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G R A D U A Ç Ã O ME. MAYCON VINÍCIUS DE SENNA RIBEIRO Bioquímica Cervejeira GRADUAÇÃO Bioquímica Cervejeira Me. Maycon Vinícius de Senna Ribeiro NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação CEP 87050-900 - Maringá - Paraná unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Coordenador de Conteúdo Diogo Henrique Hendges. Designer Educacional Janaína de Souza Pontes. Revisão Textual Cintia Prezoto Ferreira e Erica Fer- nanda Orteg. Editoração André Morais de Freitas. Ilustração Natalia de Souza Scalassara e Welington Vainer Satin de Oliveira. Realidade Aumentada Matheus Alexander de Oli- veira Guandalini e Maicon Douglas Curriel. DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de Design Educacional Débora Leite;Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel; Projeto Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Cripaldi; Fotos Shutterstock C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; RIBEIRO, Maycon. Bioquímica Cervejeira. Maycon Vinícius de Senna Ribeiro. Maringá-PR.: Cesumar, 2020. 168 p. “Graduação - Híbridos”. 1. Bioquímica. 2. Cervejeira. 3. Industial 4. EaD. I. Título. ISBN 978-65-5615-016-1 CDD - 22 ed. 663.4 CIP - NBR 12899 - AACR/2 PALAVRA DO REITORPALAVRA DO REITOR Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha- mos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualida- de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- -nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo- cional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revi- samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as ne- cessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! BOAS-VINDAS Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co- munidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu- nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ- mico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comu- nicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace- leraram a informação e a produção do conheci- mento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, prio- rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a so- ciedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe- lecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa- nhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educa- cional, complementando sua formação profis- sional, desenvolvendo competências e habilida- des, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu- deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza- gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren- dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili- dade e segurança sua trajetória acadêmica. APRESENTAÇÃO Conhecer a produção cervejeira a nível molecular é de extrema importância para o profissional Tecnólogo em Produção Cervejeira. Aqui, entenderemos como a Bioquímica é no seu nível mais básico e contextualizaremos com todos os insumos e processos da produção de cervejas. Conheceremos cada etapa, da produção do malte até a cerveja engarrafada e como cada etapa exige conhecimentos bioquímicos. Iremos estudar quais são as ma- cromoléculas cervejeiras (carboidratos, proteínas e lipídeos) e em que mo- mento elas se fazem presentes. Veremos do amido do malte à fermentação da maltose, das proteínas estruturais à retenção de espuma, nutrição das leveduras e as enzimas cervejeiras. Amilases, proteases e glucanases, sua importância para o resultado final da cerveja, corpo, dulçor, álcool e demais consequências da atuação das enzimas cervejeiras. Suas faixas ótimas serão conhecidas aqui, e como utilizarcada rampa de temperatura a seu favor na produção das cervejas. Depois disso, teremos bagagem suficiente para entender como a levedura transforma os açúcares do mosto em etanol e outras tantas substâncias que compõe o aroma e o sabor das cervejas, como tudo isso faz parte da sobrevivência da levedura, e poderemos prever as mudanças no metabolismo, baseando-se na forma que a fermentação é conduzida. Como o malte produz o amido e como o lúpulo produz seus óleos essenciais também será abordado aqui. Finalmente, entenderemos como a genética está presente no processo de produção cervejeira e como os insumos, principalmente as leveduras, são selecionados para produzir cervejas com aromas e sabores diferentes. A bioética da manipulação de ge- nes de seres vivos será abordada de forma sucinta para que compreendamos como os genes regulam o metabolismo dos seres vivos e até onde podemos atuar nos processos de manipulação. Será visto, ainda, como as leveduras e bactérias podem cruzar material genético e produzir microrganismos mais resistentes a condições de estresse e até produzirem metabólitos de interesse. A produção cervejeira exige do profissional essa vasta quantidade de conhecimento bioquímico. No entanto, tenho certeza de que você será muito bem guiado. Aproveite! CURRÍCULO DOS PROFESSORES Me. Maycon Vinícius de Senna Ribeiro Mestre em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e Engenheiro Químico pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Atualmente é Dou- torando em Engenharia Química, com ênfase em Bioprocessos e Biocatálise também pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Atua na pesquisa desde 2013 na área de alimentos e bebidas fermentadas, com ênfase na produção de hidromel, cervejas e kombucha. Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/5538576381987603 Macromoléculas Cervejeiras 13 45 Introdução à Bioquímica Cervejeira Biotecnologia Cervejeira 143 Processos de Obtenção de Energia pelos Organismos 111 83 Enzimas Cervejeiras Utilize o aplicativo Unicesumar Experience para visualizar a Realidade Aumentada. Transporte passivo na célula do fermento cervejeiro 93 Cinética Enzimática 19 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Me. Maycon Vinícius de Senna Ribeiro • Conhecer a unidade básica da vida, as células envolvidas nos processos cervejeiros. • Analisar as características da estrutura celular e sua in- fluência nos processos cervejeiros. • Compreender a composição das biomoléculas cervejeiras. • Entender como a água influenciou no surgimento da vida e nos processos cervejeiros. • Introduzir os conceitos da bioquímica cervejeira. A Vida e a Cerveja Células Cervejeiras Água Cervejeira Produção CervejeiraO que Há no Mosto Cervejeiro Introdução à Bioquímica Cervejeira 14 Introdução à Bioquímica Cervejeira A Vida e a Cerveja Saudações, aspirante profissional da Produção Cervejeira! É com enorme satisfação que te apre- sento a Bioquímica Cervejeira. Esse é o momento de compreender quais são as principais diferenças entre o que é vivo e o que não é, e como essas características influenciam em todas as etapas da produção de cervejas. Desde o fermento que se se- dimenta ao fundo do fermentador até as proteínas estabilizadoras das espumas nos copos, você terá a capacidade de manipular as biomoléculas a seu favor, aumentando a qualidade do produto final. Embarquemos nesta confraria, vamos lá! 15UNIDADE 1 Quando fermentamos nossa cerveja, assim como nosso aluno na Figura 1, seja em casa ou na indústria, utilizamos uma suspensão líquida ou granulada, geralmente de cor bege, que chamamos de fermento. O fermento é adicionado no nosso mosto, fermenta nossa cerveja e, ao final do processo sedimenta-se, acumulando-se no fun- do dos fermentadores. O fermento é um ser vivo, assim como nós, que tem como objetivo sobreviver no mosto cervejeiro, realizando diversos processos para se manter e se replicar. A cevada é um grão originário de uma planta viva, e durante a malteação tudo o que uma semente tenta fazer é germinar, para sobreviver e se replicar. Agora te faço um desafio: como pode o granulado ou uma sus- pensão líquida ser algo vivo? Como pode um grão germinar e se multiplicar? O que os diferencia dos grãos de areia, por exemplo? É nesta unidade que entenderemos como esses processos funcionam. Figura 1 - Fermento em suspensão adicionado ao fermentador O fermento, como o conhecemos, nem sempre foi conhecido e manipulado como é hoje. Na promulgação da Lei da Pureza alemã, em 1516, a cerveja só poderia ser produzida a partir de três ingre- dientes: água, malte de cevada e lúpulo. Não havia conhecimento para compreender que quem transformava o mosto em cerveja era um ser vivo, e que este também era um ingrediente. Apenas misturavam-se os ingredientes, processos de cozimento e infusão eram aplicados e aquela mistura “estragava” para se tornar cerveja. Nessa época, era também expressamente proibida a produção de cervejas no verão, devido à sua baixa qualidade durante essa época (DANIELS, 1998). Você consegue dizer por que a qualidade das cervejas produzidas no verão era ruim? 16 Introdução à Bioquímica Cervejeira Em temperaturas maiores, a velocidade de reações químicas que acontecem pelos seres vivos é muito maior. Alguns, inclusive, se multiplicam muito mais rapidamente em altas temperaturas. Por isso, em temperaturas maiores, sem os controles que possuí- mos hoje, as cervejas eram habitadas por leveduras e bactérias, em uma guerra bioquímica pelos nutrientes do mosto cervejeiro. As bactérias, apesar de mais poderosas no quesito de se multiplicar, são seres vivos menos complexos que as leveduras, forma que são chamados os nossos fermentos. No entanto, todas elas têm algo em comum: são formadas por uma unidade chamada de célula, que nada mais é do que um conjunto de biomoléculas delimitado por uma membrana, caracterizando um organismo unicelular, ou seja, ser vivo de uma única célula (Figura 2). Figura 2 - Células de leveduras observadas a microscópio 17UNIDADE 1 Figura 3 - Cevada germinando e radículas aparentes antes da secagem A célula é a estrutura básica da vida. Todos os seres vivos são com- postos por células, umas maiores, outras menores. As leveduras são constituídas por células, o malte é formado por células e nós também somos um amontoado de células vivas, trabalhando em conjunto. A célula, por sua vez, é formada de muitas biomoléculas, que nada mais são do que muitos átomos, bem organizados para formar uma estrutura funcional. Por exemplo, durante a malteação, o grão de cevada inicia o processo de germinação; nesse momento, biomoléculas formam as radículas, que são as primeiras raízes do grão para formar uma nova planta, como podemos observar na Figura 3 (MALLETT, 2014). Para evitar a germinação e produzir o malte, o grão é seco e suas radículas são retiradas, porém fica o entendimento que a vida sempre luta pela sobrevivência. A Bioquí- mica Cervejeira é a ciência que estuda as biomoléculas envolvidas na produção cervejeira. 