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Ecologia da Cavidade Bucal e Cárie Dentária

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Cariologia
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Me. Gerson Lopes
Revisão Técnica:
Prof. Dr. Claudio Froes Freitas
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Ecologia da Cavidade Bucal e Doença Cárie Dentária 
Ecologia da Cavidade 
Bucal e Doença Cárie Dentária 
 
 
• Entender a cárie dentária como doença e estabelecer uma abordagem estratégica, conside-
rando o risco e a atividade de cárie como filosofia de tratamento ao paciente. 
OBJETIVO DE APRENDIZADO 
• Aspectos de Normalidade dos Dentes;
• Aspectos de Normalidade da Saliva;
• Aspectos de Normalidade Biofilme Dentário (Placa Dentária);
• Etiologia e Patogênese da Cárie Dentária;
• Diversos Conceitos e Suas Implicações Clínicas;
• Fatores da Doença Cárie;
• Considerações para Reflexão.
UNIDADE Ecologia da Cavidade Bucal e Doença Cárie Dentária 
Aspectos de Normalidade dos Dentes
Os dentes apresentam características de normalidade que devem ser conhecidas pelos 
profissionais da Área Odontológica e, especialmente, na Cariologia, o esmalte e o com-
plexo dentino pulpar (dentina e polpa) têm importância fundamental.
Do ponto de vista arquitetural e estrutural, o dente pode ser descrito com sendo for-
mado de quatro partes: esmalte, dentina, cemento e polpa (Figura 1), destacando-se 
que esmalte, dentina e cemento são estruturas calcificadas, e a polpa constitui o único 
tecido mole do dente.
Figura 1 – Esmalte, dentina, polpa dentária e cemento
Fonte: Adaptada de Getty Images
Esmalte 
O esmalte tem espessura variável, apresentando-se como uma capa que envolve a 
dentina na porção coronária do dente. 
É considerado o tecido mais duro do organismo humano, devido a seu alto conteúdo 
de sais minerais. 
Essa capa resistente protege a dentina e confere uma condição para mastigação, 
porém, permite passagem completa ou parcial de substâncias, funcionando como uma 
membrana semipermeável.
A coloração do dente vai do branco amarelado até o branco acinzentado, e tais dife-
renças de cor se devem à translucidez do esmalte, observando que dentes amarelos tem 
esmalte fino e translúcido, através do qual a cor amarela da dentina é visível, e dentes 
acinzentados têm esmalte mais opaco.
O esmalte consiste, principalmente, de material inorgânico (96%) e somente uma 
pequena porcentagem de material orgânico e água (4%). 
8
9
O material inorgânico do esmalte é semelhante a um mineral denominado apatita, 
que pode ter agregado a ele o cloreto (Cl–), fluoreto (F–) ou hidróxido (OH–).
Da mesma forma que uma parede é formada por tijolos, o esmalte dental é formado 
por prismas ou bastões. 
O prisma é o componente mineral do esmalte e as demais formações são orgânicas, 
considerando que seu diâmetro médio é de 4 micra (4 milésimos de milímetros), podendo 
variar, vez que a superfície do esmalte junto à dentina é menor que no lado externo (Figura 
no primeiro link a seguir).
Os prismas, quando cortados longitudinalmente (Figura no segundo link a seguir) 
comumente apresentam-se em forma de ‘‘buraco de fechadura’’.
Aspecto histológico do esmalte (1) e dentina (2). A seta indica a junção amelodentinária. 
Disponível em: https://bit.ly/31XWKM2
Microfoto eletrônica que ilustra a orientação de cristais de apatita do esmalte de dente (com 
permissão gentil de A. Dez-Cate). Disponível em: https://bit.ly/32brkSF
Dentina
A dentina é um tecido conjuntivo diferenciado recoberto pelo esmalte na superfície 
coronária e pelo cemento na superfície radicular, sendo produzida por células denomi-
nadas odontoblastos, as quais estão localizadas em torno da polpa, junto à parede de 
dentina em forma de paliçada. 
