentença-tópico: Clareza 
Exercícios sobre a sentença-tópico: Especificidade 
Exercícios sobre a sentença-tópico: Substitutos vulgares 
Exercícios sobre a sentença-tópico: Substitutos desgastados 
Exercícios sobre a sentença-tópico: Substitutos fracos 
Exercícios sobre a sentença-tópico: Verbosidade 
Exercícios sobre a sentença-tópico: Múltiplos significados 
Exercícios sobre a sentença-tese I 
Exercícios sobre a sentença-tese II 
 
 
 
 
 10 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
Qualquer sistema, do mais simples ao mais complexo, está 
sujeito a leis e regras. Leis são necessárias para manter a ordem 
e a harmonia de um sistema, caso contrário ele se tornará 
aleatório, imprevisível, difícil de entender. Evidentemente para 
bem desempenhar o seu papel, uma lei deve ser eficaz. Ela não 
pode ser absolutamente inócua como aquela vigente em 
Vermont, Estados Unidos que estabelece a ilegalidade de se 
assobiar debaixo d’água. Não pode ser tampouco truculenta, 
como a lei indonésia que pune com a decapitação aquele que se 
masturba. As leis da Natureza, como a lei da gravitação 
universal de Newton, são exemplos de economia e eficiência. 
Apenas algumas dezenas ou centenas delas conseguem manter 
virtualmente todo o universo funcionando. 
Toda lei é feita para atuar em algum elemento. A lei de 
Newton atua em qualquer partícula do universo que contenha 
massa. Os artigos do código penal atuam em indivíduos de uma 
sociedade. Uma língua também contém leis que atuam em 
diversos elementos. Por exemplo, a Ortografia é um conjunto de 
leis que atuam nas letras. Não é qualquer combinação de letras 
que forma um vocábulo. A Sintaxe, por sua vez é um conjunto 
de leis que regulamentam tanto a disposição das palavras na 
frase como a disposição das frases no discurso. Estas leis são 
rígidas e o não cumprimento delas implica erro gramatical. 
 Neste livro estudaremos regras que, à semelhança da 
Sintaxe, atuam sobre sentenças para formar parágrafos. Além 
disso, trataremos das leis que agem na disposição dos parágrafos 
para formar um capítulo e na dos capítulos para formar uma 
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dissertação. Estas leis não são tão rígidas como as leis 
gramaticais. O seu descumprimento implica apenas o perigo de 
o texto tornar-se menos claro. 
Na próxima seção apresentaremos uma visão geral sobre a 
estruturação de um texto claro e organizado. Nas seções 
seguintes analisaremos em detalhes as estruturas do parágrafo e 
do capítulo. A seção final será reservada a recomendações para a 
redação do resumo. Em adição a estas seções apresentamos em 
seções anexas, ao final do livro, exercícios resolvidos e 
propostos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2 UMA VISÃO GERAL 
 
2.1 OS ALICERCES DO TEXTO INTELIGÍVEL 
 
A capacidade de escrever bem é um dom restrito a uns 
poucos privilegiados? A facilidade de escrever bons textos pode, 
sem dúvida, ser devida a um dom trazido do berço. Machado de 
Assis, por exemplo, mesmo não tendo tido acesso a cursos 
regulares, publicou, aos 15 anos, seu primeiro trabalho literário. 
No entanto, qualquer estudante pode aprimorar a prática na 
redação de textos que transmitam ao leitor informação de forma 
fluida e agradável através de duas ferramentas fundamentais: a 
clareza e a organização. 
 
2.1.1 A clareza 
 
São diversas as recomendações existentes para tornar 
uma sentença mais clara. Muitas delas serão estudadas ao longo 
deste livro. Descreveremos nas próximas seções quatro preceitos 
fundamentais que são pouco conhecidos e pouco usados pela 
maioria dos estudantes, pelo menos de forma consciente. 
 
2.1.1.1 A fuga da união por vírgula 
 
 A união por vírgula consiste em unir duas orações 
principais através de uma vírgula ao invés de uni-las através de 
uma conjunção. Alternativamente, as orações principais podem 
ser separadas por um ponto ou por ponto e vírgula. Este mau 
hábito, bastante comum até mesmo em escritores profissionais, 
deve ser ferrenhamente combatido por ser um potencial gerador 
de textos obscuros. Considere o exemplo 
 
“Em 1937, num jornal local, começa a publicar em 
folhetins A Solidão, sua primeira peça teatral, encenada no 
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Teatro Dom Pedro II em junho de 1939, foi escrita 
especialmente para a comemoração do bicentenário da cidade”. 
 
A confusãoexistente nesta sentença só é percebida pelo 
leitor bem perto do seu término porque a união das duas orações 
principais por uma vírgula, fortuitamente permitiu uma 
continuidade, não só gramatical, mas também contextual. A 
sentença, corretamente pontuada seria 
 
“Em 1937, num jornal local, começa a publicar em 
folhetins A Solidão. Sua primeira peça teatral, encenada no 
Teatro Dom Pedro II em junho de 1939, foi escrita 
especialmente para a comemoração do bicentenário da cidade”. 
 
Assim, a união por vírgula, associada a uma fortuita 
continuidade contextual pode produzir textos muito difíceis de 
serem lidos, obrigando o leitor a retornar ao início da sentença 
para tentar desvendar a verdadeira mensagem que o autor 
desejaria transmitir. 
 
2.1.1.2 O Efeito “Conto de Fadas” 
 
 Como segundo exemplo de técnicas voltadas ao 
aprimoramento da clareza mencionamos o “Efeito conto de 
fadas”, desenvolvido por Williams (2000). Leia as duas 
sentenças abaixo e escolha a que você acha mais clara. 
 
1) “Uma vez, quando um passeio através da floresta estava 
sendo dado por parte de Chapeuzinho Vermelho, o surgimento 
do Lobo Mau ocorreu, causando susto em Chapeuzinho 
Vermelho.” 
 
2) “Uma vez, Chapeuzinho Vermelho estava passeando na 
floresta quando o Lobo Mau surgiu e a assustou.” 
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 É quase certo que você tenha preferido a sentença 2. Por 
quê? Desde a nossa infância, nos acostumamos a escutar 
narrativas simples em que o sujeito gramatical de uma oração 
coincide com o personagem da história e os verbos da oração 
coincidem com as ações da história. 
 Veja abaixo como na sentença 1 os sujeitos gramaticais 
(em negrito) não coincidem com os personagens (sublinhados) 
ao passo que na sentença 2 eles coincidem (ambos em itálico). 
 
1) “Uma vez, quando um passeio através da floresta 
estava sendo dado por parte de Chapeuzinho Vermelho, o 
surgimento do Lobo Mau ocorreu, causando susto no 
Chapeuzinho Vermelho.” 
 
2) “Uma vez, Chapeuzinho Vermelho estava passeando na 
floresta quando o Lobo Mau surgiu e a assustou.” 
 
Além disso, observe abaixo como na sentença 1 as ações 
(negrito) não coincidem com os verbos (sublinhado) ao passo 
que na sentença 2 ações e verbos coincidem (ambos em itálico). 
 
1) “Uma vez, quando um passeio através da floresta estava 
sendo dado por parte de Chapeuzinho Vermelho, o surgimento 
do Lobo Mau ocorreu, causando susto no Chapeuzinho 
Vermelho.” 
 
2) “Uma vez, Chapeuzinho Vermelho estava passeando na 
floresta quando o Lobo Mau surgiu e a assustou.” 
 
Numa oração, a presença de ações sob a forma de 
substantivos (passeio, surgimento) e de verbos vazios que não 
expressam nenhuma idéia (sendo dado, ocorreu) são 
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diagnósticos de fuga da estrutura “conto de fadas”, indicando 
que a sentença está ficando perigosamente obscura. 
Observe nas sentenças 3 e 4 abaixo como, num exemplo 
mais complexo, o “efeito conto de fadas” melhora 
substancialmente a clareza da sentença. 
 
3) “A despeito do seu conhecimento sobre a necessidade, 
por parte das cidades, de mais verba, seu veto sobre um 
orçamento maior para a educação almejava produzir pressão nos 
prefeitos por um aumento nos impostos municipais. (Sem o 
efeito conto de fadas)” 
 
4) “Embora o governador soubesse que as cidades 
precisavam de mais verbas para educação, ele vetou um 
aumento no orçamento para encorajar os prefeitos a aumentar 
os impostos municipais. (Com o efeito conto de fadas)” 
 
2.1.1.3 O paralelismo 
 
 O paralelismo pode ser melhor entendido através da 
analogia com a propriedade distributiva da soma, que garante a 
igualdade 3a+3b+3c = 3(a+b+c). A colocação do número 3 em 
evidência no termo da direita da equação acima a torna mais 
simples e menos cansativa. A mesma estrutura aparece na 
construção de sentenças. Considere o exemplo 
 
 “A poluição está aumentando nos rios, está aumentando 
nos lagos e está aumentando nos mares.” 
 
 Note como o texto fica pesado e cansativo de ser lido 
devido à repetição da locução “está aumentando nos”, que pode 
ser colocada em evidência: 
 
 “A poluição está aumentando nos rios, lagos e mares.” 
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 Observe que, se a sentença fosse ligeiramente diferente, 
 
 “A poluição está aumentando nos rios, está aumentando 
nos lagos e está aumentando nas florestas.”, 
 
não seria possível colocar a locução “está aumentando nos” em 
evidência porque “florestas” é substantivo feminino. Assim, 
teríamos que evidenciar apenas “está aumentando”, produzindo: 
 
 “A poluição está aumentando nos rios, nos lagos e nas 
florestas.”. 
 
 Este ganho em concisão pode, no entanto, ameaçar a 
clareza da sentença se esta se tornar mais longa e o autor for 
descuidado. Veja o exemplo abaixo. 
 
 “A poluição está aumentando em Belo Horizonte e São 
Paulo ameaça a qualidade de vida em Porto Alegre e Curitiba já 
está atingindo cidades serranas como Petrópolis e Teresópolis”. 
 