18 Introdução à Bioquímica Cervejeira O fermento cervejeiro, que são as leveduras cer- vejeiras, são enxergados por nós quando estão em suspensão, como no caso de uma turva cerveja de trigo ou quando aguardamos as leveduras de- cantarem ao fundo do fermentador para que as retiremos. Se elas não chegassem ao fundo ou se não fossem visíveis por nós, seria muito difícil re- tirá-las de nossa cerveja pronta e até de manipular nosso fermento para uma nova fermentação. A levedura se sedimenta por diversas razões, mas a principal delas é que ela possui uma parede celu- lar, que se une à parede celular de outras células, formando flocos maiores, que pelo peso chegam ao fundo. A parede celular e a membrana celular das células são as estruturas que delimitam a uni- dade da vida, separando o que é ambiente e o que é o ser vivo (Figura 4). Células Cervejeiras 19UNIDADE1 Figura 4 - Desenho esquemático de uma célula de levedura A membrana celular é a estrutura mais importante da célula. Ela é responsável por permitir o que entra e o que sai, o que impacta diretamente nas reações químicas que ocorrem pelas leveduras. Nosso mosto cervejeiro é basicamente composto de água. A célula dos seres vivos também, e para poder delimitá-las, é necessária uma membrana que não se dissolva na água, ou seja, que mantenha sua estrutura íntegra e fechada, sendo aberta (permeável) quando for da necessidade do ser vivo. Por isso, a membrana plasmática é formada por uma camada bilipídica, ou seja, duas camadas de lipídios, que são biomoléculas com uma parte hidrofóbica (que não se liga com a água) e uma hidrofí- lica (que se liga com a água). Algumas proteínas também estão presentes na membrana, atuando como sinalizadores. Afinal, a célula precisa saber o que há dentro e o que há fora antes de permitir a entrada de algum composto. A levedura, especifica- mente, consegue reconhecer rapidamente a presença de açúcar no mosto cervejeiro e permite que ele entre sem esforços. Esse transporte na membrana chamamos de transporte passivo. CÉLULA DE LEVEDURA Mitocôndria Parede Celular Membrana Celular Vacúolo Grânulo de lipídio Complexo de Golgi Núcleo Citoplasma Cicatriz do Broto Transporte passivo na célula do fermento cervejeiro 20 Introdução à Bioquímica Cervejeira Figura 5 - Diferenças esquemáticas entre células eucarióticas (leveduras) e procarióticas (bactérias) Por vezes, alguns açúcares maiores e outras biomoléculas do mosto cervejeiro precisam de uma avaliação mais criteriosa por parte das células. As dextrinas, por exemplo, que são os açúcares com- plexos do mosto cervejeiro não são utilizados pelas leveduras. Seus sensores reconhecem que ela não consegue quebrá-los. Por outro lado, a maltose pode ser quebrada. Nesse caso, os sensores da mem- brana reconhecem que o açúcar pode ser quebrado, realizando o transporte interno da molécula para posterior quebra. A esse tipo de transporte, denominados de transporte ativo. Célula ProcarióticaCélula Eucariótica Cápsula Ribossomo DNA Citoplasma Lisossomo Citoplasma Mitocôndria Membrana plasmática Retículo endoplasmático Parede celular Membrana plasmática Complexo de Golgi Ribossomos Núcleo Muitas vezes, em cervejas muito alcoólicas, observamos as chamadas “lágrimas” ou “pernas” nas taças e copos. Esse aspecto é relacionado a um composto chamado de glicerol e é produzido quando a levedura sente que está perdendo água para o meio ambiente, principalmente em mostos de alta gravidade, com elevadas concentrações de açúcar. A produção de glicerol é uma forma de proteger a membrana plasmática do rompimento celular. Para saber mais acesse: https://blog.famigliavalduga. com.br/lagrimas-do-vinho-saiba-o-que-sao-e-como-identifica-las. Fonte: adaptado de Beronia (2017, on-line)1. 21UNIDADE 1 Indo mais adentro na nossa célula, observamos que o conteúdo aquoso interno da unidade da vida é chamado de citoplasma. É um grande conjunto organizado de biomoléculas, desempenhando as funções necessárias para a manutenção da vida. Ali, o açúcar e outros nutrientes são transportados para os locais adequados, produzindo outras biomoléculas e energia. As células em meios ricos em nutrientes percebem que podem construir uma outra célula usando os materiais disponíveis. Essa capacidade permite a replicação, que nada mais é do que a reprodução celular (Figura 6), a forma que uma célula produz outra e se divide. Caro(a) aluno(a), como a célula “sabe” como produzir uma nova? Será que ela possui um script? Figura 6 - Esquema de duplicação de uma célula de levedura Sim, a célula possui um script. Quando ela vai se duplicar, uma biomolécula muito importante entra em cena: o DNA. Este é uma molécula carregadora de informação, mais especificamente, o DNA car- rega todas as informações da célula. É conhecido como ácido desoxirribonucleico e é formado pelos grupos fosfato, desoxirribose e bases nitrogenadas. Em sua totalidade, ele é uma fita dupla, formado por repetições desses conjuntos. Entretanto, as bases nitrogenadas se alternam, formando sequências diferentes por toda a biomolécula. Essas sequências diferentes são o coração da informação. Assim como os computadores possuem sequências de 1 e 0, o DNA possui sequências em bases nitrogenadas, T, G, C e A (Figura 7) (CHAUDHURI, 2015). 22 Introdução à Bioquímica Cervejeira Figura 7 - Estrutura em dupla hélice do DNA Já percebeu a vasta quantidade de fermentos disponíveis para produzir cervejas? Cada um deles com um comportamento diferente, uns produzindo mais aromas, outros com maior neutralidade. Isso acontece porque o DNA desses fermentos é diferente. Cada célula segue o script do seu DNA para sobreviver, e nele está gravado alguns comportamentos que observamos na produção de nossa cer- veja. Os fermentos de trigo, por exemplo, têm a capacidade de produzir aroma de banana. Para saber mais, acesse: https://www.hominilupulo.com.br/cervejas-caseiras/guia-basico/escolher-fermento/. Fonte: adaptado de White e Zainasheff (2010). ESTRUTURA DO DNA Timina Citosina Ligação de hidrogênio Adenina Guanina Desoxirribose Base nitrogenada Base nitrogenada Grupo fosfato 23UNIDADE 1 Na guerra bioquímica que citamos anteriormente, as bactérias com- petem com as leveduras nos dias quentes e sem sanitização. Por esse motivo, em tempos remotos, era muito difícil produzir cervejas no verão, sem métodos de sanitização e esterilização. Entretanto, as células das bactérias são diferentes das células das leveduras, em tamanho e em estrutura interna (como vistona Figura 5). As bactérias são menores, muitas vezes possuindo estruturas externas, como cílios e flagelos. Essas estruturas permitem que elas se movam pelo mosto cervejeiro, produzindo aromas desagradá- veis, como vinagre, por exemplo. Internamente, o seu DNA está disperso no citoplasma, no meio de todas as outras biomoléculas fundamentais da vida. Nas leveduras, as coisas são um pouco diferentes. Elas possuem células maiores, com parede celular rígida e com seu DNA encap- sulado dentro da célula, em uma estrutura que denominamos de núcleo. Por isso, as bactérias são classificadas como procariontes (pro-antes, karyon-núcleo), enquanto as leveduras são eucariontes (eu-verdadeiro, karyon-núcleo). Por essa razão, o nível de comple- xidade das leveduras em comparação às bactérias é muito maior, originando fermentos das mais diversas variedades para produzir- mos nossas cervejas. 