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Propedêutica Médica - Síndromes Clínicas Victoria Moffati - Medicina Síncope e Lipotímia DEFINIÇÃO (Porto) Síncope: Perda súbita e transitória (segundos a minutos) da consciência, com perda do tônus postural, causada por insuficiente fluxo sanguíneo cerebral, seguida de recuperação sem adoção de medidas de reanimação. Início rápido/curta duração/de recuperação espontânea. (Artigo) Síndrome clínica na qual a perda transitória de consciência é causada por um período de fluxo insuficiente de nutrientes cerebrais, na maioria das vezes o resultado de uma queda abrupta da pressão arterial sistêmica. Normalmente, o fluxo inadequado de nutrientes cerebrais tem duração relativamente breve (8 a 10 segundos) e, na síncope, é por definição autolimitado espontaneamente. A perda do tônus postural é inevitável com a perda de consciência e, consequentemente, a síncope geralmente está associada ao colapso, que pode causar lesões devido a uma queda (se a pessoa estiver em pé) ou outro tipo de acidente (por exemplo, se ocorrer síncope durante a condução). A recuperação da síncope verdadeira é geralmente completa e rápida, com episódios raramente durando mais de um ou dois minutos. Períodos mais longos de perda real ou aparente de consciência sugerem que o evento não é síncope ou não é apenas síncope (por exemplo, síncope resultando em traumatismo craniano e concussão, prolongando assim o evento). Observe, entretanto, que os pacientes e testemunhas têm dificuldade em estimar a duração dos eventos; consequentemente, tais estimativas devem ser cuidadosamente consideradas apenas como uma parte da avaliação abrangente. Lipotímia ou pré-síncope: Sensação iminente de perda da consciência parcial que acaba não se consumando. Desmaio: Perda parcial ou total da consciência por qualquer causa, seja ela decorrente de síncope ou crise epiléptica. CLASSIFICAÇÃO ● Neurogênica ● Cardiovascular ● Por alterações metabólicas - hipoglicemia, hipóxia, hipercapnia ● Por transtornos psiquiátricos FORMAS CLÍNICAS EXTRA CARDÍACAS - síncope neurogênica, a hipotensão postural, a síndrome do seio carotídeo, a síncope pós-tosse, a síncope pós-micção, a alcalose respiratória por hiperventilação e a hipoglicemia A. Causas Neuro Cardiogênicas/reflexa 1. Síncope Vasovagal - vasodepressora ou neurocardiogênica 1 Propedêutica Médica - Síndromes Clínicas Victoria Moffati - Medicina A síncope vasovagal é a etiologia mais prevalente desse grupo, sendo diagnóstico em 8 a 41% dos casos de síncope. Está muito relacionada com situações predisponentes que servem como gatilho para a fisiopatologia. Fisiopatologia - vasodilatação induzindo a bradicardia Importância do cérebro e sua perfusão sanguínea: para que o corpo humano funcione de forma ideal, é necessário que o cérebro receba suprimento constante de glicose por meio do fluxo sanguíneo. A interrupção desse suprimento, mesmo que por segundos, pode causar a perda da consciência ou síncope, assim, qualquer mecanismo que causa hipoperfusão cerebral, é capaz de causar esses episódios. Na etiologia vasovagal a hipoperfusão é desencadeada por situações que servem de gatilho para estimulação vagal e inibição simpática, tendo como consequência: bradicardia, perda da vasoconstrição periférica e diminuição do retorno venoso por enchimento ventricular deficitário, resultando em hipotensão. Há desvio do sangue para os músculos, em consequência de queda da resistência periférica por vasodilatação. Do ponto de vista neurovegetativo, há inibição generalizada do tônus simpático com aumento relativo da atividade vagal. Há evidências de aumento da concentração urinária e sanguínea de epinefrina, o que sugere que a atividade adrenérgica aumentada participe da fisiopatologia dessa comorbidade. Tudo isso começa com uma estimulação aumentada de mecanorreceptores cardíacos que estão localizados principalmente no ventrículo esquerdo. Essa estimulação aumenta paroxisticamente a descarga nervosa para o trato solitário da medula, e com isso, há diminuição do tônus simpático, aumento