 A confusão nesta sentença foi causada pelo desrespeito a 
uma regra fundamental chamada paralelismo, que deve ser 
observada ao se colocarem locuções “em evidência”. A sentença 
acima, usando o paralelismo e a pontuação correta seria: 
 
 “A poluição está aumentando em Belo Horizonte e São 
Paulo, ameaçando a qualidade de vida em Porto Alegre e 
Curitiba e atingindo cidades serranas como Petrópolis e 
Teresópolis”. 
 
 Observe que o paralelismo exige que os primeiros 
vocábulos de cada segmento de sentença que foi agrupado 
(vocábulos em negrito na sentença acima que doravante serão 
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chamados “marcadores”) devem pertencer à mesma classe 
gramatical. Se forem verbos, o mesmo tempo verbal deve ser 
usado. Os marcadores, quando corretamente empregados, 
ajudam a tornar a sentença mais clara porque indicam que está 
começando um novo segmento de sentença com uma nova idéia. 
Na sentença mal-construída dois dos marcadores são verbos (em 
tempos diferentes) e um é advérbio (mostrados em negrito na 
sentença abaixo). 
 
 “A poluição está aumentando em Belo Horizonte e São 
Paulo ameaça a qualidade de vida em Porto Alegre e Curitiba já 
está atingindo cidades serranas como Petrópolis e Teresópolis”. 
 
 A falta de paralelismo é um erro comum em sentenças 
grandes porque induz o autor a se esquecer que cada sentença 
introduzida não é independente do termo que foi posto em 
evidência. Para testar se o paralelismo está correto, basta aplicar 
a propriedade distributiva, re-introduzindo a locução que foi 
posta em evidência. No primeiro caso a sentença fará sentido. 
 
 “A poluição está aumentando em Belo Horizonte e São 
Paulo, está ameaçando a qualidade de vida em Porto Alegre e 
Curitiba e está atingindo cidades serranas como Petrópolis e 
Teresópolis.”, 
 
mas não fará qualquer sentido no segundo caso: 
 
 “A poluição está aumentando em Belo Horizonte e São 
Paulo, está ameaça a qualidade de vida em Porto Alegre e 
Curitiba e está já está atingindo cidades serranas como 
Petrópolis e Teresópolis”. 
 
 A não observância do paralelismo pode ser catastrófica, 
como no exemplo abaixo. 
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 “Preciso de um empregado para ordenhar vacas e preciso 
de cozinheiras.” 
 
 Ao colocar “Preciso” em evidência a sentença correta 
seria 
 
 “Preciso de um empregado para ordenhar vacas e de 
cozinheiras.” 
 
 Note que os primeiros vocábulos dos segmentos de 
sentença que foram agrupados pertencem à mesma classe 
gramatical (a preposição “de”). Uma falha ao esquecer essa 
preposição muda completamente o sentido: 
 
 “Preciso de um empregado para ordenhar vacas e 
cozinheiras.” 
 
 
2.1.1.4 O tempo verbal: presente ou passado? 
 
 Os tempos verbais devem ser uniformizados? Qual o 
tempo mais apropriado? São comuns dúvidas deste tipo na hora 
de redigir uma dissertação. Ostempos verbais certamente não 
devem ser uniformizados porque eles não carregam apenas 
conotação cronológica. 
 O presente do indicativo é empregado também para 
expressar ações válidas a qualquer tempo, como: 
 
 “A luz se propaga a uma velocidade de trezentos mil 
quilômetros por segundo.” 
 
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 Por sua vez, o pretérito perfeito do indicativo, ao denotar 
uma ação já finalizada é associado a experimentos realizados, 
medições, observações, como: 
 
 “O veículo se deslocou a uma velocidade média de 
sessenta quilômetros por hora entre os pontos A e B.” 
 
 Assim, na descrição de procedimentos bem estabelecidos 
ou de leis bem conhecidas usa-se o presente do indicativo. 
 
 Exemplo: 
 
 “Existem três meios de se extraírem células-tronco 
adultas. A mais eficaz é a punção com agulha do sangue de 
cordão umbilical, após o nascimento da criança. É um 
procedimento indolor e que não oferece nenhum tipo de risco 
para a mãe ou para o recém nascido.” 
 
 Por outro lado os relatos de experimentos, realizados 
pelo autor, devem ser expressos no pretérito perfeito do 
indicativo ou na forma passiva “ser + particípio”, dependendo se 
o autor quer que sua própria presença nos experimentos seja 
notada ou não. 
 
 Exemplo: a presença do autor é explícita na descrição do 
experimento. 
 “Após o ato anestésico, posicionei a paciente em posição 
de litotomia e visualizei o colo através de um espéculo. Injetei 
2 ml do corante no colo uterino utilizando uma agulha de 
raquianestesia. Apliquei a injeção às 3, 6, 9 e 12 horas na 
mucosa e estroma próximo ao tumor. Evitei a injeção do corante 
dentro do tumor sempre que possível para diminuir o 
extravasamento do corante.” 
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 Exemplo: a presença do autor não é explícita na 
descrição do experimento. 
 
 “Após o ato anestésico, a paciente foi posicionada em 
posição de litotomia e o colo foi visualizado através de um 
espéculo. Foi injetado 2 ml do corante no colo uterino 
utilizando-se uma agulha de raquianestesia. A injeção foi 
aplicada às 3, 6, 9 e 12 horas na mucosa e estroma próximo ao 
tumor. A injeção do corante dentro do tumor foi evitada sempre 
que possível para diminuir o extravasamento do corante.” 
 
2.1.2 A organização 
 
 Mostramos acima que a clareza é fundamental para que a 
mensagem do autor seja captada corretamente. O leitor, 
entretanto deseja mais do que simplesmente entender a 
mensagem. Ele quer que a mensagem, corretamente recebida 
através da leitura, seja registrada na sua memória semântica 
(aquela que arquiva os conhecimentos gerais) para ser resgatada 
em momento oportuno. As informações recebidas pelo cérebro 
são classificadas e armazenadas em uma “vizinhança” onde 
informações correlatas já estão armazenadas. Assim, o cérebro 
funciona em módulos cooperativos, que se ajudam na hora de 
recuperar informações. Quanto mais caminhos levarem a elas, 
mais fácil será o "resgate". Se, por exemplo, um conceito estiver 
conectado simultaneamente a uma imagem e a um som, pelo 
menos três áreas diferentes do cérebro trabalharão para 
recuperá-lo. Existem diversas fórmulas mnemônicas como a 
associação de números a cores, música a frases complexas. A 
organização da mensagem transmitida ao leitor é de extrema 
importância, porque ela ajuda o cérebro a classificar e a 
armazenar a informação, facilitando assim o seu futuro resgate. 
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 Para ilustrar a importância da organização na 
recuperação da informação pelo cérebro, leia as duas seqüências 
de letras e números abaixo apenas uma vez. Depois disso, feche 
o livro e tente reproduzir ambas as seqüências de memória. 
 
 R 7 T 1 P 4 Q 3 V 2 U 6 S 5 
 
 P 1 Q 2 R 3 S 4 T 5 U 6 V 7 
 
 Muito provavelmente você conseguiu reproduzir a 
segunda seqüência, mas não a primeira. A organização imposta 
à segunda seqüência permitiu o armazenamento da informação 
numa vizinhança do cérebro onde informações anteriores sobre 
ordenamentos crescente e decrescente de números e letras já 
estavam armazenadas. No caso da primeira seqüência, o cérebro 
apresenta dificuldade em descobrir uma vizinhança contendo 
informação correlata, dificultando, desse modo, a recuperação 
da informação. Note que ambas as seqüências são formadas pelo 
mesmo grupo de letras e números. 
 Como exemplo adicional da importância da organização, 
estude atentamente a figura abaixo por 20 segundos. Depois, 
feche o livro e tente lembrar da forma e da cor de cada objeto, 
bem como da sua posição no plano da figura. 
 
 
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 Agora repita o procedimento para a figura abaixo 
 
 
 
 Muito provavelmente você conseguiu reproduzir as 
posições dos objetos no caso da segunda figura, mas não no caso 
da primeira. Isto se deve ao fato da organização dos objetos por 
grupo ter permitido você armazenar a informação demandada 
numa vizinhança do cérebro onde estava previamente 
armazenada informação sobre ordenamento linear de objetos 
idênticos. Conseqüentemente, foi preciso apenas que você 
identificasse cada categoria e contasse o número de objetos em 
cada uma. No caso da primeira figura, além da quantidade de 
objetos de cada tipo, foi preciso armazenar a posição de cada 
objeto. Como o padrão da distribuição de objetos no caso da 
primeira figura é aleatório, o cérebro não encontrou uma 
vizinhança com informação correlata previamente armazenada, 
tornando a tarefa praticamente impossível. 
 Ao longo deste livro serão estudadas diversas técnicas de 
organização de texto. Na próxima seção será mostrada, de modo 
sintético, a construção passo a passo de uma composição clara e 
organizada. Nos capítulos subseqüentes estas técnicas serão 
analisadas em detalhe. 
 