24 Introdução à Bioquímica Cervejeira As biomoléculas são formadas unicamente dentro das células. O extrato de malte (DME) é composto por biomoléculas. Os floculantes de cerveja, como a gelatina, são biomoléculas. De alguma maneira, essas moléculas foram retiradas de alguma célula, seja animal ou vegetal. As biomoléculas desempenham diversos pa- péis no desenvolvimento celular e, quando na nos- sa cerveja, conferem características únicas. As pro- teínas, quando quebradas em porções menores, auxiliam a espuma da cerveja a ser mais estável. Os ésteres produzidos pelos fermentos dão aromas de banana, abacaxi e frutas vermelhas nas nossas cervejas (Figura 8). Conhecê-las e compreender sua estrutura nos permite manipular melhor a cerveja pronta. O que Há no Mosto Cervejeiro 25UNIDADE 1 Figura 8 - O aroma de banana das cervejas de trigo advém das leveduras durante a fermentação Quimicamente, o que muda nos seres vivos para os não vivos? São, de fato, formados pelas mesmas coisas? Aproximadamente 99% da matéria viva é formada por, basicamente, quatro elementos: car- bono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio (CHON). O que muda é a incrível capacidade que o carbono tem de formar quatro ligações. Dessa maneira, compostos a base de carbono podem ter tamanhos variados, além da complexidade, alternando-se os elementos de sua composição. Os açúcares, por exemplo, são denominados de hidratados de carbonoou car- boidratos, que são formados por carbono, oxigênio e hidrogênio. De acordo com as disposições da cadeia, tamanho e arranjo espacial, um fermento conse- gue ou não quebrar e usar esse açúcar como energia. Na mosturação, o amido, que é um grande arranjo de açúcares, dissolve-se na água e é quebra- do, produzindo açúcares meno- res e menos complexos, que ser- virão tanto como corpo quanto como fonte de açúcares para os fermentos transformarem-se em álcool. Essa capacidade de aumento de complexidade só é possível nas biomoléculas, e se não fosse pelo carbono, a vida não seria tão diversa como é. Figura 9 - Estrutura esquemática do amido AMIDO 26 Introdução à Bioquímica Cervejeira Os compostos formados majoritariamente por carbono são chamados de compostos orgânicos. As biomoléculas são compostos orgânicos, porém de complexidade elevada, sendo formados por grupos diversos. O aumento da complexidade dos compostos orgânicos cria moléculas maiores, com maior número de átomos e com estrutura tridi- mensional. Isso possibilita que uma molécula de- sempenhe funções específicas. A quebra do amido em açúcares menores só é possível devido a uma macromolécula que se encaixa aos filamentos do amido e rompe as ligações (Figura 10). Essa ma- cromolécula é chamada de enzima, e por ser tão grande e complexa cria um espaço com o único objetivo de quebrar ligações (MALCATA, 2020). A casca do malte é formada por celuloses. As celuloses nada mais são do que açúcares arran- jados e ligados de forma diferente do amido do interior do grão. Uma única diferença de liga- ção permite que um tipo de açúcar se dissolva e seja quebrado, enquanto o outro permanece no mosto durante todo o processo de mosturação. Tudo isso tem como objetivo proteger o grão da umidade, do calor e do frio durante o plantio. Para saber mais, acesse: http://cti.ufpel.edu.br/ siepe/arquivos/2014/CA_01770.pdf. Fonte: adaptado de Study ([2020], on-line)2. Figura 10 - A complexa estrutura de uma enzima 27UNIDADE 1 Aproximadamente 95% da cerveja é água, e essa alta composição de água também é observada em todos os seres vivos. A água é fundamental para a vida da forma que conhecemos, pois permite a dissolução dos nutrientes, sendo palco para as mais diversas reações químicas, pois permite os balanços iônicos necessários à formação das li- gações químicas. Os conceitos de pH, acidez, salinidade e con- centração de íons, que fazem tanta diferença na produção de cervejas, só fazem sentido quando há água envolvida. Como a água possui tantas características interessantes, a vida provavelmente surgiu nela, possibilitando a mistura e disponibi- lidade dos mais variados compostos necessários à vida. Contudo, a vida precisa de limites, o que torna a membrana celular fundamental para a estruturação das células. Dessa maneira, o balanço de forças envolvidas entre as biomoléculas e água disponível é o que cria os processos de entrada e saída das células e o que promove as reações químicas de manutenção e crescimento celular. E afinal, por que a água é tão especial? Água Cervejeira 28 Introdução à Bioquímica Cervejeira A água é uma molécula pequena, polar e com características específicas para interagir com outras moléculas, por exemplo sua angulação e capacidade de dissociação natural (Figura 11). A diferença de eletronegatividade entre os átomos de hidrogênio e do oxigênio criam um ângulo de 104,5º, com uma nuvem eletrônica no ângulo maior, responsável por deslocar um dipolo negativo para a nuvem (CK12, [2020], on-line)3. Figura 11 - Desenho esquemático da molécula de água O arranjo espacial e a polaridade da molécula permitem que a água seja líquida em temperaturas medianas, o que aumenta sua interação com diversos componentes nas temperaturas médias do nos- so planeta. Além disso, a água no estado sólido possui menor densidade em relação ao estado líquido, o que permite deslocamento de componentes conforme a temperatura da água varia. Essa capacidade permitiu que nutrientes da superfície dos oceanos fossem levados ao fundo, garantindo a formação da vida em condições submersas. O processo de fervura na produção cervejeira permite que biomoléculas oriundas do malte e do lúpulo se agreguem e precipitem (trub), devido à energia transferida para a água. Previamente ao processo, essas moléculas estão dissolvidas em água, devido à grande capacidade da molécula de água em solubilizar substâncias. Para saber mais, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=G21aF7OsEZM. Fonte: adaptado de Palmer (2017). 29UNIDADE 1 Um exemplo muito interessante de como a água interage com as biomoléculas é a formação do “chill haze” ou “turbidez a frio”, fenômeno causado pela interação da água da cerveja com os polifenóis do lúpulo. Quando a cerveja possui polifenóis em suspensão, como no caso de cervejas muito lupuladas, eles se agregam em baixas temperaturas, causando uma turbidez da cerveja resfriada. Conforme a cerveja esquenta, a turbidez desaparece. Esse fenômeno demonstra como a ordenação da molécula de água em baixas temperaturas diminui a interação com as biomoléculas, deixando os polifenóis se agregarem e turvarem o líquido. Ao receber energia, a molécula de água se desorganiza e solubiliza os polifenóis, atacando os pontos polares da molécula (HIERONYMUS, 2012). Figura 12 - Fenômeno de Chill Haze (da esquerda para a direita) As principais interações da molécula de água com outros componentes são as interações hidrofílicas e as interações hidrofóbicas. A primeira se refere a interações maiores, com as cargas positivas e negativas parciais da água interagindo com as opostas de determinado composto. Podemos utilizar como exemplo as interações dos sais com a água. Os sais se dissociam na água, formando íons positivos e negativos. A região positiva da molécula de água se liga ao íon negativo, enquanto a região negativa da água se liga ao íon positivo. Essas interações permitem que substâncias polares se dissolvam facilmente na água. 30 Introdução à Bioquímica Cervejeira Figura 13 - Estrutura do cloreto de sódio, quando dissociado em água, formando íons Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). As interações hidrofóbicas se referem a substâncias com baixa polaridade, por exemplo, os componen- tes da parede celular. A água interage muito mais fracamente com essas substâncias do que as polares. Por esse motivo, biomoléculas apolares são de interesse para a vida, pois permitem a transferência de componentes, regulando a força das interações. Elas garantem a integridade da membrana celular e a movimentação interna dos nutrientes na célula. δ+ δ+ δ+ δ+ δ+ δ+ δ+ δ+ δ+ δ- δ- δ- δ- δ- δ- δ- δ- H H O δ+ δ+ H H O H H H H O δ+ δ+ H H O O δ+ δ+ H H O H H O δ+ H H O Na+ Cl - Figura 14 - Estrutura de transporte de nutrientes da célula 31UNIDADE 1 Outro fenômeno comum do meio cervejeiro é observar como o malte se encharca ao entrar em con- tato com a água. Ao adicionar o malte seco na panela de mostura, observa-se o rápido aumento do volume do grão pela água que entra. Essa capacidade de absorver água está diretamente relacionada a um conceito chamado de pressão osmótica. A pressão osmótica é definida como a pressão exercida pelo solvente, do meio menos concentrado para o mais concentrado, através de uma membrana semipermeável. Ela demonstra que os dois siste- mas tendem a equilibrar suas concentrações por meio do fluxo do solvente, que atravessa a membrana (Figura 15). O malte está com uma concentração alta de amido, proteínas e outros constituintes, en- quanto a água de mostura está com baixo ou quase nada desses componentes no início do processo. A água naturalmente tende a atravessar a membrana das células, com o objetivo de solubilizar os componentes do malte. As forças hidrofóbicas permitem a formação de micelas, que são aglomerados de moléculas com cauda apolar e cabeça polar. Esse mecanismo permite que a célula absorva ou possa expelirsubs- tâncias do meio aquoso sem dissolver a parede celular na água (Figura 14). As micelas também são observadas quando o detergente, também de cauda apolar e cabeça polar, interage com as sujeiras apolares e com a água polar, removendo sujidades. Fonte: Borges ([2020], on-line)4. Figura 15 - Transporte de água através da membrana celular 32 Introdução à Bioquímica Cervejeira A osmose não é totalmente controlada pela célula. Como a molécula de água é pequena, ela atravessa a membrana de forma passiva. Por isso, se uma célula se situa em um meio muito concentrado de sais, as células murcham, perdendo água para o meio. Se estiverem em um meio muito pouco con- centrado, a água entra nas células, inchando-as. Se as condições não forem favoráveis, esses processos podem, inclusive, causar morte celular. Por isso sempre devemos estar atentos às condições de fermentação que não exerçam pressões osmóticas altas para as células de leveduras. Por mais que al- gumas espécies tenham capacidade de se proteger dos estresses osmóticos, alguns choques podem ser fatais, prejudicando a fermentação por baixo número de células viáveis. Você se lembra do glicerol? Ele é uma molécula produzida para que a levedura se proteja da per- da da água para o meio. Por esse motivo, fermen- tações em mostos concentrados tendem a for- mar maior concentração de glicerol. A levedura o produz para que ele retenha o fluxo de água de dentro para fora. Quando as condições do meio se tornam favoráveis novamente, como o con- sumo dos açúcares, a levedura expele o glicerol para o meio. Para saber mais, acesse: https://aca- demic.oup.com/femsre/article/21/3/231/571796. Fonte: adaptado de Hohmann e Mager (2010). 