do tônus parassimpático e, por fim, a hipotensão e bradicardia citadas anteriormente. Além disso, estudos atuais apontam que há um componente genético predisposto que causa alteração do sistema regulador da pressão arterial. Até 50% dos pacientes possuem história familiar de síncope. Mais comum em jovens, mas pode ocorrer em qualquer idade. Caracteres Propedêuticos: ● Início: súbito ● Tempo/duração: dura poucos segundos e raramente prolonga-se por minutos; ● Sintomas que precedem: mal-estar geral, fraqueza, náuseas, sudorese, tontura, visão embaçada, desconforto epigástrico, palidez e bocejos. O pulso e a pressão arterial podem estar elevados, caindo gradativamente, sem chegar a níveis abaixo do normal. ● Fatores desencadeantes: medo, estresse emocional, ambiente quente, lugar fechado, dor ou visão de sangue ● Fenômenos que acompanham: paciente não se movimenta e a musculatura fica relaxada. O controle esfincteriano é mantido e as pupilas se dilatam ● Posição: paciente está de pé antes da síncope ● Fatores de melhora/piora: o paciente deve ser orientado a evitar situações que favoreçam vasodilatação (ambientes e banhos muito quentes, jejum prolongado, fadiga, bebidas alcoólicas e excitação emocional) 2. Situacional - desencadeada por tosse, espirro, situação pós-prandial, defecação, deglutição, dor visceral, micção, exercício físico, uso de instrumento de sopro, levantamento de peso, gargalhada ➔ Síncope da micção: 2 Propedêutica Médica - Síndromes Clínicas Victoria Moffati - Medicina Ocorre durante ou após micção. A vasodilatação pode produzir uma hipotensão súbita e colapso, ao urinar, ou depois, logo após levantar-se de decúbito prolongado. ➔ Síncope da tosse: Há reflexo de tosse: aumenta pressão intratorácica e intra abdominal, diminuindo o retorno venoso, ocorrendo hipotensão reflexa e bradicardia. Ocorre em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e em crianças após acesso de tosse paroxística (coqueluche, difteria ou laringite). ➔ Síncope da neuralgia glossofaríngea: Relacionada com paroxismos de dor, localizada na base da língua, faringe ou laringe, área tonsilar ou pavilhão auditivo. 3. Síndrome do Seio Carotídeo É uma entidade rara que se caracteriza por queda da pressão arterial e acentuada bradicardia após estimulação do seio carotídeo. Clinicamente, o paciente apresenta tonturas, escurecimento visual, cefaleia e desmaio. Mais comum em idosos. Relacionada a tumores, no ato de barbear-se, uso de colarinho apertado. B. Síncope por Hipotensão Ortostática Caracteriza-se por acentuada queda tensional quando o paciente se levanta do leito e adota a posição de pé. Pode ocorrer em indivíduos normais que permanecem de pé durante muito tempo, em uma posição fixa (soldado em posição de sentido). Costuma ser observada após exercícios físicos exaustivos, inanição, enfermidades prolongadas, desequilíbrio hidroeletrolítico com depleção de sódio e potássio, grandes varizes nos membros inferiores. Em todas essas condições, a causa da síncope é o acúmulo de sangue nos vasos dos membros inferiores. Atualmente, uma das causas mais frequentes de hipotensão postural é o uso de medicamentos anti-hipertensivos, principalmente os diuréticos e os bloqueadores simpáticos. Há um tipo especial de hipotensão postural, cuja característica é o caráter crônico e recidivante, podendo ser primária (idiopática) ou estar associada a várias doenças, incluindo insuficiência supra renal, diabetes, síndrome de má absorção, insuficiência cardíaca grave, pericardite constritiva e estenose aórtica. O quadro clínico é constituído de uma tríade: anidrose, impotência sexual e hipotensão ortostática. É mais frequente em homens de 40 a 70 anos de idade. Quando o paciente se põe de pé, há uma rápida e progressiva queda da pressão arterial, acompanhada de fraqueza, tonturas, borramento visual e síncope. A falta de suor (anidrose) pode ser parcial ou total, em partesdo corpo ou em todo ele. Nictúria e incontinência urinária acompanham a impotência sexual. Este tipo de hipotensão postural é devido a um distúrbio da inervação