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1 UNIVERSIDADE PAULISTA (UNIP) CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM DESIGNER DE INTERIORES FERNANDO HARDT RA: 2077968 PROJETO INTEGRADO MULTIDISCIPLINAR III (PIM III) GUERNICA SÃO LEOPOLDO, 2020 2 FERNANDO HARDT RA: 2077968 ESTUDO DE CASO SOBRE GUERNICA Trabalho de conclusão do terceiro bimestre do Curso Superior de Tecnologia em Designer de Interiores da UNIP (Universidade Paulista), Pólo de São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Estudo de caso sobre a tela do pintor espanhol, Pablo Picasso, a história por trás da obra e suas possíveis interpretações. ORIENTDOR(a): Gracielli Monteiro SÃO LEOPOLDO, 2020 3 RESUMO A análise da obra do pintor espanhol, Pablo Picasso, tendo como base as disciplinas de História da Arte e Percepção Visual, Teoria e Psicologia das Cores, estudadas até aqui no curso superior de designer de interiores, seu contexto histórico e um breve estudo sobre a vida e obra de seu autor, nos fez perceber uma enorme quantidade de interpretações a seu respeito. Aprofundamos nossa visão sobre a tela, levando em conta a opinião de estudiosos e historiadores, e aprendemos que não precisa ser um especialista para gostar de arte e analisa-la. Conhecemos o movimento em que a obra se enquadra e conhecemos alguns outros artistas da mesma época. 4 LISTA DE IMAGENS UTILIZADAS NO TRABALHO 1 – O Toureiro .................................................................................................... 7 2 – Lês Demoiselles d’Avignon .......................................................................11 3 – Guernica ......................................................................................................13 4 – La Pietá ........................................................................................................16 5 – Os Fuzilamentos de Três de Maio ...............................................................17 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................ 6 PABLO PICASSO (UMA BREVE BIOGRAFIA) ......................................... 7 GUERNICA (a vila) ......................................................................................... 9 GUERNICA (a obra) ........................................................................................ 9 CUBISMO ....................................................................................................... 11 ANÁLISE GERAL DA OBRA ...................................................................... 13 ANÁLISE DETALHADA .............................................................................. 14 CONCLUSÃO ................................................................................................. 18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 19 6 INTRODUÇÃO No decorrer do presente trabalho, será feito um estudo de caso de uma obra de arte do pintor espanhol Pablo Picasso. A obra em questão é Guernica. Antes de uma análise detalhada da obra, conheceremos um pouco da vida do autor, sua infância, formação, seu estilo de trabalho, obras e inspirações. Será apresentado um estudo a respeito da paleta cores usada, a intenção do pintor na escolha dessa paleta. Serão analisados um a um os personagens dessa obra icônica, passando inúmeras interpretações da crítica, contradições, mitos e lendas. A base para esse estudo, serão as disciplinas Percepção visual: teoria e psicologia das cores, e a História da Arte, estudadas durante o bimestre, incrementadas por pesquisas em outras fontes especializadas na obra e no autor. 7 CAPÍTULO I PABLO PICASSO: UMA BREVE BIOGRAFIA Nascido em 25 de outubro de 1881, em Málaga, Espanha, Pablo Ruiz Picasso foi um pintor, escultor, ceramista, cenógrafo, poeta e dramaturgo espanhol, que passou a maior parte de sua vida na França. Co-fundador do Cubismo, ao lado de Georges Braque, desde jovem, destacou-se na pintura de forma realista. Sua primeira obra foi um óleo sobre madeira – Le Picador(1) , aos 8 anos de idade. 1- Le Picador. PICASSO (1889) óleo sobre madeira 19 x 24 cm Estudou na Real Academia de Belas Artes São Fernando. Desenvolveu seu talento observando e imitando os grandes mestres expostos no Museu do Prado, muito visitado por ele. Em 1900, mudou-se para Paris, onde passou por um período de extrema pobreza, frio e desespero. De volta à Espanha, em Madri, fundou em parceria com seu amigo Soler, a revista 8 Arte Joven, cujo primeiro número foi todo ilustrado por ele. A partir daí é que ele passa a assinar “Picasso”. Antes ele assinava “Pablo Ruiz y Picasso”. No início do séc. XX, seu estilo mudou, graças aos seus experimentos com diferentes teorias, técnicas e idéias, passando por várias fases: 1. Período Azul – (1901-1904) quando pintou a solidão, morte e o abandono. 