Essas células apresentam prolongamentos citoplasmáticos no interior de milhões de 
túbulos que percorrem a dentina em toda a sua extensão e espessura, formando o com-
plexo dentino pulpar (Figura 2).
Figura 2 – Estrutura da dentina
Fonte: Adaptada de FRENCHEN et al., 2001
Os túbulos estão mais separados nas camadas periféricas e mais justapostos nas ca-
madas mais internas, conferindo um aspecto em forma radial. 
Além disso, eles são mais largos perto da superfície pulpar (3 a 4 micra – milésimos 
de milímetro) e se tornam mais estreitos em suas extremidades externas (1mícron). 
O número de canalículos perto da cavidade pulpar da dentina é variável e está entre 
30000 e 75000 por mm2. 
9
UNIDADE Ecologia da Cavidade Bucal e Doença Cárie Dentária 
Há mais túbulos por unidade de área na coroa que na raiz. Cada túbulo tem mais ou 
menos 1 mícron de diâmetro, informações essas particularmente importantes e que deverão 
ser consideradas nos diferentes tipos de restaurações dos dentes com lesões cariosas. 
A dentina consiste em 30% de matéria orgânica e 70% de material inorgânico. A subs-
tância orgânica é constituída fundamentalmente de fibras colágenas (um tipo de proteína 
fibrosa) e mucopolissacarídeos. A porção mineralizada é composta de cristais de apatita 
em forma de placas e muito menores do que os do esmalte.
Embora a dentina e a polpa sejam tecidos histologicamente distintos, normalmente 
considera-se como estrutura única. Isso ocorre porque esses tecidos estão intimamente 
relacionados pela presença dos prolongamentos dos odontoblastos.
Observam-se 2 tipos de dentina na sua fisiologia. A dentina primária que é deposi-
tada durante a formação do dente, até fechamento do ápice ou até entrar em oclusão, e 
a dentina secundária, que é depositada lentamente no decorrer da vida.
Aspectos de Normalidade da Saliva 
Secreção e Composição da Saliva
A saliva é um fluído complexo presente na boca, que fica em contato direto com 
dentes e mucosa oral, sendo produzido predominantemente por três pares de glândulas 
salivares (parótida, submandibular e sublingual). 
No entanto, é produzida em menor volume pelas glândulas salivares menores da mu-
cosa oral, como também recebe contribuição do fluxo crevicular gengival. 
É composta, principalmente, de água (99.5%), de matéria orgânica (0.3%) e inorgâ-
nica (0.2%) e também de bactérias residentes na cavidade bucal, células epiteliais desca-
madas e resíduos transitórios originados da alimentação. Normalmente, sua produção 
diária varia de 0,5 a 1,0 litro. 
A saliva desempenha diversas funções, tanto por sua característica fluida quanto por 
seus componentes específicos.
Entre as funções, podemos destacar: digestão de carboidratos, lubrificação dos tecidos 
duros e moles da cavidade oral, facilitando a mastigação, a formação do bolo alimentar e a 
deglutição, diluição das substâncias introduzidas na boca e subsequente remoção, neutrali-
zação e tamponamento dos ácidos dos alimentos ou produzidos pelo biofilme, saturação de 
íons cálcio e fosfato inorgânico em relação ao dente o que possibilita interferir no processo 
de desmineralização e remineralização dos dentes, e efeito antibacteriano. 
A saliva atua, ainda, na formação da película adquirida por meio da adsorção de glico-
proteínas salivares sobre os dentes. A película protege os dentes da agressão química e 
mecânica, entretanto, funciona, também, como substrato para a colonização bacteriana.
O fluxo salivar e a composição da saliva podem variar devido à influência de diversos 
fatores como sexo, idade, ritmo circadiano e circanual, estado emocional, influências 
hormonais, doenças agudas, disfunção mastigatória, grau de hidratação do corpo, po-
sição do corpo, dieta, má nutrição, ação de drogas, radioterapia, estímulo mecânico, 
gustatório e psicológico e duração do estímulo.