33UNIDADE 1 Caro(a) aluno(a), observamos muitos fenôme- nos bioquímicos em contexto com o dia a dia da produção cervejeira. Agora, porém, é hora de olharmos a produção cervejeira e compreen- der sucintamente como os conhecimentos bio- químicos irão auxiliá-lo(a) em cada etapa do processo, da obtenção das matérias-primas até a cerveja pronta. Registros datando de até 10.000 anos atrás apresentam evidências de que fermentados de cereais já eram produzidos por chineses, sumérios e egípcios (Figura 16). Contudo, cerveja como conhecemos é muito mais recente, e surgiu apenas com o advento das tecnologias de refrigeração industriais. Desde então, maltes, leveduras e lú- pulos são cada vez mais selecionados genetica- mente para conferirem características agradáveis e facilitadoras de controle de processo. Em todo o processo de produção cervejeira (inclusive de malteação dos grãos), os conhecimentos bioquí- micos são aplicados (KUNZE, 2004). Produção Cervejeira 34 Introdução à Bioquímica Cervejeira Figura 16 - Nativos de Uganda preparando e bebendo cervejas antigas Malteação Primeiro processo de produção de cerveja, a malteação é a transformação dos cereais em malte, por meio da germinação controlada e posterior secagem (Figura 17). O principal malte é o malte de ce- vada, devido às características únicas da cevada, mas também pode ser obtido de grãos, como sorgo, milho, trigo e outros. O processo de malteação é necessário por diversos motivos, porém devemos nos atentar a alguns descritos a seguir: 35UNIDADE 1 • Quebra das proteínas que compõem a ca- mada vítrea das células de amido. • Produção das enzimas amilolíticas, que serão responsáveis pela hidrólise do amido. • Produção das enzimas proteolíticas, que serão responsáveis pela quebra de outras proteínas contidas no malte. A malteação torna o grão pronto para conferir os atributos necessários às leveduras para transfor- marem o mosto cervejeiro em cerveja.Figura 17 - Processo de malteação de grãos de cevada Mosturação Durante a mosturação, como o próprio nome já sugere, a mistura das substâncias do interior do malte e da água se tornam o mosto cervejei- ro, ocorrendo reações bioquímicas importantes para os atributos finais da bebida. As enzimas presentes no malte irão realizar a quebra das moléculas de amido, de proteínas e demais subs- tâncias, tornando os nutrientes disponíveis para a fermentação (Figura 18). Cada enzima tra- balha em determinadas faixas de temperatura, por isso o cervejeiro mantém a temperatura de mosturação em rampas, favorecendo enzimas e desfavorecendo outras, de acordo com o dese- jado. Mais adiante, falaremos sobre enzimas e entraremos em maiores detalhes a respeito da mosturação. Figura 18 - Processo de mosturação Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. 36 Introdução à Bioquímica Cervejeira Fermentação O mosto resfriado recebe as leveduras e se inicia o processo de fermentação. Aqui, a temperatura é controlada de acordo com o estilo de cerveja a ser produzido e o fermento realiza a transformação bioquímica do mosto em cerveja. As principais reações que ocorrem são a conversão de açúcares fermentescíveis em gás carbônico e álcool etílico, sendo intermediada por diversas reações no in- terior das células de leveduras, podendo conferir subprodutos que impactam sensorialmente na cerveja (Figura 20). A genética do fermento, as características do mosto resfriado e a temperatura de fermentação são os principais atributos que impactam no processo fermentativo. Figura 20 - O processo de fermentação ocorre geralmente em tanques cilindro cônicos Figura 19 - O lúpulo é adicionado no processo de fervura do mosto Fervura A fervura do mosto cervejeiro tem como fun- ção esterilizar e impedir microrganismos não desejados de adentrarem a fermentação, além de conferir amargor por meio da isomerização dos compostos do lúpulo, bem como a eliminação de compostos indesejáveis pela volatilização (Figura 19). O lúpulo pode ser adicionado em momentos distintos do processo de fervura, e o tempo de contato com a fervura irá determinar o amargor final. Ao fim da fervura, o mosto é resfriado e des- tinado à fermentação. 37UNIDADE 1 Maturação Ao fim do processo fermentativo, a cerveja ainda não está pronta para o consumo. Células de fer- mento estão em suspensão e subprodutos inde- sejáveis foram produzidos, necessitando de um tempo para que sejam reincorporados pelas leve- duras. Normalmente, a maturação é dividida em uma etapa quente, também chamada de “descanso de diacetil”, e outra fria, prévia ao envase (Figura 21). A primeira é responsável por transformar um composto chamado de diacetil, produzido pela levedura e que pode ser reincorporado por ela, dado tempo e temperatura correta. A segunda tem como objetivo estabilizar a bebida, prevenir oxidações e polir a bebida final. Figura 21 - Maturação em barris Quanto conhecimento assimilamos até aqui! Percebemos que produzir cervejas está muito mais relacionado à bioquímica do que imaginávamos. Essas bases nos darão sustentação para todo o co- nhecimento que ainda está por vir. Do processo de produção do malte até a seleção de linhagens de leveduras, as bases da vida estão totalmente presentes, assim como a influência da água. Seguimos, então, na caminhada do aprendizado. Não há um consenso referente à maturação de cervejas. Alguns autores consideram a maturação apenas como sendo o descanso de diacetil, enquanto outros acreditam que a cerveja melhore com algum tempo em maturação fria. Fonte: adaptado de Kunze (2004). 38 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. A unidade básica dos seres vivos é a célula. Qual é a composição de sua camada? a) Unicamente proteínas de alto peso molecular. b) Uma mistura de ácidos graxos e RNA. c) Unicamente de proteínas de baixo peso molecular. d) Camada bilipídica. e) Camada biproteica. 2. Os fermentos cervejeiros são utilizados para transformar o mosto produzido por nós em cerveja. Sobre as leveduras: I) O fermento cervejeiro é composto de microrganismos unicelulares, como as leveduras. II) As leveduras são todas iguais, afinal são da mesma espécie. III) A informação genética dasleveduras não é diferente em cepas da mesma espécie. IV) É impossível um fermento cervejeiro conferir ésteres provindos da levedura. Assinale a alternativa correta. a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas I e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas II, III e IV estão corretas. e) Apenas I, II e III estão corretas. 39 3. A produção de cervejas envolve quatro processos básicos: mosturação, fervura, fermentação e maturação. Sobre os processos de produção das cervejas, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F): ) ( Na malteação, o grão germina e se torna uma nova planta, para só assim uti- lizarmos a planta para extrair o líquido cervejeiro. ) ( Na mosturação, as enzimas presentes no malte atuam quebrando moléculas grandes em menores. ) ( Na maturação, ocorre a incorporação de algumas substâncias geradas pela própria levedura. Assinale a alternativa correta. a) V-V-V. b) V-F-F. c) F-F-F. d) F-V-V. e) V-F-V. 4. Descreva sucintamente por que a célula das bactérias é diferente das leveduras. 