Buscar

Pressupostos da Responsabilidade Civil - Teoria Objetiva

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Continue navegando


Prévia do material em texto

18/09 – Aula 7: Pressupostos da Responsabilidade Civil – Teoria Objetiva.
	Quadro:
Pressupostos da Responsabilidade Civil – Teoria Objetiva
1 O contexto histórico
1.1 As bases da teoria subjetiva
1.2 O alvorecer da teoria objetiva
1.3 As primeiras linhas da teoria objetiva
1.4 A estrutura da teoria do risco
1.5 A doutrina objetiva pode também ser conhecida como teoria da culpa presumida?
1.6 A responsabilidade objetiva é sinônimo de responsabilidade sem culpa?
1.7 Culpabilidade e causalidade
1.7.1 Responsabilidade objetiva ou obrigação objetiva de indenizar?
1.8 A evolução da teoria objetiva no Brasil
1.8.1 Fase anterior ao Código Civil de 2002
1.8.2 A teoria objetiva no Código Civil de 2002: uma radiografia do parágrafo único do artigo 927
1.9 A coexistência entre as teorias subjetiva e objetiva
1.10 Código Civil de 2002: risco proveito ou risco criado?
1.11 Código Civil de 2002: o risco criado pela particular potencialidade lesiva da atividade
1.12 A presunção de causalidade na teoria do risco
1.13 O risco criado no Código de Defesa do Consumidor
1.14 O risco criado e a mitigação da obrigação de indenizar
1.15 A repartição de riscos: o risco concorrente
1.16 O risco integral e o risco agravado
1.17 O risco de empresa ou do empreendimento
1.18 O risco e os profissionais liberais
1.19 A multiplicação do nexo de imputação na obrigação objetiva de indenizar
1.20 A responsabilidade objetiva pura e a impura
1.21 A securitização da responsabilidade civil
1.21.1 Responsabilidade: do individual ao social
1.21.2 A dinâmica dos seguros de responsabilidade civil
1.21.2.1 O contrato de seguro
1.21.2.2 O seguro privado obrigatório
1.21.2.2.1 O DPVAT
1.21.2.2.2 O acidente de trabalho
	CAPÍTULO VII
PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL – TEORIA OBJETIVA
1. O CONTEXTO HISTÓRICO
1.1. AS BASES DA TEORIA SUBJETIVA
A construção da teoria subjetiva se identificava perfeitamente com a expansão da nova classe dominante. A necessidade de acumulação de capital não se compatibilizava com decisões que concedessem indenizações em prol das vítimas. Assim, em todas as lides em que o ofendido não atendesse ao ônus de realçar a culpa do ofensor, a sentença culminaria por declamar o brocardo res perito domino. A vítima assumiria os seus próprios prejuízos. Ou seja, o dano não seria trasladado à pessoa do agente, pois todo o ocorrido se tratava de uma “fatalidade”. As lesões patrimoniais e existenciais soariam como um golpe do destino ou uma contrapartida aos benefícios de viver em sociedade. Enfim, infelizmente a regra nesse período era a “irresponsabilidade civil”.
1.2. O ALVORECER DA TEORIA OBJETIVA
O modelo individualista da teoria subjetiva era exclusivamente apoiado na culpa como nexo de imputação. Edificou-se um arcabouço jurídico de responsabilidade civil completamente insensível à realidade social. Condicionar a obrigação de indenizar à irrefutável demonstração da leviandade do autor do fato significava isolar o ordenamento da aspereza da realidade. Se liberdade, igualdade e fraternidade eram os signos do imaginário do revolucionário, o burguês que se apropriou dos rumos da história ao conduzir os primórdios do capitalismo se serviu apenas da liberdade e de uma igualdade meramente formal para colocar o Estado a serviço da segurança de suas transações econômicas.
1.3. AS PRIMEIRAS LINHAS DA TEORIA OBJETIVA
De acordo com a teoria objetiva, qualquer pessoa pode deliberar pela realização de uma atividade econômica. Empreender é próprio da sociedade capitalista e do instinto humano. O termo risco é oriundo do italiano risicare, que significa “ousar” ou “aventurar”. Pois bem, aquele que delibera por assumir o risco inerente a uma atividade deverá se responsabilizar por todos os danos dela decorrentes, independentemente da existência de culpa. Se a opção do agente é de ousar e se aventurar, necessariamente arcará com os custos relacionados à trasladação dos danos sofridos pela vítima, sem se considerar a licitude ou ilicitude da conduta.