10
11
Aspectos de Normalidade 
Biofilme Dentário (Placa Dentária)
O biofilme dentário é um aglomerado de microrganismos que colonizam a superfí-
cie dentária, incorporados em uma matriz rica em polímeros de carboidratos produzidos 
pelos próprios microrganismos, além de proteínas, DNAe, íons e água. 
Quando em simbiose (equilíbrio) com o hospedeiro, esse biofilme traz poucas con-
sequências às estruturas dentárias ou aos tecidos de suporte, pois apresentam, predo-
minantemente, espécies inócuas ao hospedeiro, como o Streptococcussalivarius e o 
Streptococcus oralis (Teoria da Placa Ecológica). 
Sob o aspecto da aquisição de uma microbiota oral residente, destaca-se que a boca 
do recém-nascido é comumente estéril e depende da sucessiva transmissão de microrga-
nismos dos locais de potencial colonização. 
Na boca, embora organismos possam ser derivados da água, de alimentos e outros 
fluídos nutricionais, a principal via de transmissão é a saliva.
A diversidade da microflora oral aumenta durante os primeiros meses de vida. Os colo-
nizadores iniciais de um local são intitulados “espécies pioneiras” e são os estreptococos, 
particularmente o S. salivarius, o S. mitis e o S. oralis. 
Com o tempo, anaeróbios Gram-negativos aparecem, incluindo Prevotella melaninogenica, 
Fusobacterium nucleatum e Veillonella sp. 
Destaca-se, sob o aspecto da Cariologia que, com a erupção dos dentes, criam-se no-
vos nichos para a colonização microbiana, pois os dentes fornecem as únicas superfícies 
do corpo que não se renova, na qual a microbiota residente pode normalmente aderir. 
Isso resulta em acúmulo não perturbado de uma grande massa de bactérias, especial-
mente em locais de estagnação. Em outros locais, a descamação assegura que a carga 
microbiana sobre as superfícies das mucosas seja relativamente baixa, embora acúmulos 
substanciais de bactérias possam se desenvolver sobre a língua.
S. mutans e S. sanguis só são encontrados na boca, após a erupção dos dentes, e 
o desenvolvimento do biofilme cria condições para maior variação de bactérias. Além 
do mais, o fluxo do fluído gengival ao redor das margens gengivais provê uma fonte de 
nutrientes essenciais para muitos anaeróbios estritos.
A microbiota oral continua a aumentar em diversidade até, eventualmente, ser alcan-
çada uma situação estável, denominada comunidade clímax. 
As populações microbianas que compreendem tal comunidade clímax permanecem 
estáveis no decorrer do tempo, apesar de ocorrerem perturbações menores no ambiente 
local devido à dieta, aos níveis hormonais, à higiene bucal etc. 
A estabilidade é denominada “homeostase microbiana”. No entanto, essa não é uma 
resposta passiva do organismo, e sim o reflexo de um equilíbrio altamente dinâmico 
entre a microbiota residente e as condições ambientais locais naquele lugar especifico 
do hospedeiro.
11
UNIDADE Ecologia da Cavidade Bucal e Doença Cárie Dentária 
Uma mudança maior no habitat pode levar ao desequilíbrio entre as espécies que 
compreende a microbiota residente e, como consequência disso, pode haver aumento da 
predisposição à doença. O reconhecimento e aceitação dessa relação ecológica podem 
levar à identificação de novos métodos de controle de cárie dentária.
Destaca-se que, mudanças na microbiota podem ocorrer como efeito direto ou indi-
reto do envelhecimento. 
Nos efeitos diretos, a diminuição da imunidade mediada por células pode levar ao au-
mento de bactérias não orais (estafilococos e enterobactérias) e, nos indiretos, podemos 
citar o aumento do uso de próteses dentárias em idosos, o que promove a colonização de 
fungos, como também a ingestão de medicações de uso contínuo que podem levar, como 
efeito colateral, a redução do fluxo salivar, o que promove a colonização por lactobacilos. 
