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1 Rayssa Oliveira Santos – Medicina Mecanismos Fisiopatológicos Sistema Nervoso Autônomo O sistema nervoso autônomo integra uma parte do sistema nervoso periférico, o SNA ainda se divide em parassimpático e simpático. Em situações normais, espera-se que a elevação da PA seja acompanhada de redução da frequência cardíaca. Entretanto, muitos pacientes com HA essencial apresentam frequência cardíaca de repouso mais elevada que o normal. Isso pode sugerir alterações na sensibilidade dos barorreceptores nos pacientes com HA. Outros estudos demonstraram aumento nas concentrações das catecolaminas plasmáticas proporcional às alterações hemodinâmicas desses pacientes, e essas alterações parecem ser mais evidentes nos pacientes com baixo grau de severidade da HA e naqueles com estado circulatório hiperdinâmico. Foi demonstrado que os pacientes com HA essencial e evidências de circulação hiperdinâmica apresentavam aumento da responsividade dos receptores β-adrenérgicos a infusão de isoproterenol, elevados níveis de norepinefrina plasmática e reversão dessas alterações com o uso de β-bloqueadores. Geralmente, indivíduos hipertensos tem uma atividade exacerbada do Sistema nervoso simpático, podendo atuar a partir de três maneiras distintas, provocando o desequilíbrio da pressão arterial: Realizam a estimulação de renina através das células justaglomerulares e assim estimulando a cascata do Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona. Dessa forma se estabelece um feedback positivo com o SNAS ativando o SRAA e em contrapartida o SRAA ativando o SNAS. Estimula a reabsorção de sódio e água nas células do túbulo T Causa vasoconstrição dos vasos sanguíneos Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona A renina é uma enzima liberada pelas células justaglomerulares dos rins quando estimulada através da redução do fluxo sanguíneo renal, contração de volume intravascular, redução da ingesta de sódio na dieta, estímulo β-adrenérgico nas células justa glomerulares e redução nos níveis plasmáticos de aldosterona. Próxima da região da arteríola aferente, há o aparelho justaglomerular e funciona com um regulador renal, controlando a dilatação a arterial e a quantidade de sódio que chega na região da mácula densa. É nessa localização que existe a pró-renina – inativa – que será ativada e transformada em renina a partir da sensibilidade do aparelho justaglomerular a redução da volemia. Arterial sistêmica 2 Rayssa Oliveira Santos – Medicina A renina liberada atua sobre o angiotensinogênio produzido pelo fígado, convertendo-o em um decapeptídeo a angiotensina I, que é imediatamente transformada na circulação pulmonar, através da enzima conversora da angiotensina (ECA), em um octapeptídeo com potente ação vasoconstrictora, a angiotensina II. A angiotensina II atua na musculatura lisa dos vasos produzindo constrição, no córtex adrenal liberando aldosterona, na medula adrenal liberando catecolaminas, em certas áreas do sistema nervoso central iniciando a liberação de adrenalina no cérebro e promovendo a ingesta de líquidos através de estímulo no centro da sede no cérebro. Essas ações, fisiologicamente atuam como uma defesa da PA, aumentando a RVP e a retenção de sódio e água. O feedback negativo dessa sequência homeostática fisiológica ocorre quando, na presença de excesso de angiotensina II, a liberação de renina é inibida. Recentemente, outras vias alternativas de geração de angiotensina II têm sido descritas e vários estudos mostram a produção local do sistema renina-angiotensina no coração, parede dos vasos, cérebro, ovários, glândulas salivares, útero e fígado 11. No coração, há também a produção de uma enzima chamada quimase que tem a propriedade de converter a angiotensina I em II sem o auxílio da enzima conversora da angiotensina. Peptídeo Natriurético Atrial (PNA) A noção de que o miocárdio atuaria não somente como uma estrutura mecânica, mas também exercendo funções endócrinas e parácrinas tornou-se possível após a descoberta de Bold e colaboradores, mostrando que o extrato atrial de ratos tem potente atividade vasodepressora e natriurética. Isto levou ao descobrimento do peptídeo natriurético atrial (PNA) e o reconhecimento que esse hormônio é importante na regulação do balanço de sódio e da PA. Pesquisadores observaram acentuada redução plasmática do PNA durante elevada sobrecarga de sódio em descendentes de hipertensos comparados aos descendentes de normotensos. Esses autores sugerem que uma deficiência relativa do PNA pode predispor os indivíduos a desenvolverem HA 30. Também foi descrito que os hipertensos sódio-resistentes não apresentaram