2. Período Rosa – (1904-1906) quando começou a pintar a alegria do circo, com telas com abundantes tons de rosa e vermelho, inspirado pela paixão por Fernade Olivier. 3. Período Africano – (1907-1909) 4. Cubismo Analítico – (1909-1912) 5. Cubismo Sintético – (1912-1919). Em 1937, Picasso pintou Guernica(3), seu trabalho mais conhecido. Pablo Ruiz Picasso morreu aos 91 anos de idade, em 8 de abril de 1973, em Mougins, França, deixando um legado de 45 mil peças, das quais, quase 1900 quadros. 9 CAPÍTULO II GUERNICA (a cidade) Com mais ou menos 6 mil habitantes, na sua maioria pequenos agricultores e comerciantes, Guernica fica ao norte da Espanha, na província de Biscaia, no País Basco. Conhecida desde a Idade Média pelo conselho de Biscaia e por ser ali que os Monarcas espanhóis fizeram juramentos de respeito aos Foros Bascos. Em 26 de abril de 1937, foi bombardeada por forças a serviço do General Francisco Franco. Cerca de cinqüenta aviões, enviados pelo governo da Alemanha, despejaram cerca de 2500 bombas incendiárias sobre a pequena cidade que ficou em ruínas. O ataque deixou mais de 1500 mortos e 900 feridos graves. Indignado com a covardia e a brutalidade do ataque, Pablo Picasso, para denunciar essa e outras atrocidades cometidas pelas forças do General Franco, pintou a famosa tela, objeto de estudo desse trabalho, Guernica. GUERNICA (a obra) Uma das mais famosas pinturas do artista, Guernica é a mais conhecida do cubismo e retrata os efeitos devastadores de uma guerra. Uma obra emblemática, medindo 349,3cm de altura x 776,6cm largura, foi pintada em tempo recorde, apenas um mês. Um óleo sobre tela, feito a partir de 36 fotos publicadas nos jornais da época e que mostravam a dolorosa conseqüência do bombardeio sobre a cidade de mesmo nome. Para produzir a obra, Picasso não utilizou a técnica comumno cubismo, a collage, que consiste na colagem de papéis e objetos para compor a obra, mas utilizou uma simulação técnica, desenhando e pintando a obra, dando a impressão de colagem e criando a sobreposição de planos. Com uma paleta monocromática, Picasso expressou a dor e o horror do ocorrido, com muito preto, branco e alguns tons de cinza, carregando a tela de drama. Segundo o autor, 10 “A morte não tem cor”. As figuras que compões a obra são características do cubismo, mas também nos levam em direção ao surrealismo e também ao expressionismo, dada a nítida sensação de dor e pânico passada pelos personagens. Uma obra rica em detalhes, com vários significados possíveis e muitas especulações sobre os personagens nela presentes. Alusões a obras de outros grandes nomes no mundo das artes. A tela ficou conhecida como um manifesto político de Picasso, tida também como uma declaração de guerra à guerra, à violência e antibelicista. Após sua Exposição Internacional de Artes e Técnicas, em Paris, Picasso passou sua obra para o Museu de Arte Moderna de Nova York, onde ficou, a pedido do artista até 1981, quando retornou à Espanha e sua volta foi muito comemorada pela jovem democracia espanhola. Guernica nunca mais deverá sair do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, em Madrid, na Espanha. 11 CAPÍTULO III CUBISMO Movimento artístico que surgiu no início do séc. XX, nas artes plásticas, tendo como principais fundadores, Pablo Picasso e Georges Braque e se expandiu para poesia e literatura com os escritores John dos Passos e Vladimir Maiakovski. Lês Demoiselles d’Avignon(2) , quadro de Picasso, é tido como marco inicial do movimento, apesar de historicamente, o cubismo ter tido início com a obra de Paul Cézanne. 2 - Les Demoiselles d’Avignon. PICASSO(1907) óleo sobre tela 244 x 234 cm Os artistas cubistas tentam reproduzir os objetos em todas as dimensões, porém, numa superfície plana, usando formas geométricas e o predomínio de linhas retas, sem a preocupação ou compromisso de fidelidade com a aparência real do objeto. O cubismo se dividiu em fases: fase cezannista ou cezaniana (1907-1909), influência do francês Paul Cézanne; fase analítica ou hermética (1909-1912), caracterizado pela desestruturação da obra em todos os seus elementos. Decompondo a obra em partes, o artista registra todos os seus elementos em planos sucessivos e superpostos, procurando a visão total da figura. A cor se reduz aos