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1 DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES E OS DIREITOS DA PERSONALIDADE IDDM EDITORA ISBN 978-85-66789-31-7 Prof. Dr. José Sebastião de Oliveira (UniCesumar) Prof.ª Dra. Daniela Braga Paiano (UEL) Prof.ª Me. Kellen Cristina Gomes Ballen (UniCesumar) O Mestrado em Ciências Jurídicas e o Curso de Direito da Unicesumar promovem o III Con- gresso Internacional de Direitos da Personalidade e IV Congresso de Novos Direitos e Direitos da Personalidade, sob o tema "Direitos da Personalidade de Minorias e de Grupos Vulnerá- veis". Trata-se da terceira edição de um evento internacional que debate os direitos da personali- dade, tanto no que se refere aos novos direitos e aos limites da sua proteção na atualidade, quanto nos mecanismos jurídicos e extrajurídicos, políticas públicas e ações judiciais voltadas a sua concretização, juntamente com a quarta edição do evento nacional de Novos Direitos de Direitos da Personalidade, que neste ano realizar-se-ão concomitantemente promovendo a integração de discente, docente, pesquisadores e profissionais das mais diversas áreas do co- nhecimento. O evento se justifica, primeiramente, em razão da temática dos direitos da personalidade ser abordada de forma inédita pelo Mestrado em Ciências Jurídicas da Unicesumar, e, por propor- cionar uma cooperação internacional através do amplo diálogo e aproximação entre pesquisa- dores brasileiros e estrangeiros sobre as inovações normativas, institucionais, jurisprudenciais e as mais recentes literaturas na área. Quanto ao alcance, o evento justifica-se por propiciar a difusão de conhecimento entre os pesquisadores, professores, mestrandos, doutorandos e estudantes da graduação. Além disso, o evento será aberto ao público e a toda a comunidade científica do Brasil e do exterior, que será convidada a participar com envio de artigos científicos, painéis, exposição de arte e minicursos. DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES E OS DIREITOS DA PERSONALIDADE PRIMEIRA EDIÇÃO MARINGÁ – PR 2017 IDDM EDITORA Todos os Direitos Reservados à Rua Joubert de Carvalho, 623 – Sala 804 CEP 87013-200 – Maringá – PR IDDM EDITORA Direito de família e sucessões e os direitos da personalidade. / organizadores, José Sebastião de Oliveira, Daniela Braga Paiano, Kellen Cristina Gomes Ballen. – 1. ed. – Maringá, Pr: IDDM, 2017. 257 p. Modo de Acesso: World Wide Web: <https://www.unicesumar.edu.br/category/mestrado/> ISBN: 978-85-66789-31-7 1. Dignidade da pessoa humana. 2. Família. 3. Abandono afetivo. 4. Adoção. 5. Mediação familiar. I. Título. CDD 22.ed. 346.015 Rosimarizy Linaris Montanhano Astolphi –Bibliotecária CRB/9-1610 Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) D598 Copright 2017 by IDDM Editora Educacional Ltda. CONSELHO EDITORIAL Prof. Dr. Alessandro Severino Valler Zenni, Professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Lattes: http://lattes.cnpq.br/5969499799398310 Prof. Dr. Alexandre Kehrig Veronese Aguiar, Professor Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB). Lattes: http://lattes.cnpq.br/2645812441653704 Prof. Dr. Fabrício Veiga Costa, Professor da Pós-Graduação Stricto Sensu em Proteção em Direitos Funda- mentais da Universidade de Itaúna. Lattes: http://lattes.cnpq.br/7152642230889744 Prof. Dr. José Francisco Dias, Professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus Toledo. Lattes: http://lattes.cnpq.br/9950007997056231 Profª Drª Sônia Mari Shima Barroco, Professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Lattes: http://lattes.cnpq.br/0910185283511592 Profª Drª Viviane Coelho de Sellos-Knoerr , Coordenadora do Programa de Mestrado em Direito da Unicuritiba. Lattes: http://lattes.cnpq.br/4609374374280294 http://lattes.cnpq.br/5969499799398310 http://lattes.cnpq.br/2645812441653704 http://lattes.cnpq.br/7152642230889744 http://lattes.cnpq.br/9950007997056231 http://lattes.cnpq.br/0910185283511592 http://lattes.cnpq.br/4609374374280294 6 PREFÁCIO Eventos, livros e artigos, podem, de uma ou de outra forma, ser autorreferência. Neste sen- tido, inicia-se o presente prólogo dizendo que, observado em todos os seus aspectos, o presente livro materializa a autorreferência de um evento, do conjunto de capítulos que o totaliza, e da har- monia da obra em si mesma. Resultado do III Congresso Internacional de Direitos de Personalidade, e do IV Congresso de Novos Direitos e Direitos da Personalidade, realizados conjuntamente pelo Programa de Pós-gra- duação Stricto Sensu em Direito e pelo Curso de Direito do Centro Universitário de Maringá, duran- te os dias 26, 27 e 28 de setembro de 2016, este livro corporifica a maturidade científico-jurídica dos autores dos trabalhos que foram apresentados perante o GT1 que se desenvolveu durante o evento, e cujo nome original dá título ao livro. Neste sentido, importante dizer que o evento contou com o protagonismo de professores e profissionais, do Brasil e do exterior, que proferiram palestras relacionadas à temática dos Direitos da Personalidade, associada aos Novos Direitos, Minorias e Grupos Vulneráveis. Ademais, merece especial alusão a presença do público, formado por mais de mil e quinhentas pessoas que presti- giaram todas as atividades promovidas no decorrer dos dias de sua realização. Em relação ao livro que ora se apresenta, transcendental subscrever que a atualidade dos Direitos da Personalidade e dos Novos Direitos está a exigir reflexões que dimensionem, de um lado, o papel do Estado, do Direito e da própria sociedade, e de outro, os mecanismos de defesa e garantia jurídica e extrajurídica, as políticas públicas e as ferramentas que estão disponíveis à sua concreção. Por isto, capital enaltecer que, as páginas que seguem, oferecem o mais moderno e aguçado pensamento científico sobre o tema, pois tanto acirram o debate acadêmico sobre pontos contro- vertidos, como elucidam dúvidas, e provocam indagações que determinam a necessária continui- dade da discussão jurídica sobre questões ainda carentes de consolidação pelo Direito pátrio. Os organizadores da obra, outrora Coordenadores do Grupo de Trabalho que acolheu a apre- sentação verbal das produções intelectuais aqui concentradas, fazem jus ao nosso particular aplau- so, pois lograram reunir o resultado de pesquisas que percorreram, com maturidade acadêmico- -científico, todas as particularidades de cada assunto que perfaz um a um dos capítulos do livro. É deste modo que, na qualidade de Coordenadores do evento, cumpre-nos dizer que este livro não pode, sob qualquer hipótese, permanecer adormecido nas prateleiras de uma biblioteca. Tanto o seu conteúdo, como o trabalho científico que deu guarida à produção literária que se colo- ca à disposição do leitor, conclamam que o mesmo circule pelo universo acadêmico, seja utilizado como ferramenta de consulta, e adotado como referência obrigatória nas pesquisas implementadas pela influência, ou inspiração, dos assuntos retratados nesta obra. 1 Grupo de Trabalho. 7 Finalmente, estendemos um efusivo e afetuoso agradecimento para todos os que colabora- ram para o sucesso do III Congresso Internacional de Direitos de Personalidade, e do IV Congresso de Novos Direitos e Direitos da Personalidade. Aos Organizadores da obra, subscrevemos a grati- dão pela diligência, tanto na Coordenação do GT, como no adensamento dos artigos. Aos autores de cada um dos capítulos, assinamos um portentoso parabéns pelo brilho de sua pesquisa, e pela plenitude de seu manuscrito. José Eduardo de Miranda, Ph. D. José Sebastião de Oliveira, Ph. D. Valéria Silva Galdino Cardin, Ph. D. SUMÁRIO DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES E OS DIREITOS DA PERSONALIDADE A MULHER E O DIREITO DE SER HUMANA: UMA ANÁLISE DE GÊNERO SOB A ÓTICA DA ALTERIDADE DE HANNAH ARENDT INTRODUÇÃO 14 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E ALTERIDADE POSITIVA SOB A PERSPECTIVA DE HANNAH ARENDT 15 REALIDADE ATUAL DA MULHER NA SOCIEDADE INTERNACIONAL 18 PAPEL DA ONUNO COMBATE A VIOLÊNCIA DE GÊNERO 20 PAPEL DA ONU NO COMBATE A VIOLÊNCIA DE GÊNERO 23 CONCLUSÃO 26 REFERÊNCIAS 27 ADOÇÃO UNILATERAL E FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA: EFEITOS E BENEFÍCIOS NAS NOVAS FORMAÇÕES FAMILIARES INTRODUÇÃO 30 A FAMÍLIA NA ATUALIDADE 31 ENTIDADES FAMILIARES 34 A FAMÍLIA E SOCIAFETIVIDADE 36 ADOÇÃO 37 CONCLUSÃO 40 REFERÊNCIAS 41 CIFRA NEGRA DO DIREITO DE FAMÍLIA: A LUTA PELO RECONHECIMENTO INTRODUÇÃO 43 A FAMÍLIA AO LONGO DOS ANOS 44 A FAMÍLIA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988: O GRANDE PASSO 44 SUMÁRIO OS PRINCÍPIOS NO DIREITO DE FAMÍLIA 47 O DIREITO DE FAMÍLIA NA ATUALIDADE 50 OS NOVOS DESAFIOS AO PODER JUDICIÁRIO 52 CONSIDERAÇÕES FINAIS 55 REFERENCIAS 56 CONTRATO DE NAMORO: HÁ VALIDADE JURÍDICA? INTRODUÇÃO 59 DO NAMORO 60 DA UNIÃO ESTÁVEL. 62 DO CONTRATO DE NAMORO. 64 DO CONTRATO DE UNIÃO ESTÁVEL. 67 DA POSSIBILIDADE DE VALIDADE DO CONTRATO DE NAMORO 68 CONCLUSÃO. 69 REFERÊNCIAS. 