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1 Lara Torres Pinto Brito – 5º SEMESTRE SESSÃO TUTORAL CASO 3: Sr. Abelardo, 64 anos, empresário, vem apresentando dor precordial aos esforços há alguns meses. Sua filha presenciou uma crise e o levou à unidade de programa de saúde da família, no seu bairro, onde o médico orientou a procurar o Centro de Doenças Cardiovasculares de Amaralina. Sr. Abelardo foi atendido por Dr. Haroldo, a quem relatou sentir dor precordial, que se irradia para membro superior esquerdo e para o dorso, intensa, constrictiva, precipitada por esforços físicos, tendo que parar o que estiver fazendo para alívio; a dor dura alguns minutos – cerca de 10 minutos - e passa; vem notando que, a cada dia, a dor surge com menor esforço: antes, conseguia subir os dois lances de escada de seu apartamento; agora, no meio do primeiro lance, tem que parar por causa da dor. A história pregressa é de ser hipertenso e dislipidêmico e vir em uso regular de captopril (75mg/dia) e atorvastatina (10mg/dia); foi tabagista durante 40 anos (10 cigarros/dia), tendo parado há 5 anos, segundo informou. Antecedentes Familiares: Pai infartou aos 53 anos, Irmão tem dislipidemia. Exame físico: Geral - BEG, com idade aparente compatível com a referida, sem sinais aparentes de doença, mucosas coradas. Sinais vitais: Pulso radial – arrítmico, com amplitude variável, 85/min; TA – 170/90 mmHg; FR – 16/min; Dados Antropométricos: Peso: 90 Kg; Altura: 1,77m IMC: 28,7 Circunferência abdominal: 110 cm. Pele e fâneros: NDN. TCSC: sem edema; aumento do tecido adiposo; gânglios impalpáveis. Cabeça: discreta opacificação do cristalino nos dois olhos. Pescoço: cilíndrico, simétrico, sem estase de jugulares; carótidas palpáveis, simétricas; tireóide palpável, forma, tamanho e consistência normais. A. Respiratório: NDN; A. Cardiovascular: ictus impulsivo ++/IV, duas polpas digitais, no 6º EIE, deslocado para fora da LMC; ausência de IPEE; bulhas normofonéticas; ritmo irregular, com variação do tempo entre as bulhas; sem 3ª ou 4ª bulha, sem sopro. Abdome: flácido, indolor, sem visceromegalia, RHA presentes, normais. Extremidades: bem perfundidas, sem edema. Foi realizado ECG e administrado atenolol - 15 mg, via oral, no posto médico. ANGINA / DOR TORÁCICA DEFINIÇÃO: síndrome clínica caracterizada por dor ou desconforto em qualquer das seguintes regiões: tórax, epigástrio, mandíbula, ombro, dorso ou membros superiores, sendo tipicamente desencadeada ou agravada com atividade física ou estresse emocional e atenuada com uso de nitroglicerina e derivados. Representa cerca de 5% das consultas na emergência, tendo suas principais etiologias de acordo com 5 variáveis anatômicas: AVALIAÇÃO DA ANGINA HISTÓRIA CLÍNICA: • Qualidade: constritiva, aperto, peso, opressão, desconforto, queimação e pontada • Localização: precordial, retroesternal, ombro, epigástrio, cervical, hemitórax e dorso • Irradiação: membros superiores (direito, esquerdo ou ambos), ombro, mandíbula, pescoço, dorso e região epigástrica Etiologias Coração e Pericárdio Pulmão e Pleura Vasos Musculoes quelética TGI Superior P á g i n a | 2 Lara Brito | • Duração: segundos, minutos, horas e dias • Fatores desencadeantes: esforço físico, atividade sexual, posição, alimentação, respiração, componente emocional e espontânea; • Fatores de alívio: repouso, nitrato sublingual, analgésico, alimentação, antiácido, posição e apneia • Sintomas associados: sudorese, náusea, vômito, palidez, dispneia, hemoptise, tosse, pré-síncope e síncope. EXAME FÍSICO Tende a ser normal, porém, alguns achados são mais sugestivos de DAC: → B3, B4, sopro de regurgitação mitral, desdobramento paradoxal de B2, estertoração pulmonar bilateral em base. Indicativos de aterosclerose: pulsos de MMII diminuídos, endurecimento arterial e aneurisma abdominal. Indicativos de fatores de risco: PA elevada, xantomas e exsudatos retiniano. - Hipotensão → IC, EP, pneumotórax, dissecção de aorta - Diaforese → geralmente indica doença mais grave - PA ou pulsos assimétricos → Dissecção de aorta - Sopro sistólico em foco aórtico → Estenose aórtica - Sopro diastólico → Insuficiência aórtica, dissecção de aorta - Enfisema subcutâneo → Pneumotórax, ruptura de esôfago - Alteração do exame neurológico → Dissecção de aorta - Crepitações bilaterais → IC - Febre → Pneumonia, pleurite