40 Guia Mangá - Bioquímica Autor: Masaharu Takemura, Kikuyaro e Office Sawa Editora: Novatec Sinopse: ciência, romance e robô-gatos! Kumi adora comer, mas está preocu- pada que sua paixão por alimentos pouco saudáveis esteja afetando sua saúde. Determinada a desvendar os segredos do regime perfeito, ela decide buscar a ajuda de seu estudioso amigo, Nemoto, e de sua bela professora de Bioquímica, dra. Kurosaka. Assim tem início nossa aventura... Acompanhe essa viagem no Guia Mangá Bioquímica enquanto Kumi explora os mistérios do funcionamento de seu corpo. Com o auxílio do robô-gato, o simpático robô endoscópico da professora, você conhecerá a incrível máquina química que nos mantém vivos e verá de perto biopolímeros, como o DNA e as proteínas, processos metabólicos que transformam os alimentos em energia e enzimas que catalisam as reações químicas do nosso corpo. Ao pesquisar células animais e vegetais, você aprende- rá sobre: o metabolismo de substâncias como carboidratos, lipídeos, proteínas e álcool; de que forma a usina energética conhecida como mitocôndria produz ATP; a transcrição do DNA e os três tipos de RNA que trabalham juntos para traduzir nosso código genético em proteínas; e o modo de medir a cinética das enzimas e como funciona a inibição enzimática. Se você é um cientista amador, um estudante de Medicina ou apenas alguém curioso e que deseja descobrir como nosso corpo transforma bolinhos (cupcakes) em energia, o Guia Mangá Bioquímica é a chave para entender a ciência da vida. Comentário: Masaharu Takemura, PhD, é professor adjunto da Universidade de Ciências de Tóquio. Suas especialidades são biologia molecular e educação biológica. Criada em 2006, a Office Sawa já produziu inúmeros textos práticos e materiais publicitários nos campos da medicina, informática e educação. A Office Sawa se especializa em manuais, guias de referência e materiais promocionais que frequentemente utilizam textos educativos e mangá. LIVRO 41 Brewer’s Association O Brewer’s Association é a maior associação de cervejeiros dos Estados Unidos, inclusive sendo responsável pela elaboração de um dos mais utilizados guias de estilos no mundo. O site da BAs apresenta notícias do meio cervejeiro, mapas interativos e diversos conteúdos gratuitos. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB Crisp Malting Group - The Process of Making Barley into Malt No vídeo Crisp Malting Group - The Process of Making Barley into Malt, a Brewd.com apresenta o processo de produção do malte, nas maltearias inglesas. Mostra a escolha da cevada nas plantações, até os processos de germinação e secagem. Ative as legendas para aproveitar ao máximo essa experiência. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/2660 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/2659 42 CHAUDHURI, K. Microbial Genetics. The Energy and Resources Institute (e-Book), 2015. DANIELS, R. Designing Great Beers: The Ultimate Guide to Brewing Classic Beer Styles. Brewer’s Publica- tions, 1998. HIERONYMUS, S. For the Love of Hops: The Practical Guide to Aroma, Bitterness and the Culture of Hops. Boulder: Brewer’s Publications, 2012. HOHMANN, S.; MAGER, W. H. Yeast Stress Responses. New York: Springer, 2010. KUNZE, W. Technology Brewing and Malting. 6. ed. Berlin: VLB, 2004. MALCATA, F. X. Mathematics or Enzyme Reaction Kinetics and Reactor Performance. Vol. 2. 1. ed. Wiley-Blackwell, 2020. MALLETT, J. Malt: A Practical Guide from Field to Brewhouse, Boulder: Brewer’s Publications, 2014. NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. PALMER, J. How to Brew: Everything You Need to Know to Brew Great Beer Every Time. 4th Edition. Boulder: Brewer’s Publications, 2017. WHITE, C.; ZAINASHEFF, J. Yeast: The Practical Guide to Beer Fermentation. Boulder: Brewer’s Publications, 2010. REFERÊNCIAS ON-LINE 1Em: https://www.beronia.com/blog/en/what-are-the-legs-in-a-wine/. Acesso em: 08 fev. 2020. 2Em: https://study.com/academy/lesson/the-biological-function-of-cellulose.html. Acesso em: 08 fev. 2020. 3Em: https://www.ck12.org/biology/structure-and-properties-of-water/lesson/Biochemical-Properties-of- Water-Advanced-BIO-ADV/. Acesso em: 08 fev. 2020. 4Em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1202527/mod_resource/content/1/Aula13BioqAvan_ Membranas.pdf. Acesso em: 08 fev. 2020. 43 1. D. 2. B. 3. D. 4. As bactérias são microrganismos procariontes, ou seja, não possuem um núcleo definido que guarde o material genético. Seu DNA está inserido no citoplasma. As leveduras são microrganismos eucariontes, ou seja, possuem um núcleo definido, que guarda o material genético. 44 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Me. Maycon Vinícius de Senna Ribeiro • Conceituar a estrutura e importância dos aminoácidos e de seus aglomerados peptídeos. • Compreender as formas estruturais das proteínas e suas funções na produção cervejeira. • Contextualizar os lipídeos e suas respectivas funções no desempenho celular. • Conhecer os carboidratos presentes na produção de cervejas. • Analisar os insumos, mostos e cerveja em relação às bio- moléculas cervejeiras. Aminoácidos e Peptídeos Proteínas Carboidratos Insumos, Mosto e CervejaLipídeos Macromoléculas Cervejeiras 46 Macromoléculas Cervejeiras Aminoácidos e Peptídeos Caro(a) aluno(a), chegamos à segunda unidade deste livro com o objetivo de compreender a im- portância das macromoléculas na produção de cervejas. Nosso querido malte confere diversas moléculas ao mosto cervejeiro que desempenha- rão importantes funções ao decorrer da mostura- ção e para a qualidade da cerveja final. Uma dessas funções, por exemplo, é a estabilidade da espuma cervejeira. Observamos que a espuma é extre- mamente importante para a estética da cerveja, além de reter a transferência de calor do ambiente, dando cremosidade ao paladar. Você sabia que uma classe de macromoléculas está diretamente ligada à estabilidade da espuma? A partir de agora desvendaremos os segredos de cada molécula e suas características. Vamos lá! 47UNIDADE 2 Aminoácidos A palavra aminoácido pode soar um tanto quanto estranha para você, porém fica mais fácil compreen- der o que é um aminoácido quando falamos em proteínas. De senso comum, sabemos que as proteínas são moléculas presentes em alimentos como as carnes e alguns grãos e fazem parte dos músculos nos dando força. Mais à frente, falaremos sobre proteínas, entretanto o que devemos compreender aqui é que os aminoácidos são os blocos de construção das proteínas. Pequenas unidades que, juntas, tor- nam-se proteínas. Para conhecer o todo, devemos conhecer suas parcelas e, principalmente, a função que desempenham. O malte por si só possui uma quantidade de proteínas, que serão conferidas ao mosto, durante o processo de mosturação. Essas proteínas serão quebradas pela ação de enzimas e, assim, seus blocos deconstrução estarão mais presentes no mosto cervejeiro. Quando as proteínas se quebram, elas podem se tornar aminoácidos livres ou o que chamamos de peptídeos, que são alguns aminoácidos ligados, mas que não são uma proteína. Figura 1 - Aminoácidos são os blocos de construção das proteínas Se as proteínas são feitas de aminoácidos, então do que são feitos aminoácidos? Eles possuem esse nome, pois são ácidos orgânicos ligados a um grupo amina. O que difere um aminoácido de outro é a ligação com o radical, que é variável. Aminoácido Peptídeo Proteína 48 Macromoléculas Cervejeiras Figura 2 - Fórmula genérica dos aminoácidos A maioria dos seres vivos utiliza os aminoácidos para formar proteínas e, assim, auxiliar o orga- nismo em todas as suas tarefas. Todos necessitam produzir proteínas, porém nem todos conseguem absorver a proteína (como nós fazemos), quebrá- -la internamente e produzir proteínas à própria maneira. É por esse motivo que o cervejeiro deve manter aminoácidos no seu mosto. As leveduras não conseguem quebrar as proteínas do mosto, H H H N R C O OH C Grupo amino Grupo carboxílico (ácido) Radical apenas utilizar aminoácidos livres. Um mosto cervejeiro sem aminoácidos pode trazer sérios problemas de fermentação, como odores e sabores desagradáveis, fermentação lenta e travada, e até turbidez indesejada pela quantidade de proteínas inteiras. Por isso, é importante que o cervejeiro siga uma rampa de proteases, enzimas responsá- veis pela quebra das proteínas. Desde a descoberta dos aminoácidos até o descobrimento do último e vigésimo – treonina – passaram-se mais de 130 anos. Os aminoácidos, hoje, são compostos por 20 unidades diferentes, com seu radical sendo o ponto de mudança. Re- cebem seus nomes como sendo uma referência à sua fonte: a asparagina foi isolada primeiramente do aspargo, por isso recebeu esse nome (BELLÉ; SANDRI, 2014). Perceba, caro(a) aluno(a), que todas as proteínas e peptídeos são compostos por apenas 20 aminoácidos. No entanto, imagine a in- finidade de combinações que 20 unidades podem gerar, produzindo proteínas diferentes. O quinto e último gosto básico, chamado de umami, nada mais é do que a percepção humana para aminoácidos. Geralmente, quando é utilizado ácido glutâmico nos alimentos, ou é reali- zado algum tipo de cocção em carnes e alimentos proteicos, o umami se torna muito evidente. Fonte: Wash (2019, on-line)1. 49UNIDADE 2 Figura 3 - Os 20 aminoácidos essenciais Fonte: adaptada de Bellé e Sandri (2014). Alanina Arginina Asparagina Ácido aspártico Cisteina Ácido glutâmico Glutamina Glicina Histidina Isoleucina ProlinaFenilaninaMetioninaLisinaLeucina Serina Treonina Triptofano Tirosina Valina CH3 CC H H H N O HO CC C N H H O HO H OH2N CH2 CC C N H H O HO H OHO CH2 CC N H H O HO H CH2 SH CC N H H O HO H CH2 CH2 C HO O O O OHH2N NH2 H CC H H H N O HO CH3 CC H H H N O HO CH CH2H3C CC H H H N O HO CH2 CH3H3C CH CC H H H N O HO CH2 H O OH NH CC H H H N O HO CH2 CH2 S CH3 CH3 CC H H H N O HO CH H3C CH2 CC H H H N O HO OH CH CC H H H N O HO CH3HO CC H H H N O HO CH2 HN CC H H H N O HO CH2 OH CC H H H N O HO CH2 CH2 CH2 CH2 NH2 CC H H H N O HO CH2 CH2 CH2 NH C NHH2N CC H H H N O HO CH2 C C C N N H H H Peptídeos Quando os aminoácidos se ligam, formam-se peptídeos. Estes são cadeias de aminoácidos, com ta- manhos variados, sem função específica. Quando um peptídeo começa a exercer alguma função, é denominado proteína. Eles formados pelo que chamamos de ligações peptídicas. Os aminoácidos se unem pela ligação do grupo amino de um deles com o grupo carboxílico (ou grupo ácido) de outro, liberando uma água como produto final. Dessa maneira, os organismos vivos conseguem desempenhar diversas funções, unindo aminoácidos para formar peptídeos e proteínas (BARACAT-PEREIRA, 2014). 