70 DA DIVERSIDADE SEXUAL E DA FAMÍLIA HOMOPARENTAL: UMA ANÁLISE EMBLEMÁTICA DO SISTEMA EDUCACIONAL NA VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO AMBIENTE ESCOLAR INTRODUÇÃO 72 DA SEXUALIDADE 73 DAS MANIFESTAÇÕES DA SEXUALIDADE 75 DA FAMÍLIA 78 DO SISTEMA EDUCACIONAL COMO VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES 82 CONCLUSÃO 87 REFERÊNCIAS 87 SUMÁRIO DA INCIDÊNCIA DA TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE NOS CASOS DE ABANDONO AFETIVO INTRODUÇÃO 90 DA EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE AFETO SOB A PERSPECTIVA FAMILIAR 91 DO ABANDONO AFETIVO 92 DO DEVER DE INDENIZAR FRENTE AO ABANDONO AFETIVO 94 DA INCIDÊNCIA DA TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE NOS CASOS DE ABANDONO AFETIVO 96 CONCLUSÃO 98 REFERÊNCIAS 98 DA POSSIBILIDADE DA PREVALÊNCIA DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA FRENTE AOS PAPÉIS PARENTAIS FAMILIARES INTRODUÇÃO 101 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONCEITUAL DOS MODELOS FAMILIARES 103 PRINCÍPIOS DO DIREITO DAS FAMÍLIAS 105 DAS FAMÍLIAS PAPÉIS E DAS FAMÍLIAS CONCEITO 110 DA POSSIBILIDADE DE PREVALÊNCIA DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA SOBRE A BIOLÓGICA 111 CONCLUSÃO 114 REFERÊNCIAS 114 INTRODUÇÃO 117 DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 118 DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES 122 DA UTILIZAÇÃO EXCESSIVA DOS RECURSOS TECNOLÓGICOS POR CRIANÇAS E ADOLESCENTES E OS POTENCIAIS MALEFÍCIOS 125 CONCLUSÃO 130 REFERÊNCIAS 131 SUMÁRIO DESADOÇÃO: ABANDONO AFETIVO, VALOR JURÍDICO E RESPONSABILIDADE CIVIL NO SISTEMA BRASILEIRO DE ADOÇÃO INTRODUÇÃO 134 SISTEMA DE ADOÇÃO NO BRASIL 135 O QUE UMA FAMILIA ESPERA COM A ADOÇÃO DE UMA CRIANÇA 137 O QUE A CRIANÇA/ADOLECENTE ESPERA A SER ADOTADO 138 DESISTÊNCIA DE ADOÇÃO POR PARTES DE PAIS ADOTIVOS E O QUE CAUSA Á CRIANÇA 139 DIREITOS DA CRIANÇA DIANTE A DESISTENCIA DE ADOÇÃO 140 RELACIONAMENTO FAMILIAR GERA AFETIVIDADE? 141 CONCLUSÃO 142 REFERÊNCIAS: 143 DOS ALIMENTOS: UMA ANÁLISE EMBLEMÁTICA DA PRESTAÇÃO OBRIGACIONAL E DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE INTRODUÇÃO 144 CONCEITOS E CONSIDERAÇÕES GERAIS DOS ALIMENTOS 145 DAS ESPÉCIES 148 DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR E SEUS LEGÍTIMOS 152 DO BINÔMIO: NECESSIDADE X POSSIBILIDADE X RAZOABILIDADE 154 DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR E DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: UM DEVER PARENTAL OU UM “DEVER FUNDAMENTAL” 155 CONCLUSÃO 158 REFERÊNCIAS 158 SUMÁRIO DOS EFEITOS DO ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO DIREITO DE FAMÍLIA INTRODUÇÃO 160 DESENVOLVIMENTODA DEFICIÊNCIA 161 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DO ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 164 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 167 PESSOA COM DEFICIÊNCIA E SUA ABORDAGEM FAMILIARISTA 171 PRINCIPAIS ALTERAÇÕES NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA PELA LEI Nº 13. 146/2015 172 CONCLUSÃO 177 REFERÊNCIAS 178 FAMÍLIA OU FAMÍLIAS? UM ESTUDO ACERCA DO PL 6.583/2013 E AS INFLUÊNCIAS CRISTÃS NO ORDENAMENTO JURÍDICO CONTEMPORÂNEO INTRODUÇÃO 181 ENTRE A FAMÍLIA CRISTÃ E AS FAMÍLIAS JURÍDICAS: UM PROJETO DE LEI E SUAS EXCLUDENTES. 182 O CONCEITO DE FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 184 CONCLUSÃO 186 REFERÊNCIAS 187 FAMÍLIAS RECONSTITUÍDAS E O VÍNCULO AFETIVO ENTRE O GENITOR NÃO BIOLÓGICO E SEUS FILHOS INTRODUÇÃO 189 DA FAMÍLIA 190 DAS FAMÍLIAS RESCONTITUÍDAS 191 DO PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE 192 DA LEGISLAÇÃO: ATRAPALHA OU BENEFÍCIA AS FAMÍLIAS RECONSTITUÍDAS? 194 CONCLUSÃO 199 REFERÊNCIAS 200 SUMÁRIO FAMILIAS RECONSTITUÍDAS, ANÁLISE DO ART. 1.636 DO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO INTRODUÇÃO 202 CONCEITO DE FAMILIA 203 FAMILIAS RECONSTITUIDAS 206 CONCLUSÃO 209 REFERÊNCIAS 210 MEDIAÇÃO: UM NOVO INSTRUMENTO PARA A TRANSFORMAÇÃO DE CONFLITOS FAMILIARES INTRODUÇÃO 212 BREVE HISTORIOGRAFIA DA MEDIAÇÃO 214 DA MEDIAÇÃO 218 DA MEDIAÇÃO NOS CONFLITOS FAMILIARES 221 CONCLUSÃO 224 REFERÊNCIAS 225 POSSIBILIDADE DE ADOÇÃO APÓS A MORTE DO ADOTANTE DIANTE DO AFETO COMO VALOR JURÍDICO COMO FORMA DE EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS DE PERSONALIDADE INTRODUÇÃO 228 ORIGEM E CONCEITO DE FAMÍLIA 230 LAÇOS FAMILIARES E A ESTRUTURA FAMILIAR ATUAL 230 PROTEÇÃO DA FAMÍLIA PELO ESTADO 232 FILIAÇÃO DEVERES E DIREITOS 233 ESTADO DE FILIAÇÃO 234 ADOÇÃO 234 CONCEITO DE ADOÇÃO 236 MODALIDADES DE ADOÇÃO 236 SUMÁRIO CONCEITO DE ADOÇÃO PÓSTUMA E FUNDAMENTO LEGAL 238 DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DO VALOR DA AFETIVIDADE 238 CONCLUSÃO 241 REFERÊNCIAS 242 REFLEXÃO DA FORMAÇÃO DO ESTADO DO DIREITO E A RESOLUÇÃO DE CONFLITOS POR INTERMÉDIO DA HUMANIZAÇÃO INTRODUÇÃO 244 A FORMAÇÃO DO ESTADO DE DIREITO 245 O MONOPÓLIO JURISDICONAL BRASILEIRO 247 A SOCIEDADE COMO COLABORADA DA SOLUÇÃO DOS CONFLITOS 249 MEDIAÇÃO 253 CONSIDERAÇÕES FINAIS 255 REFERÊNCIAS 256 15 A MULHER E O DIREITO DE SER HUMANA: UMA ANÁLISE DE GÊNERO SOB A ÓTICA DA ALTERIDADE DE HANNAH ARENDT Tatiana Coutinho Pitta Professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Campus Maringá; Mestre em Direito da Personalidade pelo Centro Universitário - UniCesumar. Advogada. Endereço eletrônico: tatianacpitta@gmail.com Camilla da Silva Oliveira Graduanda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Campus Maringá. Endereço eletrônico: ca- milladasilvaoliveira@gmail.com RESUMO: Hannah Arendt, escritora de “Condição Humana” traz a ótica do “olhar o outro”. É nítido que existem diferen- ças entre os seres, mas, o enfoque da alteridade faz-nos ter a capacidade de perceber o outro – apesar das diferenças – a igualdade de direitos. Deste modo, a alteridade positiva remete à dignidade da pessoa humana, que, por sua vez, revela que o ser humano é digno simplesmente pelo fato de ser humano. O movimento de internacionalização dos direi- tos humanos, surgiu após o pós-guerra, mais especificadamente, posteriormente ao holocausto, isto é, as atrocidades e horrores cometidos durantes a Segunda Guerra Mundial com o Nazismo, época pela qual, Hitler, líder do movimento na Alemanha, descartou e violou quaisquer direitos relacionado a pessoa. Este é o típico exemplo de que através do pluralismo é que se constrói o diálogo, pela qual os seres se relacionam entre si, e por isso, têm a capacidade de com- preender melhor o seu semelhante. Relacionando isso ao tema da violência de gêneros, uma vez que só se cessará quando ambos os gêneros tiverem a visão alterativa sobre o outro. PALAVRAS-CHAVES: Direitos humanos. Dignidade da Pessoa Humana. Alteridade. INTRODUÇÃO A indigitada pesquisa científica tem a finalidade estudar os direitos humanos, com enfoque na violência de gêneros, sob o olhar da escritora Hannah Arendt, autora de “Condição humana”. Nes- te sentido, o livro aborda a alteridade positiva, isto é, o olhar ao outro com empatia; colocar-se no lugar do semelhante, sendo que, isto deve ser feito apor meio do diálogo que se expande através da convivência humana. O diálogo, deste modo, serve como uma condição para a pluralidade humana conseguir ex- pandir-se, uma vez que o homem não é só aquilo que produz, mas é também influenciadopelo meio em que vive, portanto, a ação e a falácia são inerentes, caso ao contrário, tornam-se “um feito qualquer”. Tendo como exemplo as atrocidades da segunda Guerra Mundial, era preciso uma segurança a pessoa, já que a vida digna não tinha sido respeitada. Portanto, foi a partir disso, que emergiu à Dignidade da Pessoa humana como direito fundamental e humano. Neste viés, enquanto a Digni- dade da Pessoa Humana enfoca na vida digna do ser humano, a alteridade positiva é uma diretriz para esta, ou seja, visa concretizar este princípio através da empatia. Por isso, o trabalho se debruçara também em analisar o papel da sociedade internacional e da Organizações das Nações Unidas no combate a violência de gêneros, perquirindo os meios que estão sendo utilizados para tal finalidade além dos tratados e convenções. Além de explanar o uni- versalismo dos direitos humanos e os reflexos causados no relativismo cultural, questão a ser ve- 16 rificada pelos tratados adotados entre países e sociedades internacionais com costumes e direitos diferenciados. E, verificação a proteção que está sendo assegurada a mulher vítima de violência no âmbito global, vez que tal violência é uma afronta aos direitos humanos. 1 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E ALTERIDADE POSITIVA SOB A PERSPECTIVA DE HANNAH ARENDT A “vida activia” possui algumas atividades necessárias à condição humana – condições bási- cas inerentes ao homem - a saber: o trabalho, a obra e a ação. Dessa forma, o trabalho “é a ativi- dade que corresponde ao processo biológico do corpo humano”;1 a obra “proporciona um mundo artificial de coisas, nitidamente diferente de qualquer ambiente natural”;2 a ação “corresponde a condição humana da pluralidade[...]A pluralidade é a condição da ação humana porque somos todos iguais, isto é, humanos”.3 A condição humana, não abarca somente as atividades que são destinadas ao homem, vez que “os homens são seres condicionados, porque tudo aquilo com que eles entram em contato, torna-se uma condição de sua existência”.4 Mister faz-se ao entender que tudo o que o homem, por si próprio, faz ou o move, pelas condições externas, “torna-se parte da condição humana”.5 Neste ínterim, as atividades da “vida activia”, especialmente o trabalho e a obra “serviam e produziam o que era necessário e útil, não podiam ser livres e independentes das necessidades e carências humanas”.6 Por isso, a ação, ascendeu como uma forma de necessidade para os seres “de modo que a contemplação era agora o único modo de vida realmente livre”.7 Diante da ação é que pluralidade humana se perfaz, como uma condição de existência do homem, e nela é vislumbrada a igualdade dos homens, e, por tal condição de igualdade estes têm a capacidade de compreender os seus semelhantes, bem como seus anseios.8 1 ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução: Roberto Raposo. Revisão Técnica: Adriano Côrrea. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p.8. 2 ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução: Roberto Raposo. Revisão Técnica: Adriano Côrrea. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p.8. 3 ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução: Roberto Raposo. Revisão Técnica: Adriano Côrrea. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p.9. 4 ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução: Roberto Raposo. Revisão Técnica: Adriano Côrrea. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p.10. 5 ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução: Roberto Raposo. Revisão Técnica: Adriano Côrrea. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p.11. 6 ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução: Roberto Raposo. Revisão Técnica: Adriano Côrrea. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p.15. 7 ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução: Roberto Raposo. Revisão Técnica: Adriano Côrrea. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p.16. 8 ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução: Roberto Raposo. Revisão Técnica: Adriano Côrrea. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p.220-221. 17 Tanto o direito à liberdade quanto direito à igualdade “são sempre direitos derivantes da per- tença à ‘comum humanidade9’” e, em concordância com Bobbio “a igualdade entre os homens é um valor desejável10”. A “igualdade é um bem digno de ser perseguido não deriva sub-repticiamente do juízo do fato: os homens nasceram ou são, por natureza, iguais; mas do juízo de valor: a desigualdade é um mal11”. O ordenamento jurídico impõe a igualdade “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza12” e “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição13”. A condição do homem não está somente no que ele produz, mas no meio que está que também o influencia. Exemplificando isso, o termo de igualdade formal adotado pela Constituição Federal da República foi influenciado pelo conceito de igualdade criado no período da Revolução Francesa14, já que naquela época tinha-se o interesse para proporcionar total liberdade de quem seria “os iguais” e quem seriam os “desiguais”. Isto é, a igualdade era posta conforme interesses. Portanto, pode-se concluir que os interesses em terminar os iguais não faziam com que o individuo visse no outro os mesmos direitos, se distanciando da alteridade. A alteridade, nada mais é que “o olhar para o outro”, avistar que, embora haja diferenças, os direitos são semelhantes. Assim considera Hannh Arendt: “A alteridade é, sem dúvida, aspecto importante da pluralidade, a razão pela qual todas as nossas definições são distinções, pela qual não podemos dizer o que uma coisa é sem distin- gui-la de outra[...]no homem, a alteridade, que ele partilha com tudo o que existe, e a distin- ção, que ele partilha com tudo o que vive, tornam-se unicidade, e a pluralidade é a paradoxal pluralidade de seres únicos”.15 Da mesma forma a igualdade foi considerada pelo filósofo Aristóteles, que estabeleceu: “tratar os iguais, iguais, e os desiguais na medida de sua desigualdade”. Ainda não estava resolvida a questão, pois “como solucionar os conflitos entre vários direitos e entre os indivíduos que pretendem a titularidade dos mesmos direitos igualmente fundamentais?” Apesar de não parecer fácil tal questão, a resposta se dá pelo “fundamento absoluto da dignidade do homem”16. 9 DIAS, José Francisco de Assis. Não Matarás!: a vida humana como valor primordial no pensamento de Noberto Bobbio. 2 ed. Maringá: Humanita Vivens, 2011, p.82 10 BOBBIO, 1995 apud DIAS, 2011, p.82 11 DIAS, José Francisco de Assis. Não Matarás!: a vida humana como valor primordial no pensamento de Noberto Bobbio. 2 ed. Maringá: Humanita Vivens, 2011, p. 81. 12 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci- vil_03/Constituicao/Constituicao.htm> Acesso em: 09 mar 2016 13 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci- vil_03/Constituicao/Constituicao.htm> Acesso em: 09 mar 2016. 14 DIAS, Maria Berenice. Diversidade sexual e direito homoafetivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 214. 15 ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução: Roberto Raposo. Revisão Técnica: Adriano Côrrea. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p.220. 16 DIAS, José Francisco de Assis. Não Matarás!: a vida humana como valor primordial no pensamento de Noberto Bobbio. 2 ed. Maringá: Humanita Vivens, 2011, p. p. 124 18 “Quando o nosso direito à vida entra em conflito com o direito à vida dos outros, a mesma humanitas que é fundamento absoluto da nossa dignidade e daquela alheia, dá-nos a solução: uma vez que nosso direito à vida pretende responder a agressão feita à nossa dignidade enquanto humanita vivens; entre o valor da nossa vida e aquele da vida alheia, obtém a prioridade axiológica para nós a vida alheia”.17 Partindo-se da pluralidade, o homem, interage com a coletividade através de palavras e atos, e por meio dessa interação “os homens mostramque são, revelam ativamente suas identidades pessoais únicas, e assim fazem seu aparecimento no mundo humano”.18 Portanto, é através diálogo com o outro, é que se reconhecem as diferenças, já que cada qual possui características individuais diversificadas. No entanto, a desigualdade entre o homem e a mulher ao longo da história, por exemplo, prova a “negação absoluta da alteridade”19, haja vista que as mulheres eram submissas, não participavam e nem eram motivadas às questões políticas muito menos a dialogar. Alteridade é olhar o interior do outro e vislumbrar as diferenças, se colocando no lugar, é qua- se como se fosse uma empatia em âmbito de direitos. É preciso fazer conhecer o ato da falácia com a ação, senão “sem o desvelamento do agente no ato, a ação perde seu caráter especifico e torna-se um feito como outro qualquer”.20 É o caso, por exemplo, das atrocidades e horrores cometidos durantes a Segunda Guerra Mundial com o Nazismo, época pela qual, Hitler, líder do movimento na Alemanha, descartou e violou quaisquer direitos relacionado à pessoa, matando em massa judeus, negros, comunistas, ciganos, homossexuais com intuito de manter a raça ariana.21 O homem não é feito para viver isolado, é fato de que onde quer esteja junto com semelhante, haverá a relação de comunicação, ou seja, a “teia de relações humanas”.22 Diante dessa realidade, ou seja, o diálogo proposto entre os homens era como um “cessar fogo”, um clamor à paz. Dessa forma, apesar das desigualdades e diferenças entre os homens, o diálogo era como, e isso os fazia iguais. Era preciso a reconstrução dos direitos humanos, consequentemente, foi instaurado um novo sistema normativo internacional de direitos humanos como forma de proteger e evitar qualquer nova atrocidade, a fim de dar mais segurança às pessoas, além de servir como “paradigma e refe- rencial ético a orientar a ordem internacional contemporânea23.” 17 DIAS, José Francisco de Assis. Não Matarás!: a vida humana como valor primordial no pensamento de Nober- to Bobbio. 2 ed. Maringá: Humanita Vivens, 2011, p. p. 126. 18 ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução: Roberto Raposo. Revisão Técnica: Adriano Côrrea. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p.224. 19 SILVA, Douglas Andrade da. Totalitarismo, alteridade e relações internacionais. Disponível em: <http://reposito- rio.uniceub.br/bitstream/123456789/3394/3/20703389.pdf> Acesso em: 01 abr. 2016. 20 ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução: Roberto Raposo. Revisão Técnica: Adriano Côrrea. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p.225. 21 CAZZETA; FILHO HENRIQUES; ROCHA. Direitos humanos: desafios humanitários contemporâneos. Belo Horizonte: Del Rey, 2008. p.3. 22 ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução: Roberto Raposo. Revisão Técnica: Adriano Côrrea. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p.230. 23 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e a jurisdição constitucional internacional. Disponível em: <http:// www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/direitos%20humanos.pdf#page=43> Acesso em: 03 mar 2015. 19 O princípio da dignidade da pessoa humana, portanto, “é fruto do processo de internaciona- lização iniciado após a Segunda Guerra Mundial, quando ocorreu a coisificação e o descarte de indivíduos e, como consequência, uma ruptura de direitos humanos24”. Elucidando o diálogo no cenário internacional, cite-se ainda a Declaração Universal dos Di- reitos do Homem, de 1948 que introduziu a chamada concepção contemporânea de direitos huma- nos, marcada pela universalidade e pela indivisibilidade desses direitos25.” Insta salientar “um alerta importante sobre o papel que ‘o pensar o outro’ desempenha na reflexão sobre o fenômeno totalitário e suas consequências”26, haja vista que a universalidade dos direitos humanos não é unânime. Pois, por outro lado, tem-se o “relativismo cultural”, concepção que defende que os direitos humanos dependem da cultura, o que impossibilitaria ter uma ordem mundial para os mesmos. Deve-se criar um diálogo entre elas a fim de amenizar o conflito, com respaldo na diversidade e inspiração no “mínimo ético irredutível”, dando espaço a um pluralismo de confluência, que é o meio termo entre o universalismo e entre o relativismo. Exemplo disso é a soberania do Estado que é relativizada, ao passo que são aceitas intervenções no plano global. A mera consagração de direitos – nem que seja humano, bastando à única condição de ser humano para ter – é suficiente para o relacionamento entre as sociedades internacionais com os homens e seus direitos, é preciso ir além. Os direitos não são postos, eles são parte da convivência humana. 