Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Cuidados odontológicos em pacientes com Hipertensão arterial sistêmica A finalidade da estruturação de uma linha de cuidado da hipertensão arterial sistêmica (HAS) é consolidar a atenção à pessoa com essa doença, seguindo princípios de integralidade e de longitudinalidade do cuidado em todos os pontos de uma rede. Definição de HAS Segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão Arterial, pressão arterial é a pressão exercida pelo sangue nos vasos sanguíneos durante a circulação. Para manutenção da circulação sanguínea e pressão arterial, o coração realiza os movimentos de sístole e diástole. A alteração na pressão exercida durante esses dois movimentos é o que pode levar ao quadro de hipertensão. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA). A hipertensão arterial é mais prevalente na população masculina até os 50 anos de idade. A partir dessa faixa etária, esses números começam a se inverter, mostrando uma prevalência maior em mulheres. Porém, em ambos os sexos, os números são crescentes com o avançar da idade. A HAS é diagnosticada pela detecção de níveis elevados e sustentados de PA pela medida casual. Valores normais:Aceitam-se como normal para indivíduos adultos (com mais de 18 anos de idade) cifras inferiores a 85 mmHg de pressão diastólica e inferiores a 130 mmHg de pressão sistólica. Valores limítrofes: A inclusão da classificação normal limítrofe de 130-139 mmHg/ 85-89 mmHg alerta que esses indivíduos se beneficiarão com medidas preventivas. Condutas para o atendimento odontológico em pacientes com HAS: ● A história clínica odontológica deve incluir o diagnóstico de hipertensão, a forma de tratamento, a identificação dos medicamentos anti-hipertensivos, a adesão do paciente ao regime terapêutico médico, a presença de sintomas associados à hipertensão e o nível de estabilidade e controle da doença. ● Minimizar a queda brusca de PA e hipotensão ortostática, que podem cursar com síncope e acometer indivíduos usuários de anti-hipertensivos, em especial aqueles com efeito vasodilatador. ● Minimizar o risco de elevação rápida e sintomática da PA, invariavelmente com níveis de pressão diastólica (PAD) superiores a 120 mmHg, com risco potencial de deterioração de órgão-alvo ou de risco imediato de vida. Usuários com HAS que procuram a USF para atendimento odontológico precisam ter sua história clínica coletada previamente ao atendimento, obtendo-se informações sobre as condições de saúde. Nessa avaliação inicial, deve-se verificar quais são as necessidades destes usuários em relação a sua saúde bucal. Na consulta de revisão, o cirurgião-dentista deverá realizar o exame completo da boca, instrução de higiene bucal, quando necessário, e marcar retorno para manutenção conforme rotina da USF. O uso de Anestésicos Locais com vasoconstritor é indicado para pacientes hipertensos, em doses reduzidas, uma vez que o controle da dor e do estresse emocional são importantes, pois aumentam a liberação de catecolaminas endógenas. A sedação inalatória com óxido nitroso/oxigênio é recomendada para esse fim. Por apresentar como principal vantagem uma repercussão reduzida sobre o sistema cardiovascular, a literatura aponta que a felipressina 0,03 UI/ml é o vasoconstritor de melhor escolha para pessoas cardiopatas; essa evidência tem grau de recomendação D. A dose máxima de felipressina recomendada para pessoas cardiopatas não deve ultrapassar 0,27 UI, o que equivale a cinco tubetes de 1,8 ml. Enquanto a adrenalina 1:100.000 ou 1:200.000 também pode ser utilizada em doses pequenas; o ideal é não ultrapassar o limite de dois tubetes por sessão, quando se tratar de uma pessoa hipertensa controlada. Outro cuidado está relacionado à prescrição medicamentosa de anti-inflamatórios não esteroidais (Aines) que podem afetar o mecanismo de ação de drogas anti-hipertensivas como β-bloqueadores, inibidores da ECA e diuréticos. Por isso, devem ser prescritos por períodos curtos, de no máximo quatro dias. Estudos