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Autora: Profa. Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez Colaboradora: Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano Estudos Demográficos (Censo, IDH, Gini, PEA, Migrações) Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 Professora conteudista: Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez Pós‑graduada em Jornalismo Científico pelo Laboratório de Estudos Avançados de Jornalismo Científico da Universidade de Campinas – Labjor/Unicamp. Bacharel e licenciada em Ciências Sociais e Geografia pela Universidade de São Paulo – USP. Em 2006, estudou as seguintes disciplinas em nível de pós‑graduação stricto sensu no Nepam/ Unicamp: Qualidade de Vida em Sociedades Complexas, Sustentabilidade e Políticas Públicas, Desenvolvimento e Meio Ambiente. Atualmente, cursa doutorado como aluna especial da disciplina Mudanças Ambientais Globais no Núcleo de Pesquisa e Estudos Ambientais – Nepam, na área de Sociedade e Ambiente e Economia Ambiental da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Autora de material didático do Ensino Médio do Sistema de Ensino Objetivo e realiza trabalho de assessoria de Coordenação do Ensino Médio no Departamento de Programação Geral (DPG) do Colégio Objetivo, em São Paulo e em outros estados do Brasil. Coordena o curso de Licenciatura em Geografia, na modalidade de ensino a distância, na Universidade Paulista – UNIP. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) R173e Ramirez, Ivete Maria Soares Ramirez. Estudos Demográficos (Censo, IDH, Gini, PEA, Migrações). / Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez. – São Paulo: Editora Sol, 2016. 96 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2‑021/16, ISSN 1517‑9230. 1. Estudos demográficos. 2. Indicadores Sociais. 3. Movimentos migratórios. I. Título CDU 312 U501.18 – 19 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Carla Moro Lucas Ricardi Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 Sumário Estudos Demográficos (Censo, IDH, Gini, PEA, Migrações) APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA ............................................................................................. 11 1.1 Sociedade brasileira ............................................................................................................................. 11 1.2 Diversidade étnica e miscigenação ............................................................................................... 12 1.2.1 Povos indígenas brasileiros ................................................................................................................. 13 1.2.2 A população negra de origem africana ......................................................................................... 17 1.2.3 Miscigenação da população ............................................................................................................... 20 1.2.4 Estrutura da população por cor da pele ........................................................................................ 21 2 POPULAÇÃO DO BRASIL NO CONTEXTO MUNDIAL ........................................................................... 23 2.1 População mundial .............................................................................................................................. 23 2.2 Velocidade do crescimento ............................................................................................................... 24 2.3 Mundo heterogêneo ........................................................................................................................... 24 2.4 População do Brasil ............................................................................................................................. 25 2.5 Distribuição da população por região.......................................................................................... 26 3 CRESCIMENTO POPULACIONAL ................................................................................................................. 28 3.1 Crescimento natural ou vegetativo .............................................................................................. 28 4 TEORIAS DEMOGRÁFICAS ............................................................................................................................ 34 4.1 Teoria Malthusiana .............................................................................................................................. 34 4.2 Teoria Neomalthusiana ...................................................................................................................... 35 4.3 Teoria Reformista ou Marxista ........................................................................................................ 39 4.4 Teoria da Transição Demográfica ................................................................................................... 40 Unidade II 5 ESTRUTURA ETÁRIA DA POPULAÇÃO ...................................................................................................... 44 5.1 Estrutura da população ..................................................................................................................... 44 5.2 Estrutura da população por gênero .............................................................................................. 44 5.3 Pirâmides etárias .................................................................................................................................. 45 6 ESTRUTURA DA POPULAÇÃO POR ATIVIDADE ECONÔMICA E A PEA ........................................ 51 6.1 Desemprego e emprego ..................................................................................................................... 51 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 6.2 População economicamente ativa (PEA) .................................................................................... 53 6.2.1 Participação da PEA por setor de atividade econômica ......................................................... 56 6.3 Terciarização da economia ...............................................................................................................56 Unidade III 7 INDICADORES SOCIAIS: O IDH ................................................................................................................... 62 7.1 A evolução do IDH brasileiro ........................................................................................................... 62 7.2 IDH por estados e municípios ......................................................................................................... 64 7.3 Coeficiente de Gini .............................................................................................................................. 65 8 MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS E AS IMIGRAÇÕES .............................................................................. 68 8.1 Características gerais .......................................................................................................................... 68 8.2 Imigração no Brasil .............................................................................................................................. 69 8.3 Fatores de atração e repulsão ......................................................................................................... 70 8.4 Alterações na década de 1930 ........................................................................................................ 70 8.5 A imigração moderna e suas consequências ............................................................................ 71 8.6 Os principais grupos de imigrantes............................................................................................... 73 8.6.1 Imigrantes europeus .............................................................................................................................. 73 8.6.2 Imigrantes asiáticos ............................................................................................................................... 75 8.6.3 Outros grupos imigrantes .................................................................................................................... 75 8.6.4 A imigração no Brasil no século XXI ............................................................................................... 76 8.7 Movimentos migratórios internos ................................................................................................. 78 8.7.1 Êxodo rural ................................................................................................................................................ 78 8.7.2 Migrações pendulares ........................................................................................................................... 80 8.7.3 Transumância ........................................................................................................................................... 80 8.7.4 Migrações internas de 1970‑1990 .................................................................................................. 