autonômica. Paciente deve ser alertado do risco de levantar-se bruscamente do leito. Orientá-lo a movimentar as pernas por alguns segundos, ainda deitado, permanecer sentado na beira do leito durante dois ou três minutos e só levantar quando não apresentar nenhum sintoma pré-sincopal. Elevar a cabeceira da cama 15 cm e usar meias elásticas pode ser útil. Maior 3 Propedêutica Médica - Síndromes Clínicas Victoria Moffati - Medicina ingestão de sal pode expandir o volume intravascular e auxiliar no tratamento da hipotensão postural. C. Síncope por causas metabólicas 1. Alcalose respiratória por hiperventilação Ocorre principalmente em mulheres jovens, tensas e ansiosas. Os sintomas são dormência nas extremidades, ao redor da boca e região peitoral, confusão mental e, às vezes, tetania. O mecanismo da síncope por hiperventilação é a redução do fluxo sanguíneo cerebral por aumento do fluxo sanguíneo periférico, no território esplâncnico e muscular, devido a uma vasodilatação, resultando em hipotensão. 2. Hipoglicemia Pode determinar desmaio especialmente em indivíduos diabéticos que receberam doses de insulina acima das suas necessidades, em portadores de neoplasias de células insulares (insulinoma), de insuficiência hepática e da doença de Addison. A hipoglicemia funcional por jejum prolongado raramente causa perda da consciência, manifestando-se por palpitação, sudorese fria, tonturas, confusão mental e comportamento anormal. Quando o intervalo entre as refeições é muito longo, mesmo os indivíduos normais apresentam fraqueza e tremores. CARDÍACAS - diminuição do fluxo sanguíneo cerebral. A. Arritmias e distúrbios de condução - distúrbios do ritmo ou da condução do estímulo podem causar síncope quando houver bradicardia com frequência menor que 30 a 40 bpm - diminuição do volume sistólico - ou taquicardia com frequência acima de 150 bpm 1. Bradiarritmias A síncope bradicárdica clássica, denominada síndrome de Stokes-Adams, caracteriza-se por perda da consciência, acompanhada de convulsões. É provocada por parada cardíaca, bradicardia acentuada, taquicardia intensa, flutter ou fibrilação ventricular, que impossibilitam uma adequada perfusão cerebral. A síndrome de Stokes-Adams é muito frequente nos portadores de cardiopatia chagásica crônica com bloqueio atrioventricular de 2o ou 3o grau. A síndrome pode ter início com tonturas, sensação vertiginosa e escurecimento visual, sobrevindo a seguir perda da consciência, convulsões, eliminação involuntária de fezes e urina, podendo ocorrer parada respiratória. Às vezes, a função circulatória se recupera em alguns segundos, mas tal não ocorrendo, a morte sobrevém. A sequência cronológica dos eventos nesta síndrome costuma ser da seguinte maneira: a tontura surge 2 a 5 segundos após a ocorrência da arritmia; 10 a 15 segundos após, ocorre perda da consciência; 20 a 40 segundos depois, as convulsões. Se a parada cardíaca dura mais de 1 min, ocorre parada respiratória, sobrevindo a morte em 1 a 3 min após o início do quadro. 2. Taquiarritmias - >150bpm 4 Propedêutica Médica - Síndromes Clínicas Victoria Moffati - Medicina As taquiarritmias supraventriculares – taquicardia atrial, fibrilação atrial –, ao diminuírem o fluxo cerebral, causam isquemia cerebral manifestada por tonturas, lipotimia, paralisias focais e transitórias, confusão mental e conduta anormal. Excepcionalmente, a insuficiência cardíaca é capaz de reduzir o fluxo sanguíneo cerebral a ponto de produzir sintomas. Isso pode ocorrer na insuficiência ventricular esquerda aguda após infarto agudo do miocárdio e nos casos de insuficiência cardíaca terminal. A perda da consciência pode ser resultado também da obstrução súbita de um orifício valvar por mixoma de átrio esquerdo, trombose de uma prótese valvar e embolia pulmonar. B. Diminuição do débito cardíaco 1. Anoxia Cerebral Pode determinar síncope, mesmo quando o fluxo cerebral é normal, bastando que a saturação de O2 no sangue seja baixa. É o que ocorre na tetralogia de Fallot, cardiopatia em que a redução do fluxo pulmonar, a mistura do sangue entre os ventrículos e a saída do sangue pela aorta biventricular reduzem o conteúdo de oxigênio no sangue. A anóxia é agravada ainda mais com os exercícios, por haver aumento na desoxigenação periférica. 