tons de castanho, cinza e bege; o cubismo sintético 12 (1913-1914), veio em contraponto à fase analítica, visando reestruturar e tornar novamente reconhecíveis as imagens e objetos presentes nas obras. Também chamado de colagem, por introduzir letras, números, pedaços de materiais variados ou mesmo objetos inteiros na obra. Com isso, os artistas pretendiam ultrapassar os limites da tela e da percepção visual do observador; o Orfismo, (1912) que faz referência a Orfeu e foi introduzido no cubismo por Guillaume Apollinaire, refletia o desejo dos artistas de acrescentar cor ao austero cubismo de Picasso. Grandes nomes das artes plásticas fizeram parte do cubismo: Paul Cézanne, Paul Gauguin, Georges Braque, Pablo Picasso, Tarsila do Amaral, dentre outros. 13 CAPÍTULO IV ANÁLISE GERAL DA OBRA 3 - Guernica. PICASSO (1937) óleo sobre tela 350 x 776 cm Trata-se de um óleo sobre tela de grandes dimensões, pintado por Picasso em 1937 e tornou-se progressivamente um símbolo político de protesto, emblema de todas as tragédias devastadoras da sociedade moderna. Um ícone da paz. A dramaticidade das cores empregadas na tela, ressaltam a dor e o sofrimento, não de um lugar específico, mas de qualquer parte do mundo, e nos fazem quase que sentir a angústia pela qual os personagens do quadro estão passando. Sobre a pintura, Picasso Diz: “A pintura não é feita para decorar moradias. É um instrumento de guerra ofensiva e defensiva contra o inimigo”. A obra traz uma nova linguagem pictórica, misturando abstração, figuração, interpretação e representação, vista como um exemplo de modernidade em meio a um cenário de ruína e reconstrução, quase pendendo pro lado do surrealismo. Numa visão geral da obra, tem-se a impressão de que os personagens estão em um ambiente interno e ao mesmo tempo, externo, dada a representação das linhas retas em perspectiva ao fundo, como se fossem paredes internas, junto com a lâmpada se contrapondo com os telhados e janelas mais ao lado direito da tela. 14 Cheia de representatividade, a obra traz o touro como símbolo da Espanha e o cavalo, símbolo da revolta franquista, misturados com a delicadeza da flor, por exemplo, o que nos leva à muitas interpretações. ANÁLISE DETALHADA Como já mencionado no texto acima, as linhas retas marrons, que passam pela parte superior da tela, de um lado ao outro, dão uma idéia de perspectiva e confundindo ou mesclando um ambiente interno com um ambiente externo. No centro, acima de todos os personagens, no semicírculo azul claro, a luminária em forma de olho que ilumina toda a cena, nos remete ao olho de Deus, onisciente e onipresente, testemunhando toda a experiência dos personagens. No círculo verde, no alto à direita, temos o touro, símbolo da Espanha, uma referência do pintor ao minotauro, presente em algumas de suas obras. Nesse caso temos duas interpretações possíveis e distintas. Uma é que ele simboliza a força e a resistência do povo espanhol diante das atrocidades da guerra. A outra é que o touro simboliza o próprio General Franco, com sua austeridade e imparcialidade diante da crueldade do ataque. O fato é que todos os personagens olham em sua direção, como marcado nas elipses violetas, implorando por ajuda ou demonstrando pavor e indignação com a violência sofrida por eles. Picasso foi genial nessa parte por que conseguiu nos transmitir a sensação de pavor vivida por aquelas pessoas retratadas no quadro. Ao lado do touro, circulado manualmente em roxo, uma figura controversa. Alguns historiadores afirmam ser um pato, ferido, o que nos faz lembrar que a cidade de Guernica era de habitantes simples, agricultores e pequenos comerciantes, e que tamanha foi 15 a violência do ataque que nem os animais escaparam. Outros dizem ser uma pomba, a pomba da paz, ferida, representando a vitória da violência e da barbárie, fazendo o observador refletir. No retângulo verde, no canto inferior direito temos uma figura desmembrada, que nos lembra um soldado, de um lado a cabeça e um braço, do outro lado, o outro braço ainda segurando uma espada quebrada, lembrando o espectador de que na guerra não existe vitoriosos, existem vítimas. Em contraponto a chocante cena do soldado desmembrado, no mesmo retângulo verde, porém circulado de rosa, Picasso nos dá a sutileza de uma flor, como que simbolizando a esperança de dias melhores, ou simplesmente como forma de homenagem às vítimas de tal evento. Na extrema direita da tela, logo abaixo do touro, dominando a cena, a figura chocante de uma mãe segurando o filho morto nos braços, enquanto