um esperado aumento do PNA, enquanto os sódio-sensíveis mostraram redução paradoxal da PNA. Mecanismo renal Quando indivíduos normotensos ingerem uma quantidade normal ou baixa de sódio, sua pressão arterial estará num nível normalizado; caso essa pessoa consuma mais sal sua pressão arterial irá aumentando aos poucos até chegar num nível de hispertensão. Entretanto, uma pessoa hipertensa quando consome níveis baixos ou normais de sal, a curva da pressão arterial já se inicia em níveis altos de pressão. E caso esse individuo consuma mais sódio esse nível pressórico irá aumentar rapidamente. Isso porque o rim de um indivíduo hipertenso possui uma alteração na pressão arterial basal, e por isso tem mais dificuldade de expulsar o sódio do que uma pessoa normotensa. Além disso, ainda há aqueles que são sódio-sensíveis. Esses indivíduos possuem uma alteração na reabsorção de sódio pelo rim, mesmo sendo normotensas ou hipertensas, a curva de pressão irá aumentar linearmente, causando um aumento de pressão mais rápido. 3 Rayssa Oliveira Santos – Medicina Álcool O consumo de álcool tem um efeito bifásico na pressão arterial. Pequenas quantidades diminuem seus valores, provavelmente devido ao efeito vasodilatador; no entanto, o uso contínuo e crônico faz os níveis de pressão aumentarem e diminui a eficácia dos anti- hipertensivos. Os potenciais mecanismos envolvidos no aumento da pressão arterial, associado ao consumo excessivo de álcool são: estimulação do sistema nervoso simpático, da endotelina, do sistema renina-angiotensina-aldosterona, da insulina (ou resistência à insulina) e do cortisol; inibição de substâncias vasodilatadoras, da depleção de cálcio e magnésio, aumento do cálcio intracelular no músculo liso vascular e aumento do acetaldeído. Sedentarismo Os mecanismos envolvidos no efeito anti-hipertensivo da atividade física de carga moderada são vários e incluem mecanismos diretos (redução da atividade simpática; incrementação da atividade vagal e melhora da função endotelial), e mecanismos indiretos (redução da obesidade e melhora do perfil metabólico). O sedentarismo aumenta o risco de hipertensão em 30% quando comparado com indivíduos ativos, e a atividade aeróbica tem efeito hipotensor mais acentuado em indivíduos hipertensos do que em normotensos. Etnia Nos negros, a prevalência e a gravidade da hipertensão são maiores, o que pode estar relacionado a fatores étnicos e/ou socioeconômicos. Em nosso país predominam os miscigenados, que podem diferir dos negros quanto às características da hipertensão. Não há evidências de ação diferenciada das drogas antihipertensivas em nossa população. Entretanto, estudos recentes em populações de indivíduos negros norteamericanas, o uso de iECA se mostraram menos eficazes, especialmente na prevenção de AVC, que outras classes de anti- hipertensivos. Devendo portanto, não serem considerados de primeira escolha nesta população. Diabetes Mellitus Em razão de uma possível disautonomia, a pressão arterial em diabéticos deve ser medida nas posições deitada, sentada e em pé. No diabete tipo 1, a hipertensão se associa à nefropatiadiabética e o controle da pressão arterial é crucial para retardar a perda da função renal. No diabete tipo 2, a hipertensão se associa à síndrome de resistência à insulina e ao alto risco cardiovascular. Estudos em diabéticos hipertensos ressaltam a importância da redução da pressão arterial sobre a morbi-mortalidade cardiovascular e as complicações microvasculares relacionadas ao diabete. Idade Estima-se que pelo menos 65% dos idosos brasileiros são hipertensos. A maioria apresenta elevação isolada ou predominante da pressão sistólica, aumentando a pressão de pulso, que mostra forte relação com eventos cardiovasculares. Para o tratamento do idoso hipertenso, além da estratificação de risco, é fundamental a avaliação de comorbidades e do uso de medicamentos. O objetivo do tratamento é a redução gradual da pressão arterial para níveis abaixo de 140/90 mmHg. Em alguns pacientes muito idosos é difícil reduzir a pressão abaixo de 140 mmHg, mesmo com boa adesão e múltiplos agentes. Nestes casos, afastadas causas secundárias, pode-se aceitar reduções menos acentuadas de pressão arterial sistólica (por exemplo 160 mmHg). Sistema Cardiovascular A elevação da pressão induz ao esforço cardíaco, e a principal lesão relacionada ao coração apresenta-se como hipertrofia do ventrículo esquerdo (espessamento da parede e diminuição da cavidade), que é o mais afetado pela resistência à pressão. O bombeamento ineficaz desse ventrículo prejudica o retorno venoso e a perfusão sistêmica, podendo ocasionar edema pulmonar, infarto do miocárdio e