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2.2 A CONSTRUÇÃO DO TEXTO INTELIGÍVEL 
 
Antes de começar a escrever, o autor deve definir o 
público-alvo e estruturar a obra. A definição do público-alvo 
determina essencialmente o vocabulário a ser empregado. Ela 
permite que o autor não se sinta na obrigação de explicar ou 
definir jargões ou termos técnicos que são correntemente 
empregados por um determinado grupo de pessoas. A definição 
do público-alvo deixará claro para o autor que não se pode 
escrever para todas as pessoas e agradá-las ao mesmo tempo. 
Um texto sobre gravitação dirigido a alunos do primeiro grau 
será enfadonho e desinteressante para estudantes de pós-
graduação em física e vice-versa, mas o público-alvo eleito, em 
qualquer dos casos (os alunos do primeiro grau ou os estudantes 
de pós-graduação em física), certamente ficará satisfeito. Um 
texto que se proponha a atingir desde estudantes de primeiro 
grau até alunos de pós-graduação provavelmente não satisfará 
nenhum dos dois grupos. 
A estruturação de uma composição deve ser feita do 
seguinte modo. Primeiramente estabelece-se o assunto a ser 
desenvolvido, que contém a idéia ou tese que se deseja defender 
perante o leitor. A seguir, definem-se os suportes que irão servir 
de subsídio para a demonstração da tese. Por exemplo, imagine 
que você quer convencer o leitor sobre a enorme dependência do 
homem moderno em relação ao automóvel. Esta é a tese. Para 
dar suporte a ela, selecionamos algumas evidências, ou causas 
para essa suposta dependência exagerada do homem em relação 
ao automóvel. Uma vez definida a tese e o suporte, podemos 
construir a mais importante sentença isolada de uma 
composição: a sentença-tese. Esta sentença é importante porque 
ela ao mesmo tempo estrutura e organiza a composição. Por 
exemplo, considere a sentença-tese: “O homem moderno está 
cada vez mais dependente do automóvel porque este lhe 
proporciona conforto e status social”. Esta sentença não está 
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só estruturando a composição,ou seja, estabelecendo a tese e o 
suporte. Ela está também organizando a composição, ou seja, 
indicando que, primeiramente será reservado um parágrafo para 
mostrar ao leitor como o conforto influencia na dependência em 
relação ao automóvel, e depois um parágrafo sobre a influência 
do status social. 
De posse da sentença-tese podemos construir o parágrafo 
de abertura que consiste de três partes: a sentença de abertura, as 
sentenças intermediárias e a sentença-tese. Estas sentenças 
articulam-se do seguinte modo. 
 
 
INTERMEDIÁRIAS
TESE
ABERTURA
 
 
A sentença de abertura é uma sentença com conotação 
ampla, ao passo que a sentença-tese é específica. As sentenças 
intermediárias têm o papel de produzir uma transição suave 
entre estas duas sentenças. 
A sentença de abertura é uma sentença que tem a 
finalidade de atrair a atenção do leitor. Existem para isso quatro 
estratégias envolvendo: 
 
 a) humor; 
 b) drama; 
 c) citação; 
 d) polêmica. 
 
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 Exemplos: 
 
 a) “Carro é como marido: ruim com ele, pior sem ele!”; 
 b)“A poluição causada pelos automóveis está 
começando a comprometer a estabilidade climática 
do planeta”; 
 c) “Aquilo que guia e arrasta o mundo não são as 
máquinas, mas as idéias.”; 
 d) “Devemos alimentar o sonho do carro próprio, ou 
investir na produção de melhores veículos 
coletivos?”. 
 
 Suponha que escolhemos a opção (a). As sentenças 
intermediárias deverão fazer uma transição suave entre as já 
definidas: sentença de abertura e sentença-tese, como ilustrado 
abaixo. 
 “Carro é como marido: ruim com ele, pior sem ele!”. 
Este foi o desabafo de dona Teresa ao receber a conta do 
mecânico. O duplo protesto de dona Teresa reflete um 
sentimento cada vez mais comum entre a classe média 
brasileira: a crescente dependência física e psicológica do 
homem em relação ao automóvel. O dependente compulsivo 
desta droga mecânica executa ações tresloucadas, gastando 
mais com um eventual conserto do carro do que com alimentos 
para a família. Um viciado em estágio avançado que for 
temporariamente privado deste entorpecente ficará confinado 
em casa incapaz de encarar o mundo sem a sua armadura 
mecânica. O homem moderno está cada vez mais dependente do 
automóvel por que este lhe proporciona conforto e status 
social.” 
Neste ponto estamos preparados para começar o corpo da 
composição, isto é, os parágrafos de discussão. Como foi visto 
acima teremos dois parágrafos, de acordo com a estruturação 
dada pela sentença-tese: um sobre o conforto e o outro sobre o 
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 26 
status social que o automóvel proporciona ao seu dono. Vejamos 
agora a estrutura de um parágrafo de discussão. Ele é composto 
por três tipos de sentenças: a) a sentença-tópico; b) as 
sentenças de suporte primário; e c) as sentenças de suporte 
secundário. Estas sentenças articulam-se no parágrafo de 
discussão do seguinte modo. 
 
 
SENTENÇA-TÓP
SUPORTE PRIM
SUPORTE SECUND
ICO
ÁRIO
ÁRIO
 
 
Uma sentença-tópico é uma sentença que funciona como 
o rótulo do parágrafo. Ela estabelece e limita o assunto do 
parágrafo a um grau de detalhe que possa ser escrito em poucas 
linhas. Para tanto, ela tem que ser específica. Sentenças-tópico 
genéricas levam o autor a divagar, fugir do assunto e a introduzir 
mais de uma idéia no parágrafo (cada parágrafo deve ter apenas 
uma única idéia). Assim, uma possível sentença-tópico para 
nossa composição seria: “Um automóvel moderno proporciona 
alto grau de conforto aos passageiros”. Observe como essa 
sentença é suficientemente específica para ser desenvolvida em 
um parágrafo. No entanto, a sentença-tópico não deve conter 
apenas vocábulos específicos, caso contrário não haverá espaço 
para o desenvolvimento do parágrafo. Neste caso a sentença 
seria uma mera constatação de um fato. No exemplo acima o 
termo “conforto” permaneceu amplo porque ele será detalhado 
na discussão que será o alvo do parágrafo. Esse detalhamento se 
dá em dois níveis: o do suporte primário e o do suporte 
secundário. 
 27 
 Uma sentença de suporte primário é aquela que atua 
sobre a idéia da sentença-tópico, reafirmando, explicando, 
dividindo, adicionando ou ilustrando o que foi dito na sentença-
tópico. Assim, um exemplo que introduz uma subdivisão do 
termo “conforto” na sentença-tópico acima seria: “O isolamento 
acústico permite que o motorista se desconecte do ruidoso 
mundo exterior”. Esta sentença especifica um subgrupo do 
grupo “conforto”, que é o isolamento acústico. 
Devem seguir a sentença de suporte primário, uma ou 
mais sentenças de suporte secundário. Estas são sentenças que 
fornecem explicações ou ilustrações adicionais e mais 
específicas que as de suporte primário. São exemplos concretos 
na forma de citações, explicações, estatísticas que esclarecem os 
termos ainda gerais das sentenças de suporte primário, 
aumentando a chance do leitor entender e acreditar no que você 
está dizendo. Exemplo: “No interior do Honda Civic 2007, por 
exemplo, a intensidade sonora é 40 decibéis abaixo da 
intensidade sonora produzida pelo tráfego médio de uma 
cidade”. 
Observe que um outro conjunto de suportes primário e 
secundário poderia ser incluído neste mesmo parágrafo, como: 
“Adicionalmente, o ambiente climatizado de um veículo 
moderno proporciona ao motorista controle de temperatura e 
umidade. O ar condicionado de um Renault Clio, por exemplo, é 
capaz de manter a temperatura em 21 o C e a umidade em 75%, 
mesmo sob condições de verão tropical”. 
O segundo parágrafo de discussão deve, por sua vez, na 
nossa composição, abordar a elevação do status social 
promovida pela posse de um automóvel. Um exemplo, com a 
mesma estrutura de sentença-tópico, suporte primário e suporte 
secundário, seria: “A posse de um automóvel é comumente 
associada a um status social acima da média. O valor de 
compra e as despesas com a manutenção do veículo, por 
exemplo, evidenciam que o dono de um automóvel pertence a 
 28 
uma das classes mais elevadas em relação à renda familiar. O 
gasto com combustível e manutenção, mesmo para um carro 
pouco luxuoso, é de pelo menos R$700,00 por mês, o que limita 
o acesso ao carro às classes sociais A e B”. 
 
Finalmente, o último parágrafo de uma composição, 
chamado de parágrafo de conclusão consiste de três partes: a) 
sentença de reafirmação da tese; b) sentenças de síntese; c) 
sentença generalizadora. Estas sentenças articulam-se no 
parágrafo de conclusão do seguinte modo. 
 
 
SUMÁRIO
REAF.
TESE
GENERALIZAÇÃO
 
 
 
 Note que a estrutura deste parágrafo é invertida em 
relação ao parágrafo de abertura. Na primeira sentença é feita 
uma reafirmação do sentido da sentença-tese. Esta reafirmação 
não deve ser, evidentemente, palavra por palavra. Exemplo: “Se 
quisermos entender a dependência do homem moderno em 
relação ao automóvel, devemos analisar que benefícios ele traz 
aos seus proprietários”. 
As próximas sentenças devem efetuar um sumário dos 
principais resultados apresentados na composição. Exemplo: 
“Como proprietário de um automóvel, o homem desfruta do 
conforto proporcionado pela tecnologia moderna e se destaca 
da maioria em relação ao status social”. 
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 29 
A última sentença de um parágrafo de conclusões deve 
conter uma generalização que mostre a relevância, 
universalidade ou profundidade da composição. Exemplo: 
“Tudo aquilo que traz intensas e agradáveis sensações físicas e 
emocionais no homem, podem induzi-lo à dependência”. 
Vejamos agora como ficou a composição de corpo 
inteiro. Observe que sua estrutura global é: 
 
INTERMEDIÁRIAS
TESE
ABERTURA
SENTENÇA-TÓPICO
SUPORTE PRIMÁRIO 1
SUPORTE SECUNDÁRIO 1
SUPORTE PRIMÁRIO 2
SUPORTE SECUNDÁRIO 2
SENTENÇA-TÓPICO
SUPORTE PRIMÁRIO
SUPORTE SECUNDÁRIO
GENERALIZAÇÃO
REAF.
TESE
SUMÁRIO
 
