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PROBLEMA 04 - O “Y” DA QUESTÃO Preocupado por ser o único membro da família que não teve COVID-19, Graham procurou um médico que solicitou alguns exames para confirmar se ele já havia tido contato com o vírus. Uma semana depois, com os resultados em mãos, o médico verificou que Graham tinha níveis de duas classes distintas de imunoglobulinas contra o vírus. Assustado, o paciente perguntou o que aquilo significava. O médico explicou que essas estruturas proteicas, em formato de “Y”, desempenham diferentes papeis na defesa imunológica do organismo. Curioso, Graham perguntou ao médico como uma “letrinha” seria capaz de protegê-lo de uma doença. O médico sorriu e respondeu que para produzir essas “letrinhas” algumas de células do organismo passam por um processo complexo de ativação e diferenciação. Quando estão prontas, essas células produzem essas imunoglobulinas que “grudam” no microrganismo e estimulam a sua destruição. Antes de dormir, ao abraçar seu ursinho, Graham se perguntou: “Ué, o Doutor me falou tanta coisa, mas ainda fiquei sem saber, tive COVID-19 ou não?” PERGUNTAS 1. O que são as imunoglobulinas e como agem? (Citar exemplos e como algumas estimulam a destruição dos patógenos) 2. Como diagnosticar a COVID por meio da análise das imunoglobulinas? 3. Como ocorre a produção, o processo complexo de ativação e diferenciação das imunoglobulinas? HIPÓTESES 1. Glicoproteínas produzidas pelos plasmócitos, agem se ligando aos microrganismos e promovendo a sua eliminação. São presentes na circulação sanguínea e linfática. Como exemplo, há IgG, IgA, IgE. As IgG são produzidas logo após a infecção e perduram por poucos dias, já as IgM são produzidas posteriormente e perduram por muitos dias na circulação. A IgE tem influência na produção de histamina (vasodilator) durante uma reação alérgica. 2. IgG e IgM positivo é um indicador de que a doença está ativa no atual momento. IgG e IgM negativos evidenciam uma chance muito baixa de contato prévio ou manifestação atual. Vale destacar que a realização após 3 dias do sintoma é importante, pois reduz as chances de surgir um falso negativo, porque é necessário um tempo para que o organismo produza as imunoglobulinas. 3. Ocorre a produção por meio da atuação de células tronco multipotentes da medula óssea, que saem maduras e vão circular na corrente linfática (órgãos linfáticos secundários) e serão ativadas por algum linfócito T, por meio da secreção de citocinas, como a IL-2, IL-4, IL-5, IL-6 e interferon Y. O linfócito B vai se diferenciar em plasmócito que irá produzir as imunoglobulinas. OBJETIVOS 1. Entender o que são as imunoglobulinas (Estrutura química, classes, funções) 2. Compreender o processo de ativação e diferenciação dos linfócitos B em imunoglobulinas 3. Interpretar as correlações existentes entre as imunoglobulinas no contexto de diagnósticos de agentes infecciosos 4. Entender a ligação antígeno-anticorpo (Como é determinada essa ligação) REFERÊNCIAS ABBAS, A.K. & LICHTMAN, A.H. Imunologia Básica: funções e distúrbios do sistema imunológico. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. Cap. 7, p. 229-259. ABBAS, A. K.: LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. Imunologia Celular e Molecular. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. Cap. 5, p. 232-263; Cap. 12, p. 627-690. JANEWAY, CA. et al. Imunobiologia: O sistema imune na saúde e na doença. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. Cap. 9, p. 378-415. BRITO, F. A. C. et al. Estratégias laboratoriais para identificação da infecção pelo novo coronavírus. Departamento da Propedêutica Complementar. Belo Horizonte, abr/2020. Disponível em: https://www.medicina.ufmg.br/coronavirus/wp- content/uploads/sites/91/2020/04/Estratégias-laboratoriais-para-identificação-da-infecção-pelo-novo-coronav%C3%ADrus.pdf. Acesso em 20 jul 2021. ENTENDER O QUE SÃO AS IMUNOGLOBULINAS (ESTRUTURA QUÍMICA, CLASSES, FUNÇÕES) ® Os anticorpos também podem ser chamados de imunoglobulinas ou gamaglobulinas, porque na eletroforese, que é muito utilizada na sorologia em vários exames, são colocados os anticorpos para migrar entre dois polos e a maior parte