2 REALIDADE ATUAL DA MULHER NA SOCIEDADE INTERNA- CIONAL A dura realidade que permeia a sociedade internacional e o ambiente pátrio no que tange a vio- lência contra a mulher - seja qual for o espaço - é irrefutável, em razão dos números de dados que ascendem crescentemente em pesquisas recentes. Desta forma, a mulher, devido à sua vulnera- bilidade desfruta de proteção especial correspondendo a proteções normativas, tanto no âmbito nacional quanto ao internacional, já que “o propósito da coexistência de distintos instrumentos jurídicos – garantindo os mesmos direitos – é, pois, no sentido de ampliar e fortalecer a proteção dos direitos humanos27.” No âmbito global, há inúmeros instrumentos internacionais, no que tange a violência contra a mulher. Citam-se alguns exemplos, a saber, a “I Conferência Mundial sobre a Mulher”, ocorreu na Cidade do México, em 1975, que culminou a aprovação pela Assembleia da ONU, em 1979 24 PITTA, Tatiana Coutinho. Protagonismo Feminino: a necessária atuação estatal na proteção da mulher vítima de violência. 1 ed., Birigui, SP: Boreal, 2014. p.7. 25 PIOVESAN, op.cit. p.2. 26 SILVA, Douglas Andrade da. Totalitarismo, alteridade e relações internacionais. Disponível em: <http://reposito- rio.uniceub.br/bitstream/123456789/3394/3/20703389.pdf> Acesso em: 01 abr. 2016. 27 SILVA, Douglas Andrade da. Totalitarismo, alteridade e relações internacionais. Disponível em: <http://reposito- rio.uniceub.br/bitstream/123456789/3394/3/20703389.pdf> Acesso em: 01 abr. 2016. 20 da “Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra as Mulheres, com o objetivo primordial de “promover a igualdade entre os gêneros e fomentar a não discriminação contra a mulher28.” Ainda, a Conferência de Viena em 1993 reconheceu que “os direitos das mulheres e das meninas são parte integrante, indivisível e inalienável dos direitos humanos e que a violência de gênero é incompatível com a dignidade e valor da pessoa humana29.” Já no ano de 1994 foi elaborada a Convenção Interamericana Para Previnir, Punir e Erradicar a Violência contra a mulher30, também, “aconteceu no Cairo a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimen- to com o objetivo de afirmar a igualdade entre os sexos, o empoderamento da mu- lher, a proteção dos direitos sexuais e reprodutivos e a eliminação de toda violência contra a mulher”. (PITTA, 2014, p.15). A Declaração e Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial Sobre a Mulher de Beijing31 teve o intuito de assegurar a equidade, o desenvolvimento e a segurança das mulheres32. Já em meados do século XXI “a Assembleia Geral das Nações Unidas convocou a denominada ‘A mulher do ano 2000’: igualdade entre gêneros, desenvolvimento e paz no século XXI33” Por sua vez, na legislação infraconstitucional, “em 1983, Maria da Penha sofreu uma tentativa de homicídio por parte de seu marido, que atirou em suas costas, deixando-a paraplégica34.” O fato além de virar ler a Lei n.11.340/2006 repercutiu internacionalmente, isso porquê diante da inércia do Estado brasileiro, em punir o agressor de Penha - que fora denunciado em 1984 – em 1998 a vítima apoiada do Centro para a Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê Latino-Ame- ricano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM)denunciou à Comissão Intera- mericana de Direitos Humanos da OEA contra o Estado brasileiro35. É sabido que há uma contundente normatização para o combate à violência contra mulher, tanto no plano internacional bem como na legislação pátria. No entanto, mesmo com leis, os números fatais dessa violência ascendem crescentemente, destacam-se, de acordo com o Mapa da Violência de 2015, confeccionado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais junta- mente com a ONU Mulheres, a SPM e a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mun- dial da Saúde (OPAS/OMS), elencou que 55,3% dos crimes de violência contra a mulher no Brasil foram praticados no ambiente doméstico36. 28 PITTA, Tatiana Coutinho. Protagonismo Feminino: a necessária atuação estatal na proteção da mulher vítima de violência. 1 ed., Birigui, SP: Boreal, 2014. p.14. 29 GONÇALVES, Tamara Amoroso; CHAMBOULEYRON, Ingrid Cyfer. Direitos Humanos das Mulheres: Não dis- criminação, direitos sexuais e direitos reprodutivos. In: IKAWA, Daniela; PIOVESAN, Flávia; FACHIN, Melina Girardi. Direitos humanos na ordem contemporânea: Proteção Nacional, regional e global. Curitiba: Juará, 2010, v.4, p.309. 30 MAZZUOLI, op. cit., p.226-227. 31 Ibidem. p.228. 32 PITTA, op. cit., p.15. 33 Ibidem. p.15. 34 Vide Página Oficial do CEJIL. Disponível em <http://cejil.entornos.com.ar/casos/maria-da-penha> Acesso em 03 mar 2016. 35 PITTA, op. cit., p.16. 36 WAISELFIZS, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2015 Homicídios de Mulheres no Brasil. FLACSO Brasil. Disponível em < http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/MapaViolencia_2015_mulheres.pdf>. Acesso em 04 mar http://cejil.entornos.com.ar/casos/maria-da-penha http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/MapaViolencia_2015_mulheres.pdf 21 A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que investigou a violência contra a mulher no Brasil, surgiu com o intuito de apurar os casos de violência doméstica contra a mulher bem como propor políticas públicas a fim de efetivar a ações de prevenção, além de apurar o alto número de homicídios contra as mulheres, apesar de dispor de leis para compelir tal violência37. Infelizmente, a violência de gêneros não é uma realidade brasileira, países como: Afeganis- tão, África do Sul e México apresentam alto índices de violência contra a mulher. Apesar disso, há movimentos que tentam combater esse cenário, como a Associação Revolucionária das Mulheres no Afeganistão (RAWA), criada em 1997, por mulheres que lutam pelos seus direitos, intrínseco a pessoa e pela justiça social38 A ONU constatou que o cenário de violência no México é tido como pandemia, pelo fato de que “por, ocorrem pelo menos 6,4 casos de femicídio no país, segundo dados de 2010”39 A realidade que não se altera na África do Sul, conhecida como capital do estupro. Dados ilustram que “a cada 27 segundos uma mulher é abusada sexualmente na África do Sul. Uma em cada três sul-africanas será violentada pelo menos uma vez na vida. Um em cada três sul-africanos irá estuprar uma mulher. Estes dados são da Rape Crisis, uma organização sem fins lucrativos (ONG) que combate a violência contra a mulher, lo- calizada na Cidade do Cabo. A associação ainda aponta que, na maioria do casos, a violência sexual é realizada por um homem que participa do cotidiano da vítima”. 40 Por isso, movimentos internacionais, aliados, com políticas públicas internas, demonstram a importância no combate à violência de gêneros, uma vez que com isso, é nítido o empoderamento das mulheres, haja vista que se unem e investem sua potencialidade, fortalecendo a não discrimi- nação e o combate contra a violência41. 3 PAPEL DA ONU NO COMBATE A VIOLÊNCIA DE GÊNERO Seguindo as informações e dados, a violência doméstica ainda é um fato contemporâneo a ser superado. Por este viés, tem-se constatado movimentos sociais, ainda que iniciados pela internet, como uma forma de superar a legislação, ajudando no combate a violência. Assim, os movimentos ganham força, uma vez que as pessoas têm a possibilidade de uma maior discrição, que a simples proteção da tela do computador possa oferecer, ampliando a solidariedade entre as 2016. 37 http://www4.planalto.gov.br/spmulheres/mulheres-em-pauta/aconteceu/boletim-mulheres-em-pauta-ano-viii- -no-74/cpi-da-violencia-contra-a-mulher-ii. Acesso em: 22 abr. 2016. 38 Organização sem fins lucrativos. Associação Revolucionaria das Mullheres no Afeganistão. Disponível em: < http://www.rawa.org/rawa_pt.htm> Acesso em: 22 abr. 2016. 39 La jornada. Violência contra mulher no México é pandemia. Disponível em: < http://www.vermelho.org.br/ noticia/216682-7> Acesso em: 22 abr. 2016. 40 LIMA, Gleyma; ROCHA, Polyanna. Capital mundial do estupro. Disponível em: < http://operamundi.uol.com. br/conteudo/reportagens/21013/capital+mundial+do+estupro+na+africa+do+sul+uma+mulher+e+violentada+a+ca- da+27+segundos.shtml> Acesso em: 20 abr 2016. 