50 Macromoléculas Cervejeiras Figura 4 - Formação dos peptídeos por ligações peptídicas Os peptídeos desempenham uma importante função na nossa cer- veja: a formação e a estabilidade da espuma. Devido às suas forças polares, eles impedem a dispersão do gás carbônico, formando uma camada de transição mais estável, a que chamamos de espu- ma (KUNZE, 2004). É muito importante que uma cerveja que se deseja possuir uma espuma cremosa, elegante e persistente possua peptídeos de menor peso molecular em suspensão. Como podemos garantir isso? Contribuindo com a ação das proteases durante a mosturação. AMINOÁCIDO 1 AMINOÁCIDO 2 ÁGUA PEPTÍDEO Ligação peptídica Aminoácido 1 Aminoácido 2 Peptídeo Água As proteases quebram as proteínas do malte, gerando aminoácidos e peptídeos menores. Como vimos anteriormente, os aminoácidos são nutrientes para a levedura, mas qual a função dos peptídeos no seu mosto? 51UNIDADE 2 Prezado(a) estudante, já compreendemos as bases formadoras das proteínas e a função dos aminoá- cidos e dos peptídeos no nosso mosto e na nossa cerveja. Agora é a hora de entendermos as proteí- nas, ou seja, longas cadeias formadas por milhares de aminoácidos em ligações peptídicas, com im- portantes funções no funcionamento dos orga- nismos vivos. Por mais que não seja conveniente proteínas em nosso mosto ou em nossa cerveja final, há uma classe de proteínas na produção de cervejas que nos faz entender mais ainda como a bioquímica está presente no processo: as enzimas. Proteínas 52 Macromoléculas Cervejeiras Enzimas As enzimas são uma classe de proteínas com uma importante função: catalisar reações biológicas. E afinal, o que é catalisar? Veremos a seguir. Figura 5 - Enzimas são grandes cadeias proteicas tridimensionais Os organismos biológicos necessitam desempenhar reações químicas para produzirem energia, seja para manutenção ou movimento. Essa energia vem dos alimentos, seja qual for. Para transformar esse alimento em energia, são necessárias diversas reações químicas de quebra de moléculas, e para isso as enzimas entram em cena: aceleram as reações biológicas, tornando-as possíveis em poucos segundos (MALCATA, 2020). Para que uma mistura de água e malte se torne um mosto cervejeiro, muitas enzimas precisam que- brar as moléculas de amido, de proteínas do malte, entre outros compostos e, assim, liberar moléculas menores, as quais podem ser absorvidas pelas leveduras. O amido é uma imensa molécula de açúcares que, com a ação das enzimas amilolíticas, fornece ao mosto dextrinas (cadeias complexas de açúcares que dão corpo à nossa cerveja) e açúcares fermen- tescíveis (pequenos aglomerados de maltose, glicose e maltotriose, que serão transformados em álcool pelas leveduras). Além disso, vimos, anteriormente, a importância da enzima protease, que quebra as proteínas do malte liberando peptídeos e aminoácidos. Devemos sempre lembrar que as enzimas são proteínas responsáveis pela catálise das reações bioló- gicas. Por esse motivo, as proteases são proteínas responsáveis por quebrar outras proteínas. Quando se fala em conteúdo proteico do malte, fala-se também em proteínas e em enzimas importantes. 53UNIDADE 2 Uma reação química ocorre quando se tem três situações favoráveis: • Deve haver uma concentração de substratos razoável no meio. • A reação deve ser termodinamicamente possível. • A energia de ativação deve ser alcançada. Quando nos atentamos para o terceiro item, percebemos que o sistema deve conter energia suficiente para que a reação ocorra. Vamos exemplificar no nosso dia a dia. O cervejeiro pretende brassar uma cerveja no fim de semana e, para isso, arruma seu fogareiro, conectando a um botijão de gás. Para dar a ignição, ele acende um fósforo e abre a válvula. Perceba, caro(a) aluno(a), a ignição é a energia necessária para que a reação do gás com o oxigênio do ar se inicie. Sem o fogo (energia na forma de calor), a reação não ocorre tão facilmente. Dizemos, então, que a energia de ativação da reação gás e oxigênio é fornecida com uma ignição,uma chama inicial. En er gi a fo rn ec id a Sem enzima En er gi a de at iv aç ão Reagentes Produtos En er gi a lib er ad a Progresso de uma reação sem enzimas Progresso de uma reação com enzimas Energia de ativação Com enzima En er gi a fo rn ec id a En er gi a lib er ad a Reagentes Produtos Figura 6 - Esquema de diminuição da energia de ativação da reação química sem e com enzimas Com as enzimas, a energia de ativação das reações é reduzida, possibilitando que a reação ocorra sem muita energia inicial. Afinal, seria muito difícil para uma célula controlar uma ignição, por isso as reações biológicas podem ocorrer em temperaturas amenas. As enzimas se ligam aos substratos (ou reagentes), ativam determinadas regiões responsáveis pela diminuição da energia de ativação, porém sem a modificação da enzima. Ao final da reação, a enzima não é consumida ou modificada, ela está pronta para participar de outra reação. Os mecanismos mais conhecidos e aceitos são o do sistema chave-fechadura e de encaixe induzido, para enzimas. As enzimas são específicas, ligam-se ao substrato ao qual foram criadas para atuar, com uma imensa seletividade. Por exemplo, as proteases só podem quebrar proteínas, não conseguirão quebrar moléculas de açúcar devido à sua especificidade (MALCATA, 2020). 54 Macromoléculas Cervejeiras Figura 7 - Esquema chave-fechadura para a atuação das enzimas Complexo enzima-substrato Complexo enzima-produto Produtos Enzima Substratos Enzima Facilmente confundimos os termos enzimas e proteínas no dia a dia, porém devemos deixar claro que as enzimas são um tipo de proteína, ou seja, todas as enzimas são proteínas, mas nem todas as proteínas são enzimas. aumentam muito, pode ocorrer a desnaturação da enzima, ou seja, irreversivelmente sua estrutura se rompe, danifica-se, e a enzima passa apenas a ser uma proteína inativa em suspensão. Na fervura, muitas proteínas se coagulam pela desnaturação pelo calor, sendo retiradas por decantação (KUNZE, 2004). No entanto, as enzimas são apenas um tipo de proteína e estão por toda a parte, em alimentos, produtos de limpeza, entre outros. Estrutura das Proteínas As proteínas podem ter outras funções além de serem enzimas. Muitas proteínas são fundamentais para a manutenção da vida, por exemplo, as hemoglobinas presentes no nosso sangue e a clorofila nas plan- tas. Sem elas, não poderíamos viver da forma como vivemos. Elas têm a importante função de auxiliar na troca gasosa para nós respirarmos e para as plantas realizarem a fotossíntese. Por isso, aluno(a), as proteínas são a base das funções de todos os seres vivos. Como compreendemos, as en- zimas são muito específicas. As amilases só atuam quebrando cadeias de amido, as glucanases só atuam quebrando glucanos e assim por diante. E para que isso ocorra, as enzimas atuam em faixas específicas de tem- peratura e pH, pois mínimas variações no ambiente podem danificar regiões importantes das enzimas. Na mosturação, cada pata- mar de temperatura favorece uma enzima específica, mes- mo que outras estejam atuan- do simultaneamente, porém de maneira mais lenta. Entre- tanto, quando as temperaturas 55UNIDADE 2 Conforme os aminoácidos se ligam, formam-se peptídeos, depois polipeptídeos e, por fim, proteínas. Quando as cadeias de ligações crescem, outras forças intermoleculares atuam, criando estruturas es- paciais. Dessa maneira, dividimos as estruturas das proteínas em quatro classes: proteínas de estrutura primária, secundária, terciária e quaternária (BARACAT-PEREIRA, 2014). Veremos, a seguir, como funcionam cada uma delas. • Estrutura primária: é a ligação dos aminoácidos formando peptídeos. Dizemos que essa estrutura é linear, geralmente representa peptídeos de baixo peso molecular. • Estrutura secundária: os resíduos dos aminoácidos começam a exercer forças intermoleculares, causando a torção da cadeia, que começa a se dispor em hélice. Dessa forma, estruturas como alfa-hélice e beta pregueada são possíveis. • Estrutura terciária: as hélices, conforme ficam maiores, começam a se enrolar sobre si, como se fossem novelos de lã. A molécula possui alto peso molecular e começa a produzir regiões fun- cionais em escala tridimensional. • Estrutura quaternária: a disposição tridimensional da proteína começa a desempenhar funções específicas em cada região dela, que podem ser chamadas de subunidades. Figura 8 - Estruturas proteicas Quanto maior a estrutura da proteína, mais funcional ela se torna. A interação dos resíduos dos ami- noácidos com as forças intermoleculares pode produzir proteínas com funções ilimitadas. Algumas proteínas ainda possuem metais fazendo parte de sua estrutura, como a hemoglobina que possui ferro. Toda essa complexidade torna cada ser vivo único, com um conjunto de interações e reações químicas, criando enzimas específicas. Estrutura primária: cadeia de aminoácidos Estrutura secundária: alfa hélice Estrutura terciária: cadeia polipeptídica torcida sobre si Estrutura quaternária: subunidades reunidas 56 Macromoléculas Cervejeiras Funções das Proteínas Caro(a) aluno(a), por