deles vão ser o terceiro grupo a migrar (gama = 3ª letra do alfabeto). ® Os anticorpos são sintetizados pelas células da linhagem de linfócitos B e existem em duas formas: o Ligados à membrana na superfície dos linfócitos B, e nesse caso vai agir como propriamente um receptor pra antígenos e vai ativar os linfócitos B virgens (assim que reconhece o antígeno) para que seja desencadeada toda resposta humoral, porque a partir do momento em que as células B virgens se diferenciam em plasmócitos, vão ser secretados anticorpos específicos de acordo com o receptor do antígeno. E é por se ligar ao linfócito B que o anticorpo também pode ser chamado de BCR, que é receptor de célula B. o São secretados e ficam no plasma, principalmente, mas também podem ser encontrados nas secreções mucosas e nos tecidos do nosso corpo (fluido intersticial). Esses anticorpos secretados vão ter uma ação muito importante na fase efetora da imunidade humoral, porque eles têm vários mecanismos para defender o organismo (podem neutralizar toxinas de bactérias, prevenir que outros patógenos entrem na célula e se disseminem ali, por exemplo) ® O anticorpo é uma molécula de ação muito específica. A única coisa que ele sabe fazer é se ligar ao antígeno, e em decorrência dessa ação é que vão ser desencadeadas todas as outras funções de combate ao antígeno. Então, podemos dizer que a primeira função de um anticorpo, quando ele está na membrana de um linfócito B, é a função de ativar aquele linfócito B. Então vamos ter vários tipos de linfócito B, cada um com um determinado tipo anticorpo ligado a sua membrana, servindo de receptor de membrana. Quando esse anticorpo que está na membrana do linfócito B encontrar o seu respectivo antígeno, eles vão se associar, e isso vai fazer com que esse linfócito B seja ativado. Essa ativação do linfócito B vai fazer com que ele produza e secrete anticorpos contra aquele antígeno que se ligou a sua membrana, que vão circular de forma livre no sangue e promover a defesa quando antígenos subsequentes (específicos) forem identificados. ® Quando o antígeno é capaz de ativar resposta imune, é chamado de IMUNÓGENO. E essa capacidade do antígeno de ser reconhecido é denominada antigenicidade. ® Caso não seja capaz de provocar resposta sozinho, o antígeno é denominado HAPTENO, que é quando necessita de proteína carreadora que estimule resposta imune, para que só assim, se forma um imunógeno (=conjugado hapteno-transportador) ® EPÍTOPO: Também chamado de DETERMINANTE ANTIGÊNICO. É a parte do antígeno que pode ser reconhecida por um anticorpo, sendo capaz de gerar resposta imune. Cada anticorpo é complementar a um epítopo, e em um Ag podem conter vários epítopos (polivalentes). ESTRUTURA QUÍMICA Proteínas que podem estar no soro ou no plasma e podem ser separadas de outras proteínas por vários critérios, principalmente pela solubilidade ou pela diferença de carga, que é a técnica de eletroforese, muito utilizada na sorologia em vários exames. Nessa técnica, basicamente vão ser colocados os anticorpos pra migrar entre dois polos e a maior parte deles vão ser o terceiro grupo a migrar, por isso que a maioria é chamada de gamaglobulina, que vai englobar todas as classes de anticorpos que vamos estudar. ® O anticorpo é formado por 4 cadeias que estão ligadas entre si por ligações dissulfeto. Existem duas cadeias pesadas (são maiores), que são idênticas entre si, e 2 cadeias leves (menores), que também vão ser idênticas entre si. ® O antígeno vai se ligar na ponta das cadeias pesada e leves. Como elas são idênticas, podemos deduzir que em cada anticorpo teremos 2 sítios de ligação que permitirão a ligação de 2 antígenos que também sejam iguais. ® Os antígenos vão se ligar em uma região que contém uma parte da cadeia pesada e uma parte da cadeia leve. FAB: fração doanticorpo que vai se ligar ao antígeno. Nessa fração, existe uma região V de uma cadeia pesada e uma região V de cadeia leve, e essas duas regiões vão formar o sítio de ligação ao antígeno. Já a região C, contribuem para a associação entre essas cadeias leves e pesadas (lembrando que elas não participam da ligação direta com o antígeno). FC: fração do anticorpo que vai se ligar ao