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Cilene Roque _________________________________________________________________________________________________________________ 1. Conhecer e diferenciar os Direitos Sexuais e Reprodutivos 2. Aprender os principais marcos sociopolíticos que fundamentaram os Direitos Sexuais e Reprodutivos no Brasil 3. Identificar e entender leis e programas de políticas públicas no Brasil, com foco na APS, para garantir e monitorar os direitos sexuais e reprodutivos da mulher, a fim de manter a autonomia e integridade à saúde (inclusive infertilidade) 4. Diferenciar: planejamento reprodutivo e controle da natalidade. 5. Conhecer os métodos contraceptivos disponibilizados no SUS e a anticoncepção de emergência. 6. Conhecer a Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento, evidenciando os direitos das mulheres e também do profissional médico 7. Compreender a legislação atual sobre o aborto legal (CP e Conselho de medicina) e a conduta médica a ser adotada. 8. Compreender a importância da equipe multidisciplinar no aborto legal 9. Diferenciar menopausa e climatério, além de definir sintomatologia envolvida nesta fase. 10. Conhecer as estratégias de atenção ao climatério / menopausa no SUS. Cilene Roque 1. Conhecer e diferenciar os Direitos Sexuais e Reprodutivos O que são direitos sexuais e direitos reprodutivos? São Direitos humanos já reconhecidos em leis nacionais e documentos internacionais. ➔ Direitos reprodutivos ● Direito das pessoas de decidirem, de forma livre e responsável, se querem ou não ter filhos, quantos filhos desejam ter e em que momento de suas vidas. ● Direito a informações, meios, métodos e técnicas para ter ou não ter filhos. ● Direito de exercer a sexualidade e a reprodução livre de discriminação, imposição e violência. ➔ Direitos sexuais ● Direito de viver e expressar livremente a sexualidade sem violência, discriminações e imposições e com respeito pleno pelo corpo do(a) parceiro(a). ● Direito de escolher o(a) parceiro(a) sexual. ● Direito de viver plenamente a sexualidade sem medo, vergonha, culpa e falsas crenças. ● Direito de viver a sexualidade independentemente de estado civil, idade ou condição física. ● Direito de escolher se quer ou não quer ter relação sexual. ● Direito de expressar livremente sua orientação sexual: heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade, entre outras. ● Direito de ter relação sexual independente da reprodução. ● Direito ao sexo seguro para prevenção da gravidez indesejada e ● Direito ao sexo seguro para prevenção da gravidez indesejada e de DST/HIV/AIDS. ● Direito a serviços de saúde que garantam privacidade, sigilo e atendimento de qualidade e sem discriminação. ● Direito à informação e à educação sexual e reprodutiva Referências: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Direitos sexuais, direitos reprodutivos e métodos anticoncepcionais / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2009. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/direitos_sexuais_reprodutivos_metodos_ant iconcepcionais.pdf. Acesso em: 06 de maio de 2021. 2. Aprender os principais marcos sociopolíticos que fundamentaram os Direitos Sexuais e Reprodutivos no Brasil A história dos Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos tem início junto com a luta das mulheres pela igualdade de gênero, com ênfase nos direitos à educação e ao voto durante meados do século XIX e primeira metade do século XX. Até a década de 60, persistiu a luta pela igualdade, baseada nas relações sociais de poder entre homens e mulheres, que se fortaleceu nos anos 60 e 70, momento em que os grupos feministas começaram com a luta para romper com a opressão da mulher e com um intenso trabalho para demonstrar as construções sociais dos papéis de mulheres e homens e na sociedade. Nesse período a luta das mulheres se focalizou na conquista do direito para decidir sobre seu próprio corpo, permitindo que as mulheres pudessem: ● Conhecer e/ou (re)conhecer seu próprio corpo; ● Pensar e refletir pela primeira vez nas questões relacionadas à vivência da sexualidade, ● (Re) conhecer o direito ao prazer sexual Refletir sobre a construção dos papéis de homens e mulheres na sociedade. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/direitos_sexuais_reprodutivos_metodos_anticoncepcionais.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/direitos_sexuais_reprodutivos_metodos_anticoncepcionais.pdf Cilene Roque No Brasil, os movimentos de mulheres tiveram uma atuação fundamental ao longo dos anos 80, lutando pelos direitos das mulheres pela justiça social e pela democracia, incorporando como prioritário na sua agenda, o tema da saúde da mulher e dos direitos reprodutivo. No Brasil, nos anos de 1960 e 1970, as políticas internacionais de controle da natalidade foram apresentadas como políticas de “planejamento familiar” ou “paternidade responsável”. Naquele período, as ações de planejamento familiar consistiram, basicamente, em ações de distribuição maciça de métodos contraceptivos entre mulheres em idade fértil (pílulas, DIU, diafragmas etc.) – principalmente entre aquelas de classes menos favorecidas que não poderiam obtê-los com recursos próprios – e na prática sistemática de esterilização cirúrgica de mulheres. (Bonan, 2002). Nos anos 1980, década da transição democrática e do contexto da expansão de direitos, o governo brasileiro se posicionou oficialmente sobre o planejamento familiar, rejeitando a perspectiva do controle demográfico e do exercício da sexualidade atrelado à reprodução. É lançado pelo Ministério da Saúde o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM). Referências: Vivendo a Adolescência. Direitos reprodutivos. Disponível em: http://adolescencia.org.br/. Acesso em: 07 de maio de 2021. Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). PLANEJAMENTO REPRODUTIVO: o que há de novo e além do planejamento familiar?. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29862/2/PLANEJAMENTO%20REPRODU TIVO_O%20QUE%20H%C3%81%20DE%20NOVO%20E%20AL%C3%89M%20DO%20P LANEJAMENTO%20FAMILIAR.pdf. Acesso em: 06 de maio de 2021. 3. Identificar e entender leis e programas de políticas públicas no Brasil, com foco na APS, para garantir e monitorar os direitos sexuais e reprodutivos da mulher, a fim de manter a autonomia e integridade à saúde (inclusive infertilidade) DIREITOS REPRODUTIVOS ● Assistência à anticoncepção: A atuação dos profissionais de saúde na assistência à anticoncepção envolve, necessariamente, três tipos de atividades: ● Atividades educativas ● Aconselhamento ● Atividades clínicas Essas atividades devem ser desenvolvidas de forma integrada, tendo-se sempre em vista que toda visita ao serviço de saúde constitui-se numa oportunidade para a prática de ações educativas que não devem se restringir apenas às atividades referentes à anticoncepção, no enfoque da dupla proteção, mas sim abranger todos os aspectos da saúde integral da mulher. Deve-se, ainda, promover a interação dos membros da equipe de saúde, de forma a permitir a participação dos diversos elementos nessas atividades, de acordo com o de responsabilidade requerido em cada situação. ● ATIVIDADES EDUCATIVAS As atividades educativas devem ser desenvolvidas com o objetivo de oferecer à clientela os conhecimentos necessários para a escolha e posterior utilização do método anticoncepcional mais adequado, assim como propiciar o questionamento e reflexão sobre os temas relacionados com a prática da anticoncepção, inclusive a sexualidade. As ações educativas devem ser preferencialmente realizadas em grupo, precedendo a primeira consulta, e devem ser sempre reforçadas pela ação educativa individual. Existem diferentes metodologias de trabalho de grupo. Cada serviço deve utilizar a que melhor se adapte às suas disponibilidades de pessoal, de http://adolescencia.org.br/ https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29862/2/PLANEJAMENTO%20REPRODUTIVO_O%20QUE%20H%C3%81%20DE%20NOVO%20E%20AL%C3%89M%20DO%20PLANEJAMENTO%20FAMILIAR.pdfhttps://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29862/2/PLANEJAMENTO%20REPRODUTIVO_O%20QUE%20H%C3%81%20DE%20NOVO%20E%20AL%C3%89M%20DO%20PLANEJAMENTO%20FAMILIAR.pdf https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29862/2/PLANEJAMENTO%20REPRODUTIVO_O%20QUE%20H%C3%81%20DE%20NOVO%20E%20AL%C3%89M%20DO%20PLANEJAMENTO%20FAMILIAR.pdf Cilene Roque tempo e de espaço, bem como às características e necessidades do grupo em questão. Seja qual for a metodologia utilizada, é de fundamental importância que as práticas educativas tenham um caráter participativo, permitindo a troca de informações e experiências baseadas na vivência de cada indivíduo do grupo. A linguagem utilizada pelo profissional de saúde deve ser sempre acessível, simples e precisa. ● ACONSELHAMENTO O aconselhamento é entendido como um processo de escuta ativa individualizado e centrado no