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Mariana Marques – T29 INTRODUÇÃO Relembrando a fisiologia do sistema gastrointestinal... • A secreção de ácido gástrico é um processo complexo e contínuo: a secreção de H+ pelas células parietais é regulada por fatores neuronais (acetilcolina e GRP – peptídeo liberador de gastrina), parácrinos (histamina) e endócrinos (gastrina). ▪ Células parietais: são as células epiteliais do estômago, responsáveis pela secreção de ácido gástrico e fator intrínseco. ▪ Células G: é a célula produtora da gastrina (hormônio), agindo no aumento da secreção gástrica. ▪ Células D: produz o hormônio somatostatina, age sobre as células G, regulando a secreção de gastrina. ▪ Células semelhantes às enterocromafins: secretam histamina, que estimulará a secreção de ácido gástrico. • Os receptores dessas células ficam localizados no corpo e fundo do estômago. SECREÇÃO GÁSTRICA • A secreção gástrica é formada por grande quantidade de ácido clorídrico e da enzima pepsina, secretado principalmente pelas células parietais. • A produção de ácido é importante para facilitar a digestão de proteínas, a absorção do ferro e a eliminação de patógenos. • As células secretoras de muco são abundantes na mucosa gástrica, criando uma barreira protetora. • Pepsina: enzima digestiva produzida pelas paredes do estômago e secretada pelo suco gástrico, sua função é desdobrar as proteínas em peptídeos mais simples. • Histamina: consiste numa proteína que no trato gastrointestinal (TGI), é capaz de estimular a secreção de ácido clorídrico no estômago, também participando no processo de motilidade e de secreção intestinal. Essa proteína possui um receptor nas células parietais chamado H2. • Gastrina: hormônio responsável pela estimulação da secreção de ácido gástrico pelas células parietais e estimular o crescimento da mucosa gástrica e intestinal. • Acetilcolina: realiza o controle da secreção ácida gástrica pelas células parietais. • Prostaglandinas: exercem efeitos citoprotetores como o aumento da secreção de bicarbonato e da liberação de mucina protetora e redução da produção de ácido gástrico. OBSERVAÇÃO: a acetilcolina e a gastrina agem tanto diretamente (aumentando a secreção ácida) quanto indiretamente (aumentando a secreção de histamina). DOENÇAS GASTROESOFÁGICAS Podem ocorrer em diversas situações, tais como: • Aumento da secreção ácida. • Diminuição da produção de tampão bicarbonato. • Diminuição do fluxo sanguíneo. • Ruptura da camada mucosa aderente e dano direto ao epitélio. Fatores que podem causar essas doenças: • Agressores, ácido gástrico, pepsina, estresse, álcool, AINEs, H. pylori, muco, bicarbonato, fluxo sg, renovação celular, PGs e fatores de crescimento. FÁRMACOS PARA TRATAR DOENÇAS GASTROESOFÁGICAS • São fármacos utilizados em condições patológicas, nas quais é necessário reduzir a secreção ácida, como em casos de úlceras, esofagites de refluxo ou síndrome de Zollinger-Ellison (tumor raro produtor de gastrina). • As terapias da úlcera péptica e da esofagite de refluxo visam diminuir a secreção de ácido gástrico usando antagonistas dos receptores H2 ou inibidores da bomba de prótons, podendo também realizar a neutralização do ácido secretado com antiácidos. Farmacologia do trato gastrointestinal Mariana Marques – T29 → TRATAMENTO DA INFECÇÃO POR H. PYLORI: • Infecção da mucosa do estômago pela bactéria Helicobacter pylori, um bacilo gram-negativo que causa úlceras que podem evoluir para uma gastrite crônica. • Essa doença consiste na infecção da mucosa gástrica por H. pylori, que é uma bactéria que se aloja no estômago ou intestino, onde prejudica a barreira protetora e estimula a inflamação, podendo causar gastrite crônica e quando agravada, úlceras duodenais. • Terapia combinada: omeprazol, amoxacilina e metronidazol • Outras combinações: omeprazol + claritromicina e amoxacilina ou tetraciclina + metronidazol e quelatos de bismuto. → FÁRMACOS QUE ATUAM NA SECREÇÃO GÁSTRICA: • Fármacos que inibem a secreção ácida: ▪ Anticolinérgicos. ▪ Bloqueadores dos receptores H2. ▪ Bloqueadores da bomba de prótons. • Fármacos que neutralizam o ácido: ▪ Antiácidos. • Fármacos citoprotetores: ▪ Bismuto, Sucralfato e Prostaglandinas (Misoprostol). ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES DE HISTAMINA - H2 • Ação: inibem as ações da histamina em todos os receptores H2 de forma competitiva, fazendo com que a secreção de ácido estimulada pela histamina seja inibida. • Principais indicações: ulceração péptica (duodenal e gástrica), DRGE (a secreção gástrica causa lesão no esôfago) e Síndrome de Zollinger-Ellison (tumor secretor de gastrina). • Principais fármacos: ▪ Cimetidina: ingestão por via oral, intramuscular ou endovenosa, possui metabolismo de primeira passagem, é menos utilizada por ser inibidora da enzima CYP450, além de poder retardar o metabolismo (potencializando a ação) de vários fármacos, como anticoagulantes e antidepressivos. ▪ Ranitidina: ingestão por via oral, intramuscular ou endovenosa, mais potente e mais utilizada combinada com bismuto, possui metabolismo de primeira passagem. ▪ Nizatidina: ingestão por via oral, possui efeito de segunda passagem e é de ação curta (meia vida de quatro horas). ▪ Famotidina: ingestão por via oral, possui efeito de segunda passagem. • Vantagens: posologia e poucos efeitos colaterais. • Desvantagens: cimetidina possui interação com outros fármacos. • Mecanismo de ação: inibem a secreção de ácido através de uma competição reversível entre a histamina e os sítios receptores H2 na membrana basolateral das células parietais. DADOS COMPARATIVOS DOS ANTAGONSTAS DE H2 CIMETIDINA RANITIDINA FAMOTIDINA NIZATIDINA BIODISP. 80% 50% 40% >90% POTÊNCIA 1 5-10 32 5-10 DURAÇÃO DO EFEITO 6h 8h 12h 8h INIBUÇÃO CIT. P450 1 0,1 0 0 INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS – IBP • São os mais eficazes supressores da secreção ácida gástrica e os mais empregados. • Ação: inibe a bomba de prótons de forma irreversível, reduzindo a secreção de ácidos basal e a estimulada por alimentos. Inibem a produção de ácido clorídrico e, portanto, aumentam o pH do estômago. ▪ Em sua forma ativa, são fármacos não seletivos, sendo indicado sua ingestão em jejum para que não atrapalhe a absorção no intestino. Isso ocorre pois os IBP são profármacos que exigem ativação em um meio ácido e, durante o período de jejum, há menor liberação de ácidos gástricos (pH fica mais neutro), garantindo uma absorção eficaz no intestino. • Principais fármacos: ▪ Omeprazol, Lansoprazol, Rabeprazol e Pantoprazol: todos possuem modo de ativação e farmacologia semelhante, agindo na inibição irreversível da bomba de prótons, ou seja, a etapa terminal na via secretora de ácido. ▪ Biodisponibilidade: → Omeprazol: 30 a 60 % (oral e intravenoso) → Lansoprazol: > 80% (oral e intravenoso) → Rabeprazol: 52 % (apenas oral) → Pantoprazol: 77% (oral e intravenoso) Mariana Marques – T29 OBSERVAÇÃO Esses fármacos são instáveis em pH ácido do estomago, por isso, para evitar a degradação do IBP pelo ácido no lúmen gástrico e melhorar a biodisponibilidade oral, as formas de uso oral são oferecidas em diferentes formulações: grânulos encapsulados, comprimidos para liberação entérica (sal magnésico) e comprimidos de liberação retardada (liberação em meio alcalino para não degradar com bicarbonato de sódio como tampão). • Vantagens: realiza uma inibição mais potente da secreção, posologia de uma vez ao dia e possui poucos efeitos colaterais. • Desvantagens: interfere na absorção de outros fármacos (diazepan, varfarina e fenitoína). • Mecanismo de ação: geralmente é administrado por via oral em sua forma neutra(base fraca), pois se degrada rapidamente em pH baixo, sendo, portanto, oferecido em cápsulas contendo grânulos de revestimento entérico. Após a sua absorção no intestino delgado, passa do sangue para dentro das células parietais e depois para os canalículos, onde se tornam protonadas, transformando-se