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FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA “A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que está inserida. Missão da Faculdade Católica Paulista Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA SUMÁRIO AULA 01 AULA 02 AULA 03 AULA 04 AULA 05 AULA 06 AULA 07 AULA 08 AULA 09 AULA 10 AULA 11 AULA 12 AULA 13 AULA 14 EDUCAÇÃO AMBIENTAL - CONCEITOS EDUCAÇÃO AMBIENTAL – RESPONSABILIDADE POR DESASTRES AMBIENTAIS EDUCAÇÃO AMBIENTAL – CRIMES AMBIENTAIS HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS – DIVERSIDADE HUMANA EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS - CONCEITO EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – DIREITO DAS MULHERES EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – DIREITO DAS CRIANÇAS EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – DIREITO DOS IDOSOS EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – IDENTIDADE DE GÊNERO EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – HOMOFOBIA EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS ÉTICA - CONCEITO 06 15 23 33 43 49 56 63 75 83 88 96 101 112 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA AULA 15 AULA 16 ÉTICA E O MUNDO GLOBALIZADO DE HOJE ÉTICA E LIBERDADE DE EXPRESSÃO 119 128 FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA INTRODUÇÃO O presente texto tem a finalidade de levá-lo à jornada do conhecimento, desmistificando algumas “verdades” aparentes do conhecimento popular. E assim, ao longo desta jornada descobriremos realmente do que se trata o direito ambiental, a cultura afro-brasileira, as relações étnico raciais, os direitos humanos e a ética. A cada passo uma nova descoberta, um novo rumo que mudará completamente todo o seu modo de ver, e pensar a respeito de cada tema proposto. Espero que goste da forma apresentada, bem como a clareza desenhada no trajeto, para que ao final, possa refletir e considerar como sua mente, seu conhecimento e a forma como enxerga o presente se alterou. Lembre-se, deixe anotado o que pensa a respeito de cada tema, antes de iniciar os seus estudos, e ao final reveja como o enxerga após o conhecimento adquirido. Parabéns por chegar até aqui, o primeiro passo, nos vemos ao final, e sinceramente espero que tenha repensado sua forma de enxergar o presente em uma perspectiva solidária global. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA AULA 1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL - CONCEITOS A Educação Ambiental é muitas vezes deixada de lado, ou mal interpretada, nesse sentido, temos a responsabilidade de esclarecer e ilustrar a importância deste assunto para todos vocês. Nesta perspectiva, a Lei 6.938/1981 trouxe a definição legal de meio ambiente: “Conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. No entanto, trata-se de conceito restritivo, segundo aponta Vladimir Passos de Freitas (2020), pois se limitaria aos recursos naturais, justificado pela época em que a lei foi editada. O Supremo Tribunal Federal segue defende: a incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que privilegia a ‘defesa do meio ambiente’ (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral (SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, 2016). De qualquer sorte, assim restou consagrada em nosso país, mas que representa muito mais do que a imediata e precipitada conclusão de que seria apenas o meio ambiente natural, como ar, solo, água, fauna e flora conforme prevê o conceito legal. Portanto, precisamos entender que temos um meio ambiente natural, cultural, artificial e do trabalho. O objetivo da classificação é identificar a atividade degradante e o bem atingido pela agressão, mantendo a unidade conceitual de meio ambiente. Carlos Frederico Marés defende que: FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA O meio ambiente, entendido em toda a sua plenitude e de um ponto de vista humanista, compreende a natureza e as modificações que nela vem introduzindo o ser humano assim, meio ambiente é composto pela terra, a água, o ar, a flora e a fauna, as edificações, as obras-de-arte e os elementos subjetivos e evocativos como a beleza da paisagem ou a lembrança do passado, inscrições, marcos ou sinais de fatos naturais ou da passagem de seres humanos (MARÉS, ...). Portanto, podemos facilmente observar que o conceito de ambiente vai além daquilo que foi definido pela legislação e podemos classificá-lo em quatro categorias distintas: CLASSIFICAÇÃO DESCRIÇÃO Ambiente Natural É a água, o ar, o solo, a flora e a fauna e o equilíbrio dinâmico entre todos os seres vivos o local onde vivem. Ex.: § 1.º do art. 225 da CF. Ambiente Artificial Está relacionado ao meio urbano, sendo o espaço construído (conjunto de edificações). Ex.: arts. 182 e 21, XX, da CF e o Estatuto da Cidade – Lei 10.257/2001. Ambiente Cultural Descreve a história de um povo, sendo integrado pelo patrimônio artístico, paisagístico, arqueológico, turístico, etc. Ex.: art. 216 da CF. Ambiente Laboral ou do Trabalho É o ambiente onde as pessoas realizam as suas atividades de trabalho, sejam elas remuneradas ou gratuitas. As palavras-chave são salubridade e saúde físico-psíquica. Ex.: arts. 7.º, XXIII, e 200, VII, da CF. MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL Entende-se como meio ambiente artificial o espaço urbano construído, considerando as edificações (espaço urbano fechado) e os equipamentos públicos (espaço urbano aberto) – ruas, praças, áreas verdes, espaços livres em geral. Resumidamente, é a ação do homem consistente em transformar o meio ambiente natural em artificial. Também é chamado de meio ambiente construído por ser formado por todos os assentamentos humanos e seus reflexos urbanísticos. O melhor exemplo de transformação é a cidade daí todas as preocupações em relação à qualidade de vida, expressão utilizada tanto no caput do art. 225 como no inciso V do seu § 1.º. Citando José Afonso da Silva, Elida Séguin aponta para uma disciplina autônoma do FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA Direito Ambiental a partir do meio ambiente construído: o Direito Urbanístico. E com razão, pois as preocupações são as mesmas e o Estatuto da Cidade, que instituiu diretrizes gerais para política urbana, representa isso. A poluição sonora, por exemplo, é uma das formas de degradação ao meio ambiente artificial, conforme já decidiu o STJ ao admitir a legitimidade do Ministério Público para propor ação civil pública na defesa da segurança do trânsito, matéria relativa à ordem urbanística, com vistas à proteção de direitos difusos e coletivos. Se nós tínhamos antes da Constituição Federal de 1988 uma política nacional do meio ambiente (natural), a partir dela, por meio do art. 182 dotexto constitucional, passamos a ter também uma política de desenvolvimento urbano para a tutela do meio ambiente artificial e regulamentada pelo Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001). Esta lei estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental (art. 1.°, parágrafo único). Dentre as diretrizes gerais da política urbana, aquelas que merecem destaque para o meio ambiente artificial são as seguintes: • a garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações (art. 2.°, I); • o planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente (art. 2.°, IV); • a ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar: a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos; b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes; c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação à infraestrutura urbana; d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como pólos geradores de tráfego, sem a previsão da infraestrutura correspondente; e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização; f) a deterioração das áreas urbanizadas; g) a poluição e a degradação ambiental (art. 2.°, VI); FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA • a adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental, social e econômica do Município e do território sob sua área de influência (art. 2.°, VIII); • a proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico (art. 2.°, XII); • a audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população (art. 2.°, XIII). MEIO AMBIENTE CULTURAL O patrimônio ambiental cultural ou meio ambiente cultural é aquele que abrange, segundo Vladimir Passos de Freitas (2020), as “obras de arte, imóveis históricos, museus, belas paisagens, enfim tudo o que possa contribuir para o bem-estar e a felicidade do ser humano” ou “aquilo que possui valor histórico, artístico, arqueológico, turístico, paisagístico e natural”. O art. 216 da Constituição Federal conceitua o patrimônio cultural brasileiro como aqueles “bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira” e nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. A Emenda Constitucional 48/2005 veio acrescentar a previsão de que a lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura – PNC que, segundo o § 3.