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2 4 Catalogação elaborada na Fonte. Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária responsável: Eliane Maria Stuart Garcez – CRB 14/074 U588s Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. Departamento de Saúde Pública. Curso de Atenção Integral à Saúde das Mulheres – Modalidade a Distância. Saúde das mulheres e atenção ginecológica [Recurso eletrônico] / Universidade Federal de Santa Catarina. Organizadoras: Roxana Knobel; Carmem Regina Delziovo; Maria Cristina Marques. - Florianópolis: UFSC, 2017. 61 p. : il. color. Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br Conteúdo do módulo: Unidade 1 – As mulheres e as fazes da vida. – Unidade 2 – As fazes de vida das mulheres: o fisiológico e o patológico. – Unidade 3 – Atenção à saúde nas fazes de vida das mulheres. ISBN: 978-85-8267-111-5 1. Saúde das mulheres. 2. Ginecologia. 3. Atenção básica. I. UFSC. II. Knobel, Roxana. III. Delziovo, Carmem Regina. IV. Marques, Maria Cristina. V. Título. CDU: 618 5 GOVERNO FEDERAL Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde (SAS) Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas Coordenação-Geral de Saúde das Mulheres Universidade Federal de Santa Catarina Reitor: Luiz Carlos Cancellier de Olivo Vice-Reitora: Alacoque Lorenzini Erdmann Pró-Reitor de Pós-Graduação: Sérgio Fernando Torres de Freitas Pró-Reitor de Pesquisa: Sebastião Roberto Soares Pró-Reitor de Extensão: Rogério Cid Bastos Centro de Ciências da Saúde Diretora: Isabela de Carlos Back Vice-Diretor: Ricardo de Sousa Vieira Departamento de Saúde Pública Chefe do Departamento: Fabrício Augusto Menegon Subchefe do Departamento: Maria Cristina Marino Calvo Coordenadora do Curso de Capacitação: Elza Berger Salema Coelho Créditos 6 EQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE Coordenação-Geral de Saúde das Mulheres Caroline Schweitzer de Oliveira Célia Adriana Nicolotti Maria Esther de Albuquerque Vilela Thaís Fonseca Veloso de Oliveira Gestora geral do Projeto Elza Berger Salema Coelho Equipe de produção editorial Carolina Carvalho Bolsoni Deise Warmling Elza Berger Salema Coelho Larissa Pruner Marques Sabrina Blasius Faust Equipe executiva Dalvan Antonio de Campos Gisélida Vieira Patrícia Castro Sheila Rubia Lindner Tcharlies Schmitz Thiago Ângelo Gelaim Consultoria técnica Carmem Regina Delziovo Créditos 7 AUTORIA DO MÓDULO Roxana Knobel Carmem Regina Delziovo Maria Cristina Marques Assessoria pedagógica Márcia Regina Luz Identidade visual e Projeto gráfico Pedro Paulo Delpino Diagramação Paulo Roberto da Silva Esquemáticos Naiane Cristina Salvi Ajustes e finalização Adriano Schmidt Reibnitz Design instrucional, revisão de língua portuguesa e ABNT Eduard Marquardt Fonte para imagens e esquemáticos Fotolia Créditos 8 9 Saúdes mulheres e atenção ginecológica Damos boas-vindas e convidamos você a ini- ciar os estudos sobre a saúde das mulheres e a atenção ginecológica. Este módulo trata de questões relacionadas à atenção ginecológica nas fases de vida das mulheres. Iniciamos contextualizando estas fases de vida para na sequência abordar os processos fisiológicos e patológicos, a fim de levar você a refletir sobre sua prática, de- senvolver um olhar criterioso e não medicali- zante na atenção às questões fisiológicas na vida das mulheres, como também permanecer atento na identificação e tratamento dos pro- cessos patológicos. Na terceira unidade abordamos estratégias para a atenção às mulheres nas questões gi- necológicas, incluindo informações sobre as práticas integrativas e complementares pos- síveis de serem implementadas na Atenção Básica. Acreditamos que a abordagem diferenciada de acordo com as necessidades e fases devam fazer parte do processo de trabalho da equipe de saúde, promovendo saúde e ampliando a qualidade de vida das mulheres. Bons estudos! 10 Prevenção de doenças e promoção da saúde na atenção às mulheres As diferentes fases da vida das mulheres, as- pectos fisiológicos e patológicos nas ques- tões ginecológicas. Além de estratégias para a atenção ginecológica na Atenção Básica. Objetivo do módulo Ao final deste módulo você deverá ser capaz de compreender e incorporar nas práticas de atenção à saúde das mulheres as ques- tões ginecológicas relativas às diferentes fases de vida. Carga horária 30 horas. 11 Sumário Unidade 1 – UN1 As mulheres e as fases da vida 13 1.1 Percepções das fases de vida das mulheres 15 1.2 Construção social das fases de vida das mulheres e a medicalização do corpo 21 Unidade 2 – UN2 As fases de vida das mulheres: o fisiológico e o patológico 23 2.1 Desenvolvimento, amadurecimento e envelhecimento das mulheres 25 Unidade 3 – UN3 Atenção à saúde nas fases de vida das mulheres 39 3.1 Estratégias para qualificar a atenção à saúde das mulheres 44 3.2 Práticas Integrativas e Complementares em Saúde 47 Resumo do módulo 52 Referências 54 Sobre as autoras 60 12 13 UN1 As mulheres e as fases da vida 14 15 15 UN1 As mulheres e as fases da vida Saúdes das mulheres e atenção ginecológica Nesta unidade apresentaremos conteúdos para que você pense sobre as fases de vida das mulheres e como as modificações fisio- lógicas refletem na qualidade de vida, nas expectativas e na saúde delas. Inicialmente apontamos as percepções das fases de vida das mulheres para, a seguir, trazer uma refle- xão sobre a medicalização do corpo e da fisio- logia feminina. 1.1 Percepções das fases de vida das mulheres Neste módulo sobre a saúde das mulheres e a atenção ginecológica optamos, de forma didática, por trabalhar as fases da vida das mulheres pontuadas por eventos fisiológicos, resguardando as especificidades das diferen- tes faixas etárias e dos distintos grupos popu- lacionais. O que devemos entender neste con- texto, segundo Pais (2009), é que as trajetórias de vida são singulares, mas inscrevem-se com regularidades e marcas culturais. Assim sendo, é importante compreender que ao lon- go da vida cada mulher passa potencialmente por um conjunto de processos que afetam o seu funcionamento sexual, nomeadamente as mudanças hormonais e fisiológicas da puber- dade, dos ciclos menstruais, do climatério e da menopausa. Figura 1 – Nas diversas fases da vida das mulheres, suas trajetórias são singulares Apesar de existirem os “marcadores” pontuais dos momentos da vida da mulher, cabe lem- brar que há processos não pontuais envolvi- dos. A puberdade inicia-se antes da menarca e o crescimento e desenvolvimento da mulher continua acontecendo após a primeira mens- truação, assim como o processo de climatério se estende por um período antes e após a últi- ma menstruação. Assim, acompanhe no esquemático a seguir a definição de puberdade, menacme, climatério e senilidade, segundo Calandra e Gurucherro (1991). 16 16 UN1 As mulheres e as fases da vida Saúdes das mulheres e atenção ginecológica Muitas vezes há um prolongamento das fa- ses de vida quando se considera o fator idade. Hoje, mulheres com 60 anos, com saúde bem conservada, não se entendem na senilidade. O que precisamos compreender neste contexto é que as trajetórias de vida são singulares, mas inscrevem-se em regularidades com marcas culturais e fisiológicas. As fases de vida e as representações que delas se tem são uma ní- tida demonstração dessas regularidades. Des- tacamos a variabilidade na determinação das fronteiras que separam as fases da vida das mulheres, a ponto que, para algumas, não faz sentido a contagem dos anos (PAIS, 2009). To- dos os processos são culturalmente definidos e o papel social da mulher em cada um deles é fortemente influenciado pelo meioonde vive. Assim sendo, é importante compreender que ao longo da vida cada mulher passa poten- cialmente por um conjunto de processos que afetam o seu funcionamento sexual, nomea- damente as mudanças hormonais e fisiológi- cas da puberdade, dos ciclos menstruais, da gravidez, do pós-parto e da menopausa. Cada mulher viverá estas fases de forma diferente de acordo com a percepção de si, de sua saúde e doença e de como aceita o processo de ama- durecimento e envelhecimento, inerente à vida. Neste tópico, portanto, não serão discutidas as mudanças e alterações que ocorrem na gestação e parto. Destaca-se a necessidade de compreender e valorizar a saúde da mulher para além de sua capacidade reprodutiva. É importante considerar que os períodos de mudança, desenvolvimento e envelhecimento também são períodos vulneráveis, nos quais a mulher pode apresentar mais insegurança e ansiedade, o que pode levar a um aumento da demanda dos serviços de saúde. Importante! A vida de todas as pessoas é marcada pela alternância de períodos de construção ou de manutenção, in- tercalados por períodos de mudanças e transições, estes últimos mais ligados Menacme Senilidade Climatério Puberdade Período de maturação biológica que, através da modificações hormonais, culmina no aparecimento de caracteres sexuais secundários, na aceleração da velocidade de crescimento e, por fim, na aquisição de capacidade reprodutiva da vida adulta. Fase que vai desde a menarca - primeiramenstruação - até a menopausa - última menstruação. Durante esta fase a mulher é capaz de procriar. Fase de transição do estágio reprodutor para o não reprodutor, habitualmente entre os 40 e 65 anos. Fase não reprodutiva da vida da mulher, com diminuição significativa dos hormônios sexuais. 