indivíduo. Pressupõe a capacidade de estabelecer uma relação de confiança entre os interlocutores visando o resgate dos recursos internos do indivíduo para que ele tenha possibilidade de reconhecer-se como sujeito de sua própria saúde e transformação" (CN DST/AIDS – MS, 1997). Esta prática pressupõe: (1) a identificação e acolhimento da demanda do indivíduo ou casal, entendida como suas necessidades, dúvidas, preocupações, medos e angústias entre outras, relacionadas às questões de planejamento familiar e prevenção das DST/AIDS; (2)avaliação de risco individual ou do casal, para a infecção pelo HIV e outras DSTs; e (3) o reconhecimento pelo profissional de que o sucesso a ser alcançado depende da ação conjunta dos interlocutores (profissional e indivíduo ou casal). Implica, portanto, na promoção de um diálogo no qual a mensagem é contextualizada às características e vivência da(s) pessoa(s) e na necessidade de participação ativa nesse processo. A ideia demarcada no aconselhamento é a troca. Dessa forma torna-se possível o desenvolvimento de uma relação de confiança, condição básica para a realização dos procedimentos presentes no processo de aconselhamento. ● ATIVIDADES CLÍNICAS As atividades clínicas devem ser realizadas levando-se em conta que todo e qualquer contato que a mulher venha a ter com os serviços de saúde deve ser utilizado em benefício da promoção, proteção e recuperação da sua saúde. De tal forma que a primeira consulta deve ser feita após as atividades educativas incluindo: a anamnese; exame físico geral e ginecológico, com especial atenção para a orientação do auto-exame de mamas e levantamento de data da última colpocitologia oncótica para avaliar a necessidade de realização da coleta ou encaminhamento para tal; análise da escolha e prescrição do método anticoncepcional. As consultas subseqüentes ou consultas de retorno visam um atendimento periódico e contínuo para reavaliar a adequação do método em uso, bem como prevenir, identificar e tratar possíveis intercorrências. ● ESCOLHA DO MÉTODO ANTICONCEPCIONAL A assistência em anticoncepção pressupõe a oferta de todas as alternativas de métodos anticoncepcionais aprovadas pelo Ministério da Saúde, bem como o conhecimento de suas indicações, contra-indicações e implicações de uso, garantindo à mulher, ao homem ou ao casal os elementos necessários para a opção livre e consciente do método que a eles melhor se adapte. Pressupõe, ainda, o devido acompanhamento clínico-ginecológico à usuária, independentemente do método escolhido. Na decisão sobre o método anticoncepcional a ser usado devem ser levados em consideração os seguintes aspectos: ● A escolha da mulher, do homem ou do casal ● Características dos métodos ● Fatores individuais e situacionais relacionados aos usuários do método Características dos métodos: ● Eficácia. ● Efeitos secundários. ● Aceitabilidade. ● Disponibilidade. ● Facilidade de uso. ● Reversibilidade. Cilene Roque ● Proteção à Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e infecção pelo HIV. - Eficácia Todos os métodos anticoncepcionais apresentam uma taxa de falha que é calculada com o número de gestações não desejadas entre os usuários de um determinado método anticoncepcional nos primeiros 12 meses de uso. Dessa forma, duas taxas podem ser encontradas para cada método: uma mostra a taxa de falha entre os usuários de uma forma geral de uso, isto é, sem considerar todas as dificuldades que possam ter sido encontradas durante o uso (uso habitual). Outra taxa é aquela que leva em conta apenas os usuários que fizeram o uso correto e consistente do método escolhido (uso correto). - Efeitos secundários A inocuidade, ou seja, a ausência de quaisquer efeitos secundários adversos, seria condição ideal, ainda não conseguida nos anticoncepcionais até os dias atuais. Por outro lado, é também verdade que determinados métodos ocasionam mais efeitos secundários adversos que outros, sendo direito da/o usuária/o ser corretamente informada/o a respeito dessas diferenças. Além disso, o profissional de saúde deve estar capacitado para prevenir e tratar tais efeitos, assim como avaliar os riscos que o uso de determinados métodos possam acarretar à saúde. - Aceitabilidade A aceitação do método, o grau de confiança que nele se tem, a motivação para seu uso e uma correta orientação do profissional de saúde são importantes fatores para o sucesso do método escolhido. Por outro lado, a inadaptação psicológica e cultural a determinado método pode ser a maior causa de seu fracasso ou de mudança para outro método. - Disponibilidade O acesso gratuito aos métodos anticoncepcionais é condição fundamental para que a escolha do método se realize livremente, sem restrições. Isso é particularmente importante considerando que grande parte da população não tem condição de pagar pelo método. Assim, nas situações em que a oferta de determinado método não seja possível, é de maior importância considerar o seu custo, avaliando a possibilidade da/o usuária/o arcar com ele. Obviamente, isso só é válido para os métodos não existentes nos serviços de saúde da rede pública, pois nenhum profissional ou serviço pode cobrar da/o usuária/o qualquer tipo de honorário ou taxa por métodos ou procedimentos visando a sua colocação ou realização. - Facilidade de uso De nada adiantará a indicação de um método que tenha todas as qualidades anteriormente descritas se sua utilização for difícil, complexa ou não assimilada por grande parte da população. No entanto, é igualmente verdade que a maior parte das dificuldades relacionadas ao uso do método podem ser resolvidas com o adequado suporte do profissional de saúde. ● Reversibilidade O ideal é que os métodos anticoncepcionais sejam completa e imediatamente reversíveis, e que uma vez interrompido seu uso, haja recuperação total da fertilidade correspondente à faixa etária do/a usuário/a. ● Proteção a Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e Infecção pelo HIV A ocorrência de casos de infecção pelo HIV traz consequências para o exercício da sexualidade e da reprodução e produz uma série de desafios e desdobramentos para a área da saúde reprodutiva e sexual. Torna-se urgente estimular a prática da dupla proteção, ou seja, a prevenção simultânea das doenças sexualmente transmissíveis, inclusive a infecção pelo HIV/AIDS, e da gravidez indesejada. Isso pode se traduzir no uso dos preservativos masculino e feminino ou na opção de utilizá-los em Cilene Roque associação a outro método anticoncepcional da preferência do indivíduo ou casal. Nesse sentido, é de fundamental importância que os profissionais de saúde conversem com o indivíduo ou casal sobre DST e AIDS, propiciando assim percepção a respeito de situações de risco para essas infecções e uma reflexão sobre a necessidade de sua prevenção, favorecendo a adesão ao uso do preservativo. Considerando o fato de existirem os recursos disponíveis para tratamento ou controle de DST e AIDS, o diagnóstico para essas infecções deve ser oportunizado e garantido também nos serviços de planejamento familiar. Fatores individuais relacionadosaos usuários do método: ● Condições econômicas. ● Estado de saúde. ● Características da personalidade da mulher e/ou do homem. ● Fase da vida. ● Padrão de comportamento sexual. ● Aspirações reprodutivas. ● Fatores outros, como medo, dúvidas e vergonha. CRITÉRIOS CLÍNICOS DE ELEGIBILIDADE Foram classificadas 4 categorias que estabelecem a conveniência ou restrição ao uso de um método anticoncepcional, descritas a seguir: ● Categoria 1: O método pode ser usado sem restrição. ● Categoria 2: O método pode ser usado com restrições. As condições listadas na categoria 2 significam que o método em questão pode ser utilizado com alguma precaução. São situações nas quais as vantagens de usar o método geralmente superam os riscos. As condições da categoria 2 fazem com que o método não seja a primeira escolha e, se usado, deve ser acompanhado mais de perto. ● Categoria 3: Os riscos decorrentes do seu uso, em geral superam os benefícios do uso do método. Quando há uma condição da categoria 3 para um método, este deve ser o método de última escolha e, caso seja escolhido, é necessário um acompanhamento rigoroso da/o usuária/o. ● Categoria 4: O método não deve ser usado, pois apresenta um risco inaceitável. Nas situações em que a usuária apresenta mais do que uma condição da categoria 3, o método não deve ser usado. Também, nas situações em que não é possível um acompanhamento rigoroso da usuária, recomenda-se que as condições listadas na categoria 3 sejam consideradas como da categoria 4, ou seja, o método não deve ser usado. Quando a/o usuária/o apresenta, para o método escolhido, mais de uma condição da categoria 2, em geral o método deve ser considerado de última escolha, de uso excepcional e sob controle rigoroso. Os métodos comportamentais de planejamento familiar são técnicas para obter ou evitar a gravidez