 
“Carro é como marido: ruim com ele, pior sem ele!”. 
Este foi o desabafode dona Teresa ao receber a conta do 
mecânico. O duplo protesto de dona Teresa reflete um 
sentimento cada vez mais comum entre a classe média 
brasileira: a crescente dependência física e psicológica do 
homem em relação ao automóvel. O dependente compulsivo 
desta droga mecânica executa ações tresloucadas, gastando 
mais com um eventual conserto do carro do que com alimentos 
para a família. Um viciado em estágio avançado que for 
 30 
temporariamente privado deste entorpecente ficará confinado 
em casa incapaz de encarar o mundo sem a sua armadura 
mecânica. O homem moderno está cada vez mais dependente do 
automóvel por que este lhe proporciona conforto e status 
social. 
Um automóvel moderno proporciona alto grau de 
conforto aos passageiros. O isolamento acústico permite que o 
motorista se desconecte do ruidoso mundo exterior. No interior 
do Honda Civic 2007, por exemplo, a intensidade sonora é 40 
decibéis abaixo da intensidade sonora produzida pelo tráfego 
médio de uma cidade. Adicionalmente, o ambiente climatizado 
de um veículo moderno proporciona ao motorista controle de 
temperatura e umidade. O ar condicionado de um Renault Clio, 
por exe,plo, é capaz de manter a temperatura em 21 o C e a 
umidade em 75%, mesmo sob condições de verão tropical. 
A posse de um automóvel é comumente associada a um 
status social acima da média. O valor de compra e as despesas 
com a manutenção do veículo, por exemplo, evidenciam que o 
dono de um automóvel pertence a uma das classes mais 
elevadas em relação à renda familiar. O gasto com combustível 
e manutenção, mesmo para um carro pouco luxuoso, é de pelo 
menos R$700,00 por mês, o que limita o acesso ao carro às 
classes sociais A e B”. 
 Se quisermos entender a íntima relação do homem 
moderno com o automóvel, devemos analisar que benefícios ele 
traz aos seus proprietários. O proprietário de um automóvel 
desfruta do conforto proporcionado pela tecnologia moderna e 
se destaca da maioria em relação ao status social. É preciso, no 
entanto ser prudente. Tudo aquilo que produz intensas e 
agradáveis sensações físicas e emocionais pode levar à 
dependência”. 
 
2.3 OS OITO PASSOS MAIS IMPORTANTES 
 
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 31 
 Os oito passos mais importantes na construção de um 
texto inteligível são: 
 
1) Escrever, ler, reescrever; 
2) Reler, reescrever; 
3) Reler, reescrever; 
4) Reler, reescrever; 
5) Reler, reescrever; 
6) Reler, reescrever; 
7) Reler, reescrever; 
8) Reler, reescrever. 
 
 Colocada desta maneira, a recomendação pode parecer 
uma anedota, mas na realidade ela retrata, de modo fidedigno, 
exatamente o que fazem os bons escritores. A leitura repetida de 
um texto aumenta a percepção do autor sobre possíveis erros, 
inconsistências e falta de clareza. No entanto, reler um texto 
escrito por você mesmo pode não ser tão trivial como parece. 
Em primeiro lugar é preciso atenção e concentração extremas. 
Além disso, é preciso estar imbuído de um grande senso de 
humildade e auto-crítica, ou seja, ser extremamente exigente 
consigo, tendo a certeza que um texto sempre pode ser 
melhorado. É bastante pertinente neste contexto a sentença: “O 
gênio é composto por 1% de talento e de 99% de exaustivo 
trabalho”. Esta sentença (e suas variantes) é atribuída a tantas 
figuras ilustres, de Beethoven a Einstein, passando por Thomas 
Edison. Os bons textos, da mesma forma, demandam apenas 1% 
de inspiração, mas 99% de trabalho duro. Finalmente, uma das 
qualidades essenciais para se reler um texto e melhorá-lo é 
conseguir imaginar jamais tê-lo lido. Dessa maneira, abstraindo-
se de toda informação a priori sobre o texto, o autor poderá 
avaliá-lo, analisando apenas o emprego das palavras, se a 
mensagem está clara. Exatamente como fará o leitor. 
 
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3 O PARÁGRAFO 
 
3.1 AS CINCO LEIS BÁSICAS 
 
A menor unidade de comunicação com sentido completo é 
a frase. 
Ex.: “O fim da inflação.” 
Uma frase é caracterizada por: 
a) elemento básico: palavra. 
b) lei atuante no elemento básico: as palavras devem 
formar um sentido completo. 
Se mantivermos o elemento básico, mas mudarmos a lei, 
definiremos a oração como a menor unidade de comunicação 
formando um pensamento completo. 
Ex.: “O fim da inflação deve ser buscado.” 
Assim, uma oração é caracterizada por: 
a) elemento básico: palavra. 
b) lei que atua no elemento básico: as palavras devem 
formar um pensamento completo. 
Definição de Parágrafo: 
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 33 
“Parágrafo é um conjunto de orações conectadas lógica e 
suavemente, contendo uma única idéia central, bem definida, 
bem dividida e bem balanceada.” 
A definição acima mostra que o elemento básico do 
parágrafo é a oração. A estrutura do parágrafo é caracterizada 
pelas cinco leis estruturais abaixo definidas. 
 
3.1.1 Lei do foco: “Escolherás um assunto sobre todos os 
demais.” 
 
A analogia com uma fotografia é bem pertinente. Você 
não consegue fotografar todas as pessoas da sua cidade, nem 
tampouco todos os estudantes de sua turma. É mais apropriado 
fotografar uma única pessoa. Mesmo neste caso pode ser 
atrativo fotografar um detalhe do indivíduo, como o rosto, os 
olhos. Assim, o que vai ser enfatizado deve estar contido na 
foto, com enquadramento e foco adequados. Se se quer chamar 
a atenção para um detalhe do nariz, por exemplo, a foto não 
deve ser de corpo inteiro. Ao contrário, se se quer chamar a 
atenção para a proporção do corpo, não se pode tirar uma foto 
somente da cintura para cima. Se se deseja descrever o corpo 
todo em detalhe, serão precisas várias fotos de detalhe. 
Assim é na redação. Não se consegue escrever sobre tudo. 
O elemento fundamental da redação, o parágrafo, corresponde a 
uma foto, que deve ter enquadramento e foco para descrever um 
detalhe escolhido. A reunião de vários parágrafos conterá a 
descrição detalhada de um assunto mais complexo, por partes. 
Exemplo: parágrafo focalizado 
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“A dissertação de XXX está muito bem redigida. Em 
primeiro lugar, a introdução claramente estabelece o tema a ser 
estudado, bem como a abordagem empregada no trabalho. Além 
disso, observa-se o uso efetivo de técnicas de redação como as 
estratégias de definição, no capítulo de metodologia, e a de 
comparação-contraste, na descrição dos testes, em que a 
metodologia proposta é comparada com outras. Finalmente, o 
capítulo de conclusões reforça, de modo conciso, os principais 
resultados alcançados, culminando com sugestões de extensão 
da metodologia proposta a situações mais complexas, bem como 
de possíveis aplicações a outras áreas do conhecimento. A 
leitura dessa dissertação é um prazer para qualquer leitor.” 
 