17 17 UN1 As mulheres e as fases da vida Saúdes das mulheres e atenção ginecológica a momentos de desenvolvimento. As fases de mudanças e transições são potencialmente mais vulneráveis, pois questões até então sedimentadas são reavaliadas face às novas tarefas a se- rem desenvolvidas, exigindo mudanças descontinuas ao invés de pequenas al- terações (COSTA, 2000). Um desses períodos é a fase da puberdade, que desencadeia uma série de modificações orgânicas, sendo marcada pelo crescimento de pelos na região púbica, axilas e em outras regiões do corpo, a diminuição no crescimen- to dos ossos, surgimento de acnes (espinhas), a chegada da menstruação (menarca) e ovu- lação, o aumento do desejo sexual, as oscila- ções de humor e as mudanças emocionais. Esta é uma fase de grandes mudanças físicas, sociais e emocionais. Por isso é importante que as meninas recebam apoio do serviço de saúde para saber como lidar com elas. Ações de promoção de saúde, inclusive para pais, responsáveis e professores podem aju- dar as meninas a progredir com êxito na tran- sição para a vida adulta (UES et al., 2016). Fatores culturais e sociais, tabus e falta de diálogo e de oportunidades podem dificultar ou interromper seu desenvolvimento saudá- vel, e como resultad, estas podem tornar-se vulneráveis a situações de risco para a saú- de. Muitas dessas situações estão atreladas à desigualdade de gênero, visto que a nossa sociedade ainda é marcada pelo machismo, sexismo e misoginia. Figura 2 – Puberdade: grandes mudanças físicas, sociais e emocionais Em 2015 o Instituto Vladimir Herzog e o Instituto Patrícia Galvão, realizaram uma pesquisa intitulada “É nóis Inteligência Jovem” para compreender como o ma- chismo atinge as meninas da periferia. Conheça os resultados no link: <http:// agenciapatriciagalvao.org.br/violencia/ enois-inteligencia-jovem-faz-pesqui sa-sobre-machismo-e-violencia-contra -jovens-e-lanca-campanha/>, ou assis- ta ao vídeo Machismo e violência contra a mulher na juventude, no link: <https:// youtu.be/bzPh3bJfVNM>. Você, profissional da saúde, precisa ficar aten- to para a inter-relação na puberdade para os riscos ambientais (ex.: falta de rede de apoio social), familiares (ex.: negligência parental) e pessoais (ex.: habilidades de enfrentamento deficitárias), bem como os diferentes desfe- chos em saúde, como gravidez precoce, abu- so de drogas, depressão, ansiedade, suicídio e violência. Na sequência da vida das mulheres, a mena- cme, compreendida como o período dos anos entre a primeira e a última menstruação, é uma fase em que oportunidades de realiza- ção e desenvolvimento pessoal vêm à tona 18 18 UN1 As mulheres e as fases da vida Saúdes das mulheres e atenção ginecológica para muitas mulheres. Contudo, este tam- bém pode ser um momento de riscos à saúde quando associado ao sexo inseguro e à re- produção, quando os direitos sexuais e repro- dutivos não são assegurados e a demanda de planejamento reprodutivo não é atendida. Destaca-se que a vulnerabilidade feminina diante de certas doenças e causas de morte está mais relacionada à situação de discri- minação na sociedade que a situação com fatores biológicos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que os principais fatores de ris- co para a morbimortalidade de mulhe- res nesta fase da vida são: necessidade contraceptiva não atendida; deficiência de ferro; uso de álcool; hipertensão ar- terial, altos níveis de colesterol e gli- cose; uso de tabaco; excesso de peso e obesidade e sexo inseguro. Leia o relatório “Mulheres e saúde: evidências de hoje, agenda de amanhã”, disponível em <http://www.who.int/ageing/mulhe- res_saude.pdf>. Entre as situações de vulnerabilidade para as mulheres a violência se destaca: elas são as principais vítimas de violência por parceiro íntimo, sendo também mais suscetíveis à depressão e ansiedade. No mundo, um total estimado de 73 milhões de mulheres adultas sofre um grande episódio depressivo a cada ano. Estima-se que aproximadamente 13% das mulheres sejam afetadas por transtornos mentais após o parto, incluindo a depressão, no período de um ano após. Quanto a fatores de risco para a saúde das mulheres, a OMS reconhece seis fatores rela- cionados a doenças crônicas. Acompanhe no esquemático, a seguir. Fatores de risco para a saúde das mulheres Fonte: OMS Hipertensão arterial Hiperglicemia Inatividade física Uso de tabaco Excesso de peso e obesidade Colesterol elevado Estes riscos somam juntos 37% dos óbitos globais em mulheres a partir dos 30 anos de idade. Com isso, você já pode perceber que as mulheres adultas enfrentam uma série de desafios em saúde, os quais incluem riscos crescentes para doenças crônicas não trans- missíveis e violência. Outra fase na vida das mulheres é o clima- tério. Nesta fase da vida feminina ocorre a transição do período reprodutivo ao não re- produtivo. O Ministério da Saúde estabelece o limite etário para o climatério entre 40 e 65 anos de idade, dividido em: Pós- menopausa Perimenopausa Pré- menopausa 19 19 UN1 As mulheres e as fases da vida Saúdes das mulheres e atenção ginecológica ÎÎ pré-menopausa – geralmente, inicia após os 40 anos, com diminuição da fertilidade em mulheres com ciclos menstruais regu- lares ou com padrão menstrual similar ao ocorrido durante a vida reprodutiva; ÎÎ perimenopausa – inicia dois anos antes da última menstruação e vai até um ano após (com ciclos menstruais irregulares e alte- rações endócrinas); ÎÎ pós-menopausa – começa um ano após o último período menstrual (VALENÇA; GER- MANO, 2010). O climatério proporciona uma experiência em que todos os fenômenos involutivos do orga- nismo são considerados como fisiológicos e, por isso, normais. Contudo, tem sido descri- to com enfoque negativo, priorizando sempre seus aspectos biológicos. É como se os cor- pos fossem desvalorizados pelas mudanças, sinalizando uma época da vida da mulher caracterizada por “perdas” (perda das possi- bilidades, do vigor, libido, massa óssea, etc.) decorrentes do processo de envelhecimento. O climatérioé uma etapa importante da vida da mulher, distinguindo-se pela diminuição gradual da produção de hormônios sexuais femininos a partir dos ovários. Esse fato predispõe as mulheres a um conjunto de sinais e sintomas desagradáveis, transitórios, nomeados como síndrome do climatério, além de patologias que podem sofrer influência das alterações hormo- nais, como osteoporose e doenças cardiovas- culares, entre outras. A irregularidade menstrual é universal e os fogachos e suores notur- nos também são bastante frequentes, típicos Sintomas peculiares do climatério Sintomas transitórios Sintomas não transitórios Intervalo diminuído ou aumentado, as menstruações podem ser abundantes e com maior duração. Mucosa mais delgada, propiciando prolapsos genitais, ressecamento e sangramento vaginal, dispareunia, disúria, aumento da frequência e urgência miccional. Ondas de calor (fogachos), sudorese, calafrios, palpitações, cefaleia, tonturas, parestesias, insônia, perda da memória e fadiga. Neurogênicas Ciclos Menstruais Diminuição da autoestima, irritabilidade, labilidade afetiva, sintomas depressivos, dificuldade de concentração e memória, dificuldades sexuais e insônia. Psicogênicas Comum haver aumento das frações de LDL e Triglicerídeos e redução do HDL. Mudança na massa e arquitetura ósseas. Fenômenos atróficos geniturinários Distúrbios no metabolismo lipídico Distúrbios no metabolismo ósseo deste período. É importante enfatizar que as queixas que mais interferem na qualidade de vida da mulher no climatério são as de ordem psicossocial e afetiva. A intensidade das mo- dificações presentes no climatério depende do ambiente sociocultural, das condições de vida da mulher e do grau de privação estrogênica. A maior parte dos sintomas peculiares do cli- matério provém da diminuição dos níveis de estrogênio circulantes. Os mais frequentes são: 20 20 UN1 As mulheres e as fases da vida Saúdes das mulheres e atenção ginecológica As representações sobre a menopausa nas so- ciedades ocidentais ainda são bastante negati- vas com uma construção cultural de perda da feminilidade com o envelhecimento, relacionado também com adoecimento o que leva a medica- lização dos sintomas transitórios nesta fase da vida. O término da possibilidade da reprodução, o sentimento de perda da feminilidade e o medo do envelhecimento são aspectos que cercam a experiência de muitas mulheres nesse período da vida e podem ser fonte de um mal-estar exis- tencial, enunciado por elas de diferentes formas, muitas vezes não imediatamente evidentes. A menopausa marca o início de outra etapa do ciclo de vida da mulher. Como ocorre em média entre 45 e 55 anos, e considerando que, atual- mente, a expectativa de vida da mulher situa-se ao redor dos 79,1 anos (IBGE, 2016), significa que há ainda muito tempo de vida para ser vivi- do após a menopausa, correspondendo a cerca de · de suas vidas. O aumento da expectativa de vida e seu impac- to sobre a saúde da população feminina forçam a adoção de medidas que visem à qualidade de vida durante e após o climatério. Deste modo, é imprescindível que essas mulheres tenham acesso à informação em saúde, numa aborda- gem que seja significativa para elas, tanto para a compreensão das mudanças geradas pelo climatério quanto para serem capazes de en- tender tal fase como integrante de seus ciclos de vida, e não como sinônimo de enfermidades, velhice, improdutividade e fim da sexualidade. Figura 3 – A menopausa marca o início de outra etapa do ciclo de vida da mulher Você conhece ou tem alguma experiên- cia de atenção a mulheres nas diferen- tes fases da vida? Esta atenção valoriza as mudanças no corpo e mente das mu- lheres com abordagem de promoção da saúde e prevenção de doenças? É relevante conhecer as concepções das mu- lheres sobre as mudanças que estão ocorren- do em seu corpo. O profissional da saúde tem papel fundamental nesse processo de escla- recimento, atuando não apenas para prevenir e amenizar sinais e sintomas climatéricos, mas para fortalecer a compreensão sobre este momento, estimular