mediante a auto-observação de sinais e sintomas que ocorrem no organismo feminino ao longo do ciclo menstrual. Baseando-se na identificação do período fértil da mulher, o casal pode concentrar as relações sexuais nesta fase, caso deseje obter uma gravidez, ou abster-se de ter relações sexuais, caso deseje espaçar ou evitar a gravidez. Como métodos anticoncepcionais a taxa de falha, no primeiro ano de uso, atinge até 20%, em uso habitual. Entre usuários adaptados ao método (uso correto) este índice cai para 0,5 a 9%. Este manual constitui um dos quatro pilares de orientação em planejamento familiar da Organização Mundial da Saúde (OMS). Juntos, os quatro pilares dão suporte ao fornecimento e utilização seguros e eficazes dos métodos de planejamento familiar. Os dois primeiros pilares fornecem aos planejadores de políticas públicas e aos gestores de programas recomendações que possam ser utilizadas no estabelecimento ou na atualização de diretrizes e políticas de programas nacionais. Os Critérios Médicos de Elegibilidade para Uso de Métodos Anticoncepcionais (3ª edição, 2004) fornece orientação com relação à segurança e eficácia do uso de métodos contraceptivos específicos para pessoas portadoras de determinadas condições ou problemas médicos. As Recomendações Práticas Selecionadas para Uso de Métodos Cilene Roque Anticoncepcionais (2ª edição, 2005) respondem a perguntas específicas sobre como utilizar diversos métodos contraceptivos. Ambos os conjuntos de orientações resultam de reuniões de Grupos de Trabalho com especialistas convocadas pela OMS. O terceiro pilar, a Ferramenta para Tomada de Decisões para Clientes e Serviços de Planejamento Familiar, incorpora as orientações dos dois primeiros pilares e reflete a comprovação científica quanto ao melhor modo de atender às necessidades de planejamento familiar das clientes. Destina-se ao uso durante o aconselhamento. A ferramenta conduz o profissional e a cliente a percorrerem um processo estruturado, porém sob medida, que facilita a escolha e a utilização de um método de planejamento familiar. A Ferramenta para Tomada de Decisões também auxilia a orientar as consultas de retorno. Como quarto pilar, o Planejamento Familiar: um Manual Global para Serviços de Saúde oferece informações técnicas para auxiliar os serviços de atendimento à saúde a fornecer métodos de planejamento familiar de forma correta e eficaz. Sendo um completo guia de referência, o manual fornece orientação específica a respeito de 20 métodos de planejamento familiar tratando de muitas das necessidades dos serviços de saúde, desde a correção de interpretações equivocadas ao controle de efeitos colaterais. Da mesma forma que na Ferramenta para a Tomada de Decisões, este manual incorpora as orientações dos dois primeiros pilares. Também aborda questões de saúde afins que possam emergir no contexto do planejamento familiar. Referências: BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. Assistência em Planejamento Familiar: Manual Técnico/Secretaria de Políticas de Saúde, Área Técnica de Saúde da Mulher – 4a edição – Brasília: Ministério da Saúde, 2002. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/0102assistencia1.pdf. Acesso em: 06 de maio de 2021. OMS. Planejamento familiar UM MANUAL GLOBAL PARA PROFISSIONAIS E SERVIÇOS DE SAÚDE. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/44028/9780978856304_por.pdf;seq uence=6. Acesso em: 06 de maio de 2021. 4. Diferenciar: planejamento reprodutivo e controle da natalidade. CONTROLE DE NATALIDADE Chamamos de controle de natalidade as medidas feitas para que as mulheres não engravidem, sem considerar se essa é a vontade delas ou não. Assim, é diferente do planejamento familiar, que é um direito garantido pela Constituição Federal, que auxilia o casal, ou a mulher, a ter filhos ou a programar a gravidez para a época em que achar melhor. PLANEJAMENTO FAMILIAR/ REPRODUTIVO É um conjunto de ações em que são oferecidos todos os recursos, tanto para auxiliar a ter filhos, ou seja, recursos para a concepção, quanto para prevenir uma gravidez indesejada, ou seja, recursos para a anticoncepção. Esses recursos devem ser cientificamente aceitos e não colocar em risco a vida e a saúde das pessoas, com garantia da liberdade de escolha. O planejamento familiar é um direito sexual e reprodutivo e assegura a livre decisão da pessoa sobre ter ou não ter filhos. Não pode haver imposição sobre o uso de métodos anticoncepcionais ou sobre o número de filhos. O planejamento familiar é um direito das pessoas assegurado na Constituição Federal e na Lei n° 9.263, de 12 de janeiro de 1996, que regulamenta o planejamento familiar, e deve ser garantido pelo governo. 2 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/0102assistencia1.pdf https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/44028/9780978856304_por.pdf;sequence=6 https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/44028/9780978856304_por.pdf;sequence=6 Cilene Roque O planejamento familiar, como política pública, enfatizava a atenção à concepção (com a abordagem da infertilidade) e a contracepção de forma livre e consciente. Por essa razão, o programa destacava o papel fundamental das ações educativas e a necessária mudança das relações entre os profissionais de saúde e as mulheres, que deveriam ser vistas como sujeitos e não objetos da ação profissional. O planejamento reprodutivo deve ter como pressupostos os direitos reprodutivos e o direito à saúde. Os direitos reprodutivos foram definidos em oposição a qualquer intervenção de caráter coercitivo na esfera reprodutiva, seja para o controle ou imposição da natalidade. O conceito de planejamento reprodutivo é mais recente e reforça o pressuposto de que as pessoas devam ter assegurado os seus direitos sexuais e reprodutivos independente do desejo de constituir famílias. O planejamento reprodutivo só é possível quando há decisão com base em informações seguras sobre a fecundidade, o conhecimento sobre o corpo e o acesso aos recursos para levar adiante uma escolha. As escolhas devemser respeitadas e os profissionais de saúde devem estimular as potencialidades dos sujeitos de levarem adiante suas decisões reprodutivas. Se a ESCOLHA é ENGRAVIDAR e se há dificuldades para conceber naturalmente, mulheres e homens devem ter acesso à investigação e ao tratamento de problemas de saúde que dificultam a fertilidade, inclusive o acesso às tecnologias de alta complexidade (como, por exemplo, fertilização in vitro), quando necessário. Se a ESCOLHA é EVITAR a gravidez, mulheres e homens devem ter acesso às informações e aos métodos contraceptivos reversíveis, bem como à esterilização cirúrgica voluntária (laqueadura tubária e vasectomia), conforme os critérios da lei federal n◦ 9.263/96(Lei do planejamento familiar). 1 Referências: 1 Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). PLANEJAMENTO REPRODUTIVO: o que há de novo e além do planejamento familiar?. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29862/2/PLANEJAMENTO%20REPRODU TIVO_O%20QUE%20H%C3%81%20DE%20NOVO%20E%20AL%C3%89M%20DO%20P LANEJAMENTO%20FAMILIAR.pdf. Acesso em: 06 de maio de 2021. 2 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Direitos sexuais, direitos reprodutivos e métodos anticoncepcionais / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2009. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/direitos_sexuais_reprodutivos_metodos_ant iconcepcionais.pdf. Acesso em: 06 de maio de 2021. 5. Conhecer os métodos contraceptivos disponibilizados no SUS e a anticoncepção de emergência. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece várias opções de métodos contraceptivos e ações para auxiliar o planejamento sexual e reprodutivo, tanto para ajudar quem quer ter filhos com orientações para a concepção, quanto para prevenir uma gravidez indesejada, fornecendo informações importantes e acesso a recursos para a anticoncepção, e prevenir as doenças sexualmente transmissíveis. Os métodos contraceptivos são recursos que podem ser comportamentais, medicamentosos, ou cirúrgicos, usados pelas pessoas para evitar a gravidez indesejada. Existem métodos femininos e masculinos, reversíveis e irreversíveis. É importante lembrar que dentre todos os métodos contraceptivos, os preservativos feminino e masculino são os únicos que oferecem proteção contra doenças sexualmente transmissíveis, inclusive o HIV/aids e as hepatites virais. A escolha do método anticoncepcional deve contar com o auxílio e orientação de um profissional de saúde que oriente quais os métodos disponíveis, como utilizá-los, quais as vantagens e desvantagens de cada https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29862/2/PLANEJAMENTO%20REPRODUTIVO_O%20QUE%20H%C3%81%20DE%20NOVO%20E%20AL%C3%89M%20DO%20PLANEJAMENTO%20FAMILIAR.pdf https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29862/2/PLANEJAMENTO%20REPRODUTIVO_O%20QUE%20H%C3%81%20DE%20NOVO%20E%20AL%C3%89M%20DO%20PLANEJAMENTO%20FAMILIAR.pdf https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29862/2/PLANEJAMENTO%20REPRODUTIVO_O%20QUE%20H%C3%81%20DE%20NOVO%20E%20AL%C3%89M%20DO%20PLANEJAMENTO%20FAMILIAR.