41 BARSTED, Leila Linhares. A Cidadania Feminina em Construção. In: ALMEIDA, Suely Souza de; SOARES, Barbara Masumeci; GASPARY, Marisa (Coord.). Violência Doméstica: Bases para formulações de Políticas Públicas. Rio de Janeiro: Revinter Editora, 2003. p. 9-10. http://www4.planalto.gov.br/spmulheres/mulheres-em-pauta/aconteceu/boletim-mulheres-em-pauta-ano-viii-no-74/cpi-da-violencia-contra-a-mulher-ii http://www4.planalto.gov.br/spmulheres/mulheres-em-pauta/aconteceu/boletim-mulheres-em-pauta-ano-viii-no-74/cpi-da-violencia-contra-a-mulher-ii http://www.rawa.org/rawa_pt.htm http://www.vermelho.org.br/noticia/216682-7 http://www.vermelho.org.br/noticia/216682-7 http://operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/21013/capital+mundial+do+estupro+na+africa+do+sul+uma+mulher+e+violentada+a+cada+27+segundos.shtml http://operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/21013/capital+mundial+do+estupro+na+africa+do+sul+uma+mulher+e+violentada+a+cada+27+segundos.shtml http://operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/21013/capital+mundial+do+estupro+na+africa+do+sul+uma+mulher+e+violentada+a+cada+27+segundos.shtml 22 mulheres que se juntam no combate a violência42. Contando com isso, relata-se o movimento “Meu Primeiro Assédio”, em que pessoas, não só do gênero feminino, se juntaram nas redes sociais, usando a hashtag #MeuPrimeiroAssedio para relatar o primeiro abuso sexual ou moral vivenciado ou presenciado. Esse movimento, deu forças para o “Meu amigo secreto” que ironiza a brincadeira de troca de presentes que ocorre no fim de ano, na qual, ao revelar a identidade do amigo, as mulheres demonstraram comportamentos ma- chistas ainda enraizado na grande maioria de pessoas de sua convivência, com a #MeuAmmigo- Secreto diziam “meu amigo secreto divide mulheres para casar e para se ‘divertir’43. Além do mais, conta-se com o “Ask Her More”, pela qual “começou a partir de um grupo cha- mado ‘The Representation Project, criado por Jennifer Siebel, e que tem como objetivo lutar contra a desigualdade de gênero na mídia e na cultura popular44” com isso, as mulheres celebridades se recusavam a responder questões ligadas somente ao seu traje, ao seu cabelo, querendo que os repórteres perguntassem mais sobre o trabalho, que deveria ser o foco central das entrevistas. Não se pode deixar de falar da campanha lançada pela ONU #HeForShe, traduzindo “Eles Por Elas”, pela qual a atriz Emma Watson realizou o discurso incentivando os homens se aliarem as mulheres na luta contra a violência e a desigualdade de gênero45. Tal movimento teve início em 20 de Setembro de 2014, criado pela ONU Mulheres, entidade integrante das Nações Unidas. Além disso, “é um esforço global para envolver homens e meninos na remoção das barreiras sociais e culturais que impedem as mulheres de atingir seu potencial, e ajudar ho- mens e mulheres a modelarem juntos uma nova sociedade. O alcance da igualdade de gênero requer uma abordagem inclusiva, que reconheça o papel fundamental de homens e meninos como parceiros dos direitos das mulheres e detentores de neces- sidades própriasbaseadas na obtenção deste equilíbrio. O movimento ElesPorElas (HeForShe) convoca homens e meninos como parceiros igualitários na elaboração e implementação de uma visão comum da igualdade de gênero que beneficiará toda a humanidade”.46 São objetivos centrais do projeto fazer com que a igualdade de gênero seja um assunto essencialmente tratado por mulheres, trazendo também os homens, difundindo a ideia de que a igualdade de gênero a ser perquirida, é “uma causa de toda a humanidade”.47 Sob esta perspectiva, os princípios da educação, sensibilização e da conscientização, isto é, sob o enfoque da alteridade positiva fazer com que os 42 PROVAZI, Bruna. Longe da autonomia, perto do patriarcado: viralizar o feminismo libertando nossas ferramentas. Disponível em: < https://marchamulheres.wordpress.com/2015/11/29/tao-longe-da-autonomia-tao-perto-do-patriarcado-viralizar-o-feminismo-libertan- do-nossas-ferramentas/>. Acesso em: 05 mar 2016. 43 MOARES, Camila. #MeuAmigoSecreto, nova investida feminina contra o machismo velado. Disponível em: < http://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/25/politica/1448451683_866934.html>. Acesso em: 05 mar. 2016. 44 GROTA, Renata. Ask Her More: o sexismo e a luta pela igualdade de gênero. Disponível em < http://www. mutacoesfaiscantesdaporto.com.br/2015/03/ask-her-more-o-sexismo-e-luta-pela.html> Acesso em: 05 mar 2016. 45 HE FOR SHE. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/heforshe-campanha-de-emma-wat- son-chega-ao-brasil-pela-gnt> Acesso em: 05 mar 2016. 46 ONU. Assembleia Geral das Nações Unidas. Entidade das Nações Unidas para Igualdade de Gênero e Empoderamento das Mulheres. Disponível em: <http://www.onumulheres.org.br/elesporelas/> . Acesso em 22 abr. 2016. 47 Ibidem. https://marchamulheres.wordpress.com/2015/11/29/tao-longe-da-autonomia-tao-perto-do-patriarcado-viralizar-o-feminismo-libertando-nossas-ferramentas/ https://marchamulheres.wordpress.com/2015/11/29/tao-longe-da-autonomia-tao-perto-do-patriarcado-viralizar-o-feminismo-libertando-nossas-ferramentas/ http://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/25/politica/1448451683_866934.html http://www.mutacoesfaiscantesdaporto.com.br/2015/03/ask-her-more-o-sexismo-e-luta-pela.html http://www.mutacoesfaiscantesdaporto.com.br/2015/03/ask-her-more-o-sexismo-e-luta-pela.html http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/heforshe-campanha-de-emma-watson-chega-ao-brasil-pela-gnt http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/heforshe-campanha-de-emma-watson-chega-ao-brasil-pela-gnt 23 “homens se identifiquem com as questões da igualdade de gênero, reconhecendo o papel fundamental que eles podem desempenhar para acabar com a desigualdade enfrentada por mulheres e meninas em todo o mundo, em suas próprias vidas e tam- bém em níveis mais estruturais em suas comunidades”.48 Isso ocorrerá por meio de políticas e planejamentos da própria ONU Mulheres, dentre elas, citam-se: “Empoderamento Econômico das Mulheres; Fim da Violência Contra as Mulheres; Go- vernança e Liderança; e Paz e Segurança”.49 O curioso do discurso da atriz Emma Watson, é que ela aproxima homens e mulheres, ou seja, convida a ter a visão solidária uns sobre os outros, expondo isso, traz a tona que a igualdade de gênero não é uma conquista apenas da mulher, até porque os homens também fazem parte do ciclo que não conquistaram a total igualdade, e isso, consequentemente, reflete no universo femi- nino, pois, as palavras de Emma Watson: “Homens também não têm os benefícios da igualdade de direitos. Não falamos mui- to sobre a prisão que é viver os estereótipos de gênero impostos aos homens, mas percebo que o dia em que o homem se livrar disso, as mudanças para as mulhe- res serão simplesmente uma consequência natural. Se homens não precisarem ser agressivos para serem aceitos, mulheres não sentirão a obrigatoriedade em ser sub- missas. Se os homens não precisarem estar no controle, mulheres não precisarão ser controladas. Ambos, homens e mulheres, deveriam ser livres para serem sensíveis. Ambos, ho- mens e mulheres, deveriam ser livres para serem fortes. Este é o momento de mudarmos a nossa percepção e considerarmos o gênero como um espectro e não como dois ideais que se opõem. Se pudermos parar de nos definir pelo que não somos, para nos definir por quem somos, todas e todos poderemos nos sentir mais livres e isto é o que a campanha HeForShe defende. Esta campanha é sobre liberdade. Eu quero que todos os homens façam parte da campanha para que suas filhas, irmãs e mães possam se livrar também desse preconceito, além de permitirem que seus filhos sejam mais vulneráveis, mais humanos, e possam recuperar essas partes de- les que abandonaram. Sendo assim, poderão se tornar uma versão mais verdadeira e mais completa de si mesmos”.50 Ademais, a ONU Brasil elucida a campanha do movimento denominado “16 dias de ativismo, pela qual “os 16 Dias de Ativismo começaram em 1991, quando mulheres de diferentes paí- ses, reunidas pelo Centro de Liderança Global de Mulheres (CWGL), iniciaram uma campanha com o objetivo de promover o debate e denunciar as várias formas de violência contra as mulheres no mundo51.” 48 Ibidem. 49 Ibidem. 50 ONU. Assembleia Geral das Nações Unidas. Entidade das Nações Unidas para Igualdade de Gênero e Empoderamento das Mulheres. Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/noticias/discurso-de-emma-watson- -embaixadora-da-boa-vontade-da-onu-mulheres-no-lancamento-da-campanha-heforshe/. Acesso em 22 abr. 2016. 51 DIAS DE ATIVISMO pelo Fim da Violência: ONU projeta dados sobre feminicídio no Museu Nacional de Brasília. Organização das Nações Unidas, 18 nov. 2015. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/16-dias-de-ativismo-pelo- -fim-da-violencia-onu-projeta-dados-sobre-feminicidio-no-museu-nacional-de-brasilia/>. Acesso em: 05 mar 2016. https://nacoesunidas.org/16-dias-de-ativismo-pelo-fim-da-violencia-onu-projeta-dados-sobre-feminicidio-no-museu-nacional-de-brasilia/ https://nacoesunidas.org/16-dias-de-ativismo-pelo-fim-da-violencia-onu-projeta-dados-sobre-feminicidio-no-museu-nacional-de-brasilia/ 24 Em março de 2015, partindo dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mu- lheres, o filme “Sentindo na própria pele”, aliando-se a ONU mulheres, “é provocativo e pretende chamar a atenção dos homens brasileiros para a violência que as mulheres vivenciam nas ruas. Busca, ainda, engajá-los no Movimento ElesPorElas (HeForShe) de Solidariedade pela Igualdade de Gênero, lançado pela ONU Mulheres em 2014”.52 O filme tem apenas 1 minuto e 10 segundos, mas já o suficiente para trazer a realidade das mulheres próxima aos olhares dos homens. Isso porque, o filme, ilustra através de um personagem homem, que percorre as ruas a noite, o assédio cometido por outros homens que surgem em seu caminho, evidenciado a realidade feminina. O diretor do filme explica a motivação disso: “O projeto surgiu através de relatos de meninas e mulheres postados nas redes sociais e tem como objetivo colocar o homem tanto no papel de assediado como as- sediador, para assim criar empatia, e alertá-los sobre a nocividade do machismo”. 53 Constata-se, portanto, que a violência de gêneros não é só um problema centralizado no Bra- sil, mas possui cunho global e, por isso, embora existam normas internas, é preciso a garantia e repercussão internacional, e, além disso, criar políticas públicas tanto dos entes federativos, como no âmbito global a fim de que seja quebrada a barreira meramente formal e as coloque em prática. 