No que tange à distribuição local das bactérias orais, pode-se dizer que a boca é al-
tamente seletiva para microrganismos, devido às propriedades biofísicas e distintas da 
cavidade oral, sendo identificadas mais de 300 espécies. 
Apesar desse número, apenas um pequeno número é capaz de colonização em alto 
grau, sendo que a boca não é um ambiente homogêneo para colonização microbiana, 
existindo micro-habitates distintos, tais como as superfícies das mucosas, as várias su-
perfícies dentárias (lisas, proximais e fissuras) e também o sulco gengival.
Existem fatores ecológicos que afetam o crescimento e o metabolismo das bactérias 
orais. A boca é, ao mesmo tempo, um ambiente amigável e hostil ao crescimento bac-
teriano. Na maior parte do tempo, há escassez de nutrientes, mas pode haver, também, 
períodos repentinos e irregulares de excesso de alimentos (carboidratos). 
A boca é notoriamente aeróbica e, ainda assim, bactérias anaeróbias e anaeróbias 
facultativas são capazes de persistir na profundidade de biofilmes sobre as superfícies 
(língua e dentes) e compreendem o mais numeroso grupo de bactérias nesses locais. 
Os organismos tem de aderir firmemente à superfície para evitar que sejam levados 
pelo fluxo salivar e pela deglutição. Assim, a maioria dos organismos (na maioria das 
doenças) é encontrada em áreas protegidas ou de estagnação ao redor da dentição. 
A saliva desempenha um importante papel na regulação do crescimento e atividade 
metabólica da microbiota oral: 
• Ajuda a manter o pH em valores em torno de 6,75-7,25, e a temperatura em torno 
de 35-36ºC, a qual é ideal para muitos microrganismos; 
• Contém glicoproteínas e proteínas que atuam como fonte primária de carboidratos, 
peptídeos e aminoácidos para crescimento bacteriano;
• Libera um espectro de fatores inatos e específicos de defesa imunológica do hospedeiro. 
Etiologia e Patogênese da Cárie Dentária
A cárie dentária é uma das principais doenças bucais que acometem diferentes po-
pulações ao longo da vida, com cunho comportamental e sob grande influência das 
condições socioeconômicas e culturais das populações. 
12
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Para que estratégias preventivas possam ser devidamente implementadas, é impres-
cindível que se conheça a etiologia e os sinais microscópicos e clínicos dessa doença que 
acomete a estrutura dentária.
A definição clássica da cárie dentária como doença infecciosa, transmissível devido 
ao envolvimento de microrganismos e à possibilidade de estes serem transferidos, via 
saliva, de um indivíduo a outro, além de ser dieta dependente, deve ser revista, e os fa-
tores etiológicos melhor interpretados e entendidos, para evitar estratégias de prevenção 
e tratamento equivocadas.
O primeiro relato caracterizando a cárie dentária como doença multifatorial é de 
1960, por Keys, que definiu como fatores para o desenvolvimento da doença: o hospe-
deiro (presença de dentes), os microrganismos (organizados na forma de biofilme dentá-
rio) e a dieta, especificamente, o açúcar (Figura 3).
Hospedeiro 
e dentes
Microbiotica
Susbrato
Cáries
Figura 3 – Diagrama proposto por Keys (1960) para explicar 
os fatores etiológicos determinantes da doença cárie
Newbrum (1978) acrescentou o fator tempo nessa interação, como importante para 
o desenvolvimento do primeiro sinal da doença, a lesão cariosa (Figura 4): 
Hospedeiro 
e dentes Microbiotica
Susbrato Tempo
Cáries
Figura 4 – Diagrama proposto por Newbrun (1978) para 
explicar os fatores etiológicos determinantes da doença cárie
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UNIDADE Ecologia da Cavidade Bucal e Doença Cárie Dentária 
Posteriormente, em 1990, Manji & Fejerskov apresentam modelo para explicar os 
fatores etiológicos determinantes e modificadores da doença cárie (Figura 5):
Classe Social
Atitudes
Renda
Depósitos
microbianos
pH
Depósitos
microbianos
Flúor
Capacidade
Tampão
Saliva
�uxo
Açucar
remoção
Dieta
Composição
Frequência
Saliva
(composição)
Dente
Dente
Tempo
Conheci-
mento
Compor-
tamento
Escolari-
dade
pH
Figura 5 – Diagrama adaptado de Manji & Fejerskov (1990) para explicar os fatores 
etiológicos determinantes (círculo interno) e modificadores (círculo externo) da doença cárie
Onde os fatores determinantes compreendem:
• Hospedeiro – dentes e a saliva: o dente é o local onde a doença se manifesta. 