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/direitos_sexuais_reprodutivos_metodos_anticoncepcionais.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/direitos_sexuais_reprodutivos_metodos_anticoncepcionais.pdf Cilene Roque um e avalie junto com a mulher, o homem ou os dois qual o método mais indicado para cada situação. Estar bem informado é fundamental para se fazer a melhor escolha. Os e as adolescentes também têm direito ao acesso aos métodos contraceptivos, inclusive a pílula de emergência, e à confidencialidade e sigilo sobre sua atividade sexual e prescrição de métodos contraceptivos, não sendo necessário o consentimento ou participação dos pais/responsáveis nas consultas, conforme Estatuto da Criança e do Adolescente. ● Pílula anticoncepcional combinada São pílulas que contêm dois hormônios similares produzidos pelos ovários da mulher, o estrogênio e a progesterona. Podem ser usadas por quase todas as mulheres com segurança e eficácia. A pílula deve ser tomada, sem interrupções, durante 21 dias, de preferência no mesmo horário, todos os dias. As pílulas combinadas podem ser usadas por mulheres de qualquer idade, a partir da primeira menstruação, desde que não apresentem nenhuma contraindicação para o seu uso. Não deve ser utilizada durante a amamentação, pois interfere na qualidade e na quantidade do leite materno. ● Minipílula anticoncepcional É uma pílula que contém apenas um dos hormônios, a progesterona. Mais indicada durante a amamentação, iniciando o seu uso na 6ª semana após o parto. ● Anticoncepcionais injetáveis Os anticoncepcionais injetáveis também são feitos de hormônios similares aos das mulheres. Existem dois tipos de injetáveis: injetável mensal e injetável trimestral. Tal qual as pílulas anticoncepcionais, as injeções mensais são compostas de estrogênio e progesterona. Com a interrupção da injeção mensal, a fertilidade da mulher, que é a capacidade de engravidar, logo retorna, já com a trimestral, pode haver um atraso no retorno da fertilidade da mulher. A injeção trimestral pode ser usada durante a amamentação e, nesse caso, seu uso deve ser iniciado seis semanas após o parto. Com o uso da injeção trimestral, é muito frequente a mulher ficar sem menstruar e, em média, o retorno da fertilidade pode demorar quatro meses após o término do efeito da injeção. ● Diafragma O diafragma, método anticoncepcional de barreira e não hormonal, é um anel feito de silicone ou látex, tem bordas firmes e flexíveis, praticamente não apresenta efeitos colaterais, nem contra indicações. O método é uma opção importante para mulheres que não se adaptam aos métodos hormonais e pode ser interrompido a qualquer momento. As mulheres são diferentes, por isso existem diversos tamanhos de diafragma, sendo necessária a medição por profissional de saúde. O diafragma deve ser colocado em todas as relações sexuais antes de qualquer contato entre o pênis e a vagina e deve ser retirado oito horas após a última relação sexual. ● Dispositivo intra-uterino – DIU Cilene Roque O DIU é um pequeno objeto de plástico revestido de cobre, colocado no interior da cavidade uterina com fins contraceptivos, de caráter temporário e reversível. Ele não provoca aborto, porque atua antes da fecundação. É um método altamente eficaz, que não apresenta os efeitos colaterais do uso de hormônios e pode ser utilizado para prevenir a gravidez por um período de até 10 anos. O DIU pode ser retirado no momento em que a mulher desejar, permitindo que ela volte imediatamente à sua capacidade de engravidar. Não interfere nas relações sexuais nem na qualidade ou quantidade do leite materno. É contraindicado para mulheres que têm mais de um parceiro sexual, ou cujos parceiros têm outros parceiros/parceiras, e não usam preservativo em todas as relações sexuais. 1 Laqueadura / vasectomia ● No Brasil, a regulamentação deste procedimento deu-se através da Lei Nº 9.263/96. ● Possível de ser realizado em mulheres ou homens que tenham plena capacidade civil, que sejam maiores de 25 anos ou, pelo menos, com dois filhos vivos. Exige um prazo mínimo de 60 dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico. ● A esterilização será realizada desde que a pessoa assine um termo de consentimento. ● No caso de uniões estáveis, ambos os cônjuges devem estar em acordo. ● A lei veta também a esterilização após o parto ou aborto imediato, exceto em circunstâncias especiais avaliadas pelo médico. 2 ● Anticoncepção de Emergência: A anticoncepção de emergência, ou “pílula do dia seguinte”, como é conhecida popularmente, não deve ser usada como método regular, somente em casos como: falha do preservativo, falha em relação ao uso de algum outro método, ocorrer relações sexuais sem uso de método anticoncepcional, e por vítimas de violência sexual. A eficáciamaior se dá em até 72 horas, mas ela pode ser utilizada até cinco dias depois da relação desprotegida. Ela só tem efeito se a fecundação ainda não tiver ocorrido. Se a mulher já estiver grávida, a pílula não tem efeito abortivo. 3 Referências: 1 UNA- SUS. Conheça mais sobre os métodos contraceptivos distribuídos gratuitamente no SUS. 2015. Disponível em: https://www.unasus.gov.br/noticia/conheca-mais-sobre-os-metodos-contraceptivos-distr ibuidos-gratuitamente-no-sus. Acesso em: 06 de maio de 2021. 2 Cartilha de Métodos Contraceptivos da Unidade Básica de Saúde nº 1 de Planaltina do Distrito Federal. Disponível em: http://saude.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2020/09/Cartilha-sobre-M%C3 %A9todos-Contraceptivos_UBS-1-Planaltina-DF.pdf. Acesso em: 06 de maio de 2021. 3 Blog da saúde. Ministério da Saúde. 2016. Conheça os métodos contraceptivos oferecidos pelo SUS. Disponível em: http://www.blog.saude.gov.br/index.php/materias-especiais/51645-saiba-mais-sobre-os- metodos-contraceptivos-oferecidos-pelo-sus. Acesso em: 06 de maio de 2021. Imagem: Métodos contraceptivos ofertados pelo SUS. Disponível em: http://www.saude.sp.gov.br/resources/ses/perfil/gestor/homepage/programa-de-fortalec imento-da-gestao-da-saude-no-estado-de-sao-paulo/consultas-publicas-manuais-da-linha -de-cuidado-da-gestante-parturiente-e-puerpera/7_metodos_contraceptivos.pdf. Acesso em: 06 de maio de 2021. 6. Conhecer a Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento, evidenciando os direitos das mulheres e também do profissional médico https://www.unasus.gov.br/noticia/conheca-mais-sobre-os-metodos-contraceptivos-distribuidos-gratuitamente-no-sus https://www.unasus.gov.br/noticia/conheca-mais-sobre-os-metodos-contraceptivos-distribuidos-gratuitamente-no-sus http://saude.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2020/09/Cartilha-sobre-M%C3%A9todos-Contraceptivos_UBS-1-Planaltina-DF.pdf http://saude.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2020/09/Cartilha-sobre-M%C3%A9todos-Contraceptivos_UBS-1-Planaltina-DF.pdf http://www.blog.saude.gov.br/index.php/materias-especiais/51645-saiba-mais-sobre-os-metodos-contraceptivos-oferecidos-pelo-sus http://www.blog.saude.gov.br/index.php/materias-especiais/51645-saiba-mais-sobre-os-metodos-contraceptivos-oferecidos-pelo-sus http://www.saude.sp.gov.br/resources/ses/perfil/gestor/homepage/programa-de-fortalecimento-da-gestao-da-saude-no-estado-de-sao-paulo/consultas-publicas-manuais-da-linha-de-cuidado-da-gestante-parturiente-e-puerpera/7_metodos_contraceptivos.pdf http://www.saude.sp.gov.br/resources/ses/perfil/gestor/homepage/programa-de-fortalecimento-da-gestao-da-saude-no-estado-de-sao-paulo/consultas-publicas-manuais-da-linha-de-cuidado-da-gestante-parturiente-e-puerpera/7_metodos_contraceptivos.pdf http://www.saude.sp.gov.br/resources/ses/perfil/gestor/homepage/programa-de-fortalecimento-da-gestao-da-saude-no-estado-de-sao-paulo/consultas-publicas-manuais-da-linha-de-cuidado-da-gestante-parturiente-e-puerpera/7_metodos_contraceptivos.pdf Cilene Roque O abortamento representa um grave problema de saúde pública, sendo causa importante de morte materna. O Ministério da Saúde reconhece este problema e estabelece normas para o atendimento ao abortamento nos serviços de saúde. O que você encontra na norma técnica 1. Contextualização do abortamento no Brasil 2. Marco conceitual de atenção ao abortamento 3. Aspectos ético-profissionais e jurídicos do abortamento 4. Três pilares da atenção ao abortamento Introdução • O Ministério da Saúde, atento à primazia dos direitos humanos e sensível às reivindicações dos movimentos feministas e de mulheres, tem o compromisso com a garantia dos direitos reprodutivos e dos direitos sexuais das mulheres. • Estima-se que ocorram, considerando apenas o Brasil, mais de um milhão de abortamentos induzidos ao ano, sendo uma das principais causas de morte