Exemplo: parágrafo fora de foco 
 
“A dissertação de mestrado de XXX demorou muito tempo para 
ser concluída. No entanto, os resultados conseguidos foram 
muito importantes. A análise foi principalmente teórica e não 
houve exemplos práticos para substanciar as conclusões. O grau 
de originalidade não é muito elevado devido à semelhança com 
certos trabalhos já publicados. A redação é razoavelmente clara, 
embora pudesse melhorar bastante. A dissertação de XXX é 
polêmica.” 
3.1.2 Lei da unidade: “Não fugirás do assunto.” 
O assunto escolhido como idéia central do parágrafo não 
deve ser mudado dentro do parágrafo. Uma das maneiras mais 
fáceis de quebrar a unidade e a atenção do leitor é pular de um 
 35 
assunto para outro. O primeiro exemplo, além de foco, contém 
unidade: o assunto é a redação da dissertação de XXX. O 
segundo exemplo contém unidade, uma vez que o assunto é a 
própria dissertação de mestrado de XXX. Entretanto, em vez de 
escolher um aspecto do trabalho, vários aspectos foram 
abordados (falta de foco). O exemplo abaixo ilustra a falta de 
unidade em um parágrafo. 
Exemplo: falta deunidade 
“Concluir uma dissertação de mestrado é muito 
trabalhoso. Depois de escolher o tema, é preciso fazer uma 
pesquisa bibliográfica. No entanto, as bibliotecas de nossas 
universidades são muito pobres em quantidade e qualidade de 
títulos. Isto é uma conseqüência do estado de 
subdesenvolvimento ao qual nosso país é submetido. A 
instabilidade econômica do país condiciona grandes flutuações 
no mercado de trabalho e às vezes eu me pergunto se 
conseguirei um emprego que compense o esforço dispendido 
durante a pós-graduação.” 
3.1.3 Lei da coerência: “Darás uma seqüência lógica às partes de 
teu parágrafo.” 
O assunto escolhido no parágrafo é abordado por meio de 
alguns aspectos selecionados pelo autor. No primeiro exemplo, 
os aspectos são a introdução, o corpo e as conclusões da 
dissertação de XXX. Estes aspectos formam as partes do 
parágrafo, que devem estar conectadas de modo lógico por meio 
de uma ordem ou seqüência. Há casos em que as partes do 
parágrafo naturalmente definem uma ordem cronológica ou 
 36 
espacial. Receitas, por exemplo, começam pelos ingredientes, 
seguindo-se a preparação na ordem de execução. No primeiro 
exemplo, a ordem natural é acompanhar a seqüência da própria 
dissertação. O exemplo abaixo mostra o mesmo tipo de 
parágrafo com falta de coerência. 
Exemplo: falta de coerência 
“A dissertação de XXX está muito bem redigida. As 
conclusões estão reforçadas de modo conciso, bem como os 
principais resultados alcançados, culminando com sugestões de 
extensão da metodologia proposta a situações mais complexas. 
Não menos importante foi a maneira clara de apresentar o tema 
na introdução, junto com a abordagem empregada no trabalho. 
O desenvolvimento central da dissertação mostra o uso efetivo 
de técnicas de redação, como as estratégias de definição, no 
capítulo de metodologia, e o de comparação-contraste em que a 
metodologia proposta é comparada com outras. A leitura da 
dissertação de XXX é um prazer para qualquer leitor.” 
3.1.4 Lei da continuidade: “Lubrificarás as partes de teu 
parágrafo.” 
As partes de um parágrafo devem estar conectadas de 
modo a haver uma transição suave entre elas. Os “lubrificantes” 
são as conjunções, preposições, advérbios e as correspondentes 
locuções. A introdução dos lubrificantes tem dupla finalidade. 
Primeiro, torna o parágrafo mais agradável de ser lido. Segundo, 
torna a leitura mais fácil e mais clara, porque o tipo de 
lubrificante no início da oração já antecipa ao leitor a conexão 
da oração em questão com as anteriores ou com as subseqüentes. 
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Por exemplo: “É muito trabalhoso redigir de modo claro. Uma 
boa redação melhora muito a comunicação com o leitor. Vale a 
pena investir tempo aprimorando as técnicas de redação.” 
Observe como o fragmento de parágrafo acima pode ser 
melhorado através da conexão das três orações: 
“É muito trabalhoso redigir de modo claro. Entretanto, 
uma boa redação melhora muito a comunicação com o leitor. 
Portanto, vale a pena investir tempo aprimorando as técnicas de 
redação.” 
Observe que as duas primeiras orações carregam idéias 
opostas, realçadas pela conjunção entretanto. Contudo, a 
predominância da segunda idéia sobre a primeira permite uma 
conclusão em favor da segunda. A conclusão está reforçada pelo 
emprego da conjunção portanto na terceira oração. O fragmento 
acima poderia ser melhorado mais ainda, introduzindo-se desde 
o início a tese de predominância da segunda idéia sobre a 
primeira, de modo explícito por meio da conjunção embora, 
ligando a primeira oração (que passará a ser subordinada) com a 
segunda oração (que continuará a ser principal): 
“Embora seja muito trabalhoso redigir de modo claro, uma 
boa redação melhora muito a comunicação com o leitor. 
Portanto, vale a pena investir tempo aprimorando as técnicas de 
redação.” 
O domínio sobre o uso de conjunções, preposições e 
advérbios deve ser cultivado por todo autor. Um texto 
preliminar deve sempre ser relido tendo em mente a utilização 
dos “lubrificantes” mais eficientes possíveis. Esse trabalho é 
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como o de uma lapidação que transforma a pedra bruta, sem 
brilho nem beleza, numa rica peça de ornamento, agradável de 
se olhar. 
O parágrafo abaixo mostra como o primeiro exemplo de 
parágrafo poderia ter sido um parágrafo sem continuidade, se os 
“lubrificantes” em primeiro lugar, além disso e finalmente não 
tivessem sido empregados: 
Exemplo: falta de continuidade 
“A dissertação de XXX está muito bem redigida. A 
introdução claramente estabelece o tema a ser estudado, bem 
como a abordagem empregada no trabalho. Observa-se o uso 
efetivo de técnicas de redação como as estratégias de definição, 
no capítulo de metodologia, e a de comparação-contraste na 
descrição dos testes, em que a metodologia proposta é 
comparada com outras. O capítulo de conclusões reforça, de 
modo conciso, os principais resultados alcançados, culminando 
com sugestões de extensão da metodologia proposta a situações 
mais complexas, bem como de possíveis aplicações a outras 
áreas do conhecimento. A leitura dessa dissertação é um prazer 
para qualquer leitor.” 
3.1.5 Lei do desenvolvimento: “Serás justo na divisão de teu 
parágrafo, porque somente os justos entrarão para o reino 
dos bons autores.” 
Um parágrafo apresenta, naturalmente, uma divisão em 
três segmentos: a introdução, a discussão e a conclusão (note a 
semelhança com as divisões da dissertação e do capítulo). O 
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parágrafo deve estar bem balanceado nesta divisão, de modo que 
a introdução e a conclusão componham, cada uma, 
aproximadamente 1/6 do parágrafo. Os restantes 4/6 devem 
caber à discussão. Cada segmento (particularmente a discussão) 
deve ser plenamente desenvolvido. Os parágrafos seguintes 
ilustram os casos de parágrafos mal desenvolvidos e mal 
balanceados. 
Exemplo: parágrafo mal desenvolvido 
“A dissertação de XXX está muito bem redigida. Em 
primeiro lugar, a introdução claramente estabelece o tema a ser 
estudado, bem como a abordagem empregada no trabalho. Além 
disso, observa-se o uso efetivo de técnicas de redação como as 
estratégias de definição, no capítulo de metodologia, e a de 
comparação-contraste na descrição dos testes, em que a 
metodologia proposta é comparada com outras. A leitura dessa 
dissertação é um prazer para qualquer leitor.” 
Observe que a proposta é analisar a dissertação de XXX, e 
uma parte dessa dissertação, a conclusão, não foi referenciada. 
Desse modo, o parágrafo não está totalmente desenvolvido. 
Exemplo: parágrafo mal balanceado 
“A dissertação de XXX está muito bem redigida. O 
estudante dedicou boa parte de seu treinamento aprimorando 
técnicas de redação, chegando a fazer um curso especial sobre o 
assunto. Este treinamento mostrou-se muito útil durante a 
redação final da dissertação. Inicialmente, ele sentiu alguma 
dificuldade, e até mesmo um certo desânimo por achar que não 
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conseguiria melhorar de modo qualitativo a sua habilidade como 
autor. Contudo, com o passar do tempo, ele assimilou as idéias 
globais sobre uma boa redação e adquiriu um domínio efetivo 
sobre elas. Sua dissertação mostra que tanto a introdução e a 
conclusão, como os capítulos de discussão foram elaborados 
com bastante cuidado, utilizando as técnicas que ele aprendeu. A 
leitura de sua dissertação é um prazer para qualquer leitor.” 
Observe, no exemplo acima, que a introdução toma 
aproximadamente 4/6 do parágrafo, ao passo que a discussão 
apenas 1/6 (o oposto é o desejável). O que o parágrafo propõe é 
a análise da dissertação de XXX, e isto é feito somente com uma 
sentença. Este parágrafo está desbalanceado e tem a proporção 
 
 
INTRO
DISC
CO
DUÇÃO
USSÃO
NCLUSÃO
 
 
 
em vez da proporção “áurea”: 
 
 
 
 41 
 
INTRODUÇÃO
 
 
DISCUSSÃCONCLUSÃO
 
3.2 OS TRÊS TIPOS FUNDAMENTAIS DE PARÁGRAFO 
Os tipos fundamentais de parágrafo são: introdutório, de 
discussão e de conclusões. O parágrafo introdutório capta a 
atenção do leitor, apresenta e restringe o tema a ser discutido no 
capítulo. O parágrafo de discussão desenvolve a análise ou 
discussão do tema, substanciando as idéias apresentadas com 
exemplos específicos. O parágrafo de conclusões resume os 
principais pontos discutidos e esboça uma generalização que 
evidencie a relevância da discussão apresentada. Apresenta-
remos inicialmente o parágrafo de discussão que forma o corpo 
do capítulo (ou pequena composição). Uma vez dominada a 
técnica de redigir parágrafos de discussão, estudaremos como 
começar (parágrafo introdutório) e como terminar um capítulo 
(parágrafo de conclusões). 
3.2.1 Parágrafo de discussão 
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IMPORTANNNTE!
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3.2.1.1 A sentença-tópico: caracterização 
O parágrafo de discussão começa com uma sentença-
tópico, que deve não só indicar de que o parágrafo irá tratar, 
como também deixar claro do que o parágrafo não irá tratar. 
Assim, a sentença-tópico define e limita o tópico do parágrafo. 
A sentença-tópico difere de um título de três maneiras. 
Primeiro, ela é colocada dentro do texto e não fora dele. Se-
gundo, a sentença-tópico contém um pensamento completo, ao 
passo que o título não contém um sentido completo, mas apenas 
um fragmento de pensamento (frase). Terceiro, a sentença-
tópico tem o papel de estabelecer uma envoltória convergente 
que limita o parágrafo, ao passo que o título estabelece uma 
envoltória divergente que tende a expandir uma composição. 
 
 
 
 
 
 
Envoltória divergente 
 expandindo a composição 
Envoltória convergente 
 limitando o parágrafo 
TÍTULO 
SENTENÇA-TÓPICO 
 
Exemplo: sentença-tópico 
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“Elaborar uma tese de doutorado requer muito mais auto-
confiança que elaborar uma dissertação de mestrado.” 
Exemplo: sentença-tópico 
“Estudantes de Matemática, em geral, não gostam de 
Literatura porque a última é um assunto subjetivo.” 
3.2.1.2 O que uma sentença-tópico deve ser 
a) Completa – Uma sentença-tópico deve conter um 
pensamento completo e não apenas um fragmento. 
Exemplo: 
- fragmento: “Uma maneira segura de se trocar um pneu.” 
- sentença completa: “Há um modo seguro de se trocar um 
pneu.” 
b) Clara - A sentença-tópico é o rótulo do parágrafo, 
comunicando ao leitor o que será nele tratado. Assim, a 
sentença-tópico não deve confundir o leitor com a introdução de 
mais de um possível significado. 
Exemplo: sentença com vários possíveis significados. 
“Para se tocar qualquer tipo de instrumento, é preciso 
conhecer alguma coisa sobre ele.” 
Observe a multiplicidade de possíveis tópicos específicos 
que estão englobados nesta sentença, como: 
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 44 
Exemplo: 
“Para se tocar qualquer tipo de instrumento de percussão é 
preciso ter um bom senso de ritmo.” 
Exemplo: 
“Para se tocar trombone é preciso desenvolver lábios 
fortes” 
c) Específica – Esta qualidade está diretamente 
relacionada com a anterior. Uma sentença específica tende a ser 
clara, ao passo que sentenças genéricas tendem a ser obscuras. 
Há, entretanto, diferença entre ser claro e ser específico. Ser 
claro significa fazer uma asserção óbvia em vez de sugeri-la 
apenas. Ser específico significa limitar o tópico ao tamanho 
adequado ao parágrafo. 
Exemplo: sentença muito ampla 
“Hoje em dia é difícil seguir Os Dez Mandamentos, 
mesmo para os religiosos.” 
Exemplo: sentença específica 
“O pai de uma criança faminta é dolorosamente compelido 
a desrespeitar o sétimo mandamento.” 
Uma das estratégias mais eficazes na elaboração de 
sentenças-tópico específicas é a introdução de uma idéia 
controladora. 
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Exemplo: sentença muito ampla 
“O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz, é um livro 
interessante.” 
Exemplo: sentença específica pela introdução de uma idéia 
controladora. 
“O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz, é uma 
crítica incisiva aos valores religiosos da sociedade portuguesa”. 
 