que é tão importante manter aminoácidos no mosto para as leveduras? Parece um pouco óbvio que elas usem esses aminoácidos para produzir suas enzimas e conseguirem se ali- mentar dos açúcares, mas vai muito além disso. Os aminoácidos servirão como matéria-prima para as proteínas, e estas desempenharão muitas outras funções, além das enzimas que já vimos anterior- mente. Vamos, agora, conhecer um pouco das outras funções das proteínas nos organismos vivos (BARACAT-PEREIRA, 2014). Proteínas transportadoras Algumas proteínas facilitam o transporte de nu- trientes, tanto do meio extracelular para intrace- lular, como no interior da célula. A própria parede celular possui proteínas para desempenhar essa função. Quanto mais específica for essa proteína, mais específico será o substrato a ser transportado. Proteínas Estruturais Essa classe de proteínas é de extrema importân- cia para os organismos mais desenvolvidos, pois garante estrutura, servindo de suporte para o ser vivo. Podemos citar como exemplo o colágeno, proteína presente nas cartilagens e tendões dos animais, responsáveis pela sustentação e o movi- mento. Os cílios e flagelos bacterianos são protei- cos, a parede celular das leveduras possui camadas proteicas, e até a cápsula que envolve os vírus é proteica. Perceba, prezado(a) estudante, como uma pequena mudança na estrutura proteica pode criar funções totalmente novas para o ser vivo. Proteínas de defesa Algumas leveduras, principalmente do gênero Saccharomyces, apresentam o que chamamos de fator killer. Elas têm a capacidade de secretar subs- tâncias que podem matar bactérias e até outras leveduras presentes no meio. Esse fenômeno é muito importante na competição por nutrientes e contribui para que a linhagem resistente à to- xina se sobressaia perante as demais. Essa toxina geralmente é constituída de proteínas, que atuam como defesa, destruindo a membrana celular de outros microrganismos. Perceba, futuro(a) profissional da Produção Cervejeira, como as proteínas são a chave da vida: podem desempenhar diversas funções e são, prin- cipalmente, responsáveis pelas novidades que a vida pode trazer, contribuindo com a sobrevi- vência. Mais adiante, na Unidade 5, entenderemos como é possível um microrganismo produzir pro- teínas tão diferentes e tão funcionais. 57UNIDADE 2 Durante a fervura da cerveja, são adicionados lúpulos para conferir amargor e aroma. Nesse momento, algo que observamos é uma caracterís- tica “oleosa” proporcionada pelo lúpulo, que faz o mosto brilhar em alguns momentos. Percebemos, assim, que essas substâncias têm certa dificulda- de em se dissolver no mosto, principalmente em grandes quantidades. Apesar de o lúpulo possuir diversos tipos de óleos essenciais em sua com- posição, chamamos a atenção para uma classe de biomoléculas que chamamos de lipídeos.Os óleos e gorduras são lipídeos e são basicamente a estrutura sustentadora da membrana celular, que vimos no início deste livro. Aluno(a), agora conheceremos o que são os lipídeos e qual a sua importância na produção das cervejas. Lipídeos 58 Macromoléculas Cervejeiras Figura 9 - Lúpulo e seus óleos essenciais Os lipídeos são derivados dos ácidos graxos, que nada mais são do que cadeias hidrocarbonadas com um grupo carboxil em uma das extremidades. Esse grupo carboxil, também chamado de grupo ácido, torna essas substâncias com uma característica hidrofóbica (que não se liga à água) em uma substância hidrofílica (que pode se ligar à água), como é o caso dos ácidos graxos. A polaridade da extremidade carboxílica permite a interação com a água, enquanto as cadeias não polares repelem a água. Dessa maneira, essas substân- cias são essenciais para a existência da vida. Sem elas, as membranas celulares dos microrganismos não existiriam, seriam totalmente dissolvidas pela água interna e externa (NELSON et al., 2018). Os ácidos graxos se diferenciam por meio do tamanho da sua cadeia e da sua quantidade de insaturações. O tamanho da cadeia é determinado pela quantidade de carbonos presentes, que abrevia- mos pela letra “C” e o número de carbonos na cadeia. Por exemplo, um ácido graxo com 9 carbonos é referenciado como C-9. Quando falamos de insaturações, dizemos que no meio da cadeia podem haver ligações duplas, o que chamamos de insaturação. Ácidos gra- xos insaturados são aqueles que possuem ligações duplas na cadeia. Devido às características hidrofóbicas dos lipídeos, não é possível solubilizar óleos e gorduras em da água. Para isso, utilizam-se solventes como hexano, éter de petróleo e outros. Muitas análises de conteúdo lipídico são obtidas por extração. Fonte: USP ([2020], on-line)2. 59UNIDADE 2 Figura 10 - Imagem ilustrativa dos ácidos graxos saturados e insaturados, indicando o grupo carboxila Fonte: adaptada de Nelson e Cox (2014). Grupo carboxil Cadeia hidrocarbonada C OO C OO Triacilgliceróis como Fonte de Energia Os ácidos graxos podem se ligar a uma molécula de glicerol, formando uma cadeia neutra chamada de triacilglicerídeos (ou triacilgliceróis). Dessa maneira, é possível que os seres vivos armazenem esses ácidos graxos, para serem utilizados como reserva energética. Para formar um triacilglicerol, é necessário que uma molécula de glicerol se ligue a três ácidos graxos, construindo, assim, uma reserva energética para os seres vivos. Mais adiante, falaremos sobre os carboidratos e sua importância energética, porém devemos salientar que a energia de triacilgliceróis é superior à fornecida por carboidratos. Além disso, há menor requerimento de água para a transformação dessas moléculas em energia. Figura 11 - Representação de um triglicerídeo 60 Macromoléculas Cervejeiras Ácidos graxos e triacilglicerí- deos são fundamentais para o correto funcionamento dos organismos vivos. Para as le- veduras, esses compostos são utilizados para a sintetização de novas membranas celulares, imprescindível para a repro- dução celular. Em organismos superiores, como nós humanos, eles são reservas energéticas e constituem grande parte dos hormônios, que são substân- cias necessárias para a comu- nicação interna do corpo. A hidrólise dos triacilglicerídeos é facilmente assistida por ácidos ou bases, gerando sabões que diminuem a tensão superficial da água (NELSON et al., 2018). Esses sabões são conhecidos por promover a solubilização de gorduras em água. Figura 12 - Representação da atuação dos sabões na solubilização de sujeiras Podemos perceber que a polaridade da molécula tem efeito sobre a sua solubilização. Tanto os fosfolipídeos das membranas celulares quanto os sabões conseguem ser polares em uma região e apolares em outra região da molécula, produzindo o que chamamos de micelas. Estas são aglo- merados de ácidos graxos ou sais de ácidos graxos que podem solubilizar substâncias em água ou manter uma bicamada estável, como as membranas celulares. 61UNIDADE 2 Formação de Estrutura de Membrana Como já vimos até aqui, a membrana celular, além de fundamental para a vida, é necessariamente com- posta por uma bicamada lipídica, que chamamos de lipossomo. A principal diferença entre a micela e o lipossomo é a presença de duas camadas, ao invés de uma. Isso permite polaridade nas extremidades e no centro, possibilitando uma unidade aquosa interna e externa. Figura 13 - Esquema da formação do lipossomo e das micelas Dessa maneira, prezado(a) estudante, percebemos como é importante a presença de ácidos graxos para a manutenção da vida. Normalmente, as leveduras conseguem sintetizar os ácidos graxos a partir dos demais compostos presentes no mosto, para assim se reproduzirem. Contudo, só o conseguem na presença de oxigênio. Por esse motivo, é fundamental que o mosto cervejeiro seja aerado previamente à fermentação, pela necessidade de as células produzirem ácidos graxos. A falta de oxigênio pode causar estresses, gerando subprodutos indesejáveis na cerveja pronta. Lipossomo Micela Bicamada lipídica 62 Macromoléculas Cervejeiras Profissional da Produção Cervejeira, acredito que agora já esteja muito mais claro o que são proteínas, aminoácidos e lipídeos presentes no mosto cervejeiro, porém há uma classe muito im- portante para o resultado final da nossa cerveja: os carboidratos. Quando chamados de açúcares, fica mais intuitivo compreender sua aparência e importância à produção de cervejas. As cervejas com menos corpo, mais secas, possuem diferen- ças significativas em relação a carboidratos do que as bebidas encorpadas, alcoólicas e até doces. A presença dos carboidratos e da forma em que estes estão no mosto cervejeiro definem essas e outras características da cerveja pronta (MAL- LETT, 2014). Carboidratos 63UNIDADE 2 Os carboidratos são chamados assim por se tratarem de hidratados de carbono, ou seja, a mistura das moléculas de gás carbônico (CO2) e água (H2O). Dessa maneira, após a sua quebra, são liberadas quantidades de energia e essas duas moléculas. Os carboidratos são a classe mais numerosa de biomo- léculas do planeta, sendo a fonte principal de energia para os seres vivos. Não é por acaso que a nossa levedura cervejeira aguarde ansiosamente os açúcares do mosto para transformá-los. Afinal, essa é a maneira que o fermento tem para sobreviver naquele meio. Dividem-se os carboidratos de acordo com a composição de sua molécula. Dos mais simples, com apenas uma unidade, até os mais complexos, com numerosas unidades, podemos destacar a glicose e o amido, sendo o último uma longa cadeia de glicoses ligadas. Aos carboidratos de uma única unidade, damos o nome de monossacarídeos, os de duas chamamos de dissacarídeos e os grandes carboidratos denominamos de polissacarídeos (BELLÉ; SANDRI, 2014). Exemplificaremos para que fique mais claro. Figura 14 - O malte tem como principais constituintes os carboidratos Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. 