Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO- UEMA DEPARTAMENTO DE FÍSICA DISCIPLINA: FUNDAMENTOS DOS CONCEITOS EM ENSINO DE FÍSICA KARINY ALANDA TEIXEIRA COSTA FILÓSOFOS QUE DISCORDARAM DAS IDEIAS ARISTOTÉLICAS E SUAS PRINCIPAIS TEORIAS CAXIAS-MA 2020 KARINY ALANDA TEIXEIRA COSTA FILÓSOFOS QUE DISCORDARAM DAS IDEIAS ARISTOTÉLICAS E SUAS PRINCIPAIS TEORIAS Trabalho acadêmico do curso de graduação em Física da Universidade Estadual do Maranhão- UEMA. Professor (a): Olívia Araújo de Aragão Diniz. CAXIAS- MA 2020 3 Kariny Alanda Teixeira Costa 1 RESENHA CRÍTICA SOBRE OS FILÓSOFOS QUE DISCORDARAM DAS IDEIAS ARISTÓTELICAS E SUAS PRINCIPAIS TEORIAS RESUMO A ciência como conhecemos atualmente surgiu com os filósofos gregos, quando o sobrenatural deixou de ser usado para a explicação de fenômenos da Natureza, que passaram a ser explicados por meio de causas naturais. O apogeu da filosofia grega ocorreu com Aristóteles, o primeiro filósofo a apresentar um sistema compreensível do mundo. De fato, Aristóteles foi um dos protagonistas da história do desenvolvimento da ciência, e por isso é necessário ter o conhecimento de seu trabalho para a compreensão dos diferentes estágios de desenvolvimento científico da física e seu avanço. Como na ciência não há dogmas e certezas, logo as ideias aristotélicas foram questionadas por seus sucessores. As discordâncias a respeito das suas ideias ocorreram desde os filósofos da antiguidade, como Teofrasto, Hiparco, Ptolomeu; mas foi na Idade Média que sucederam discursões e críticas sobre a filosofia de Aristóteles bem como a total revisão da sua teoria do movimento. Somente no século XVII a física começou a surgir como ramo científico independente com os filósofos e cientistas como Kepler, Galileu e Descartes, que formularam princípios e leis, fizeram observações experimentais, verificações metódicas e publicaram suas ideias e resultados. A ciência moderna teve um demasiado sucesso no entendimento do Universo, entretanto esse conhecimento abrangente foi conquistado ignorando de forma deliberada a questão de propósito, que era verdadeiramente valiosa para Aristóteles. Palavras-chave: Filosofia aristotélica; conhecimento científico; teorias. Aristóteles (384-332 a.C.) nasceu em Estagira, uma cidade grega na Macedônia. Estudou com Platão 2 em Atenas, onde ficou até a morte do mestre. Ao regressar à Macedônia, se tornou tutor do jovem Alexandre. Quando Alexandre subiu ao trono, Aristóteles voltou para Atenas e fundou uma escola, o Liceu. Ele se propôs a explicar todos os fenômenos 1 Aluna do curso de Física licenciatura da Universidade Estadual do Maranhão- UEMA, e-mail: karinyalanda5@gmail.com 2 Platão (427-348 a.C.), influenciado por filósofos como Heráclito, Anaxágoras e os pitagóricos. 4 físicos conhecidos, de uma maneira racional, partindo de algumas suposições básicas. Durante toda a sua vida, Aristóteles demonstrou um enorme interesse no estudo da natureza. Ele se dedicou à investigação de diversos tópicos, partindo de questões gerais como movimento, lugar, causalidade e tempo, até pesquisas e explicações sistemáticas de fenômenos naturais em diferentes tipos de elementos da natureza. Sua obra é considerada a primeira tentativa de descrever o Universo físico de forma lógica, utilizando argumentos baseados em observações da natureza e suposições simples. Na concepção aristotélica, o mundo era ordenado, organizado, dotado de propósitos, onde todas as coisas se moviam para fins determinados pela sua própria natureza. De acordo com seu pensamento, tudo o que possuía uma explicação completa deveria considerar não somente o material, mas também o propósito para o que existe ou foi criado, a causa final. Por volta do século V a.C., os atomistas 3 apresentaram uma visão de que os fenômenos que ocorriam no Universo se explicariam pela causalidade mecânica. Segundo eles, o mundo era constituído de uma quantidade infinita de pequenos corpúsculos sólidos, eternos, imutáveis, indivisíveis, invisíveis