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CÁRIE DENTÁRIA: CONCEITOS E TERMINOLOGIA A cárie dentária é uma doença complexa causada pelo desequilíbrio no balanço entre o mineral do dente e o fluido do biofilme. O microecossistema bacteriano do biofilme dental apresenta uma série de características fisiológicas. A produção de ácido por meio da metabolização de nutrientes pelas bactérias do biofilme e consequente baixa do pH é o fator responsável pela desmineralização do tecido dentário que pode resultar na formação da lesão de cárie. É importante ressaltar, no entanto, que o processo de desmineralização que ocorre na superfície dentária na presença de carboidratos fermentáveis é um processo fisiológico. A atividade metabólica das bactérias do biofilme decorrente da disponibilidade de nutrientes causa constante flutuação do pH, e, como consequência, a superfície dentária coberta por biofilme vai experimentar perda mineral e ganho mineral. Este processo de des-remineralização dos tecidos dentários é onipresente. Frente a um aumento no consumo de carboidratos fermentáveis (especialmente aumento na frequência), a produção de ácidos se intensifica, e os eventos de desmineralização não são compensados pelos de remineralização. Dessa forma, a lesão de cárie se forma somente quando o resultado cumulativo de processos de des-remineralização acarreta perda mineral. Ossinais da doença cárie podem ser distribuídos em uma escala que inicia com a perda mineral em nível ultraestrutural até a total destruição do dente. Esta afirmativa, acrescida do fato de que o processo de des-remineralização é um fenômeno natural que não pode ser prevenido devido ao metabolismo constante no biofilme dental, dá origem à pergunta: o que é cárie dentária? Quando podemos considerar que um paciente apresenta a doença cárie? No nosso entendimento, quando o processo de desmineralização fica restrito ao nível subclínico e não causa uma lesão visível clinicamente, o indivíduo não pode ser classificado como portador da doença cárie e, portanto, não necessita qualquer tratamento deste processo (a doença está sob controle). A perda mineral que se conserva em nível subclínico durante a vida do indivíduo não se enquadra no conceito clássico de doença, a qual se caracteriza como um distúrbio das funções de um órgão (dente), da psique ou do organismo como um todo, que causa dor, disfunção, desconforto, problemas psicossociais ou morte. A cárie dentária é uma doença multifatorial na qual várias características genéticas, ambientais e comportamentais interagem. Fejerskov e Manji elucidaram os diversos fatores determinantes do processo de doença cárie em um diagrama (FIG), e os classificaram em: Fatores que atuam no nível da superfície dentária (círculo interno) – determinantes biológicos ou proximais; Fatores que atuam no nível do indivíduo/população (círculo externo) – determinantes distais. O controle da cárie dentária, assim como o da maioria das doenças crônicas como câncer, doenças cardiovasculares e diabetes, deve incluir estratégias múltiplas direcionadas aos determinantes no nível do indivíduo, da família e da população. Sempre que possível, tais estratégias devem abordar fatores de risco comuns à doença cárie e a outras doenças crônicas,4 por exemplo, o consumo racional de açúcar. Apesar da importância desta abordagem que considera a relevância dos determinantes distais do processo de doença cárie, o estudo dos fatores biológicos e o monitoramento de seus sinais clínicos são imprescindíveis para o controle do processo da doença. O biofilme dental é o fator biológico indispensável para a formação da lesão de cárie. As lesões de cárie só ocorrem em áreas nas quais o biofilme encontra-se estagnado, tendo como localização preferencial a margem gengival, as superfícies proximais logo abaixo do ponto de contato e o sistema de fóssulas e fissuras das superfícies oclusais. Dificilmente formam-se lesões de cárie em áreas submetidas constantemente à autolimpeza decorrente da mastigação e dos movimentos das bochechas e da língua. É importante salientar, entretanto, que, embora a presença de biofilme seja considerada um fator causal necessário para o desenvolvimento da lesão de cárie, ela não é um fator causal suficiente para que esse tipo de lesão ocorra Como dito anteriormente, o tipo de nutrientes (determinado pela dieta do indivíduo) a que as bactérias do biofilme estão expostas pode resultar em flutuações de pH que irão determinar ou não a formação da lesão de cárie.