81 8.7.5 Migrações para a nova fronteira agrícola ..................................................................................... 81 8.7.6 Migrações internas em novo período (2000‑2015) .................................................................. 81 7 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 APRESENTAÇÃO Os estudos demográficos constituem‑se em relevante contribuição da Geografia para a sociedade, para a organização de bairros, de cidades e de países, para as bases estatísticas e para as análises que se permitem a partir dos resultados de pesquisas demográficas. As decorrentes informações constituem‑se em subsídios fundamentais para a elaboração de Planos e Projetos para organismos públicos se organizarem em seus orçamentos e projeções necessárias para implementá‑los. A principal característica de uma disciplina que estuda demografia é apreender as características de uma determinada população, bem como projetar e comparar suas especificidades com outras populações e outros povos, uma vez que constituímos a humanidade e somos, portanto, objetos de estudos e comparações em termos de atributos. Assim, a partir dos dados censitários, dos estudos demográficos e de suas respectivas investigações, teremos um painel dos atributos de um povo, o que complementará a historicidade do País e permitirá compará‑lo e identificá‑lo no contexto mundial a partir de sua cultura, idioma, costumes e tradições. Quando caracterizamos a formação da população brasileira, pretendemos nos reportar às origens do povo brasileiro, reconhecendo a ocupação histórica, a economia e seus reflexos sobre a sociedade. Enfatizaremos a composição étnica e sua diversidade, os seus cruzamentos, as resultantes desse caráter miscigenador que compôs o povo brasileiro e suas raízes antropológicas e identidades. Não podemos ignorar, além da composição, a distribuição populacional pelo território nacional, ressaltando os conceitos “populoso” e “fracamente povoado” em termos de densidades de modo geral. A partir dessas identidades, compararemos as características da população brasileira no conjunto mundial, como país extenso e populoso. Dando continuidade aos estudos populacionais, avaliaremos os dados estatísticos dos censos demográficos com as taxas de crescimento demográfico, a natalidade, a mortalidade, o crescimento vegetativo ou natural, a expectativa de vida e o envelhecimento da população e os índices de alfabetização e analfabetismo, culminando com os indicadores sociais Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), índice de Gini (sobre a desigualdade social) e Índice de Pobreza Humana (IPH), assim como a participação nos setores econômicos e de trabalho com a População Economicamente Ativa (PEA) e a População Economicamente Inativa (PEI). Outro segmento de estudos populacionais é relativo aos movimentos migratórios internos e externos e à decorrente contribuição dos grupos imigrantes na composição da população e da cultura brasileira. Destacaremos as migrações que ocorreram ao longo da história da formação econômica do Brasil, além das frentes pioneiras que migraram em direção ao Brasil central, não só durante a construção de Brasília, mas também nos movimentos posteriores para participação em atividades agropecuárias. 8 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 Pretendemos em nossa disciplina avaliar a distribuição populacional no mundo rural e urbano, os fatores que contribuíram para acentuar a migração rural e as consequências advindas desse movimento em áreas urbanas. Não poderíamos deixar de explicar e diferenciar as teorias demográficas conhecidas e a posição do Brasil nesse sentido. Procuraremos, assim, cumprir com as competências e habilidades propostas na Matriz de Referência de Ciências Humanas e suas Tecnologias, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, conjuntamente com o Ministério da Educação, como orientação metodológica para a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), segundo o Relatório de Gestão 2009 (BRASIL, 2010b) e Textos Teóricos Metodológicos (MACEDO, 2005). A proposta do MEC (BRASIL, 2006) abrange três modos de entender competência: como condição prévia do sujeito, sendo herdada ou adquirida e, muitas vezes, definida como talento, um dom para aprendizado; como aquela condição do objeto, independentemente do sujeito que o utiliza; e a competência relacional, relativa às interações possíveis envolvendo os conteúdos ensinados, a aprendizagem em si e a manutenção da disciplina na sala de aula. De acordo com a avaliação feita por Macedo (2005), as três formas de competência, na prática, não se anulam, uma vez que se referem a dimensões diferentes e complementares. As competências, por sua vez, requerem habilidades. Outro aspecto a considerar refere‑se à transmissãodas disciplinas ministradas em cada um dos segmentos escolares. A sugestão dos Parâmetros Curriculares é que elas sejam praticadas de maneira interdisciplinar e contextualizadas. De acordo com os PCN: “o ensino da Geografia pode levar os alunos a compreenderem de forma mais ampla a realidade, possibilitando que nela interfiram de maneira mais consciente e propositiva” (BRASIL, 2001, p. 108). Assim, pretendemos, com os estudos demográficos, formar geógrafos aptos a levar aos seus alunos a compreensão de suas origens, seus costumes, suas tradições e sua identidade nacional. INTRODUÇÃO Agora, apresentamos a nossa proposta de trabalho, reportando‑nos aos conteúdos programáticos considerados significativos em um estudo populacional. Deixemos claro que a formação e constituição da população brasileira e suas especificidades é vista como um ponto considerado fundamental para a Geografia e os estudos demográficos comparativamente com outros povos. Você deve compreender a importância da memória e dos elementos culturais que constituem as identidades nacionais. Devemos apreender a cultura de cada um dos grupos formadores do povo 9 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 brasileiro, a saber: o índio, o negro e os distintos grupos arianos de origem europeia, que vieram como correntes imigratórias, além dos asiáticos (japoneses, chineses, coreanos) e os grupos oriundos do Oriente Médio (sauditas, sírios, libaneses, judeus, palestinos), e também os turcos, os armênios, entre outros, que vieram como imigrantes e possuem sua cultura própria, transmitindo seus costumes e tradições, mas que também assimilaram os valores e o idioma brasileiros. Nosso povo derivou desse sincretismo. A cultura é vista como um complexo conjunto de símbolos que são construídos pelo povo em certo período de tempo sendo compartilhado por todos, como sua linguagem, sua crença, seus valores, seus hábitos, seus artefatos, sua produção artística, entre outros quesitos. Temos, portanto, enquanto humanos, uma herança cultural desenvolvida por meio das distintas gerações e que influenciam o comportamento dos indivíduos em sua comunidade e na sociedade de modo geral. Os estudos geográficos relativos aos aspectos demográficos preocupam‑se com as modificações verificadas em determinado espaço de tempo relativas à dinâmica da população e sua organização e produção em determinado espaço. Destacamos a colocação de Darcy Ribeiro (2001, p. 243) acerca de sua especificidade cultural, quando afirma: “o Brasil nasce e cresce como um povo novo, afirmando cada vez mais essa característica em sua configuração histórico‑cultural”. Em conformidade com nossas raízes históricas, estudaremos a formação da população brasileira, analisando os dados censitários em seus distintos aspectos, comparando‑os aos dados internacionais. A Geografia como disciplina dinâmica pretende preparar o aluno para localizar, compreender e atuar no mundo complexo, problematizar a realidade, formular proposições e reconhecer as dinâmicas existentes. Em termos demográficos, além de pensar e atuar criticamente em sua realidade, a Geografia atenta para as transformações articulando os conceitos adquiridos. Segundo Ferrari (2015): Embora nas últimas cinco décadas o acesso à renda e aos direitos sociais tenha crescido, há disparidades que custam a ceder, como a racial [...] O Brasil passou por um importante processo de redução de desigualdades entre 1960 e a primeira década desse século com ganhos no acesso à educação, à renda e à maioria dos serviços públicos, entre eles a eletricidade e a coleta de lixo. No entanto, algumas desigualdades persistem expressivamente, como a cobertura de redes de esgotos, muito restrita às regiões mais ricas, a diferença de remuneração entre homens e mulheres e, principalmente, o acesso à renda e à educação entre brancos e não brancos (pretos e pardos). Entretanto, os desequilíbrios continuam persistentes. Nesta disciplina será possível assimilar as transformações populacionais. Desejamos bons estudos! 