P á g i n a | 3 Lara Brito | - DOR TORÁCICA ISQUÊMICA – Pontos importantes a serem considerados diante da dor torácica de origem isquêmica: a) A característica anginosa da dor será o dado com maior valor preditivo de DAC b) Cuidado: 30 – 42% dos pacientes com IAM não apresentarão dor ou desconforto no peito típico e podem ter como sintomas palpitações, síncope, hipotensão, dor epigástrica, dispneia, confusão (idosos), vômitos ou diaforese. #OBS: Quando os sintomas não aparecem acompanhados de dor são chamados de equivalentes isquêmicos. c) Os pacientes que mais frequentemente têm sintomas atípicos de doença coronariana são: idosos, diabéticos e doença psiquiátrica de base ▪ Homens: 30% dos casos de SCA ocorrem sem dor ou desconforto torácico. ▪ Mulheres: 40% dos casos de SCA ocorrem sem dor ou desconforto torácico. Entre os pacientes com dor torácica de origem isquêmica, os idosos são os mais prevalentes, manifestando sintomas atípicos e envolvendo multivasos, costumam ter pior evolução do quadro. d) Cuidado: em algumas ocasiões, a dor pode se localizar em região epigástrica e cessar com eructações, acompanhada de indigestão, sendo erroneamente interpretada e tratada como dispepsia. ANTECEDENTES DE MAIOR GRAVIDADE / PIOR PROGNÓSTICO: • DM • Doença vascular periférica ou cerebrovascular prévia • IC • IAM prévio FATORES DESENCADEANTES: • Exercício físico extenuante • Estresse emocional • Doença médica aguda • Pós-operatório FATORES DE RISCO • Tabagismo • HAS • DM • HDL baixo; LDL aumentado • História familiar positiva para doença cardíaca prematura ▪ Parente homem (1º grau) < 55 anos ▪ Parente mulher (1º grau) < 65 anos • Idade: homens > 45 anos e mulheres > 55 anos • Obesidade (IMC > 30kg/m²) • Sedentarismo DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA (DAC) ANGINA ESTÁVEL: Desconforto no peito de forma previsível e reprodutível em certo nível de esforço por desequilíbrio transitório entre suprimento sanguíneo e demanda metabólica. FISOPATOLOGIA O principal mecanismo patogenético da DAC é a obstrução arterial causa por placa de ateroma (90% dos casos), mas existem outras etiologias como anormalidade congênita das coronárias e arterite coronária. Para haver a lesão pela placa de ateroma, primeiro ocorre uma agressão ao endotélio. Essa agressão pode ser originada por diversos mecanismos, como: hemodinâmico (HAS), bio-humoral (dislipidemia), acúmulo de produtos finais da glicação não enzimática (DM), irritantes químicos (tabagismo), aminas vasoativas (estresse), fatores genéticos e agentes infecciosos. Secundariamente à essa agressão, o endotélio vai se tornar disfuncional. Ao se tornar disfuncional, passa a liberar substâncias aterogênicas – como a proteína quimiotática para monócitos tipo I e fatore nuclear de transcrição kappa B. Como resposta, há maior expressão de moléculas de adesão – VCAM1 (vascular), ICAM1 (intercelular) e selectinas (E e P) – que vão aumentar a agregação de monócitos e, posteriormente, macrófagos na íntima do vaso. O acúmulo de macrófagos no vaso tem como consequências: P á g i n a | 4 Lara Brito | a) Acúmulo da LDL oxidada, que possui importante atividade citotóxica, inflamatória (participa da atração de monócitos) e aterogênica, pois intensifica a disfunção endotelial e diminui a interação do macrófago com a HDL b) Morte dos fagócitos, que literalmente “comem gordura até morrer”. Os fagócitosmortos por apoptose ou necrose resultam em acúmulo extracelular de lípides, o que contribui para a formação, desenvolvimento e progressão da placa c) Liberação de metaloproteases. Essas enzimas proteolíticas degradam componentes da capa fibrosa, contribuindo para o estabelecimento de capa fibrosa fina. Além disso, degradam componentes do vaso causando dilatação da parede, processo conhecido como remodelação excêntrica. Essas alterações são marcadores e contribuem para a instabilidade da placa. d) Estímulo para a morte das células musculares. O processo de reparação fica comprometido pela diminuição da síntese de colágeno, bem como afilamento da capa fibrosa e) Aumento dos níveis do fator tissular, o que contribui para o estabelecimento de condição trombótica. Inicialmente acreditava-se que as placas apresentavam crescimento constante e linear, mas já se sabe que as lesões progridem em crises, por complicações de placas