materna no País. • Na nova edição da norma técnica (a primeira é de 2005), são incorporados objetivos específicos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, a qual busca promover a atenção qualificada e humanizada – obstétrica e neonatal. Essa atenção inclui a assistência ao abortamento em condições seguras, para mulheres e adolescentes. Objetivo da Norma Técnica: subsidiar a prática profissional • A Norma pretende fornecer aos profissionais subsídios para que possam oferecer não só um cuidado imediato às mulheres em situação de abortamento, mas também, na perspectiva da integralidade deste atendimento, disponibilizá-las alternativas contraceptivas, evitando o recurso a abortos repetidos. • Para mulheres com abortamentos espontâneos e que desejem nova gestação deve ser garantido um atendimento adequado às suas necessidades. • É fundamental reconhecer que a qualidade da atenção almejada inclui aspectos relativos à sua humanização, incitando profissionais, independentemente dos seus preceitos morais e religiosos, a preservarem uma postura ética, garantindo o respeito aos direitos humanos das mulheres. Marco conceitual da Norma técnica de atenção humanizada ao abortamento • A inclusão de um modelo humanizado de atenção às mulheres com abortamento é propósito da Norma. • Não apenas como um guia de cuidados, mas também na intenção de oferecer às mulheres, aos serviços de saúde e à sociedade um novo paradigma que torne seguro, sustentável e efetivo a atenção às mulheres em situação de abortamento. O que a norma técnica define como abortamento? Abortamento é a interrupção da gravidez até a 20ª ou 22ª semana e com o produto da concepção pesando menos que 500g. Aborto é o produto da concepção eliminado no abortamento. São várias as causas de abortamento, contudo, na maioria das vezes, a causa permanece indeterminada. Muitas gestações são interrompidas por decisão pessoal da mulher. A atenção ao abortamento deve se apoiar em três pilares 1. Acolher e orientar 2. Atenção clínica ao abortamento 3. Planejamento reprodutivo pós-abortamento 1. Acolher e orientar • Quando as mulheres chegam aos serviços de saúde em processo de abortamento sua experiência é física, emocional e social. Geralmente, elas verbalizam as queixas físicas, demandando soluções, e calam-se sobre suas vivências e sentimentos. • A mulher que chega ao serviço de saúde em situação de abortamento espontâneo, induzido ou provocado, está passando por um momento difícil e pode ter sentimentos de solidão, angústia, ansiedade, culpa, autocensura, medo de falar, de ser punida, de ser humilhada, sensação de incapacidade de engravidar novamente. Cilene Roque • Todos esses sentimentos se misturam no momento da decisão pela interrupção, sendo que para a maioria das mulheres, no momento do pós-abortamento, sobressai o sentimento de alívio. Acolhimento é o tratamento digno e respeitoso, a escuta, o reconhecimento e a aceitação das diferenças, o respeito ao direito de decidir de mulheres e homens, assim como o acesso e a resolubilidade da assistência à saúde. 2. Atenção clínica ao abortamento É preciso saber classificar adequadamente, pois isso ajudará a definir a conduta adequada: • ameaça de abortamento • abortamento completo • abortamento inevitável/incompleto • abortamento retido • abortamento infectado • abortamento habitual • abortamento eletivo previsto em lei • É importante que a escolha do tipo de método para o abortamento faça parte de um processo de decisão compartilhada entre a mulher e os profissionais de saúde. • Os diferentes métodos disponíveis devem ser igualmente oferecidos de forma apropriada, garantindo que a decisão seja a mais livre, consciente e informada possível. • Durante o primeiro trimestre da gravidez consideram-se métodos aceitáveis a aspiração intrauterina (manual ou elétrica), o abortamento farmacológico e a curetagem uterina. • A ordem de escolha para os diferentes métodos depende das condições de cada serviço e da preferência da mulher, além da necessária avaliação do risco-benefício de cada procedimento. • Deve-se adotar critériosque considerem e respeitem: (a) a disponibilidade de métodos em cada serviço de saúde; (b) a capacitação, habilidade e rotinas dos serviços de saúde para cada método; (c) as condições clínicas, sociais e psicológicas da mulher. 2. Atenção clínica ao abortamento: escolhendo as técnicas de esvaziamento uterino A Atenção clínica compreende a classificação adequada, a definição do método, a execução adequada e o manejo da dor. ● Abortamento farmacológico: é a utilização de fármacos para indução do abortamento ou abreviação do abortamento em curso. – Misoprostol e Ocitocina ● Aspiração Manual Intrauterina (Amiu): Procedimento que utiliza cânulas de Karman, com diâmetros variáveis, de 4 a 12mm, acopladas a seringa com vácuo, promovendo a retirada dos restos ovulares através da raspagem da cavidade uterina e por aspiração. Curetagem uterina: realizada com a utilização da cureta, promovendo-se uma raspagem da cavidade uterina, extraindo-se o material desprendido pelo instrumental Em qualquer das técnicas utilizadas: promover o ALÍVIO DA DOR. 3. Planejamento reprodutivo pós-abortamento • Mulher com complicações de abortamento, espontâneo ou por decisão pessoal, tem necessidade de cuidados destinados a protegê-la das consequências físicas e psicológicas do processo que está sofrendo, assim como evitar que volte a ser acometida do mesmo problema no futuro. • Nos casos de abortamento provocado, a adoção imediata de contracepção tem se mostrado como uma medida eficaz para reduzir o risco de novos abortamentos. Idealmente, todos os métodos contraceptivos devem estar disponíveis no local onde se atende à mulher em abortamento, dando oportunidades às mulheres de iniciar o uso antes de receber alta. Em que pese a obrigatoriedade da orientação e oferta de métodos contraceptivos, as mulheres devem ter absoluta liberdade de aceitar ou não os métodos acima citados. Cilene Roque A atenção ao abortamento deve se apoiar em três pilares 1. Acolher e orientar: ouvir a mulher, a partir de princípios éticos dos direitos reprodutivos 2. Atenção clínica ao abortamento: classificar, decidir como fazer e executar, lembrando da necessidade de manejo da dor 3. Planejamento reprodutivo pós-abortamento: discutir com a mulher sobre suas intenções reprodutivas e oferecer os métodos contraceptivos disponíveis, orientando sobre continuidade do cuidado em serviços de atenção básica. Referências: Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Atenção Humanizada ao Abortamento. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29903/2/ATEN%C3%87%C3%83O%20HU MANIZADA%20AO%20ABORTAMENTO.pdf. Acesso em: 07 de maio de 2021. 7. Compreender a legislação atual sobre o aborto legal (CP e Conselho de medicina) e a conduta médica a ser adotada. No Brasil, o Código Penal Brasileiro proíbe a prática do aborto, seja esse provocado pela gestante ou com seu consentimento (Art.124), seja esse provocado por terceiro com ou sem consentimento da gestante (Arts. 125 e 126), bem como prever a qualificadora se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave, ou, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte (Art.127). Nada obstante a prática ilegal do aborto, o próprio Código Penal, em seu artigo 128, admite exceções em que não se pune o aborto praticado pelo médico, são nos casos de se tratar de um aborto necessário, isto é, se não houver outro meio de salvar a vida da gestante, no caso de se tratar de um aborto decorrente de uma gravidez fruto de um estupro, tendo ainda o Supremo Tribunal Federal (STF) reconhecido, quando do julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) de º 54, que não deve ser considerado como aborto a interrupção terapêutica induzida da gravidez de um feto anencéfalo. Com efeito, as dúvidas que surgem entre os profissionais de saúde é como proceder quando se estar diante de uma das hipóteses em que é permitido o aborto legal e quando poderá opor sua objeção de consciência, a fim de se resguardar juridicamente, quando da realização da interrupção da gravidez nos casos previstos em lei. Neste sentido, o Ministério da Saúde disciplina, na sua Portaria de nº 2.282, de 27 de agosto de 2020, sobre o Procedimento de Justificação e Autorização da Interrupção da Gravidez nos casos previstos em lei, no âmbito do Sistema Único de Saúde-SUS, o qual é condição necessária para adoção de qualquer medida de interrupção da gravidez no âmbito do SUS, excetuados os casos que envolvem riscos de morte à mulher. Em outras palavras, a portaria dispõe sobre as medidas assecuratórias da licitude do procedimento de interrupção da gravidez nos casos previstos em lei quando realizado no âmbito do SUS. Segundo a mencionada Portaria do Ministério da Saúde, o procedimento de justificação e autorização da interrupção da gravidez nos casos previstos em lei se compõe de quatro fases e