º do art. 215, terá duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural brasileiro e à integração das ações do Poder Público FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA que conduzem, entre outras, à defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro (inciso I). Este plano está em fase de elaboração na Câmara dos Deputados. Por sua vez, o Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro – art. 216, § 1.°, da CF – por meio de: • inventários; • registros; • vigilância; • tombamento; • desapropriação, • de outras formas de acautelamento e preservação. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, autarquia federal, é o órgão responsável pela preservação, defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro. Em dezembro de 2009, a Justiça Federal condenou o IPHAN por ter deixado de aplicar multas por danos ao patrimônio histórico e artístico nacional, previstas no Decreto-lei 25/1937, visto que o instituto tem poder de polícia para agir em defesa dos bens públicos tombados. Segundo o art. 1.º do decreto referido, constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. Em nível mundial de preservação do patrimônio histórico, cultural e natural, o principal órgão internacional é a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO. Mas qualquer cidadão, desde que prove a sua cidadania com título eleitoral ou com documento que a ele corresponda é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural (art. 5.°, LXXIII, da CF). A ação popular está regulamentada pela Lei 4.717/1965 e considera patrimônio público para este fim os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico (art. 1.°, § 1.°). Por sua vez, não podemos esquecer que o Ministério Público tem a função de promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (ciência do inciso III do art. 129 da CF). FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que: MEIO AMBIENTE. Patrimônio cultural. Destruição de dunas em sítios arqueológicos. Responsabilidade civil. Indenização. O autor da destruição de dunas que encobriam sítios arqueológicos deve indenizar pelos prejuízos causados ao meio ambiente, especificamente ao meio ambiente natural (dunas) e ao meio ambiente cultural (jazidas arqueológicas com cerâmica indígena da Fase Vieira). Recurso conhecido em parte e provido (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 2016). Atente-se ainda que compete aos municípios, segundo o inciso IX do art. 30 da CF, promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. O inciso III do art. 23 também da Carta Magna distribui competência entre a União, Estados, Distrito Federal e Municípios para proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos. Por fim, a Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) prevê a proteção do meio ambiente natural e artificial e também do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico (art. 2.º, XII). MEIO AMBIENTE LABORAL OU DO TRABALHO O meio ambiente laboral é aquele que envolve as condições do local onde é prestado o serviço pelo trabalhador, observada a sua saúde. Ou seja, no meio ambiente labora, é observada a salubridade no processo de produção e que envolvem fatores químicos, biológicos e físicos. Por exemplo, o STJ já decidiu, observando o meio ambiente do trabalho, que é aplicável sanção administrativa ao empregador que, emboracoloque EPI (Equipamento de Proteção Individual) à disposição do empregado, deixa de fiscalizar e fazer cumprir as normas de segurança, pois seu fornecimento e uso são obrigatórios. Outro exemplo, o STJ decidiu que é cabível ação civil pública com o objetivo de afastar danos físicos a empregados de empresa em que muitos deles já ostentavam lesões decorrentes de esforços repetitivos (LER), tendo o Ministério Público Estadual legitimidade para propô-la, pois se refere à “defesa de interesse difusos, coletivos ou individuais homogêneos, em que se configura interesse social relevante, relacionados com o meio ambiente do trabalho”. E por se tratar das condições de trabalho, o STF determinou que: FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA COMPETÊNCIA – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – CONDIÇÕES DE TRABALHO. Tendo a ação civil pública como causas de pedir disposições trabalhistas e pedidos voltados à preservação do meio ambiente do trabalho e, portanto, aos interesses dos empregados, a competência para julgá-la é da Justiça do Trabalho (Supremo Tribunal Federal, 2016). Portanto, o meio ambiente do trabalho está diretamente relacionado com a segurança do empregado em seu local de trabalho, conforme conclui Luís Paulo Sirvinskas (2020), tendo em vista que o “direito ambiental não se preocupa somente com a poluição emitida pelas indústrias, mas também deve preocupar-se com a exposição direta dos trabalhadores aos agentes agressivos”. Elida Séguin (2021) aponta como riscos ambientais presentes nos ambientes de trabalho: • Riscos físicos, como ruído, vibração, temperaturas extremas, pressões anormais, radiações ionizantes e não ionizantes; • Riscos químicos, como poeiras, fumos, gases, vapores, névoas e neblinas, entre outros; • Riscos biológicos, como fungos, helmitos, protozoários, vírus, bactérias, entre outros. O inciso VIII do art. 200 da CF constitui o fundamento constitucional do meio ambiente do trabalho, senão vejamos: Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: … VIII – Colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. O próprio capítulo Dos Direitos Sociais aponta para a preocupação do constituinte naqueles direitos que buscam a redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança (art. 7.º, XXII). A Norma Regulamentadora 15 (NR 15) trata das atividades e operações insalubres. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA Isto está na rede Em 2020 o mundo conheceu a realidade de uma pandemia, a Covid-19 que apresentou seus primeiros contaminados no fim do ano de 2019 ganhou força mundial logo no início do ano de 2020. O medo e as precauções para conter a Covid-19 envolveram utensílios plásticos e descartáveis, como luvas e máscaras, que passaram a ser utilizados descontroladamente, proporcionando um acúmulo gigantesco de lixo plástico. Outro fator preocupante é o aumento nas compras online, pois devido a quarentena as compras pela internet aumentaram consideravelmente, e os produtos são enviados aos compradores por embalagens plásticas de péssima qualidade. Fonte: https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,a-covid-19-levou-a-uma- pandemia-de-poluicao-plastica,70003344087 Isto acontece na prática “BRIGA DE GALOS” (AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 1.856/RIO DE JANEIRO) Caso de notável relevância para o meio ambiente, em seu sentido ampliado, abordou a constitucionalidade da denominada “briga de galos”, assunto submetido ao crivo do Plenário do Supremo Tribunal Federal a partir do ajuizamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 1.856/RJ (BRASIL, 2011), proposta pelo procurador- geral da República, tendo como relator o ministro Celso de Mello, demanda julgada em 26.5.2011, quando se decidiu que a referida prática configura crime previsto no art. 32 da Lei nº 9.605/98, de 12.2.1998 (BRASIL, 1998), sendo, ainda, atentatória à própria Constituição da República, não configurando simples manifestação cultural, mas inquestionável ato de crueldade contra os animais empregados na disputa, cuja proteção jurídica, com nítido escopo socioambiental, encontra amparo na Lei Fundamental. Resumidamente, no voto proferido pelo ministro relator, Celso de Mello (BRASIL, 2011), reconheceu-se o impacto negativo que a legislação atacada representaria para a incolumidade do patrimônio ambiental dos seres humanos e para a preservação da fauna, razão pela qual se reconheceu a existência de conflito entre a Lei nº 2.895, de 20 de março de 1998 (Estado do Rio de Janeiro, 1998), a qual admitia e até mesmo regulava a chamada “briga de galos”), e a regra prevista no art. 225, caput, e § 1º, VII, da Constituição Federal (Brasil, 1988), dispositivo que veda qualquer crueldade contra os animais. Celso de Mello (Brasil, 2011), citando balizada doutrina da área ambiental, relembrou que o Constituinte, ao proteger a fauna e vedar práticas que submetam os animais a atos crueldade, objetivou tornar efetivo o direito fundamental à preservação da integridade do meio ambiente https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,a-covid-19-levou-a-uma-pandemia-de-poluicao-plastica,70003344087 https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,a-covid-19-levou-a-uma-pandemia-de-poluicao-plastica,70003344087 FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA Anote isso MEIO AMBIENTE, se divide em Natural, Artificial, Cultural e do trabalho. E não apenas grama, rios e animais, como a maioria das pessoas veem e acreditam que é. O meio ambiente foi dividido nestes macro ambientes para que sejam melhor estudados/ trabalhados, pois entender as particularidades é importante para que realmente ocorra a preservação da natureza e da vida na terra. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA AULA 2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL – RESPONSABILIDADE POR DESASTRES AMBIENTAIS Os desastres ambientais marcaram a história da vida na terra desde o início. Estes desastres podem envolver a ação humana ou não. O Brasil já sofreu com vários desastres ambientais de grande magnitude, envolvendo perdas de muitas vidas humanas. A história da humanidade parte de um mundo de coisas em conflito para um mundo de ações em conflito. No início, as ações se instalavam nos interstícios das forças naturais, enquanto hoje é o natural que ocupa tais interstícios. Antes, a sociedade se instalava sobre lugares naturais, pouco modificados pelo homem, hoje, os eventos naturais se dão em lugares cada vez mais artificiais, que alteram o valor, a significação dos acontecimentos naturais (SANTOS, 2006, p. 96). 1984 - Vila Socó - uma falha em dutos subterrâneos da Petrobras espalhou 700 mil litros de gasolina nos arredores da vila, localizada em Cubatão (SP). Após o vazamento, um incêndio destruiu parte de uma comunidade local, deixando quase cem mortos. Vila Socó depois da tragédia | Foto: Reprodução | O popular. Fonte: https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/12/01/principais-desastres-ambientais-no-brasil-e-no- mundo https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/12/01/principais-desastres-ambientais-no-brasil-e-no-mundo https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/12/01/principais-desastres-ambientais-no-brasil-e-no-mundo FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA Os desastres ambientais sempre chamam a atenção por sua extensão aos seres humanos, a exposição e a desapropriação forçada com que as pessoas são expostas pela destruição de seus bens, bens estes que muitos levaram a vida toda para conseguir reunir e assim propiciar conforto a seus entes queridos. No entanto, o que poucas pessoas sabem é que o Estado em nosso caso o Brasil, é o responsável direto pelos desastres ambientais O fundamento constitucionalda responsabilização civil do Estado vem do parágrafo 6º, do artigo 37, o qual assegura que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviço público respondem pelos danos que seus agentes causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o agente causador, quando este atuar com dolo ou culpa. A ideia central da responsabilização civil do Estado é a de que quem obtém o bônus, arca com o ônus, ou seja, como os serviços estatais a todos aproveita, nada mais justo que estes - a sociedade - respondam pelos danos decorrentes daquela atividade. A Constituição Federal se refere à responsabilidade objetiva do Estado para com os lesados, excepcionando, todavia, ao servidor público, a responsabilidade subjetiva. A responsabilização objetiva do Estado existe desde a Constituição Federal de 1.946 (artigo 194), e foi repetida nas Constituições seguintes, de 1.967 (artigo 105) até chegar ao texto atual do artigo 37, § 6º.Oportuno o destacar que “tal responsabilidade não será elidida nem mesmo pela alegação de legalidade da atividade empreendida, tendo em vista caber ao Estado responder pelos danos decorrentes da consecução de suas políticas públicas” Enquanto que no antigo liberalismo cabia ao Estado abster-se da sociedade, no pós- modernismo é seu dever realizar prestações positivas no campo social, haja vista que: [...]enquanto os ‘direitos individuais’ significam um não fazer do Estado e dos demais agentes públicos, os ‘direitos sociais’ devem ser vistos como aqueles que têm por objetivo ‘atividades positivas’ do Estado, do próximo e da sociedade, para subministrar aos homens certos bens e condições. (DANTAS, 2010, p.32) Assim, “no Estado Democrático de Direito a base do Direito Administrativo só pode ser o Direito Constitucional”. O artigo 225 da Constituição Federal determina à sociedade e ao Poder Público o dever de proteção ambiental e, seu artigo 170, IV, dispõe que as atividades econômicas só se legitimam quando preservam o meio ambiente. Não restam dúvidas que o artigo 225, § 3º, da Constituição Federal recepcionou a norma insculpida no artigo 14 e seu parágrafo 1º, da Lei nº 6.938/81, que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, dispondo expressamente que quem deixar de tomar as medidas FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA necessárias à preservação ou correção de danos ambientais deverá, independentemente de sua culpa, repará-los ou indenizá-los: Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: [...] § 1º. - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O artigo 225, da Constituição Federal, determina uma ação estatal e da sociedade, tanto preventiva como repressiva à proteção ambiental e, seu parágrafo primeiro reforça o dever do Poder Público a tal incumbência, daí a concluir que há uma obrigação pré-existente de tutela ambiental do Estado, surgindo, consequentemente, a possibilidade de sua responsabilização por omissão. Outrossim, o dispositivo legal acima mencionado usa a expressão poluidor que, segundo definição da própria Lei 6.938/81, é toda “[...] pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental” (Art. 3º, IV). Decorrência disto é a legitimidade passiva solidária de todo aquele que contribuir, direta ou indiretamente, para a degradação ambiental, ou seja, a pessoa física que emanou o ato também é responsável solidariamente à pessoa jurídica pela qual atuou. Nota-se que o aludido dispositivo não faz distinção entre poluidor público ou privado, logo, da mesma forma que o administrador de uma empresa privada responde pelos danos ambientais por ela provocados, o administrador público responderá pelos danos ambientais provocados pela pessoa jurídica de direito público a qual representa, porém pela teoria subjetiva, conforme reza o artigo 37, § 6º, da Constituição Federal. Neste ponto discordamos de parte da doutrina que entende haver uma equiparação isonômica entre o poluidor público e o privado, uma vez que a Constituição Federal expressamente excepcionou ao servidor público, a responsabilização nos casos de dolo ou culpa, ao passo que, em relação ao representante de pessoa jurídica de direito privado, a responsabilização por danos ambientais será independentemente de culpa. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA Não obstante se trate de um macro bem - meio ambiente - não há como prevalecer a legislação infraconstitucional em face de disposição expressa da Constituição Federal, devendo-se fazer uma interpretação conforme a constituição do artigo 3º, IV, da Lei 6.938/81. Não há dúvidas, entretanto, ser cabível a responsabilização do agente público pelos danos ambientais, aos quais a pessoa jurídica de direito público que ele representa for poluidora direta ou indireta. Isto porque, como ensina Paulo Affonso Leme Machado, os bens ambientais são valores constitucionais indisponíveis e, não raras vezes, a discricionariedade administrativa os interpreta em conformidade às suas expectativas - legítimas ou não - incorrendo em prejuízos aos seres humanos. Aliás, a ação administrativa deve pautar-se pelos princípios da legalidade, moralidade, eficiência, impessoalidade e publicidade (Art. 37, caput, da Constituição Federal, e Art. 4º da Lei nº 8.429/92). O parágrafo 4º, do artigo 37, da Constituição Federal, cumulado com sua regulamentação infraconstitucional, a Lei nº 8.429/92, elenca atos considerados de improbidade administrativa e as respectivas sanções. O ato improbo pode decorrer do recebimento de uma vantagem indevida para deixar de praticar algo que deveria fazer, ou para fazer algo que não deveria (Art. 9º da Lei nº 8.429/92). Pode decorrer também de qualquer dano ambiental gerado por ação ou omissão, dolosa ou culposa, que lesa o erário público (Art. 10, da Lei nº 8.429/92). Além destes, pode decorrer até mesmo da infringência de um dos princípios da administração pública (Art. 11, da Lei nº 8.429/92), sujeitando, em qualquer dos casos, o responsável às penalidades previstas nos artigos 37, § 4º da Constituição Federal, e 12º, da Lei nº 8.429/92. Frisa-se, outrossim, que não cabe ao Estado escusar-se ao cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos danos ambientais alegando a cláusula da reserva do possível. A Declaração de Estocolmo sobre Meio Ambiente, da Organização das Nações Unidas, determina aos Estados em desenvolvimento obrigação de planejamento integrado para assegurar a compatibilidade entre desenvolvimento e preservação ambiental (princípio 13º) e, a questão já foi posta à apreciação do Supremo Tribunal Federal, que julgou incabível alegação da reserva do possível diante da omissão estatal na implantação de políticas públicas previstas na Constituição Federal, sempre que a omissão vier a comprometer a eficácia e integridade de direitos sociais. Deve o Estado, portanto, priorizar políticas públicas definidas no texto constitucional, dentre as quais está a preservação e defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado para as gerações presente e futuras (Art. 225). FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA O que vemos, no entanto, é o descaso do Poder Executivo para com a preservação ambiental, haja vista o descompromisso com os órgãos ambientais responsáveis, que não têm