Algumas condições dos elementos dentários os tornam mais suscetíveis à doença 
cárie, tais como, a morfologia dental, que compreende anomalias na forma (fusão, 
geminação) e a macromorfologia (dentes posteriores que possuem saliências e reent-
râncias que dificultam o controle do biofilme). A saliva possui capacidade tampão pela 
presença de íons de bicarbonato e fosfato que neutralizam os ácidos produzidos pelos 
microrganismos cariogênicos. Ela tambémtem a função de autolavagem e limpeza 
das superfícies dentárias e possui ação antibacteriana por conter proteínas e imuno-
globulinas que atuam contra os microrganismos cariogênicos;
• Microrganismos: a cavidade bucal possui inúmeras espécies de microrganismos. 
Apesar da diversidade microbiana, poucas espécies estão relacionadas à doença cárie, 
como Streptococcus mutans, Streptococcus sobrinus e Lactobacillus, pois possuem 
as características específicas para participar do processo da doença. As bactérias ca-
riogênicas são capazes de produzir ácidos a partir da fermentação dos carboidratos 
da dieta (acidogênicas) e de sobreviver em meio ácido (acidúricas). Outra característica 
seria a capacidade de adesão às estruturas dentárias;
• Dieta: a dieta exerce, principalmente, efeito tópico na etiologia da doença, ou seja, 
sem a sua presença, não há desenvolvimento da doença, pois os microrganismos 
cariogênicos necessitam da energia proveniente da sua fermentação para sobrevi-
ver. A frequência (constante ingestão) e a consistência dos carboidratos também in-
terferem no desenvolvimento da doença: o açúcar consumido entre as refeições e a 
sua textura favorecem a retenção na cavidade bucal (por exemplo, balas tipo toffle 
versus pão de sal: as balas têm consistência pegajosa e um tipo de carboidrato mais 
facilmente fermentável, ou seja, são mais cariogênicas);
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• Tempo: os três fatores anteriormente citados, quando associados, necessitam de 
um período de tempo para favorecer a desmineralização (perda de minerais) dos 
dentes (CERQUEIRA, 2008).
Os fatores modificadores são os sociais, os econômicos e os comportamentais, 
demonstrados por diversos estudos nos qauais as diferenças nos níveis de saúde podem 
ser explicadas pelas diferenças socioeconômicas. 
Posto isso, apesar de esses modelos terem sido aceitos por muito tempo, não foram 
capazes de explicar a ocorrência da doença na população. 
Atualmente, entende-se que os microrganismos podem ser transferidos, mas isso 
não é sinônimo de transferência da doença, vez que a cárie dentária tem forte cunho 
comportamental, que é influenciado por questões sociais.
A cárie dentária é uma doença dinâmica, mediada pelo biofilme, que resulta em pro-
cessos de desmineralização e remineralização dos tecidos dentários (processo DES-RE), 
culminando com o sinal clínico da doença – a lesão cariosa. 
Além disso, a doença cárie é influenciada por outros fatores de risco, como genética, 
estilo de vida e aspectos socioeconômicos e culturais.
Observando que mediante mudanças das condições ambientais locais, por exemplo, 
pelo consumo frequente de açúcar, em especial a sacarose, ocorre uma alteração no 
balanço da microbiota residente no biofilme, processo denominado DISBIOSE (dese-
quilíbrio), o que pode levar ao desenvolvimento da doença – a lesão cariosa (Figura 6).
Simbiose: relação entre duas espécies diferentes de organismos que são interdependentes. 