relatam que os Aines podem ser substituídos por analgésicos para evitar essa interação, entretanto, na prática, o uso de Aines produz um efeito clínico significativamente superior. Desse modo, seria ideal prescrever o medicamento por cerca de três dias e orientar a pessoa a diminuir a ingestão de sal durante o uso de Aines [Grau de Recomendação D]. Devem-se planejar sessões curtas de atendimento, preferencialmente na segunda parte do período da manhã. A pressão arterial (PA) deve ser monitorada antes, durante e após toda a intervenção, na dependência do quadro de hipertensão do paciente. Em situações de pulpite e abscessos, por exemplo, em pacientes com PA sistólica acima de 160 mmHg e/ou diastólica acima de 100 mmHg, deve-se discutir o caso com o médico da equipe antes de realizar o procedimento e avaliar de forma conjunta a medicação a ser indicada para a redução da PA É importante avaliar o risco para procedimentos invasivos em odontologia. Alto risco Risco moderado Baixo risco Cuidados odontológicos de pacientes com DRC Essas doenças apresentam grandes efeitos adversos na qualidade de vida dos indivíduos, causam mortes prematuras e geram grandes efeitos econômicos negativos para as famílias, as comunidades e os países. Particularidades da Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas: ● A Portaria nº 389 de 13 de março de 2014 define os critérios para a organização da linha de cuidado da pessoa com DRC e institui incentivo financeiro de custeio destinado ao cuidado ambulatorial pré-dialítico. ● Foco da atenção nas necessidades de saúde da população coordenado pela Atenção Primária à Saúde e contemplando todos os níveis de atenção; ● Diagnóstico precoce de modo a identificar as pessoas com DRC; ● Implementação da estratificação de risco da população com DRC de acordo com a classificação do seu estágio clínico, segundo a alteração de exame laboratorial da Taxa de Filtração Glomerular (TFG); ● Garantia de financiamento adequado para prevenção, tratamento dos fatores de risco e tratamento da DRC na Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas, em especial ao cuidado das pessoas com DRC em estágios clínicos pré-dialíticos, bem como para o cuidado das pessoas com necessidades de Terapia Renal Substitutiva (TRS); ● Garantia da educação permanente de profissionais da saúde para prevenção, diagnóstico e tratamento da DRC e dos fatores de risco que levam à DRC, de acordo com as diretrizes da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS); ● Implementação das diretrizes expressas no Programa Nacional de Segurança do Paciente; ● Garantia da oferta de apoio diagnóstico e terapêutico adequado para tratamento da DRC e dos fatores de risco que levam à DRC baseado nas necessidades de saúde, respeitando as diversidades étnico-raciais, culturais, sociais e religiosas; ● Articulação intersetorial e garantia de ampla participação e controle social; e ● Desenvolvimento de medidas que garantam a difusão das ações e do cuidado à pessoa com DRC em todos os pontos de atenção da linha de cuidado, bem como a comunicação entre os serviços de saúde para promoção do cuidado compartilhado. Independentemente do nível de atenção à saúde, o tratamento odontológico deverá atender ao cuidado humanizado ao portador de DRC. No caso específico da promoção da saúde do paciente em hemodiálise, propõem-se as seguintes ações: ● Acolhimento. ● Humanização do tratamento. ● Educação para saúde. ● Anamnese. ● Exames complementares. ● Avaliação odontológica inicial. ● Planejamento do tratamento. ● Estabelecer um protocolo de atendimento odontológico. ● Realização do tratamento e Retorno. 