2. Estenose Aórtica - regulação vasomotora anormal Perda da consciência ocorre em razão de um baixo débito cardíaco e desvio do sangue para os músculos esqueléticos. 3. Insuficiência ventricular esquerda aguda (IAM) Após infarto agudo do miocárdio e nos casos de insuficiência cardíaca terminal. 4. Trombose, embolia e estenose pulmonar Aumentam a resistência periférica, diminuindo o débito cardíaco do ventrículo direito. Assim, consequentemente chega menos sangue no AE, reduzindo também o débito do VE. *Regulação vasomotora anormal: Na hipertensão arterial e na hipotensão postural pode ocorrer desmaio, especialmente quando a elevação ou a queda dos níveis tensionais se faz bruscamente. Também na Estenose Aórtica. C. Diminuição mecânica do retorno venoso - mixoma atrial (tumor móvel) e Trombose de prótese valvar cardíaca D. Redução da volemia - diminuição do volume sistólico e diastólico geral e o volume de sangue circulante. 5. Psicogênica - pode ocorrer em casos de ansiedade, pânico ou depressão. Síncope e Convulsão A convulsão é uma perda de consciência com hipertonia, lenta recuperação e ao acordar há obnubilação (ofuscação de vista e perturbação de consciência), perda de controle dos esfíncteres, mordedura de língua e espasmos. Enquanto a síncope é caracterizada pela perda transitória de consciência com hipotonia. Outras causas neurológicas: 5 Propedêutica Médica - Síndromes Clínicas Victoria Moffati - Medicina ● Convulsões: confusão durante >5 minutos depois de ter recuperado a consciência; ● Ataque isquêmico transitório, roubo subclávio, enxaqueca basilar: síncope associada com vertigem, disartria, diplopia e exercícios dos braços ● Enxaqueca: síncope associada a cefaleias antecedentes CARACTERES PROPEDÊUTICOS ● Esclarecer as circunstâncias relacionadas com o episódio e os sintomas que precederam a síncope ● Informar sobre a duração da perda de consciência, confusão após o evento, ferimentos na boca e incontinência esfincteriana ● Identificar os medicamentos em uso, principalmente fármacos de ação cardiovascular ● Informações dadas por testemunhas podem ser úteis. 6 Propedêutica Médica - Síndromes Clínicas Victoria Moffati - Medicina Início ● Súbito - causas neurológicas, arritmias cardíacas ● Gradual - causas metabólicas (hiperventilação, hipoglicemia) ● Rápido, com sinais premonitórios - vasovagal, neurológico (áurea) Tempo e duração ● Poucos segundos - neurogênica e vasovagal ● Poucos minutos - metabólica – 5 a 10 minutos; e cardíacas – 1 a 5 minutos Sintomas que precedem ● vasovagal, por exemplo - mal-estar geral, fraqueza, náuseas, sudorese, tontura, visão embaçada, desconforto epigástrico, palidez e bocejos ● fatores antecedentes: presença de aura na crise convulsiva e lipotímia na síncope Fatores desencadeantes ● emocionais - Vasovagal, hiperventilação ● posição do corpo ○ levantando - hipotensão ortostática ○ após muito tempo em pé - vasovagal ○ qualquer posição - arritmias, causas neurológicas, hipoglicemia, hiperventilação ● temperatura do ambiente ● uso de medicamentos - hipotensão ortostática (anti-hipertensivos), hipoglicemia (insulina) ● dor intensa ● movimento da cabeça e pescoço - hipersensibilidade do seio carotídeo ● exercício - obstrução na via de saída do ventrículo esquerdo ● exercício de extremidades superiores - Roubo de subclávia Fenômenos que acompanham ● sudorese, palidez - síncope ● palpitações ● incontinência fecal / urinária ● convulsões ● incontinência, mordida na língua, lesões corporais- causas neurológicas Sintomas após recuperação da consciência ● cefaleia ● mal-estar ● obnubilação - em caso de crise convulsiva Tempo decorrido após o último episódio (frequência) Recuperação da Consciência ● Rápida - todas causas de síncope exceto neurológica ● Lenta - causa neurológica Evolução Períodos de semelhança, dissemelhança ou acalmia 7
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