o autocuidado e for- talecer as mulheres para viverem esta fase positivamente, adotando modos de vida sau- dável, alimentação, atividade física prazerosa, possibilidades de lazer. A saúde das mulheres idosas, na fase da seni- lidade, varia expressivamente com fatores so- cioeconômicos e culturais. As mulheres após a menopausa, principalmente após os 60 anos, podem apresentar algum desconforto nas re- lações sexuais com penetração vaginal, devido às condições de hipoestrogenismo e, conse- quentemente, hipotrofia dos tecidos genitais (BRASIL, 2006). Entre os problemas ginecológicos em todas as fases da vida da mulher estão as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), entre eles o HIV e o HPV, fator este associado ao surgi- mento do câncer de colo de útero nas mulhe- res. As mulheres que não sabem como evitar estas infecções ou que não podem fazê-lo enfrentam maiores riscos de adoecimento 21 21 UN1 As mulheres e as fases da vida Saúdes das mulheres e atenção ginecológica e morte, sendo que há evidências de que a violência pode estar presente nestas situa- ções. Assim, fica o alerta a você, profissional da saúde, para que fique atento aos sinais e sintomas de violência contra a mulher. Figura 4 – As ISTs existem em todas as fases da vida da mulher Lembre-se que a vulnerabilidade feminina diante de algumas doenças e causas de morte pode estar relacionada com situações de discri- minação na sociedade, muito mais do que com fatores biológicos. Por esta razão, é importante analisar além da fase da vida da mulher e perce- ber as especificidades – das mulheres negras, indígenas, trabalhadoras da cidade e do campo, as que estão privadas de liberdade e em situa- ção de rua, as lésbicas, entre outras – que você pode reconhecer no seu território. 1.2 Construção social das fases de vida das mulheres e a medicalização do corpo As sociedades de consumo parecem atri- buir aos indivíduos a responsabilidade pela plasticidade de seu corpo e pela manuten- ção da juventude. Neste contexto, o espaço das práticas de consumo que demarcam pa- drões de beleza, estabelecem modos de ser e de viver em torno da perfeição corporal, que, confundida com felicidade e realização, aca- ba gerando grandes frustrações. Os corpos femininos erotizados e dominados demons- tram o tipo ideal de beleza feminina a ser al- cançado por meio do consumo dos produtos (MIRANDA, 2010). Concomitantemente, existe uma verdadeira epidemia de insatisfação com a autoimagem, significativamente maior entre mulheres de todas as faixas etárias. Um dos fatores as- sociados a essa insatisfação com a autoima- gem é o padrão de corpo ideal que a mídia difunde (JAEGER, CÂMARA, 2015; LAUS et al., 2014; RASO et al., 2016; SOUZA; ALVARENGA, 2016). Aproveitando o tema que estamos estu- dando, conheça as ilustrações da artis- ta Carol Rossetti, no link: <https://www. carolrossetti.com.br/mulheres>. Somada a isso, a patologização da normali- dade é uma realidade no cuidado à saúde, e caminha de mãos dadas com a medicalização (CECCARELLI, 2010). Patologização da normalidade de- fine-se como transformar uma carac- terística ou reação humana normal em uma doença a ser tratada (TONE, 2012). Figura 5 – A patologização da vida pode gerar demandas reais ao serviço de saúde. A patologização da vida e a insatisfação com a autoimagem podem gerar demandas reais ao serviço de saúde. São problemas que não 22 22 UN1 As mulheres e as fases da vida Saúdes das mulheres e atenção ginecológica devem ser minimizados ou desvalorizados. Ações de promoção de saúde, tanto indivi- duais como em grupo, podem servir para re- fletir sobre diversos assuntos importantes, como o papel da mulher na sociedade, a fi- siologia da mulher, o corpo ideal como algo inalcançável.Com relação às abordagens terapêuticas, um alerta que precisa ser feito para a medicaliza- ção do corpo e vida das mulheres refere-se aos seguintes aspectos: ÎÎ excesso de programas de rastreamento, muitos deles não validados; ÎÎ medicalização de fatores de risco ÎÎ solicitação de exames complementares em demasia; ÎÎ excessos de diagnósticos, com rotulagem de quadros inexplicáveis. ÎÎ medicalização de sintomas transitórios que po- dem ser manejados através de outras abordagens. A prevenção na área da saúde tem sido tradi- cionalmente focada na doença, mas os con- ceitos vão se modificando ao longo do tempo. Cada vez mais o que antes era considerado normal passa a ser doença. Mais que isso, fatores de risco estão sendo considerados equivalentes à doença (NORMAN; TESSER, 2009). Talvez você já tenha ouvido falar sobre a pre- venção quaternária. Este tipo de prevenção almeja evitar a ocorrência ou os efeitos do excesso de medicalização e intervenções, e se fundamenta em dois princípios básicos: o da proporcionalidade (ganhos devem superar os riscos) e o de precaução (versão prática do primum non nocere, ou seja, primeiro não le- sar) (NORMAN; TESSER, 2009). Este é um alerta importante para você e sua equipe discutirem o processo de trabalho, no cuidado de não medicalizar os processos fi- siológicos da vida das mulheres. Nesse sen- tido, na próxima unidade destacamos os as- pectos fisiológico e patológico das fases de vida das mulheres. 23 UN2 As fases de vida das mulheres: o fisiológico e o patológico 24 25 25 As fases de vida das mulheres: o fisiológico e o patológico Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN2 Conhecer as singularidades de cada fase da vida das mulheres, assim como as modifica- ções que as acompanha fornece subsídios para que os profissionais de saúde atuem no sentido de que as suas intervenções favo- reçam o bem-estar das pessoas, famílias e comunidades (PEREIRA; SEGHETO, 2010). Nesse sentido, o atendimento à mulher com queixas ginecológicas tem particularidades de acordo com a fase que a mulher está vi- vendo. Por isso, é necessária uma sensibi- lização, reflexão e instrumentalização para realizar as ações de saúde de forma eficaz e centrada na mulher. Figura 6 – O atendimento de saúde tem particularidades de acordo com a fase que a mulher está vivendo A seguir, abordaremos estas fases e os as- pectos fisiológicos e patológicos correspon- dentes, apontando para os principais moti- vos de procura pelos serviços de saúde da Atenção Básica. 2.1 Desenvolvimento, amadurecimento e envelhecimento das mulheres No cuidado à mulher, não basta saber se ela está na puberdade, na menacme ou na me- nopausa. Estar na puberdade não é necessa- riamente sinônimo de não querer ter filhos, e o início da menopausa não é concomitante a uma família no estágio tardio para a totalida- de das mulheres. Com as mudanças sociais e as diferentes formas de viver, é interessante sempre in- vestigar em que fase da vida ela se encon- tra. Tanto mulheres púberes quanto aquelas iniciando a menopausa podem estar viven- do a fase da vida de ter filhos pequenos, ou justamente de estar evitando engravidar, por exemplo. Outro ponto importante, já mencionado, mas que merece destaque, é que parece haver uma 26 26 As fases de vida das mulheres: o fisiológico e o patológico Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN2 tendência a considerar que referir-se à saúde da mulher é um sinônimo de referir-se à mu- lher heterossexual e em idade reprodutiva. Por isso salientamos a importância do cuidado à mulher em todas as fases de vida, assim como a importância de considerar a saúde da mu- lher para além do ciclo grávido puerperal. Os programas de atenção à saúde da mulher de maneira geral privilegiam pessoas heteros- sexuais e com enfoque particular na saúde re- produtiva. Nesse sentido, o desafio para você e sua equipe é ir além desta abordagem, iden- tificando todas as necessidades de saúde das mulheres no seu território. 2.1.1 Mulheres na fase da puberdade e menarca Antecedendo a puberdade, a secreção de GnRH (Hormônio Liberador de Gonadotrofi- nas) aumenta e ocorre a resposta da hipófise com secreção de FSH e LH (hormônios Folícu- lo estimunlate e Luteinizante), que resulta na maturação sexual da puberdade. A primeira manifestação será a telarca (desenvolvimento do broto mamário), seguida pela pubar- ca. É normal nesta fase o desenvolvimento mamário assimétrico e o aparecimento de uma secreção vaginal fisiológica. Estabelece- -se a forma corporal feminina, com depósito de gordura predominante na região das ma- mas e dos quadris, resultante do desenvolvi- mento esquelético, muscular e do tecido adi- poso (LOURENÇO; QUEIROZ, 2010) Ressaltamos que o desenvolvimento puberal normal apresenta uma ampla variação indi- vidual, sem remeter a nenhuma patologia. Na população brasileira, a telarca ocorre em média aos 9,7 anos (± 3 anos) e a menarca ocorre aos 12,2 anos (± 2,4 anos) (LOURENÇO; QUEIROZ, 2010). Figura 7 – Caderneta da Adolescente Ministério da Saúde Fonte: Ministério da Saúde (2010). A caderneta da adolescente é um guia para o atendimento nas unidades de saúde que per- mite a avaliação dos seus principais aspectos, tais como crescimento e desenvolvimento, bem como o desenvolvimento puberal. Você pode acessar a caderneta da ado- lescente no link <http://bvsms.saude. gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_ saude_adolescente_menina.pdf>. Na puberdade e menarca a menina pode ser especialmente suscetível a considerar seu corpo inadequado e acreditar que há algo er- rado ou patológico em seu processo de ama- durecimento e desenvolvimento. É importante conhecer a fisiologia e utilizar as demandas das usuárias para reforçar o fisiológico e o empoderamento sobre seu corpo. Nesta fase é essencial tratar com cuidado as questões sobre sexualidade. Em uma amostra de estudantes de 11 a 16 anos, em Florianópolis, 15,9% referiram já haver iniciado atividade se- xual, e