1.4. A ESTRUTURA DA TEORIA DO RISCO
Nessa cisão com a teoria do risco proveito, vê-se o prenúncio da concepção do risco criado, cujo maior difusor no Brasil é Caio Mário. A partir dela se entende que o dever de reparar não se subordina ao pressuposto da vantagem, pois o que se encara é a atividade em si mesma, independentemente do resultado bom ou mau que dela advenha para o agente. A ideia fundamental dela pode ser simplificada, ao dizer-se que “cada vez que uma pessoa, por sua atividade, cria um risco para outrem, deverá responder por suas consequências danosas”. A teoria do risco criado importa em ampliação do conceito do risco proveito. Aumentando os encargos do agente; é, porém,
mais equitativa para a vítima, que não tem de provar que o dano resultou de uma vantagem ou de um benefício obtido pelo causador do dano. Deve este assumir as consequências de sua atividade. Tudo se resume então a um problema de causalidade.
1.5. A DOUTRINA OBJETIVA PODE TAMBÉM SER CONHECIDA COMO TEORIA DA CULPA PRESUMIDA?
A resposta é negativa. Teoria objetiva e presunção de culpa não se confundem. Neste sentido, já tivemos a oportunidade de estudar a teoria da culpa presumida, como um estágio intermediário (e louvável) entre as doutrinas subjetiva e objetiva da responsabilidade civil. Nela, a culpa mantém a sua condição de pressuposto para a obrigação de indenizar, porém de forma mitigada, eis que nos casos previstos em lei bastaria a vítima demonstrar o fato danoso, decorrendo a obrigação de indenizar da presunção de culpa, que, em razão da inversão do ônus da prova, poderia ser afastada pelo ofensor, se demonstrasse a ausência de sua culpa.
1.6. A RESPONSABILIDADE OBJETIVA É SINÔNIMO DE RESPONSABILIDADE SEM CULPA?
Muitos responderiam afirmativamente, sem pestanejar. Com efeito, o primeiro e mais simples raciocínio a se formular é que se subtrairmos a culpa da responsabilidade, automaticamente ela se converterá em uma obrigação objetiva de indenizar. Trata-se de uma dedução equivocada. Já vimos que no sistema implementado pelo Código Civil de 2002 há uma dicotomia de ilícitos: o ilícito culposo – ou subjetivo (art. 186, CC) – convive com o ilícito pelo abuso do direito (art. 187, CC). A responsabilidade pelo exercício abusivo de uma situação jurídica (seja ela um direito subjetivo ou potestativo) será uma “responsabilidade sem culpa”, mas não deixa de ser uma conduta antijurídica, posto em contradição com o ordenamento jurídico.
1.7. CULPABILIDADE E CAUSALIDADE
Na doutrina objetiva, eliminando-se a necessidade de aferição da ilicitude do comportamento do agente, bem como a sua falta de cautela face à previsibilidade do resultado, necessariamente a demanda reparatória será julgada procedente? A resposta é negativa. A doutrina objetiva tem o mérito de deslocar o centro da responsabilidade da culpabilidade para a causalidade. Na obrigação objetiva de indenizar elide-se a prova quanto à atribuição a uma pessoa de um comportamento antijurídico e reprovável. Todavia, ao agente somente serão trasladados os danos sofridos pela vítima se o seu comportamento (lícito ou ilícito) for a causa adequada dos danos injustos. O autor do fato não será responsabilizado por ter agido com dolo ou culpa, mas pelo simples fato de ter agido e necessariamente provocado a lesão.
1.7.1. RESPONSABILIDADE OBJETIVA OU OBRIGAÇÃO OBJETIVA DE INDENIZAR?
A expressão responsabilidade objetiva é disseminada em nossa literatura jurídica. É até mesmo natural que seja utilizada como contraponto à teoria clássica da responsabilidade subjetiva. Porém, no transcurso deste livro temos o cuidado de evitar o uso da referida expressão. Aleatoriamente transitamos por nomenclaturas como teoria objetiva, doutrina objetiva, imputação objetiva e a obrigação objetiva de indenizar. A palavra responsabilidade que, em sua acepção etimológica, sugere a ideia de responder pelos próprios atos, oriunda do verbo respondere, possui forte carga moral. Quando responsabilizamos alguém, atribuímos ao comportamento desta pessoa o qualificativo dacensura e reprovação. Na teoria subjetiva esse desvalor da conduta humana é colhido da culpa pela violação a um dever moral de não prejudicar outrem. Daí a exatidão da expressão responsabilidade subjetiva.
