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Maria Eduarda Machado - 144 Acidose Metabólica · O corpo tem múltiplas fontes endógenas de ácidos: produção de CO2, reações metabólicas, ácidos não-voláteis. · Também possui fontes endógenas de compensação da acidemia: componente pulmonar, componente renal e sistema tampão. · O pH é diretamente proporcional a concentração de bicarbonato. · Diagnóstico: gasometria arterial. · Definição: pH < 7,35 e HCO3 < 22mEq/L. · Acidose metabólica grave: HCO3 < 10 mEq/L ou BE (base excess) < - 10 mEq/L. · Efeitos Deletérios da acidemia: · Redução do débito cardíaco. · Risco de arritmias malignas. · Vasodilatação cerebral (hipertensão intracraniana). · Disfunção plaquetária. · Coagulopatias. · Vasoconstricção pulmonar. · Hipercalemia. CAUSAS · Aumento na produção de ácidos. · Acidose lática tipo A: relacionada com hipoperfusão sistêmica. · Choques. · Anemia grave. · Isquemia de grandes órgãos ou tecidos (ex: mesentérica, MMII). · Normalmente a glicose é convertida em piruvato, que é convertida a acetilCoA e entra no ciclo de Krebs (metabolismo aeróbio), em situações de hipoperfusão o piruvato entra no metabolismo anaeróbio, em que é convertido a lactato. · Acidose lática tipo B: sem hipoperfusão sistêmica, distúrbios aeróbios. · Hepatopatias. · Metformina. · HIV. · Neoplasias. · Beta-agonistas. · Mitocondriopatias. · Acidose lática tipo D: acúmulo de D-lactato (Medcurso coloca no tipo B) · Síndrome do intestino curto. · Síndromes disabsortivas. · Infusão de propilenoglicol. · Cetoacidose: · DM1 ou DM2 de longa data em insulinopenia aumento do glucagon lipólise excessiva AGL corpos cetônicos cetoacidose diabética. · Cetoacidose por inanição (jejum prolongado). · Cetoacidose alcóolica ingestão de etanol leva ao acúmulo de corpos cetônicos. · Intoxicação: · Metanol, etilenoglicol (anticongelante), salicilatos, acetaminofeno, tolueno. · Salicilatos (mais comum em crianças, provoca um distúrbio misto acidose metabólica + alcalose respiratória. · Álcoois: suspeitar pelo aumento do gap osmolar. · Perda excessiva de bicarbonato. · Perdas digestivas do piloro para baixo (diarreia, ileostomia, fístula biliar, pancreática ou entérica): secreções digestivas do piloro para baixo são ricas em bicarbonato. · Ureterossigmoidostomia (os ureteres eram implantados no sigmoide e a mucosa colônica absorvia cloro e secretava bicarbonato, que era eliminado). · Acidose tubular renal II (túbulo proximal): · Perda de bicarbonato na urina pelo comprometimento da sua absorção no túbulo proximal. · Acidose hiperclorêmicas e hipocalêmica. · pH urinário normal (no início há bicarbonatúria mas desaparece). · Com ou sem demais componentes da síndrome de Fanconi. · Incapacidade renal de excreção: rim não excreta ácidos suficientes · Insuficiência renal. · Os rins precisam excretar 70 a 100 mEq/ de H+ por dia e produzir uma grande quantidade de amônia, que será lançada ao lúmen tubular para se ligar ao H+. Sem a amônia a maior parte dp H+ não consegue ser eliminada na urina. Então, na insuficiência renal teremos acidose metabólica. A acidificação urinária em geral é preservada. · TFG > 20: AG normal. Não há retenção de outros ânions. · TFG < 20: AG elevado. Passa a ter retenção do ânion sulfato. · Acidose tubular renal I (túbulo coletor cortical)/ ATR distal clássica: · Bloqueio da secreção de H+ no túbulo coletor. · Perda da capacidade de acidificar a urina: pH urinário > 5,3. · Acidose hiperclorêmicas e hipocalêmica (perda urinária de potássio). · Acidose tubular renal tipo IV (“hipoaldosteronismo”): · Acidose hiperclorêmicas e hipercalêmica (a acidose é mais branda, o maior problema é a hipercalemia). · Causas: hipoAldo e hipoRen do diabético, doença de Addison, lesão tubular distal da nefropatia falciforme, nefropatia por analgésicos. Qualquer situação que provoque hipoaldosteronismo ou resistência tubular à aldosterona. · Diuréticos poupadores de potássio e acetazolamida (AG normal). ÂNION-GAP · Após o diagnóstico de acidose pela gasometria, deve ser definida a causa. As possíveis causas podem ser agrupadas em dois grupos de acordo com o ânio-gap. · Diferença entre os cátions mensuráveis e os ânions mensuráveis. São todos os ânions que não cloro e bicarbonato subtraídos de todos os cátions que não sódio. Como essa subtração dá um valor positivo, pois existem mais ânions não medidos, se chamou de ânio-gap. · Aumenta sempre que há algum ânion novo no plasma que não cloro e bicarbonato. · Quando há acidose o bicarbonato diminui e, consequentemente, as cargas negativas. Para que o equilíbrio eletroquímico seja mantido só existem duas opções: aumentar o cloreto ou o AG. · Principais ânions: bicarbonato e cloreto. · Principal cátion: sódio. · Situações com AG elevado (acidoses normoclorêmicas): ocorrem quando há acúmulo de ácido no organismo pois o ácido se dissocia em H+ e ânion: · Acidose lática (choque, PCR, sepse, convulsões, isquemia mesentérica). · Cetoacidoses. · Intoxicações exógenas. · Síndrome urêmica. · Situações com AG normal (hiperclorêmicas): perda externa de bicarbonato ou retenção direta de H+, que leva a um aumento do cloreto, seja por reabsorção renal ou intestinal: · Diarreias graves e perdas digestivas do piloro para baixo (ex: fístulas). · Acidoses tubulares renais (I, II e IV). · Hipoaldosteronismo. · DRC precoce. · Reposição excessiva de SF 0,9%. · NPT. · Acetazolamida. · Ureterossigmoidostomia. · Resina de troca. · AG urinário: diferenciar situações com AG normal – excreção adequada de H+ na urina (perda digestiva) e acidose tubular renal. · Valor normal é igual ao AG plasmático mas é negativo, pois se avalia cátions não medidos. · Principal cátion não medido: amônio. · Correção do AG · Deve ser feita em pacientes graves e hipoalbuminêmicos. · AG corrigido = AG + [2,5 x (4 – albumina)]. · A ideia é a de que a cada declínio de 1 g/dl na albumina (considerando-se 4 como referência), devemos aumentar o AG em 2,5 mEq/L. DELTA/DELTA · Diante de acidoses metabólicas com AG elevado, deve ser calculado o delta gap. · Razão entre a variação do AG e da variação do bicarbonato. · > 2: alcalose metabólica associada. · Entre 1 e 2: sem distúrbios associados. · < 1: acidose hiperclorêmica associada. GAP OSMOLAR · Calcular diante de acidoses metabólicas com AG elevado, principalmente na suspeita de intoxicações exógenas. · Importante calcular nas primeiras 6h. · Osmolaridade sérica mensurada – osmolaridade sérica estimada (2x Na + Ureia/6 + Glicose/18). · Diferença > 10: sugere presença de componente osmótico (intoxicação exógena). · Metanol: bebidas artesanais, não destiladas corretamente; acometimento ocular; hemorragia cerebral. · Etilenoglicol: anticongelantes/oficinas, conservantes; síndrome nefro-neural; cristais de oxalato na urina. TRATAMENTO · Acidose lática e cetoacidose: tratar distúrbio de base. O objetivo final é restabelecer o pH extracelular e, na maior parte das vezes, o próprio rim se encarrega de fazer isto pela excreção urinária de prótons. · Acidose lática e cetoacidose a princípio não devem ser tratadas com NaHCO3. A não ser em acidemias graves (pH < 7,1 – 7,2). · Indicações de bicarbonato de sódio: · Acidose urêmica. · Intoxicação exógena (vai ajudar na excreção renal do veneno). · Acidoses hiperclorêmicas. · A reposição pode ser feita com citrato de sódio (solução de Scholl), citrato de potássio ou bicarbonato de sódio. · DRC: manter bicarbonato entre 20 e 22, com a reposição de 1 mEq/Kg/dia. · Demais casos: diversas fórmulas como – · 0,3 x peso x base excesso – repor 1/3 lento nas primeiras horas e avaliar necessidade dos outros 2/3. · Fórmulas que se adequam mais ao déficit de bicarbonato: déficit de bicarbonato (mEq/L) = 0,6 x peso x (HCO3 desejado – HCO3 atual). (Desejado = 8-10). · EV: soluções isotônicas ou hipotônicas contendo bicarbonato de sódio (ex: 425ml SG 5% + 75ml NaHCO3). · Casos mais graves: 50-100 mEq (1mEq/kg) em 2-3h. · 1 ampola de NaHCO3 8,4% = 10ml. 1ml = 1mEq de Na e 1mEq de HCO3. · O uso de bicarbonato pode ser intensificado se houver identificação de perda renal ou fecal, sempreatentando para o potássio sérico também, pois a alcalemia leva à hipopotassemia. · Intoxicação exógena · Na intoxicação por etilenoglicol ou metanol utiliza-se ainda etanol ou fomepizol. O último é mais fácil de administrar e tem menos efeitos adversos. · Hemodiálise está indicada quando pH < 7,3 ou gap osmolar > 20. · Propilenoglicol (diluente para drogas como benzodiazepínicos, fenitoína, nitroglicerina, esmolol e fenobarbital): a suspensão da droga pode resolver o quadro. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA ACIDEMIA · Redução do débito cardíaco. · Maior risco de arritmias. · Vasodilatação arterial (hipotensão). · Pior resposta às catecolaminas. · Aumento da FR. · Aumento do esforço respiratório. · Reduz afinidade O2-Hb. · Vasoconstricção pulmonar (hipertensão pulmonar). · Maior demanda renal de O2. · Hipercalemia. · Aumento da produção renal de amônia. · Diurese osmótica. · Vasodilatação cerebral. · Náuseas, vômitos. · Redução da perfusão esplâncnica. · Coagulopatia. · Disfunção plaquetária.
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