receptor, ou seja, a outras células do sistema imune. Pode se ligar à proteína C1 do complemento pra ativar a via clássica, por exemplo, ou então pode interagir com outras moléculas e células do sistema imune, mediando as reações humorais. É formada exclusivamente por cadeia pesada e é a região que vai dar a função para o Ac. Tanto as cadeias leves quanto as pesadas consistem em regiões aminoterminais variáveis (V), que participam do reconhecimento do antígeno, e regiões carboxiterminais constantes (C). Essa região C da cadeia pesada ajuda a mediar algumas das funções protetoras e efetoras dos anticorpos. CADEIA PESADA: composta por uma região constante e uma variável. A variável vai ser diferente para cada Ac, para reconhecer Ags específicos, e a constante vai ser uma região comum a cada uma das classes de anticorpos. Existem 5 tipos de cadeias pesadas, que são nomeadas por letras gregas (alfa, delta, épslon, gama e mi), e o nome da cadeia pesada dá nome aos tipos de imunoglobulinas. Respectivamente: IgA, IgD, IgE, IgG, IgM. Se é a porção Fc que dá a função do anticorpo, que é exclusivamente formada por cadeia pesada e é a cadeia pesada que determina a classe do anticorpo, deduz-se que a cada classe vai ter uma função. CADEIA LEVE: existem dois tipos: cadeia do tipo kappa e do tipo lambda. Cada molécula de anticorpo vai ter ou uma ou outra, porque as duas partes da cadeia leve são sempre idênticas. Em humanos, geralmente 60% dos nossos anticorpos têm essa conformação tipo kappa e 40% tipo lambda, mas essa proporção pode variar muito em pacientes que tem algum tumor de célula B, porque, na neoplasia, as células vão se dividindo descontroladamente, e, se todas derivam de uma mesma, todas vão ter a mesma cadeia leve. Por isso, inclusive, que quando o médico vai avaliar a possibilidade de um linfoma de célula B, ele vai pedir a dosagem da proporção das cadeias leves de anticorpos. ALÓTIPOS: Pequenas diferenças nas sequências dos aminoácidos dos anticorpos dos indivíduos de uma mesma espécie (prefixo alo) que acontecem por conta de polimorfismos herdados nos genes que vão codificar a região C (das cadeias pesadas e leves). Geralmente vários aminoácidos são substituídos, mas basta que 1 aminoácido seja alterado para que seja gerado um determinante alotípico. Esses alótipos têm algumas aplicabilidades importantes: o Monitoração de enxertos de medula óssea: os enxertos produzem um alótipo diferente do que foi recebido, então é possível monitorar se o enxerto, de fato, foi bem sucedido. o Medicina forense: alguns alótipos específicos são detectáveis em manchas de sangue e no sêmen, então a medicina forense utiliza esses alótipos para fazer investigações. o Teste de paternidade IDIÓTIPOS: São determinantes antigênicos únicos que estão em anticorpos individuais ou em moléculas de idêntica especificidade, ou seja, quando todas as moléculas do anticorpo têm exatamente as mesmas regiões hipervariáveis. Se um anticorpo consegue reconhecer algum aspecto dos CDRs de outro anticorpo, ele vai ser chamado de anticorpo anti-idiotípico. o Regulação das respostas imunes: Há evidências de que as respostas imunes sejam reguladas por anticorpos anti-idiotípicos, que acabam sendo dirigidos contra nossos próprios idiótipos. o Vacinas: Em alguns casos, anticorpos anti-idiotípicos estimulam células B a produzirem e secretarem anticorpos, então é como se esses anticorpos pudessem ser utilizados como uma “vacina”. Essa abordagem está sendo experimentada para imunização contra alguns patógenos que são tão perigosos que não podem ser utilizados com segurança como vacina. As vacinas, para serem efetivas, precisam induzir a maturação de afinidade e a formação de células B de memória, só que isso essas coisas só vão acontecer Na imagem, podemos observar que todo anticorpo é uma imunoglobulina, mas nem toda imunoglobulina é um anticorpo! As imunoglobulinas são uma superfamília de proteínas que possuem um domínio com uma estrutura de dobra da Ig, que são basicamente duas folhas β-pregueadas adjacentes mantidas unidas por uma ponte dissulfeto (formando essa curvinha). Regiões hipervariáveis: é a parte do Ac que tem os segmentos de maior diversidade. São três alças que funcionam como dedos, ou seja, são protuberâncias dos domínios variáveis (três dedos da cadeia leve e três da pesada) que ficam unidos para formar o sítio de ligação ao antígeno. Pelo fato dessas sequencias serem complementares ao antígeno que é ligado a elas, essas regiões hipervariáveis também são chamadas de regiões determinantes de complementariedade (CDRs) > Existem 3 tipos de CDRs: CDR1, CDR2 e CDR3. As CDR3 são as mais variáveis, que é a região que tem o contato mais extenso entre Ag e Ac. > Lembrando que não necessariamente todas as CDRs precisam participar da ligação com o antígeno. Algumas podem estar do lado de fora da região de contato. se as vacinas conseguirem ativas as células T auxiliares. Por isso, as vacinas passaram a ser desenvolvidas de forma conjugada, que é quando ela tem polissacarídeos com proteínas. Essas vacinas vão induzir a formação de anticorpos de alta afinidade ainda mais rapidamente. Inclusive, em vacinas infantis essa técnica de conjugação é bastante empregada porque crianças tem mais dificuldade de produzir respostas T-independentes aos polissacarídeos, então são utilizadas essas proteínas para induzir uma resposta mais efetiva. o Tratamento de tumores de células B: anticorpos anti-idiotípicos podem ser usados contra células B malignas, porque quando eles entram em contato com elas, podem induzir o sistema complemento ou matar essas células de forma direta por meio de substâncias toxicas que estão acopladas aos anticorpos. ANTICORPOS MONOCLONAIS: É uma coleção de moléculas de anticorpos idênticos e que possuem a mesma especificidade. Geralmente, em tumores de qualquer origem celular, os anticorpos que são produzidos são monoclonais, então todos terão a mesma especificidade. o Identificação de marcadores fenotípicos únicos a tipos celulares particulares, porque hoje a classificação de linfócitos e outros leucócitos é baseada no reconhecimento dos anticorpos monoclonais de cada um desses tipos celulares o Imunodiagnóstico: para fazer o diagnóstico de várias doenças infecciosas e sistêmicas, se faz a procura de antígenos ou anticorpos que sejam particulares (para que o diagnostico seja diferencial). Então vão ser usados anticorpos monoclonais. o Terapia: são usados alguns anticorpos monoclonais para tratar algumas doenças por conta de sua grande especificidade. Em casos de artrite reumatoide e outras doenças inflamatórias, por exemplo, são usados anticorpos contra uma citocina específica, que é o fator de necrose tumoral. Também são utilizados esses anticorpos monoclonais para alguns tipos de neoplasias (nesse caso, o anticorpo vai ir contra os fatores de crescimento). o Análise funcional de moléculas de superfície celular e secretadas: esses anticorpos monoclonais conseguem purificar populações celulares, porque eles vão se ligar a moléculas específicas. MEIA VIDA DOS ANTICORPOS É uma forma de medir o tempo que os anticorpos permanecem no sangue depois de serem secretados pelas células B (ou, no caso de serem administrados, após a injeção), porque a meia vida vai avaliar o tempo que a quantidade de anticorpos circulantes decai pela metade. Cada isotipo tem uma meia vida, e essa meia vida vai depender inclusiva da forma como essa imunoglobulina se apresenta. Por exemplo: O IgE tem uma meia vida bastante curta (2 dias), mas essa meia vida sóé curta quando a IgE circula no sangue, porque se ela estiver ligada a célula a meia vida se torna longa). A IgA circulante tem meia vida de 3 dias, mesmo a maior parte da IgA seja produzida em sítios de mucosa e seja secretada diretamente no lúmen do intestino ou da VA. A IgM circulante tem meia vida de 4 dias. A IgG circulante tem meia vida de 21 a 28 dias. Por isso é tão importante que o tempo desde o início dos sintomas seja analisado junto com o resultado do exame. CLASSES O tempo longo de meia vida do IgG é justificado por causa da capacidade que ele tem de se ligar a um receptor Fc específico, que é o chamado receptor Fc neonatal (FcRn), que recebe esse nome por também estar envolvido com o transporte de anticorpos pela barreira placentária. Esse receptor não tem como alvo a IgG que esta ligada em lisossomo, mas como esse é o destino mais comum das moléculas ingeridas, o FcRn vai sequestrar essa IgG e vai liberar ela só em um lugar que tem boas condições de sobrevivência, para que a IgG consiga retornar a circulação sem ser degradada. Nem sempre as imunoglobulinas serão encontradas sozinhas depois de secretados. Podem se agrupar e formar dímeros, trímeros e até pentâmeros. IgA: Garante a imunidade das mucosas, a partir da secreção de IgA para o lúmen dos tratos gastrointestinal e respiratório, que vai neutralizar microorganismos e toxinas que estão nessas regiões. 2/3 das imunoglobulinas circulantes são IgA, porque as mucosas do TGI e do TR são as regiões que estamos mais susceptíveis a ter uma infecção, é a região que mais temos contato com antígenos. Passado da mãe para o filho através da amamentação. Podem circular agrupadas em monômeros, dímeros ou trímeros, mas é mais comum de serem encontradas 2 a 2. Podem ser divididos em IgA1 e IgA2. IgG: Muito relacionado com o sangue e com os fluidos. Opsonização: Recobre microorganismos e os marca para fagocitose por neutrófilos e macrófagos, e isso só acontece porque a IgG consegue se ligar ao mesmo tempo no microorganismo, pela sua região Fab, e nos receptores para IgG que estão nos fagócitos pela sua região Fc. Ativa a via clássica do complemento. Atuam como citotóxicas por mediação de células NK. Imunidade neonatal: Consegue atravessar a placenta, garantindo os anticorpos fetais pela placenta e pelo intestino. (passiva) Inibição da ativação de célula B por feedback de anticorpo Neutralização de microorganismos e toxinas Circulam sempre isolados (monômeros). Podem ser divididos em IgG1, IgG2. IgG3, IgG4. IgE: Muito relacionado com processos alérgicos (hipersensibilidade imediata). Faz isso por meio da ativação de mastócitos, que acontece assim: Os mastócitos têm receptores de membrana que são específicos para a IgE, então a IgE se liga a esses mastócitos e dispara sua desgranulação. Também é associado à defesa contra helmintos mediada por eosinófilos. Circulam sempre isolados (monômeros). IgM: É um anticorpo que pode ser encontrado na membrana, como o IgD, mas a diferença é que ele também circula no sangue. É o primeiro anticorpo a ser secretado quando uma célula B. Então se a titulação de IgM está muito alta, quer dizer que a infecção do paciente é recente. Ativação da via clássica do complemento. (imunoglobulina mais eficiente na fixação do complemento). É mais comum de serem encontradas em pentâmeros. Só encontramos a IgM em sua forma monomérica quando está ligada na membrana dos linfócitos B maduros, nesse caso ela apresenta dois componentes adicionais, o domínio transmembrana, composto por aminoácidos hidrofóbicos que ancoram a molécula à membrana citoplasmática, e um domínio citoplasmático. IgD: Não é secretado, só pode ser encontrado na membrana, nunca vai ser achado livre circulando. FUNÇÕES 4. HIPERSENSILIDADE IMEDIATA As alergias se dão pela ativação e degranulação de mastócitos, e essa ativação é desencadeada por anticorpos. COMPREENDER O PROCESSO DE ATIVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DOS LINFÓCITOS B EM IMUNOGLOBULINAS Os anticorpos são sintetizados pelas células da linhagem de linfócitos B e existem em duas formas: o Ligados à membrana na superfície dos linfócitos B, e nesse caso vai agir como propriamente um receptor pra antígenos e vai ativar os linfócitos B virgens (assim que reconhece o antígeno) para que seja desencadeada toda resposta humoral, porque a partir do momento em que as células B virgens se diferenciam em plasmócitos, vão ser secretados anticorpos específicos de acordo com o receptor do antígeno. E é por se ligar ao linfócito B que o anticorpo também pode ser chamado de BCR, que é receptor de célula B. o São secretados e ficam no plasma, principalmente, mas também podem ser encontrados nas secreções mucosas e nos tecidos do nosso corpo (fluido intersticial). Esses anticorpos secretados vão ter uma ação muito importante na fase efetora da imunidade humoral, porque eles têm vários mecanismos para defender o organismo (podem neutralizar toxinas de bactérias, prevenir que outros patógenos entrem na célula e se disseminem ali, por exemplo) Os linfócitos B virgens vão ter em suas membranas 2 classes de imunoglobulinas, que são o IgM e o IgD (únicos que ficam grudados na membrana do linfócito). Quando esses anticorpos de membrana reconhecem o antígeno, o linfócito B é ativado, sofrendo toda expansão clonal, se transformando em um plasmócito e sofre algumas modificações, como a maturação da afinidade (mudança conformacional do linfócito fazendo com que a ligação Ag-Ac fique mais encaixada e efetiva), a mudança de isotipo (influenciada pela secreção de citocinas dos linfócitos T), e mudança membranar para forma secretada, que vai ser inicialmente secretado é o IgM, e depois passam a ser secretadas outras formas pela influencia das citocinas. 1. BARREIRA MECÂNICA Depois de secretado, os anticorpos vão ser responsáveis pelas funções propriamente efetoras da imunidade humoral, e a primeira coisa que o anticorpo pode fazer é uma ação puramente mecânica, que é a neutralização de um microorganismo ou de uma toxina. Na imagem, vemos inúmeros anticorpos (amarelo) se ligando a moléculas de membrana desse microorganismo (bolinhas vermelhas) que servem como antígeno para os anticorpos. E esses anticorpos vão se ligar a esse antígeno formando uma barreira mecânica, que vai impedir que esse microorganismo consiga se ligar a uma célula nossa, porque ele está cheio de anticorpos tampando os sítios de ligação desse microorganismo. E essa ação não ocorre só com microorganismos, mas também com toxinas. 2. OPSONIZAÇÃO Opsonizar é quando uma determinada molécula vai se ligar a um antígeno e marcar ele, para que esse antígeno seja fagocitado pelo sistema inato. O que acontece, basicamente, é que macrófagos, neutrófilos (fagócitos de modo geral) tem receptores para essas opsoninas. E a principal molécula que faz essa opsonização é justamente o anticorpo. Na imagem, vemos um fagócito, um antígeno (microorganismo) e vários anticorpos ligados a esse antígeno. Esse fagócito está fagocitando o antígeno, e isso acontece porque o fagócito tem receptores (verde) que reconhecem uma porção do anticorpo (chamada de região C ou região constante = não sofre hipervariabilidade) por isso ele é chamado de opsinina. 3. ATIVAÇÃO DO COMPLEMENTO Uma das formas de ativar o complemento (via clássica) é a partir da ligação de um antígeno a um anticorpo. Então o complexo Ag-Ac tem o poder de ativar o sistema complemento, e, quando ativado, ele vai não só favorecer a opsonização (porque sabemos que existem moléculas do complemento que funcionam como opsoninas, como a C3b e a C5b), mas também vai facilitar a destruição do microorganismo pelo MAC (complexo ataque membrana), fazendo com que ele morra por um desequilíbrio osmótico. Na imagem, vemos as duas partes envolvidas com o complemento. Tanto na parte da opsonização (facilidade do antígeno ser fagocitada) quanto na questão do complexo de ataque a membrana, que é o objetivofinal de toda a cascata do complemento. ATIVAÇÃO Diferente do que ocorre com o linfócito T, existem 2 possibilidades de ativação de linfócito B, que vão variar de acordo com o antígeno que esse linfócito B está sendo exposto. Se o antígeno for proteico, a ativação e o reconhecimento desse antígeno pelo linfócito B depende obrigatoriamente da participação do linfócito T (por isso esse antígeno vai ser chamado de antígeno-timo-dependente, já que o linfócito T sofre maturação no timo). Se e o antígeno tiver qualquer outra composição química, como polissacarídeos, ácidos nucleicos, lipídeos, por exemplo, ele já pode ser reconhecido diretamente pelo linfócito B (por isso são timo-independentes). Ø Como isso acontece: para que o linfócito B seja ativado, é preciso de mais de um anticorpo de membrana reconhecendo o mesmo antígeno (ligação cruzada). Então, se eu tenho vários anticorpos reconhecendo o mesmo antígeno, significa que nesse antígeno existem vários epítopos iguais. Essa condição de um antígeno ter vários epítopos iguais não é encontrada em proteínas, por isso que é preciso dos linfócitos T também. E, além dessa ligação do antígeno com o anticorpo, o linfócito B precisa de um segundo sinal para que ele se ative, e esse sinal pode ser dado, por exemplo, por um receptor do tipo Toll, que tenha reconhecido um epítopo diferente daquele antígeno, ou um receptor do complemento, que tenha se ligado a um outro pedaço daquele antígeno... Ø Porém, se o antígeno for proteico, que não tem os epítopos idênticos, vamos precisar da ajuda de um linfócito T. O que vai acontecer é que o linfócito B vai reconhecer e fagocitar o antígeno, aí ele vai processar esse antígeno por uma via endocítica, e, através do MHC de classe II, vai apresentar esse antígeno para um linfócito T CD4. O segundo sinal vai ser a partir da ligação da CD40 com a CD40 ligante. Nesse contexto, vão sendo produzidas citocinas pelas células T, e essas citocinas vão funcionar para mudar a classe dos anticorpos que estão sendo secretados pelo linfócito B. Ø RESUMINDO... Em caso de antígeno T independente (açucares, lipídios, ácidos nucleicos: 1º sinal é a ligação cruzada e o 2º sinal é a ativação por receptores Toll ou do complemento. Em caso de antígeno T dependente, 1º sinal vai ser a união Ag-Ac e o 2º sinal é a CD40 (B)-CD40L (T). A ativação das células B é facilitada pelo correceptor CR2 que está presente nessas células e vai reconhecer fragmentos de complemento que estejam ligados com o antígeno ou que sejam de algum imunocomplexo que tenha o antígeno. PAPEL DA INTERAÇÃO CD40-CD40L NA ATIVAÇÃO T-DEPENDENTE DAS CÉLULAS B FEEDBACK DE ANTICORPOS O feedback de anticorpos é um mecanismo pelo qual as respostas imunes humorais são negativamente reguladas quando uma quantidade suficiente de anticorpo é produzida e há presença de complexos anticorpo-antígeno solúveis. A Ig de membrana da célula B e o receptor nas células B para as porções Fc da IgG, chamado FcγRIIB, são agrupados por complexos anticorpo- antígeno. Isso ativa uma cascata de sinalização inibitória ao longo da cauda citoplasmática de FcγRIIB, a qual termina a ativação da célula B. INTERPRETAR AS CORRELAÇÕES EXISTENTES ENTRE AS IMUNOGLOBULINAS NO CONTEXTO DE DIAGNÓSTICOS DE AGENTES INFECCIOSOS Soro: é aquele fluido residual, quando o individuo tira sangue e ficam todas as outras proteínas menos os fatores de coagulação, que vão ser consumidas para o sangue coagular. Antissoro: qualquer amostra de soro que contenha moléculas detectáveis de anticorpo que se ligam a um antígeno em particular. Sorologia: estudo dos anticorpos no soro a partir de sua reação com o antígeno. ® Os exames que detectam os anticorpos para indicar uma possível infecção são chamados de testes de detecção sorológica e eles podem avaliar os anticorpos totais ou isolados, contidos no sangue, soro ou plasma (testes rápidos) ou soro (ELISA ou quimiluminescência). Esses testes para detecção de anticorpos vão variar muito de acordo com qual classe do anticorpo vai ser detectado, por exemplo: alguns detectam simultaneamente IgG e IgM, sem distinguir o isotipo, tem outros testes que já são capazes de analisar isoladamente cada um. ® No caso da COVID, por exemplo, esses testes sorológicos podem variar na sensibilidade de 88,6 a 93,3% e na especificidade de 90,6 a 100%. A especificidade e a sensibilidade são muito altas porque essas são características dos próprios anticorpos! Além de só conseguirem ser sensibilizados por antígenos muito específicos, que são os antígenos que tiveram o primeiro contato com o anticorpo de membrana do linfócito B (antes da diferenciação e secreção de clones), os anticorpos também são muito sensíveis, ou seja, é muito difícil que ele entre em contato com um antígeno e não se ligue a ele. ® A especificidade dos testes sorológicos pode ser comprometida por conta da reatividade cruzada, porque pode ser que o paciente tenha tido uma outra infecção com um patógeno de mesma família. Os sinais de CD40 atuam em conjunto com as citocinas para induzir a troca de isotipo, por meio de uma enzima que o CD40 induz a expressão quando junta com seu receptor, que é a enzima AID. Essa enzima vai ter importância aqui na troca de isotipo (porque vai fazer a hipermutação somática) mas também vai ter função na maturação de afinidade, que vai ser uma mudança que aumenta a afinidade Ag-Ac. IMAGEM: Níveis altos de IgG podem corresponder à exposição anterior a um antígeno (clinicamente recuperado), vacinação recente ou fase de recuperação de um processo infeccioso (convalescença). Com certeza, a realização de exames de sorodiagnóstico pareados, com acompanhamento minucioso do quadro clínico, é a melhor opção para contextualizar o significado dos testes. ENTENDER A LIGAÇÃO ANTÍGENO-ANTICORPO (COMO É DETERMINADA ESSA LIGAÇÃO) Uma importante diferença dos anticorpos para as células T é que os anticorpos conseguem reconhecer quase todos os tipos de moléculas biológicas, desde as mais simples (açúcares, lipídeos, hormônios) até os mais complexos (fosfolipídios, ácidos nucleicos e proteínas), e as células T reconhecem praticamente peptídeos. Mas, mesmo reconhecendo uma gama grande de moléculas, o reconhecimento do anticorpo com um antígeno tem extrema especificidade, e isso é primordial para que os anticorpos que vão sendo gerados em resposta a um antígeno de um microorganismo não reajam com as moléculas do próprio organismo que sejam parecidas com o antígeno. Esse é o ideal, mas o que ocorre é que alguns anticorpos podem se ligar a um antígeno do que ele devia. Isso é chamado de reação cruzada, e é responsável por gerar algumas doenças imunológicas. ® Quando o linfócito B que está com anticorpos em sua membrana encontra o antígeno que tem afinidade, ele sofre 3 principais modificações: 1. Maturação da afinidade: mudança conformacional que ocorre no linfócito B assim que se estabelece a conexão Ag-Ac, fazendo com que o Ac tenha maior afinidade pelo Ag (ficam muito mais encaixados). Isso vai ser importante para que os próximos anticorpos secretados pelo linfócito B tenham uma ligação mais efetiva e potente com os próximos antígenos encontrados. 2. Mudança da forma membranar para a forma secretada do anticorpo. Antes, só havia aquele anticorpo na membrana do linfócito B. Assim que ocorre o reconhecimento e se forma o complexo Ag-Ac se forma, o linfócito B se ativa e passa a secretar anticorpos livres na circulação. 3. Mudança de isotipo ou classe. A primeira imunoglobulina secretada é a IgM. Assim que acontece o reconhecimento do Ag e o linfócito B se ativa, são produzidos anticorpos de outras classes. E o que vai determinar qual é o isotipo que o linfócito B vai secretar é uma citocina secretada pelo linfócito T. Então quando um linfócito B reconhece um antígeno e é ativado por ele (principalmente em órgãos linfoides periféricos, como baço ou linfonodos), também vão ter linfócitosT sendo ativados por esse antígeno, e as citocinas que vão ser secretadas por esse linfócito T vão determinar qual isotipo de imunoglobulina o linfócito B vai produzir. Se, por acaso, não tiver ativação de linfócito T e essa secreção de citocinas, o linfócito B vai produzir só IgM mesmo. ® Quando o anticorpo encontra e reconhece um antígeno, eles formam uma ligação que é não covalente e reversível. Ou seja, existem várias forças que podem contribuir para essa ligação, como as forças eletrostáticas, ligações de hidrogênio, FASE 1: SENSIBILIZAÇÃO – é quando o organismo tem o primeiro contato com o antígeno, os anticorpos vão produzir IgM porque ainda não teve a diferenciação dos linfócitos B, ou seja, é uma resposta primária. FASE 2: IMUNIZAÇÃO – ocorre na segunda exposição ao mesmo antígeno, e a classe predominante de anticorpos produzidos muda (passa a ser IgG, na maior parte das vezes, mas pode ser IgA ou IgE). FASE 3: ESTIMULAÇÃO – é basicamente a dose de reforço, que quando há um estímulo depois que a imunidade humoral já está pronta para produzir IgG muito rapidamente, que vão ter muito mais afinidade. Nessa resposta, a quantidade total de anticorpos produzidos vai ser muito maior (IgM+IgG). interações hidrofóbicas... E a importância de cada uma delas vai variar de acordo com o sítio de ligação do anticorpo e do determinante antigênico, que é o epítopo. ® Por conta da flexibilidade que a dobradiça da ao anticorpo, ele consegue se ligar a um único antígeno que seja polivalente em vários sítios de ligação, então, por exemplo, para a IgG ou IgE, por conta de sua conformação química, a ligação pode envolver até 2 sítios de ligação, mas para a IgM por exemplo, que é pentamérica, só um anticorpo pode se ligar até a 10 sítios diferentes (2 sítios para cada anticorpo, um para cada Fab).
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