equipamentos modernos, tampouco quantidade e qualidade de pessoal necessários ao serviçode fiscalização e inspeção das obras e serviços potencialmente poluidores. Seus veículos estão sucateados e não há pessoal habilitado suficiente à demanda do país, o que se reflete na falha dos serviços de fiscalização ambiental e o grande número de danos ao meio ambiente. Isto reforça a necessidade de responsabilização do Estado por omissão na preservação e proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado que, apesar de ser direito fundamental do ser humano e dever constitucional expresso do Poder Público, é tratado com descaso pelo Poder Executivo que não a prioriza. Assim, “se o Estado lesar um bem juridicamente protegido para satisfazer um interesse público, mediante conduta comissiva legítima, responderá com fundamento no princípio da isonomia, pois, se todos se beneficiam com conduta do Estado, também deverão arcar com seu ônus”, além de que, a reparação do dano aproveitará a toda a sociedade e, na impossibilidade da repará-lo, a indenização deve ser destinada a um fundo de reparação do meio ambiente, uma vez que, em qualquer dos casos, a sanção imposta ao Estado se reverterá em benefício social. O Estado, entretanto, não é um segurador universal, cabendo uma análise caso a caso sobre o seu dever fiscalizatório em relação ao dano causado, para ser legitimado passivo de uma ação reparatória, uma vez que: Para que haja responsabilização em matéria ambiental é necessário apenas verificar se, no caso concreto, o sujeito se caracteriza como poluidor direto ou indireto, o que passa pela ideia de nexo e, no caso de omissão do Estado deverá considerar a natureza e os limites de seu dever fiscalizatório. Por isto é que, em casos tais, para que o Estado possa ser considerado poluidor indireto o intérprete deverá perscrutar a existência de culpa administrativa, isto é, se a fiscalização podia ou não ser exigida da Administração (17). Em suma, em se tratando de responsabilidade na reparação de dano ambiental por ação, basta a conduta, o resultado e o nexo causal, ainda que indireto, ao passo que, para a responsabilização por omissão, acresce-se aos elementos retro mencionados a culpa administrativa que, conforme narrado, significa o simples não funcionamento do serviço. Esta culpa administrativa é mais facilmente identificada, e até presumida, naquelas atividades potencialmente poluidoras às quais a lei exige prévio licenciamento ambiental, podendo, entretanto, o Estado elidir a presunção da culpabilidade. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA Isto está na rede Desde o dia 25 de janeiro, a população brasileira acompanha as repercussões de mais um crime ambiental de proporções incalculáveis. O rompimento da barragem de “Brumadinho 1”, na região do Córrego do Feijão (MG) já entrou para a história em função do número de vítimas identificadas até o momento, sendo que as buscas ainda não se encerraram. “Um crime dessas proporções é sempre impactante, porque evidencia a permissividade do Estado brasileiro com o grande capital na exploração dos recursos naturais, negligenciando alertas emitidos por organismos internacionais, movimentos sociais e órgãos ambientais sobre os riscos de sua existência”, avalia a presidente do CFESS, Josiane Soares. Assim como o ocorrido em Mariana (MG) em 2015, também a mina de Brumadinho acumulava um histórico de problemas notificados por órgãos ambientais desde 1998, como multas por deslizamentos, despejo de efluentes nos rios e poluição do ar (conforme noticiado pelo Portal Terra – clique aqui para saber mais. “Em razão de tais fatos, o Conjunto CFESS-CRESS, alinhado com o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) e outras organizações em defesa dos direitos humanos, reforça que não se pode naturalizar a retórica do ‘desastre’ ambiental, para qualificar o que ocorreu em Brumadinho, como também não foi ‘desastre’ a situação de Mariana, sobre a qual também nos manifestamos à época”, relembra a presidente do CFESS (clique para ler a nota sobre Mariana). Desastres são imprevistos e o rompimento dessa barragem já era uma tragédia anunciada, diante da qual não se registra nenhuma medida preventiva, nem voltada à população residente na região e, tampouco, voltada aos/às trabalhadores/as da Vale, também atingidos/as. “Embora indenizações e reparações de quaisquer naturezas não possam suprimir as consequências do ocorrido, responsabilizar esses empreendimentos tem o sentido político de mostrar que o valor econômico dessas atividades não pode se sobrepor ao valor das vidas que foram perdidas e prejudicadas pelo seu funcionamento. Tem também o sentido político de alertar para o movimento, fortemente presente na composição do atual Executivo Federal e do Congresso Nacional, que caminha de braços dados com as mais retrógradas frações da classe dominante brasileira interessada em flexibilizar os parcos dispositivos legais que regulam o avanço do capital sob o meio ambiente – o que inclui os direitos das populações que vivem e trabalham nessas localidades”, analisa a conselheira do CFESS Mariana Furtado. AÇÃO POLÍTICA E DEMANDAS AO TRABALHO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA REGIÃO O Conselho Regional de Serviço Social de Minas Gerais (CRESS- MG) vem desempenhando importantes ações em defesa dos direitos da população afetada pelo crime socioambiental de Brumadinho. O conselheiro Leonardo Koury Martins, coordenador da Comissão de Ética e Direitos Humanos, tem acompanhado diretamente as atividades do “gabinete de crise” em conjunto com o Conselho Regional de Psicologia (CRP), a Comissão de Direitos Humanos da OAB, o MAB e outras instituições do estado. Leonardo destaca que um dos avanços pactuados na última reunião, realizada em 30 de janeiro, foi o compromisso do poder público municipal de convocar os/as FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA profissionais da região para uma reunião interdisciplinar de “alinhamento” com suas entidades representativas. “O trabalho em andamento busca assegurar o atendimento emergencial, mas não deve se restringir a este. Precisamos acionar o conjunto mais amplo das políticas públicas, a exemplo das políticas de desenvolvimento territorial e habitação de interesse social, considerando-se os diversificados impactos presentes numa situação como esta”, enfatiza o conselheiro. Para demarcar esse propósito, o CRESS-MG produziu uma nota de orientação à categoria profissional, disponibilizada em seu site. Outra questão importante é a organização administrativa do CRESS-MG, para atender à demanda emergencial de novos pedidos de inscrição em função de contratações temporárias que estão ocorrendo em decorrência da necessidade de recompor as equipes para atendimento na região. “Organizamos um fluxo específico e mais célere, para agilizar a aprovação dessas novas inscrições e eventuais reinscrições, considerando a necessidade de possibilitar o trabalho profissional com qualidade e prestado em condições legais por profissionais devidamente inscritos/as no CRESS”, informa a conselheira vice-presidente, Ana Maria Bertelli. O CFESS reafirma que o compromisso de assistentes sociais em todo o Brasil é com a qualidade dos serviços prestados e o acesso da população aos direitos sociais e humanos. O Conselho Federal se solidariza com a população e com os/as trabalhadores/as da Vale afetados/as pelo que o CFESS considera um crime. “Conclamamos, juntamente com o CRESS-MG, as/ os assistentes sociais da região a se empenharem na realização de suas atribuições, munidas/os de nossas bandeiras de luta, pois assegurar um trabalho competente e com direção política é essencial para combater as desumanidades e os impagáveis custos da exploração do trabalho no capitalismo”, completa a presidente do CFESS. Fonte: http://cress-sc.org.br/2019/02/11/crime-ambiental-de-brumadinho-traz- desdobramentos-para-a-rede-socioassistencial Isto acontece na prática 2015 - Rompimento da barragem de Mariana -em 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, em Mariana (MG), provocou a liberação de uma onda de lama de mais de dez metros de altura, contendo 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos. Em Minas Gerais, na última década, ocorreram desastres ambientais com mineração em Nova Lima (2001), em Miraí (2007), em Itabirito (2014), e em Brumadinho 2019. http://cress-sc.org.br/2019/02/11/crime-ambiental-de-brumadinho-traz-desdobramentos-para-a-rede-socioassistencial http://cress-sc.org.br/2019/02/11/crime-ambiental-de-brumadinho-traz-desdobramentos-para-a-rede-socioassistencial FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA Anote isso Dentre todos os desastres ambientais ocorridos no Brasil, quantas pessoas foram realmente condenadas até os dias de hoje? As pessoas jurídicas pagam as multas ambientais, mas na esfera penal, não são condenadas. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA AULA 3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL – CRIMES AMBIENTAIS O ambiente é o que somos em nós mesmos. Nós e o ambiente somos dois processos diferentes; nós somos o ambiente e o ambiente somos nós (JIDDU KRISHNAMURTI). O Brasil frequentemente se transforma em um circo dos horrores em matéria ambiental, em razão da tragédia consumada ocorrida na barragem em Brumadinho, bem como a anunciada pelo Governo Federal para a Amazônia em favor das empresas mineradoras em 2017, a principal lei sobre o meio ambiente é a atual Lei 9.605/98, conhecida como Lei Ambiental. Embora não haja dúvida quanto ao avanço jurídico alcançado pelo advento do novo ordenamento, estamos ainda bastante atrasados no tocante à necessária revisão, especialmente no que diz respeito à parte criminal. A Lei Ambiental é uma lei de natureza mista, ou seja, possui conteúdo variado, disciplinando temas como o Direito Penal, Direito Processual Penal e Direito Administrativo. Entretanto, dos oitenta e dois artigos que a compõem, sessenta e nove deles são de natureza criminal, que, por sua vez, criam trinta e quatro tipos penais incriminadores: seis contra a fauna; catorze contra a flora; cinco referentes à poluição; quatro em prejuízo do ordenamento urbano e do patrimônio cultural; e por fim, outros cinco que atentam contra a administração ambiental. Vamos ver os crimes propriamente ditos. Contra a fauna Os atentados que se relacionam à fauna, então previstos na Lei 5.197/67 (Código de Caça) e o Decreto-Lei 221/67 (Código de Pesca) foram consolidados então na Seção I do Capítulo V. Cumpre salientar que as penas cominadas guardam, de certo modo, uma adequação à gravidade dos fatos, distanciando-se do que foi outrora previsto que, por considerar como inafiançáveis os delitos cometidos contra a fauna silvestre e, por estabelecer sanções um tanto quanto rigorosas em demasia, tinha sua aplicação prática um tanto quanto discreta. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA Aplica-se, na grande maioria dos casos, os princípios da insignificância e da irrelevância penal do fato (= delito de bagatela), absolvendo então os acusados. Considerações acerca dos tipos penais em se tratando a fauna merecem destaque. Inicialmente no art. 29 fez o legislador referência à “espécimes”, assim sendo, este deu sentido de que o tipo penal só se verificará com a ação em face de vários exemplares da fauna, ou seja, que o dano aplicado em relação a tão somente um exemplar não configura- se crime. Com relação ao art. 30, verificou-se a utilização da expressão: “exportar para o exterior”, se não verificando-se essa redundante, ao menos restringiu a possibilidade da prática de tal fato típico no comércio tão somente interno, fato muito comum em se tratando de Brasil. Outra questão importante é a que se refere ao art. 32, que trata da prática de abuso contra os animais, haja vista não se ter definido legalmente o que se configura como sendo a “prática de abusos”. “Maus-tratos” é o nome jurídico da conduta que consta o art. 136 do Código Penal, no entanto, praticada contra animais possui uma pena maior do que contra o humano. Contra a flora Dos crimes contra a flora, previstos na Seção II do Capítulo V, destaca-se a incorporação como sendo conduta criminosa a maioria das contravenções penais outrora previstas na Lei 4.771/65 (Código Florestal). Em se tratando desta modalidade de crimes, sem dúvidas um dispositivo legal que merece destaque é o art. 42, que se refere à fabricação, venda, transporte ou soltura de balão. O referido artigo é, sem dúvida, um comportamento adequado para figurar no rol das contravenções penais ou das infrações administrativas, haja vista, ter como escopo inibir conduta típica da cultura brasileira. Da poluição Em se tratando dos crimes previstos na Seção III do Capítulo V da Lei dos Crimes Ambientais, o legislador destacou no art. 54 os crimes de poluição, revogando então tipificação análoga prevista no art. 15 da Lei 6.938/81, em face de possui um conteúdo mais abrangente. Dispõe o referido artigo da seguinte redação: Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. § 2º Se o crime: I - tomar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana; II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população; III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade; IV - dificultar ou impedir o uso público das praias; V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível. Destaca-se que o caput prevê a forma dolosa do crime. O tipo penal tutela então a saúde humana, podendo o crime ser figurado como de perigo ou de dano. A segunda parte, tara o artigo da incolumidade animal e vegetal, sendo o referido crime tão somente de dano, vez que, explicitamente tipifica a conduta capaz de provocar a mortandade de animais ou a efetiva destruição significativa da flora. Tratou o § 1º da modalidade culposa do referido crime, em todas as suas modalidades. Já em seu § 2º cuida do crime qualificado pelo resultado, onde se permite a aplicação de uma pena mais severa. Por fim o § 3º prevê a omissão na adoção de medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível, valorizando-se então os princípios de direito ambiental. Da desconstituição da pessoa jurídica. Visualizada em diversos países a teoria da “desconsideração da personalidade jurídica”” ou da “despersonificação da pessoa jurídica” vem, sem dúvidas, ganhando espaço na doutrina brasileira e aos poucos sendo aplicada nos Tribunais, não só no que se relaciona ao direito ambiental, mas também a outros ramos do direito. A referida consiste em extinguir a personalidade jurídica sempre que a existência desta, porventura, obstar ao ressarcimento dos prejuízos causados à qualidade do meio ambiente, de acordo com o art 4º da lei 9.605: “Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente”. A referida Lei dos Crimes Ambientais, no que se refere à desconsideração dapersonalidade jurídica (art. 4º), praticamente reproduz o que aduz o artigo 28, § 5º do Código de Defesa do FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA Consumidor. O principal parâmetro da questão é sem dúvidas a necessidade de reparação dos prejuízos causados. O que na realidade se depreende é que a “desconsideração” é enfim aplicada quando a pessoa jurídica em questão foge das finalidades a que foi criada ou, mesmo dentro dela, comete atos que, se analisados, demonstram fraude à lei ou ao contrato, em detrimento de terceiros. Como objeto da possível desconsideração ou despersonalização é, indubitavelmente, coibir a fraude, em todos os sentidos, bem como o abuso de direito, haja vista o cometimento de excessos. Há de se destacar que a despersonalização só anula os atos em questão impugnados, preservando então os demais que se verificarem alheios aos atos outrora impugnados. Vislumbra-se que não é qualquer prática delituosa que motivará a desconsideração. Destaca Valdir Sznick (2001, p.243), que a desconsideração se dará quando há uma ocultação da pessoa por trás da pessoa jurídica e ocorrendo o levantamento do véu do véu (lifting the corporate veil) se descobre o uso abusivo ou excessivo da pessoa jurídica, mascarando a verdadeira finalidade da mesma. A má direção da empresa (com o abuso ou o uso excessivo) constitui-se em uma infração e, pois, um comportamento ilícito, justificando a desconsideração. Em suma, grande parte da doutrina de direito ambiental entende que agiu bem o legislador ao inserir na Lei dos Crimes Ambientais a possibilidade da desconsideração da personalidade jurídica, combatendo a fraude e o abuso de direito, por meio de seus sócios, agredindo o meio ambiente e locupletando-o. A aplicação das penas No que se relaciona à aplicação das penas, o referido diploma legal (lei. 9.605/98) não dista em nada do Código Penal Brasileiro (Decreto-Lei. 2.848, de 07 de dezembro de 1940), prevendo penas de multa, restritivas de liberdade e restritivas de direito. Entretanto, destaca-se a preferência legislativa em relação às penas restritivas de direito e as pecuniárias e isso se explica por dois motivos. Inicialmente as referidas penas aplicam-se a quaisquer pessoas, ou seja, às pessoas físicas e jurídicas; e, haja vista a enorme diferença entre os delinquentes ambientais e àqueles que tem ocupado o sistema prisional brasileiro. Ainda em relação à segunda situação notar-se-ia um contrassenso se o legislador optasse FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA pela pena restritiva de liberdade, vez que a sociedade suportaria o dano causado e às custas no que se relaciona a privação de liberdade do delinquente. Das penas aplicáveis às pessoas físicas. Ambas as penas do referido diploma legal aplicam-se às pessoas físicas, sendo elas, as restritivas de liberdade, de direito e multa. Penas restritivas de liberdade. As penas privativas de liberdade que se verificam no ordenamento jurídico nacional são as de detenção e as de reclusão e prisão simples em se tratando de contravenção penal. Diferencia-se a detenção e a reclusão por um aspecto meramente formal, de acordo com o art. 33 do Código Penal. Dispõe este da seguinte redação: “a pena de reclusão de ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado”. Assim sendo, tal diferença consiste tão somente no regime de cumprimento de pena. Em se tratando da Lei dos Crimes Ambientais, como anteriormente citado, fez o legislador explicita preferência pela restritiva de direito, podendo até, em determinados casos, ser substituída pelas restritivas de direito. Assim sendo, verifica-se que sua aplicabilidade se dá tão somente no último caso. Penas Restritivas de direito. Face ao disposto no artigo 7º da Lei 9.605/98, que dispõe da seguinte redação: as penas privativas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade quando: I – trata-se de crime culposo ou for aplicada pena privativa de liberdade, inferior a quatro anos; II – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime. Verifica-se como anteriormente referido, que o legislador brasileiro sem dúvida fez estrita opção pela pena restritiva de direito. O fato acima descrito se deu face algumas características dos crimes ambientais. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA Inicialmente nota-se que há, indubitavelmente, uma diferença entre o perfil do delinquente que o comete em relação ao que comete um crime, como de homicídio, assim sendo, não é concebível que a lei preveja a estes, a mesma cominação de pena, nem mesmo o regime de cumprimento. Ainda à disposição do art. 7º, parágrafo único, da Lei dos Crimes Ambientais, as penas restritivas de direito terão a mesma duração das restritivas de liberdade. Sem dúvida é uma evolução do direito moderno, haja vista a busca incessante de se afastar as penas restritivas de liberdade em função do colapso que vive o sistema prisional brasileiro, e são elencadas de acordo dispõe o art. 8º do referido diploma legal: “I – prestação de serviços à comunidade; II – interdição temporária de direitos; III – suspensão parcial ou total de atividades; IV – prestação pecuniária; V – recolhimento domiciliar”. Das penas acima citadas é mister enfatizar que não se verifica uma sobreposição ou uma hierarquia entre elas, tendo o juiz discrionariedade na aplicação das mesmas, no entanto, verifica-se ao passo da atual conjuntura econômica nacional, a maior aplicação da pena de prestação de serviços à comunidade e a pena de prestação pecuniária, sendo que historicamente a primeira se deriva da segunda, ao passo que era aplicada àquelas pessoas que não reuniam condições de solver com as pecuniárias. Penas da Pessoa Jurídica Após descrever as penas aplicáveis às pessoas físicas, a Lei dos Crimes Ambientais elucida acerca das penas cabíveis as pessoas jurídicas. Dispõe o art. 21: “as penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o art. 3º são: I – multa; II – restritivas de direitos; III – prestação de serviços à comunidade”. No que se relaciona à aplicação da pena, define o artigo anteriormente citado, três possibilidades. Inicialmente as penas são impostas: isoladas, assim sendo uma só pena a ser aplicada; alternativa, onde nota-se que há mais de uma pena, no entanto, tão somente uma é aplicada, e; por fim as cumulativas, onde verifica-se mais de uma pena e sendo, então, aplicadas ambas em cúmulo. Em se tratando da pessoa jurídica a pena alternativa, ou seja, a restritiva de direito será aplicada como regra, vez que a Parte Especial do diploma legal em questão prevê tão somente penas privativas de liberdade, o que se verifica como sendo fator motivador de muitos contrários à punição penal da pessoa jurídica. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA Ainda neste, foi citada as modalidades de penas no que se relaciona à sua aplicação. Na prática, quando, porventura, se verificar uma pena alternativa, aplicar-se-á a restritiva de direito; quando notar-se a cumulativa, aplicar-se-á tão somente a restritiva de direito. Em face ao grau dos danos causados, os prejuízos causados e a extensão da degradação visualizada, entendem doutrinadores que ao lado da pena de multa, poderá ser aplicada outra restritiva de direito, como a prestação de serviços à comunidade. A Lei 9.605/98 devidamente elencou as penas restritivas de direito a serem aplicadas à pessoa jurídica, sendo elas, de acordo com o art. 22: “as penas restritivas de direito da pessoajurídica são: I – suspensão parcial ou total das atividades; II – interdição temporária de estabelecimento, obra, atividades; III – proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações”. Em se tratando da suspensão das atividades, explicada no § 1º do artigo supra citado, assim como se verifica no direito administrativo, constitui-se um ato punitivo. Dada a gravidade do dano, verificar-se-á a aplicação da suspensão parcial ou total, no entanto nota-se que a suspensão susta tão somente a execução (continuação). Em se tratando da interdição, explica o § 2º: “a interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida autorização ou em desacordo com a concedida, ou com a violação de disposição legal ou regulamentar”. Nota-se que este acima traz de forma taxativa os casos onde caberá a aplicação da interdição. São sujeitas a interdição em face das disposições legais: a) obra ou atividade – aqui, trata-se de qualquer execução, inclusive se esta tiver natureza tão somente de reparos, como, por exemplo, reforma em galerias de águas pluviais. Nota- se que para a sua aplicação há a necessidade de que esta esteja contrariando a lei ou a regulamento; b) estabelecimento – nota-se aqui que há a necessidade da participação de uma empresa ou firma que está a desenvolver atividades que não estão de acordo com as disposições legais. No que se relaciona à interdição, verificar-se-á esta quando: 1 – autorização: tal verifica- se pôr em relação ao funcionamento, bem como a construção de uma obra. Em ambos os casos a não existência da autorização torna a atividade clandestina; 2 – em desacordo: aqui, há a autorização para realização de determinada atividade, no entanto, poderá ser verificada em duas situações distintas – a) concedida: verifica-se quando a autorização é dada para a FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA consecução de atividade diversa da que realmente se verifica ocorrendo; b) violação: quando apesar de ter autorização para realização daquela determinada atividade, não a executa de acordo com as disposições legais. Por fim, a proibição de contratar com o Poder Público é aplicada às pessoas jurídicas de grande repercussão em suas áreas de atuação. Dispõe o § 3º, do art. 22 da Lei dos Crimes Ambientais que: “A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações não poderá exceder a dez anos”. No que se relaciona a pessoa física, tal restrição foi fixada de 03 (nos casos de crimes culposos) a 05 anos (nos casos de crimes dolosos). No caso da pessoa jurídica, previu o legislador o prazo máximo de 10 anos. Sabe-se que as penas que vedam subsídios e adjacências repercutem em muito nas empresas, haja vista sua natureza financeira. Do art. 23 ao art. 25, prevê a Lei dos Crimes Ambientais acerca da prestação de serviços, da liquidação forçada e da apreensão de produtos. Inicialmente da prestação de serviços à comunidade tal se verificará num desenvolvimento por parte da pessoa jurídica condenada de programas e projetos de cunho social, bem como o desenvolvimento de recuperação de áreas degradadas. Na impossibilidade de se verificar o cumprimento destas, poderá ser aplicada a contribuição a entidades, sendo que pela ordem, tais deverão ser: ambientais, culturais e públicas. Isto está na rede O ano de 2020 surpreendeu a todos com notícias preocupantes com relação à saúde pública, meio ambiente e sustentabilidade. O ano da Pandemia Covid-19, que gerou um aumento absurdo de lixo plástico, também se destacou com notícias sobre o desmatamento da Amazônia, que foi um dos temas mais comentados, pois 2020 foi um ano recorde em desmatamento. “A comparação refere-se ao período de agosto de 2019 a julho de 2020, que é o calendário oficial de monitoramento da Amazônia, usado pelo Inpe para calcular as taxas anuais de desmatamento. Mais de 9,2 mil quilômetros quadrados (km2) de floresta foram derrubados [...]. Os sistemas não indicam qual foi a causa do desmatamento, apenas comprovam que ele ocorreu; mas é fato sabido — comprovado por diversos estudos — que a maior parte dessas derrubadas na Amazônia ocorre à margem da lei.”