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1º EDIÇÃO - 2019 SÃO PAULO - SP FUNDAMENTOS E PRÁTICAS DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA Valdir Fulle 1º EDIÇÃO - 2019 SÃO PAULO - SP FUNDAMENTOS E PRÁTICAS DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA Valdir Fulle FUNDAMENTOS E PRÁTICAS DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EXPEDIENTE COORDENAÇÃO GERAL NelsoN BoNi COORDENAÇÃO, PROJETO GRÁFICO E CAPA João Guedes COORDENAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS Hikaro Queiroz COORDENAÇÃO DE REVISÃO ORTOGRÁFICA estHela Malacrida AUTOR(ES) Valdir Fulle DIAGRAMAÇÃO rodriGo Messias 1º EDIÇÃO - 2019 SÃO PAULO - SP FUNDAMENTOS E PRÁTICAS DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA 50 HORAS Objetivos, etapas e competências. Exigências técnicas na escolha de instrumentos psicológicos. Integração de informações provenientes de diferentes fontes em um processo de avaliação psicológica. Aspectos éticos relacionados à Avaliação Psicológica APRESENTAÇÃO O presente trabalho tem por escopo estudar os funda-mentos e praticas da avaliação psicológica.Faremos um breve histórico da psicologia e sua evolução ao longo dos séculos. Mencionaremos os objetivos da avaliação psicológica, suas etapas e competências. Nesse sentido citaremos a avaliação psicológica e o perfil exi- gido para o ingresso na Policia Militar do Estado de São Paulo Identificaremos as exigências técnicas na escolha dos ins- trumentos psicológicos. A necessidade de Integração de informações provenientes de diferentes fontes em um processo de avaliação psicológica. O conceito de ética e seus aspectos na avaliação psicológica. Em diversos concursos públicos e até mesmo para deter- minadas vagas, em empresas privadas, há a exigência de avaliação psicológica. Estão muito presentes no nosso cotidiano, em diversas modalidades, como no teste de vocação profissional, co- mum em muitas escolas, na exigência de portes de armas, nos exames da Carteira Nacional de Habilitação, em ci- rurgias bariátricas, entre outros. Como o nosso curso é de inteligência policial, se menciona- rá os requisitos para o ingresso na carreira policial militar do estado de São Paulo, a fim de que o prezado aluno tenha uma noção pratica das exigências, baseada na psicologia. Que você possa compreender melhor esse ramo cientifico e verificar a confiabilidade dos testes psicológicos, dentro de uma visão ética e legal. Seja bem vindo (a)! SUMÁRIO: UNIDADE 1. ............................................................. 6 CAPÍTULO 1. FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA, OBJETIVOS, ETAPAS E COMPETENCIAS ........................................................ 7 1.1 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA .......................................8 1.2 CONCEITOS BÁSICOS DA PSICOLOGIA ............................ 15 1.3 FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO PSICOLOGICA ... 17 1.4 PRINCIPAIS CUIDADOS A SEREM SEGUIDOS NA ELABORAÇÃO DE UM RELATÓRIO/LAUDO PSICOLÓGICO ...... 22 1.5 COMPETÊNCIAS QUE UM PSICÓLOGO NECESSITA PARA REALIZAR A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ................... 23 1.6 FUNDAMENTOS LEGAIS SOBRE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ... 24 1.7 OBJETIVOS DOS TESTES PSICOLÓGICOS ......................... 26 1.8 TESTE PSICOLÓGICO APLICADO NA POLICIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO .............................. 34 CAPÍTULO 2. EXIGÊNCIAS TÉCNICAS NA ESCOLHA DE INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS ....................................38 2.1 PRINCIPAIS CUIDADOS QUE O PSICÓLOGO DEVE TER PARA UTILIZAR UM TESTE PSICOLÓGICO .................. 44 EXERCÍCIOS PROPOSTOS UNIDADE 1 ..................................47 UNIDADE 2. ............................................................50 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO DE INFORMAÇÕES PROVENIENTES DE DIFERENTES FONTES EM UM PROCESSO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ..........................51 3.1 RESOLUÇÃO Nº 9, DE 25 DE ABRIL DE 2018 ..................... 52 CAPÍTULO 4. ASPÉCTOS ÉTICOS RELACIONADOS À AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ...........................................62 4.1 CODIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO PSICOLOGO ............. 63 4.2 A DEVOLUTIVA E A ETICA NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA .......................................... 