1.8. A EVOLUÇÃO DA TEORIA OBJETIVA NO BRASIL
1.8.1. FASE ANTERIOR AO CÓDIGO CIVIL DE 2002
No direito civil brasileiro o pioneirismo na fixação das bases doutrinárias da teoria objetiva é mérito de quatro juristas: Alvino Lima, Wilson Melo da Silva, José de Aguiar Dias e Caio Mário da Silva Pereira. Em 1938, Alvino Lima defende a tese Da culpa ao risco, o que lhe vale a nomeação para a cátedra de Direito Civil da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Ao prestigiar a teoria do risco, adverte que “A responsabilidade deve surgir exclusivamente do fato, considerando-se a culpa em resquício da confusão primitiva entre a responsabilidade civil e a penal. O que se deve ter em vista é a vítima, assegurando-lhe a reparação do dano e não a ideia de infligir uma pena ao autor do prejuízo causado. Os dados econômicos modernos determinam a responsabilidade fundada sobre a lei econômica da ‘causalidade entre o proveito e o risco’”.
1.8.2. A TEORIA OBJETIVA NO CÓDIGO CIVIL DE 2002: UMA RADIOGRAFIA DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 927
Apenas com a entrada em vigor do Código Civil – em janeiro de 2003 –, a doutrina objetiva saiu de uma posição lateral no ordenamento jurídico para ocupar papel de centralidade na legislação privada. Tristes trópicos! Parafraseando o filósofo francês Claude Lévi-Strauss, com mais de 100 anos de atraso construímos as nossas próprias bases para a afirmação da teoria do risco. O artigo 927 do Código Civil e o seu parágrafo único merecem detalhado exame. Somente a partir da análise normativa é que poderemos compreender a real extensão da objetivação da responsabilidade civil e o significado concreto da teoria do risco no Brasil em comparação com o seu desenvolvimento no ordenamento jurídico de outras nações. A teor do caput do artigo 927 do Código Civil: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.” O dispositivo enfatiza o ato ilícito como nexo de imputação da responsabilidade subjetiva, mas com uma envergadura mais ampla do que aquela apresentada no Código Civil de 1916.
1.9. A COEXISTÊNCIA ENTRE AS TEORIAS SUBJETIVA E OBJETIVA
A opção metodológica do Código Civil consiste na edificação de um sistema misto de imputação objetiva, no qual haverá distribuição de tarefas entre o legislador e o judiciário: aquele, a priori, tomou a seu cargo a especificação de um razoável número de hipóteses em que haverá responsabilidade objetiva, porém delegou à nossa doutrina e tribunais a tarefa complementar de construir novas situações de obrigação objetiva de indenizar, forjando-se uma atividade conjunta de delimitação das áreas de liberdade e risco. A coexistência genérica entre a rigidez de previsões específicas com a cláusula geral do risco defere ao sistema relativa abertura para uma atualização constante das hipóteses de aplicação da teoria objetiva. Este é o dado da operabilidade.
1.10. CÓDIGO CIVIL DE 2002: RISCO PROVEITO OU RISCO CRIADO?
Urge destacar as estremas entre as teorias do risco proveito e risco criado. A primeira exigindo a demonstração do proveito auferido pelo agente com a atividade indutora de risco; em contrapartida, a teoria do risco criado se satisfaz com a constatação objetiva da relação de causalidade entre o risco de uma atividade e o dano injusto, ou seja, independentemente da obtenção de qualquer proveito, basta perquirir se em seu exercício e desenvolvimento, a atividade criou um risco para terceiros. Em sua parte final, o parágrafo único do artigo 927 não fornece uma resposta imediata: “ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”.
1.11. CÓDIGO CIVIL DE 2002: O RISCO CRIADO PELA PARTICULAR POTENCIALIDADE LESIVA DA ATIVIDADE
No aspecto pragmático, se o risco gerado por qualquer atividade se converter em fator de imputação objetiva, irremediavelmente restará comprometido o avanço da livre-iniciativa e do empreendedorismo, fundamentos do enriquecimento material, intelectual e espiritual das sociedades contemporâneas. O Estado não pode intervir drasticamente sobre a ordem econômica, mesmo porque o direito de propriedade também é uma garantia fundamental no Estado Democrático de Direito. Solidariedade e liberdade merecem coexistir no sistema de responsabilidade civil, mediante um duplo critério de ponderação: as linhas gerais são dadas pelo legislador, a concretização e atualização da norma serão construções doutrinárias e jurisprudenciais.