deverão ser registradas no formato de termos, arquivados em anexos ao prontuário médico da paciente, garantida a confidencialidade desses termos. A primeira fase é o relato circunstanciado do evento, realizado pela própria gestante, perante dois profissionais de saúde do serviço. Tal relato é realizado em formato de “Termo de Relato Circunstanciado”, descrevendo o local, dia e hora aproximada do fato, o tipo e forma de violência, características dos agentes da conduta, e, se possível, a identificação de testemunhas, se houver, ao final, deve ser assinado pela gestante ou, https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29903/2/ATEN%C3%87%C3%83O%20HUMANIZADA%20AO%20ABORTAMENTO.pdf https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/29903/2/ATEN%C3%87%C3%83O%20HUMANIZADA%20AO%20ABORTAMENTO.pdf Cilene Roque quando incapaz, também por seu representante legal, bem como por dois profissionais de saúde do serviço. A segunda fase é o parecer técnico realizado por um médico, após detalhada anamnese, exame físico geral, exame ginecológico, avaliação do laudo ultrassonográfico e dos demais exames complementares que porventura houver. Simultaneamente, a mulher deve receber atenção e avaliação especializada por parte da equipe de saúde multiprofissional, composta, no mínimo, por obstetra, anestesista, enfermeiro, assistente social e/ou psicólogo, os quais anotarão suas avaliações em documentos específicos e subscreverão o Termo de Aprovação de Procedimento de Interrupção da Gravidez, não podendo haver desconformidade com a conclusão do parecer técnico. Já a terceira fase é o Termo de Responsabilidade assinado pela gestante ou, se for incapaz, também por seu representante legal, tal Termo conterá advertência expressa sobre a previsão dos crimes de falsidade ideológica (art. 299 do Código Penal) e de aborto (art. 124 do Código Penal), caso posteriormente se verifique que a gestante não tenha sido vítima de violência sexual. Por último, a quarta fase é o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual esclarece à mulher, em linguagem acessível, especialmente sobre os riscos possíveis à sua saúde, os procedimentos que serão adotados quando da realização da intervenção médica, os profissionais responsáveis para lhe acompanhar e prestar assistência e a garantia do sigilo que assegure sua privacidade quanto aos dados confidenciais envolvidos, passíveis de compartilhamento em caso de requisição judicial. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido deverá ser assinado ou identificado por impressão datiloscópica, pela gestante ou, se for incapaz, também por seu representante legal, e deverá conter também uma declaração expressa sobre a decisão voluntária e consciente de interromper a gravidez. Importante ressaltar que uma inovação trazida pela Portaria nº 2.282, de 27 de agosto de 2020, a qual se encontra em consonância com a Lei de nº 13.931, de 10 de dezembro de 2019, foi tornar obrigatória a notificação à autoridade policial pelo médico, demais profissionais de saúde ou responsáveis pelo estabelecimentode saúde que acolheram a paciente nos casos em que houver indícios ou confirmação do crime de estupro. A portaria dispõe ainda que os profissionais mencionados no caput deverão preservar possíveis evidências materiais do crime de estupro a serem entregues imediatamente à autoridade policial, tais como fragmentos de embrião ou feto com vistas à realização de confrontos genéticos que poderão levar à identificação do respectivo autor do crime, nos termos da Lei Federal nº 12.654, de 2012. Nada obstante o exposto, uma das dúvidas que surgem sobre o aborto legal é saber até quanto tempo da gestação o procedimento pode ser realizado, deste modo, nos casos de risco à vida da mulher e nos casos de anencefalia fetal, não há idade gestacional máxima para a realização do aborto, no entanto, quanto mais cedo for realizado o aborto, menores serão os riscos para a mulher. Já nos casos de violência sexual, o entendimento é de que o aborto seja permitido até a 20ª semana de gestação, podendo ser estendido até 22 semanas, desde que o feto tenha menos de 500 gramas. Outro ponto que costuma gerar dúvida aos profissionais de saúde é sobre o consentimento quando há divergências entre a adolescente gestante (menor de 18 anos) e o seu representante legal. Ora, a vontade da adolescente deve ser respeitada caso sua família opte pela realização do aborto e ela não. Por outro lado, caso a adolescente escolha pela interrupção da gravidez e a família não, tal situação deverá ser submetida ao judiciário por meio do Conselho Tutelar, Defensoria Pública ou Ministério Público. Destaca-se que, apesar de na situação acima, o caso da escolha da adolescente pela interrupção da gravidez e sua família não, deva ser submetida à apreciação do Judiciário. O certo é que se trata de uma Cilene Roque situação excepcional, fato que a realização do procedimento de aborto nos casos permitidos por lei não depende de autorização judicial. Importante mencionar ainda que, é garantido ao médico alegar a objeção de consciência, que consiste no direito de recusa em realizar o aborto, baseado no direito à liberdade de pensamento, de crença e de consciência, e caso o profissional exerça sua objeção, a mulher deverá ser atendida por outro profissional ou serviço que garanta a efetivação do aborto. Contudo, convém reforçar que há três casos em que esta objeção não é admitida, quais sejam: Em caso de necessidade de abortamento por risco de vida para a mulher, em qualquer situação de abortamento juridicamente permitido, quando na ausência de outro médico que o faça e quando a mulher puder sofrer danos ou agravos à saúde em razão da omissão do médico, em casos de complicações derivadas de abortamento inseguro, por se tratar de atendimento de urgência. Portanto, é indubitável a relevância de discutir sobre o tema proposto, haja vista que muitas são as dúvidas que surgem entre os profissionais de saúde de como agir diante de uma das hipóteses em que é permitido o aborto legal, a fim de se resguardar juridicamente, quando da realização da interrupção da gravidez nos casos previstos em lei. O primeiro atendimento ambulatorial será realizado com equipe multiprofissional (médico, enfermeiro, psicólogo e assistente social) simultaneamente com uso da FICHA DE ATENDIMENTO MULTIPROFISSIONAL ÀS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA SEXUAL (Anexo 1). A consulta simultânea visa evitar a revitimização da paciente, uma vez que nessa consulta será colhido o relato da paciente com maior riqueza de detalhes. Após essa consulta, cada profissional dará seguimento individual do atendimento conforme necessidade, tanto para a paciente quanto para familiares. No ambulatório também deve ser realizado o seguimento de viragem sorológica para as ISTs. Além do teste colhido na admissão da paciente, nova sorologia para sífilis deve ser colhida em 30 dias. Para a Hepatites Virais (B e C) e para HIV devem ser colhidas sorologias na admissão, com 4 e com 6 meses. CONDUTA EM CASO DE GESTAÇÃO PÓS VIOLÊNCIA SEXUAL Caso o estupro resulte em gravidez, a equipe multiprofissional informará a paciente quais são as alternativas frente a essa gravidez e a apoiará em sua decisão. As alternativas são: ● Aborto legal (até 20 semanas de idade gestacional) ● Seguir com a gestação e ficar com o recém-nascido ● Seguir com a gestação e entregar o recém-nascido para adoção (informar sobre o projeto “Dar A Luz” da Vara da Infância e da Juventude) Caso a paciente opte por seguir o pré-natal, esta deve ser encaminhada para pré-natal de alto risco. Caso a paciente opte pelo aborto legal, esta deve preencher os seguintes documentos: ● TERMO DE RELATO CIRCUNSTANCIADO (Anexo 2 e 3) ● TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ● INTERRUPÇÃO DE GRAVIDEZ RESULTANTE DE VIOLÊNCIA SEXUAL (Anexo 4) ● TERMO DE RESPONSABILIDADE (Anexo 5) O médico da equipe ainda deve confirmar a compatibilidade temporal entre o estupro e a idade gestacional através do PARECER TÉCNICO (Anexo 6) e em conjunto com o restante da equipe devem assinar o TERMO DE APROVAÇÃO DE PROCEDIMENTO DE INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ RESULTANTE DE ESTUPRO (Anexo 7). Após preenchimento de toda a documentação necessária, a paciente deve ser encaminhada para internação hospitalar para realização do aborto legal. Não há necessidade de BO para realização do aborto legal. INTERRUPÇÃO DA GESTAÇÃO Cilene Roque Para interrupção da gestação a paciente deve ser internada preferencialmente na enfermaria ginecológica, para evitar contato com gestante ou RN. Um médico da equipe do SALVS será responsável pela realização do procedimento e prescrição da paciente. O método de escolha da interrupção varia de acordo com a idade gestacional, conforme descrito abaixo. ● INTERRUPÇÃO ATÉ 12 SEMANAS - 1ª opção – AMIU: Colocar 2 cápsulas de 200mcg de misoprostol via vaginal para