Uma ganha benefícios da outra ou uma relação entre diferentes espécies em que ambos os 
organismos em questão se beneficiam da presença do outro.
Disbiose: alterações na composição quantitativa ou qualitativa da microbiota. As alterações po-
dem levar a interações alteradas entre os microrganismos do hospedeiro ou ao equilíbrio homeos-
tático que pode contribuir para um estado de doença frequentemente com inflamação.
Figura 6 
Fonte: Adaptada de MAGALHÃES et al., 2020
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UNIDADE Ecologia da Cavidade Bucal e Doença Cárie Dentária 
O diagrama da Figura 6 destaca a etiologia multifatorial da cárie dentária, 
considerando a dieta, relacionada à frequente ingestão de sacarose, condu-
zindo a uma mudança ambiental que propícia o desequilíbrio (disbiose) entre 
estrutura dentária e biofilme, tendo como consequência o aumento do nú-
mero de microrganismos acidogênicos e acidúricos, que causam a doença, 
podendo levar ao aparecimento das lesões cariosas. Salientando-se que esse 
processo é mediado por cofatores individuais e sociais.
Essa disbiose do biofilme dentário vem acompanhada pelo domínio de bactérias acido-
gênicas (produtoras de ácidos a partir do metabolismo anaeróbico do açúcar), acidúricas 
(vivem bem em ambiente ácido) e produtoras de polissacarídeos extracelulares (PEC). 
Os PEC aumentam o potencial de aderência entre bactérias, servem como reserva 
energética, protegem as bactérias contra agentes antimicrobianos e dificultam a remoção 
mecânica pela higienização.
Assim, algumas espécies microbianas tem sido associadas ao desenvolvimento da cá-
rie dentária, entre elas, o Streptococcus mutans, a Scardovia wiggsiae, a Slackia exígua, 
o Bifidobacteriaceae, algumas espécies de Lactobacilos e a Candida albicans. 
Os ácidos são os principais produtos metabólicos dessas espécies, como o ácido 
lático, o ácido acético, o ácido propiônico e o ácido fórmico, sendo esse produto meta-
bólico causador dos danos ao tecido dentário.
Para entender os danos causados sobre as estruturas dentárias pela produção de ácidos 
microbianos, é importante conhecer essas estruturas (formadas por mineral, hidroxia-
patita, e por conteúdo orgânico, que varia conforme o tecido dentário) e o conceito de 
equilíbrio mineral, que é a capacidade de os minerais manterem sua estrutura em função 
do ambiente que os circunda.
Diversos Conceitos e 
Suas Implicações Clínicas
O tratamento dos sintomas e das causas da doença devem ser separados. Medidas pre-
ventivas deverão ser adotadas para controlar o desenvolvimento ou a recidiva da doença.
As lesões cariosas detectadas têm sido tratadas sintomaticamente de maneira curati-
va. A porção cariada é removida e a estrutura dentária perdida é substituída por restau-
rações. Entretanto, o interesse maior deve ser dirigido à abordagem da causa.
A abordagem da cárie dentária, tanto na prevenção como no seu tratamento, neces-
sita de amplo conhecimento sobre como ocorre a doença e suas consequências, para 
realização de um correto diagnóstico e um plano de tratamento eficiente e eficaz.
Fatores e condições, que podem influenciar no processo saúde-doença e a definição 
da abordagem devem ser considerados e assim, na atuação profissional, diversos instru-
mentos são utilizados: anamnese completa e exames complementares, no caso, exames 
radiográficos, índices de placa e sangramento gengival, além da análise da dieta, para 
16
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estabelecer as condições que levaram o paciente à aquela determinada situação, propon-
do, caso indicado, alterações que diminuam a possibilidade de a doença acontecer ou até 
mesmo a sua continuidade.
Nesse aspecto, conceitos comumente utilizados devem ser definidos para melhor 
entendimento e abordagem do problema.