em sua forma ativa, onde exerce os seus efeitos. ANTIÁCIDOS • Ação: são a maneira mais simples de tratar os sintomas da secreção excessiva de ácido gástrico pois realizam a neutralização do ácido e atividade das enzimas pépticas. • Principais indicações: há fármacos mais eficazes e persistentes que os antiácidos, mas seu preço, acessibilidade e rapidez de ação os tornam populares, eles podem ser usados para o tratamento agudo de refluxo ácido (queimação, azia) e esofagite. • Principais fármacos: ▪ Hidróxido de magnésio ▪ Hidróxido de alumínio ▪ Bicabornato de sódio • Vantagens: garantem o alívio mais rápido dos sintomas e, se utilizados por tempo e quantidade suficientes, podem ajudar no fechamento de úlceras duodenais. • Desvantagens: podem causar alcalose (aumento do pH sanguíneo) e alterações intestinais. ▪ Hidróxido de magnésio: diarréia ▪ Hidróxido de alumínio: constipação intestinal ▪ Bicabornato de sódio: eructação, náuseas, distensão abdominal e flatulências. • Mecanismos de ação: ▪ Hidróxido de magnésio e hidróxido de alumínio: geralmente são administrados de forma conjunta pois assim proporcionam uma capacidade de neutralização equilibrada e mantida. O magaldrato é um complexo aluminato de hidroximagnésio, que converte o ácido gástrico em Mg (OH)2 e Al (OH)3. OBSERVAÇÃO Os sais de magnésio e de alumínio, constipação intestinal ao serem administrados concomitantemente preservam a função normal do intestino. ▪ Bicabornato de sódio: é muito hidrossolúvel, sendo rapidamente absorvido pelo estômago. Age neutralizando o H+ gástrico rapidamente e de modo eficaz, porém a liberação de CO2 dos antiácidos contendo bicarbonato e carbonato pode causas efeitos adversos. CITOPROTETORES • Ação: são fármacos que aumentam os mecanismos endógenos de proteção da mucosa e proporcionam uma barreira física sobre a superfície do estômago. • Principais indicações: são frequentes no tratamento de úlceras. • Principais fármacos: ▪ Bismuto: tem efeitos tóxicos sobre o bacilo podendo impedir sua aderência à mucosa ou inibir suas enzimas proteolíticas bacterianas e estimula a produção local de prostaglandinas (produtoras de ▪ muco) e bicabornato. Além disso, o quelato também tem ações protetoras da mucosa, formando uma película protetora na base da úlcera devido às ligações com glicoproteínas. ▪ Sucralfato: possui ação protetora da mucosa através da formação de géis complexos quando em contato com meios ácidos, esse gel adere firmemente ao epitélio das células, principalmente de úlceras, visando diminuir a degradação do muco pela pepsina e limitar a difusão de íons H+. ▪ Prostaglandinas (Misoprostol): é utilizado para promover a cicatrização de úlceras ou para prevenir uma lesão gástrica pois exerce ação direta sobre as células ECS e parietais, inibindo a secreção de ácido. • Vantagens: ▪ Bismuto: Possui ações protetoras eficazes, ajudam no combate ao patógeno. ▪ Sucralfato: reduzem a degradação do muco pela pepsina, limitam a difusão do hidrogênio, inibem a ação da pepsina e estimulam a secreção de bicarbonato e de prostaglandinas. ▪ Misoprostol: inibe a secreção gástrica basal e estimulada, aumenta o fluxo sanguíneo e aumenta a secreção de muco e bicarbonato. • Desvantagens: ▪ Bismuto: reduz a absorção de outros medicamentos (teofilina, digoxina, antibiótico da fluroquinolona) e o uso de antiácidos concomitante ou antes da sua administração reduz sua eficácia. ▪ Sucralfato: interação com outros fármacos. ▪ Misoprostol: efeitos (diarréia e contrações uterinas). Mariana Marques – T29 ANTIEMÉTRICOS • São fármacos para evitar a êmese (vômito), que são efeitos colaterais indesejáveis de muitos fármacos clinicamente úteis. • Os fármacos antieméticos são utilizados para prevenir a cinetose a êmese da gestação, as êmeses causadas por medicamentos e as pós-cirúrgicas, bem como vômitos decorrentes da radioterapia ou quimioterapia. → MECANISMO REFLEXO DO VÔMITO: • É uma resposta defensiva com o objetivo de livrar o organismo