. Fonte: https://jornal.usp.br/ciencias/desmatamento-da-amazonia-dispara-de-novo- em-2020/ https://jornal.usp.br/ciencias/desmatamento-da-amazonia-dispara-de-novo-em-2020/ https://jornal.usp.br/ciencias/desmatamento-da-amazonia-dispara-de-novo-em-2020/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA Isto acontece na prática A pedido do Ministério Público Federal, um ex-cacique da etnia Guarani M’Bya foi sumariamente absolvido após ter sido acusado criminalmente por ter desmatado uma área para roçado e construção de ocas na região de Iguape (SP). A denúncia foi do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), que viu na conduta do indígena uma violação à Lei de Crimes Ambientais (nº 9.605/1998). Porém, quando o processo foi transferido para a Justiça Federal, o MPF defendeu a absolvição do acusado, com base em direitos que o ordenamento jurídico brasileiro garante às populações tradicionais – tese que prevaleceu. O indígena, liderança da aldeia Jeiyty, inserida na terra indígena Ka’aguy Hovy, no Vale do Ribeira, teria participado, segundo a denúncia, de uma supressão de vegetação nativa em uma área de 0,753 ha, correspondente a um campo de futebol, voltada à instalação de pequenas moradias e ao plantio voltado à subsistência de sua comunidade. Inicialmente, a constatação desse fato deu origem a um inquérito policial e, em 2015, à denúncia do MP-SP. Entretanto, após o reconhecimento da competência da Justiça Federal para julgar o caso, o MPF passou a atuar, e, contrariando a interpretação dos promotores do MP-SP, destacou que a conduta apurada deveria ser analisada à luz não apenas da Lei de Crimes Ambientais, mas também da Constituição Federal e de outras normas que reconhecem direitos a comunidades tradicionais. Isso porque, embora, em tese, um desmatamento possa ser considerado um delito, a prática não resulta em significativo dano ao meio ambiente quando feita da forma tradicional dos povos indígenas, com baixo impacto e prevendo períodos de regeneração após o ciclo de desmate, plantio e colheita. O MPF lembrou que o direito das comunidades indígenas à exploração de suas terras é previsto no artigo 231 da Constituição Federal e no Estatuto do Índio (Lei 6.001/73), que garantem a esses povos tradicionais a posse permanente das áreas ocupadas e o usufruto exclusivo do solo e dos rios que por elas passem. Pontuou, ainda, que a Fundação Nacional do Índio (Funai) reconheceu, no ano passado, os limites do território Ka’aguy Hovy e sua vinculação tradicional ao grupo Guarani. “Tanto a ordem constitucional quanto a legislação extrapenal asseguram aos povos indígenas seu modo de vida tradicional, e deixam explícito o reconhecimento às suas atividades produtivas concernentes à exploração dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e à reprodução física e cultural. Desta forma, todo manejo ambiental que se insira neste contexto de direito tradicional (e não esteja, por exemplo, voltado à monetização da terra) deve ser considerado inserido em um plexo de direitos fundamentais indígenas”, afirmou o procurador da República Yuri Corrêa da Luz, autor do pedido que resultou na absolvição do ex-cacique. O MPF argumentou que este vínculo entre o desmate e o modo de vida dos índios já seria suficiente para inocentá- lo. Mas, além disso, pontuou que, agindo de acordo com suas práticas tradicionais, o líder da aldeia não poderia ter clareza sobre a ilicitude de sua conduta, e por isso atuou, no mínimo, em “erro de proibição culturalmente condicionado”, capaz de eximi-lo de FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA qualquer responsabilidadepenal. A Justiça Federal, acolhendo os argumentos do MPF, absolveu sumariamente o indígena, reconhecendo sua inocência. Para o procurador da República atuante no caso, “trata-se de uma decisão relevante, que dá segurança aos indígenas da região do Vale do Ribeira, e reconhece seu direito constitucional de manejarem tradicionalmente seu território, buscando sua subsistência de forma ambientalmente sustentável e em harmonia com seus modos de ser, fazer e viver”. O número da ação é 0000058-94.2018.403.6129. Fonte: http://www.mpf.mp.br/sp/sala-de-imprensa/noticias-sp/guarani-acusado-de- crime-ambiental-em-iguape-sp-e-absolvido-a-pedido-do-mpf Anote isso Desmatamento criminoso, grilagem de terras e agressões contra animais silvestres são considerados crimes ambientais - Foto: Divulgação/Ibama Interessados em denunciar crimes ou agressões ao meio ambiente podem entrar em contato com o serviço Linha Verde do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) pelo telefone 0800-61-8080 ou pelo e-mail linhaverde.sede@ibama.gov.br. A ligação é gratuita de qualquer ponto do País e funciona de segunda a sexta-feira (exceto feriados), das 8h às 18h. No site do Ibama também é disponibilizado um serviço para registro de ocorrências on-line. Para fazer a denúncia via internet (e/ou manifesto, reclamação, sugestão, informação) é preciso acessar a página específica do Instituto e preencher os dados corretamente. Por telefone ou pela internet, cabe ao informante citar com clareza qual o tipo de crime que está ocorrendo, exemplo: cativeiro de animais, desmatamento, poluição, caça, acidente com produtos químicos, degradação de área, maus tratos de animais, queimada, contra servidores, irregularidades administrativas, pesca predatória, entre outros. São indispensáveis dados precisos sobre a localização para o registro da denúncia. A insuficiência de informações, na maioria das vezes, impossibilita ou retarda o atendimento. Cabe ressaltar que dados cadastrais do informante (nome, telefone, endereço) são mantidos em sigilo, visando resguardar a sua integridade física e conforme garante o direito individual dos cidadãos em relação à inviolabilidade de sua intimidade. Fonte: http://www.brasil.gov.br/noticias/meio-ambiente/2014/08/saiba-como-denunciar- crimes-e-agressoes-ao-meio-ambiente http://www.mpf.mp.br/sp/sala-de-imprensa/noticias-sp/guarani-acusado-de-crime-ambiental-em-iguape-sp-e-absolvido-a-pedido-do-mpf http://www.mpf.mp.br/sp/sala-de-imprensa/noticias-sp/guarani-acusado-de-crime-ambiental-em-iguape-sp-e-absolvido-a-pedido-do-mpf http://www.brasil.gov.br/noticias/meio-ambiente/2014/08/saiba-como-denunciar-crimes-e-agressoes-ao-meio-ambiente http://www.brasil.gov.br/noticias/meio-ambiente/2014/08/saiba-como-denunciar-crimes-e-agressoes-ao-meio-ambiente FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA AULA 4 HISTÓRIA E CULTURA AFRO- BRASILEIRA E INDÍGENA “Nós temos que ter orgulho em ser quem somos. Almejar a excelência. Quando fizermos isso, a América estará pronta para nos ajudar.” (THABANG – África do Sul) Nos dias de hoje, o território brasileiro concentra a maior população africana fora da própria África. E é exatamente por conta desse motivo que a cultura oriunda desses povos exerce uma grande influência em nosso país, com destaque principalmente para o Nordeste do estado. Porém, foi só junto com o início do século XX que grande parte das manifestações, costumes, ritos e outros começaram a fazer parte também da cultura brasileira, sendo considerados expressões não essencialmente africanas, porém, artes genuinamente afro- brasileiras. Sendo assim, hoje a cultura negra é também fundamental para formar a identidade de nossa nação, motivo pelo qual a cultura afro-brasileira se estabelece em todo nosso território. Vale destacar que ela é também o resultado das crenças dos indígenas e dos portugueses, que por muitos anos, nos influenciaram com suas músicas, culinária e religiões. Características da Cultura Afro-Brasileira Uma das principais características da cultura afro-brasileira é que não há homogeneidade cultural em todo território nacional. A origem distinta dos africanos trazidos ao Brasil forçou-os a apropriações e adaptações para que suas práticas e representações culturais sobrevivessem. Assim, é comum encontrarmos a herança cultural africana representada em novas práticas culturais. As manifestações, rituais e costumes africanos eram proibidos. Só deixaram de ser perseguidos pela lei na década de 1930, durante o Estado Novo de Getúlio Vargas. Assim, elas passaram a ser celebradas e valorizadas, até que, em 2003, é promulgada a lei nº 10.639/03 que altera a lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), e passa a FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA exigir que as escolas brasileiras de ensino fundamental e médio tenham em seus currículos o ensino da história e cultura afro-brasileira. Os dois grupos de maior destaque e influência no Brasil são: • os Bantos, trazidos de Angola, Congo e Moçambique; • os Sudaneses, oriundos da África ocidental, Sudão e da Costa da Guiné. Devemos ressaltar que as regiões mais povoadas com a mão de obra africana foram: Bahia, Pernambuco, Maranhão, Alagoas, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e Rio Grande do Sul. Isso devido à grande quantidade de escravos recebidos (região Nordeste) ou pela migração dos escravos após o término do ciclo da cana-de-açúcar (região Sudeste). Aspectos da Cultura Afro-brasileira De partida, temos de frisar que a cultura afro-brasileira é parte constituinte da memória e da história brasileira e que seus aspectos transbordam as margens desse texto. Ela compõe os costumes e as tradições: a mitologia, o folclore, a língua (falada e escrita), a culinária, a música, a dança, a religião, enfim, o imaginário cultural brasileiro. As Festividades Populares Principais Características da Cultura Afro-brasileira • O Carnaval, a maior festa popular brasileira, celebrada no início do ano e mobilizando a nação. • A Festa de São Benedito, principal festa do Congado (expressão da cultura afro- brasileira), comemorada no final de semana após a Páscoa. • E, por fim, a Festa de Yemanjá, realizada no dia 2 de fevereiro. A influência afro-brasileira está patente em expressões como Samba, Jongo, Carimbó, Maxixe, Maculelê, Maracatu. Eles utilizam instrumentos variados, com destaque para Afoxé, Atabaque, Berimbau e Tambor. Não podemos perder de vista que estas expressões musicais são também corporais. Elas refletem nas formas de dançar, como no caso do Maculelê, uma dança folclórica brasileira, e do samba de roda, uma variação musical do samba. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA Temos outras expressões de música e dança como as danças rituais, o tambor de crioula e os estilos mais contemporâneos, como o samba-reggae e o axé baiano. Finalmente, merece destaque especial a Capoeira. Ela é uma mistura de dança, música e artes marciais proibida no Brasil durante muitos anos e declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em 2014. A Culinária A culinária é outro elemento típico da cultura afro-brasileira. Ela introduziu as panelas de barro, o leite de coco, o feijão preto, o quiabo, dentre muitos outros. Entretanto, os alimentos mais conhecidos são aqueles da culinária baiana, preparados com azeite dendê e pimentas. Destacam-se Abará, Vatapá e o Acarajé, bem como o Quibebe nordestino, preparado com carne-de-sol ou charque; além dos doces de pamonha e cocada. E, por fim, o prato brasileiro mais conhecido de todos: a feijoada. Ela foi criada pelos escravos como uma apropriação da feijoada portuguesa e produzida a partir dos restos de carne que os senhores de engenho não consumiam. A Religião A religião afro-brasileira se caracterizou pelo sincretismo com ocatolicismo, donde unia aspectos do cristianismo às suas tradições religiosas. Isso ocorreu para que eles pudessem realizar as práticas religiosas africanas secretamente (associação de santos com orixás), uma vez que a conversão era apenas aparente. Assim, nasceram do sincretismo Batuque, Xambá, Macumba e Umbanda, enquanto se preservaram algumas variações africanas da Quimbanda, Cabula e o Candomblé. Características da Cultura Indígena Os povos indígenas, pela diversidade étnica, contribuíram de formas diferentes em relação a muitos aspectos culturais. Calcula-se que existam mais de 230 povos indígenas no Brasil, com hábitos, línguas e crenças diversas. Eles estão espalhados em mais de 670 Terras Indígenas que já foram identificadas e homologadas ou encontram-se em processo de homologação. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA Religião e Crenças As crenças religiosas e superstições tinham um importante papel dentro da cultura indígena. Fetichistas, os indígenas temiam ao mesmo tempo um bom Deus – Tupã – e um espírito maligno, tenebroso, vingativo – Anhangá, ao sul e Jurupari, ao norte. Algumas tribos pareciam evoluir para a astrolatria, embora não possuíssem templos, e adoravam o Sol (Guaraci – mãe dos viventes) e a Lua (Jaci – nossa mãe). Tupã - Deus indígena O culto dos mortos era rudimentar. Algumas tribos incineravam seus mortos, outras os devoravam, e a maioria, como não houvesse cemitérios, encerrava seus cadáveres na posição de fetos, em grandes potes de barro (igaçabas), encontrados suspensos tanto nos tetos de cabanas abandonadas como no interior de sambaquis. Os mortos eram pranteados obedecendo-se a uma hierarquia. O comum dos mortais era chorado apenas por sua família; o guerreiro, conforme sua fama, poderia ser chorado pela taba ou pela tribo. No caso de um guerreiro notável, seria pranteado por todo o grupo. Moradia Como sabemos os indígenas têm costumes bem diferentes dos costumes de nós urbanos, um deles é morar em ocas ou malocas que medem mais ou menos 20 metros de comprimento por 10 metros de largura e 6 metros de altura, feitas de madeira e cobertas por folhas de palmeiras. Fazem uma espécie de parede dupla com um espaço entre ambas o que permite uma ventilação adequada, tornando o ambiente, no seu interior bastante agradável, seja no frio ou no calor. Uma aldeia é composta de várias malocas, onde habitam várias famílias. Cada maloca possui um chefe daquele grupo, que quando reunidos formam uma espécie de “colegiado”. As casas eram construídas em volta de um pátio, local de festas e de reunião. O conjunto de casas formava uma aldeia. Os moradores de várias aldeias, unidos por laços familiares e interesses comuns, formavam um povo ou uma nação. Modo de vida Um outro costume que os índios têm de diferente de nós é o modo de viver deles: vivem da caça, da pesca e coleta de vegetais silvestres, obedecendo aos ciclos de atividades FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA de subsistência da Floresta Tropical: chuvas, enchentes, estiagem e seca. Reúnem-se em grupos que podem ser: de casais, consanguíneos (parentesco), intercasamento e relações de servidão. Na maioria dos grupos o casamento pode ser dissolvido. Preservam a infância da mulher que só pode se tornar esposa após a primeira menstruação (acompanhada de ritual especial, de acordo com a tribo). Não existem padrões morais de virgindade ou adultério, tudo se resolve com conversas entre parentes próximos e com acordos entre as famílias. Temos tribos matriarcais, patriarcais, monogamia (um só esposo ou esposa – com uniões que podem ser dissolvidas) e poligamia (um esposo com várias esposas, ou uma esposa com vários maridos). A chefia Cada nação indígena tem um líder, que comanda a tribo nas caçadas e nas guerras ou na resolução de alguma disputa interna. Ele costuma conversar com as pessoas e ouvir suas opiniões e, sempre que precisa tomar uma decisão importante, pede conselhos aos mais velhos. Além dele, há o pajé que é o líder espiritual e possui grande prestígio e poder entre os nativos, pois ele conhecia e manipulava as ervas curativas, faz as oferendas aos deuses e se comunica com as divindades. O trabalho Os índios trabalham para conseguir alimento, fazer uma casa, uma rede, uma festa, ou seja, para satisfazer às necessidades básicas do grupo. O trabalho nas aldeias é coletivo, dividido entre todos os membros que moram na tribo. Essa divisão era feita de acordo com o gênero (homens e mulheres) e por idade. • Em geral, as tarefas masculinas são: caçar, pescar, preparar a terra para o plantio e defender a comunidade. • As atividades femininas são: plantar, coletar frutos e raízes, cozinhar, fazer utensílios de cerâmica e cestos, além de cuidar dos filhos. Assim como outros povos, eles modificam o espaço geográfico para sobreviver e o fazem de acordo com a sua cultura, isto é, com o seu modo de viver, agir e pensar. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA Acessórios e armas Os índios costumam construir seus próprios acessórios, como suas armas, fabricam arcos perfeitos, instrumentos cortantes feitos com bicos de aves e enfeites plumários. A caça feita pelos índios é composta geralmente por venenos aplicados nas armas usadas. Dentre as armas, destaca-se a zarabatana, tubo comprido que funciona por compressão de ar. Suas setas são untadas com um veneno chamado curare, extraído da casca de cipós. Os índios também utilizam a prática de envenenar os peixes por sufocação com o uso do timbó, cipó que é jogado em uma determinada parte do rio e, força os peixes a vir à tona e, assim, eles são facilmente capturados. Artesanato Hábeis artesãos, os índios produzem diversos tipos de artefatos para atender suas necessidades cotidianas e rituais, que assumem, hoje, o importante papel de gerador de recursos financeiros, beneficiando as Comunidades com uma renda complementar. Assim surgem fantásticos trançados que tomam a forma de cestos, bolsas e esteiras, moldam a cerâmica que dá origem a panelas e esculturas, entalham a madeira da qual nascem armas, instrumentos musicais, máscaras e esculturas, além das plumárias e adornos de materiais diversos como cocos, sementes, unhas, ossos, conchas que, com habilidade e tecnologia, são transformados em verdadeiras obras de arte. A produção de variados objetos da cultura indígena, como material, ferramentas, instrumentos, utensílios e ornamentos, com os quais um grupo humano busca facilitar sua sobrevivência, está ligada à escolha e utilização das matérias-primas disponíveis; ao desenvolvimento da técnica adequada de manufatura; às atividades envolvidas na exploração do ambiente e na adaptação ecológica; à utilidade e finalidade prática dos objetos e instrumentos produzidos. Pintura Os índios pintam seu corpo, sua cerâmica e seus tecidos com um estilo que podemos chamar “abstrato”. Observam a natureza, mas não a desenham, mas ao contrário do que se pensa, não devemos chamá-la de primitiva. Partem do elemento natural para torná-lo geométrico. Usam diversos tipos de cocares, braceletes, cintos, brincos. Geralmente não matam as aves para comer, usam apenas suas penas coloridas, que guardam enroladas em esteiras para conservar melhor, ou em caixas bem fechadas com cera e algodão. A Arte FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39 FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF. ME. ANDERSON CÊGA Plumária é exuberante e praticamente restrita aos homens. Nas tribos, onde as mulheres usam penas, são discretas, colocadas nos tornozelos e pulsos, geralmente em cerimônias especiais. Tecidos Alguns índios, como os Vaurá, plantam algodão e fazem vários enfeites, como os usados em seus pentes. Usam uma tinta preta extraída do suco de jenipapo. As vestimentas usadas pelos índios estão relacionadas às necessidades climáticas, à observação da natureza e aos seus
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