Observe o papel literalmente controlador da idéia 
controladora. Adicionando mais ou menos detalhe à idéia 
controladora, o escopo do parágrafo é adequadamente 
sintonizado. A idéia controladora (grifada no exemplo acima) 
atua sobre uma classe mais ampla de características (“crítica 
incisiva”, no exemplo acima), especificando-a em nível desejado 
de detalhe. A classe mais ampla de características não deve, no 
entanto, ser tão ampla a ponto de impedir a atuação da idéia 
controladora. Assim, palavras como interessante, importante, 
polêmico não são suficientemente específicas para permitir a 
introdução de uma idéia controladora, devendo, portanto, ser 
evitadas em sentenças-tópico. Da mesma forma, tanto a classe 
mais ampla de características, como a idéia controladora não 
devem ser completamente específicas, caso contrário a sentença 
não conterá uma idéia a ser desenvolvida no parágrafo, mas uma 
simples constatação de um fato. Por exemplo 
 
“O motorista que avança o sinal vermelho é multado em 
cento e cinqüenta reais”. 
 46 
 
O que pode ser acrescentado a esta sentença? Posso 
discutir as causas que levam o motorista a avançar um sinal, ou 
a adequação da penalidade imposta, mas estas análises 
introduzirão uma nova idéia, o que me fará violar a Lei da 
unidade. Não há praticamente espaço para detalhamento ou 
ilustração da idéia contida na sentença. 
 A sentença-tópico deverá conter uma, ou no máximo duas 
palavras representando classes “ligeiramente” amplas. Entende-
se por “ligeiramente” ampla uma classe que permitir a alguns de 
seus elementos serem selecionados para ilustrar a idéia da 
sentença tópico. Considere o exemplo da sentença-tópico usada 
no capítulo 1: 
“Um automóvel moderno proporciona alto grau de 
conforto aos passageiros” 
Nesta sentença, a palavra “conforto” representa a classe 
“ligeiramente” ampla, de modo que dois ou três de seus 
elementos podem ser selecionados como suportes primários (V. 
seção 3.2.1.4) para ilustrar a idéia contida na sentença-tópico. 
Os elementos, pertencentes à classe “conforto” escolhidos neste 
exemplo foram “isolamento acústico” e “ambiente climatizado”. 
No exemplo 
“O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz, é uma 
crítica incisiva aos valores religiosos da sociedade portuguesa” 
há duas classes ligeiramente amplas: “crítica incisiva” e 
“valores religiosos”. Na seção que trata dos suportes primário e 
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secundário, ilustraremos como deve ser gerenciado o caso de 
haver mais de uma classe ligeiramente ampla na sentença-
tópico. Mais de duas classes ligeiramente amplas numa sentença 
tópico, entretanto, tendem a degradar a clareza do parágrafo, e 
devem, portanto, ser evitadas por quem está começando o 
treinamento na técnica de redação. 
3.2.1.3 O que uma sentença-tópico não deve conter 
a) Substitutos vulgares. São palavras que não são 
exatamente palavras, mas substitutos de palavras. 
Exemplo: substituto vulgar 
“Avião é uma coisa que voa.” 
b) Substitutos desgastados. Algumas palavras ou 
expressões já estão literalmente gastas de tanto uso e são 
chamadas clichés. Atualmente, elas não transmitem vitalidade a 
um texto. 
Exemplo: substitutos desgastados 
“Aquele homem é forte como um touro.” 
“Ele é tão delicado que é incapaz de ferir uma mosca.” 
“Minha boca é um túmulo.” 
c) Substitutos fracos. São palavras e expressões que 
carecem de força e exatidão. Devem ser substituídas por 
comparações ou por medidas exatas. 
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Exemplo: substituto fraco 
“Está muito quente hoje.” 
O termo muito quente acima pode ser substituído por: 
Exemplo: uso de comparação em lugar de substitutofraco 
“O calor de hoje chega a derreter o asfalto.” 
Exemplo: uso de medidas exatas em lugar de substitutos 
fracos 
“Hoje está fazendo um calor de 40 graus.” 
d) Verbalismo – A escolha da palavra certa é como a 
busca de uma gema perfeita. O autor deve dar maior peso à 
qualidade e não à quantidade de palavras. Especialmente 
trabalhos que serão submetidos à publicação devem sofrer uma 
redução drástica de palavras desnecessárias. 
Exemplo: verbalismo 
“Em nossos ensaios com a droga K, feitos com o propósito 
de testar seu efeito em coelhos, ela foi administrada a esses 
animais por via endovenosa. Nessas experiências, utilizamos 
quantidades relativamente pequenas de K, injetando de 2 a 3 
centímetros cúbicos de solução que continha 1% da substância 
ativa, em coelhos com 2 a 3 quilogramas de peso. Em todos os 
casos observados o resultado sempre foi fatal, morrendo os 
animais apenas decorrido um lapso de tempo igual a 5 minutos 
após a injeção” (Rey, 1972). 
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Exemplo: redução do verbalismo do exemplo 23 
“A injeção endovenosa de K mata os coelhos em 5 
minutos, na dose de l0 mg por quilograma de peso” (Rey, 1972). 
e) Substitutos para evitar repetição de palavras: este, esse, 
aquele, ele. – Embora a repetição excessiva das mesmas 
palavras seja cansativa ao leitor, a potencial perda de exatidão 
decorrente do uso dos pronomes este, esse, aquele e ele é muito 
mais prejudicial, de modo que tais substitutos devem ser 
evitados. 
Exemplo: perda da clareza através do uso de substituto 
para evitar repetição de palavras 
“O padre, o delegado e o médico chegaram 
simultaneamente ao local do acidente. Esse, no entanto não 
conhecia aquele.” 
3.2.1.4 Sentenças de suporte primário (SP) e suporte secundário 
(SS) 
A sentença de suporte primário consiste de grupos de 
palavras que atuam diretamente sobre a classe “ligeiramente” 
ampla discutida na seção 3.2.1.2. A estratégia fundamental do 
suporte primário é a divisão. Entretanto, a divisão pura leva a 
textos pouco enriquecidos. Eles podem ser melhorados bastante 
com as estratégias de divisão ilustrativa e divisão explicativa. 
 A sentença de suporte secundário tem como objetivo 
detalhar a informação contida na sentença de suporte primário. 
O suporte secundário pode atuar tanto na classe (através de 
explicações, ilustrações, estatísticas ou citações) como no 
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indivíduo membro da classe (através de exemplos concretos). 
No primeiro caso, qualidades da classe são especificadas 
enquanto no segundo, atributos do indivíduo são relacionados. 
As sentenças de suporte secundário, além de dar mais vida ao 
parágrafo, fornecem o detalhe suficiente para aumentar as 
chances de o leitor entender e acreditar na idéia contida na 
sentença-tópico. 
 Nos exemplos a seguir usaremos as convenções: ST para 
sentença-tópico, SP para suporte primário e SS para suporte 
secundário. Na sentença-tópico, a classe ligeiramente ampla a 
ser detalhada está realçada em negrito e o tipo de estratégia 
usada está assinalado em itálico. Os exemplos concretos são 
fictícios. 
 
A. (ST) Há trezentos anos atrás, Londres não era um local 
muito saudável para se viver. (SP divisão-ilustração) 
Londrinos, ricos ou pobres, banhavam-se raramente. (SS 
explicação) A maioria das famílias comprava diariamente 
uma quantidade limitada de água e não possuía banheiros 
privativos. 
 
B. (ST) Há trezentos anos atrás, Londres não era um local 
muito saudável para se viver. (SP divisão-ilustração) Não 
havia, por exemplo, coleta de lixo pela prefeitura. (SS 
ilustração) O lixo era acumulado em quintais ou despejado 
nas ruas. 
 
C. (ST) Há cem anos atrás, Londres apresentava sérios 
problemas acerca do lixo doméstico. (SP divisão-ilustração) 
O lixo era acumulado em quintais ou despejado nas ruas. (SS 
ex.concreto) Em 1880, a célebre Trafalgar Square, por 
exemplo, acumulava tanto lixo que a estátua do almirante 
Nelson parecia ter afundado um metro no solo. 
 
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D. (ST) Viver nas grandes cidades pode ser uma experiência 
desagradável. (SP divisão) A falta de solidariedade humana, 
por exemplo, é muito freqüente. (SS estatística) Uma 
pesquisa divulgada pelo Jornal da Tarde em 6 de maio de 
1998 relata que 90% dos entrevistados na cidade de S. Paulo 
declararam não parar para ajudar uma pessoa acidentada na 
rua. 
 
E. (ST) Viver nas grandes cidades pode ser uma experiência 
desagradável. (SP divisão-ilustração) A violência, por 
exemplo, pode provocar traumas psicológicos em muitas 
pessoas. (SS ex.concreto) Meu vizinho, após ser vítima de 
um seqüestro-relâmpago no Rio de Janeiro, em que foi 
ameaçado com uma arma apontada para sua cabeça, precisou 
de assistência constante de um analista durante seis meses. 
 