a olho nu e que se moviam aleatoriamente, chamados de átomos. As mudanças ocorreriam devido ao rearranjo deles no espaço, portanto, assim, toda mudança era movimento. Logicamente, essa visão mecanicista do Universo foi rejeitada por Aristóteles. Ele igualava o atomismo a uma vontade cega apoiada na pura chance que abria mão do controle da Natureza. Em sua Filosofia, foi contrário a muitos pensamentos de seus precedentes, tais como Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímenes, os pitagóricos, os atomistas e até mesmo seu mestre Platão. Concordava com Platão que as Formas eram reais, porém recusava a tese, presente na filosofia platônica, na qual a Forma tinha a existência independente de sua expressão no mundo das aparências, ou seja, as formas existiriam mesmo na ausência do mundo físico. Aristóteles afirmava que forma e matéria constituíam todos os objetos, eram eternas e equitativamente importantes, sendo que uma não poderia existir sem a outra. Aceitava a teoria da composição da matéria pelas combinações dos quatro elementos (terra, fogo, água e ar), que foi proposta originalmente por Empédocles e adotada por Platão. Para Aristóteles, os elementos poderiam se transformar uns nos outros, pois a matéria seria capaz de possuir várias formas. Dado que as preocupações científicas de Aristóteles eram divergentes das de Platão, ele elaborou uma sistematização científica distinta. Em seus tratados Física. Do Céu, 3 Entre os principais atomistas estavam Leucipo de Mileto, e na geração seguinte Demócrito de Abdera. 5 Meteorologia e Metafísica, ele apresentou as suas ideias sobre a Filosofia da Natureza. A opinião de Aristóteles foi considerada como a palavra final durante mil anos. Nos séculos que sucederam surgiram uma série de críticas ao seu sistema, sobretudo relacionadas à teoria do movimento. Depois da morte de Aristóteles, Teofrasto (371-286 a.C.), se tornou líder do Liceu, onde ficou por mais de trinta e seis anos. Não concordava com alguns pontos da filosofia aristotélica, principalmente sobre a explicação teleológica de que tudo no Universo servia para um propósito identificável. Não aceitava a ideia de que tudo tem uma finalidade e acreditava na existência de certo elemento de chance no mundo. O sucessor de Teofrasto, Estraton (286-268 a.C.), dedicou-se ao estudo da Natureza, construindo equipamentos e testando experimentalmente algumas das hipóteses por ele apresentadas. Propôs que a teoria de movimento de Aristóteles fosse revisada, negando a separação entre corpos leves e pesados, com o argumento de que todos os corpos tinham peso. Acreditava também que a velocidade dos corpos pesados aumentava quando eles caíam. Hiparco de Nicéia, que esteve em Alexandria, viveu no século III a.C. e é considerado como o maior astrônomo da antiguidade. Hiparco fez críticas sobre a explicação do movimento de um projétil dada por Aristóteles. Aplicou o movimento a uma força impressa no projétil, que diminuía progressivamente. Ao contrário de Aristóteles, acreditava que quanto mais distantes os corpos se encontrassem de seus lugares naturais, mais pesados eles eram. Explicou a aceleração dos corpos em queda livre, caindo a partir do repouso, alegando que uma força residual, originada naquilo que mantinha o corpo originalmente em repouso, permanecia no corpo e que diminuía de forma gradual à medida que o corpo caía. Combinada com o peso do corpo, essa força decrescente, no sentido para cima, causava então a aceleração. Ele assumia assim a visão aristotélica de que a velocidade é proporcional à força.Outro personagem importante de Alexandria foi Arquimedes 4 (287-212 a.C.), que também viveu em Siracusa na Sicília. Contrário à Aristóteles, segundo o qual a mecânica era integrada a uma teoria física em que o sistema do mundo estava englobado, Arquimedes fez da estática uma ciência autônoma e racional. Enquanto Aristóteles defendia a crença de que o mundo era constituído de qualidades e formas que não podiam ser expressas precisamente em termos matemáticos quantitativos, Arquimedes uniu a Geometria e os objetos físicos. Somente no final da Idade Média os físicos voltaram às técnicas de Arquimedes em substituição à análise qualitativa de Aristóteles. 