82 EXERCÍCIOS PROPOSTOS UNIDADE 2 ..................................89 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................93 U N I D A D E 1 UNIDADE 1. CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 1. FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA, OBJETIVOS, ETAPAS E COMPETENCIAS - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 8 1.1 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA A atividade profissional de Psicólogo é nova no Brasil. A Lei nº 4.119, de 27 de agosto de 1962, dispõe sobre os cursos de formação em psicologia e regulamentou a pro- fissão de psicólogo, ou seja, a Psicologia tem pouco mais de 56 anos de sua existência, enquanto profissão legalizada no país. No que tange à seleção de pessoal, é também muito significativo o conteúdo da referida norma legal que trata da utilização de instrumentos de avaliação psicológica. Art. 13. - Ao portador do diploma de Psicólogo é con- ferido o direito de ensinar Psicologia nos vários cursos de que trata esta lei, observadas as exigências legais específi- cas, e a exercer a profissão de Psicólogo. § 1º Constitui função do Psicólogo a utilização de mé- todos e técnicas psicológicas com os seguintes objetivos: a) diagnóstico psicológico; a) orientação e seleção profissional; b) orientação psicopedagógica; c) solução de problemas de ajustamento. § 2º É da competência do Psicólogo a colaboração em assuntos psicológicos ligados a outras ciências. (SENADO FEDERAL, 2013). È relevante se mencionar no inicio do presente traba- lho, o Dr Emilio Mira y López, um dos mais destacados psicólogos do século XX. Uma de suas maiores contribuições - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 9 para a ciência psicológica foi à criação do teste de expressão gráfica Psicodiagnóstico Mio cinético, o famoso PMK. O PMK é um teste de expressão gráfica que avalia al- gumas características de personalidade, quais sejam, emo- ção, tensão, agressividade, tônus vital, adaptabilidade, rela- cionamento Inter e intrapessoal e impulsividade. O referido teste será devidamente mencionado, ainda, neste capitulo. Agora vamos a uma breve evolução histórica da psicologia. BINHARDI, em sua obra “PSICOLOGIA JURIDICA”, faz um breve histórica da psicologia como ciência, que tra- zemos, para fundamentar e embasar o presente trabalho. IDADE ANTIGA: os pensadores, filósofos e teólogos de várias regiões e culturas dedicaram-se a questões rela- tivas à natureza humana - a percepção, a consciência e a loucura. O termo psicologia vem do grego “psyché” cujo signi- ficado é sopro de vida, alma, e “logos” cujo significado é es- tudo, ciência, portanto pode ser traduzido como o estudo da alma. A filosofia reunia em si todas as ciências, inclusive a psicologia, utilizando-se unicamente do raciocínio lógico. Somente no final do século XIX a psicologia passou a ser uma ciência autônoma. Foi Demócrito (460-370 aC) filósofo pré-socrático, o primeiro a separar o psíquico do físico. - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 10 Aos filósofos pré-socráticos coube a tarefa de por ter- mo a visão mítica e religiosa que se tinha da natureza. Deu- se início uma maneira de pensar científica e racional. Após Sócrates nasceu uma preocupação em expli- car temas inerentes à psicologia como memória, aprendi- zagem, percepção, motivação, sonhos e comportamentos anormais. Foi Aristóteles (384-322 aC) o primeiro a escrever so- bre temas de psicologia. Ele acreditava que a alma era tudo que se percebe, pensa e vive. IDADE MODERNA: o período foi caracterizado pelo cristianismo, a filosofia antiga e o antropocentrismo decaem. Deus surge como centro de todos os pensamentos. Santo Agostinho (354-430 aC) estuda o tempo e sub- divide em presença do passado (memória), presença do pre- sente (percepção) e presença do futuro (prospecção). Ainda no estudo sobre a memória conclui que o esquecimento é a “presença da ausência”. Até esse momento a natureza humana era estudadavalendo da especulação, intuição, generalização. Com o re- conhecimento do método científico deu-se a autonomia das ciências. Nasce, então, a psicologia científica. Mais tarde, com a criação de laboratórios, surge a psicologia experimental. - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 11 1.1.1 CORRENTES FILOSÓFICAS QUE INFLUENCIARAM A EMANCIPAÇÃO DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA. Assim, BINHARDI, continua sua exposição: Empirismo crítico: O movimento nasceu na Grécia e referia-se a crítica lógica de toda experiência. Os filóso- fos investigavam de que era feito o mundo, a natureza dos fenômenos psíquicos e como esses se relacionavam com o mundo dos objetos. a) René Descartes (1596-1650) seguindo o racio- cínio de Platão dividia o ser humano em: reino material (fí- sico) e reino imaterial (mente). A mente se subdividia em atividades específicas (conhecer, querer, raciocinar e recor- dar) e atividades comuns entre o corpo e