hipoxemia periférica. Insuficiência cardíaca A sobrecarga mecânica imposta cronicamente ao coração pela hipertensão arterial sistêmica determina uma adaptação miocárdica que resulta em aumento da massa ventricular. Esse aumento persistente da pós-carga ventricular determina expansão da massa mitocondrial, multiplicação em paralelo do número de miofibrilas, com consequente aumento da espessura 4 Rayssa Oliveira Santos – Medicina individual dos miócitos, aumento de deposição da matriz extracelular e redução do estresse parietal, tal como previsto na lei de Laplace. Concomitantemente, são ativados mecanismos adaptativos neurohumorais que resultam em aumento da estimulação adrenérgica do coração, com efeitos sobre a freqüência cardíaca e a contratilidade miocárdica, bem como em ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona, resultando em expansão de volume e aumento da sobrecarga imposta ao coração. O aumento excessivo da pós-carga ventricular decorrente da vasoconstricção periférica, bem como a elevação da freqüência cardíaca, promovem aumento do consumo de oxigênio miocárdico e do trabalho cardíaco, além de contribuir para redução do fluxo sanguíneo miocárdico. Os efeitos tóxicos das catecolaminas sobre o coração aumentam o risco de arritmias cardíacas e de morte súbita. Sistema Nervoso Na hipertensão grave, o SNC é afetado, pois a pressão sanguínea elevada pressiona o fluxo sanguíneo cerebral. Em geral, à medida que a pressão sanguínea aumenta, as arteríolas cerebrais sofrem vasoconstrição. Durante as crises hipertensivas, com elevações rápidas e graves na pressão intracraniana, o transporte de oxigênio é prejudicado e a função cerebral é reduzida. A lesão hipertensiva típica é o aneurisma de Charcot-Bouchard, havendo também o aparecimento de lesões de rarefação da substância branca. A trombose e a hemorragia são em geral episódios agudos. Microinfartos assintomáticos ou com quadro clínico de demência discreta podem ocorrer. Acidente Vascular Encefálico No Brasil, a hipertensão arterial é considerada a doença vascular mais prevalente, sendo o acidente vascular cerebral (AVC) a sua complicação de maior gravidade, devido a sua elevada prevalência e morbimortalidade. A associação entre AVC e hipertensão arterial foi também demonstrada em estudo brasileiro, de caso controle, no qual a fibrilação atrial, hipertrofia ventricular esquerda e hipertensão foram os principais preditores de AVC. Sistema Renal Pressões prolongadas às arteríolas renais causam lesão crônica e inflamação, o que leva à nefrosclerose, que, em suma, é o supercrescimento e enrijecimento dos tecidos conjuntivos dos rins. A hipertensão é perpetuada à medida que a secreção de renina e aldosterona são estimuladas pela redução do fluxo sanguíneo nos rins. O volume sanguíneo expande, aumentando a pressão arterial. Insuficiência Renal Crônica O principal mecanismo da HA na IRC é relacionado com a perda progressiva da capacidade renal de excretar sódio, resultando em sobrecarga salina e de volume. Entretanto, outros mecanismos podem estar envolvidos, tais como maior produções de vasoconstritores, como a angiotensina II, diminuição de vasodilatadores, como as prostaglandinas, e alterações na função endotelial com síntese prejudicada do óxido nítrico. Prevenção primária Esta tarefa é de competência da equipe de saúde na prevenção da HA, do DM e de suas complicações. Deve-se enfatizar o controle do tabagismo, da obesidade, do sedentarismo, do consumo de sal e de bebidas alcoólicas e o estímulo a uma alimentação saudável. A equipe de saúde deve: Realizar campanhas educativas periódicas, abordando fatores de risco para DM e HA. PROGRAMA DE PREVENÇÃO DA HAS 5 Rayssa Oliveira Santos – Medicina Programar, periodicamente, atividades de lazer individual e comunitário. Reafirmar a importância dessas medidas para duas populações especiais: a de indivíduos situados no grupo normal-limítrofe na classificação de HA e a de indivíduos considerados como intolerantes à glicose. Prevenção secundária A prevenção secundária tem como objetivos: alcançar a remissão do DM e HA, quando possível; evitar o aparecimento de complicações e retardar a progressão do quadro clínico. Toda ação deve ser programada a partir da identificação de fatores de risco associados, lesões em órgão-alvo e avaliação de comorbidades. Prevenção terciária Tem por finalidade prevenir ou retardar o desenvolvimento de complicações agudas e crônicas do DM e da HA e evitar mortes precoces. Nesta fase, faz-se também necessária uma atuação visando reabilitar os indivíduos já acometidos pelas complicações (insuficiência cardíaca, insuficiência renal, retinopatia diabética e pé em