4 Introduziu na ciência o método demonstrativo clássico onde teoremas são obtidos, por meio de regras de inferência, a partir de axiomas ou postulados e de teoremas já demonstrados. 6 Um importante nome no primeiro século a.C. foi Posidonius. Ele nasceu na Síria, de pais gregos, mas estudou em Atenas. Influenciou significativamente a comunidade intelectual romana através de vários de seus pupilos. Explicou o fenômeno das marés como a manifestação de forças permeando todo o espaço, forças essas que eram completamente diferentes do conceito aristotélico. Aristóteles acreditava que o Sol agindo sobre os ventos fazia movimentar os oceanos, causando as marés, onde ocorriam somente forças de contato, para ele a força era proporcional à velocidade do corpo. Para Posidonius, força era uma correspondência mútua de ação, uma “simpatia” entre corpos. Depois esse conceito de “simpatia” foi usado pra dar suporte à astrologia. Lucrécio (séc. I a.C. ) foi o criador de uma das grandes obras literatura universal: o poema A Natureza das Coisas. Neste poema há a fusão de poesia e filosofia para divulgar a doutrina do filósofo grego Epicuro (300 a.C.), que foi formado nos ensinamentos de Sócrates e reformou o atomismo dos pré-socráticos, principalmente de Demócrito. O poema trata a natureza reduzida a átomos e ao vazio. Esta física está centrada no átomo como elemento infinitesimal da matéria. É evidente que Lucrécio, ao afirmar que o mundo era inerte, vazio e apoiado em entidades microscópicas não observáveis, foi totalmente contra as ideias aristotélicas de um mundo organizado, ordenado, de propósitos, governado por uma finalidade. Além disso, para Aristóteles, a Natureza era um sistema vivo e autoregulante. Um famoso e grande astrônomo, matemático e verdadeiro gênio da escola Alexandrina foi Cláudio Ptolomeu (circa 100-178 d.C.). No seu grande livro Almagesto, ele sistematizou o sistema geocêntrico, descrevendo matematicamente os movimentos dos planetas como se a Terra estivesse parada no centro do Universo. Procurou calcular com precisão esses movimentos celestes sem estar preocupado com as suas causas. Seu modelo utilizou a ideia de que os planetas orbitavam pequenos ciclos chamados epiciclos e que esses epiciclos orbitavam a Terra. Ptolomeu não se manteve próximo da filosofia de Aristóteles, especialmente em relação ao movimento circular uniforme. Introduziu outros elementos em seu sistema como o excêntrico, o deferente e o equante. Este último inseriu o movimento não uniforme no céu, violando princípios aristotélicos. Além disso, Ptolomeu usou círculos no lugar de esferas, contrário ao sistema de Aristóteles que usava a ideia de esferas, porém manteve o movimento circular. No início do século II d.C. se deu o começo da influência romana sobre a Grécia, Egito e Ásia Menor, e no ano 380 o cristianismo tornou-se a religião oficial de Roma, influenciando fortemente a Filosofia. Entre os primeiros filósofos cristãos, o mais influente e culto, foi Santo Agostinho. Contrário a Aristóteles, que manifestava seu interesse vitalício 7 pelo estudo da Natureza, Santo Agostinho afirmava que o único conhecimento realmente desejável era o conhecimento de Deus e da alma. No final do século V, houve a queda do Império Romano do Ocidente que deu início à Idade Média. No Império Romano Bizantino, destacam-se obras voltadas para a filosofia natural. No século VI, um personagem da escola de Alexandria, John Philoponus, escreveu um comentário a respeito da Física aristotélica, refutando sua teoria do movimento. Ele apresentou críticas sobre a teoria de movimento de um projétil e criticou também a alegação de que um corpo pesado cai com a velocidade proporcional ao seu peso. Afirmou que para que