olha em desespero em direção ao touro, ou, como alguns críticos preferemdizer, em direção ao céu. Entrando no contexto da obra, é possível sentir a dor e talvez ouvir seu clamor para que tal pesadelo acabe. A imagem dessa mulher é também associada à famosa escultura de Michelangelo, La Pietá(4), que representa a Virgem Maria segurando Jesus morto em seus braços. Fragmento de Guernica (1937) 16 4 - La Pietá, MICHELANGELO. Escultura em mármore 174 x 195 cm É dito que até se pode ouvir o clamor dessa mãe com o filho morto nos braços, pela expressão no seu rosto, assim como nos outros personagens do evento, como marcado com quadrados amarelos. Podemos reparar que todos, sem exceções, têm o mesmo semblante de horror e dor. Para não deixar o mundo esquecer o atentado sofrido pelo povo de Guernica, Picasso mostra no canto superior esquerdo as chamas, já que, os alemães, aliados do General Franco, usaram bombas incendiárias. Pode-se notar isso marcado em triângulos laranja, marcados no telhado da casa na extrema esquerda do quadro e também nas vestes de uma pessoa que parece cair do alto da janela. A figura antes mencionada, e que veremos logo abaixo, destacada da obra total, que parece cair em chamas da janela, é parte importante da análise dessa obra, tendo em vista que estudiosos das Belas Artes o comparam a outro personagem do quadro, Os fuzilamentos de Três de Maio(5) , de um outro pintor espanhol, Francisco Goya, tendo em vista que ambos aparecem retratados com os braços para cima. 17 Fragmento de Guernica, PICASSO (1937) 5 - Os Fuzilamentos de Três de Maio, FRANCISCO GOYA (1814) óleo sobre tela 266 x 345 cm Uma obra dramática, cheia de significados, e de tamanha importância no mundo, que há 83 anos é reverenciada e sempre lembrada em qualquer canto do mundo. Nela, Picasso passeou por pelo menos três movimentos artísticos distintos: o Cubismo, ao qual a obra é associada, ao surrealismo, dado o contexto meio de pesadelo que a imagem nos passa, numa confusão perfeita entre dentro e fora, e pelo expressionismo, tamanha a força das expressões de todas as peças que compõem a tela, que nos passam uma sensação de angústia e nos permite, de certa forma, ver e sentir o horror vivido por eles. 18 CONCLUSÃO Guernica tem história, não há como negar, e essa história, começa muito antes de sua confecção. Ouso dizer que se confunde com a história de seu autor. Picasso foi precoce, e desenvolveu seu talento, observando os melhores e revolucionando a arte com seu trabalho. Fez estudos, experiências, dando, muitas vezes cara nova à obras velhas. Fundou o movimento cubista. Virou ícone. Pintando o Naturalismo desde cedo, freqüentou museus e estudou numa boa escola de artes. Excepcionalmente ativo durante sua vida, conseguiu acumular grande fama e fortuna graças ao seu trabalho, não só como pintor, mas também como escultor e ceramista. O ápice de sua carreira, claro, é Guernica, ícone atemporal de repúdio a guerra e a violência. Genial como sempre, Picasso encheu sua obra-prima de significado, introduzindo alusões a obras famosas, abrindo caminho para a imaginação e interpretação, mesmo que sendo enfático na mensagem política. Guernica era há alguns dias, apenas um quadro pintado por algum artista famoso, porém, depois de analisado minuciosamente, separando a obra em partes com as técnicas de Informática Aplicada, com um olhar mais crítico, adquirido com a disciplina de História da Arte e aplicando as teorias de Percepção Visual, passou a ser vida, apesar de retratar a morte. A vida de cada um dos personagens nela representado, deixando vontade de conhecer cada um mais a fundo. Portanto, tanto Picasso como pintor, ou Guernica como obra de arte, cumpriram seu papel. Afinal, arte não deve ser apenas pra decorar as moradias, como disse Picasso ao apresentar sua obra, deve sim ter um papel de educação e ser uma arma contra as injustiças da sociedade. 19 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS https://www.ebiografia.com/pablo_picasso/ https://history.uol.com.br/hoje-na-historia/guernica-de-pablo-picasso https://pt.wikipedia.org/wiki/Cubismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Pablo_Picasso http://www.pablo-ruiz-picasso.net/work-261.php https://www.ebiografia.com/pablo_picasso/ https://history.uol.com.br/hoje-na-historia/guernica-de-pablo-picasso https://pt.wikipedia.org/wiki/Cubismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Pablo_Picasso http://www.pablo-ruiz-picasso.net/work-261.php
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