risco). Nestas duas etapas, deve-se estimular a criação dos grupos de hipertensos e diabéticos, no sentido de facilitar a adesão ao tratamento proposto e, quando possível, agregar à equipe profissionais como nutricionista, assistente social, psicólogo, etc. Plano de Reorganização da Atenção à HAS e DM Objetivos: Realizar ações de atenção primária (redução e controle de fatores de risco); - Identificar, cadastrar e vincular as às equipes de atenção básica os portadores de HAS e DM; Implantar, na atenção básica, o protocolo de assistência básica ao portador de HAS e DM; Reorganizar a rede de serviços, em todos os níveis de complexidade, para o atendimento de HAS e DM; Firmar convênios com as Secretarias Estaduais e Municipais para o recebimento de medicações e equipamentos, bem como a realização de cursos para treinamento das equipes multiprofissionais; Desenvolver atividades no campo da promoção para educação em saúde; Fornecer as medicações aos portadores de HAS e DM, no elenco mínimo definido pelo MS; Informatizar o cadastro de portadores de HAS e DM, a fim de permitir o acesso rápido às informações do tratamento clínico e medicamentoso, facilitando a transmissão on line dos dados sobre cada interno aos diversos setores envolvidos no atendimento (ambulatório, hospital, farmácia, serviço social); Realizar o monitoramento da população carcerária na busca ativa de novas ocorrências desses agravos; Executar ações informativas e elaborarfolhetos explicativos destinados aos portadores de HAS e DM Devem-se considerar no diagnóstico da HAS, além dos níveis tensionais, o risco cardiovascular global estimado pela presença dos fatores de risco, a presença de lesões nos órgãos-alvo e as comorbidades associadas. É preciso ter cautela antes de rotular alguém como hipertenso, tanto pelo risco de um diagnóstico falso- positivo, como pela repercussão na própria saúde do indivíduo e o custo social resultante. Em indivíduos sem diagnóstico prévio e níveis de PA elevada em uma aferição, recomenda-se repetir a aferição de pressão arterial em diferentes períodos, antes de caracterizar a presença de HAS. Este diagnóstico requer que se conheça a pressão usual do indivíduo, não sendo suficiente uma ou poucas aferições casuais. A aferição repetida da pressão arterial em dias diversos em consultório é requerida para chegar a pressão usual e reduzir a ocorrência da “hipertensão do avental branco”, que consiste na elevação da pressão arterial ante a simples presença do profissional de saúde no momento da medida da PA. Investigação Clínico-Laboratorial Confirmar a elevação da pressão arterial e firmar o diagnóstico. Avaliar a presença de lesões em órgãos-alvo. 6 Rayssa Oliveira Santos – Medicina Identificar fatores de risco para doenças cardiovasculares e risco cardiovascular global. Diagnosticar doenças associadas à hipertensão. Diagnosticar, quando houver, a causa da hipertensão arterial. Para atingir tais objetivos, são fundamentais as seguintes etapas: • História clínica: • Exame físico. • Avaliação laboratorial inicial do paciente hipertenso ✓ Exame de Urina ✓ Dosagem de Potássio ✓ Dosagem de Creatinina A creatinina é um derivado de aminoácido com 113 dáltons oriunda do metabolismo muscular e da ingestão de carne. É gerada no músculo a partir de uma reação não enzimática da creatina e fosfocreatina. A sua produção e liberação pelo músculo são praticamente constantes. A creatinina é livremente filtrada pelo glomérulo e não reabsorvida nem metabolizada pelo rim. Entretanto, aproximadamente 10% a 40% da creatinina urinária é derivada da secreção tubular de cátions orgânicos no túbulo proximal, sendo mais significativa quanto menor estiver a TFG. A esse resultado denominamos clearance da creatinina ou depuração da creatinina endógena (DCE). Portanto, a TFG ficaria superestimada utilizando-se a dosagem da creatinina. ✓ Glicemia de jejum ✓ Hematócrito ✓ Colesterol ✓ ECG: A hipertensão arterial sistêmica (HAS) tem como consequências lesões em órgãos chamados órgãos-alvo, tais como cérebro, coração e rins. O diagnóstico desses comprometimentos deve ser realizado o mais precocemente possível. No comprometimento do coração, o teste de preferência na rotina de um hipertenso é o ECG. As Diretrizes Brasileiras de HAS recomendam que em hipertenso em estágios 1 e 2, sem hipertrofia de ventrículo esquerdo (HVE) ao 7 Rayssa Oliveira Santos – Medicina ECG, mas com três ou mais fatores de risco (FR), o emprego da ECO deve ser considerado. É significativo objetivar a HVE em hipertensos assintomáticos ou sem cardiopatia evidente, pois é a alteração, ou dano cardíaco, mais precoce na HAS.
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