de material tóxico ou irritante. • O ato físico de vomitar é coordenado centralmente pelo centro do vômito (emético), na medula. • A zona do gatilho quimiorreceptora (ZGQ) recebe estímulos do labirinto no ouvido interno, através dos núcleos vestibulares e de aferentes vagais vindos do trato GI, sendo, portanto, o principal local de ação de muitos fármacos eméticos e antieméticos. ▪ Local de ação de drogas: Morfina, glicosídeos cardíacos, substâncias ematogênicas. → PRINCIPAIS CLASSES DE FARMACOS ANTIEMÉTRICOS: • Antagonistas dos receptores H1. • Antagonistas dopaminérgicos (D2). • Antagonistas muscarínicos: possui muitos efeitos adversos. ▪ Tríade: boca seca, visão turma e constipação. • Antagonistas Sertoninérgicos (5-HT3): age apenas na zona de gatilho. • Canabinoides Antagonistas dos receptores H1 • Exerce pouca atividade contra os vômitos produzidos por substâncias que atuam diretamente sobre ZGQ. • São eficazes na cinetose e contra os vômitos causados por substâncias que atuam localmente no estômago. • Efeito antiemético máximo é observado em cerca de 4 horas após a ingestão, podendo durar 24h. • Principais Fármacos: ▪ Ciclizina: enjoo do movimento (cinetose), distúrbios vestibulares, náuseas e vômitos associados a cirurgia e uso de analgésicos narcóticos no pós- operatório. ▪ Cinarizina: cinetose, distúrbios vestibulares. ▪ Dimenidrinato (Dramin): náuseas, vômitos, cinetose. ▪ Prometazina: enjoo grave matinal da gravidez, enjoo do movimento, distúrbios vestibulares. Antagonistas Dopaminérgicos (D2) • Classe de fármacos que bloqueiam os receptores de dopamina pelo antagonismo dos receptores. • A maioria dos antipsicóticos são antagonistas da dopamina. • Utilizado via oral ou parenteral. • Principais Fármacos: Metoclopramida (Plasil): ▪ Antagonista do receptor D2 estreitamente relacionada com o grupo dos fenotiazínicos, atuando centralmente sobre a ZGQ e tendo ação periférica sobre o próprio trato GI, aumentando a motilidade do esôfago, do estômago e do intestino. ▪ Uso clínico: vômito causado por enxaqueca, radiação, distúrbios gastrintestinais (GI), fármacos citotóxicos, prevenção de náuseas e vômitos no período pós-operatório. ▪ Mecanismo de ação: bloqueador dopaminérgico; possui ações periféricas aumentando a motilidade do estômago e do intestino, contribuindo para o efeito antiemético. ▪ Ação na zona de gatilho no SNC ▪ O bloqueador dopaminérgico impede o estímulo para o centro do vômito, diminuindo os efeitos na zona de gatilho. ▪ Administrado por via oral ou parenteral. ▪ Meia-vida plasmática de 4 a 5h. ▪ Eliminação pela urina. Domperidona: ▪ Usado para tratar vômitos causados por citotóxicos, bem como sintomas GI. ▪ Mecanismo de ação: principalmente na zona de gatilho, ação periférica aumentando a motilidade. ▪ Não atravessa facilmente a barreira hematencefálica tendo menos propensão a produzir efeitos colaterais centrais. ▪ Associada a um pequeno aumento do risco de ações adversas cardíacas graves (particularmente em doses mais altas e em pacientes mais idosos), estando o seu uso restrito na atualidade. ▪ Administrado via oral. Mariana Marques – T29 Antagonistas dos receptores 5-HT3 • Receptores 5-HT3 estão presentes em muitos locais críticos envolvidos na êmese, incluindo vago aferente, núcleo do trato solitário (NTS), área postrema. • A granisetrona, a ondansetrona e a palonosetrona são usadasna prevenção e no tratamento de vômitos e, em menor proporção, de náuseas comumente observados no pós-operatório ou causados por radioterapia ou administração de fármacos citotóxicos como a cisplatina. • O local primário de ação desses fármacos é a ZGQ. • Administrados por via oral ou parenteral. • Efeitos adversos, como cefaleia e desconforto GI, são relativamente incomuns. • Principais fármacos: ▪ Ondasetrona – vonau flash ▪ Dolacetrona ▪ Granisetrona OBSERVAÇÃO Os fármacos diferem-se quanto à estrutura, farmacocinética e afinidade com receptor.
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