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Danie�e Ferreira @danie�eferreira._ Medicina Veterinária - UFV Abordagem Integrativa do Comportamento Por que um animal se comporta de determinada forma? Níveis de análise de Tinbergen: 1. genético e ontogenético a. efeitos da herdabilidade sobre o comportamento b. interações genético-ambientais durante o desenvolvimento ontogenético que afetam o comportamento 2. neuro�siológico a. detecção dos estímulos ambientais - ação do sistema nervoso b. ajustes de responsividade endógena - ação dos sistemas hormonais c. efetuação de respostas - ação do sistema músculo esquelético 3. �logenético - história biológica do comportamento a. origem do comportamento e suas mudanças no tempo 4. adaptativo - resultado da seleção natural a. adaptação do comportamento (efeito sobre a reprodução diferencial) Observação: os níveis 1 e 2 são no tempo de vida do indivíduo (causas imediatas ou proximais), já os níveis 3 e 4 ultrapassam o tempo de vida (causas evolutivas). Curiosidade: a agressividade das hienas é considerada adaptativa, já a do pitbu� é �logenética, pois não foi desenvolvida em resposta a ameaças ambientais e sim uma seleção arti�cial feita pelo ser humano. O pitbu�, em determinados momentos, pode liberar alta concentração de testosterona, e ele possui receptores su�cientes para toda essa testosterona em um local especí�co do cérebro que responde com agressividade 1 Infanticídio em Macacos Hanuman Os machos jovens, que no vídeo apresentado em aula são comparados a uma “panela de pressão de testosterona”, formam gangues e atacam os grupos de fêmeas que estão com �lhotes. Cada grupo de fêmeas possui um macho dominante, mas nem sempre ele é capaz de deter esses indivíduos jovens que atacam o grupo. Acima, uma fêmea agindo com agressividade contra um macho infanticida. Ao lado, um registro de uma fêmea com o seu �lhote que foi morto por um grupo de machos jovens infanticidas. Primeira explicação para o infanticídio: O comportamento de infanticídio seria consequência da alta densidade populacional (uma forma de fazer com que os recursos disponíveis sejam su�cientes) = hipótese da patologia social (uma explicação com grande viés moralista Quais seriam as predições dessa hipótese? 1. correlação positiva entre densidade populacional e infanticídios 2. qualquer macho cometeria infanticídio, dada uma densidade populacional acima de um limiar 3. machos sob alta densidade populacional matariam qualquer �lhote (inclusive os próprios �lhotes) 2 O trabalho de Sarah Bla�er Hrdy: Essa pesquisadora viajou para a Índia com o objetivo de comprovar a hipótese de patologia social. Trabalhou de 2 a 3 meses em campo (mais de 1500 horas de observação), porém ela não encontrou nenhuma evidência que comprovasse a hipótese de patologia social. Ao invés disso, ela percebeu que: ➔ os infanticidas eram machos recém-chegados ➔ as fêmeas tinham ovulação adiantada após o infanticídio (e copulavam inclusive com os machos que mataram os �lhotes delas) ➔ os machos não matavam seus �lhos presumidos As conclusões de Sarah foram: ➔ infantício em macacos Hanuman seria um comportamento adaptativo isto é, haveria uma vantagem reprodutiva direta aos machos infanticidas Análise integrativa da aprendizagem de canto em aves Tico-tico coroado (Zonotrichia leucophrys) Essa espécie possui dialetos populacionais de canto. Esses dialetos podem variar de acordo com a localidade que cada população vive e persistem por décadas num mesmo local. O estudo do som dos animais é feito através de espectrograma (registro da frequência do som com o tempo) É possível notar a partir do espectrograma acima que os indivíduos que vivem em um mesmo local têm o canto muito parecido e que esse canto difere do canto dos indivíduos que vivem em outros locais = dialeto especí�co para cada população Por que o canto varia? ➔ hipóteses proximais (imediatas): ◆ diferença genética ◆ ambiente acústico ◆ interação social 3 Hipótese da Diferença Genética Perceberam que não há uma relação linear entre a genética de cada subespécie e o dialeto Conclusões: havia diferenças genéticas em grande escala, porém pouca variabilidade genética local e a genética não explicou os dialetos. Obs: esse trabalho não foi 100% descartado pois na época em que foi feito havia conhecimento de poucos genes. Ouvir para cantar Muitas aves não precisam aprender a cantar, elas nascem