Fatores da Doença Cárie
Qualquer agente que pode influenciar no aparecimento da lesão cariosa, inclusive as in-
terações entre esses devem ser consideradas como fatores. Reforçando: são fatores para os 
quais tenha sido estabelecida uma associação entre causa e efeito, no caso a lesão cariosa.
Doença Cárie Dentária
A cárie dentária é uma doença complexa causada pelo desequilíbrio no balanço entre 
o mineral do dente e o fluido do biofilme.
O microecossistema bacteriano do biofilme dental apresenta uma série de caracterís-
ticas fisiológicas. 
A produção de ácido por meio da metabolização de nutrientes pelas bactérias do bio-
filme e consequente baixa do pH é o fator responsável pela desmineralização do tecido 
dentário que pode resultar na formação da lesão de cárie. 
Risco de Cárie
Há probabilidade de um indivíduo desenvolver pelo menos certo número de lesões 
cariosas, atingindo um determinado estágio de progressão durante um período específico, 
desde que os fatores continuem inalterados durante o período em questão. 
Reforçando: é a probabilidade de aparecimento de lesões cariosas. O paciente pode 
ser classificado em alto, médio ou baixo risco de cárie. 
Com isso, destaca-se que um paciente pode ser de alto risco (inúmeros fatores nega-
tivos concorrendo para o aparecimento das lesões), porém não apresentarsuas conse-
quências, as lesões cariosas. 
Lesão de Cárie Dentária
É o sinal clínico da doença cárie, podendo ser distribuídos em uma escala que inicia 
com a perda mineral em nível ultraestrutural até a total destruição do dente.
Atividade ou Incidência de Cárie
É a velocidade da progressão das lesões cariosas. Representa o número de novas lesões 
por unidade de tempo. Porém, para avaliar a atividade, deve-se levar em conta não so-
mente o número de lesões, como também as características delas: se agudas ou crônicas. 
17
UNIDADE Ecologia da Cavidade Bucal e Doença Cárie Dentária 
Caso um grande número de lesões se desenvolva num período curto de tempo, a 
atividade cariosa será considerada alta. Assim, o paciente poderá ser classificado como 
de alta, média ou baixa atividade de cárie.
Esses conceitos devem ser utilizados constantemente para se estabelecer um plano de 
tratamento estratégico em todos os níveis de prevenção (Promoção de Saúde, Proteção 
Específica e Recuperação).
Considerações para Reflexão 
Sobre a transmissão de cárie, encontra-se muita a informação de que a cárie pode ser 
transmitida a crianças e que essa transmissão pode ser realizada por meio de contatos 
com a mãe e com outras pessoas. 
Considerando que a cárie é uma doença resultante de um desequilíbrio do processo 
desmineralização e remineralização, não sendo possível sua transmissão, apesar dos 
micro-organismos envolvidos serem transmitidos por saliva. 
Logo, para pensar em estratégias de prevenção e controle, é importante entender 
que a transmissão de cárie é diferente de transmissão de micro-organismos. 
Entender a etiologia de uma doença é essencial para que sejam traçadas estratégias efi-
cazes para a sua prevenção e controle. No caso da cárie dentária, é necessário desmistificar 
o papel dos micro-organismos, entendendo que a presença de micro-organismos, apesar de 
necessária, não é suficiente para o desenvolvimento das lesões de cárie. 
Uma vez que não existe um micro-organismo específico relacionado ao desenvol-
vimento da cárie, e eles fazem parte da microbiota oral indígena, é praticamente im-
possível que se evite a colonização da cavidade oral, isto é, os micro-organismos estão 
presentes também na cavidade oral de pessoas sem cárie.
Há estratégias que são comprovadamente efetivas na redução da incidência de cárie 
em crianças, como o aconselhamento à adoção precoce de práticas alimentares favorá-
veis à saúde
E a higienização diária, a partir da irrupção do primeiro dente, com dentifrício fluo-
retado na concentração de 1.000 ppm. Entretanto, não há evidências que métodos que 
diminuiriam a transmissibilidade de micro-organismos orais entre cuidadores e crianças, 
sejam efetivos no controle da cárie em crianças.