11 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 ESTUDOS DEMOGRÁFICOS (CENSO, IDH, GINI, PEA, MIGRAÇÕES) Unidade I 1 FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA 1.1 Sociedade brasileira Podemos afirmar que a organização da sociedade depende, entre outros fatores, de sua condição econômica. No caso do Brasil, observamos com os dados históricos que, até 1534, não é possível falar da existência de uma organização econômica e social, uma vez que a economia baseava‑se na produção para subsistência e a população contava com cerca de 4 a 8 milhões de índios originários de diferentes etnias. Além das roças de subsistência, esses povos coletavam frutos, raízes e tubérculos, caçavam e pescavam. A base inicial da colonização portuguesa estava estruturada na exploração nômade de pau‑brasil e a escassa população organizava‑se em vilas e povoados, que se posicionavam de forma dispersa pelo litoral. Após 1530, a sociedade brasileira dá início a uma ocupação pautada na atividade agrícola sedentária e na implantação do sistema de propriedades em capitanias hereditárias e sesmarias. Tal organização baseava‑se na atividade de monocultora canavieira em grandes propriedades. A população compunha‑se por índios, com uma minoria já catequizada, além de escravos e mestiços. A unidade básica da vida social e econômica, nessa época, era o engenho. A propriedade rural caracterizava‑se pelo latifúndio, destacando‑se por sua organização em unidades como a casa‑grande, a senzala, a capela e a casa do engenho. Esse tipo de ordenamento do espaço rural estava voltado para o atendimento de uma produção destinada à exportação. Os senhores de engenho compunham, em termos hierárquicos, a aristocracia; sua posição de classe, ou status, era quantificada pela extensão das terras e a quantidade de escravos que possuíam. Nessa oportunidade, os ex‑escravos formavam um grupo inferior, enquanto o grupo intermediário era constituído por homens brancos com menos posses, homens livres, mestiços, vendedores e pequenos proprietários. Os núcleos sociais dos engenhos se multiplicavam e começava a se estruturar uma classe urbana – a burguesia – constituída por moradores das cidades na figura dos negociantes portugueses, que eram mais liberais quando comparados aos senhores de engenho. Também mais liberais foram as sociedades do interior do Brasil, onde se destacavam os grandes criadores de gado e os bandeirantes. Foi no período da mineração, sobretudo em Minas Gerais, que se estabeleceu uma classe urbana mais abastada, constituída pelos denominados senhores de lavras. Tal segmento social foi o mais desenvolvido intelectualmente, recebendo educação nos moldes europeus, notadamente a educação francesa. 12 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 Unidade I No Brasil Império, a economia cafeeira caracterizou um novo grupo social emergente, os barões do café. A forma de habitação foi alterada, pois os fazendeiros passaram a residir nos grandes centros urbanos, onde seria mais fácil exercer influência na vida política. A estrutura e as relações de trabalho também são alteradas com mudanças verificadas nos períodos históricos. Observação Barão do café é uma denominação atribuída aos ricos cafeicultores escravistas no período imperial do Brasil (1822‑1889), a maior parte deles proprietária das férteis terras do Vale do Paraíba do Sul. No entanto, não se pode generalizar, pois nem todos os fazendeiros tiveram o título de barão. A abolição dos escravos impulsionou os fazendeiros a incentivarem a imigração e, no que se refere à sociedade e à cultura, os padrões tambémforam modificados. A chegada dos imigrantes de diferentes nacionalidades contribuiu para mudar hábitos, costumes e atividades econômicas. A estrutura da sociedade brasileira é marcada pela má distribuição de renda, pela grande concentração de riqueza em mãos de poucos e pelo abismo social que separa os mais ricos dos mais pobres. Saiba mais O filme MAUÁ – O imperador e o rei. Dir. Sérgio Resende. Brasil, 135 min. narra a trajetória pessoal e econômica do personagem histórico Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá. O filme retrata a modernidade, nos moldes ingleses, se instalando no século XIX, com a construção das estradas de ferro para ligar o interior ao litoral no período do café. O enredo apresenta também a moda e os costumes no vestuário desse período. Acesse também o site: <www.itaucultural.gov.br>, que apresenta um completo acervo iconográfico para ampliar sua cultura histórica e artística. 1.2 Diversidade étnica e miscigenação Três grupos básicos deram origem à população brasileira: o índio, de provável origem paleoasiática, por isso também classificado como amarelo; o branco, principalmente o atlantomediterrâneo (portugueses, italianos e espanhóis), além dos germanos (alemães, suíços, holandeses), eslavos (poloneses, russos e ucranianos) e asiáticos (árabes e judeus); e o negro, de origem africana das etnias banto e sudanês. No início do século XX, mais um grupo veio integrar a população brasileira: o amarelo, de origem asiática, principalmente japoneses e, em menor quantidade, chineses e coreanos. 13 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 ESTUDOS DEMOGRÁFICOS (CENSO, IDH, GINI, PEA, MIGRAÇÕES) 1.2.1 Povos indígenas brasileiros O contingente de brasileiros que se declaram índios aumentou 150% na década de 1990, num ritmo quase seis vezes maior que o da população em geral. Essa é uma das principais constatações do censo sociodemográfico sobre a população indígena, realizado pelo IBGE (2002), em 1991 e 2000. O resultado, segundo o trabalho, deve‑se em grande parte ao crescimento do número de pessoas que viviam em áreas urbanas, sobretudo no Sudeste, e passaram a se declarar índios em 2000. De acordo com o Censo (IBGE, 2002), em 1991, o percentual de índios em relação à população total do País era de 0,2%, ou 294 mil pessoas. Em 2000, 734 mil pessoas, 0,4% dos brasileiros, autodeclararam‑se índios, um crescimento absoluto, na década de 1990, de 440 mil indivíduos ou um aumento anual de 10,8%; a maior taxa de crescimento entre todas as categorias de cor ou raça. O total do País apresentou, no mesmo período, um ritmo de crescimento de 1,6% ao ano. Segundo dados da Fundação Nacional de Saúde (BRASIL, 2010a), em torno de 591 mil índios (2010) vivem no Brasil, ocupam 674 áreas indígenas com mais de 107 milhões de hectares, de acordo com informes da Fundação Nacional do Índio (Funai), o equivalente a 12,7% do território e falam aproximadamente 180 línguas. Observamos que a distribuição desse crescimento foi desigual entre as regiões: o Norte teve a maior porcentagem, tendo sua hegemonia reduzida devido aos aumentos nas participações relativas do Nordeste e do Sudeste. A região Sudeste, em 1991, tinha a menor participação de índios. Em 2000, esse número dobrou, passando de 10,4% para 22,0% – um ritmo de crescimento anual da ordem de 20,5%. A maior concentração de índios encontra‑se na região Norte, principalmente no estado do Amazonas, com cerca de 225 etnias, ou sociedades indígenas, onde são faladas 180 línguas (com aproximadamente 30 famílias linguísticas) e dialetos. Estão presentes ainda nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Goiás, Rondônia, Amapá, Pará, Acre, Santa Catarina, Maranhão, entre outros. Observe os quadros das etnias indígenas mais numerosas: Tabela 1 Etnias Pop. aproximada Ticuna 35.000 Guarani 30.000 Caingangue 25.000 Macuxi 20.000 Terena 16.000 Guajajara 14.000 Xavante 12.000 Ianomâmi 12.000 Pataxó 9.700 Potiguara 7.700 Fonte: IBGE; Funai (2010a). 14 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 Unidade I Tabela 2 Reservas indígenas do Brasil (situação das terras indígenas em setembro de 2010) Em estudo N° de terras indígenas Áreas em hectares Encaminhadas 26 48.609 Delimitadas 20 985.609 Declaradas 48 2.587.653 Homologadas 25 4.474.013 Regularizadas 405 99.524.504 Total 674 107.620.415 Fonte: IBGE; Funai (2010a). Observemos os troncos linguísticos indígenas: ? Família txapacura: urupá e pacaá‑nova Família pano: caripuna, iamináua, caxinaua, poianáua, marubo, máia e tamanáua Família caribe: maiongongue, taulipangue, macuxi, parucut‑o‑xaruma, pianocotó‑tirió, aparaí, galibi, matipuhi, txicão e bacairi Família tucano: tucano, uanana, tariana e cobewa Família mura: mura‑pirahã Família maco: maco Família arauá: culina, dani, iamamadi, paumari e jarauára Família aruaque: maniteneri, campa, apurinã, baniua, mandauaca, uaipitxana, ariquiana, urucuiana, palicure, terena, uaurá, iaualapiti, mahinacu e paresi Família fulniô: fulniô Família bororo: bororoFamília puroborá: puruborá Família mondé: cinta‑larga Família maxacali: maxacali Família tupari: tupari Família ariqueme: caritiana Família ramarama: urucu e arara Família juruna: juruna Família tupi‑guarani Pesquisa mostra uma das hipóteses sobre a origem das línguas indígenas brasileiras Família jê Família xirianá: guaharibo, paquidai, uaicá e xirianá Família nhambiquara: sabanê, nhambiquara, mamaindê, manairisu e sararé Família guaicuru: cadiueu Tron co A rua que Tronco Tupi T ro nc o M ac ro ‑j ê Fa m íli as a in da n ão cl as sifi ca da s e m tr on co s Figura 1 15 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 ESTUDOS DEMOGRÁFICOS (CENSO, IDH, GINI, PEA, MIGRAÇÕES) As estimativas sobre o número de índios presentes no Brasil no início da colonização e a quantidade de escravos africanos que ingressaram no País durante a escravatura são muito elásticas e imprecisas: variam de 4 a 6 milhões de africanos, enquanto as estimativas da presença de índios no território brasileiro giram em torno de 4 a 8 milhões (UNESCO, 2006). Por outro lado, os portugueses ingressados ainda no