isso fosse possível, o ar deveria ter um movimento complicado e altamente improvável. Além disso, propôs a ideia de que o movimento, natural e forçado, resultaria de motores internos. Nos séculos XI e XII 5 , houve o surgimento das primeiras universidades, onde a Filosofia aristotélica era a parte fundamental do currículo. Do século XII ao século XVI, a Filosofia dominante na Europa passou de Platão para Aristóteles. Entretanto, a crença de Aristóteles em um cosmo eterno negava a ação criadora de Deus, entrando em choque com a doutrina cristã. Portanto, era necessário que as ideias e ensinamentos de Aristóteles fossem colocados de uma maneira compatível com a teologia do Cristianismo. Assim, nasceu a Escolástica, que corresponde a essa tentativa de conciliar a razão e a fé. Teve seu auge no século XIII, principalmente em consequência dos trabalhos de Santo Alberto Magno e São Tomás de Aquino. Santo Alberto Magno 6 (1200-1280) foi o primeiro a interpretar, de forma compreensível, a Filosofia de Aristóteles para o mundo cristão. Ofereceu o complemento dos textos de Aristóteles em questões que ele achava terem sido tratadas com superficialidade e propôs a correção de quesitos que julgava estar incorretos. São Tomás de Aquino, considerado a mente mais brilhante da Europa desde Santo Agostinho, tentou conciliar a teoria de Aristóteles com a doutrina da Igreja. Associou o argumento do Primeiro Motor com Deus (causa última de todas as coisas), e afirmou que não há contradição na ideia de que o Universo foi criado, mas existe eternamente. Indo contra o pensamento aristotélico, a teoria de São Tomás afirmava que o movimento no vácuo necessitaria de um tempo não nulo, pois para ir de um ponto a outro o objeto percorreria a distância intermediária. Contudo, acreditava 5 Após o império árabe sucumbir, iniciou-se o processo de reurbanização da Europa, marcado, sobretudo, pelo melhoramento no nível educacional. 6 Alberto Magno desenvolveu as ciências naturais no século XIII com a aplicação de experimentos alquímicos para investigar os elementos minerais. 8 que até o movimento no vácuo exigia a ação de uma resistência - fornecida pela dimensão do corpo - e de uma força. Roger Bacon (1214-1292) foi um frei franciscano, filósofo e reformador educacional, que se apresentou contrário às influências aristotélicas no conhecimento teológico, em plena época em que a filosofia de Tomás de Aquino estava sendo desenvolvida. Bacon apresentou o método para a sistematização da ciência experimental, propondo a necessidade do rompimento com a chamada “filosofia especulativa” que se utilizava da retórica para o convencimento dos fatos ao invés da experiência. No final do século XIV, Guilherme de Ockham, um frade franciscano se destacou. Para Ockham, o movimento não precisava de uma causa, fosse do meio, fosse de uma força aplicada. Rejeitou o princípio aristotélico do contato consequente do objeto motor com o objeto movido, teorizando que bastava uma simulta virtualis para que o objeto movido continuasse em movimento mesmo afastado do objeto motor. Ainda no final do mesmo século, Jean Buridan (1300-1358), discípulo de Ockham, criticou a teoria de movimento de projéteis de Aristóteles, dizendo que se o ar escorresse para trás de um projétil, uma lança, com as duas extremidades pontiagudas, se deteriaatrás de outra. Buridan também fez uma revisão da formulação aristotélica que considerava a velocidade proporcional à razão entre a força aplicada e a resistência do meio, sugerindo que a velocidade deveria corresponder à diferença entre a força e a resistência. Considera-se que a chamada “física nova” teve seu início com Nicolau Copérnico (1473). Ele, na verdade, não usufruiu de uma física nova, mas baseou seus trabalhos nos princípios de Aristóteles. Copérnico elaborou o Sistema Heliocêntrico, com Terra e os demais planetas movendo-se ao redor do Sol. Considerava a gravidade como uma característica da matéria de se ligar a uma esfera. A teoria