vulneráveis (grande núcleo lipídico, células inflamatórias, remodelamento excêntrico e capa fibrosa fina). As complicações consistem em ruptura ou erosão, com subsequente formação de trombo. Portanto, a instabilidade da placa aterosclerótica é o mecanismo responsável pela progressão da lesão aterosclerótica em casos da doença coronária crônica, bem como justifica o aparecimento das síndromes coronárias agudas e morte súbita. A DAC pode apresentar-se em diferentes formas. Na forma crônica, a angina estável se constitui na principal manifestação clínica da doença, sendo o quadro inicial em 50% dos pacientes. Entretanto, a DAC pode estar presente na ausência de angina e, nesses casos, as manifestações clínicas mais comuns serão isquemia silenciosa e a cardiopatia isquêmica ABORDAGEM DO PACIENTE COM ANGINA z ETAPA I: Classificação Clínica A primeira etapa consiste em classificar a dor em típica, atípica e não cardíaca. Isso pode ser feito por meio da história clínica. As perguntas a serem investigadas estão descritas na parte de avaliação da angina. Algumas características se afastam de angina como: - Dores em pontada, agulhada ou facada - Dores localizadas em ponto único, de pequena extensão (uma polpa digital). - Dores de longa duração (> 20 minutos) O paciente com angina, muitas vezes, apresenta fatores acompanhantes secundários à estimulação do sistema nervoso autônomo que, além de aumentar a probabilidade de angina, também se relaciona com quadros mais graves. São eles: z ETAPA II: Estimativa da probabilidade de DAC Consiste na avaliação conjunta da história clínica e dos antecedentes + dados do exame físico. A DAC significativa é definida angiograficamente pela presença de estenose com pelo menos: ▪ 70% do diâmetro -> pelo menos um segmento de uma das artérias epicárdicas maiores ▪ 50% do diâmetro -> tronco da artéria coronária esquerda. Nessa fase, uma das prioridades é a caracterização da dor torácica, comentada anteriormente. Depois, o médico deve questionar o paciente quanto aos hábitos e antecedentes, principalmente os relacionados aos fatores de risco para DAC: Palidez Cutânea Náuseas Vômito Taqui ou Bradicar dia P á g i n a | 5 Lara Brito | ➔ DM ➔ HAS ➔ Tabagismo ➔ Dislipidemia ➔ História familiar de DC precoce (< 55 para homens e < 65 para mulheres) - EXAME FÍSICO - O exame físico é frequentemente normal nos pacientes com angina. Entretanto, ele pode ter utilidade no diagnóstico diferencial dos pacientes com dor torácica. Por exemplo, a presença de hipofonese de bulhas cardíacas ou atrito pode indicar a presença de doença do pericárdio. A presença de sopro pode indicar valvopatia ou cardiomiopatia hipertrófica. Outro dado seria a assimetria de pulsos e sopro de insuficiência aórtica, o que poderia sugerir dissecção da aorta. A palpação dolorosa da parede torácica pode revelar anormalidades musculares e articulares. Se o exame físico é realizado na vigência da dor, algumas alterações serão típicas de DAC: presença de terceira ou quarta bulha, ritmo de galope, sopro compatível com insuficiência mitral, desdobramento paradoxal de segunda bulha, bradicardia, hipotensão arterial e achados sugestivos de congestão pulmonar. - EXAMES LABORATORIAIS - Os exames laboratoriais podem ser úteis no diagnóstico de pacientes com suspeita de DAC. Estão recomendadas as dosagens de: - Glicemia de jejum - Perfil lipídico (com dosagem de colesterol total, LDL, HDL e triglicérides) - Função renal - Hemograma (hematócrito e função da tireóide – auxiliam na detecção de fatores que causam ou exacerbam a isquemia, como policetemia, hipóxia e anemia). - RADIOGRAFIA DO TÓRAX- O Raio-X também está recomendado, pois pode identificar sinais sugestivos de DAC (↑área cardíaca c/ congestão pulmonar e calcificação da aorta), e pode sugerir outros diagnósticos, como aneurisma de aorta. ESTRATIFICAÇÃO Uma das formas mais recomendadas de estimar a probabilidade de DAC foi elaborada por Diamond e Forrester que compararam retrospectivamente dados clínicos (como característica da dor, idade e sexo) com dados angiográficos. A American Heart Association estabeleceu uma tabela que combina as informações dos dois estudos. Exemplo: a probabilidade de uma mulher, com 55 anos de idade, com angina atípica, apresentar DAC seria de 10%. Entretanto, se a mesma paciente apresentasse história de