Período Colonial chegaram a aproximadamente 500 mil, e, após a Independência, cerca de 5 milhões, dos quais aproximadamente 2,5 milhões retornaram a Portugal. Dos imigrantes ingressos no País após 1850, cerca de 4,2 milhões permaneceram no Brasil. Mais adiante trataremos desses principais grupos imigrantes. As terras indígenas são definidas como aquelas habitadas pelos indígenas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem‑estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. A demarcação das terras indígenas deverá ocorrer sempre que uma comunidade indígena ocupar determinada área nos moldes previstos na Constituição, cabendo ao Estado, por meio da Funai, a tarefa de delimitá‑la e realizar a demarcação física dos seus limites. Os povos indígenas dispõem hoje de um conjunto de 405 terras indígenas que gozam de reconhecimento legal (nas categorias homologadas e registradas). A regularização das terras indígenas no Brasil tem avançado nos últimos anos, tendo em vista que entre 2003 e 2006 um total de 23.559 km2 foram homologados ou registrados. As terras homologadas são decretadas pelo Presidente da República. Assim,cabe ao governo federal deliberar sobre a demarcação das terras indígenas, como foi realizado em 1998. Reservas indígenas da fronteira norte do Brasil Em 25 de maio de 1992, o presidente Fernando Collor homologou a demarcação da Terra Indígena Yanomami, cerca de 9,4 milhões de hectares (92 mil km2 – quase o equivalente ao território de Portugal), que se estendem desde a fronteira do Amazonas com a Venezuela, região do Parque Nacional do Pico da Neblina (altitude mais elevada do Brasil, com 2.993,78 m, na Serra do Imeri), até o Noroeste de Roraima, fronteira com a Venezuela. São aproximadamente 15 mil índios vivendo em território brasileiro e outros 12 mil na Venezuela. Além do grupo majoritário Ianomâmi, temos o grupo Lekuana e o Maiongong. A riqueza mineral da região atraiu grande número de garimpeiros em busca do ouro, cassiterita (estanho) e tantalita (tântalo), fato que gerou inúmeras invasões e conflitos da década de 1980 até 1992, resultando em mais de 1.500 mortes. A Reserva Indígena Raposa Serra do Sol foi demarcada em 1998, pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, e homologada, em 2005, pelo governo Lula da Silva. Possui 1,7 milhão de hectares, está localizada a nordeste de Roraima, em fronteira com a Venezuela a norte e com a República da Guiana (antiga Guiana Inglesa) a nordeste e leste. É uma região tradicionalmente habitada por cerca de 20 mil índios das etnias Macuxi, Ingaricó, Taurepang, Patamona e Wapichana. Compreende uma região de planície (Raposa) e uma montanhosa (Serra do Sol), onde também estão localizados os montes Roraima e Caburaí, nascente do Rio Uailã, ponto extremo do Brasil a norte. 16 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 Unidade I Figura 2 A demarcação em terras contínuas foi contestada pelo Governo Estadual de Roraima, alegando que cerca de 7% do PIB estadual provêm da produção de arroz e gado em áreas da reserva e que 45% do território de Roraima estão relacionados às reservas indígenas, fato que compromete o desenvolvimento econômico do estado. Assim, o governo estadual, os produtores rurais de grande porte e militares propuseram a demarcação do território em “ilhas”, permitindo a formação de núcleos urbanos e rurais na faixa de fronteira. No entanto, a Constituição de 1988 assegura aos índios os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá‑las, assim como proteger e fazer respeitar todos os seus bens. O desmembramento da reserva seria uma ameaça à sobrevivência física e sociocultural dos povos índios. Em 2009, o Supremo Tribunal Federal deu ganho de causa ao Governo Federal e aos povos índios da reserva, garantindo a demarcação contínua da reserva e obrigando a retirada dos arrozeiros. Não podemos ignorar que os povos indígenas do Brasil têm seus antecedentes antropológicos discutidos no contexto arqueológico dos povos que ocuparam a América. Ressurge, então, o polêmico tema sobre a origem antropológica e o DNA dos povos indígenas da Amazônia e do Cerrado, em que foi denunciado o parentesco insuspeito com aborígenes australianos e nativos de Papua‑Nova Guiné, reforçando a ideia de que o povoamento da América foi mais complexo do que as previsões antropológicas tradicionais. Os levantamentos publicados na Science e na Nature, duas renomadas publicações de revistas científicas, apresentam duas populações distintas que se misturaram no início da presença humana na América e defendem a hipótese de uma única onda migratória, com a chegada posterior de povos da Oceania (LOPES, 2015). 17 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 ESTUDOS DEMOGRÁFICOS (CENSO, IDH, GINI, PEA, MIGRAÇÕES) Com modernas técnicas de exploração arqueológica, os arqueólogos e o bioantropólogo Walter Neves, da Universidade de São Paulo, reconstruíram a mais antiga cultura do Brasil, no sítio da Lapa dos Santos, em Minas Gerais. Com seus estudos, revelaram práticas funerárias de 11 mil anos atrás e até moldaram os rostos dos primeiros brasileiros, como o de Luzia, que teve uma reconstrução facial, com correções em ambientes tridimensionais, após tomografia e aplicação de modelos matemáticos de simetria. A reconstituição de Luzia foi feita pela Universidade de Manchester, no final dos anos 1990, encontrando‑se hoje exposta no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, com seus traços negroides, o que reforçou a tese de Walter Neves (ARQUEÓLOGOS..., 2012). Esqueletos com mais de 8.000 anos encontrados em Lagoa Santa (MG), e outros restos hominídios de outras regiões da América, teriam crânio com formato similar ao de africanos e aborígenes australianos e outros grupos da Oceania, enquanto crânios da maioria dos indígenas atuais se aproximam ao de populações da Sibéria (parte asiática da Rússia). As análises genéticas também demonstraram que até 2% do DNA de alguns dos grupos indígenas residentes no Brasil herdaram caracteres de povos da Oceania. 1.2.2 A população negra de origem africana Apesar da dificuldade em documentar os ingressos, estima‑se que os primeiros contingentes de negros chegaram ao Brasil na primeira metade do século XVI, provavelmente em 1538. Com o desenvolvimento da economia açucareira e a necessidade de mão de obra, este número foi sendo ampliado. O aprisionamento na África, a travessia atlântica e a venda no Brasil constituiram‑se em um grande empreendimento para europeus. Os colonizadores investiram grandes capitais que, no futuro, iriam competir com o açúcar e o ouro. A Coroa portuguesa permitia a cada senhor de engenho importar até 120 pessoas (peças). Em 1568, o tráfico de escravos africanos foi oficializado pelo governador da capitania do Rio de Janeiro, Salvador Correa de Sá. As primeiras estimativas referentes à quantidade de negros trazidos ao Brasil variam muito. Alguns autores citam desde 13,5 milhões (Pandiá Calígeras, 1927) ou 15 milhões (Rocha Pombo, 1905) até cálculos menores como 4,6 milhões (Taunay, 1941) e 3,3 milhões (Simonsen, 1937). Os negros do Brasil foram trazidos principalmente da costa ocidental do continente africano, onde se distinguem os tipos culturais (LIMA, 2013): • sudaneses, com os grupos Yorubá – chamados Nagô; • Dahoney – designados como gegê. • Fantiashanti – conhecidos como minas, além de representantes menores de Gâmbia, Serra Leoa, Costa da Malagueta e Costa do Marfim. Um segundo grupo trouxe culturas africanas islamizadas, como os Peuhl, os Mandinga e os Haussa, do norte da Nigéria, que foram identificados na Bahia como negros malé e no Rio de Janeiro como alufá. 18 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 Unidade I O terceiro grupo cultural africano era constituído por tribos Bantu, do grupo congo‑angolês, oriundos da área hoje compreendida por Angola e a “contra‑costa”, que hoje seria Moçambique. A contribuição cultural do negro foi se processando gradualmente na história do País. Como afirmou Darcy Ribeiro (2001, p. 113‑114): “Apesar do seu papel como agente cultural ter sido mais passivo do que ativo, o negro teve uma importância crucial, tanto por sua presença como massa trabalhadora que produziu quase tudo o que aqui se fez como por sua introdução sorrateira, mas tenaz e continuada, que remarcou o amálgama racial e cultural brasileiro com suas cores mais fortes”. Os principais reinos africanos O tráfico de escravos (1450‑1910) A África em 1883 Figura 3 Comunidades remanescentes de quilombos Em 1996, o governo Mário Covas instituiu um grupo de trabalho para tornar possível a identificação precisa de terras e comunidades remanescentes de quilombos no estado de São Paulo. Em âmbito nacional, a Fundação Palmares,criada em 1988, tem a responsabilidade de reconhecer e titular definitivamente as terras de remanescentes de quilombos. Sobrevivem no Brasil traços culturais marcantes herdados pelos afrodescendentes que resistem ao tempo. A graça, a alegria, a música, os hábitos alimentares, as crenças e rituais religiosos, a dança, enfim, são muitos os elementos que os personificam e marcam a presença em nosso país. A assimilação do branco à cultura herdada dos africanos foi muito grande e pode ser observada em vastas áreas do País, exceto no Sul e no Norte, com repercussões menores. Nas comunidades negras originadas dos Quilombos, a Palmares Fundação Cultural (BRASIL, 2013), ligada ao Ministério da Cultura, identificou, em 2010, 1.342 “quilombos” em todos os estados brasileiros, 19 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 ESTUDOS DEMOGRÁFICOS (CENSO, IDH, GINI, PEA, MIGRAÇÕES) a maior parte deles no Nordeste (BA, MA). A Constituição de 1988 reconhece o direito de posse de terra para as populações originárias dos quilombos, processo que data de 1995. O dia da morte de Zumbi (20 de novembro) foi instituído como o Dia Nacional da Consciência Negra, transformado em feriado em alguns estados e municípios do Brasil. Figura 4 O mapa representa a localização de comunidades de Quilombos, com destaque para o Vale do Ribeira – considerado um dos locais do estado de São Paulo que mais abriga comunidades remanescentes de quilombos, muitas delas frequentemente atingidas ou ameaçadas em sua integridade, sobretudo pelos projetos de construção de barragens hidrelétricas. Observação Quilombo é toda comunidade negra rural que agrupe descendentes de escravos vivendo da cultura de subsistência e onde as manifestações culturais estão vinculadas com o passado. O quilombo mais conhecido é o de Palmares, situado no estado de Alagoas, que remonta ao período histórico do grande líder Zumbi, representando a resistência à dominação. 20 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 Unidade I Cafundó é um bairro rural situado no município de Salto de Pirapora, a 150 km de São Paulo. Sua população predominantemente negra divide‑se em duas parentelas: a dos Almeida Caetano e a dos Pires Pedroso. Cerca de oitenta pessoas vivem no bairro. Localizado próximo a Salto de Pirapora, foi reconhecido oficialmente no final de 1999, após uma luta que já passava de três décadas. No local, ainda vivem negros que falam o dialeto que trouxeram da África. Um dos grandes problemas encontrados ali é o fato de o quilombo, em sua totalidade, estar situado em áreas particulares, implicando inúmeras desapropriações. Os quilombolas procuram manter sua identidade através da preservação dos costumes e tradições. Usam um léxico de origem banto, quimbundo principalmente, cujo papel social é, sobretudo, de representá‑los como africanos no Brasil. 1.2.3 Miscigenação da população O cruzamento dos diferentes tipos étnicos originou uma diversidade humana, conforme a figura a seguir. Mulato Mestiços Caboblo Caiçara Mameluco Caipira Cafuzo Índios Brancos Negros Amarelos Ainoko Nativos Europeus Africanos Asiáticos branco + negro índio + branco índio + negro branco + japonês Figura 5 A miscigenação da população ocorreu de forma intensa, desde o início do processo colonial, no século XVI, quando os colonos portugueses se relacionavam com escravas negras e índias, muitas vezes à força, dando origem aos mestiços (mulatos e caboclos ou mamelucos), assim como o relacionamento entre negros e índias deu origem ao tipo mestiço denominado cafuzo. Gilberto Freyre (2006), em sua clássica obra Casa‑grande & Senzala, afirma que a miscigenação é um ponto forte e diferencial da cultura brasileira. Graças a ela, nas condições históricas em que foi sendo produzida, o Brasil desviou‑se do modelo europeu. Sua obra é ao mesmo tempo um inventário do modo original de colonização do Brasil, tendo a família como suporte e o cruzamento racial como política oficiosa, fazendo uma descrição etnográfica dos antagonismos. Freyre integrou a mistura e os conflitos. Desde o século XIX, a miscigenação era considerada pelos intelectuais brasileiros como um problema. Alguns deterministas entendiam que, devido a esse fator social, o Brasil não atingiria a civilização. 21 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 ESTUDOS DEMOGRÁFICOS (CENSO, IDH, GINI, PEA, MIGRAÇÕES) Gilberto Freyre rompeu com esse modo de pensar mostrando o antagonismo de classes na sociedade brasileira por meio de mecanismos de harmonia conflitual. O caboclo brasileiro é um tipo singular que resulta da mestiçagem entre o branco europeu e o índio. Ele recebe também a denominação de caipira, no interior do estado de São Paulo, caiçara, no litoral paulista, capiau, em Minas Gerais, sertanejo, no interior do Nordeste, caboclo, na Amazônia, gaúcho, no Rio Grande do Sul, além de mameluco. 1.2.4 Estrutura da população por cor da pele Até o final do século XIX prevalecia a população negra e a mestiça resultante da miscigenação entre brancos, índios e negros, caracterizados como caboclos, mulatos e cafuzos. Com a intensificação das imigrações européias, a partir de 1850, a porcentagem de brancos de origem europeia cresceu significativamente, principalmente no Sul e Sudeste do Brasil. O primeiro censo nacional foi realizado em 1872, quantificando a população do Brasil e classificando‑a racialmente. Para tanto, foram utilizadas categorias como branco, preto, pardo e caboclo. No segundo recenseamento, de 1890, após a abolição dos escravos, também foi incluída a classificação racial da população, substituindo o termo pardo por mestiço. Já no início do século XX, sob influência de doutrinas europeias sobre as desigualdades entre a “raça humana” e ideais de branqueamento da população, os censos de 1900 e 1920 omitiram a classificação racial, que só voltaram a aparecer em 1940, marcando um período de 50 anos de ausência de informações sobre as categorias étnico‑raciais da população brasileira. O censo de 1940 incorporou a categoria “amarela” para dar conta da imigração japonesa no Brasil, no período entre 1908 e 1930. Assim, quando não fosse possível atribuir ao entrevistado nenhuma das três categorias previstas além da branca, preta e amarela, foi instituído o termo genérico de pardos para incluir índios, caboclos, mulatos, morenos etc. Em 1970, a Comissão Censitária Nacional decidiu pela não inclusão da classificação racial, deixando uma carência de informações étnico‑raciais sobre a população brasileira até 1980. A população autóctone categorizada como cabocla e, posteriormente, parda foi ignorada por cerca de 100 anos, retornando a figurar apenas em 1991, com a inclusão da categoria indígena. Assim, em 1991, tivemos cinco categorias utilizadas: branca, preta, parda, amarela e índia. Houve um pequeno aumento da participação da população preta (6,9%), pequena redução da população branca (49,7%) e pequeno aumento da população parda (42,6%), expressando uma intensificação do processo de miscigenação, com maioria não branca. Durante o Censo de 2010, mais pessoas se declararam pretas e pardas. 22 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 Unidade I DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA POR COR E RAÇA, EM % Brancos Negros Pardos Amarelos 2000 2010 53,74 47,3 Números de brancos passou a ser menos da metade da população 6,21 7,6 50% da população Indígena Sem declaração 2000 2010 0,43 0,4 0,71 0,003 38,45 43,1 0,45 2,1 Figura 6 As desigualdadesraciais manifestas em todos os indicadores analisados expressam a recorrente exclusão social de homens e mulheres identificados como pretos, pardos ou índios, ao longo de suas vidas, desfavorecidos nas condições de moradia, assistência médico‑sanitária, escolaridade, emprego e renda, resultando em elevados níveis de mortalidade infantil e menores valores de esperança de vida. Já o censo de 2010 apresentou mudanças em termos de proporção. Cresceu a proporção de brasileiros que se declararam pretos de 5% para 6,2% da população. A explicação mais provável é que houve um maior reconhecimento pessoal da cor de pele: as pessoas deixaram de se declarar pardas, reconhecendo‑se como negras. Os grupos indígenas também foram objeto de alterações para um número maior, observado em São Paulo, quando foram contabilizados cerca de 2.000 índios da tribo pankarurus, que vivem na cidade de São Paulo. Devemos lembrar que quando o IBGE realiza seus questionamentos populacionais, utiliza o critério de autodeclaração, o que, em pesquisas de campo, pode gerar distorções. Em 1996, durante o governo Mário Covas, foi instituído um grupo de trabalho encarregado de tornar possível a identificação precisa das terras e comunidades remanescentes de quilombos no estado de São Paulo. Em âmbito nacional, a Fundação Palmares, criada em 1988, tem a responsabilidade de reconhecer e titular definitivamente as terras de remanescentes de quilombos, tendo sido identificados centenas deles em todo o Brasil. Zumbi dos Palmares Líder negro alagoano, nascido na Comunidade do Macaco, na Serra da Barriga, a capital do quilombo dos Palmares. Ainda criança foi capturado e entregue ao padre Antônio Melo, que o batizou com o nome de Francisco e o tornou coroinha. Aos 15 anos, ele fugiu para Palmares e adotou o nome de Zumbi (guerreiro). Assume o comando militar do quilombo, 23 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 ESTUDOS DEMOGRÁFICOS (CENSO, IDH, GINI, PEA, MIGRAÇÕES) que até então havia sido governado pelo tio, o rei Ganga Zumba. As tropas portuguesas investiram e o rei aceitou acordo de paz em condições desfavoráveis aos quilombolas. Em 1678, Zumbi renega o acordo, provoca então uma Guerra Civil no quilombo e assume o poder. Ganga Zumba sai de Palmares e, pouco tempo depois, morre envenenado. Zumbi lidera a resistência aos portugueses por 14 anos. Em 1692, derrota a expedição de Domingos Jorge Velho. Dois anos depois, foge após muitos ataques e continua sua luta de resistência contra as tropas oficiais. Em 1695, morre em uma emboscada. Saiba mais Leia: ANDRADE, A. M.; TATTO, N. Inventário cultural de quilombos do Vale do Ribeira. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2013. CALDAS, A.; GARCIA, L. Direito à terra das comunidades remanescentes de quilombos: o longo e tortuoso caminho da titulação. Justiça Global Brasil, Rio de Janeiro, 13 ago. 2007. Disponível em: <http://global.org.br/programas/ direito‑a‑terra‑das‑comunidades‑remanescentes‑de‑quilombos ‑o‑longo‑e‑tortuoso‑caminho‑da‑titulacao>. Acesso em: 1 dez. 2015. 2 POPULAÇÃO DO BRASIL NO CONTEXTO MUNDIAL 2.1 População mundial É necessário destacar que o Brasil, país de dimensões continentais, é, em termos demográficos, um país populoso, ou seja, de elevada população total ou absoluta, posicionando‑se dessa forma entre os mais populosos do mundo. População mundial vai crescer, mas a do Brasil estará menor em 2100, diz ONU A população mundial vai aumentar de 7,3 bilhões, em 2015, para 11,2 bilhões, em 2100, mas no Brasil diminuirá de 207 milhões atualmente para 200 milhões em 2100, diz o relatório Perspectivas da População Mundial, divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com o relatório, o encolhimento da população brasileira não ocorrerá de imediato: em 2050, o Brasil deverá ter 238 milhões de habitantes, mas a redução, a partir de 2050, será motivada por taxas de natalidade mais baixas. 24 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 Unidade I A idade média do brasileiro, atualmente, é 31 anos e será 50 anos em 2100. A expectativa de vida, que hoje está em 75 anos, alcançará 88 anos em 2100, conforme o relatório da ONU. O Brasil está entre os dez maiores países em população, entre os quais México, Nigéria, Paquistão, Estados Unidos e Rússia. Segundo a ONU, o aumento da população mundial pode ser atribuído a uma pequena lista de países com altos índices de fertilidade, especialmente na África. Até 2050, nove países vão concentrar metade do crescimento populacional: Índia, Nigéria, Paquistão, República Democrática do Congo, Etiópia, Tanzânia, Estados Unidos, Indonésia e Uganda. China e Índia continuam sendo as únicas nações com mais de 1 bilhão de habitantes cada, mas a população indiana deve ultrapassar a chinesa em 2022, prevê o relatório. O estudo revela que a maior taxa de crescimento populacional nas próximas três décadas estará concentrada na África. Pela projeção da ONU, a população de 28 nações desse continente irá dobrar. Até 2100, Angola, Burundi e República Democrática do Congo estarão entre os dez países da África com maior aumento populacional. Fonte: Campos (2015). 2.2 Velocidade do crescimento O crescimento da população mundial nas últimas décadas foi rápido, impulsionado especialmente por uma maior expectativa de vida – a média atual é de 68 anos, quando era de apenas 48 anos em 1950. A velocidade de aumento populacional começa a diminuir de ritmo decorrente das taxas de natalidade cada vez menores. Depois de a população crescer até 2% ao ano na década de 1960, a taxa de aumento do número de pessoas no mundo está se estabilizando em metade desse valor. A previsão mais atual aponta que serão necessários 14 anos para que surjam mais um bilhão de pessoas no mundo, e a população mundial só deve chegar a dez bilhões de pessoas no fim do século. A mudança na tendência não só fará com que o ritmo de crescimento seja mais lento, mas também vai gerar um envelhecimento da população, criando sociedades com mais pessoas idosas do que jovens. Em 2011, havia no mundo 893 milhões de pessoas com mais de 60 anos, mas, no meio do século, este número passará de 2,4 bilhões (UNFPA, 2014). 2.3 Mundo heterogêneo Apesar de ser apresentada como um único bloco, a população mundial vive momentos muito heterogêneos em relação a seu tamanho e sua taxa de crescimento. Cerca de 60% da população mundial vive na Ásia. Somente na China e na Índia, juntas, há mais de 2,5 bilhões de pessoas. O continente africano tem 15% das pessoas do mundo atual, e um quarto da população vive no restante do mundo (Américas, Oceania e Europa). No Brasil, a população ultrapassou 202,7 milhões. 25 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 ESTUDOS DEMOGRÁFICOS (CENSO, IDH, GINI, PEA, MIGRAÇÕES) O quadro futuro aponta para um prognóstico de mudanças. Enquanto a população da Europa tem uma taxa de fecundidade de apenas 1,53 – estimativa do número médio de filhos que uma mulher teria até o fim de seu período reprodutivo, o que indica envelhecimento e diminuição da população – na África a taxa de fertilidade chega a 4,64. Na América Latina a taxa é de 2,3, na América do Norte e na Ásia, de 2,03, e na Oceania, de 2,49. Enquanto no Reino Unido o número de pessoas com mais de 85 anos dobrou entre 1985 e 2010, o percentual de pessoas com menos de 16 anos caiu de 21% para 19% no mesmo período. No sul da África, por outro lado, a previsão é de que a população triplique em 40 anos. Se a fertilidade global caiu de 5 para 2,5 crianças desde 1950, as mulheres de Zâmbia ainda têm 6 filhos, em média. Segundo a ONU (UNFAP, 2014), um quintoda população mundial vive em países com alta fertilidade, que podem chegar a 2 bilhões de pessoas em 2050. Podem ser mencionados como lugares densamente povoados: Mônaco e San Marino, na Europa; Cingapura, Maldivas e Taiwan, na Ásia. Lembrete A sigla PNAD significa Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. 2.4 População do Brasil O Brasil é um país populoso, atingindo em 2014 o número de 202.768.562 habitantes. A população absoluta do Brasil recenseada em 2010 era de 190,7 milhões de habitantes, posicionando o País como o 5° mais populoso do mundo, após China, Índia, EUA e Indonésia. No continente americano, o Brasil é o 2° após os EUA, e, na América Latina, é o mais populoso. No entanto, o Brasil é caracterizado como um país fracamente povoado, pois sua densidade demográfica ou população relativa está abaixo da média mundial, em torno de 23,7 habitantes por km2. Além disso, a distribuição da população no território é muito desigual, pois a maioria concentra‑se numa faixa litorânea desde a orla marinha até 300 km para o interior. Após esse limite, encontram‑se os grandes vazios: Amazônia Ocidental, Sertão do Nordeste, Pantanal Mato‑grossense e Campanha Gaúcha. A região mais populosa segue sendo a Sudeste e a menos populosa é a Centro‑oeste. Embora exista perda de participação, os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro representavam 40,11% no total da população brasileira em 2014 (frente aos 40,82% em 2000). Em 2013, os maiores índices de crescimento foram verificados no Amapá (2,2%), Distrito Federal (2,2%), Roraima (1,8%) e Acre (1,8%). Por outro lado, os menores percentuais ocorreram no Rio Grande do Sul (0,4%) e no Piauí (0,3%). 26 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 Unidade I 2.5 Distribuição da população por região População – 2014 Total no Brasil: 202.768.562 habitantes Norte 8,5%Sul 14,3% Sudeste 42% Nordeste 27,8% Centro‑oeste 7,4% Figura 7 O Centro‑Sul (SE, S e CO) constitui‑se na região de maior desenvolvimento socioeconômico, com 129 milhões de habitantes, concentrando 64,3% do total brasileiro. Na Região Metropolitana (RM) de São Paulo encontram‑se 20 milhões de pessoas. Com exceção do estado de São Paulo, essa população supera qualquer das demais unidades da federação (UF) do País. As maiores densidades demográficas ocorrem nas UFs de grande população em área reduzidas, como o Distrito Federal, 421 hab./km2; Rio de Janeiro, 361 hab./km2; São Paulo, 168 hab./km2 e Alagoas, 111 hab./km2. As menores densidades demográficas ocorrem nas UFs de maior dimensão e de população reduzida, como Roraima, 1,9 hab./km2; Amazonas, 2,2 hab./km2 e Amapá, 4,5 hab./km2. Observamos dessa forma a heterogeneidade na densidade demográfica do Brasil, onde a grande extensão territorial condicionou uma maior concentração na faixa litorânea. Por razões de ordem histórica e econômica, essa diversidade se constituiu. A respeito do tema diversidade étnica e cultural, observe o mapa e leia o texto para ampliar seus conhecimentos. 27 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 ESTUDOS DEMOGRÁFICOS (CENSO, IDH, GINI, PEA, MIGRAÇÕES) Civilização ocidental latino‑americana ortodoxa árabe‑muçulmana africana (e outras) budista e confucionista Civilizações ameaçadoras O possível choque xintoísta hinduísta Figura 8 O choque das civilizações O cientista político norte‑americano Samuel P. Huntington desenvolveu em seus estudos uma teoria intitulada “Choque de Civilizações”. Posteriormente à sua publicação, dessa vez como um artigo, o tema se tornou polêmico e deu origem a um livro. Samuel Huntington, famoso expert das relações internacionais, se posiciona no contrapé do idealismo. Ele alerta para o risco de um choque entre oito civilizações que não partilham os mesmos valores, e notadamente entre as civilizações ocidental, islâmica e confuciana (as cinco outras, de acordo com ele, seriam: a latino‑americana, a africana, a hindu, a eslavo‑ortodoxa e a nipônica). Otimistas, universalistas e mundialistas ficaram escandalizados com a sua colocação. Huntington, por sua vez, considera‑os ingênuos. Seus críticos o acusam de induzir ao confronto, de formular uma “profecia autorrealizadora”, quando, ao contrário, o que ele pretende é advertir. Os realistas não acreditam em uma aliança Islã‑China antiocidental. Desde então, tudo acontece como se – embora declarando rejeitar a “teoria” do choque de civilizações – um grande número de ocidentais, na esteira da administração Bush e dos neoconservadores, partilhassem do pensamento de Huntington e dele tirasse conclusões bem particulares. 28 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 Unidade I Os praticantes do Islamismo fundamentalistas têm uma posição igualmente radical e, como fizeram os cristãos por muito tempo, dividem o mundo entre fiéis e infiéis. Outros ocidentais, bem como os muçulmanos moderados, negam tal perspectiva (essa “teoria”) em nome do universalismo, mas, sobretudo, porque ele os preocupa. Outros, por fim, estimam que o choque Islã‑Ocidente, ao contrário, é um risco sério devido às minorias fanáticas e a uma profunda ignorância mútua que predispõe à desconfiança. Estes não combatem a “teoria”, mas tentam afastar o risco e neutralizar os conflitos, propondo, para começar, a paz no Oriente Médio e preconizando o diálogo. O livro de Huntington, denominado O Choque das Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial, apresenta nove civilizações representadas no mapa. Fonte: Objetivo ([s.d.]). Huntington discute as identidades culturais e religiosas dos povos. Essas diferenças, segundo o autor, serão as principais fontes de conflito no mundo pós‑Guerra Fria; elas não ocorrerão entre as classes sociais, mas sim entre os povos pertencentes a diferentes entidades culturais e religiosas. De acordo com Diouf (2011): O melhor antídoto para o “choque das civilizações” é a aceitação do pluralismo cultural, em favor do qual as grandes vertentes linguísticas – arabofonia, francofonia, hispanofonia, lusofonia – devem desempenhar papel decisivo. A convenção da Unesco de 2005 foi um primeiro passo nesse sentido [...] A cultura não é um dado da natureza, nem uma espécie de entidade coisificada que poderíamos proteger colocando‑a numa embalagem fechada à vácuo; ela é o produto do espírito humano, de escolhas individuais e coletivas constantes [...] O pluralismo cultural é incompatível com uma visão de mundo no qual alguns se considerariam como os únicos detentores de uma modernidade supostamente universal. 3 CRESCIMENTO POPULACIONAL 3.1 Crescimento natural ou vegetativo Dois fatores contribuem para o crescimento populacional: • o crescimento vegetativo ou natural CV = Taxa Natalidade – Taxa Mortalidade Exemplo em 2008: Natalidade 16,4‰ – Mortalidade 6,3‰ = 10,1‰, ou seja, 11 por mil, ou 1%. 29 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 ESTUDOS DEMOGRÁFICOS (CENSO, IDH, GINI, PEA, MIGRAÇÕES) • saldo imigratório: SI = Taxa de Imigração – Taxa de Emigração. Assim, o crescimento populacional: CP = CV + SI A imigração foi um fator de influência no crescimento natural da população brasileira de 1850 até 1934. Contudo, a partir de 1934, com as leis de restrição à imigração, o crescimento populacional teve como causa principal o CV (crescimento vegetativo) ou natural. Entre as décadas de 1940 e 1960, o CV tornou‑se bem mais elevado, pois a queda da taxa de mortalidade manteve‑se maior do que a queda da taxa de natalidade. Nesse período, o custo de criaçãofamiliar era muito baixo, pois a maioria das famílias habitava o meio rural. A partir da década de 1970, a maioria da população passou a ser urbana, resultando no aumento do custo de criação familiar. Por isso, a opção dos casais em ter menos filhos, ou tê‑los mais tarde. De acordo com o gráfico, notamos que o crescimento da população brasileira foi muito grande entre 1872 e 2014, passando de 10 milhões para 202,7 milhões de habitantes, o que significa um acréscimo de 192 milhões de pessoas em quase 150 anos. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 18 72 18 90 19 00 19 20 19 40 19 50 19 60 19 70 19 80 19 96 19 91 20 08 20 13 Crescimento da população no Brasil M ilh õe s d e ha bi ta nt es Figura 9 30 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 Unidade I 2,39 2,99 2,89 Taxa média geométrica de crescimento anual da população residente Brasil – 1940/2010 2,48 1,93 1,38 1,97 1,23 % 1940/1950 1950/1960 1960/1970 1970/1980 1980/1991 1991/1996 1996/2000 2000/2010 Figura 10 Podemos mencionar entre as causas responsáveis pela queda da natalidade após 1970: a urbanização, o aumento do custo de criação familiar, o aumento do padrão socioeconômico, a inserção da mulher no mercado de trabalho, além da maior adoção de métodos anticoncepcionais e casamentos ou uniões mais tardias. O crescimento vegetativo ou crescimento natural da população é a diferença entre as taxas de natalidade e de mortalidade da população. Lembrete A taxa de natalidade é calculada dividindo o número de nascimentos, em determinado ano, pelo número de habitantes existentes no território e multiplicando o resultado por mil. Por exemplo, o país A, com 150.697.361 habitantes, registrou, em 1992, 3.554.149 nascimentos, ou seja: 3.554.149 ____________ x 1000 = 23,6‰ 150.697.361 Regionalmente, observamos diferenças significativas no tocante à natalidade: as taxas mais elevadas são encontradas nas regiões Nordeste e Norte e as mais baixas estão nas regiões Sudeste e Sul. A taxa de mortalidade, embora tenha sido bastante elevada até a década de 1930, sofreu forte redução a partir da década de 1940 (Segunda Guerra Mundial). Essa redução se deve a alguns fatores, por exemplo: o progresso da medicina e da bioquímica (antibióticos, vacinas), melhoria na assistência médico‑hospitalar, melhores condições higiênico‑sanitárias e urbanização da população. Quanto às variações das taxas de mortalidade, verificamos que as mais elevadas são encontradas nas regiões Nordeste e Norte e as menores, nas regiões Sudeste e Sul, que são mais elevadas nas zonas rurais que nas zonas urbanas e que a mortalidade masculina é maior que a feminina. 31 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 ESTUDOS DEMOGRÁFICOS (CENSO, IDH, GINI, PEA, MIGRAÇÕES) Podem ser mencionadas como causas da queda da mortalidade: maior urbanização, investimentos em saneamento básico, evolução da medicina e melhoria no padrão educacional. Outros dois fatores também influenciam o crescimento vegetativo: a) Taxa de mortalidade infantil – que expressa o número de óbitos de bebês com menos de 1 ano de idade por grupo de mil nascidos em 1 ano. Essa taxa no Brasil continua em declínio, passando de 36,9‰ para 22,5‰ entre 1996 e 2008. Em 2012, a taxa no Brasil caiu para 15,7‰. Santa Catarina (10,5‰), Espírito Santo (10,7‰), Rio Grande do Sul (10,8‰), Paraná (11%) e São Paulo (11,2%) têm as menores taxas de mortalidade infantil, enquanto Alagoas (25,9‰) e Maranhão (26,1‰) têm as maiores taxas. A mortalidade infantil continua em declínio no Brasil, situando‑se, atualmente, em torno de 15 por mil, ou seja, a cada 1.000 crianças nascidas vivas, 15 (em média) morrem antes de completar um ano de vida. A mortalidade infantil é calculada dividindo o número de crianças com menos de um ano que morreram em determinado ano pelo número de crianças nascidas no mesmo ano (número de óbitos de crianças de zero a 1 ano de idade, em cada grupo de 1.000 nessa faixa etária durante 1 ano). Observemos alguns dados importantes: Podemos constatar que a “cara do Brasil”, em termos demográficos, realmente mudou. Já não temos um padrão típico de país jovem, subnutrido, analfabeto e masculino. Há um novo tipo de estrutura familiar, não mais a tradicional e extensa família patriarcal que herdamos na década de 1940. Entretanto, as diferenças em termos regionais ainda persistem de maneira intensa. Em 2000, a expectativa de vida era de 71 anos; já em 2014, esse número subiu para 75,5 anos, o que significa que, no estado de São Paulo, o aumento foi de 4,5 anos, índice que o aproxima aos países desenvolvidos. Os principais motivos que justificam as mudanças são: queda nas mortes por agressão, por doenças do coração e originadas do período pré‑natal e logo após o nascimento. Também houve alteração entre a sobrevida feminina e masculina, sendo que, em 2000, a diferença da expectativa era de 9 anos e, em 2014, 6,7 anos. Foi constatado também que os homens morrem mais devido às agressões, mas, pela primeira vez desde 1950, os homens ganharam mais sobrevida do que as mulheres no estado de São Paulo. Os dados numéricos comprovam as informações, veja (ESPERANÇA..., 2015): Expectativa de vida ao nascer: • estado de São Paulo = 75,7 anos; • Região Metropolitana de São Paulo= 75,5 anos. 32 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 Unidade I Comparando com outros países, temos: • América do Norte = 79,2 anos; • Oceania = 77,5 anos; • Europa = 77,0 anos; • América Latina e Caribe = 74,6 anos; • Brasil = 74,1 anos; • Ásia = 71,6 anos; • África = 59,5 anos. Expectativa de vida por gênero: • 2000: homens= 76,6 anos; mulheres = 67,2 anos; • 2010: homens = 71,4 aos; mulheres = 78,6 anos; • 2014: homens = 72,3 anos; mulheres = 79,0 anos. b) Taxa de fecundidade – que corresponde ao número médio de filhos por mulher até o final da idade fértil (dos 15 aos 35 anos). Em 1960, essa taxa era de 6 filhos por mulher, em 1996 era de 2,7 filhos por mulher, caindo em 2008 para 1,81 filho por mulher. Com menos de 2 filhos por mulher, após 25 anos (uma geração), não ocorrerá reposição do total da população existente. Em 2010, a taxa foi de 1,78 filho por casal. Tabela 3 Taxa de fecundidade Região Filhos por mulher Norte 2,3 Nordeste 1,9 Centro‑oeste 1,8 Sudeste 1,7 Sul 1,6 Brasil 1,8 Fonte: IBGE (2010b). 