Com isso, recomendações, dentro do conceito de DISBIOSE, quanto à proteção da crian-
ça contra a cárie, sobretudo relacionados à questão de transmissibilidade podem estarem 
equivocadas. Portanto, o aconselhamento às mães de não compartilhar alimentos e talheres 
com a criança para evitar a transmissão de cárie deve ser revisto na prática clínica.
Esse tipo informação deve ser baseado no papel da microbiota materna no desenvol-
vimento de cárie em seus filhos. Entretanto, não existe evidência robusta de que a redu-
ção da infecção bucal materna por micro-organismos acidogênicos e acidúricos possa 
ter um efeito benéfico sobre o desenvolvimento de cárie na dentição decídua.
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Conceitos sobre a etiologia da cárie podem levar ao entendimento que a cárie seria 
transmitida do mesmo modo que resfriados ou mesmo que era possível adquirir imuni-
dade contra a cárie, o que pode levar a pensar que seria viável o desenvolvimento de 
vacinas ou mesmo o uso de antibióticos para combater a cárie, o que não está de acordo 
com os conceitos atuais da etiologia da doença, e conduzindo os profissionais a orienta-
ções que acabam levando o indivíduo a adotar práticas não eficazes. 
O conceito de infecciosidade e transmissibilidade da doença cárie tem sido confronta-
do com importantes descobertas no campo do diagnóstico, da microbiologia, e da pato-
logia dessa doença, que permitiram um melhor esclarecimento do seu caráter localizado 
e dos fatores responsáveis pela manutenção da integridade dos tecidos dentais duros na 
cavidade oral. 
Atualmente, existem divergências quanto a concepção da doença cárie como uma 
patologia infecciosa e transmissível, e apontam para o papel da atrição mecânica in-
traoral como o principal fator controlador do crescimento de massas bacterianas com 
potencial cariogênico sobre as superfícies dentais, caracterizando a doença cárie como 
uma patologia localizada e com uma microbiota inespecífica, sendo considerada uma 
doença disbiótica. 
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UNIDADE Ecologia da Cavidade Bucal e Doença Cárie Dentária 
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Vídeos
Cariologia: da base à clínica
Uma apresentação dos autores do livro com alguns conceitos de Cariologia.
https://youtu.be/Ku3ZkcP2-yA
A conferencia Ottawa 1986
Video sobre a Conferência sobre Promoção de Saúde, realizada em Ottawa, 1986, con-
tribui para entendimento da importância dos fatores sociais no processo saúde-doença.
https://youtu.be/H77Ou3z9F3k
 Leitura
Fundamentação teórica – Etiologia e epidemiologia da cárie dentária
https://bit.ly/39XO8JP
Evitar a transmissão direta e/ou indireta de flora bacteriana entre cuidadores e crianças é efetivo na 
prevenção da cárie?
https://bit.ly/31XQfsD
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Referências
CERQUEIRA, D. F. Etiologia e epidemiologia da cárie dentária – Caso complexo 5 – 
Amélia. Disponível em: <https://unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/pab/1/unidades_
casos_complexos/unidade27/unidade27_ft_etiologia.pdf>. Acesso em: 19/03/2021.
CRUZ, L. R.; D’HYPPOLITO, I. M.; BARJAFIDALGO, F.; OLIVEIRA, B. H. Cárie é 
transmissível? Tipo de informação sobre transmissão da cárie em crianças encontrada 
através da ferramenta de busca Google. Rev. Bras. Odontol., v. 74, n. 1, p. 70-3, 2017.
FEJERSKOV, O.; NYVAD, B.; KIDD, E. Cárie dentária: fisiopatologia e tratamento. 
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. (e -book) 
KRASSE, B. Risco de cárie: um guia prático para avaliação e controle/Caries risk: a 
practical guide to assessment and control. São Paulo; Quintessence; 1988. 112 p. 
MAGALHÃES, A. C.; RIOS, D.; WANG, L.; BUZALAF, M. A. R. Cariologia: da base 
à clínica. Barueri: Manole, 2021. 205 p.
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