quase 40% referia não utilizar preserva- tivo (UES et al., 2016). Ressalta-se que contra- cepção é um direito reprodutivo, considerado 27 27 As fases de vida das mulheres: o fisiológico e o patológico Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN2 direito humano fundamental. Portanto, as me- ninas consideradas adolescentes podem de- cidir livremente e responsavelmente sobre a própria vida sexual e reprodutiva, ter acesso à informação e aos meios para o exercício dos direitos individuais, livres de discriminação, coerção ou violência (TAQUETTE, 2010). Figura 8 – A contracepção é um direito reprodutivo, consi- derado direito humano fundamental Ainda, destacamos que além das evidentes questões relativas à prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), AIDS e gestação indesejada, você, como profissional da saúde, deve estar alerta para identificar vítimas de violência, discriminação, exposi- ção não voluntária e bullying (FORCIER, 2017; SARGENT et al., 2016). Ressaltamos que a violência por parceiro íntimo (incluindo física, psicológica e sexual) é mais comum em mu- lheres jovens, e, entre estas, nas envolvidas com outras atividades de risco, como uso de drogas e álcool (FORCIER, 2017). Outro destaque importante é para as ações de prevenção da exposição indesejada nas redes sociais, o cyber bullying e a discrimina- ção, que devem ser prioridade para esta fase da vida (SARGENT et al., 2016). Lembre-se da importância do trabalho integrado com as escolas para desenvolver estas ações. Importante! Um aspecto relevante é a identificação, no território, de meninas em situação de vulnerabilidade social e pessoal, articulando as políticas sociais básicas e a sociedade para uma ampla intervenção que favoreça a melhoria da qualidade de vida e promova ações de apoio, inclusãosocial, proteção e ga- rantia de direitos. É muito frequente nesta fase que as me- ninas considerem que os profissionais de saúde são a fonte mais confiável de cuida- dos e conselhos sobre sexualidade, prin- cipalmente quando não há diálogo entre pais e filhas (FORCIER, 2017). Assim, ao conversar sobre sexualidade, busque um diálogo aberto, que objetive respostas ho- nestas, focado em objetivos pessoais e promova a responsabilidade e autocui- dado. Observe os aspectos no esquemá- tico na página a seguir, segundo Forcier (2017). Lembre-se da importância das ações in- terdisciplinares e intersetoriais para que se ampliem as possibilidades de atingir esta população e tenham mais resolubilidade. Lembre-se também que meninas bissexuais, transgênero ou lésbicas têm maior risco de abuso, bullying, abuso sexual, violência por parceiro íntimo, problemas de saúde mental (depressão, ansiedade, suicídio, distúrbios alimentares e de imagem corporal), abuso de substâncias (FORCIER, 2017). 28 28 As fases de vida das mulheres: o fisiológico e o patológico Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN2 Figura 9 – Acolhimento e escuta qualificada no atendi- mento às adolescentes Leia na íntegra o caderno Orientações para o Atendimento da Adolescente, neste link: <http://bvsms.saude.gov.br/ bvs/publicacoes/orientacoes_atendi- mento_adolescnte_menina.pdf>. Nesta fase não é recomendada a coleta do exame de Papanicolau (Citologia Oncótica). Antes dos 25 anos, prevalecem as infecções por HPV e as lesões de baixo grau, que terão Garanta a confidencialidade da consulta Pense em prevenção e conheça os recursos de sua comunidade Sinta-se confortável em perguntar e ouvir as respostas (caso você mesmo sinta dificuldade com esse ponto, avalie a possibilidade de outra pessoa da equipe realizar o atendimento) Mostre respeito, evite suposições (supor que a menina já tem atividade sexual, ou que ela é heterossexual, por exemplo) Ajude a mulher a reconhecer comportamentos sexuais de risco, relacionando com outros comportamentos, como o uso de bebidas alcóolicas Escute as respostas, evite jargões médicos Faça perguntas claras sobre o que quer saber (nesta fase, muitas não responderão se não forem perguntadas) Na conversa com a adolescente Motivos de procura por atendimento de saúde na puberdade e menarca Um dos motivos é a avaliação do crescimento e desenvolvimento saudável, buscando escla- recer dúvidas. Para que você possa relembrar os pontos importantes para este atendimen- to, é importante acessar as Orientações para o Atendimento a Saúde da Adolescente. Este caderno traz subsídios para avaliação da pu- berdade, crescimento e desenvolvimento, de- talhando informações sobre desenvolvimen- to puberal com imagens para os estádios de maturação sexual de Tanner, as quais podem ser muito úteis na consulta da adolescente e púbere. 29 29 As fases de vida das mulheres: o fisiológico e o patológico Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN2 uma regressão espontânea na maioria dos casos. Nas queixas relacionadas ao fluxo va- ginal e cervicites com presença de mucopus e sangramento do colo ou dor a mobilização do colo tratar para a gonorreia e clamídia. Devido ao grande número de mulheres assin- tomáticas (em torno de 70% a 80% dos casos) e a baixa sensibilidade das manifestações clí- nicas nas cervicites, “na ausência de laborató- rio, a principal estratégia de manejo das cervi- cites por clamídia e gonorreia é o tratamento das parcerias sexuais de homens portadores de uretrite”. O diagnóstico laboratorial da cervicite causada por C. trachomatis dever ser feito por biologia molecular e cultura. Para diagnóstico da cervi- cite gonocócica, proceder à cultura em meio se- letivo, a partir de amostras endocervicais e ure- trais (BRASIL,2016). As infecções por Chlamydia e Gonococo são muito prevalentes e podem ser inicialmente assintomáticas, mas causar complicações futuras, tais como doença infla- matória pélvica, infertilidade, dor pélvica cônica, complicações na gestação, além de disseminar a patologia para os contactuantes sexuais eco- munidade (WORKOWSKI et al., 2015). Outro motivo de procura pelos serviços de saúde nesta fase é o atraso na menarca e no desenvolvimento puberal. A primeira dúvida é quando considerar a in- vestigação de um atraso na menarca. A ame- norreia primária é definida como a ausência de menstruação em mulheres com 15 anos com crescimento e desenvolvimento puberal normal (WELT; BARBIERI, 2016). Assim, con- sidera-se necessária uma investigação antes dos 15 anos de idade nos seguintes casos: ÎÎ mulheres com 13 anos e ausência de desenvolvi- mento de caracteres sexuais secundários (desen- volvimento mamário e de pelos); ÎÎ mulheres com menos de 15 anos e desenvol- vimento puberal normal que apresentam dores pélvicas cíclicas (WELT; BARBIERI, 2016). A causa mais comum de amenorreia primá- ria são anomalias cromossômicas que levam a uma disgenesia gonadal (WELT; BARBIERI, 2016). Outra causa que pode levar à consulta para avaliação da amenorreia primária é a Sín- drome do Ovário Policístico, que será discutida mais adiante. Em todos os casos de amenorreia é preciso descartar a possibilidade de gestação. Importante! Lembre-se: o primeiro diag- nóstico diferencial a pensar frente a um quadro de amenorreia é a gestação! Outro motivo de procura pelos serviços de saú- de nesta fase são as alterações menstruais. Lembramos que no primeiro ano após a me- narca (pode estender-se por dois anos), há uma imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise- -ovário e aproximadamente 50% dos ciclos são anovulatórios. Essa é a causa de irregularida- de menstrual mais frequente nesta fase, e se não houver comprometimento hemodinâmico ou anemia, terá resolução espontânea com o amadurecimento (ACOG, 2015). É preciso atentar para os aspectos fisiológicos deste amadurecimento e que você como pro- fissional de saúde pode atuar de forma a re- duzir a visão negativa que a adolescente pode ter desta fase. Oferecer apoio psicossocial fo- cado no estresse situacional e na melhoria da 30 30 As fases de vida das mulheres: o fisiológico e o patológico Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN2 capacidade de resolução de problemas pode ser suficiente nos casos leves. Figura 10 – Irregularidades menstruais: pergunte a respeito Outra causa de irregularidade menstrual é a síndrome dos ovários policísticos. A sua clínica inclui sinais de hiperandrogenismo (hirsurtismo, acne), obesidade e resistência à insulina. A síndrome pode apresentar-se com apenas um desses sinais ou sinto- mas, mas nenhum deles isolado é suficiente para estabelecer o diagnóstico. É importan- te afastar outras causas de hiperandroge- nismo, como tumores adrenais e ovarianos (ROSENFIELD, 2017). Essa patologia é uma das mais frequentes (PIMENTEL et al., 2012). Acesse na íntegra o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas: <http://portalar quivos.saude.gov.br/images/pdf/2014/ abril/03/pcdt-sindr-ovarios-polic-hirsu tismo-acne-livro-2013.pdf>. Por fim, lembre-se que nesta fase pode ocor- rer sangramento menstrual excessivo, princi- palmente na menarca, que pode levar à neces- sidade de transfusão, provocar anemia e/ou refratário a tratamento. Nesta situação, é pre- ciso pensar em distúrbios da coagulação ou alteração plaquetária. Lembramos que você deve sempre investigar outras causas, como sangramentos relacionados com ciclo grávido puerperal, traumas, infecções. Regularidade do ciclo (variação em dias entre os ciclos mais longos e o mais curto): até 7 dias, podendo chegar a 9 dias. Nos extremos do menacme (adolescência e pré-menopausa) a variação pode ser maior (FRASER et al., 2011). Dias de fluxo até 8 dias (FRASER et al., 2011). Fatores sobre os ciclos menstruais Volume de sangue a definição clínica é subjetiva. Um volumenormal é o que não interfere com a qualidade de vida, sem prejuízos físicos, psíquicos ou sociais para a mulher (FRASER et al., 2011). Duração do ciclo de 24 e 28 dias (FRASER et al., 2011). Ciclos entre 25 e 35 dias, são ovulatórios, ciclos mais curtos podem ocorrer por diminuição da fase folicular (ocorre com o avanço da idade) ou inadequação da fase lútea. Ciclos mais longos, geralmente são anovulatórios (WELT, 2017). 