1.12. A PRESUNÇÃO DE CAUSALIDADE NA TEORIA DO RISCO
A doutrina objetiva tem o mérito de deslocar o centro da responsabilidade da culpabilidade para a causalidade. Na obrigação objetiva de indenizar elide-se a prova quanto à atribuição a uma pessoa de um comportamento antijurídico e reprovável. Todavia, ao agente somente serão trasladados os danos sofridos pela vítima se o seu comportamento (lícito ou ilícito) for a causa adequada dos danos injustos. O autor do fato não será responsabilizado por ter agido com dolo ou culpa, mas pelo simples fato de ser a ele atribuída a condição de responsável, à luz de certo nexo de imputação.
1.13. O RISCO CRIADO NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
Dessume-se do exposto que o CDC labora a doutrina objetiva da responsabilidade civil em um viés peculiar: acolhe a teoria do defeito do produto (art. 12) ou do serviço (art. 14). Trata-se de uma obrigação objetiva de indenizar que não se funda no risco da atividade, tal como projetada pelo parágrafo único do artigo 927 do Código Civil. A distinção requer um retorno à teoria subjetiva, cujo substrato é a soma dos pressupostos do fato ilícito + culpa + dano + nexo causal. Na cláusula geral do risco, os dois primeiros pressupostos são suprimidos, pois a imputação objetiva se contenta
com a relação de causalidade entre o risco da atividade e o dano injusto. Em resumo, ao Código Civil será despiciendo averiguar se há ou não juridicidade na atividade desenvolvida, sendo suficiente a aferição de sua particular potencialidade lesiva. Igualmente, também foge ao mérito da demanda a análise da reprovabilidade do comportamento do ofensor, ou seja, se agiu ou não com desprezo perante as potenciais vítimas.
1.14. O RISCO CRIADO E A MITIGAÇÃO DA OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR
No artigo 2.050 do Código Civil da Itália, diz-se que o demandado somente se eximirá de responsabilidade se demonstrar que adotou todas as medidas necessárias para evitar a consumação do dano. Isso significa que naquela nação não há propriamente uma responsabilidade objetiva pelo risco da atividade, porém uma presunção de culpa, pois o agente pode se valer de uma prova liberatória, demonstrado que as medidas de prevenção preconizadas em lei ou em regulamentos próprios da atividade foram efetivamente adotadas, mas infelizmente o dano se concretizou. Enfim, mesmo que os juízes sejam extremamente rigorosos na admissão desta prova quanto à tomada das cautelas devidas, de alguma forma o sistema – que em tese deveria prestigiar o risco criado –, aceita a discussão dos elementos subjetivos da culpa do agente como fator de exoneração de responsabilidade.
1.15. A REPARTIÇÃO DE RISCOS: O RISCO CONCORRENTE
Quando a vítima contribui substancialmente para o resultado lesivo, omissiva ou comissivamente, haverá o fato concorrente ou o fato exclusivo da vítima, conforme do exame das circunstâncias se infira que a conduta isolada da vítima viabilizou o dano ou se ele decorreu da conjugação de comportamentos de ambas as partes. Ao contrário do fato exclusivo – que libera o ofensor –, a causalidade múltipla não será excludente do nexo causal, porém uma forma de repartição de danos diante de dois ou mais fatos geradores.
1.16. O RISCO INTEGRAL E O RISCO AGRAVADO
A teoria objetiva aponta para uma responsabilidade independente da existência de culpa, concedendo amplo destaqueà causalidade, como vínculo entre o risco da atividade e o dano injusto. Todavia não se trata de uma causalidade absoluta, pois serão admitidas excludentes ao nexo causal: o fortuito externo, o fato exclusivo da vítima e o fato de terceiro.
Já a teoria do risco integral, ou responsabilidade objetiva absoluta, acena para uma causalidade pura. Trata-se de uma construção jurisprudencial a ser aplicada em casos excepcionalíssimos, na medida em que a sua adoção representará a imposição de uma obrigação objetiva de indenizar, mesmo que as circunstâncias evidenciem a existência de uma excludente do nexo causal. Isso significa que uma pessoa terá de responder por danos que não causou.