diabete, tabagismo ou dislipidemia, a probabilidade de DAC seria superior a 40%. z ETAPA III: Avaliação da apresentação clínica da angina Usualmente, manifesta-se em portadores de DAC com lesão obstrutiva em pelo menos uma artéria epicárdica. Pode ser dividida em estável, instável ou não-cardíaca como dito anteriormente. A angina instável, por sua vez, possui três apresentações clínicas principais: P á g i n a | 6 Lara Brito | A angina instável apresenta maior probabilidade de evento coronário agudo e exige abordagem específica. O diagnóstico de angina estável indica que o médico deve passar ao próximo passo da avaliação. z ETAPA IV: Estimativa da graduação da angina A gravidade da angina pode ser estimada utilizando a graduação proposta pela Sociedade Canadense de Cardiologia (CCS). É um bom indicativo do grau de comprometimento do paciente e permite seu acompanhamento evolutivo, já que a angina classes III e IV, segundo a CCS, está associada com maior probabilidade de DAC grave. Também permite avaliar a resposta terapêutica. z ETAPA V: Avaliação das condições que podem causar ou exacerbar a angina Existem condições que podem causar ou exacerbar a angina, por diminuição da oferta ou por aumento do consumo de oxigênio do miocárdio. Condições que aumentam o consumo de oxigênio: - Hipertermia - Hipertireoidismo - Taquicardia sustentada ventricular ou atrial - Ansiedade - Hipertrofia cardíaca (HAS, estenose aórtica, cardiomiopatia hipertrófica) - Anemia - Ativação simpática (cocaína) Entre as condições que diminuem a oferta de oxigênio, destacam-se: - Hipoxemia - Anemia - Hipertrofia cardíaca - Aumento da viscosidade sanguínea - Apneia do sono z ETAPA VI: Estratificação de risco de eventos cardiovasculares em pacientes com angina A última etapa é a estratificação de risco para eventos cardiovasculares, tendo em mente que algumas variáveis estão associadas com pior prognóstico, são elas: ◌ Idosos do sexo masculino ◌ Angina III e IV ◌ B3, B4, ritmo de galope, sopro compatível com insuficiência mitral, desdobramento paradoxal de B2, bradicardia, hipotensão arterial, arritmias ventriculares complexas, cardiomegalia e congestão pulmonar ◌ Angina refratária ao tratamento clínico A presença de qualquer das variáveis descritas deve alertar o médico sobre a presença de DAC significativa e maior probabilidade de complicações cardiovasculares. ISQUEMIA SILENCIOSA Uma parcela dos pacientes com DAC – principalmente portadoresde HAS e DM – NÃO apresentam angina. Eles são estratificados em três categorias: 1) TIPO 1: Completamente assintomáticos, em qualquer situação; 2) TIPO 2: Assintomáticos após um IAM; 3) TIPO 3: Apresentam episódios de isquemia silenciosa e episódio de angina Os mecanismos fisiopatológicos não estão completamente esclarecidos e incluem: neuropatia autonômica, alterações na sensibilidade dolorosa, elevação de endorfinas endógenas e disfunção do córtex cerebral. CARDIOMIOPATIA ISQUÊMICA Condição em que a DAC resulta em grave disfunção ventricular, frequentemente indistinguível da cardiomiopatia dilatada Os mecanismos fisiopatológicos da disfunção ventricular são multifatoriais, incluindo: o acúmulo de colágeno e a perda de miócitos secundária ao IAM. No entanto, mais de 60% dos pacientes com cardiomiopatia isquêmica apresentam quantidades variáveis de miocárdio disfuncional, mas viável, denominado miocárdio hibernante. P á g i n a | 7 Lara Brito | MIOCÁRDIO HIBERNANTE: No caso da DAC, o miocárdio hibernante refere-se ao fenômeno de diminuição adaptativa da função contrátil em resposta à diminuição do fluxo sanguíneo miocárdico. Observa-se diminuição de receptores β-adrenérgicos e aumento dos α-adrenérgicos. Outra possibilidade seria a liberação de fatores inotrópicos negativos, como o TNF e o óxido nítrico. Possui, ainda, responsividade deprimida ao cálcio. Deve-se considerar, ainda, que a cardiomiopatia isquêmica é a principal causa de disfunção ventricular em todo o mundo. Atualmente, aceita-se que ao redor de 70% dos pacientes com diagnóstico de insuficiência cardíaca apresentem cardiomiopatia isquêmica. EXAMES COMPLEMENTARES ECG Tem função limitada na DAC crônica, visto que alterações da repolarização não implicam obrigatoriamente em DAC e sua normalidade não exclui a presença de obstrução coronariana. Entretanto, apresenta importância diagnóstica: ➢ Alterações indicativas da presença de área sinativas prévias (ondas QS ou Qr, acompanhadas de ondas T negativas nas derivações que exploram a necrose) permitem o diagnóstico de DAC; ➢ Alterações da repolarização ventricular são sugestivas de isquemia subepicárdica (onda T negativa, pontiaguda e simétrica), em determinada área: anterosseptal (VI,V2, V3, V4), anterolateral (V4, V5, V6, DI e A VL), lateral alta (DI e A VL), anterior extensa (VI a V6 em DI e A VL), inferior (D2, D3 e A VF) e dorsal (V7 e V8 com imagem recíproca em VI, V2 e V3) ➢ Alterações da repolarização ventricular são sugestivas de isquemia subendocárdica (onda T positiva, pontiaguda e simétrica) em determinada área (anterosseptal, anterolateral, lateral alta, anterior extensa, inferior e dorsal); ➢ Alterações da repolarização ventricular são sugestivas de lesão subendocárdica (infradesnivelamento do ponto J e do segmento ST, com concavidade superior desse segmento nas derivações que exploram a lesão) em determinada área (antero-septal, anterolateral, lateral alta, anterior extensa, inferior e dorsal). Assim, o ECG é indicado nos pacientes com suspeita de causa cardíaca para dor torácica durante um episódio de dor torácica. DEVE SER FEITO EM ATÉ 10 MINUTOS! RAIO-X Costuma ser o primeiro exame de imagem realizado nos pacientes com dor torácica. Tem como intuito o diagnóstico diferencial da angina – podendo ser diagnosticada nos pacientes com pneumotórax, pneumomediastino, fraturas de costela e infecções agudas. O Rx é indicado nas seguintes situações: pacientes com DAC e sinais ou sintomas de insuficiência cardíaca congestiva, pacientes com sinais e sintomas de doença pulmonar outros pacientes. TESTE ERGOMÉTRICO Método não invasivo, visa especialmente à confirmação diagnóstica, à determinação prognóstica e à definição de conduta terapêutica. As variáveis mais preditivas relacionadas ao diagnóstico de obstrução coronariana são: P á g i n a | 8 Lara Brito | ✓ Depressão do segmento ST ≥ 1 mm com configuração horizontal ou descendente ✓ Presença da dor anginosa. Recomendações para uso do teste ergométrico: ➢ GRAU I, B: Pacientes com probabilidade intermediária pré-teste de ter obstrução coronariana com base em idade, sexo e sintomas, incluindo aqueles com bloqueio do ramo direito ou depressão < 1 mm do segmento ST no ECG. ➢ GRAU IIa, B: Pacientes com suspeita de angina vasoespática. Pacientes após realização de coronariografia para tomada de decisão em lesões intermediárias. Avaliação de indivíduos assintomáticos com mais de dois fatores de risco. ➢ GRAU IIb, B: Pacientes com alta ou baixa probabilidade pré-teste de ter obstrução da coronária, com base em idade, sexo e sintomas. Avaliação de risco em cirurgia não cardíaca em pacientes de baixo risco cardiovascular. ➢ GRAU III: Pacientes com anormalidades do ECG basal: síndrome de pré- excitação ou de Wolff-Parkinson-White (WPW), ritmo de marca-passo, depressão do segmento ST > 1 mm no repouso e bloqueio completo de ramo esquerdo. ECOCARDIOGRAMA Importante tanto no esclarecimento diagnóstico, quanto no valor prognóstico. Tende a ser muito importante no auxilio diagnóstico, em especial, quando a história clínica e o ECG são inconclusivos, demostrando anormalidades da motilidade segmentar. O estresse físico ou farmacológico permite a documentação da extensão e da gravidade das alterações transitórias da motilidade ventricular esquerda. → ECO SOB ESTRESSE É um método não invasivo, estabelecido para a avaliação de pacientes com DAC obstrutiva suspeita ou conhecida, para a determinação do diagnóstico e prognóstico, na avaliação do impacto de terapias de revascularização, na detecção de viabilidade miocárdica e no auxílio às decisões terapêuticas. O estresse cardiovascular causa isquemia miocárdica em regiões supridas por uma artéria com grau significativo de estenose, e esse fenômeno é manifestado por alteração transitória da contração segmentar. Os métodos para a indução do estresse são o esforço físico (esteira ou bicicleta ergométrica), a estimulação atrial transesofágica e o uso de drogas vasodilatadoras (dipiridamol e adenosina) ou de estimulantes adrenérgicos (dobutamina). RADIOISÓTOPOS A cardiologia nuclear avalia o coração enfocando os aspectos de perfusão miocárdica, integridade celular, metabolismo miocárdico, contratilidade miocárdica e função