e já têm certos sons que elas conseguem emitir em um determinado momento da vida. Porém, existem aves que precisam aprender a cantar. Foi feito um estudo com um pai e dois �lhotes do pássaro “Zebra Finch” (Taeniopygia guttata). Os dois �lhotes ouviram o canto do pai ao nascer, mas após isso um deles foi submetido a uma cirurgia para �car surdo. Perceberam que a ave, além de precisar ouvir o canto do pai, na idade adulta ela precisa da audição funcionando perfeitamente para que consiga cantar de forma correta. Com o tico-tico coroado é da mesma forma, ele precisa ouvir o canto do pai quando �lhote, mas também precisa ser capaz de se ouvir cantar para conseguir cantar corretamente. Como os dialetos surgem? ➔ por erros sucessivos de cópias do canto (vai variando um pouquinho de uma geração para outra) ➔ a partir de observações de 30 anos, perceberam que há mudança no dialeto com o tempo, mas o mesmo dialeto persiste por décadas Curiosidade: essas aves dão preferência para copular com indivíduos que têm o mesmo dialeto 4 Hipótese do Ambiente Acústico ➔ os jovens aprendem com velhos Foi feito um experimento com o tico-tico coroado, onde alguns �lhotes foram colocados para ouvir o playback do dialeto da própria espécie e, na fase adulta, esses �lhotes foram capazes de reproduzir esse mesmo dialeto ➔ machos de laboratório que não ouviram nada: canto pobre, sem dialeto ➔ machos que escutaram playback: cantam o dialeto perfeitamente Conclusão: os machos precisam escutar para cantar ➔ machos criados com playback de outras espécies: não cantavam o canto da própria espécie e nem da espécie do playback Sugeriram então que havia predisposição genética para o canto da espécie. Hipótese da Interação Social O papel do tutor (experimento feito com �lhote de tico-tico e o tutor pardal-cantador): ➔ machos jovens podem aprender outro canto se escutarem e verem um tutor ➔ na falta do canto da espécie dele, ele é capaz de aprender o canto da outra espécie se houver um adulto perto para servir de exemplo; se não houver outro adulto perto, ele não aprende o canto de outra espécie; se misturar os cantos, o tico-tico aprende o canto da própria espécie (como acontece na natureza). Fizeram então, um experimento utilizando o bangali-vermelho como tutor, e o tico-tico também conseguiu aprender o canto 5 Genética da aprendizagem do canto O som que os jovens machos escutam estimulam algumas áreas do cérebro, que são alteradas bioquimicamente e, em alguns casos, isso faz com se altere a expressão gênica. Essa expressão gênica são genes que codi�cam proteínas, e os pesquisadores perceberam que o gene mais ativo no momento em que um animal escuta algo é o gene ZENK, que codi�ca a proteína ZENK. Nas aves que escutam o canto da espécie, essa proteína é codi�cada em áreas dos processos auditivos e em áreas de reprodução do canto. Essa proteína é considerada um fator de transcrição pois, a partir do momento em que a quantidade dela nas células aumenta, outros genes passam a ser expressos. ZENK: ➔ regula proteínas das sinapses nervosas ➔ in�uencia a comunicação nervosa ➔ as mudanças sinápticas afetam o comportamento Obs: o mecanismo que as fêmeas utilizam para reconhecer o canto dos machos também é regulado pela proteína ZENK. Preferência de cantos de fêmeas Foi realizado um experimento com fêmeas que foram expostas a gravações com canto longo e gravações com canto curto e as fêmeas �caram mais tempo empoleiradas nas caixas que tinham a gravação do canto longo. Conclusão: a proteína ZENK é mais expressa na área NCMv do cérebro das fêmeas que escutaram o canto longo. Breve anatomia do cérebro em relação ao canto Océrebro possui áreas distintas que são responsáveis por boa parte dos seguintes comportamentos: ➔ memória do canto ➔ imitação do canto ➔ reprodução do canto Se a área for dani�cada, o comportamento �ca comprometido. A área responsável pelo canto é maior nos machos pois, nessa espécie, somente eles cantam. Quando esses machos não são estimulados na idade e da forma correta, essa área não se 6 desenvolve corretamente e �ca com tamanho semelhante ao da fêmea. Foi feito um experimento com machos que foram expostos a canto longo ou canto curto. A área RA é a única que cresce quando as aves estudadas são expostas ao canto longo. Também perceberam que têm conjuntos especí�cos de neurônios que respondem a cantos especí�cos da espécie. Evolução da