A distinção entre o risco integral e o risco agravado consiste em que na primeira o responsável assumirá a obrigação de indenizar simplesmente pelo dano ter despontado no curso de sua atividade, mesmo que o terceiro ou a coisa que lhe deram origem, àquele não se vinculem. Diferentemente, no risco agravado, por mais que o autor do evento lesivo seja um estranho, de certa forma o dano causado não é alheio ao risco criado pela atividade do responsável, pois se trata de ocorrência que legitimamente se poderia esperar em tais circunstâncias e acaba por se ligar à organização inerente à atividade, internalizando-se em seu processo econômico. A partir do momento em que a ordem jurídica persegue o objetivo de maior proteção à vítima e intervém para reduzir o espaço deferido à estraneidade de certos eventos, a causalidade adquire novo viés, não mais uma causalidade física ou natural, porém jurídica. Convém frisar que, ao contrário do que vale para a teoria do risco criado, o risco só poderá ser agravado para o agente em atividades empresariais, especificamente em setores cuja experiência demonstra uma potencialidade lesiva extremada.
1.17. O RISCO DE EMPRESA OU DO EMPREENDIMENTO
Para complementar o conhecido rol de derivações da doutrina do risco – risco criado/proveito/integral/agravado –, alcançamos a modalidade do risco de empresa ou do empreendimento. Diz-se que quem exerce profissionalmente uma atividade econômica organizada para a produção ou distribuição de bens e serviços deve arcar com todos os ônus resultantes de qualquer evento danoso inerente ao processo produtivo ou distributivo, inclusive danos causados por empregados ou prepostos.
1.18. O RISCO E OS PROFISSIONAIS LIBERAIS
Em princípio, os profissionais liberais estão excluídos da cláusula geral do parágrafo único do artigo 927 do Código Civil. A imputação objetiva não lhes alcança em razão da especialidade do § 4º, do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor: “A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.” O dispositivo excepciona todo um sistema de responsabilidade civil organizado em torno do fato do produto e serviço, em razão da peculiaridade da contratação entre consumidores e profissionais liberais. O vínculo é intuitu personae, pois a pessoa natural do fornecedor é escolhida em razão de critérios técnicos conjugado a uma avaliação subjetiva do “cliente”, motivada sobremaneira pela confiança na excelência da atividade a ser prestada. Como consequência, o contrato será negociado entre as partes, sem que se caracterize a assimetria típica que vincula sujeitos aleatórios em cláusulas contratuais gerais sobre a forma da adesão.
1.19. A MULTIPLICAÇÃO DO NEXO DE IMPUTAÇÃO NA OBRIGAÇÃO OBJETIVA DE INDENIZAR
Se, por um lado, o risco da atividade monopoliza aquele dispositivo, não consiste no fundamento exclusivo da obrigação objetiva de indenizar no direito privado como um todo. É um equívoco crer que vivemos em um sistema dicotômico de atribuição de responsabilidade: culpa/risco. Este duplo binário sustenta a exegese do artigo 927 e de seu parágrafo único, porém é incapaz de ferir todo o potencial do nexo de imputação no âmbito da teoria objetiva. Temos que compreender que, para além da cláusula geral do risco, o nosso sistema jurídico alberga um leque de hipóteses de reparação
objetiva, seja no Código Civil ou na legislação especial. Uma pluralidade de critérios de imputação, conforme a escolha do ordenamento. Essas situações não se resumem a uma responsabilidade por fato próprio, mas também pelo fato de terceiro ou pelo fato da coisa – animada ou inanimada. Cada qual detém um fundamento próprio capaz de justificar um descolamento da teoria subjetiva.
1.20. A RESPONSABILIDADE OBJETIVA PURA E A IMPURA
A expressão responsabilidade objetiva pura é praticamente um pleonasmo. Com efeito, tratando-se de uma obrigação objetiva de indenizar, independentemente da existência de culpa, naturalmente ela será “pura”, ou seja, dispensa-se toda e qualquer aferição sobre a reprovabilidade do comportamento do agente. O nexo de imputação se afasta da antijuridicidade da atividade ou da censura ao seu proceder, desviando-se para a necessidade de tutela da vítima, mediante a promoção do equilíbrio que fora rompido pelo dano injusto.