aristotélica defendia o contrário: o fato de a Terra ser esférica se dava por causa da tendência da matéria de se agregar próxima de seu centro tanto quanto fosse possível. O sistema de Copérnico entrava em choque com a física de Aristóteles, segundo a qual a Terra era imóvel; porém para rejeitá-la ele deveria elaborar uma afirmação alternativa. Então ele postulou que a rotação era natural para uma esfera e já que a Terra era esférica, seu movimento natural era girar. Assim, usou princípios aristotélicos e não substituiu a física da época. Em 1571, nasceu Johannes Kepler, que se dedicou a fazer especulações cosmológicas, partindo da ideia de que o Universo era feito em torno de certas figuras matemáticas simétricas, e atribuindo uma causa física aos movimentos planetários. Utilizou a ideia de movimento circular, importante para Aristóteles, mas abandonou a de velocidade uniforme ao 9 aderir à concepção do ponto equante de Ptolomeu. Kepler tentou demonstrar como a Terra em movimento se mantinha ajustada e como os objetos pesados permaneciam nela, e para isso, sugeriu a existência de uma força atrativa entre os corpos, que era mútua e proporcional às suas massas. Descartando a ideia de Aristóteles que considerava a gravidade como uma propriedade dos corpos pesados com tendência de se mover para o centro da Terra, definiu gravidade como “a tendência corpórea mútua entre corpos materiais para a unidade ou contato de cuja espécie é também a força magnética” 7 . O grande físico e astrônomo italiano, Galileu Galilei, nascido em Pisa no ano de 1524, é considerado o introdutor do método experimental na Física, e acreditava que as experiências e observações cuidadosas deveriam ser a base para toda declaração sobre fenômenos naturais. Esse método fez com que várias conclusões de Galileu entrassem em choque com os ensinamentos de Aristóteles. Estudou sobre o movimento dos corpos, rejeitando a visão aristotélica de que o movimento de um projétil é sustentado pelo meio. Alegou que não era necessária nenhuma força para que um objeto se movesse em uma superfície horizontal perfeitamente polida. Ao estudar sobre a queda dos corpos com medidas e experiências precisas, Galilei concluiu que se dois corpos, um leve e um pesado, forem abandonados simultaneamente e de uma mesma altura, ambos chegam ao chão ao mesmo tempo. Verificou que, em queda livre, o movimento é uniformemente acelerado, ou seja, caem com aceleração constante. Realizou diversas experiências sobre a queda dos corpos, porém começou a se dedicar ao uso do telescópio e se afastou de seus estudos sobre o movimento de projéteis e queda de objetos. No final de 1611 e início de 1612, Galilei elaborou o tratado Discurso sobre Corpos Flutuantes, um ataque contra a filosofia aristotélica, e em 1613, ele publicou o livro Cartas sobre Manchas Solares; já que manchas podiam aparecer e desaparecer na superfície solar, estava destruída a ideia de inalterabilidade e incorrutibilidade, portanto esse livro foi mais uma ameaça à filosofia de Aristóteles. Desde o século XVII, os filósofos começaram buscar estabelecer um método científico geral. Aristóteles foi o primeiro filósofo que formalizou o processo de raciocínio dedutivo na forma de silogismo, que consiste em formar um argumento baseado em três proposições, sendo as duas primeiras chamadas de premissas e a terceira é a conclusão que parte das outras duas. Francis Bacon defendia a criação de um método científico, e criticou a lógica de Aristóteles usando o argumento de que era um procedimento circular. De acordo com Bacon, a premissa maior só poderia ser justificada por meio de uma infinidade de acontecimentos, e a 7 PIRES, Antonio. Evolução das ideias da Física. Pág. 111 10 conclusão seria iminentemente um desses acontecimentos. Em seus estudos relacionados ao movimento de projéteis, não aceitou a teoria de Aristóteles de que o ar causava movimento; criou a hipótese de que a causa do movimento era a força interna que operava