1 Antes do tratamento ● Acolhimento/humanização: estabelecer relação de confiança com o paciente. ● Entrar em contato com o nefrologista para obter informações sobre os exames complementares do paciente em questão. ● Avaliar os níveis pressóricos do paciente (hiper/hipotensão). ● Determinar a doença de basepara a insuficiência renal. ● Avaliar os parâmetros hematológicos do paciente (hemograma/coagulograma). ● Evitar o uso do braço com a fístula arteriovenosa para administração de medicamentos e a tomada de pressão arterial. ● Se necessário, instituir medidas hemostáticas. ● Determinar a presença de sintomas urêmicos (fadiga, náusea, vômito, letargia, prurido). ● Determinar o tipo de acesso vascular. ● Obter radiografias dentais (periapicais e panorâmicas) para diagnóstico e observar a manifestação de osteodistrofia renal. ● Obter informações com relação à rotina de hemodiálise do paciente (dias da semana/tempo médio/intercorrências mais comuns). ● Requisitar exames regulares para o diagnóstico para hepatite B, função hepática, tempo de protrombina e tempo parcial de tromboplastina. ● Considerar a profilaxia antibiótica e discutir o protocolo com o nefrologista, quando necessária. ● Considerar o uso de ansiolítico como pré-medicação para pacientes hipertensos. 2 Durante o tratamento ● Realizar exames frequentes para determinar manifestações intrabucais. ● Eliminar todas as fontes de infecção intrabucal. ● Usar medidas hemostáticas em cirurgias orais e periodontais. ● Posicionar o paciente confortavelmente. ● Permitir ao paciente se locomover durante a sessão de procedimentos prolongados. 3 Após o tratamento ● Encorajar o paciente aos cuidados com a saúde bucal diária. ● Instituir terapêutica para xerostomia, se indicado. ● Ajustar as dosagens do medicamento prescrito, de acordo com a extensão da insuficiência renal. ● Instituir retornos frequentes ao consultório odontológico. Definição de Doença Renal Crônica (DRC): A insuficiência renal ou doença renal é a perda das funções renais, em decorrência de distúrbios vasculares, nos glomérulos, nos túbulos, no interstício renal ou no trato urinário inferior, podendo ser aguda ou crônica. A Doença Renal Crônica (DRC) é definida de acordo com a National Kidney Foundation, como dano renal ou redução da função renal por mais de três meses, independentemente da causa. O nível de redução de função renal é determinado pela Taxa de Filtração Glomerular (TFG), que mede a capacidade dos rins de depurar uma substância a partir do sangue. Função renal normal: TFG de aproximadamente 120 mL/min/1.73m² Função renal diminuída: TFG < 60 mL/min/1.73m² Os danos da DRC nos estágios 1 e 2 são reversíveis, mas a partir do estágio 3 o dano é permanente e será progressivo até atingir o estágio 5, que será fatal se não houver a possibilidade de diálise ou de transplante. A maior prevalência em adultos ocorre, sobretudo, pelo envelhecimento da população e pelo maior número de indivíduos acometidos por hipertensão e diabetes mellitus, principais causas da DRC em adultos. As causas da DRC em adultos incluem: HAS, diabetes mellitus, glomerulonefrite e causas indeterminadas. Nas crianças, condições herdadas geneticamente, doenças glomerulares e as malformações do trato urinário são as causas mais comuns. A DRC é devastadora quando acomete crianças e adolescentes. A DRC nos estágios iniciais é comumente assintomática, o que dificulta a detecção precoce. Para a determinação da causa são avaliados história médica anterior e familiar, fatores ambientais e sociais, medicações, exames físicos, laboratoriais, imaginológicos e histopatológicos. Na DRC, a perda de função renal é frequentemente assintomática e o paciente descobre a doença em fases avançadas, quando uma ou mais complicações já estão presentes. Os principais sintomas da DRC são: ● Inchaços nas pernas; ● Falta de apetite; ● Palidez cutânea; ● Cansaço; ● Aumento da pressão arterial; ● Alteração dos hábitos urinários. A redução da capacidade dos rins provoca retenção de inúmeras substâncias provenientes do metabolismo proteico, alteração da pressão arterial e do hematócrito, além de desequilíbrios nos níveis de potássio, sódio, água e equilíbrio ácido-base Nos estágios avançados as hospitalizações são frequentes e há um significativo aumento da morbidade e mortalidade, notadamente pelos problemas cardiovasculares. A doença renal crônica é multifacetada e sua complexidade exige múltiplas abordagens. Um atendimento coordenado e interdisciplinar deve envolver: ● Aconselhamento nutricional. ● Cuidado nas prescrições medicamentosas, com atenção especial aos de metabolização renal. ● Controle da glicemia e da pressão arterial. ● Reabilitação física. ● Apoio psicológico. ● Manutenção da saúde oral. Tratamento das DRC De acordo com as diretrizes da K/DOQI, o tratamento da DRC deve ser individualizado, baseado no diagnóstico, no estágio da doença e no estado clínico do paciente e tem o objetivo de prevenir e retardar a perda da função renal, controlar a hipertensão, anemia, as doenças cardiovasculares e outros fatores de risco. Em crianças, a atenção também se volta para os problemas do crescimento e desenvolvimento. No estágio mais avançado o paciente é preparado para a Terapia Renal Substitutiva (TRS) que inclui a diálise peritoneal, a hemodiálise e o transplante renal. A diálise remove metabólitos do sangue e é o tratamento mais comumente utilizado para DRC em estágio final, seguido do transplante renal. Abordagem odontológica Manifestações bucais A literatura relata a ocorrência de diversas alterações nos tecidos duros e nos tecidos moles da cavidade bucal em adultos e crianças com DRC. Algumas manifestações estão associadas à própria doença; outras, às medicações utilizadas: 1 Alterações de tecido mole Entre as alterações de tecido mole, destacamos a palidez da mucosa oral, petéquias e equimoses, e a estomatite urêmica. A estomatite urêmica é uma condição dolorosa e debilitante rara, causada provavelmente pelo acúmulo de substâncias nitrogenadas no sangue e que pode ocorrer nos estágios avançados da DRC. A presença de sangramento gengival, infecções e supressão imunológica podem ser fatores coadjuvantes no desenvolvimento dessa estomatite. Pode apresentar-se como lesão ulcerada, hemorrágica, recoberta por pseudomembrana ou até mesmo hiperqueratótica. 2 Alterações do metabolismo Por sua vez, alterações do metabolismo do cálcio e a ocorrência de hiperparatiroidismo nos pacientes com DRC podem levar a anormalidades ósseas e dentárias, como desmineralização óssea, hipoplasia de esmalte, calcificação e estreitamento pulpar, além de atrasos na erupção dentária. 3 Alterações no paladar Mudanças no paladar, diminuição do fluxo salivar com sensação de boca seca, além de hálito urêmico são queixas comuns. Estudos mostram que, apesar de comumente a higiene bucal nos pacientes ser deficiente, a dieta ser rica em carboidratos (necessária para reduzir o trabalho renal), os índices de hipoplasia de esmalte serem altos, o uso de medicações ser contínuo e o fluxo salivar ser baixo, a prevalência de cárie dental é baixa. A gengivite e a periodontite têm sido observadas em alguns estudos. Resultados preliminares de um estudo de coorte, demonstraram que pacientes com DRC em pré-diálise e com alto risco para eventos cardiovasculares apresentaram alta prevalência, severidade e extensão de doença periodontal. Condutas para o atendimento odontológico Embora fatores relacionados à complexa condição sistêmica da doença renal estejam envolvidos na ocorrência dos problemas bucais encontrados nesses pacientes, quer sejam adultos, quer sejam crianças, não podemos nos esquecer do papel etiológico do acúmulo de placa no processo da doença periodontal. A pobre higiene bucal é um achado frequente nos pacientes crônicos renais, o que agrava a condição bucal. Além disso, pesquisas indicam uma baixa procura por cuidados odontológicos, embora os pacientes com DRC sejam acometidos por inúmeros problemas bucais e sofram transtornos locais e sistêmicos. As piores condições de saúde bucal em pessoas com DRC podem contribuir para o aumento da morbidade e mortalidade quando associadas às manifestações sistêmicas da doença, como inflamação, infecções, perdas energético-proteicas, complicações ateroscleróticas e hematológicas. O risco aumentado paraendocardite bacteriana é mencionado por alguns autores, porém não há evidência científica que suporte o uso do antibiótico profilático antes de procedimentos odontológicos invasivos. No que se relaciona aos cuidados com hemostasia e à prescrição de medicamentos, o atendimento interdisciplinar com o nefrologista é importante. Na anamnese devem ser coletadas informações relativas à condição sistêmica do indivíduo e solicitados exames hematológicos, coagulograma, creatinina e ureia. O ideal é que pacientes que fazem hemodiálise sejam atendidos no dia seguinte a ela, à medida que o atendimento após a diálise os expõem a um maior risco hemorrágico. Mesmo assim, não é raro o paciente com DRC em estágio avançado exibir disfunção plaquetária. Dessa forma, após exodontias, recomenda-se o uso de hemostáticos locais quando maior sangramento for observado. Algumas drogas, tais como os anti-inflamatórios não esteroidais devem ser evitados. Por outro lado, analgésicos com metabolização hepática são preferíveis para esses pacientes A prescrição de amoxicilina, por exemplo, para um adulto com DRC, pode incluir doses de 500 mg de 8 em 8 horas para aqueles indivíduos com TFG maior que 50 mm/min. Enquanto aqueles com TFG entre 10 ml e 50 ml/min e menor que 10 ml/min devem, respectivamente, receber uma dose a cada 12 e 24 horas. TABELA DE DOSAGEM Cuidados odontológicos com pacientes diabéticos Segundo a American Diabetes Association, a diabetes mellitus (DM) pode ser entendida como uma condição pertencente a um grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos que apresenta em comum a hiperglicemia, sendo resultante de defeitos na ação da insulina, na secreção de insulina ou em ambas. A diabetes é um problema de saúde pública, com grande morbidade decorrente de complicações agudas e crônicas, com alta taxa de hospitalizações e de mortalidade. O número de casos e a sua prevalência têm aumentado ao longo das últimas décadas. Entre os fatores relacionados a esse aumento, estão: Envelhecimento populacional; Urbanização; Sedentarismo; Obesidade; Longevidade aumentada das pessoas com DM. DM TIPO 1 Responsável por 5% a 10% dos casos de diabetes. Caracteriza-se pela deficiência absoluta da produção de insulina. É causada predominantemente pela destruição autoimune das células beta do pâncreas. Outras causas são fibrose cística, perda de tecido pancreático ou remoção cirúrgica do pâncreas. DM TIPO 2 É a forma mais comum de diabetes, presente em 90% a 95% dos casos. Caracteriza-se pela diminuição da resposta tecidual aos níveis normais de insulina circulante ou pela produção insuficiente de insulina. É associado à obesidade e ao sedentarismo. DM GESTACIONAL É definida como qualquer grau de redução da tolerância à glicose, cujo início ou detecção ocorre durante a gravidez. No Brasil, afeta cerca de 7% de todas as gestantes e implica risco aumentado do desenvolvimento de diabetes para a mãe após o parto e para o bebê. OUTROS TIPOS Pertencem a essa categoria formas menos comuns de DM, tais como DM induzido por drogas, DM associado a síndromes genéticas, DM associado a endocrinopatias ou DM associado à disfunção exócrina do pâncreas. Existem duas situações denominadas de “pré-diabetes”, consideradas de risco aumentado para o desenvolvimento do DM: a glicemia de jejum alterada e a tolerância à glicose diminuída. A glicemia de jejum alterada está relacionada às concentrações de glicemia de jejum inferiores ao critério diagnóstico para DM, contudo mais elevadas que o valor de referência normal. A tolerância à glicose diminuída representa uma anormalidade na regulação da glicose no estado pós-sobrecarga, diagnosticada por meio de teste oral de tolerância à glicose (TOTG). Sinais e sintomas Definição A diabetes tipo 2 pode ser assintomática em grande parte dos indivíduos, por isso, cerca de 50% das pessoas com diabetes não sabem que têm a doença, muitas vezes permanecendo não diagnosticados até complicações se manifestarem. Por vezes, podem ser observados os chamados “sintomas clássicos” da diabetes, também conhecidos como os “4 Ps”, como distribuídos abaixo: ● Poliúria ● Polidpsia ● Polifagia ● Perda de peso A diabetes é uma doença que pode levar a complicações crônicas e agudas. Complicações crônicas: Nas fases mais avançadas da doença, pode ocorrer uma série de complicações crônicas, como: neuropatia, retinopatia, doença cardiovascular aterosclerótica, entre outras. Essas complicações decorrem principalmente das alterações vasculares (macro e micro) causadas pela hiperglicemia. Complicações agudas: Em casos de DM tipo 1, as primeiras manifestações clínicas são evidentes e agudas, aparecem em menos de uma semana após a instalação da doença, sendo acompanhadas por quadro de cetoacidose. Complicações agudas Diferente do que muitos podem achar, as pessoas com diabetes podem ter complicações tanto por hiperglicemia quanto por hipoglicemia. Assim, suas complicações agudas podem estar relacionadas a essas oscilações drásticas de glicose circulante. A hipoglicemia é definida por valores sanguíneos de glicose abaixo de 70mg/dl no sangue. Pode ser assintomática ou vir acompanhada de sintomas. ● fome súbita ● taquicardia ● sudorese ● fadiga ● tremores ● tontura ● irritabilidade ● dor de cabeça ● desorientação ● dormência nos lábios e na língua ● visão dupla ou turva Quando não tratada, a hipoglicemia pode evoluir para convulsão, coma e morte. As complicações agudas relacionadas à hiperglicemia são a cetoacidose diabética (CAD) e o estado hiperglicêmico hiperosmolar (EHH), e ambas podem ocorrer na diabetes mellitus tipos 1 e 2 (DM1 e DM2). Os fatores precipitantes mais comuns de CAD e EHH são as infecções, especialmente as do trato respiratório superior, as pneumonias e as infecções de vias urinárias. Os tratamentos da CAD e o EHH são similares e devem ser conduzidos em unidade de terapia intensiva. Hipoglicemia = 70 mg/dl Hiperglicemia = 200 mg/dl Complicações crônicas As complicações crônicas determinadas pela hiperglicemia decorrem da microangiopatia, da macroangiopatia e da neuropatia. As mais comuns são: ● Nefropatia; Causa alterações no processo de filtração glomerular, comprometendo a excreção em pequenas quantidades de moléculas de proteínas de baixa massa molecular pela urina. ● Neuropatia diabética: afeta os sistemas cardiovascular, digestivo, urogenital, o sistema glandular, além de comprometer a motricidade pupilar. ● Retinopatia; complicação ocular mais severa, estando entre as principais causas de cegueira irreversível ● Doença cardíaca coronária; ● Doença cerebrovascular; ● Polineuropatia; ● Pé diabético. ● Gastroparesia diabética: Caracteriza-se pelo retardo do esvaziamento gástrico, com diminuição da motilidade gástrica, esofágica e intestinal. Essas alterações podem estar associadas ao tempo que a pessoa possui DM, à descompensação no controle metabólico, à presença e ao controle da hipertensão, e à suscetibilidade genética, entre outros fatores. Diagnóstico Atualmente, são quatro os critérios aceitos para o diagnóstico da DM: a glicemia em jejum (oito horas); a glicemia casual; a tolerância oral à glicose; e a hemoglobina glicada, cada um possuindo valores de corte diferentes para determinação do diagnóstico. Tratamento O tratamento da diabetes fundamenta-se no controle dos níveis de glicose no sangue, com o objetivo de prevenir as complicações agudas e crônicas. Segundo a SBD, os principais recursos para o tratamento do indivíduo com diabetes tipos 1 e 2 incluem a modificação do estilo de vida, práticas de atividade física, reestruturação dos hábitos alimentares e uso de medicamentos e/ou insulina, quando necessário. Na diabetes tipo 1, é necessário o uso de insulina no tratamento, uma vez que o pâncreas não a produz. Existem vários tipos de insulina, com diferentes tempos de ação. O tratamento, seja com múltiplas doses ou com o sistema de infusão contínua de insulina, requer o monitoramento intensivo do paciente por meio dos testes de verificação da glicemia capilar ao longo do dia. Na diabetestipo 2, o controle metabólico inclui estratégias que visam à mudança no estilo de vida, reorganização da dieta e uso de hipoglicemiantes orais e, se necessário, o uso de insulina exógena, quando o pâncreas perde a capacidade de secreção. Hábitos modificáveis que podem contribuir para o controle da diabetes tipo 2 incluem: prática de exercícios físicos, alimentação saudável, manutenção do peso ideal e caminhadas. Assim como na DM 1, orienta-se que seja verificada a glicemia pelo menos uma vez por dia. Manifestações bucais Não existem manifestações bucais específicas da diabetes, mas algumas alterações parecem estar relacionadas com sua presença e com a qualidade do controle glicêmico. Algumas das alterações bucais mais frequentemente observadas são: ● Doença periodontal (DP); ● Diminuição do fluxo salivar; ● Infecção oportunista. Alguns estudos mostram que há prevalência e severidade de DP em indivíduos com diabetes quando comparados a pessoas sem diabetes 1. Alguns dados sugerem que a severidade da DP está relacionada com o grau de controle metabólico, com o tempo de duração da diabetes e com a presença de comorbidades 2. A DP também pode interferir no controle glicêmico, pois trata-se de uma infecção. Uma vez diagnosticada a DP, o tratamento local deve ser instituído com os mesmos princípios adotados para pacientes sem diabetes A xerostomia e, especialmente, a diminuição do fluxo salivar podem decorrer da descompensação glicêmica, e surgir em virtude da desidratação. Essas manifestações também podem estar associadas ao uso de medicamentos potencialmente xerostômicos, que muitas vezes são usados por pessoas com diabetes.Além do desconforto, a boca seca também aumenta a suscetibilidade a infecções oportunistas fúngicas, principalmente a candidíase. Estudos sugerem que pacientes que possuem DM podem ter uma maior predisposição para desenvolver candidíase oral. A candidíase oral manifesta-se com a presença de placas ou pontos esbranquiçados na cavidade oral. A seguir, estão listadas algumas medidas possíveis para ajudar os pacientes com diabetes e redução do fluxo salivar: ● Emprego de estimulantes salivares; ● Substitutos salivares artificiais; ● Bochechos fluoretados; ● Boa higiene bucal. A síndrome da boca ardente, definida como dor ou sensação de ardência intensa na mucosa bucal, sem etiologia identificada, pode estar relacionada secundariamente a diabetes, alterações hormonais, deficiências nutricionais, entre outras situações. Tratamento odontológico do paciente com diabetes A anamnese odontológica do paciente com diabetes, além de bastante detalhada, deve também avaliar as condições gerais, verificando se o usuário apresentou internações, picos ou declínios de glicemia, de modo a conhecer o histórico odontológico (como e quando foi o último acompanhamento), entre outras informações que possam colaborar com um planejamento seguro. Atenção principal deve ser dada aos níveis recentes de glicemia de jejum e de hemoglobina glicada, tipo e posologia dos medicamentos antidiabetogênicos, e comorbidades presentes. Antes de iniciar a consulta odontológica, mesmo que os procedimentos a serem realizados não sejam invasivos, é prudente aferir a glicemia capilar, considerando sempre as informações do paciente sobre a hora e a dose do medicamento ingerido e a hora da última ingestão alimentar. O cirurgião-dentista não deve executar procedimentos se os níveis de glicemia capilar apontarem valores inferiores a 70 mg/dl, a fim de prevenir crise hipoglicêmica. Nesses casos, pedir para o paciente se alimentar e depois iniciar o atendimento. Presença de sintomas Quando a glicemia está acima de 250 mg/dl e houver sinais e sintomas, tais como náuseas, letargia, dor abdominal, dispneia, alterações visuais, sonolência, irritabilidade, taquicardia, hipotensão postural, desidratação, hipotermia, respiração de Kussmaul, hálito cetônico, a consulta deve ser postergada e o paciente deve ser encaminhado para o pronto atendimento, uma vez que ele provavelmente está em quadro de cetoacidose. Ausência de sintomas Mas se o paciente estiver clinicamente bem, mesmo com valores acima de 250 mg/dl, intervenções odontológicas, especialmente no sentido de redução da dor e dos quadros de infecção, podem ser realizadas. Se durante a consulta odontológica o paciente apresentar queda nos níveis de glicose (crise hipoglicêmica), o tratamento deve ser suspenso imediatamente.Posicionar o paciente confortavelmente na cadeira e oferecer um copo com água ou xícara de chá bem adocicado, uma bala ou, ainda, um bombom – correspondendo a cerca de 10 g a 20 g de carboidrato de absorção rápida, repetindo-se em 15 minutos, se necessário. Após sua administração, testar novamente os níveis de glicose após 15 min. O que fazer caso o paciente esteja apresentando sintomas de hiperglicemia: Orienta-se suspender o atendimento e acionar a equipe médica. É primordial que o paciente seja questionado sobre o uso da medicação. É importante destacar que a adrenalina é um grande precursor da hiperglicemia, e que o tratamento odontológico muitas vezes pode desencadear sentimentos ou emoções que acabam provocando o seu aumento. Assim, o profissional que irá prestar assistência deve dialogar com o usuário sobre como será realizado o tratamento e sobre quais devem ser as condutas anteriores à consulta, com a finalidade de dirimir processos que aumentem a adrenalina no momento do atendimento. O uso de anestésico com vasoconstritores em pacientes com DM é permitido e aconselhável. Indica-se anestésico com adrenalina 1:100.000, obedecendo-se às doses máximas recomendadas. A felipressina é outro vasoconstritor que pode ser utilizado de forma segura nos pacientes com DM, visto que não altera a glicemia, frequência cardíaca ou pressão arterial. Deve ser evitada a prescrição de longo prazo de anti-inflamatórios não esteroidais, que são medicamentos metabolizados nos rins. Esses estudos permitem inferir que pacientes com DM tipo 2 não precisam receber profilaxia antibiótica pelo fato exclusivo de terem diabetes, antes de exodontias simples. Os estudos mostram que mesmo aqueles que apresentam controle glicêmico pobre, mas que estão clinicamente bem e cujo hemograma não mostra alteração, especialmente da série branca, não exibem complicações pós-exodônticas em frequência maior que a esperada para a população normorreativa. DOENÇAS FALCIFORMES Manifestações bucais das Doenças Falciformes ● Palidez da mucosa oral; ● Atraso da erupção dentária; ● Língua lisa, descorada e despapilada; ● Deformidades cranianas, como a turricefalia; ● Hipomaturação e hipomineralização em esmalte e dentina; ● Reabsorção externa radicular, hipercementose; ● Taurodontia; ● Calcificações da câmara pulpar Apesar de ser caracterizada por uma maior suscetibilidade às infecções, a Anemia Falciforme não parece predispor as doenças periodontais; nem a doença cárie. Porém, já se sabe que a Anemia Falciforme está associada a necrose pulpar assintomática em dentes hígidos. A Anemia Falciforme também pode atuar como fator de risco para más oclusões moderada e severa devido a expansão da medula óssea, fenômeno característico da doença, que induz ao crescimento excessivo da maxila, aumentando o overjet e, consequentemente, a distância interlabial. A sedação por inalação de óxido nitroso/oxigênio é a técnica eleita para manejo da ansiedade de pessoas com Doenças Falciformes. Pacientes hipoesplênicos ou esplenectomizados são imunossuprimidos, por isso, devem ser submetidos à profilaxia antibiótica. A sedação com benzodiazepínicos deve ser evitada O uso de vasoconstrictor é indicado Aspirina e anti-inflamatórios não esteroides devem ser evitados O padrão trabecular grosseiro dos ossos maxilomandibulares de pessoas com Anemia Falciforme PODE REDUZIR as chances de sucesso dos implantes dentários, uma vez que poderá dificultar a osteointegração, o que pode comprometer o prognóstico do tratamento; Dentes hígidos com necrose pulpar em pessoas com Anemia Falciforme, sem evidências clínicase imagenológicas de lesão periapical, DEVEM SER monitorados periodicamente, a cada seis meses, como MEDIDA PREVENTIVA para infecções endodônticas.
Compartilhar