1.21. A SECURITIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL
1.21.1. RESPONSABILIDADE: DO INDIVIDUAL AO SOCIAL
A rigor, despedimo-nos do paradigma clássico da responsabilidade civil: patrimonial, subjetiva e individual. O direito de danos não é mais um instrumento obrigacional de recomposição de danos econômicos, pois precipuamente pretende afirmar a tutela existencial da pessoa humana; a exigência de um ilícito culposo imputado ao agente é apenas uma das facetas deste cambiante modelo jurídico, diante da notável eticidade e socialidade de uma cláusula geral de obrigação objetiva de indenizar. Se a responsabilidade não se identifica mais com a tônica patrimonial e subjetiva, o fato é que, em sua função compensatória, a manualística persiste em preservá-la na redoma da relação obrigacional individual entre a vítima e o responsável. O instituto é ainda compreendido como um mecanismo de transferência de danos da vítima para um responsável. Se na teoria subjetiva este responsável era o agente que atuou culposamente, no nexo de imputação da teoria objetiva o deslocamento do dano se atribui a um responsável, seja por conduzir uma atividade de potencialidade lesiva intrínseca, ou mesmo pela simples razão de ser indicado pela lei, como objetivamente obrigado perante o ofendido, mesmo sem ser o agente do fato (v. g. pai ou empregador pelos danos injustos do incapaz e do empregado).
1.21.2. A DINÂMICA DOS SEGUROS DE RESPONSABILIDADE CIVIL
1.21.2.1. O CONTRATO DE SEGURO
De acordo com o artigo 787 do Código civil, “no seguro de responsabilidade civil, o segurador garante o pagamento de perdas e danos devidos pelo segurado a terceiro”. Cuida-se de negócio jurídico cujo objeto é a cobertura de indenização que, eventualmente, o segurado venha ser obrigado a compor diante do terceiro lesado. O risco envolve o pagamento de danos emergentes, lucros cessantes e dos danos extrapatrimoniais que a conduta do segurado provocou ao terceiro vitimado. Ademais, enfatiza Cláudio Godoy, responderá o segurador também pela indenização a que esteja obrigado o segurado, independentemente de ação culposa, como tal definida no parágrafo único do artigo 927 do Código Civil. Isso significa dizer que o segurador garante a responsabilidade civil do segurado, subjetiva e objetiva, como regra em toda a extensão da consequência danosa de sua conduta. Nesse sentido a Súmula nº 402 do Superior Tribunal de Justiça: “O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos morais, salvo cláusula expressa de exclusão.” Sabemos que os danos pessoais (ou corporais) possuem duas repercussões: uma de ordem patrimonial, abrangendo as consequências econômicas do evento; outra, extrapatrimonial, relacionada aos efeitos danosos sobre a esfera existencial da vítima.
1.21.2.2. O SEGURO PRIVADO OBRIGATÓRIO
O dever de comportamento diligente se evidencia na contratação de seguros, assegurando a plena reparação dos danos eventualmente provocados. Se a exigência de contratação de seguros prospera mesmo em uma perspectiva vinculada à noção de culpa, maiorrelevo assume no redirecionamento do objetivo da responsabilidade civil à diluição de danos, especialmente nos casos em que os prejuízos se podem dizer acidentais. A imposição legal de contratar seguro transfere do poder público para o particular o ônus da implementação de um sistema coletivo de reparação. É o que se
vê no Brasil com relação aos acidentes de trabalho e timidamente no que tange aos acidentes automobilísticos.
1.21.2.2.1 O DPVAT
Essa tendência à coletivização da responsabilidade civil que culminou por concretizar uma cobertura objetiva e genérica a pessoas expostas a riscos de danos é versada no artigo 788 do Código Cível no que concerne ao Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores em Via Terrestre (DPVAT).
1.21.2.2.2 O acidente de trabalho
Dispõe o artigo 7º, XXVIII, da Constituição Federal que: “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.” Vê-se que nossa legislação deslocou a natureza contratual do acidente de trabalho para a seguridade social. O acidente de trabalho é o evento súbito verificado no exercício do trabalho, resultando em lesão corporal ou psíquica, redução ou incapacidade laboral ou mesmo em morte. Também se equipara ao acidente de trabalho para fins de direitos e reparações, as chamadas doenças ocupacionais que se instalam paulatinamente e acarretam perturbação da saúde do trabalhador. Outra espécie de acidente de trabalho é o acidente de trajeto, que ocorre no percurso da residência para o local de trabalho ou vice-versa.
LEITURA RECOMENDADA: