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@danie�eferreira._ Princípios de Comportamento Social O que é “Altruísmo”? Na natureza, temos vários exemplos de espécies sociais em que, APARENTEMENTE, um indivíduo se dedica ao outro sem ganhar nada em troca e sem deixar descendentes (altruísmo). Nas colônias de formigas, por exemplo, apenas a rainha se reproduz, enquanto as operárias se dedicam em manter a colônia. As abelhas defendem a colônia ferroando qualquer inimigo que apareça. Porém, o indivíduo que ferroa, morre. Então, qual a vantagem de proteger a colônia? É importante pensar em descendência indireta - como os genes, indiretamente, são passados para as próximas gerações. Altruísmo: um enigma evolutivo? Como houve a evolução de indivíduos estéreis? Como há herança de esterilidade se, por definição, indivíduos estéreis não se reproduzem? A resposta para essas perguntas está na descendência indireta. Quando um comportamento altruísta surge na população, ele pode ser muito vantajoso e, sendo vantajoso, aumenta a sobrevivência dos parentes do indivíduo altruísta, fazendo com que esse comportamento seja mantido na população. Alguns pesquisadores utilizam “autossacrifício” como um sinônimo para “altruísmo”. É importante lembrar que o animal não age intencionalmente. O comportamento é mantido na população por ser vantajoso. 1ª explicação para o altruísmo - “Design Inteligente” Antes da década de 70, surgiu a explicação do “Design Inteligente” para o altruísmo (teria sido criado por alguma entidade). Nessa época, castas estéreis eram difíceis de explicar. Acreditava-se que era um comportamento sem valor adaptativo e que a estrutura intermediária das colônias de formigas não eram funcionais. .O “Design Inteligente” NÃO é uma teoria científica. Foi mostrado nessa aula justamente para refutar esse tipo de argumento. Suponhamos que a teoria da evolução moderna não explique coisas complexas como a estrutura social de um cupinzeiro. Por que, mesmo assim, deveríamos rejeitar explicações como a do “design inteligente”? ● uma evidência contra uma hipótese não constitui necessariamente uma evidência a favor de outra hipótese ● se não há hipóteses testáveis, não é ciência ● o que é afirmado sem provas, pode ser refutado sem provas 2ª explicação para o altruísmo - Seleção para o benefício do grupo Essa é uma explicação proto científica, pois ela pode ser testada mas ainda não foram encontradas evidências a favor dela. Se atributos sociais (como altruísmo) tivessem evoluído em benefício do grupo (ou da espécie): ● predição: grupos ou espécies com indivíduos altruístas seriam mai propensos a persistirem Pesquisadores tentaram encontrar exemplos para essa explicação. Nessa espécie, somente os casais com território definido conseguem se reproduzir. Os indivíduos que não definem território, não reproduzem. A hipótese antiga era de que os que não se reproduzem beneficiam os demais por não esgotarem o alimento. Porém, como isso poderia ser herdado se os indivíduos que ajudam (altruístas) não se reproduzem? Voltando aos macacos Hanuman, se ocorresse seleção de grupo, deveria haver muitos macacos dispostos a morrer para matarem filhotes, mas isso não ocorre. Quando os infanticidas percebem que há um grande risco, eles desistem de matar o filhote. Também deveriam haver fêmeas dispostas a matar os seus filhotes, o que também não ocorre. Essa espécie também foi usada como exemplo para essa explicação por muito tempo, pois houve um documentário que mostrava os animais se suicidando quando a população estava muito grande, para que não faltasse alimento para o restante do grupo. Porém, foi comprovado que durante as filmagens do documentário, os animais foram estressados a um nível que os levava a cometer suicidio não intencional (eles se arriscavam mais). Realmente, sob altas densidades populacionais, muitos indivíduos deixam suas tocas e viajam muitas distâncias e esse comportamento leva à alta mortalidade. A consequência disso é que sobra mais comida para quem fica, possibilitando a sobrevivência. Porém, a hipótese de suicidio coletivo para o bem do grupo falha no mesmo ponto que as outras: quem se suicida não deixa descendentes. 3ª explicação para o altruísmo - “Seleção Indireta” A seleção natural depende do sucesso reprodutivo, que é um atributo do indivíduo. O indivíduo altruísta não deixa descendentes diretos, mas se seus parentes se reproduzirem, pode ocorrer de nascer um descendente indireto com o comportamento altruísta. Uma característica se torna comum se o alelo que a condiciona se torna comum na população, não importando se é por herança direta ou indireta. Conclusão: é mais vantajoso criar 3 sobrinhos do que 1 filho, pois a contribuição genética para a próxima geração é maior. Sucesso Reprodutivo (Fitness) Inclusivo Sucesso reprodutivo (ou fitness) inclusivo é a contribuição total de genes de um indivíduo para a geração seguinte. I. nos descendentes diretos que “vingaram” II. indiretamente, por parentesco não-descendente Cuidar da própria prole e ajudar a cuidar da prole dos seus parentes aumenta a representatividade do indivíduo na população, então, se há uma base genética para esse comportamento, ele é facilmente passado entre as gerações, e acaba se tornando comum na população. Por que calcular o “fitness inclusivo”? Porque com ele podemos comparar as consequências evolutivas de duas estratégias comportamentais. Para o altruísmo se manter em uma população, o fitness inclusivo de indivíduos altruístas precisa ser maior que o de indivíduos não-altruístas. No caso das abelhas, entre as operárias, o parentesco é muito alto. A variabilidade genética que se tem é proveniente apenas da rainha (nos casos em que o casal real é monogâmico). Então, ajudar a criar as irmãs é mais vantajoso do que ter filhas. Portanto, qualquer altruísmo herdável iria facilmente predominar na população. Conflito Social O altruísmo não exclui o conflito social. Nessa espécie de vespas, há uma fêmea alfa que tenta sempre ser a única a reproduzir e as outras fêmeas a ajudam. Mesmo ajudando a fêmea alfa, às vezes acontece de uma fêmea operária colocar ovos e há vantagem para a operária em produzir descendentes machos. Porém, há vantagem para a rainha em monopolizar a produção de machos da colônia, por isso ela tenta matar os ovos das operárias. Pode acontecer de alguma fêmea operária reagir a isso e matar a rainha (se ela tiver força suficiente para tal). Em abelhas-sem-ferrão, as larvas são alimentadas da mesma forma, então o controle para definir se a larva será rainha ou operária é endógeno. As rainhas em excesso são mortas e existem épocas do ano em que as fêmeas não toleram machos na colônia, então elas matam todos. Em A: Dinoponera quadriceps - quando a operária está com o ovário em maturação, ela é atacada por outras operárias, a mando da rainha. Elas sabem que o ovário está em maturação através do cheiro. Em B: Harpegnathos saltator: quando uma operária está com o ovário em maturação, ela é aprisionada por outra operária. O modo como é feito o aprisionamento faz com que os ovários não consigam se desenvolver, pois interrompe o fluxo de linfa. Evolução do Comportamento Social Comportamento de Ajuda Viver com outros indivíduos tem alto custo. Além disso, há mais espécies de animais solitários do que sociais. Quais as vantagens de viver em grupo para as andorinhas-de-dorso-acanelado? - a socialidade facilita o forrageamento e melhora a proteção individual contra predadores - cooperação - algumas tarefas ficam mais fáceis quando tem outros indivíduos E quais as desvantagens? - aumenta a infestação por parasitos Esses dois filhotes de andorinha têm a mesma idade. Um foi tratado com antiparasitário e o outro não. Comportamento de ajuda Nessa espécie de peixe, por exemplo, os machos atuam juntos contra a predação dos ovos. Um sozinho não consegue expulsar o predador, mas vários machos juntos conseguem expulsar o predador. Nessa espécie de vespas, as operárias não reproduzem, mas ajudam a rainha. O interessante é que de 15% a 35%das vespas ajudantes não possuem parentesco com a rainha. Por que as operárias que não têm parentesco se sujeitam a isso? Porque, quando elas tentam fundar um ninho sozinhas, pouquíssimas são bem sucedidas, pois o custo para criar um ninho é muito alto. Nessa espécie de ave, há três fenótipos: machos brilhantes, machos meio-brilhantes e machos opacos, sendo que os machos brilhantes são os dominantes. Os machos brilhantes estabelecem seu território e permitem que os machos opacos façam ninhos próximos. Além disso, os machos brilhantes não saem para procurar fêmeas, eles cruzam com as fêmeas dos machos opacos e, após o nascimento, os machos opacos cuidam tanto da prole deles quanto da prole dos machos brilhantes. Os machos brilhantes não permitem outros machos brilhantes por perto e nem os machos meio-brilhantes. Os machos meio-brilhantes também não conseguem estabelecer território, então eles não conseguem reproduzir. Pode ser que a vantagem disso para os machos opacos seja a acessibilidade ao território. Nessa espécie, o macho alfa precisa de outro macho para conseguir fazer o comportamento de "display" para a fêmea. Porém, só o alfa cópula. Então, por que o outro macho ajuda? Porque ele vai poder conhecer os locais onde têm fêmeas, então quando o alfa estiver velho, ele sabe onde encontrar as fêmeas para copular. Hipótese de reciprocidade Um exemplo dessa hipótese é o comportamento de catação, típico de primatas. Um indivíduo realiza a catação em outro, para depois receber a catação também. Eventualmente, o indivíduo que foi ajudado irá ajudar também. É um comportamento recíproco. Essa espécie de ave também é um exemplo da hipótese de reciprocidade. Um casal ajuda o outro a se defender de um possível predador. Ajudar se torna vantajoso quando há expectativa de receber ajuda no futuro. Um exemplo de como o comportamento de ajuda é importante: essa espécie de morcego, se ficar 3 dias sem sangue, morre. Então, indivíduos que conseguem sangue regurgitam para quem não conseguiu poder se alimentar. Como essa interação é recorrente, o comportamento é mantido na espécie. Quem não ajuda, não é ajudado! Seleção de Parentesco e Comportamento de Ajuda Essa espécie de esquilo vive em comunidades bem estabelecidas e tem o comportamento de um indivíduo avisar aos outros quando um predador se aproxima. Quem avisa fica mais exposto à predação. As fêmeas avisam 2 vezes mais que os machos e as fêmeas adultas vivem perto dos seus descendentes, o que significa que na maioria das vezes elas estão dando o alarme para seus próprios parentes. Inclusive, as fêmeas que vivem perto de irmãs, tias e sobrinhas avisam mais. Como os machos podem se dispersar, eles nem sempre estão com parentes na comunidade, então eles acabam avisando bem menos. Essa espécie de ave, quando avista predadores, emite vocalização de alarme para avisar os membros do grupo. Nesse caso, são os machos que dão mais o alarme (quando há parentes deles no grupo). Ajudantes no Ninho Fizeram um estudo com essa espécie e perceberam que os machos de ano que não encontram parceiras tem três opções na vida: 1. ajudantes primários: ajudam a mãe 2. ajudantes secundários: ajudam ninhos alheios 3. atrasados: não ajudam ninguém E o comportamento desses machos tem consequências: 1. ajudantes primários: trabalham mais e tem menor chance de sobrevivência (54%) 2. ajudantes secundários: 74% de sobrevivência 3. atrasados: 70% de sobrevivência O ajudante secundário trabalha bem menos que o ajudante primário. No ano seguinte, os machos que sobreviveram tiveram o seguinte sucesso: 1. ajudantes primários: 60% acharam parceiras 2. ajudantes secundários: 91% acharam parceiras 3. atrasados: 33% acham parceiras (além de não possuir a experiência de estar em um ninho, as fêmeas não conhecem eles) Então, tem-se uma seleção muito forte do comportamento de ajuda, pois é muito vantajoso ajudar (mesmo que seja ajudante primário ou secundário).
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