31 31 As fases de vida das mulheres: o fisiológico e o patológico Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN2 2.1.2 Mulheres na fase da menacme A partir da menarca, a mulher entra na fase re- produtiva, ou menacme. Os ciclos menstruais podem variar em duração, dias de sangra- mento, volume de sangue, sem decorrência de nenhuma patologia. Acompanhe no esquemá- tico abaixo, os fatores a serem considerados: Nesta fase, as ações de saúde devem indivi- dualizar o que cada mulher necessita em ter- mos de proteção contraceptiva. Importante! Na menarca e no puerpé- rio podem ocorrer ciclos ovulatórios. É importante discutir com as mulheres e seus parceiros sobre métodos de pla- nejamento reprodutivo eficazes nestas fases. Acompanhe, a seguir, os motivos de procura por atendimento de saúde nesta fase. Motivos de procura por atendimento de saúde na menacme Um dos motivos de procura no serviço de saú- de nesta fase é a anormalidade da menstrua- ção, uma queixa frequente entre as mulheres. O diagnóstico e o tratamento das amenorreias, tanto primárias (a mulher nunca menstruou) quanto secundárias (a mulher menstruava e para de menstruar) pode ser estudado no Pro- tocolo de Atenção Básica Saúde das Mulheres. Acesse o Protocolo de Atenção Básica Saúde das Mulheres. Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/ portaldab/publicacoes/protocolo_sau de_mulher.pdf>. O Sangramento Uterino Anormal (SUA) é um termo abrangente e pode corresponder a di- versas patologias. Desde 2011 a Federação In- ternacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) propõe uma terminologia para uniformizar a nomenclatura, evitando termos mal definidos e confusos (FRASER et al., 2011). A FIGO tam- bém propõe um sistema simples de diagnós- tico que abrange todos os possíveis atuantes ou contribuintes para o SUA numa determi- nada mulher (não gestante e na menacme). A proposta é utilizar o acrônimo PALM-COEIN, que inclui quatro categorias de critérios obje- tivos estruturais (PALM: pólipo, adenomiose, leiomioma e malignidade/hiperplasia) e qua- tro que não estão relacionadas com anoma- lias estruturais (COEI: coagulopatia, disfunção ovulatória, endometrial, iatrogênica) e a letra N para as não classificadas (MUNRO, 2016). Acompanhe no esquemático abaixo. Acesse o guia prático Manejo de Sinto- mas Menstruais/Manejo do Sangramen- to Uterino Anormal (Sua) da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, em: <http://www.adolescenciaesaude. com/imagebank/PDF/v6n4a05.pdf?ai d2=6&nome_en=v6n4a05.pdf>. Pólipo Adenomiose Leiomioma Malignidade/ hiperplasia Coagulopatia Disfunção ovulatória Disfunção endometrial Disfunção iatrogênica Não classificadas PALM COEI N A dor abdominal e pélvica em mulheres é tam- bém motivo de preocupação e de necessidade de consulta. Pode acontecer em todas as faixas etárias, porém é mais frequente na menacme. 32 32 As fases de vida das mulheres: o fisiológico e o patológico Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN2 É importante afastar motivos ginecológicos (e obstétricos) para permitir o diagnóstico di- ferencial e tratamento adequado. No protocolo de saúde da mulher (já referenciado), há qua- dros e tabelas sintéticos para ajudar no diag- nóstico diferencial e tratamento. A dor na relação sexual (dor vulvovaginal ou pélvica, provocada ou exacerbada pela reala- ção sexual) tem uma prevalência variada entre 6 e 40%, mas é pouco discutida e apresentada (REZAEE et al., 2017). Há diversas formas de classificar a dor na relação sexual, mas suge- re-se buscar ao menos um dos seguintes sin- tomas (McCABE et al., 2016). Dor na penetração Dor vulvovaginal e pélvica no contato genital Medo e ansiedade sobre dor pélvica e vulvovaginal em antecipação ou como resultado de um contato sexual Hipertonicidade e hiperatividade dos músculos do assoalho pélvico Investigue com a mulher, os sintomas da dor na relação A origem da dor na relação sexual geralmente é multifatorial, mas fatores físicos (apresen- tados a seguir), sexuais, psicossociais devem ser investigados (REZAEE et al., 2017). Acompanhe no esquemático abaixo, os fato- res identificáveis. causas inflamatórias: líquen, doença inflamatóriada bexiga causas neoplásicas e neurológicas: esclerose múltipla, neuroplatias periféricas, fibromialgia traumas Fatores identificáveis para a origem da dor na relação sexual infecciosos: DIP, candidiase, IST, infecções urinárias hormonais: o uso de anticoncepcionais pode contribuir para uma secura vaginal e pouca lubrificação, assim como os estados hipoestrogênicos do climatério e senilidade anatômicos: síndrome de dor pélvica miofascial, e menos frequentemente, anormalidade mullerianas e distopias 33 33 As fases de vida das mulheres: o fisiológico e o patológico Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN2 Outros fatores que devem ser investigados são de caráter psicossocial – lembrar que histórias de abuso físico e sexual estão significativamen- te associadas a queixas sexuais. Mas o abuso não é uma condição necessária para ter dor. Mulheres que tiveram dor na relação por qual- quer motivo, principalmente de forma regular, tendem a ter medo e ansiedade de voltar a sentir. Esse medo, por si só, pode levar à con- tração voluntária ou involuntária dos múscu- los vaginais, piorando a dor na penetração e tornando o quadro crônico. Além disso, de- pressão e ansiedade e outros quadros psi- quiátricos podem estar independentemente associados a dores crônicas, inclusive dor na relação sexual. No caso de mulheres com companheiro(a) fixo, conflitos, dificuldade de comunicação, discrepância de desejo sexual entre os cônjuges e abusos podem gerar ou piorar um quadro de dor na relação sexual. É importante considerar também que o próprio quadro clinico pode gerar ou agravar conflitos entre casais. A dor pode ter origem idiopáti- ca, quando não é descoberta nenhuma causa identificável, ou quando a dor persiste mes- mo quando a causa é tratada (REZAEE et al., 2017). Acompanhe o esquemático ao lado. no início da penetração (vestibulodinea e infecções agudas) na penetração profunda (DIP, disfunções pélvicas, problemas urinários ou intestinais, endometriose) não relacionada com a relação sexual (neuralgias, disfunções do assoalho pélvico) após a relação sexual (fissuras e outras dermatoses) antes do contato genital (vulvodinea generalizada ou ansiedade com contato sexual) No atendimento, é importante você diferenciar se a mulher tem um quadro de dor 34 34 As fases de vida das mulheres: o fisiológico e o patológico Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN2 O exame ginecológico é imprescindível, mas pode ser especialmente desconfortável e an- siogênico pela queixa de base. Um cuidado especial com consentimento e confiança deve ser tomado para o exame dessas mulheres. É importante que o exame seja completo. inspe- ção de genitália externa, busca de pontos do- lorosos, especular, toque bimanual. Se o qua- dro álgico impedir ou dificultar o exame, o uso de lidocaína gel pode ajudar. Se mesmo assim for intolerável, buscar outras alternativas ou referenciar ao serviço de ginecologia. Se identificada a causa, deve ser tratada. É importante valorizar a queixa e ajudar a mu- lher a lidar com o quadro clínico. Pode ser ne- cessário o encaminhamento ao especialista conforme a causa encontrada (ginecologista, urologista,neurologista) (REZAEE et al., 2017). Outro motivo de procura pelos serviços de saú- de nesta fase é o aumento ou alteração da se- creção vaginal. Lembramos que o status hor- monal da mulher possibilita mudanças no trato genital feminino, com a presença de secreção fisiológica com odor característico. Essa se- creção aumenta na gestação, durante o uso de medicação com estrógeno (anticoncepcionais orais, por exemplo), no período ovulatório e pré- menstrual. No esquemático abaixo, você pode acompanhar algumas causas que exigem uma investigação do profissional de saúde quando acompanhadas de secreção vaginal. odor forte e desagradável for acompanhada de disúria ou dor na relação sexual for acompanhada de dor em baixo do ventre presença de sangue Causas que exigem investigação quando acompanhadas da secreção vaginal febre ardência, hiperemia ou prurido vulvar O uso de sabonetes e outros produtos para limpeza da área genital é muito comum entre mulheres na América Latina, sendo que mais de 70% das mulheres das mulheres utilizam (LÓPEZ et al., 2015). Nestes casos, alguns cuidados devem ser tomados, porque a lava- gem excessiva ou com produtos inadequados podem danificar a flora vaginal normal e a pe- lícula protetora natural, levando a um aumen- to de infecções e sintomas vulvo-vaginais. A higiene vulvar que parece prevenir infec- ções inclui limpeza adequada com movimen- tos sempre da vulva em direção ao ânus, não fazer a higiene mais de 2-3 vezes ao dia e, se utilizar um sabonete, que seja não irritativo e que mantenha ou reestabeleça o pH ácido (LÓPEZ et al., 2015). Outro ponto importante a ser destacado nes- ta fase é a necessidade de fazer o rastrea- mento do câncer de colo pelo exame cito- patológico (exame de Papanicolau). A rotina recomendada para o rastreamento é a repe- tição do exame a cada três anos, após dois exames normais consecutivos realizados com um intervalo de um ano. A repetição em um ano após o primeiro teste tem como ob- jetivo reduzir a possibilidade de um resultado 35 35 As fases de vida das mulheres: o fisiológico e o patológico Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN2 falso-negativo na primeira rodada do rastre- amento. Deve ser oferecido às mulheres na faixa etária de 25 a 64 anos e que já tiveram atividade sexual. Em portadoras do vírus HIV ou imunode- primidas o exame deve ser realizado logo após o início da atividade sexual, com pe- riodicidade anual após dois exames normais consecutivos realizados com intervalo se- mestral. Mulheres sem história de atividade sexual ou submetidas a histerectomia total por outras razões que não o câncer do colo do útero não necessitam fazer o rastrea- mento (INCA, s/d). 2.1.3 Mulheres na fase do climatério e menopausa A menopausa natural é definida como a au- sência permanente de ciclos menstruais, de- terminada retrospectivamente depois de 12 meses de amenorreia sem outras causas. A média de idade da menopausa é 51,4 anos (CASPER, 2017). A menopausa antes dos 40 anos é anormal e decorre de uma falência ovariana precoce (CASPER, 2017). Antes que os ciclos mens- truais cessem completamente, na maioria das mulheres ocorre a perimenopausa ou transição menopausal, que pode cursar com ciclos irregulares, mudanças endócrinas e si- nais e sintomas (CASPER, 2017). O climatério é um processo fisiológico com curso previsível, que durará de 4 a 6 anos (BOUMA et al., 2012). Motivos de procura por atendimento de saúde no climatério e menopausa A procura por serviços de saúde nesta fase pode estar relacionada aos sintomas fisiológi- cos. O sintoma característico da perimenopausa e do início da menopausa são as ondas de ca- lor. Ocorrem em mais de 80% das mulheres em algumas culturas, mas apenas 20-30% das mulheres buscam atendimento por esse motivo. Sem nenhum tratamento, as ondas de calor param espontaneamente, mas a maioria das mulheres apresenta o sintoma por 4 ou 5 anos, com 9% das mulheres descrevendo o sintoma após os 70 anos (CASPER, 2017). Outros sintomas da transição menopausal e da menopausa em si, são: distúrbios do sono (prevalência de 32 a 46%), depressão, secura vaginal, alterações cognitivas, dores articulares (CASPER, 2017). distúrbios do sono secura vaginal alterações coginitvas dores articulares depressão ondas de calor Sintomas da transição menopausal e da menopausa Na abordagem destes sintomas parece haver duas tendências de pensamento. Por um lado, há uma corrente que enfoca mais a fisiologia do processo autolimitado, que é o climatério, e nos riscos do uso de hormônios (BOUMA et al., 2012). Por outro lado, outra corrente ba- 36 36 As fases de vida das mulheres: o fisiológico e o patológico Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN2 seia-se nos benefícios da Terapia de Reposi- ção Hormonal (TRH) e na raridade dos efeitos colaterais (WENDER; POMPEI; FERNANDES, 2014). Ambas as tendências concordam, no entanto, que a terapêutica deve ser individu- alizada e por tempo restrito (BOUMA et al., 2012; WENDER et al., 2014). A TRH é muito eficaz em melhorar os sinto- mas vasomotores, tem efeito positivo no hu- mor e na qualidade do sono e melhora/previne a atrofia vaginal, melhorando a função sexual; previne fraturas ostoporóticas, reduz o risco de Diabete Melittus Tipo 2 e diminui o risco de câncer colo retal (WENDER et al., 2014). No en- tanto, o uso de TRH tem efeitos adversos ra- ros, mas potencialmente fatais, pois aumenta o risco de tromboembolismo venoso, câncer de mama, e, dependendo do momento de iní- cio, pode aumentar os riscos cardiovasculares (BOUMA et al., 2012; WENDER et al., 2014). A Sociedade Brasileira de Geriatria e Geron- tologia chama a atenção quanto à evidência científica forte de que “está contraindicada a prescrição de terapia de reposição de hor- mônios como terapêutica antienvelhecimento com os objetivos de prevenir, retardar, modu- lar e reverter o processo de envelhecimento; prevenir a perda funcional da velhice; e preve- nir doenças crônicas e promover o envelhe- cimento e/ou longevidade saudável (nível de evidência A) (BRASIL,2016). Entre os fitoterápicos presentes na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rena- me), o único que está associado ao tratamen- to dos sintomas do climatério é a isoflavona da soja. Destaca-se o tratamento com a Cimi- cifuga Racemosa em associação com outros fitoterápicos, pareceu diminuir os sintomas vasomotores conforme uma revisão sistemá- tica (ISMAIL et al., 2015); contudo, o mesmo não é mostrado na revisão da biblioteca Co- chrane, embora esta sugira mais estudos com o fitoterápico (LEACH; MOORE, 2012). Figura 11 – Exercícios físicos: prática complementar O tratamento com fitoterápicos como a Cimi- cifuga Racemosa em associação com outros, também fitoterápicos, pareceu diminuir os sin- tomas vasomotores conforme uma revisão sistemática (ISMAIL et al., 2015); contudo, o mesmo não é mostrado na revisão da bibliote- ca Cochrane, embora esta sugira mais estudos com o fitoterápico (LEACH; MOORE, 2012). Para uso ou não de TRH, é necessário uma deci- são compartilhada de tratamento com a mulher. A tomada de decisão compartilhada é definida como o processo de envolver as usuárias nas decisões clínicas. No site da clínica Mayo (em inglês), os riscos e benefícios da TRH estão muito bem explicados e facilitam o aconselha- mento e a tomada de decisão. Acesse: <http://www.mayoclinic.org/diseases- -conditions/menopause/in-depth/hor- mone-therapy/art-20046372>. Outro link interessante de estudar é o Consenso Brasileiro de Terapêutica Hormonal na Menopausa, em <https:// pt.scribd.com/document/284001558/ Consenso-Brasileiro-de-Reposicao -Hormonal>. Acesse ainda: <https:// www.menopause.org/for-women/se- xual-health-menopause-online>. 37 37 As fases de vida das mulheres: o fisiológico e o patológico Saúdes das mulherese atenção ginecológica UN2 Lembre-se que até os 64 anos é necessário continuar com a coleta do exame de preven- ção do câncer – Papanicolau. Com relação ao rastreamento para câncer de mama, a diretriz atual para mulheres assin- tomáticas recomenda o uso da mamografia com periodicidade bienal nas mulheres en- tre 50 e 69 anos (BRASIL, 2015b). O autoe- xame das mamas não é mais recomendado (BRASIL, 2015b). Conheça melhor a discussão sobre diagnóstico precoce de câncer de mama. Acesse: <https://www.horapar- to.org/mamografia-para-triar-cancer- -de-mam>. 2.1.4 Mulheres na fase da senilidade Envelhecer é parte do processo fisiológico da vida. O tempo modifica diversos processos biológicos. O envelhecimento não é um pro- cesso homogêneo; em uma mesma pessoa os órgãos e sistemas envelhecem em tempos di- ferentes, condicionados por múltiplos fatores (como genéticos, ambientais e de hábitos de vida) (TAFFET, 2017). É um momento oportuno para refletir sobre estereótipos do envelhecimento e estar atento aos nossos próprios preconceitos sobre en- velhecer (KINGSBERG, 2002). Lembramos que as mulheres idosas devem ser questionadas sobre sua sexualidade e sobre queixas geni- to-urinárias (AGRONIN, 2017). Motivos de procura por atendimento de saúde na senilidade Nas queixas ginecológicas, o envelhecimento aumenta o risco de incontinência urinária, in- fecção urinária e dispareunia. A incontinência urinária ainda é sub-diagnos- ticada e sub-tratada (HARRIS et al., 2007). As mulheres podem não se queixar espontanea- mente de incontinência urinária, seja por ver- gonha, falta de conhecimento (considerar o sintoma como normal e esperado para a idade, desconhecer a possibilidade de tratamento) ou medo de procedimentos cirúrgicos (HARRIS et al., 2007). No entanto, a incontinência pode ter impacto sobre a qualidade de vida, a função sexual, a morbidade e a sobrecarga sobre os cuidadores (GOTOH et al., 2009). Figura 12 – Senilidade: reflita sobre os estereótipos do envelhecimento A incontinência pode ser devido à diminuição da inervação e alterações neurológicas, que levam a uma diminuição da contratilidade do músculo detrusor, da capacidade vesical e da capacidade de suspenderamicção (TAFFET, 2017). Na mulher idosa, a atrofia causada pela falta de estrogênios diminui o tamanho de uretra e sua pressão máxima de oclusão, au- mentando a chance de incontinência urinária e infecção do trato urinário (TAFFET, 2017). 38 38 As fases de vida das mulheres: o fisiológico e o patológico Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN2 A falta de estrógenos causa também atrofia da mucosa vaginal e de todo o assoalho pélvico, aumentando a chance de distopias genitais (retocele e cistocele). A secreção fisiológica diminui junto com a flora vaginal, levando a um aumento de pH que facilita a colonização pela flora entérica (TAFFET, 2017). São mudanças fisiológicas do corpo que pre- cisa de adaptações, como por exemplo exercí- cios para musculatura pélvica, uso de lubrifi- cantes vaginais, entre outros. A sexualidade da mulher idosa é carregada de preconceitos e tabus com ideia de que a sexualidade está ligada a reprodução e a pre- sença dos hormônios ovarianos. Nesta fase sintomas relacionados a atrofia genital podem ocorrer e podem causar dispareunia. Atentar para os sintomas clínicos e psíquicos e apoiar a iniciativa da mulher na melhoria das rela- ções sociais e familiares, orientar lubrifican- tes vaginais a base de água na relação sexual e considerar terapia para alívio dos sintomas associados a atrofia genital (BRASIL, 2016). Figura 13 – As mulheres podem vivenciar de forma saudável este período É importante que você, como profissional da saúde, auxilie as mulheres a vivenciar de forma saudável este período. O envelhecimen- to também traz maturidade emocional, e em muitos casos favorece o vínculo e as relações íntimas entre os casais. Destacamos a im- portância de focar a orientação na comunica- ção entre o casal e na possibilidade de obter prazer na relação (e até mesmo mais prazer), mesmo com a diminuição da frequência dos intercursos sexuais (AGRONIN, 2017). A seguir, na unidade 3 trazemos algumas con- siderações e informações sobre a atenção à saúde nas fases de vida da mulher. 