F. (ST) Uma dieta não balanceada pode ser prejudicial à 
saúde. (SP divisão-ilustração) Por exemplo, a ingestão de 
gorduras em excesso pode predispor uma pessoa a sofrer de 
doenças cardíacas. (SS citação-estatística) Um estudo da 
Sociedade Brasileira de Cardiologia (Weiss, 1999) relata que 
75% dos pacientes com enfarte do miocárdio atendidos no 
Instituto do Coração durante o ano de 1998 praticavam uma 
dieta rica em gorduras saturadas. 
 
G. (ST) Uma dieta não balanceada pode ser prejudicial à 
saúde. (SP divisão-ilustração) O hábito de ingerir 
suplementos vitamínicos, por exemplo, pode provocar 
doenças tão ou mais sérias que aquelas provocadas por um 
quadro de hipovitaminose. (SS ilustração) A ingestão de 
doses de vitamina A superiores a 3 mg diários, por exemplo, 
pode provocar doenças hepáticas graves, segundo uma 
pesquisa divulgada pelo Instituto de Medicina Americano. 
 
 52 
H. (ST) Uma dieta muito pobre em gorduras pode ser 
prejudicial à saúde. (SP divisão-explicação) As vitaminas 
A, D, E e K, por exemplo, são melhor absorvidas na presença 
de gordura. (SS citação) Flinn (1997) reporta uma grande 
incidência de casos de cegueira noturna entre pessoas que 
praticaram uma dieta isenta de gordura por mais de seis 
meses. 
 
 Observe, nos exemplos F e G, o estabelecimento de mais 
de uma classe ligeiramente ampla na sentença-tópico. A 
estratégia a ser usada para a sentença de suporte primário neste 
caso é a exemplificação de um elemento de cada classe. Note 
como no exemplo F, a sentença de suporte primário “Por 
exemplo, a ingestão de gorduras em excesso pode predispor 
uma pessoa a sofrer de doenças cardíacas” apresenta um 
elemento da classe “dieta não balanceada”, que é “ingestão de 
gorduras em excesso” e um elemento da classe “prejudicial à 
saúde”, que é “doenças cardíacas”. 
 Note também que o grau de detalhe sobre o assunto a ser 
discutido num parágrafo (Lei do foco) é variável e depende do 
objetivo que o autor quer atingir. O exemplo C apresenta uma 
sentença-tópico com grau de detalhe muito próximo ao da 
sentença de suporte primário do exemplo B. Para estudantes que 
estão iniciando na técnica de redação é recomendável que não se 
escolha um assunto muito abrangente porque ele pode induzir à 
fuga do assunto, quebrando a Lei do foco e a Lei da unidade. É 
importante ressaltar que as diretrizes mostradas neste livro não 
devem ser vistas como regras rígidas, que não possam ser 
quebradas, mas apenas como uma ajuda para o treinamento na 
produção de textos claros e organizados por aqueles que estão 
iniciando nas técnicas de redação. Uma vez dominadas as 
técnicas, as regras podem ser flexibilizadas desde que não 
prejudiquem a clareza. 
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 Mostramos abaixo dois parágrafos que abordam assuntos 
extremamente amplos na sentença-tópico. Eles foram escritos 
por um autor experiente (Parenti, 1980), que, ao invés de uma 
sentença de suporte primário e uma de suporte secundário, 
lançou mão de um grupo de sentenças de suporte primário 
(negrito) e um grupo de sentenças de suporte secundário 
(itálico). Apesar de não seguir rigorosamente as regras aqui 
apresentadas, o texto é claroe apresenta com fluência os 
suportes para a mensagem contida na sentença-tópico. 
 
1) Quanto mais rico o indivíduo, maiores serão suas 
oportunidades de gozar de isenções de imposto sobre ganhos de 
capital, títulos municipais e estaduais não tributáveis, ações e 
vários tipos de deduções profissionais e em transações 
comerciais. Para os muito ricos, virtualmente qualquer 
investimento pode ser protegido contra impostos. É 
permitido, por exemplo, que se lancem como perdas a 
manutenção ou a depreciação de: rebanhos de gado, times 
de baseball, plantações de laranja e edifícios comerciais 
durante o tempo em que eles não são lucrativos. Assim, 
lucros imaginários que não se concretizaram podem ser 
declarados como prejuízos, de modo que uma pessoa muito 
rica pode auferir lucros reais astronômicos, mas 
demonstrar prejuízo e gozar, portanto, de uma substancial 
dedução de imposto. Em 1976, 182 milionários não pagaram 
um centavo sequer de imposto. Bilionários como H. L. Hunt e J. 
Paul Getty, com rendas anuais de US$ 50 milhões e US$ 100 
milhões, respectivamente, pagaram somente alguns milhares de 
dólares de imposto. Em contraste, um lavador de pratos em 
Nova Iorque, que ganha US$ 4800 por ano, paga US$ 1213 em 
impostos federais, estaduais e municipais, mais outros US$ 200 
de ICM, ou seja, o equivalente a quatro meses de salário (Stern 
1977). 
 
 54 
2) Recentemente tem havido notícias sobre corrupção 
envolvendo funcionários federais, estaduais e municipais em 
todos os estados da União. No Congresso, “A corrupção é tão 
endêmica que se torna escandalosa. Mesmo os homens 
honestos são corrompidos  normalmente por grandes 
grupos econômicos e por indivíduos ricos que financiam 
campanhas eleitorais” (Agree, 1976). “Em alguns estados  
Louisiana, por exemplo  os escândalos são tão numerosos 
que expô-los não causam mais nenhum impacto na opinião 
pública”, relata um observador (Simon, 1964). Um 
republicano do estado de Illinois estima que um terço de seus 
colegas legisladores aceitam suborno. Num período de seis 
anos, o número de funcionários públicos condenados em cortes 
federais incluía um vice-presidente, três chefes de gabinete, três 
governadores, trinta e quatro deputados estaduais, cinco 
procuradores gerais, vinte e oito prefeitos, onze promotores 
públicos e 170 delegados  e esta lista inclui somente os mais 
azarados ou descuidados que puderam ser apanhados 
(Washington Monthly, fevereiro 1972) Corrupção generalizada 
tem sido constatada nas forças policiais de Chicago, Filadélfia, 
Indianápolis, Cleveland, Houston, Denver e inúmeras outras 
cidades menores, envolvendo práticas como proteção ao 
narcotráfico e a jogadores, aceitação de suborno, roubo ou 
encobrimento de roubo de lojas, pilhagem de parquímetros 
extorsão de prostitutas e intimidação de testemunhas que se 
propõem a depor contra crimes na polícia. 
 
 
3.2.2 Parágrafo introdutório 
O parágrafo introdutório é a parte mais crítica de uma 
composição ou capítulo. Ele contém a isca, ou sentença de 
abertura, especialmente construído para atrair a atenção e o 
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interesse do leitor. O parágrafo introdutório contém ainda, no 
seu término, a sentença-tese, que organiza e estrutura o 
desenvolvimento dos parágrafos seguintes. 
3.2.2.1 Tipos de sentença de abertura 
 A sentença de abertura, de acordo com seu conteúdo 
pode pertencer a quatro gêneros: humor, drama, citação e 
polêmica. 
a) Humor 
Exemplo: 
 “ No Rio de Janeiro, atletas que não levarem ouro, prata 
ou bronze, poderão ainda levar chumbo”. 
b) Drama 
Exemplo: 
“O desmatamento da floresta amazônica pode ocasionar 
profundas mudanças climáticas em todo o planeta.” 
c) Citação 
Exemplo: 
“Aquele que destruir o olho de outro homem terá seu olho 
destruído, escreveu Hammurabi em 2100 a.C.” 
d) Polêmica 
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Exemplo: 
“Apesar da crescente especialização do conhecimento 
humano, precisam os geofísicos de uma formação ampla?” 
3.2.2.2 A sentença-tese 
A sentença-tese é a mais importante sentença isolada 
porque ela limita e organiza a discussão nos parágrafos 
subseqüentes ao parágrafo introdutório. Esta sentença apresenta 
a tese (proposição) que será defendida na composição ou 
capítulo. Além disso, ela indica a ordenação dos argumentos. 
Observe a sentença-tese usada no capítulo anterior: “O homem 
moderno está cada vez mais dependente do automóvel por que 
este lhe proporciona conforto e status social”. Ela especifica 
que o primeiro parágrafo após a sentença-tese tratará da 
influência do conforto na dependência do homem em relação ao 
automóvel. Este parágrafo deverá começar com uma sentença-
tópico limitando-o a discutir essa influência. O parágrafo 
seguinte, por sua vez tratará da influência do status social e 
deverá iniciar com uma sentença-tópico que o limite a discutir 
este aspecto. 
 
Este exemplo mostra que uma sentença-tese bem dividida 
irá naturalmente dividir a composição (ou capítulo) em seções 
que a tornarão mais fácil de ser redigida, mais bem estruturada 
e mais agradável de ser lida. 
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Os exemplos abaixo comparam sentenças-teses divididas e 
não divididas. 
Exemplo: sentença-tese não dividida 
“Escrever uma boa dissertação exige muito esforço.” 
Exemplo: sentença-tese dividida 
“Ser policial requer importantes qualidades como 
prudência, coragem e rapidez em tomar decisões”. 
A divisão da sentença-tese pode seguir diversos critérios: 
a) Cronológico: deve-se proceder do mais antigo para o 
mais recente. 
Exemplo: divisão cronológica da sentença-tese 
“Sendo tão dependentes da mãe ao nascer, tão vulneráveis 
ao acasalamento e tão úteis ao morrer, as baleias são uma 
espécie em risco de extinção.” 
b) Espacial: deve-se proceder do mais afastado para o 
mais próximo. 
Exemplo: divisão espacial da sentença-tese 
“Para combater o mosquito transmissor da dengue, 
devemos acabar com os focos de águas paradas nos bosques, 
jardins, e em casa.” 
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c) Importância: deve-se proceder do menos para o mais 
importante. 
Exemplo: divisão por importância da sentença-tese 
“O vazamento de óleo provocado pela colisão de dois 
petroleiros foi uma calamidade porque manchou os cascos de 
vários barcos, sujou as areias da praia e levou milhares de aves e 
peixes à morte.” 
Na divisão da sentença-tese, o paralelismo deve ser 
rigorosamente respeitado (V. seção 2.1.1.3). 
3.2.2.3 Sentenças intermediárias 
Uma vez construídas a sentença de abertura e a sentença-
tese, conheceremos o início e o fim do parágrafo de abertura. 
Saberemos de onde sair e aonde chegar. As sentenças 
intermediárias têm o papel de promover uma transição suave e 
gradativa entre a sentença de abertura e a sentença-tese. 
 