ventricular global ou segmentar. São capazes de confirmar ou excluir doença arterial coronária com altos valores de sensibilidade e especificidade, informando concomitantemente a perfusão miocárdica e a motilidade parietal e função global do Ventrículo Esquerdo (VE). ANGIOGRAFIA CORONARIANA As lesões coronarianas são significativas quando há obstrução de uma ou mais artérias epicárdicas, com, no mínimo, 70% de estenose e/ou TCE com, no mínimo, 50%, sendo tais obstruções avaliadas e mensuradas pela CATE (padrão-ouro), exame diagnóstico com baixas taxas de complicações. Alguns pacientes devem ser submetidos ao estudo invasivo, por ser o método mais acurado para diagnóstico de lesões coronarianas obstrutivas e também, em casos incomuns, causas não ateroscleróticas para angina, como espasmo coronariano, anomalia coronariana, doença de Kawasaki e dissecção primária da coronária. A CATE diagnóstica acrescenta pouco risco a idosos, quando comparado aos pacientes jovens. Outros pacientes necessitam da CATE com ventriculografia para avaliar o prognóstico e a extensão da DAC, além do grau de disfunção ventricular esquerdo, pois estes são os principais determinantes para os resultados em longo prazo. O mais simples e mais usado método para descrever a extensão da DAC separa os pacientes em uniarterial, biarterial, triarterial ou lesão em TCE. O tempo de sobrevida diminui com o envolvimento de vasos adicionais, com o comprometimento da descendente anterior e com disfunção ventricular esquerda. Pacientes requerem CATE tambémporque são candidatos para revascularização, tanto por angioplastia quanto por cirurgia. Desse modo, necessitam, inicialmente, da P á g i n a | 9 Lara Brito | definição da anatomia coronariana para saber se há indicação para esse tipo de procedimento. Entre esses pacientes, estão incluídos os com angina, aqueles com evidência clínica de IC, e os que tenham experimentado uma morte cardíaca ou arritmia ventricular grave. Nesses casos, a realização da CATE, como primeira opção, é uma escolha razoável. A CATE é efetiva quando o prognóstico do paciente frente ao tratamento clínico é ruim, com melhora após o tratamento de revascularização, seja por angioplastia ou cirurgia. TOMOGRAFIA Oferece duas principais modalidades de exame: A) Escore de Cálcio (EC) A quantificação da calcificação nas artérias coronárias, pelo EC, se correlaciona com a total de carga de aterosclerose; está relacionado ao RCV. Atualmente, a principal utilização do EC é como ferramenta para estratificação de risco cardiovascular por meio da detecção de aterosclerose subclínica, especialmente em pacientes assintomáticos de risco intermediário. B) Angiotomografia coronariana Permite a avaliação da luz das artérias coronárias de maneira não invasiva. As principais indicações clínicas do método na avaliação da doença coronária crônica são para pacientes sintomáticos de risco intermediário, podendo ser utilizado como exame inicial ou quando há testes de isquemia prévios conflitantes com os achados clínicos. RNM Permite a avaliação da anatomia cardíaca e vascular, da função ventricular, da perfusão miocárdica e a caracterização tecidual de forma acurada. Além disso, apresenta como grandes vantagens a não utilização de radiação ionizante e nem de meio de contraste, com maior potencial de nefrotoxicidade. A técnica da RM se baseia na captura da energia liberada por prótons (núcleos de hidrogênio), submetidos à ação de um forte campo magnético externo e estimulados por ondas de Radiofrequência repetidas. De acordo com a maneira com que esses pulsos de RF são organizados (sequências de pulsos), é possível se explorar diferentes propriedades das moléculas. P á g i n a | 10 Lara Brito | TRATAMENTO Quanto à terapêutica medicamentosa, antiagregantes plaquetários, hipolipemiantes, em especial as estatinas, bloqueadores beta-adrenérgicos após IAM e Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina I (iECA) reduzem a incidência de infarto e aumentam a sobrevida, enquanto os nitratos, antagonistas dos canais de cálcio e trimetazidina reduzem os sintomas e os episódios de isquemia miocárdica, melhorando a qualidade de vida dos pacientes. IMPORTANTE! É prioritário e fundamental iniciar o tratamento com medicamentos que reduzem a morbimortalidade e associar, quando necessário, medicamentos que