64 Macromoléculas Cervejeiras Figura 15 - Monossacarídeos e dissacarídeos Observe pela Figura 15 como a união das unidades pode formar dissacarídeos. Eles são muito presen- tes no nosso dia a dia. A sacarose, por exemplo, está presente na cana-de-açúcar e na forma de açúcar refinado nas nossas casas, a maltose está presente no nosso mosto cervejeiro e a lactose nos leites. Todas essas substâncias são utilizadas pelo nosso organismo como fonte de energia. Para as leveduras, são os precursores do álcool, do gás carbônico e de outros subprodutos da fermentação. Glicose Galactose Frutose Sacarose Maltose Lactose 65UNIDADE 2 São numerosas as quantidades de carboidratos existentes. As nossas leveduras cervejeiras só conseguem trabalhar com alguns carboidratos em específico: glicose, frutose, sacarose, maltose e maltotrioses (com algumas exceções). A leveduras não conseguem quebrar osoutros carboidratos, o que faz com que estes, se presentes, permaneçam no meio após a fermentação. Aos açúcares que as leveduras conseguem transformar, denominamos de açúcares fermentescíveis. Carboidratos de Amido no Mosto Cervejeiro Como dito anteriormente, os carboidratos são a principal fonte de energia dos seres vivos. As le- veduras possuem uma alta preferência pela glicose do que qualquer outra biomolécula para trans- formar em energia. A forma que elas conseguem realizar esse trabalho é por meio da respiração ou da fermentação. Quando em presença de oxigênio, as leveduras conseguem oxidar os carboidratos plenamente, liberando gás carbônico e água. Quando em ausência de oxigênio, a opção é a fermen- tação alcoólica (MALLETT, 2014). Durante a mosturação, o amido, enorme biomolécula de açúcares, é quebrado, liberando diversos açúcares no mosto. A priorização das enzimas cervejeiras é o que define quais açúcares estarão presentes em maior quantidade no mosto. O amido, quando quebrado aleatoriamente, produz o que chamamos de dextrinas, ou seja, carboidratos menores, porém de variada composição, não sendo fermentescíveis. Isso trará características como corpo para a cerveja, além de dulçor residual. Quando há a priorização da quebra do amido em suas extremidades, há maior formação de açúcares fermentescíveis no mosto cervejeiro, como principalmente a maltose. Isso trará maior teor alcoólico, menor corpo e mais sensa- ção de secura para a cerveja final. É muito importante ao cervejeiro conhecer a diferença entre essas moléculas e projetar sua receita com base nisso. 66 Macromoléculas Cervejeiras Função Estrutural dos Carboidratos Além da energética envolvida na quebra dos carboidratos, eles são importantes para questões estruturais. Como veremos na última unidade desse material, as riboses e desoxirriboses são açúcares presentes na constituição do DNA e do RNA, sendo imprescindí- vel sua presença para a manutenção da vida. Além disso, existem polissacarídeos estruturais, como a lignina e a celulose, que dão sustentação e auxiliam as plantas a obterem nutrientes. As cas- cas do malte são um exemplo de polissacarídeos estruturais, que participam da mosturação, mas não contribuem para açúcares de mosto, pois estão em uma forma que as enzimas cervejeiras não têm capacidade de quebrar, muito menos as leveduras. Figura 16 - Celulose em células vegetais 67UNIDADE 2 Prezado(a) estudante, agora que compreendemos as macromoléculas cervejeiras, vamos passar, dos insumos até a cerveja pronta, quais são as princi- pais biomoléculas envolvidas e sua importância. Cada insumo, cada parte do processo de produção deve ser estritamente avaliado de acordo com os principais parâmetros por exemplo, teor de umi- dade, porcentagem de carboidratos, lipídeos etc. Insumos Os insumos cervejeiros são a base para as ma- cromoléculas cervejeiras. A seguir, veremos os principais insumos cervejeiros e sua contribuição de macromoléculas cervejeiras. Insumos, Mosto e Cerveja 68 Macromoléculas Cervejeiras Malte Um dos mais importantes insumos do processo de produção cervejeira. O malte, como vimos na Uni- dade 1, é produzido pela germinação controlada de grãos, como cevada, trigo, sorgo e aveia, conferindo proteínas na forma de enzimas, responsáveis por quebrar o amido durante a mostura. Por isso, deve- mos compreender que a composição enzimática do malte deve estar clara para o cervejeiro, bem como a concentração de amido disponível na forma de extrato de malte. Com esses parâmetros em mãos, o cervejeiro tem a capacidade de uniformizar suas receitas, afinal, a cada safra, os maltes apresentam alterações nos teores de proteína, amido, entre ou- tros. Um malte com maior poder diastático tende a hidrolisar o amido em menor tempo, e o inverso é verificado para maltes com menor poder diastá- tico. A quantidade de malte utilizada também se modifica quando o cervejeiro replica sua receita usando um malte com menor teor de extrato. Tudo isso deve constar nas informações do fabricante do malte, que deve fornecer a ficha técnica com esses parâmetros. 69UNIDADE 2 Tabela 1 - Parâmetros do malte Pale Ale Agrária Parâmetro Mínimo Máximo Unidade Umidade - 4,5 % Extrato de moagem final 80,5 - % Friabilidade 83,0 - % Cor do mosto 5,5 7 EBC B-glucanas - 150 mg/L Viscosidade - 1,60 mPa/s Proteína 10,0 11,5 % Poder diastático 200 - Wk Fonte: Agraria ([2020], on-line)3. Lúpulo O lúpulo é principalmente utilizado como fonte de amargor para as cervejas. Além disso, seu uso também está vinculado à estabilidade da espuma, estabilidade microbio- lógica da cerveja pronta e aromas típicos das mais diversas variedades desta planta, que podem ser utilizados tanto no processo de fervura quanto no processo de maturação. O lúpulo também possui uma ficha técnica e nela é indicada a quantidade de alfa-ácidos, ou seja, as substâncias relacionadas ao amargor. Quanto maior o teor de alfa-ácidos, maior o amargor esperado. Apesar de existirem diversas fórmulas e calculadoras para estimar o amargor, existem algumas recomendações que o cervejeiro deve estar ciente para obter o resultado esperado: • Validade do lúpulo: os lúpulos mais frescos tendem a ter maior teor de alfa-ácidos (mais próximo do valor dado na ficha técnica), bem como preservar os aromas e sabores conferidos pela variedade em questão. • Conservação do lúpulo: o lúpulo deve ser mantido refrigerado justamente para que o que está na ficha técnica se mantenha o mais próximo possível, mesmo após sua colheita. Além disso, o lúpulo é extremamente sensível à luz, podendo esta causar degradações nas substâncias do lúpulo e proporcionar odores indesejáveis. As embalagens devem ser opacas e impermeáveis para garantir durabilidade do produto. • Tempo apropriado de ação: quando o objetivo é amargor, o cervejeiro deve estar ciente do tempo necessário de fervura para a isomerização dos alfa-ácidos. O amar- gor só passa a estar presente na cerveja quando há esse processo de isomerização, que ocorre apenas em altas temperaturas. Se o cervejeiro utilizar o lúpulo com pouco tempo de isomerização, ele também terá transmitido ao mosto menor amargor. 70 Macromoléculas Cervejeiras A oxidação pela luz das substâncias do lúpulo é comumente chamada de “lightstruck”. Também conhecido como aroma de “gambá”, é causado também por cervejas pron- tas expostas à luz. É por este motivo que as garrafas de cerveja costumam ser na cor âmbar. Utilizar lúpulos frescos, ao abrigo da luz, evitam esse off-flavor nas cervejas. Tabela 2 - Composição média do lúpulo Cascade Características Floral, com elementos cítricos e notas de toranja Proposta Aroma e amargor Composição de alfa-ácidos (%) 4,5-8,9 Composição de beta-ácidos (%) 3,6-7,5 Composição de co-humulonas (%) 33-40 País de origem Estados Unidos Tamanho do cone Médio Densidade do cone Compacto Maturidade sazonal Média Rendimento (kg/hectare) 2017-2465 Taxa de crescimento Moderada a alta Estocagem Retenção de 48 a 52% de alfa-ácidos após 6 meses guardado a 20 ºC Colheita Difícil Composição total de óleos (mL/100g) 0,8-1,5 Composição de óleo de mirceno (%) 45-60 Composição de óleo humuleno (%) 8-16 Fonte: Hopslist ([2020], on-line)4. 71UNIDADE 2 Macromoléculas Cervejeiras72 Fermento Os fermentos mais empregados na produção de cervejas são cepas isoladas, de uma única espécie, adaptadas para a produção de cerve- jas, tanto em microescala quanto em escala industrial. Hoje em dia, caracteriza-se os fer- mentos de acordo com seus perfis de fermen- tação, como geração de diacetil, requerimento de nitrogênio, geração de enxofre, capacidade de floculação, temperatura de atuação e poten- cial de esterificação. Cada fermento é empregado de acordo com o estilo projetado. Por exemplo, as leveduras belgas têm como característica alta esterifica- ção, característica desejada para cervejas da escola belga; enquanto para as lagers alemãs, os perfis neutros, com baixíssima
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