após um impacto inicial aplicado em um corpo. Considerado o pai da Filosofia moderna, o filósofo, físico e matemático francês René Descartes (1596-1650) defendia o papel da Matemática no entendimento da Natureza, sendo contrário à crença dos aristotélicos de que a Matemática não alcançava a essência da Natureza e descrevia somente aspectos quantitativos superficiais. Para Aristóteles, todos os corpos eram constituídos de forma e matéria, não podendo existir uma isolada da outra. Já Descartes acreditava que apenas a matéria fazia parte da composição do mundo físico, e a extensão era a natureza da matéria. A conformidade da matéria com a extensão possibilitou o uso do recurso geométrico na ciência. No ano da morte de Galileu, em 1642, nasceu o famoso físico inglês Isaac Newton. Ele foi o responsável pelo início de uma verdadeira revolução na física ao dar a formulação completa das três leis básicas da Mecânica e elaborar a lei da gravitação universal, estabelecendo leis universais que podiam ser apresentadas matematicamente. A filosofia de Aristóteles foi o primeiro esquema aprimorado que Newton teve contato, no entanto sua obra não se baseou na física aristotélica, na verdade foi um verdadeiro rompimento com as ideias de Aristóteles, sobretudo em relação ao movimento. Newton acreditava que um corpo permanecia em movimento devido uma força interna a ele, e não causado pelo ar. Apresentou o princípio da conservação do movimento angular afirmando que se um corpo não for perturbado por outro, ele mantém a sua quantidade de movimento circular e sua velocidade. Em 1674, manifestou seu princípio de atração gravitacional universal onde dizia que todos os corpos celestes tinham o poder de atração gravitacional em seus centros e atraiam outros corpos celestes. Para ele a massa, e não a essência, era o atributo principal da matéria. Utilizando o método dedutivo, Newton formulou as leis mecânicas: 1) Todo corpo continua no seu estado de repouso ou movimento, até que uma força o compile a mudar esse estado; 2) A mudança do movimento é proporcional à força aplicada; 3) Para cada ação existe uma reação contrária ou igual. Ao combinar o método indutivo com o hipotético-dedutivo, para expressar suas ideias, mostrou ser um dos melhores recursos usados na ciência moderna. Diante do exposto, eu defendo a opinião que Aristóteles foi o filósofo e cientista mais influente do mundo ocidental antes de Newton. Com suas observações empíricas e análises cuidadosas, modelou o método científico para todos os cientistas subsequentes. Certamente, marcou um dos capítulos centrais da história do pensamento humano. Sendo a ciência uma 11 construção humana, qualquer avanço só pode ser dado por quem já percorreu ou conhece os passos anteriores, portanto é fundamental conhecer a Filosofia Natural de Aristóteles para compreender os primórdios do desenvolvimento da ciência física, bem como o seu progresso. Vale ressaltar ainda que o saber científico exige reformulação e atualização contínuas, por isso os princípios, teorias e leis são provisórios, valem temporariamente e em determinadas circunstâncias, e até mesmo teorias atuais,como a Teoria da Relatividade de Einstein e a Teoria Quântica de Planck, podem mudar a qualquer momento nesse Universo de possibilidades onde vivemos. 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BODNAR, Istvan. Aristotle's Natural Philosophy. Publicado em: 2018. Disponível em: < https://plato.stanford.edu/entries/aristotle-natphil/ >. Acesso em: 18 de set de 2020. DOMINGUES, Mario Henrique. A natureza das coisas, Rio de Janeiro. Vol. 9, n. 2, 2020. Disponível em: < https://periodicos.unb.br/index.php/belasinfieis/article/view/27043 >. MÁXIMO, Antônio; ALVARENGA, Beatriz. Curso de Física, vol. 1. São Paulo, Editora Scipione, 2001. PIRES, Antonio S. T., Evolução das ideias da Física. São Paulo, Editora Livraria da Física, 2008. 478 páginas. https://periodicos.unb.br/index.php/belasinfieis/article/view/27043
Compartilhar