Aprendizagem de Canto - Abordagem Comparativa Olhando a evolução das aves, os pesquisadores perceberam que a aprendizagem só ocorre em 3 das 23 ordens de aves (psitaciformes, beija-�ores e pássaros canoros). São duas �logenias concorrentes: em uma, feita por um determinado grupo de pesquisadores, os beija-�ores e as aves canoras não possuem ancestrais em comum. Porém, em uma segunda �logenia, feita por um outro grupo de pesquisadores, há ancestrais em comum entres essas duas aves ➞ há um limite na literatura, pois não se tem conhecimento da evolução exata dos animais . Através de estudos, foi descoberto que as aves que têm aprendizagem têm a estrutura cerebral com uma mesma organização. Portanto, a hipótese mais aceita é de que a aprendizagem já existia em algum ancestral muito antigo e que, ao longo da evolução, algumas espécies deixaram de ter essa função no cérebro (devido ao alto gasto energético) e em outras espécies ela permaneceu. Em suma, a aprendizagem de vocalização é rara, ocorrendo apenas em alguns animais: ➔ aves (somente em três ordens) ➔ focas e leões-marinhos ➔ morcegos ➔ cetáceos (baleias e gol�nhos) ➔ primatas A aprendizagem de vocalização tem a mesma origem em TODAS as espécies! Houve um ancestral comum a 310 milhões de anos atrás. Portanto, pode-se dizer que a aprendizagem surgiu independentemente, mas que os sistemas para que a aprendizagem ocorra são análogos. 7 Valor Adaptativo da Aprendizagem de Canto Porque a aprendizagem evoluiu sendo que há desvantagens como: gasto de tempo e energia, e necessidade de desenvolvimento de mecanismos neurais? Não se pode levar em conta apenas o volume cerebral, pois o número de neurônios também é relevante para a capacidade cognitiva. Com base na imagem acima, pode-se a�rmar que a arara-canindé possui um potencial cognitivo maior que o macaco, pois possui um maior número de neurônios. Possíveis hipóteses/vantagens da aprendizagem do canto: ➔ adaptação ao ambiente ➔ reconhecimento de indivíduos ➔ compartilhamento de informação ➔ seleção sexual (competição entre machos ou escolha pela fêmea) ➔ correspondência geográ�ca Adaptação ao Ambiente Local Em �oresta densa, a ave estudada possui canto muito parecido, porém em área aberta o canto é mais diferenciado. Então, essa espécie conseguiu se adaptar em muitos ambientes pois ela possui uma maior plasticidade. 8 Reconhecimento de Vizinhos Algumas aves possuem uma variação de canto muito grande e isso permite o reconhecimento de vizinhos, o que reduz os atritos entre eles. As espécies que têm canto compartilhado, possuem o cérebro maior, com mais neurônios e com algumas áreas mais bem desenvolvidas. Se a ave não perde tempo brigando com o seu vizinho, sobra mais tempo para se alimentar e reproduzir, então isso acaba tendo impacto no sucesso reprodutivo. O fato de viver em comunidade faz com se tenha que compartilhar mais informações ➞ maior desenvolvimento do cérebro. Seleção Sexual: Competição O canto, às vezes, é uma prévia de uma competição mais drástica. As aves conseguem determinar a agressividade e sua hierarquia social através do canto (ex: um macho reconhece pelo canto que o outro macho é mais velho, então nem tenta brigar com ele por uma fêmea). Dominar os cantos aumenta a permanência do macho em seu território. Seleção Sexual: Escolhe pela fêmea A fêmea escolhe o macho que canta melhor pois essa genética do canto será passada para os seus �lhotes. Com a fêmea presente, o macho praticamente não canta. Quando o macho teve contato com a fêmea e em seguida ela foi retirada, ele canta muito mais do que em relação a quando a fêmea está ausente, mas ele não teve contato prévio com ela. 9 Correspondia Geográ�ca Machos de outras localidades podem ter mais doenças/parasitos que os machos do local. A fêmea não sabe que o macho de fora está contaminado por alguma doença mas ela sabe, através do canto, que o macho não é da localidade dela, então ela não copula com ele. Os machos que sofrem estresse nutricional, não conseguem cantar tão bem pois o cérebro não consegue se desenvolver tão bem ➞ fêmeas não escolhem machos que cantam mal ➞ insucesso reprodutivo 10 A preferência das fêmeas é pelos machos que têm uma cópia boa do canto Conclusão: o estresse nutricional, em uma fase de desenvolvimento do cérebro, afeta a população e pode causar uma queda drástica da população. 11
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