controlem a angina e reduzem a isquemia miocárdica. REDUTORES DO RISCO DE INFARTO E MORTALIDADE Antiagregantes Plaquetários ÁCIDO ACETILSALICÍLICO - Aspirina → AÇÃO: Os efeitos antitrombóticos advêm da inibição irreversível da ciclo- oxigenase-1, com consequente bloqueio da síntese do tromboxano A2. → BENEFÍCIOS: reduz risco de eventos CV (morte, infarto e AVC). Sendo reconhecido como o antiagregante plaquetário de excelência. → CONTRAINDICAÇÃO: alergia ou intolerância, sangramento ativo, hemofilia e úlcera péptica ativa ou alta probabilidade de sangramento gastrintestinal ou geniturinário. Ciclo-Oxigenase: converte, por oxidação, o ácido araquidônico em dois componentes instáveis: a prostaglandina G2 e a prostaglandina H2. Essas prostaglandinas são posteriormente transformadas em prostaciclina, tromboxano A2, e em prostaglandinas D2, E2 e F2α. DERIVADOS DE TIENOPIRIDÍNICOS – Clopidogrel, Ticlopidina → AÇÃO: são antagonistas da ativação plaquetária mediada pela ADP, importante via para agregação plaquetária, reduzem ao nível de fibrinogênio circulante e bloqueiam parcialmente os receptores de glicoproteína IIb/IIIa (de modo irreversível e seletiva na Ticlopidina), impedindo sua ligação ao fibrinogênio e ao fator von Willebrand. → EFEITOS ADVERSOS: neutropenia, plaquetopenia; purpura trombocitopênica. → INDICAÇÃO: a) Clopidogrel: Na contraindicação absoluta do uso de aspirina; e associado com aspirina após intervenção com stents, por, pelo menos, 30 dias. Segurança superior à Ticlopidina. b) Ticlopidina: Na contraindicação absoluta ao uso de aspirina; e associado com aspirina após intervenção com stents, por 30 dias. DIPIRIDAMOL → AÇÃO: antiagregrante e vasodilatador como consequência da inibição da fosfodiesterase, levando à ativação da adenilciclase e inibição da entrada intracelular de adenosina nos eritrócitos e células do endotélio vascular. Dipiridamol Fosfodiesterase Adenilciclase Adenosina intracel. → OBSERVAÇÕES: V.O pode induzir à isquemia miocárdica. Isoladamente, o dipiridamol não acrescenta benefícios terapêuticos, e sua associação com a aspirina não aumenta os benefícios. Não é mais indicado no tratamento da DAC. ANTICOAGULANTES - Varfarina → AÇÃO: devido as modificações fribinolíticas no plasma dos pacientes com DAC, justifica-se o uso de anticoagulantes no tratamento de eventos isquêmicos agudos. → INDICAÇÃO: a associação de aspirina com varfarina, na prevenção do IAM e da mortalidade cardiovascular, foi mais eficaz do que a monoterapia. É indicada nos casos de completa intolerância à aspirina. → CONTRA-INDICAÇÃO: aumenta a incidência de AVC hemorrágico, e seu uso deve ser restrito aos pacientes com elevado risco trombótico. Hipolipemiantes (prevenção secundária) Sempre se indicam medidas de Mudança do Estilo de Vida (MEV), que envolvem alterações nos hábitos da atividade física e alimentar, para todos os pacientes com DAC. Especificamente nos casos de hipertrigliceridemia, a mudança do hábito alimentar é fundamental. A redução do LDL-c com agentes hipolipemiantes diminuiu o risco de eventos coronarianos em pacientes com DAC. Baseados nisso, as recomendações incluem: • Alto risco, LDL-c < 70 mg/dL e não HDL-c < 100 mg/dL; • Risco intermediário, LDL-c < 100 mg/dL e colesterol não HDL-c < 130 mg/dL. Indicação dos hipolipemiantes: P á g i n a | 11 Lara Brito | Bloqueio do SRAA IECAS → BENEFÍCIOS: nos indivíduos com maior risco, houve benefício de redução de mortes e eventos CV, especialmente na presença de DM. A melhora do perfil hemodinâmico, da perfusão subendocárdica e da estabilização de placas ateroscleróticas justificaria seu uso de rotina em todos os pacientes com DAC. → INDICAÇÃO: De rotina - quando há disfunção ventricular, e/ou insuficiência cardíaca e/ou diabetes melito. BRAS Alternativa para os pacientes que não toleram iECA, já que nenhum estudo foi realizado com esse grupo de fármacos na doença coronária estável. REDUTORES DOS SINTOMAS E ISQUEMIA MIOCÁRDICA Bloqueadores β-Adrenérgicos – Atenolol, Propanolol, Metoprolol De forma isolada ou em associação com outros antianginosos, os BB são os medicamentos de primeira escolha na angina estável. → BENECÍFICIO: redução da mortalidade e infarto após evento agudo coronário, diminui risco de morte CV e reinfarto. Redução do nº de crises de angina, do grau de isquemia e aumento da tolerância ao esforço. → AÇÃO: atuam diminuindo a FC, contratilidade miocárdica, condução V e atividade ectópica ventricular. Podem, ainda, aumentar a perfusão em áreas isquêmicas por aumento no tempo de diástole e da resistência vascular em áreas não isquêmicas. Devido às suas propriedades farmacológicas (atividade simpaticomimética intrínseca, lipossolubilidade e cardiosseletividade), os BB devem ser adequados às doenças concomitantes dos pacientes com DAC.