Exemplo de parágrafo de abertura. 
 
 “Em plena avenida Atlântica no Rio de Janeiro, lê-se o 
nome sui generis de um bar: O Engenheiro que Virou Suco. Esse 
nome refere-se ao proprietário, o senhor João, que, após padecer 
por inúmeros anos sem emprego na sua profissão, decidiu abrir 
o próprio negócio. O caso do senhor João não é único no país e 
reflete uma dura realidade brasileira para aqueles que passaram 
quatro anos ou mais em uma universidade e não conseguiram 
concretizar o sonho de se tornarem profissionais na área que 
tanto almejaram. Os tempos mudaram e o desemprego está 
atingindo cada vez mais as pessoas portadoras de diplomas de 
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curso superior. Os jovens estão cada vez mais desmotivados a 
ingressar em um curso superior devido à alta taxa de 
desemprego entre os profissionais que cursaram universidades, à 
falta de direcionamento de ensino à carreira profissional e ao 
distanciamento entre os interesses acadêmicos e empresariais. 
3.2.3 Parágrafo de conclusões 
A estrutura do parágrafo de conclusões é oposta à do 
parágrafo introdutório. O parágrafo introdutório começacom 
uma sentença geral e caminha para a sentença-tese através de 
sentenças de transição mais e mais específicas. Assim, o 
parágrafo de conclusões começa com uma reafirmação da 
sentença-tese (não deve, entretanto, ser uma repetição palavra-
por-palavra da sentença-tese). As próximas sentenças devem 
resumir as idéias desenvolvidas na composição (ou capítulo). 
Por último, deve-se acrescentar uma generalização relevante que 
fará a composição terminar decisivamente, reforçando as idéias 
principais. Esta generalização é necessária para mostrar a 
relevância, universalidade ou aplicabilidade das idéias 
desenvolvidas. 
O parágrafo de conclusões é a última chance de persuadir 
o leitor; assim, devem-se evitar: 
a) expressões como eu acho, na minha opinião; 
b) introdução de novas idéias ou novas evidências; 
c) introdução de dúvidas ou questões. 
 60 
O conteúdo do parágrafo de conclusões é o que o leitor 
carregará consigo. Desse modo, deve-se tirar proveito desta 
última oportunidade de demonstrar segurança e convicção sobre 
o que foi escrito. 
3.2.4 Exemplo de uma composição 
 As regras estabelecidas anteriormente para elaboração 
dos 3 tipos de parágrafos (e também as cinco leis básicas) serão 
ilustradas na composição abaixo. 
Com a finalidade de guiar o estudante, os diversos tipos de 
sentenças estão marcados no texto, seguindo as seguintes 
convenções: 
(AB): sentença de abertura 
(IN): sentença intermediária 
(TE): sentença-tese 
(TO): sentença-tópico 
(SP): sentença de suporte primário 
(SS): sentença de suporte secundário 
(RT): sentença de reafirmação da tese 
(SI): sentenças sintetizadoras, ou de sumário 
(GE): sentenças generalizadoras 
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ÍNDIOS VS. COLONIZADORES: UMA BATALHA 
DESIGUAL 
(AB) “Nós desenvolvemos nossa grandiosidade num 
período em que uma sociedade migrante tomou conta de um 
continente rico e vazio”, disse o reitor Conant da Universidade 
de Harvard em 1948, referindo-se à colonização dos Estados 
Unidos pelos europeus. (IN) Sua afirmação foi correta, a menos 
do fato que a América do Norte no século XVI dificilmente 
poderia ser rotulada como vazia em termos de habitantes. (IN) 
Ao contrário, alguns milhões de índios, agrupados em centenas 
de tribos, encontravam-se espalhados por todo o país. (IN) 
Nesse momento, um conflito entre duas forças desiguais teve 
lugar. (IN) Os colonizadores brancos, graças à sua supremacia 
em número, organização e poder de destruição, expulsaram 
continuamente os índios de suas terras. (TE) Das raízes do 
conflito, três principais causas são evidentes como as mais 
decisivas na constante perda de terra sofrida pelos índios: o 
interesse do homem branco na exploração dos recursos naturais, 
a sua necessidade da própria terra e as dificuldades criadas pelos 
índios para a exploração e posse da terra pelo homem branco. 
(TO) A ganância do homem branco com respeito aos 
recursos altamente lucrativos, contidos no novo continente, foi 
uma força decisiva na constante destituição dos índios de suas 
terras. (SP1) Em primeiro lugar, o território ocupado pelos 
índios continha enormes quantidades de pedras preciosas e 
metais nobres. (SS1.1) Wissler (1941) afirma que por volta de 
1849 a Corrida do Ouro na Califórnia era tão intensa que os 
Teton, uma divisão dos Dakotas e Sioux, tornaram-se alarmados 
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e hostis. (SS1.2) Este mesmo autor diz que os Pueblos e os 
Mound Builders eram muito ricos em turquesa que eles próprios 
lavravam e trabalhavam, produzindo ornamentos. (SP2) Além 
disso, por todo o país os recursos florestais eram abundantes. 
(SS2) Alpern et al. (1977) reportam que em uma área em Maine, 
usurpada dos índios, as indústrias atuais estão extraindo madeira 
e utilizando-a na fabricação de celulose. 
 (TO) Outra principal causa da perda de terra pelos índios 
foi a necessidade que teve o homem branco da posse da terra 
para suas próprias finalidades. (SP1) Primeiramente, os 
colonizadores precisavam de um lugar para viver. (SS1) Trippett 
(1977) escreve que os pioneiros americanos possuíam um desejo 
incontrolável de possuir terras. (SP2) Adicionalmente, o número 
crescente de novas indústrias e a expansão desenfreada das 
indústrias antigas demandavam grandes extensões de terra, não 
só para as construções e equipamentos, mas também para a 
produção de matéria-prima. (SS2) Alpern et al. (1977) reportam 
que uma área altamente industrializada de 125 milhões de acres 
em Maine foi tomada ilegalmente dos índios em 1794. Hoje, 
essa área contém pelo menos quatro fábricas de celulose, duas 
indústrias madeireiras e milhares de acres ocupados por 
plantações de batata. 
(TO) Os índios criaram sérios problemas ao homem 
branco com respeito à exploração da terra, uma vez que eles 
pertenciam a mundos completamente diferentes e possuíam 
diferentes escalas de valores. (SP1) Primeiro, os índios não 
costumavam extrair da Natureza nada que fosse além de suas 
necessidades imediatas. (SS1) Mr. X (1978) diz que mesmo 
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atualmente muitos índios antiquados são contrários à extração 
de seus próprios recursos naturais nas reservas indígenas, porque 
eles ainda são sensíveis ao culto de reverência à Natureza. (SP2) 
Além disso, os índios usavam a terra de modo comunitário, 
diferentemente do homem branco, que herdou dos europeus um 
sistema econômico baseado essencialmente na propriedade 
privada. (SS2.1) Trippett (1977), por exemplo, reporta que os 
índios viam a terra como uma dádiva a ser usada por todos e que 
a idéia de que a terra pudesse ser vendida era para eles 
inconcebível. (SS2.2) Al Chacon (1978, com. pess.) diz que, 
para os índios, a terra era como o fogo, o ar e a água, que 
obviamente não podem ser vendidos. 
 (RT) Se desejamos entender as causas da perda de terra 
pelos índios, devemos concentrar nossa atenção para as 
discrepâncias econômicas e culturais entre a sociedade indígena 
e a do homem branco. (SI) O homem branco demandava uma 
exploração em larga escala dos recursos naturais, enquanto os 
índios usavam somente o essencial para a sua sobrevivência e 
respeitavam o equilíbrio ecológico natural. (SI) Além do mais, o 
sistema econômico da sociedade ao qual o homem branco 
pertencia era baseado na propriedade privada, enquanto, do 
ponto de vista do padrão cultural indígena, a terra era uma 
entidade doada pelo Grande Espírito, para uso coletivo por todos 
os homens. (GE) Desde o início do conflito entre os primeiros 
colonizadores e os índios, o futuro resultado já era claramente 
previsível: a derrota dos índios. (GE) Quando duas forças 
desiguais são confrontadas, o resultado é sempre a destruição da 
mais fraca.” 
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 64 
3.3 AS PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS 
Dependendo da mensagem a ser transmitida ao leitor, o 
autor pode lançar mão de diversas estratégias de redação de 
parágrafos. Analisaremos aqui apenas as estratégias que 
consideramos as mais importantes na redação de uma 
dissertação: definição, descrição, prescrição, comparação-
contraste e causa-efeito. Estas estratégias são aplicadas somente 
aos parágrafos de discussão. Assim, uma composição do tipo 
causa-efeito deverá ser constituída por parágrafos de discussão 
que sigam a mesma estratégia. 
3.3.1 A estratégia de definição 
Esta estratégia é empregada quando o autor quer explicar o 
que é um sistema, uma qualidade, ou com o que ela se 
assemelha, ou como ela funciona. Uma definição explica, limita 
e especifica. Um parágrafo de definição é constituído de duas 
partes: a sentença-tópico e os exemplos. 
3.3.1.1 A sentença-tópico 
A sentença-tópico de um parágrafo de definição deve 
apresentar uma classe à qual o termo a ser definido pertence, e 
sua diferenciação, que esclarece como o termo difere dos outros 
membros da mesma classe. Existem cinco regras fundamentais 
para a elaboração de uma sentença-tópico de definição. 
a) A classe e o termo a ser definido devem pertencer à 
mesma classe gramatical.

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