39 UN3 Atenção à saude nas fases de vida das mulheres 40 41 41 Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN3 Atenção à saúde nas fases de vida das mulheres Neste módulo o enfoque são as questões ginecológicas, fisiológicas e patológicas, bem como os principais motivos de procura das mulheres pelos serviços de saúde. Nes- se sentido, iniciamos esta unidade pergun- tando: Como é o atendimento a mulheres com queixas ginecológicas em sua unida- de? Há espaço físico adequado para realizar essas consultas? Você se sente tranquilo e preparado para conversar sobre assuntos mais íntimos, como a sexualidade? Figura 14 – Atendimento a mulheres com queixas gineco- lógicas na Atenção Básica Vamos falar um pouco sobre este atendi- mento. Na anamnese, não é infrequente que a mulher não saiba “como iniciar” a consulta e também não é infrequente que o profissio- nal de saúde faça uma anamnese dirigida para fatos objetivos – menarca, característica dos ciclos menstruais, numero de gestações. Essa pode ser uma estratégia a ser utilizada para “quebrar o gelo”, mas também pode limitar a abrangência da anamnese e dificultar o cui- dado centrado na mulher (CALANDRA; GURU- CHERRI, 1991). Destacamos dois episódios que são frequen- tes na atenção à saúde das mulheres com re- lação a queixas ginecológicas, descritos por Calandra (1991). O primeiro é uma consulta ginecológica de rotina, mulher sem queixas e com exame fí- sico e ginecológico normal. O profissional de saúde, satisfeito, comunica à mulher que tudo está bem. Todos os registros são feitos e solicitados os exames necessários. Já na porta do consultório, ao se despedir, a mulher diz: “Então... Eu queria perguntar... É normal que eu já não tenha vontade de ter relações sexuais? É pela idade?”. A outra situação é uma consulta de emergên- cia solicitada pela mulher em função de uma 42 42 Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN3 Atenção à saúde nas fases de vida das mulheres também é importante conversar com os ou- tros profissionais da equipe sobre este tipo de abordagem. Evidências sugerem que mui- tas mulheres têm perguntas e necessitam de informações sobre sua função sexual, mas não costumam perguntar ao profissional de saúde (FRANKEL; WILLIAMS; EDWARDSEN, 2015; RAMALHEIRO; GODINHO; MAIA, 2011). Os motivos alegados para isso pelas mulheres são vergonha e receio de que o profissional de saúde não considere este assunto relevante (RAMALHEIRO et al., 2011). Importante! Crie um contexto seguro para falar de saúde e função sexual. Ga- ranta a confidencialidade do atendimen- to. O seu interesse no assunto deve ser totalmente voltado para os riscos para a saúde e nas orientações para o autocui- dado e hábitos de vida saudáveis, sem emitir juízos de valor sobre preferências sexuais ou escolhas de vida. Lembre-se que a cultura local e a cultura de origem da mulher em atendimento podem influenciar muito a abordagem nessa esfera. Aprender as perguntas típicas e apropriadas e ter claro (para si mesmo e para a mulher) so- bre o motivo de perguntar sobre sexualidade podem ajudar a abordar o tema (FRANKEL et al., 2015). Perguntar sobre a orientação sexual, o número de parceiros(as) anteriores e atuais, o uso de condom e outras proteções é importante, pois ajuda a pensar ações preventivas e terapêuti- cas, de autocuidado e hábitos de vida saudá- veis. A população de mulheres homossexuais, por exemplo, pode ser especialmente vulnerá- vel a não receber acompanhamento adequado e demorar para buscar atendimento em caso de necessidade,pois tem menos acesso a serviços de saúde, consultas ginecológicas e sofrem discriminação e preconceito perpetra- do pelos profissionais de saúde (ARAÚJO et al., 2006; BARBOSA; FACCHINI, 2009). Há ainda outro desafio na abordagem à saúde da mulher: avaliar se ela sofre ou sofreu algum tipo de violência e abuso sexual. Apesar de ser um evento que deve ser notificado, há sub- diagnóstico, sub-registro e subnotificação. Em geral, os profissionais da saúde desconhe- cem como ou temem abordar o tema (KIND et al., 2013). No entanto, a porcentagem de mu- lheres que relatam terem sido vítimas de vio- lência (cometida pelo parceiro íntimo) durante vulvo vaginite. A mulher tinha prurido há três semanas e neste dia “não estava mais aguen- tando”. Na consulta, foi diagnosticada e tra- tada uma candidíase. Após ser orientada e medicada, e com a consulta já dada por en- cerrada pelo profissional de saúde, a mulher consegue perguntar se não tinha nada nas mamas, já que uma amiga sua acabava de re- ceber um diagnóstico de carcinoma. Gostaríamos de trazer a reflexão sobre as per- guntas que as mulheres trazem consigo e por falta de tempo ou por vergonha acabam não fazendo aos profissionais no atendimento. Essas questões são um indicativo importante de que a comunicação profissional de saúde- -mulher precisa ser repensada, e geralmente refletem o verdadeiro motivo da consulta. Por isso, é interessante que o profissional faça perguntas mais abertas, como “Em que posso ajudar?” ou “O que está preocupando você?” (CALANDRA; GURUCHERRI, 1991; GUSSO; LOPES, 2012) Outra dificuldade que pode aparecer é con- versar sobre sexualidade e questões sexu- ais. Se não abordado espontaneamente pela mulher, é importante que você aborde o tema; 43 43 Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN3 Atenção à saúde nas fases de vida das mulheres toda a vida variou entre 15 e 71%, dependendo do país em estudo realizado pela Organização Panamericana de Saúde (OPS, 2013). Assim, ressalta-se a importância de diagnóstico e a necessidade de acolhimento e cuidado para essas mulheres, que podem estar em intenso sofrimento físico e psíquico (KIND et al., 2013; OPS, 2013). Figura 15 – Facilite a comunicação, evite preconceitos Com relação ao atendimento ginecológico, lembramos que toda mulher com queixas gi- necológicas deve ser examinada. O exame fí- sico é uma ferramenta imprescindível para o cuidado em saúde. O prurido vulvar, por exem- plo, pode ser realmente uma vulvite micótica, mas também pode ser uma atopia, um líquen, uma lesão herpética, uma neoplasia. Alguns diagnósticos diferenciais podem ser feitos so- mente mediante exame físico. O mesmo ocor- re com queixas de dor, sangramento ou des- conforto. Além disso, a anamnese e o exame físico, em si, podem ser instrumentos de con- forto e de percepção de cuidado (CALANDRA; GURUCHERRI, 1991). Veja a palestra do médico Abraham Verghese sobre a consulta e o exame clínico. Acesse: <https://www.ted.com/ talks/abraham_verghese_a_doctor_s_ touch?language=pt-br>. Por outro lado, é importante considerar que o exame ginecológico “de rotina” pode ser desconfortável, causar ansiedade, constran- gimento e diagnósticos e tratamentos des- necessários. Não há nenhuma evidência de benefício do exame ginecológico em mulheres não gestantes e assintomáticas, além da de- tecção precoce de câncer de colo (QASEEM et al., 2014). Lembramos também que há uma lacuna de evidências no papel do exame clínico de mamas de rotina nas pacientes assintomáticas (BRASIL, 2015b), exame muitas vezes realiza- do juntamente com o ginecológico. Assim, é importante destacar que preci- samos solicitar sempre o consentimen- to da mulher para realizar o exame físico (GUPTA; HOGAN; KIRKMAN, 2001). É neces- sário explicar os passos do exame e a ne- cessidade de cada passo. Durante ou ao final do exame, deve-se explicar os achados mais relevantes. E não esquecer de registrar em prontuário. O ultrassom transvaginal pode ser muito útil em diversas queixas ginecológicas. Avalia a presença de tumores e miomas, a espessu- ra do miométrio nas alterações menstruais, ajuda no diagnóstico de cistos e massas ane- xiais, sendo muito importante no diagnóstico diferencial de quadros álgicos. Mas não há nenhuma evidência que suporte a necessidade de ultrassom pélvico de rotina, apenas para avaliar se “está tudo bem”. 44 44 Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN3 Atenção à saúde nas fases de vida das mulheres A seguir, abordamos algumas estratégias que você poderá utilizar para a atenção à saúde das mulheres. 