33 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 ESTUDOS DEMOGRÁFICOS (CENSO, IDH, GINI, PEA, MIGRAÇÕES) A qualidade de vida também mudou, o que interferiu na estrutura familiar e nas taxas de crescimento vegetativo (natalidade e mortalidade). Sabemos, no entanto, que uma satisfatória condição de vida, saúde e redução nas taxas de mortalidade dependem de serviços de saneamento, higiene e salubridade adequados. Essas condições, por sua vez, dependem de uma boa gestão pública. O acesso a serviços públicos foi ampliado no Brasil nos últimos dez anos, mas, em alguns casos, em ritmo menor do que na década anterior (de 1991 a 2000). A pior situação continua a ser a do saneamento básico, ausente ou inadequado em quase metade dos domicílios brasileiros (45%). Outro dado que impressiona é que ainda existem no País 3,6 milhões de residências sem banheiro de uso exclusivo da família. Cerca de 6 milhões de lares utilizam fossa séptica, forma de saneamento considerada inadequada pelo instituto. Há ainda 18,9 milhões sem nenhumtipo de saneamento. Ocorre também um problema sério e que interfere na qualidade de vida: o abastecimento de água; 83% é realizado por meio de rede geral nas residências brasileiras. De acordo com o Censo 2010 (IBGE, 2013c), moradores de 5,7 milhões de domicílios (10% do total) ainda precisam buscar água em poços ou nascentes e muitos pagam preços exorbitantes para terem acesso à água. Sabemos que o saneamento básico é prioritário para uma satisfatória qualidade e expectativa de vida. Ainda segundo o levantamento do IBGE (2013), a média de pessoas por residência sofreu uma redução no País: de 3,8, em 2000, para 3,3, em 2010. O censo de 2010 apurou ainda que 73% dos domicílios são propriedades dos próprios moradores. Cresceu a proporção de mulheres, inclusive como chefes da família. Os analfabetos representam 9% da população. As pessoas com mais de 65 anos constituem 7,4% da população. Os casais homossexuais representam 0,2%, ou 60 mil, das pessoas que declararam estarem casadas. Os brancos deixaram de ser maioria por cor e raça em porcentagem. A classe média é a mais numerosa (renda per capita em torno de 0,5 a 2 sálarios mínimos – que representa 50,6% do total) e o saneamento já atinge mais da metade da população (55,4%), esta que foi ampliada nas regiões Norte e Centro‑oeste. Observação Uma das características sociais insatisfatórias do Brasil sempre foi a má distribuição de renda. Entre 2000 e 2010, o rendimento dos 20% mais pobres cresceu mais rapidamente do que o dos 10% mais ricos em quatro de cada cinco cidades do Brasil, comparativamente aos dez anos anteriores. Outro aspecto importante para promover as mudanças sociais são os indicadores sobre educação e taxas de alfabetização. 34 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 Unidade I Parte da melhoria na qualidade de vida e da redução dos piores índices sociais é atribuída ao Programa Bolsa Família. O programa seria complementar aos aumentos reais de salários e à formalização de empregos, além das políticas de transferência de renda, promovendo redução de 36% na desigualdade dos municípios brasileiros. O censo demográfico, ou recenseamento, é realizado no Brasil de dez em dez anos. Você sabe como os dados obtidos interferem na vida do cidadão? Os resultados populacionais do censo servem de referência para: • distribuição das verbas do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) pelo Tribunal de Contas da União; • cálculos da Previdência Social, com base nas estimativas do crescimento e do envelhecimento dos habitantes, para saber quem paga o benefício e que faixa da população terá o direito a ele; • definição da representação política: número de vereadores, deputados federais e estaduais dos municípios e estados. 4 TEORIAS DEMOGRÁFICAS 4.1 Teoria Malthusiana Em 1798, na Inglaterra, o economista e sacerdote anglicano Thomas Robert Malthus publicou uma teoria altamente antinatalista e conservadora na obra Um Ensaio sobre o Princípio da População. Naquele período, em virtude da Revolução Industrial, a Inglaterra vivia um momento de crescente aumento populacional. Preocupado com essa explosão demográfica e com os consequentes problemas socioeconômicos (pobreza, desemprego etc.) decorrentes, Malthus defendeu a urgência do controle populacional. A Teoria Malthusiana fundamentou‑se na relação entre crescimento populacional e os meios de subsistência, apoiando‑se nos seguintes princípios: 1°: caso não seja detida por obstáculos (guerras, epidemias etc.), a população tende a crescer segundo uma progressão geométrica (1, 2, 4, 8, 16, 32), duplicando‑se a cada 25 anos; 2°: na melhor das hipóteses, os meios de subsistência (capacidade de produção de alimentos) só poderiam aumentar segundo uma progressão aritmética (1, 2, 3, 4, 5, 6). O método proposto por Malthus para evitar o crescimento geométrico da população foi a sujeição moral (abstinência sexual, casamentos tardios, controle do número de filhos etc.) e a não assistência governamental aos pobres (segundo Malthus, a miséria seria uma forma natural de controle da superpopulação). Sua teoria é contestada pelos seguintes motivos: • a população não cresceu geometricamente. Caso tivesse aumentado de forma geométrica, a população mundial seria, em 1990, de 185 bilhões de pessoas, quando, na realidade, era de 5,2 bilhões de habitantes; 35 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 ESTUDOS DEMOGRÁFICOS (CENSO, IDH, GINI, PEA, MIGRAÇÕES) • o desenvolvimento científico e tecnológico alcançado no campo provocou um aumento geométrico dos alimentos, sendo hoje, pelo menos numericamente, suficiente para todos, porém mal repartido; • a emancipação feminina (não prevista por Malthus) provocou redução significativa na taxa de fertilidade da mulher. Malthus acreditava que as barreiras naturais que impedem o crescimento da população animal atuavam igualmente sobre as populações humanas. Assim, a miséria seria uma espécie de vingança da natureza contra os homens que teimavam em se multiplicar: A natureza espalhou pelos reinos animal e vegetal as sementes da vida com a mão mais profusa e pródiga. Foi relativamente mais econômica no espaço e no alimento necessários para criá‑los. Os germes da existência contidos nessa terra, com alimento suficiente, e o espaço amplo para expandir‑se povoariam milhões de mundos no curso de alguns milhares de anos. A necessidade, lei imperiosa e penetrante da natureza, conserva‑os dentro dos limites prescritos. As espécies de plantas e as raças dos animais retraem‑se sob essa imensa lei restritiva. E a raça humana não pode, mesmo por qualquer esforço de raciocínio, dela escapar. Entre as plantas e os animais, seus efeitos são perda de sementes, doenças e morte prematura; entre a humanidade, miséria e males. A primeira – a miséria – é consequência absolutamente necessária. Os males são consequência altamente provável e, portanto, vemos como prevalecem abundante mente, mas talvez não se deva chamá‑los consequência absolutamente necessária. A provação da virtude está em resistir a todas as tentações do mal (MALTHUS, 1996, p. 382). 4.2 Teoria Neomalthusiana Depois da Segunda Guerra Mundial, a queda das taxas de mortalidade nos países subdesenvolvidos provocou novo surto de crescimento demográfico. Os neomalthusianos culpam os pobres pela pobreza de seus países; segundo eles, o elevado crescimento populacional é o principal responsável pelo subdesenvolvimento dos países pobres. Para os neomalthusianos, o elevado número de jovens atrapalha o desenvolvimento, pois muitos recursos são desviados para investimentos não produtivos (creches, escolas etc.). Apesar de concordarem em essência com os fundamentos da teoria de Malthus, os neomalthusianos concordam que a agricultura é capaz de produzir alimentos suficientes para todos e não defendem a sujeição moral como solução para conter o aumento populacional. Para eles, são os programas rígidos e oficiais de controle de natalidade que podem evitar o elevado crescimento populacional. Esses programas devem difundir diversos métodos, por exemplo, pílulas anticoncepcionais, ligadura das trompas, vasectomia e aborto. 36 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 17 /1 2/ 20 15 Unidade I Na maioria dos países nos quais os métodos neomalthusianos foram implantados, os resultados foram negativos. Os principais opositores dos novos adeptos de Malthus são os islâmicos e a Igreja Católica. Recentemente, a onda ambientalista mundial fez surgirem os econeomalthusianos. Segundo eles, é preciso conter o rápido crescimento populacional, pois este traria uma pressão
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