amolecimento do colo e após 3-4 horas realizar aspiração com AMIU. Não se deve realizar curetagem com cureta convencional após o AMIU. - 2ª opção – Abortamento Medicamentoso: Misoprostol 4 cápsulas de 200 mcg via vaginal a cada 12 horas (3 doses – 0,12 e 24 horas). Repetir a dose após 72h caso não ocorra o abortamento. - 3ª opção – Curetagem Convencional: Colocar 2 cápsulas de 200mcg de misoprostol via vaginal para amolecimento do colo e após 3-4 horas realizar dilatação cervical com velas de Hegar seguido de curetagem com cureta convencional. INTERRUPÇÃO ENTRE 12 E 20 SEMANAS Para abortamentos no segundo trimestre o método de eleição é o medicamentoso. - 12-15 SEMANAS: Misoprostol 400mcg a cada 6 horas; - 16-20 SEMANAS: Misoprostol 200mcg a cada 6 horas; Após a expulsão ovular, caso seja incompleta, deve-se realizar curetagem com cureta convencional. ALÍVIO DA DOR Nas situações em que a idade gestacional é superior a 12 semanas o uso de analgésicos narcóticos, petidina ou morfina, pode ser necessário durante o período de indução do esvaziamento uterino, para alívio da dor provocada pela contração uterina e dilatação cervical. A equipe de saúde deve estar atenta para possíveis efeitos adversos, principalmente a depressão respiratória. Caso o esvaziamento ocorra de forma incompleta, os mesmos cuidados rotineiros devem ser tomados para o alívio da dor durante a curetagem ou aspiração complementar. PROFILAXIA DE INFECÇÃO CIRÚRGICA Aplicar 2g de Cefazolina 1 a 2 horas antes do procedimento (curetagem ou AMIU). PLANEJAMENTO REPRODUTIVO Para todas pacientes em situação de abortamento, inclusive no aborto legal, deve-se oferecer a inserção do DIU de cobre, seguindo os mesmos critérios do protocolo de DIU pós parto. Caso a paciente não queira utilizar o DIU, outros métodos devem ser oferecidos. PROFILAXIA DE ISOIMUNIZAÇÃO RH Administrar Imunoglobulina Anti-RH intramuscular até 72 horas após o procedimento para pacientes RH negativas. APOIO EMOCIONAL A paciente com síndrome de abortamento deve ter apoio emocional contínuo mesmo após esvaziamento uterino e evitar ser deixada sozinha. ALTA. Apósa alta a paciente deve ser reencaminhada para seguimento ambulatorial. ABORTO PREVISTO EM LEI (DEMAIS CASOS) Os demais casos de abortamentos legais incluem o risco de vida materno e gestação de feto anencéfalo. Para interrupção da gestação em caso de risco de vida materno deve-se ter a indicação de dois obstetras, no caso de Cilene Roque patologia/complicação essencialmente obstétrica (ex: gestação ectópica, rotura prematura de membranas abaixo de 24 semanas, eclâmpsia). Em casos de patologia/complicação clínica de doença de base (ex: LÚPUS, cardiopatia, insuficiência renal), a indicação deve ser feita por pelo menos um obstetra e o médico clínico especialista da patologia. Para interrupção da gestação de feto anencéfalo é necessária a avaliação ultrassonográfica com foto por dois ultrassonografistas diferentes. Em ambos os casos, risco materno e anencefalia, a interrupção da gestação não é limitada pela idade gestacional, podendo, portanto, ser indicada após 20 semanas Referências: Jornal do médico. Aborto legal, o que diz a lei?. 2020. Disponível em: https://jornaldomedico.com.br/2020/10/20/aborto-legal-o-que-diz-a-lei/. Acesso em: 07 de maio de 2021. Ministério da Saúde. UFMS. Protocolos de Obstetrícia HUMAP. Protocolo para Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Sexual. Disponível em: http://www2.ebserh.gov.br/documents/17082/3273530/Protocolo+do+Servi%C3%A7o+ de+Aten%C3%A7%C3%A3o+ao+Aborto+Legal+e+Viol%C3%AAncia+Sexual.pdf/1f4e391 6-ac4e-4901-ba8e-52dd55831e4c. Acesso em: 07 de maio de 2021. 8. Compreender a importância da equipe multidisciplinar no aborto legal No âmbito do SUS, as instituições envolvidas na atenção às pessoas em situação de violência sexual devem assegurar cada etapa do atendimento que fornecessária. Isso inclui medidas de prevenção, emergência, acompanhamento, reabilitação, tratamento de eventuais agravos e impactos resultantes da violência sexual sobre a saúde física e psicológica, além do abortamento legal, se for solicitado pela mulher ou adolescente, de acordo com a legislação vigente. É preciso que se estabeleçam fluxos de atendimento em toda a rede de saúde. É necessária a indicação dos(as) profissionais responsáveis por cada etapa da atenção e é imprescindível que esses fluxos sejam do conhecimento de todos(as), de modo a acolher e atender as pessoas que acessarem o serviço de forma ágil, humanizada e respeitosa. O acompanhamento clínico, psicológico e social previsto nos serviços de saúde de referência devem se estender por um período posterior à realização do primeiro atendimento, sendo necessário que a equipe do serviço de saúde avalie a continuidade do seu acompanhamento e a importância de encaminhamentos para outros serviços e unidades da rede: Unidades Básicas de Saúde, ambulatórios, policlínicas, Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Unidades de Saúde Especializadas, Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS), Centros de Referência de Atenção à Mulher em Situação de Violência (CRAM), Casa da Mulher Brasileira, entre outros. Conforme disposto na Norma Técnica Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes do Ministério da Saúde sobre a atenção à violência sexual, as pessoas atendidas devem ser informadas e orientadas sobre tudo o que será realizado em cada etapa do atendimento e a importância de cada medida a ser tomada. Sua autonomia deve ser respeitada, acatando-se a eventual recusa de algum procedimento. No cerne da atenção integral e humanizada no SUS, é importante garantir, com qualidade e respeito, a escolha das mulheres que sofreram violência sexual pelo abortamento assegurado pela legislação brasileira. Além dos aspectos já mencionados, a atenção humanizada em saúde às pessoas em situação de violência sexual relaciona-se a aspectos mais práticos e objetivos que devem ser garantidos nos estabelecimentos de saúde que realizem o serviço. Cite-se, por exemplo: • Instalações e área física adequada para atendimento https://jornaldomedico.com.br/2020/10/20/aborto-legal-o-que-diz-a-lei/ http://www2.ebserh.gov.br/documents/17082/3273530/Protocolo+do+Servi%C3%A7o+de+Aten%C3%A7%C3%A3o+ao+Aborto+Legal+e+Viol%C3%AAncia+Sexual.pdf/1f4e3916-ac4e-4901-ba8e-52dd55831e4c http://www2.ebserh.gov.br/documents/17082/3273530/Protocolo+do+Servi%C3%A7o+de+Aten%C3%A7%C3%A3o+ao+Aborto+Legal+e+Viol%C3%AAncia+Sexual.pdf/1f4e3916-ac4e-4901-ba8e-52dd55831e4c http://www2.ebserh.gov.br/documents/17082/3273530/Protocolo+do+Servi%C3%A7o+de+Aten%C3%A7%C3%A3o+ao+Aborto+Legal+e+Viol%C3%AAncia+Sexual.pdf/1f4e3916-ac4e-4901-ba8e-52dd55831e4c Cilene Roque Locais específicos para acolhida e atendimento, preferencialmente fora do espaço físico do pronto socorro ou da triagem, para garantir privacidade durante os atendimentos. Evitar identificação nominal das salas de atendimento exclusivas para vítimas de violência sexual. • Equipamentos e instrumentais suficientes Equipamentos e materiais permanentes em condições adequadas de uso que satisfaçam as necessidades do atendimento de tal modo a contar com autonomia e resolutividade. Quando ofertado o serviço de aborto previsto em lei deve-se seguir as orientações da Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento em vigor. • Recursos humanos qualificados para a atenção O atendimento precisa ser ofertado por equipe multiprofissional e interdisciplinar, essencialmente: médico(a); enfermeiro(a); técnico(a) em enfermagem; assistente social e psicólogo(a). Poderá contar, ainda, com outros profissionais como farmacêutico(a). Frente a todas as indicações necessárias à garantia de atenção humanizada e integral às pessoas em situação de violência sexual, cabe ressaltar que compete aos gestores(as) de saúde nos Municípios, Estados e Distrito Federal implantar, implementar e garantir sustentabilidade às ações e o maior número possível de serviços de referência. Cabe aos(às) gestores(as) e diretores(as) dos estabelecimentos de saúde a implantação de mecanismos de avaliação permanente das ações desenvolvidas. Referências: Ministério da Saúde. ATENÇÃO HUMANIZADA ÀS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA SEXUAL COM REGISTRO DE INFORMAÇÕES E COLETA DE VESTÍGIOS. 2015. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_humanizada_pessoas_violencia_se xual_norma_tecnica.pdf. Acesso em: 07 de maio de 2021. 