3.1 Estratégias para qualificar a atenção à saúde das mulheres Iniciamos destacando a importância de au- mentar a capacidade de cuidado da Atenção Básica, tendo como norte a diminuição do sofrimento e da dependência das mulheres, a (re)construção de graus progressivos de au- tonomia, a capacidade delas de gerir a própria vida (com apoio e suporte dos profissionais de saúde e das redes sociais), considerando as singularidades enquanto sujeitos e coletivos (BRASIL, 2013a). A PNAISM estabelece a atenção às mulheres a partir dos 10 anos de idade. Neste sentido, a atenção à saúde das mulheres precisa se dar em todas as fases da vida. Procure discutir com a sua equipe quais são as ofertas de atenção à saúde das mulheres na sua Unidade de Saúde. Há oferta para as mulheres nas diferentes fases da vida? As mulheres são grandes usuárias dos servi- ços de saúde, no entanto elas pouco procu- ram ou recebem nas unidades de atendimento ações voltadas à promoção de saúde. Nesse sentido, um alerta importante é a necessidade de que a unidade e equipe de saúde tenham um “cardápio” diversificado de ofertas de cui- dado, grupos variados, oficinas, práticas cor- porais e de autocuidado, atividades lúdicas e laborais, entre outras, que ampliem as pos- sibilidades de cuidado e promoção de saúde para as mulheres. Importante! Algumas estratégias po- dem ser adotadas pelas equipes para qualificar a atenção às mulheres, dentre elas o acolhimento, o projeto terapêuti- co singular, a atenção multidisciplinar e as metodologias de trabalho em grupos. Nesse sentido, iniciamos abordando o acolhi- mento, lembrando que este não é um local na unidade de saúde, mas sim uma postura ética. Não se trata de um espaço nem de ação pro- fissional isolada. Para que a equipe de saúde incorpore o acolhimento no seu processo de trabalho implica os profissionais compartilha- rem seus saberes, possibilidades, projetos e necessidades. É importante considerar neste processo de acolhimento as especificidades na população feminina – negras, indígenas, trabalhadoras da cidade e do campo, as que estão em situação de prisão, as lésbicas e as diferentes fases da vida em que se encontram, relacionando as suas necessidades de saúde. Figura 16 – No acolhimento deve-se considerar as especi- ficadades das mulheres No atendimento à saúde das mulheres em todas as fases da vida, observam-se ainda alguns pontos que devem ser considerados na abordagem clínica, destacando-se o esta- belecimento do vínculo de confiança entre a equipe de Saúde, a usuária e sua família. Uma atitude acolhedora e compreensiva também possibilitará a continuidade do trabalho, com objetivos específicos e resultados satisfató- rios no dia a dia. 45 45 Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN3 Atenção à saúde nas fases de vida das mulheres Importante! Você, profissional da saú- de, deve promover a participação e a interação com as mulheres, sem as im- posições de uma relação de poder, am- pliando as possibilidades de vinculação e resolubilidade na atenção. Os profissionais da saúde em geral têm receio de atender as adolescentes, em especial as mais jovens, sem que estas estejam acompa- nhados de um adulto responsável. Este ponto merece uma atenção especial. Na legislação brasileira,o Estatuto da Criança e Adolescen- te (ECA, Artigo 2o) considera criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos e adoles- cente aquela entre doze e dezoito anos de ida- de. O Código Civil determina os 18 anos para a prática de todos os atos da vida civil, com a possibilidade de maioridade civil, que pode ser alcançada para maiores de 16 anos em face de alguns atos, como emancipação, ca- samento, entre outros. É importante que você, como profissional, conheça estes aspectos para atuar de acordo com a legislação e assim contribuir para a garantia dos direitos desta população. O ECA é o embasamento legal, na garantia dos direitos e proteção para as meni- nas de10 aos 19 anos de idade. O art. 3a do ECA descreve que “a criança e o adolescente gozam de todos os di- reitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção in- tegral de que trata essa lei, asseguran- do-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar os desenvolvimen- tos físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”. Portanto, qualquer exigên- cia que possa afastar ou impedir o exer- cício pleno da adolescente de seu direi- to fundamental à saúde e à liberdade, como a obrigatoriedade da presença de um responsável para acompanhamento no serviço de saúde, constitui lesão ao direito maior de uma vida saudável. O ECA ressalva o direito da criança e da adolescente em defender seus direitos quando seus interesses venham a coli- dir com os de seus pais ou responsável. Destaca-se que são direitos fundamen- tais a privacidade, a preservação do si- gilo e o consentimento informado, e que o “Poder familiar” (antigo Pátrio poder) dos pais ou responsáveis legais não é um direito absoluto. Caso o profissional de saúde entenda que a adolescente não possui condições de decidir sozinha sobre alguma intervenção em razão de sua complexidade, deve, primeiramente, re- alizar as intervenções urgentes que se façam necessárias, e, em seguida, abordar a adoles- cente de forma clara sobre a necessidade de que um responsável a assista e a auxilie no acompanhamento (SÃO PAULO, 2006). Quan- do a adolescente resistir em informar determi- nadas circunstâncias de sua vida à família, a equipe de saúde deve preservar a adolescente em exercer seu direito à saúde. Figura 17 – A equipe de saúde deve preservar a adoles- cente em exercer seu direito à saúde Com relação às demais estratégias que você pode utilizar na atenção às mulheres, destaca- mos uma ferramenta disponível indicada para casos complexos na saúde, o Projeto Terapêu- tico Singular (PTS). Lembre-se que o PTS é um instrumento de organização do cuidado em 46 46 Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN3 Atenção à saúde nas fases de vida das mulheres saúde construído entre equipe e usuária, con- siderando as singularidades desta e a comple- xidade da situação que se apresenta. No PTS, a identificação das necessidades de saúde, a dis- cussão do diagnóstico e a definição do cuidado devem ser compartilhadas (BRASIL, 2014). A construção de um PTS pode ser sistema- tizada em quatro momentos, confira no es- quemático ao lado. Para conhecer mais sobre o Projeto Te- rapêutico Singular, acesse o Caderno de Atenção Básica – Saúde Mental, disponível em: <http://dab.saude.gov. br/portaldab/biblioteca.php?conteu- do=publicacoes/cab34>. Outra estratégia que destacamos é o traba- lho em equipe multidisciplinar, sendo funda- mental para a atenção à saúde das mulheres, como também a intersetorialidade, com des- taque para as ações que integram a saúde com a educação, como, por exemplo, as de- senvolvidas no Programa de Saúde na Escola (PSE), que tem fundamental importância para a melhoria da saúde das meninas que fre- quentam a escola. Diagnóstico e análise: deverá conter uma avaliação ampla que considere a integralidade do sujeito (em seus aspectos físicos, psíquicos e sociais) e que possibilite uma conclusão a respeito dos riscos, vulnerabilidade, resiliências e potencialidades dele. Deve tentar captar como o sujeito singular se produz diante de forças como as doenças, os desejos e os interesses, assim como também o trabalho, a cultura, a família e a rede social. Momentos da construção do Projeto Terapêutico Singular Definição de ações e metas: após realizados os diagnósticos, as equipes que desenvolvem o PTS fazem propostas de curto, médio e longo prazo, quais serão discutidas e negociadas com o usuário em questão e/ou com familiar, responsável ou pessoa próxima. Construir um PTS é um processo compartilhado e, por isso, é importante a participação do usuário na sua definição. Divisão de responsabilidades: é importante definir as tarefas de cada um (usuários, equipe de AB e Nasf) com clareza. Além disso, estabelecer que o profissional com melhor vínculo com o usuário seja a pessoa de referência para o caso favorece a dinâmica de continuidade no processo de cuidado. A definição da pessoa com a função de gestão do PTS ou gestão do caso é fundamental para permitir que, aconteça o que acontecer, tenha alguém que vai sempre lembrar, acompanhar e articular ações. Reavaliação: neste momento, discute-se a evolução do caso, fazendo-se as devidas correções de rumo, caso sejam necessárias. 47 47 Saúdes das mulheres e atenção ginecológica UN3 Atenção à saúde nas fases de vida das mulheres Conheça as Experiências na Comu- nidade de Práticas – Saúde na Es- cola, disponível em: <https://cursos. atencaobasica.org.br/temas/programa- -saude-na-escola>. Algumas experiências com metodologias de grupos podem ser utilizadas na atenção à saú- de das mulheres. Assim, experiências desen- volvidas por alguns municípios ajudam você a ampliar seu leque de ações no território. É importante promover espaços de conversa em grupo de mulheres, para troca de saberes, troca de informações. Mulheres na menopau- sa, grupos de mulheres sobre sexualidade, ro- das de conversa na sala de espera para exame ginecológico, podem ser estratégias potentes para ampliar a autoconfiança das mulheres, difundir práticas de alimentação, atividades físicas, estimular a busca de atividades de la- zer, fortalecer grupalidade entre as mulheres da comunidade, impulsionar outras iniciativas relativas à saúde na comunidade. Promover estes espaços é promover o protagonismo das mulheres para com sua saúde. Conheça a experiência com Práticas Integrativas e Complementares volta- das para Adolescentes. As atividades demonstram que é possível um modelo que inclua as PICS no cuidado e atenção à saúde em equipe multiprofissional. Atendimentos individuais e em grupos, com técnicas como yoga, meditação, auriculoterapia, aromaterapia, fitotera- pia, florais e uma horta medicinal. Aces- se: <https://cursos.atencaobasica.org. br/relato/1435>. 3.2 Práticas integrativas e complementares em saúde (PICS) As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) têm-se ampliado na Aten- ção Básica. A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS bus- ca a ampliação da oferta de ações de saúde e abertura de possibilidades de acesso a estes serviços. Publicado na forma das portarias ministeriais no 971, de 3 de maio de 2006, e no 1.600, de 17 de julho de 2006, propõe-se a implementação da acupuntura, da homeopa- tia, da fitoterapia, da medicina antroposófica e do termalismo e crenoterapia. Em janeiro de 2017, a portaria no 145 ampliou a oferta de PICS no SUS, incluindo também a arteterapia, meditação, musicoterapia, tratamento natu- ropático, tratamento osteopático, tratamento quiroprático e reiki. O termo integrativas identifica que são práticas que podem ser utilizadas con- juntamente, baseadas em avaliações científicas de segurança e eficácia de boa qualidade. O termo complementares se aplica em função de poderem ser uti- lizadas em associação
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