4 PAPEL DA ONU NO COMBATE A VIOLÊNCIA DE GÊNERO Seguindo as informações e dados, a violência doméstica ainda é um fato contemporâneo a ser superado. Por este viés, tem-se constatado movimentos sociais, ainda que iniciados pela internet, como uma forma de superar a legislação, ajudando no combate a violência. Assim, os movimentos ganham força, uma vez que as pessoas têm a possibilidade de uma maior discrição, que a simples proteção da tela do computador possa oferecer,ampliando a solidariedade entre as mulheres que se juntam no combate a violência54. Contando com isso, relata-se o movimento “Meu Primeiro Assédio”, em que pessoas, não só do gênero feminino, se juntaram nas redes sociais, usando a hashtag #MeuPrimeiroAssedio para relatar o primeiro abuso sexual ou moral vivenciado ou presenciado. Esse movimento, deu forças para o “Meu amigo secreto” que ironiza a brincadeira de troca de presentes que ocorre no fim de ano, na qual, ao revelar a identidade do amigo, as mulheres demonstraram comportamentos ma- chistas ainda enraizado na grande maioria de pessoas de sua convivência, com a #MeuAmmigo- Secreto diziam “meu amigo secreto divide mulheres para casar e para se ‘divertir’55. Além do mais, conta-se com o “Ask Her More”, pela qual “começou a partir de um grupo cha- mado ‘The Representation Project, criado por Jennifer Siebel, e que tem como objetivo lutar contra 52 ONU. Assembleia Geral das Nações Unidas no Brasil. Disponível em: < https://nacoesunidas.org/iniciativa- -da-onu-mulheres-leva-homens-a-sentirem-na-propria-pele-a-violencia-de-genero/> Acesso em: 22 abr. 2016. 53 Ibidem. 54 PROVAZI, Bruna. Longe da autonomia, perto do patriarcado: viralizar o feminismo libertando nossas ferra- mentas. Disponível em: < https://marchamulheres.wordpress.com/2015/11/29/tao-longe-da-autonomia-tao-perto-do- -patriarcado-viralizar-o-feminismo-libertando-nossas-ferramentas/>. Acesso em: 05 mar 2016. 55 MOARES, Camila. #MeuAmigoSecreto, nova investida feminina contra o machismo velado. Disponível em: < http://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/25/politica/1448451683_866934.html>. Acesso em: 05 mar. 2016. https://nacoesunidas.org/iniciativa-da-onu-mulheres-leva-homens-a-sentirem-na-propria-pele-a-violencia-de-genero/ https://nacoesunidas.org/iniciativa-da-onu-mulheres-leva-homens-a-sentirem-na-propria-pele-a-violencia-de-genero/ https://marchamulheres.wordpress.com/2015/11/29/tao-longe-da-autonomia-tao-perto-do-patriarcado-viralizar-o-feminismo-libertando-nossas-ferramentas/ https://marchamulheres.wordpress.com/2015/11/29/tao-longe-da-autonomia-tao-perto-do-patriarcado-viralizar-o-feminismo-libertando-nossas-ferramentas/ http://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/25/politica/1448451683_866934.html 25 a desigualdade de gênero na mídia e na cultura popular56” com isso, as mulheres celebridades se recusavam a responder questões ligadas somente ao seu traje, ao seu cabelo, querendo que os repórteres perguntassem mais sobre o trabalho, que deveria ser o foco central das entrevistas. Não se pode deixar de falar da campanha lançada pela ONU #HeForShe, traduzindo “Eles Por Elas”, pela qual a atriz Emma Watson realizou o discurso incentivando os homens se aliarem as mulheres na luta contra a violência e a desigualdade de gênero57. Tal movimento teve início em 20 de Setembro de 2014, criado pela ONU Mulheres, entidade integrante das Nações Unidas. Além disso, “é um esforço global para envolver homens e meninos na remoção das barreiras sociais e culturais que impedem as mulheres de atingir seu potencial, e ajudar ho- mens e mulheres a modelarem juntos uma nova sociedade. O alcance da igualdade de gênero requer uma abordagem inclusiva, que reconheça o papel fundamental de homens e meninos como parceiros dos direitos das mulheres e detentores de neces- sidades próprias baseadas na obtenção deste equilíbrio. O movimento ElesPorElas (HeForShe) convoca homens e meninos como parceiros igualitários na elaboração e implementação de uma visão comum da igualdade de gênero que beneficiará toda a humanidade”.58 São objetivos centrais do projeto fazer com que a igualdade de gênero seja um assunto essencialmente tratado por mulheres, trazendo também os homens, difundindo a ideia de que a igualdade de gênero a ser perquirida, é “uma causa de toda a humanidade”.59 Sob esta perspectiva, os princípios da educação, sensibilização e da conscientização, isto é, sob o enfoque da alteridade positiva fazer com que os “homens se identifiquem com as questões da igualdade de gênero, reconhecendo o papel fundamental que eles podem desempenhar para acabar com a desigualdade enfrentada por mulheres e meninas em todo o mundo, em suas próprias vidas e tam- bém em níveis mais estruturais em suas comunidades”.60 Isso ocorrerá por meio de políticas e planejamentos da própria ONU Mulheres, dentre elas, citam-se: “Empoderamento Econômico das Mulheres; Fim da Violência Contra as Mulheres; Go- vernança e Liderança; e Paz e Segurança”.61 O curioso do discurso da atriz Emma Watson, é que ela aproxima homens e mulheres, ou seja, convida a ter a visão solidária uns sobre os outros, expondo isso, traz a tona que a igualdade de gênero não é uma conquista apenas da mulher, até porque os homens também fazem parte do ciclo que não conquistaram a total igualdade, e isso, consequentemente, reflete no universo femi- nino, pois, as palavras de Emma Watson: 56 GROTA, Renata. Ask Her More: o sexismo e a luta pela igualdade de gênero. Disponível em < http://www. mutacoesfaiscantesdaporto.com.br/2015/03/ask-her-more-o-sexismo-e-luta-pela.html> Acesso em: 05 mar 2016. 57 HE FOR SHE. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/heforshe-campanha-de-emma-wat- son-chega-ao-brasil-pela-gnt> Acesso em: 05 mar 2016. 58 ONU. Assembleia Geral das Nações Unidas. Entidade das Nações Unidas para Igualdade de Gênero e Empoderamento das Mulheres. Disponível em: <http://www.onumulheres.org.br/elesporelas/> . Acesso em 22 abr. 2016. 59 Ibidem. 60 Ibidem. 61 Ibidem. http://www.mutacoesfaiscantesdaporto.com.br/2015/03/ask-her-more-o-sexismo-e-luta-pela.html http://www.mutacoesfaiscantesdaporto.com.br/2015/03/ask-her-more-o-sexismo-e-luta-pela.html http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/heforshe-campanha-de-emma-watson-chega-ao-brasil-pela-gnt http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/heforshe-campanha-de-emma-watson-chega-ao-brasil-pela-gnt 26 “Homens também não têm os benefícios da igualdade de direitos. Não falamos mui- to sobre a prisão que é viver os estereótipos de gênero impostos aos homens, mas percebo que o dia em que o homem se livrar disso, as mudanças para as mulhe- res serão simplesmente uma consequência natural. Se homens não precisarem ser agressivos para serem aceitos, mulheres não sentirão a obrigatoriedade em ser sub- missas. Se os homens não precisarem estar no controle, mulheres não precisarão ser controladas. Ambos, homens e mulheres, deveriam ser livres para serem sensíveis. Ambos, ho- mens e mulheres, deveriam ser livres para serem fortes. Este é o momento de mudarmos a nossa percepção e considerarmos o gênero como um espectro e não como dois ideais que se opõem. Se pudermos parar de nos definir pelo que não somos, para nos definir por quem somos, todas e todos poderemos nos sentir mais livres e isto é o que a campanha HeForShe defende. Esta campanha é sobre liberdade. Eu quero que todos os homens façam parte da campanha para que suas filhas, irmãs e mães possam se livrar também desse preconceito, além de permitirem que seus filhos sejam mais vulneráveis, mais humanos, e possam recuperar essas partes de- les que abandonaram. Sendo assim, poderão se tornar uma versão mais verdadeira e mais completa de si mesmos”.62 Ademais, a ONU Brasil elucida a campanha do movimento denominado “16 dias de ativismo, pela qual “os 16 Dias de Ativismo começaram em 1991, quando mulheres de diferentes paí- ses, reunidas pelo Centro de Liderança Global de Mulheres (CWGL), iniciaram uma campanha com o objetivo de promover o debate e denunciar as várias formas de violência contra as mulheres no mundo63.” Em março de 2015, partindo dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mu- lheres, o filme “Sentindo na própria pele”, aliando-se a ONU mulheres, “é provocativo e pretende chamar a atenção dos homens brasileiros para a violência que as mulheres vivenciam nas ruas. Busca, ainda, engajá-los no Movimento ElesPorElas (HeForShe) de Solidariedadepela Igualdade de Gênero, lançado pela ONU Mulheres em 2014”.64 O filme tem apenas 1 minuto e 10 segundos, mas já o suficiente para trazer a realidade das mulheres próxima aos olhares dos homens. Isso porque, o filme, ilustra através de um personagem homem, que percorre as ruas a noite, o assédio cometido por outros homens que surgem em seu caminho, evidenciado a realidade feminina. O diretor do filme explica a motivação disso: “O projeto surgiu através de relatos de meninas e mulheres postados nas redes sociais e tem como objetivo colocar o homem tanto no papel de assediado como as- sediador, para assim criar empatia, e alertá-los sobre a nocividade do machismo”. 65 62 ONU. Assembleia Geral das Nações Unidas. Entidade das Nações Unidas para Igualdade de Gênero e Empoderamento das Mulheres. Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/noticias/discurso-de-emma-watson- -embaixadora-da-boa-vontade-da-onu-mulheres-no-lancamento-da-campanha-heforshe/. Acesso em 22 abr. 2016. 63 DIAS DE ATIVISMO pelo Fim da Violência: ONU projeta dados sobre feminicídio no Museu Nacional de Bra- sília. Organização das Nações Unidas, 18 nov. 2015. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/16-dias-de-ativis- mo-pelo-fim-da-violencia-onu-projeta-dados-sobre-feminicidio-no-museu-nacional-de-brasilia/>. Acesso em: 05 mar 2016. 64 ONU. Assembleia Geral das Nações Unidas no Brasil. Disponível em: < https://nacoesunidas.org/iniciativa- -da-onu-mulheres-leva-homens-a-sentirem-na-propria-pele-a-violencia-de-genero/> Acesso em: 22 abr. 2016. 65 Ibidem. https://nacoesunidas.org/16-dias-de-ativismo-pelo-fim-da-violencia-onu-projeta-dados-sobre-feminicidio-no-museu-nacional-de-brasilia/ https://nacoesunidas.org/16-dias-de-ativismo-pelo-fim-da-violencia-onu-projeta-dados-sobre-feminicidio-no-museu-nacional-de-brasilia/ https://nacoesunidas.org/iniciativa-da-onu-mulheres-leva-homens-a-sentirem-na-propria-pele-a-violencia-de-genero/ https://nacoesunidas.org/iniciativa-da-onu-mulheres-leva-homens-a-sentirem-na-propria-pele-a-violencia-de-genero/ 27 Constata-se, portanto, que a violência de gêneros não é só um problema centralizado no Bra- sil, mas possui cunho global e, por isso, embora existam normas internas, é preciso a garantia e repercussão internacional, e, além disso, criar políticas públicas tanto dos entes federativos, como no âmbito global a fim de que seja quebrada a barreira meramente formal e as coloque em prática. A partir desta análise em questão, pode-se compreender que a violência de gêneros só ces- sará quando a alteridade positiva for aplicada nos casos concretos, ou seja, quando a percepção do outro se der no sentido de respeito às diferenças. Isso porque a alteridade busca. por meio da empatia, efetivar o princípio da dignidade humana. Ou seja, só terá uma vida digna quando o ‘olhar do outro’ assegurar que o indivíduo se com- padeça do outro. E é exatamente isso que os movimentos #ElasPorEles e #OValenteNãoÉViolento evidenciam, ou seja, trazem a perspectiva de fazer com que os homens se sintam no lugares das mulheres, para que CONCLUSÃO A partir da análise da problemática em questão, o um índice perspicaz da violência doméstica, não ascendem apenas no Brasil, mas sim de um modo global, por isso é urgente necessidade de haver políticas externas bem como leis pátrias para combater o crescente problema acompanha- das de uma atuação efetiva para que os indivíduos aprendam a viver com o outro, respeitando a diferença para que se alcance a plena igualdade de gênero. Com isso, se faz necessário subsistir legislação internacional, não só para criar e firmar pac- tos, tratados ou convenções, mas, sobretudo, aliando-se aos sistemas regionais para criar políticas aplicáveis em prática para o enfrentamento dessa violência, como exemplo citados os novos movi- mentos sociais, iniciados pela internet. Por isso, embora haja uma concordância global no que tange o princípio da dignidade da pes- soa humana e aos direitos humanos bem como o princípio da equidade no âmbito formal, é preciso que estes direitos sejam evidenciados, praticados e não apenas suscitados na legislação seja qual for o âmbito. Diante disso, evidencia-se a importância dos movimentos sociais da atualidade dos quais a ONU e a sociedade internacional são participantes, para que contribuam juntamente com a legisla- ção, ou seja, “dos papeis para as ruas.” Isso porque, é incoerente criar apenas leis tratando da violência doméstica contra mulheres, é preciso combater a violência, ou seja, não deixa-la existir. Ao contrário do que a legislação crua faz, servindo de respaldo para quem já sofreu tal fatalidade. Salienta-se que é preciso conscientizar a mentalidade das pessoas, e isso se faz mais claro e com mais força através dos movimentos. A legislação nacional e internacional, portanto, por si só, não são capazes de mudar o cená- rio atual. É preciso ir além. “O direito à não violência conferido a mulher se tonará efetivo quando houver uma mudança de mentalidade na sociedade, o que depende de políticas de prevenção e 28 depende de políticas de prevenção e conscientização. A conclusão que se chega é que o primeiro passo para o cessar da violência de gênero é basear-se na cidadania, solidariedade e na alteridade positiva, isto é, o olhar com empatia para ao outro, pois assim é que se encontrará respaldo para que haja mudança na sociedade machista, o que repercutirá necessariamente nas famílias. REFERÊNCIAS ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução: Roberto Raposo. Revisão Técnica: Adriano Côrrea. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. BARSTED, Leila Linhares. A Cidadania Feminina em Construção. In: ALMEIDA, Suely Souza de;SOARES, Barbara Masumeci; GASPARY, Marisa (Coord.). 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It is clear that there are differences between beings, but the focus of otherness makes us have the ability to perceive the other - des- pite the differences - equal rights. Thus, the positive otherness refers to the dignity of the human person, which, in turn, reveals that the human being is worthy simply by being human. The movement of internationalization of human rights, came after the post-war, more specifically, after the holocaust, that is, the atrocities and horrors committed Durantes World War II with the Nazis, then why Hitler, leader of the movement in Germany, and ruled violated any rights related to person. This is the typical example that through pluralism is that it builds the dialogue, which beings relate to each other, and therefore have the ability to better understand their similar. Relating this to the subject of violence of genre, since only cease when both genders have the alterative view on the other. KEYWORDS: Human rights. Dignity of human person. Otherness. 31 ADOÇÃO UNILATERAL E FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA: EFEITOS E BENEFÍCIOS NAS NOVAS FORMAÇÕES FAMILIARES Jenifer Camila Rezende Gimenes Acadêmico do Curso de direito do Centro Universitário Cesumar – UNICESUMAR, Maringá – PR. Participante PICC – UNICESUMAR. jenifer.camila@hotmail.com Kellen Cristina Gomes Ballen Professora de Direito do Centro Universitário Cesumar – UNICESUMAR, Maringá – PR. PICC – UNICESUMAR. kel- lenballen@hotmail.com RESUMO: Após uma experiência afetiva finalizada em razão de óbito ou do rompimento de vínculos matrimoniais ou afetivos ou ainda de óbito, o núcleo remanescente reorganiza-se permitindo que sejam agregados um ou mais novos membros. Desta reorganização, quando no núcleo familiar agrega-se um novo companheiro ou cônjuge do genitor, é normal a formação de novos vínculos entre esta pessoa e os filhos do genitor. Estes vínculos podem se formar e ficar na existência fática sem que nunca sejam formalizados pelo judiciário, ou gerarem conflitos que desaguem neste poder. Ainda assim, os vínculos formados entre as crianças e o adulto que compôs o agrupamento familiar geram reconhe- cimento e efeitos no ordenamento jurídico. Percebe-se que o reconhecimento deste vínculo e seus efeitos decorrem, hoje, de dois institutos. A adoção unilateral, que consiste na adoção, geralmente realizada pelo padrasto ou madrasta, do filho do cônjuge ou companheiro ou, pelo instituto da filiação socioafetiva, que se dá pela convivência e formação do vínculo afetivo, com reconhecimento de requisitos exigidos por diversos julgados, quais sejam: Trato, nome e fama. Como base, utilizou-se o Código Civil Brasileiro e o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, este último voltado à regulamentação do instituto da adoção sob o prisma do princípio do melhor interesse da criança e do adolescente. Partindo de uma análise dos dois institutos buscou-se concretizar uma comparação entre a adoção unilateral e o reco- nhecimento do vínculo sócio afetivo, buscando evidenciar as nuances das novas formações familiares. PALAVRAS-CHAVE: Direito de família; Adoção; Socioafetividade. INTRODUÇÃO Com o passar dos anos houve uma grande quantidade de transformações no instituto fami- liar, entre eles o grande numero de separações e divórcios, e diferente do que ocorria em décadas passadas onde o casamento era uma relação única e eterna, hoje em dia tornou-se comum o uso do divórcio pelas pessoas e a formação de uma nova família ao lado de outrem, seja por meio de um novo casamento, ou pelo simples fato de se unir a outro e assim constituir uma nova família. Estamos lidando com as famílias reconstituídas ou recasamentos. É evidente que com estas novas formulações familiares são geradas novas estruturas inter- nas nas famílias e consequentemente novas necessidades a serem supridas e reguladas pelo Es- tado, visto que é obrigação deste zelar pela assistência à família e seus membros, como os filhos gerados destas relações. 32 Sendo assim, do ponto de vista social e jurídico, é possível salientar que há novos direitos surgindo e estes devem ser amparados legalmente. Com isto, cabe ao direito organizar e suprir as novas necessidades da família. Tendo em vista que com a reorganização da estrutura familiar onde tanto o genitor quanto os filhos se agregam a outro cônjuge ou companheiro é comum a formação de vínculos entre estes, o que pode gerar efeitos no mundo jurídico, como o caso da adoção unilateral, ou não gerar afeito algum no âmbito jurídico, como a filiação sócio afetiva. Levando em consideração as mudanças da família nos últimos tempos, cabe ao direito, junto ao Estado, dar condições para que cada novo modelo familiar possa ter seus direitos resguardados conforme suas necessidades peculiares. A FAMÍLIA NA ATUALIDADE A noção de família vem se alterando ao longo dos anos e tomando novas formas na sociedade contemporânea. Houve mudanças significativas em diversos âmbitos do direito de família, levando a família a novos paradigmas, e com isto, a novas necessidades e perspectivas a serem estudadas. 