→ CONTRAINDICAÇÃO: angina vasoespástica → INDICAÇÃO: angina estável sem infarto do miocárdio prévio e/ou disfunção de VE. Pacientes com angina estável com infarto do miocárdio prévio e/ou disfunção de VE até após 2 anos. Para alívio sintomático em pacientes com angina vasoespástica (grau de recomendação III, Nível de evidência C) Antagonistas dos Canais de Cálcio - Anlodipino → AÇÃO: bloqueiam os canais de cálcio tipo L → BENEFÍCIOS: relaxamento da musculatura lisa, redução da pós-carga, efeitos inotrópicos negativos e redução do consumo de oxigênio. Os efeitos farmacológicos diferenciam esses três subgrupos quanto às suas capacidades vasodilatadora, redutora da contratilidade miocárdica e redutora da velocidade de condução do impulso no nó atrioventricular. • Verapamil: reduz a condução atrioventricular, tem efeito inotrópico negativo e relaxa a musculatura lisa vascular, aumentando o fluxo coronariano e reduzindo a pós-carga. • Diidropiridinas: relaxam a musculatura lisa vascular, não modificam a velocidade da condução atrioventricular e, por mecanismos reflexos, aumentam a frequência cardíaca. • Diltiazem: similar aos do verapamil, exceto a depressão miocárdica, que é menos intensa no subgrupo benzodiazepínico. Distintamente dos bloqueadores beta-adrenérgicos, os antagonistas dos canais de cálcio não reduziram a mortalidade, quando utilizados após o infarto do miocárdio, embora se mostrem bastante eficazes na redução da isquemia miocárdica, tanto a angina do peito, quanto a isquemia silenciosa, e também na angina vasoespástica. Há também acréscimo na melhora dos sintomas anginosos com o uso combinado desses fármacos com um BB. Nitratos – Isossorbida, Propatilnitrato Podem ser: A) Ação rápida (sublingual ou spray) – alivio dos sintomas por meio da venodilatação, da redução da pós-carga e da dilatação coronariana. Primeira opção para tratar as crises anginosas. Alternativamente, podem ser usados profilaticamente, diante de situações sabidamente provocadoras de angina, como relação sexual, estresse emocional. P á g i n a | 12 Lara Brito | B) Ação prolongada: o uso contínuo induz à tolerância medicamentosa, que, supostamente, pode ser contornada por meio de prescrições assimétricas, de tal forma a promover um período de 8 a 10 horas livre de nitrato. Apesar de largamente utilizados, descreveu-se piora da disfunção endotelial como potencial complicação do uso crônico dos nitratos de ação prolongada por ativação do sistema nervoso simpático e do sistema renina-angiotensina-aldosterona, além de aumento da produção de endotelina, da produção de superóxido e da atividade da fosfodiesterase Dessa forma, nitratos de ação prolongada devem ser restritos aos pacientes com angina não controlada por outros agentes antianginosos. No tratamento de pacientes com angina vasoespástica, os nitratos podem ser associados aos bloqueadores de canais de cálcio, para controle sintomático, se necessário. Como agente de primeira linha em pacientes com angina estável. Grau de recomendação III, Nível de evidência C. Como agente de terceira linha em pacientes com angina estável ainda sintomáticos após o uso de outros agentes antianginosos associados. Grau de recomendação IIa, Nível de evidência B. Para alívio sintomático em pacientes com angina vasoespástica após o uso de bloqueadores dos canais de cálcio. Grau de recomendação IIa, Nível de evidência B. Complementando, do ponto de vista de proteção quanto a eventos cardiovasculares, nos estudos ISIS-4222 e GISSI-3223, os nitratos não modificaram a morbimortalidade 4 a 6 semanas após o infarto do miocárdio. Extensa revisão dos efeitos dos nitratos224, especificamente da nitroglicerina IV METAS: • Exercicio físico 5x na semana • Alto risco LDL < 70, intermediário < 100 • HDL > 50 • CONTROLAR HAS E DM • Perder peso • Vacinação à influenza
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