9. Diferenciar menopausa e climatério, além de definir sintomatologia envolvida nesta fase. A menopausa é a última menstruação da vida de uma mulher, e o climatério é o nome do período que vai dos 45 aos 65 anos, aproximadamente, quando diminuem as atividades dos ovários. Assim, a mulher não entra na menopausa, e sim no climatério. Climatério: Definição Todas as mulheres saudáveis passam pela transição de um período reprodutivo ou de pré-menopausa, caracterizado por ovulação regular e sangramento menstrual cíclico, para um período de pós-menopausa, caracterizado por infertilidade e amenorreia. O início dessa transição é geralmente marcado por alterações sutis da duração dos ciclos menstruais e da duração ou quantidade do fluxo menstrual. À medida que a transição menopausal progride, os ciclos menstruais começam a falhar até que a amenorreia completa se instale. No entanto, o padrão de falha dos ciclos não é previsível. A amenorreia por alguns meses não é um bom indicador de menopausa, pois cerca de metade a três quartos das mulheres de meia-idade que ficam amenorreicas por 6 meses voltam a apresentar ciclos menstruais. Assim, a menopausa é tipicamente definida retrospectivamente após 12 meses de amenorreia. Sintomatologia: ● Sintomas Vasomotores Os sintomas vasomotores incluem fogachos, calafrios e sudorese. Um fogacho é uma sensação súbita de calor, geralmente mais intensa na face, no pescoço e no tórax. Sua duração é variável, mas gira em torno de 4 minutos. É frequentemente acompanhado porsudorese, que pode ser profusa e seguida de um calafrio. ● Sintomas geniturinários https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_humanizada_pessoas_violencia_sexual_norma_tecnica.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_humanizada_pessoas_violencia_sexual_norma_tecnica.pdf Cilene Roque Os sintomas vaginais geralmente correlacionam-se com os achados (frequentemente chamados de atrofia vaginal) de palidez, secura, friabilidade e rugosidade diminuída da mucosa vaginal. A secreção vaginal da mulher na pré-menopausa é ácida, com pH variando aproximadamente entre 4,5 e 5,5, com uma leve alcalinização próxima de 6 antes da ovulação. A acidez é produzida pela excreção de prótons das células epiteliais vaginais e pelo metabolismo do glicogênio estocado nas células epiteliais vaginais pelos Lactobacillus sp., a flora vaginal normal. O ambiente ácido inibe o crescimento de Escherichia coli e outras bactérias entéricas Gram-negativas que são uma possível causa de infecções do trato urinário. O pH vaginal pode ser facilmente medido através da análise da secreção da parede vaginal lateral. Nas mulheres na pós-menopausa, o pH vaginal é geralmente neutro e a flora predominante é frequentemente E. coli e outras bactérias Gram-negativas. Isso parece ocorrer porque a deficiência de estrogênio associada à menopausa causa disfunção das células epiteliais vaginais, incluindo diminuição do estoque de glicogênio, menor habilidade para acidificar a secreção vaginal e menor produção de lubrificação vaginal. As células epiteliais vaginais, que são principalmente superficiais e intermediárias nas mulheres na pré-menopausa, alteram-se para células predominantemente parabasais imaturas nas mulheres na pós- menopausa. O tratamento com estrogênio melhora ou alivia a secura vaginal, diminui o pH vaginal e aumenta a proporção de células superficiais no epitélio vaginal. ● Distúrbios do Sono A prevalência de distúrbios do sono autorreferidos aumenta de aproximadamente 40% nas mulheres na pré-menopausa para algo em torno de 60% nas em pós-menopausa. Os distúrbios do sono, incluindo dificuldade de iniciar o sono e despertar precoce, são relatados por mulheres na menopausa, mas o despertar durante a noite parece ser o distúrbio mais incômodo. A etiologia dos distúrbios do sono associada à menopausa não está clara. As mulheres na pós-menopausa com fogachos relatam distúrbios do sono com mais frequência do que aquelas sem fogachos, e as mulheres comumente queixam-se de ser acordadas pelos fogachos. Entretanto, estudos com o uso da polissonografia relatam que os fogachos noturnos não ocorrem sistematicamente ao mesmo tempo que os distúrbios do sono. Assim, os distúrbios do sono parecem fazer parte de uma síndrome da menopausa, mas podem não ser causados pelos fogachos. Os distúrbios do sono causados pela menopausa podem ser tratados com o uso de abordagens padronizadas para higiene do sono e de prescrição de medicações. Tanto as preparações orais quanto as transdérmicas de estrogênio melhoram o sono de mulheres na perimenopausa e na pós-menopausa com fogachos. Referências: Ministério da Saúde. UFMG. Climatério e Menopausa. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/climaterio_menopausa.pdf. Acesso em: 10 de abr de 2021. Cecil medicina / editado por Lee Goldman, Andrew I. Schafer; tradução Angela Freitas, Cyro Festa Neto, Fábio Fernandes Morato Castro, - 24. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2014. 10. Conhecer as estratégias de atenção ao climatério / menopausa no SUS. O Manual Atenção Integral à Saúde da Mulher no Climatério/Menopausa elaborado pela Área Técnica de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, concretiza um dos objetivos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher de qualificar a atenção às mulheres nessa fase da vida. Este manual contém diretrizes que orientam os profissionais de saúde para a atenção integral e humanizada, considerando as diversidades e especificidades das mulheres brasileiras. Aborda princípios fundamentais da atenção em saúde, como o acolhimento e a ética nas relações entre http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/climaterio_menopausa.pdf Cilene Roque profissionais e usuárias, os aspectos emocionais e psicológicos, a sexualidade e as possíveis repercussões clínicas das transformações hormonais que acompanham o climatério/menopausa. Discute também as medidas preventivas e promotoras da saúde, que incluem estímulo ao autocuidado e a adoção de hábitos de vida saudáveis, que influenciam a qualidade de vida e o bem-estar das mulheres nesta fase. A abordagem diagnóstica e as opções terapêuticas preconizadas por este manual conferem uma visão holística da mulher, atualizam dados sobre as indicações corretas da terapia de reposição hormonal e incluem outras possibilidades de tratamento, como a fitoterapia, medicina antroposófica e a homeopatia. A saúde da mulher no Brasil foi incorporada às políticas nacionais no início do século XX e a atenção à saúde deste grupo populacional vem seguindo um processo de evolução no qual os antecedentes podem ser considerados a partir da década de 70. Neste período o Ministério da Saúde adotava uma concepção mais restrita da saúde da mulher, que se limitava à saúde materna ou à ausência de agravos associados à reprodução biológica. Na década de 1980 ocorreu o lançamento do documento “Assistência Integral à Saúde da Mulher: bases de ação programática”, que serviu de apoio para o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, o PAISM, elaborado pelo Ministério da Saúde em 1983 e publicado em 1984. Esse programa incorporou o ideário feminista para a atenção à saúde da mulher, com ênfase em aspectos da saúde reprodutiva, mas com propostas de ações dirigidas à atenção integral da população feminina, nas suas necessidades prioritárias, significando uma ruptura com o modelo de atenção materno-infantil até então desenvolvido. Nas prioridades estava incluída a atenção ao climatério, já que contemplava uma abordagem geracional da mulher em todas as fases da vida, da adolescente à idosa. Dentro dessa perspectiva passaram a ser desenvolvidas, em diversos estados da federação, atividades de capacitação em atenção integral à saúde da mulher e em alguns deles, ações de saúde específicas direcionadas às mulheres no climatério. Nesse contexto, em 1994, foi lançada pelo Ministério da Saúde a Norma de Assistência ao Climatério. Em 1999, a Área Técnica de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde incorporou no seu planejamento a atenção à saúde da mulher acima de 50 anos. No entanto, nenhuma ação específica foi implementada naquela oportunidade. Um balanço institucional realizado em 2002 apontou, entre outras, esta lacuna, considerando necessário superá-la. Em 2003, essa área técnica assumiu a decisão política de iniciar ações de saúde voltadas para as mulheres no climatério e incluiu um capítulo específico sobre esse tema no documento Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher – Princípios e Diretrizes. No Plano de Ação dessa política nacional com relação ao climatério, o objetivo é implantar e implementar a atenção à saúde da mulher no climatério, em nível nacional, que é detalhado na estratégia de ampliar o acesso e qualificar a atenção com ações e indicadores definidos. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Manual de Atenção à Mulher no Climatério/Menopausa / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2008. 192 p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos (Série Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos – Caderno, n.9). Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_atencao_mulher_climaterio.pdf. Acesso em: 07 de maio de 2021. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_atencao_mulher_climaterio.pdf
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