1.1 A REPERSONALIZAÇÃO DA FAMILIA BRASILEIRA Em meio a diversas mudanças que vêm ocorrendo na sociedade, tanto no que diz respeito ao psicológico das pessoas quanto ao próprio âmbito social, a família passa a apresentar, também, diversas transformações, inclusive em seu núcleo. Estamos lidando com mudanças fortemente ligadas ao princípio constitucional brasileiro da dignidade da pessoa humana, princípio este que eleva a pessoa em sua entidade humana, garan- tindo assim uma maior proteção ao individuo em sua individualidade e personalidade. Atingindo o direito de família, esta nova personalidade dada ao agrupamento familiar gerou mudanças significativas como, por exemplo, a mudança de paradigma no que diz respeito à igual- dade de tratamento entre os filhos, cônjuges e companheiros. Esta proteção dada à cada individuo, levando em consideração sua individualidade e ampara- da pelo princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, leva o direito de família a um novo paradigma, onde o foco não é mais, apenas, o direito patrimonial, mas sim a elevação do individuo como digno de personalidade, seja como membro da família, seja em si mesmo. 1.2 OS PRINCÍPIOS QUE AMPARAM O DIREITO DE FAMÍLIA Dentro do ordenamento jurídico brasileiro, com a constituição federal de 1988, temos um ex- tenso manto de direito fundamentais basilares que servem de amparo para diversos campos dentro 33da sociedade. Sempre visando preservar a dignidade da pessoa humana e o bem-estar social, este ordenamento possui normas que cuidam de assuntos como a proteção aos direitos coletivos e individuais de cada cidadão. No que concerne ao direito de família, há, junto a constituição, princípios protetivos aos mem- bros do agrupamento que constitui uma família. Entre estes princípios, existem os mais específicos, sendo eles a dignidade da pessoa humana e a solidariedade, e os mais amplos que são a igualda- de, a liberdade, a afetividade, a convivência familiar e o melhor interesse da criança. No que diz respeito aos princípios específicos e fundamentais que amparam o direito de famí- lia pode-se citar a dignidade da pessoa humana e a solidariedade. a) A dignidade da pessoa humana A constituição visa dar ampla proteção à dignidade da pessoa humana em qualquer âmbito da sociedade e dentro da família não poderia ser diferente. No âmbito familiar a proteção da dignidade da pessoa humana visa, não elevar o individualismo, mas sim a essência humana de cada indivi- duo, estando ele dentro ou não de um agrupamento família. Falar em dignidade da pessoa humana significa colocar o individuo como pessoa dotada de personalidade. Com isto, cada membro da família deve receber proteção personalíssima, preser- vando tanto sua identidade individual quanto sua vida e sua integridade biopsíquica. 66 b) Princípio da solidariedade No início dos tempos, a solidariedade dentro da família era dada apenas como uma ação mutua entre os membros da família, fazendo com que cada membro se comportasse de forma a manter a comunidade familiar. À par da constituição federal de 1988, é possível ver que o princípio da solidariedade trilha dois caminhos pareados. Um se encontra no fato de que dentro da sociedade há uma coexistência social amparada pela solidariedade, onde todos os membros da sociedade devem contribuir para com o coletivo. No que tange ao caminho da solidariedade dentro do agrupamento familiar é possível enten- der que a família possui o dever e o direito à solidariedade tanto dentro como fora do âmbito fami- liar. O princípio da solidariedade dentro do âmbito familiar diz respeito à ação de cada membro da família em prol dos demais membros que a formam. Assim, ajudando a dar condições para que cada um alcance aquilo que almeja como, por exemplo, dar assistência psicológica, alimentícia, educacional dentre outras contribuições relativas ao desenvolvimento psíquico e social de cada membro da família. Assim como há princípios especiais que amparam o direito de família, há os princípios gerais, sendo eles: a igualdade, a liberdade, a afetividade, a convivência familiar e o melhor interesse da criança. Estes princípios põem em evidencia que 66 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil, v. 5: Direito de família e sucessões. Ed.7. São Paulo: Saraiva 2012. P. 36. 34 [...] o direito evoluiu, mas, muito há de se percorrer para que se converta em pratica social constante, consolidando a comunhão de vida, de amor e de afeto, no plano da efetivação desses princípios e da responsabilidade, que presidem as relações de família e em sociedade hodierna.67 No que diz respeito ao princípio da igualdade, seu amparo legal provém da constituição fede- ral de 1988, que em seu art. 227, parag. 6º descreve “os filhos, havidos ou não da relação de casa- mento, ou por adoção terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”. Este princípio visa assegurar o direito fundamental consagrado pelo artigo 5º, caput, da cons- tituição federal, onde todos são iguais perante a lei, sem qualquer distinção. Este princípio se es- tende aos filhos visando abolir quaisquer discriminações que venham as surgir em detrimento da origem da filiação. Sendo assim, diferente do que era antigamente, hoje em dia o filhos gerados por consanguinidade, adoção, ou até mesmo aqueles fora do casamento, terão tratamento igual no que diz respeito à lei, seja no âmbito jurídico ou afetivo. Assim como há igualdade entre os filhos, há a preservação da igualdade entre os cônjuges e companheiros, conforme exposto no art. 226, § 5º da constituição federal, e art. 1511, caput, do código civil. Nesta condição de igualdade entre os cônjuges e companheiros significa dizer que am- bos os cônjuges possuem direitos e deveres dentro da relação familiar. Esses direitos e deveres possuem isonomia em sua consagração, visto que não se pode ter hierarquia dentro da relação familiar. Dentre as atribuições dadas por esta isonomia, pode-se destacar, por exemplo, o pedido de alimentos tanto da mulher quanto do homem, além de, ambos poderem utilizar o sobrenome do outro.68 Partindo desta ideia da igualdade entre os cônjuges, é possível salientar, também, a igualda- de na chefia familiar, conforme exposto nos arts. 1566, III e IV, 1631 e 1634 do CC e arts. 226, § 5.º e §7º, da CF. Esta modalidade de igualdade se justifica no fato de que há uma relação mútua entre os cônjuges no que concerne ao poder familiar. Sendo assim, ambos os cônjuges possuem o poder de reger a família, tornando assim um regime de companheirismo e de cooperação69 em prol do bem estar do agrupamento familiar. Já princípio da liberdade se materializa no fato de que qualquer pessoa possui o direito de constituir família, tendo o direito de não sofrer intervenção, conforme exposto no art. 1513, caput do CC. Esta intervenção quer dizer que o Estado ou qualquer pessoa exterior ao grupo familiar não poderá, de forma coercitiva, intervir na comunhão da vivencia dos membros da família. Ainda conforme o exposto no caput do art. 1513 do CC faz-se necessário as devidas observa- ções. Quanto ao Estado, será permitida a intervenção no que diz respeito ao resguardo de certos direitos da família, como por exemplo, politicas públicas voltadas a sua preservação bem como 67 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 4.ed. – São Paulo: Saraiva, 2011. P.60. 68 TARTUCE, Flávio. Direito civil, v. 5: direito de família / Flávio Tartuce. – 9. Ed. rev., atual. E ampl. – Rio de Janei- ro: Forence, São Paulo; MÉTODO, 2014. P. 16. 69 TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 5.: direito de família / Flávio Tartuce – 9. Ed. ver. atual. E Ampl. – Rio de janei- ro: Forence, São Paulo: MÉTODO, 2014. P. 19. 35 apoio no âmbito do planejamento familiar, à saúde e a educação. Em vias de transição, o direito de família visa se modernizar e suprir as necessidades que a família possui. Com isto, no que diz respeito ao princípio da afetividade, os juristas buscam conhe- cer e aperfeiçoar os meios de efetivação desde princípio. O principio da afetividade não é algo que surgiu apenas na atualidade, ele é um princípio, ba- sicamente, estrutural dentro das relações familiares. Significa dizer que ele sempre esteve presente em qualquer relação que envolva os membros da família, seja nos laços consanguíneos, sejam nos laços meramente socioafetivos. No que tange ao principio da convivência familiar significa dizer que no âmbito familiar, há uma cooperação firme e consolidada que deve ser preservada pelos membros da família e pela comunidade como um todo. Cabe, ainda, dizer que no que concerne a ideia de convivência familiar é possível a analogia do ninho, onde os membros se cuidam e se protegem como um família em si. Tomando como caminho a ideia de convivência familiar torna-se possível ressaltar o principio do melhor interesse da criança, e consequentemente do adolescente. Partindo disto, cabe destacar que há diversos diplomas legais consagrados no ordenamento jurídico brasileiro, e em especial, o estatuto da criança e do adolescente, que em seu artigo 3º, caput, assegura a proteção integral da criança, salvaguardando à criança todo e qualquer direito, inclusive aqueles inerentes aos adultos. Esta proteção integral dada a criança se consagra no fato de que as crianças e adolescentes se encontram em fase de desenvolvimento, o que
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