a mente (sensação, imaginação, instinto). b) Thomas Hobbes (1588-1679) acreditava que o homem tinha uma natureza má e que agia conforme suas necessidades sem se preocupar com o semelhante, daí a máxima “o homem é lobo do homem”. Nasce a psicologia do ato. c) John Locke (1632-1704) o estudo da memória e da associação de ideias, como base de recordação de expe- riências, assuntos anteriormente tratados por Aristóteles. Utilizava métodos de observação para fundamentar seu estudo. Para ele através de experiências o ser humano ad- quire conhecimentos que levam a reflexões. O ser humano recorda e combina impressões sensoriais a fim de formar abstrações e ideias de nível superior. - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 12 d) George Berkeley (1685-1753) baseou sua cren- ça no fato de que “ser” consiste em “ser percebido”, priori- zando a existência da percepção das coisas e por consequ- ência a percepção de Deus. e) David Hume (1711-1776) fundou a psicologia do senso comum afirmando que só existe aquilo que pode ser observado e experimentado, colocou em dúvida a existência de Deus. Acreditava que ideias complexas surgiram de as- sociação de ideias simples. f) Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) es- creveu o livro “Novos Ensaios” que trata da sensação e dos processos perceptuais. Para ele a percepção exigia memória e atenção. Nasceu a doutrina do inconsciente e da continui- dade do inconsciente com o consciente. g) Emanuel Kant (1724-1804) acreditava que a psicologia deveria se guiar somente pela experiência, qual- quer outro método não seria válido. h) Johann Friedrich Herbart (1776-1841) afir- mava que as ideias tinham a propriedade de inibir ou re- pelir umas as outras fazendo com que se posicionassem no nível consciente ou abaixo deste, subconsciente, conforme a carga emocional envolvida. Esse processo ficou conhecido como a percepção. i) Christian Wolff (1677-1754) defendia a ideia que a psicologia também poderia derivar da razão e não somente da experimentação. Esse posicionamento foi visto por alguns como um retrocesso. - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 13 Associacionismo Britânico: nesse período procu- rava-se compreender os princípios e as leis da associação de ideias, como as ideias se consolidavam. Estudava-se a vida psíquica: a consciência, as ideias e o conhecimento, com a finalidade de entender a unidade básica da mente e o modo de associação e formação do complexo mental. a) David Hartley (1705-1757) acreditava que uma associação poderia ser sucessiva (relativa ao tempo real que acontece ex.: peguei a caneta e escrevi) ou simultânea (rela- tiva a todos os aspectos pertinentes a determinada informa- ção ex.: papel-árvore, folha, caderno). Quanto mais repeti- da fosse à associação, mais consolidada estaria. b) James Mill (1806-1873) para ele a mente era formada por sensações e ideias simples e complexas. A associação se daria pela aproximação de características peculiares. c) James Stuart Mill (1806-1873) pregava a im- portância do método científico. Utilizava o termo “química mental” para denominar a composição ou a associação de ideias. d) Herbert Spencer (1820-1903) baseava-se na teoria das espécies de Charles Darwin. Para ele todas as as- sociações eram arquivadas e passadas de geração para ge- ração como instinto. e) Charles Darwin (1809-1882) seguindo a teo- ria da evolução das espécies posiciona o ser humano como parte de um sistema complexo e que deveria ser analisado - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 14 considerando-se sua vivência e o ambiente em que estava inserido. Nasce o funcionalismo, que é o estudo dos pro- cessos mentais ligados a adaptação, a hereditariedade, ao ajuste do ser humano ao meio. f) Alexander Bain (1818-1903) publicou os pri- meiros livros de psicologia em inglês: “Os Sentidos e o Intelecto” e “As Emoções e a Vontade”. Materialismo Científico: como o próprio termo re- mete, o materialismo científico consiste na eliminação de mitos e princípios religiosos. Esse período remete a psico- logia científica. Afirma-se que os fenômenos mentais são explicados por conceitos das ciências físicas e matemáticas. Todos os organismos vivos funcionam como máqui- nas, tanto no que diz respeito aos aspectos físicos e quanto aos aspectos químicos. a) Julien O. de La Mettrie(1709-1751) consi- derava os fenômenos psíquicos como fruto de alterações orgânicas no cérebro e no sistema nervoso. Através de sua obra “L’Homme Machine” em 1748, ele consolidou o materialismo. b) Etienne Bonnot de Condillac (1715-1780) reconheceu a sensação como base para o conhecimento do conteúdo da mente humana, como o raciocínio, a generali- zação, a abstração. Acreditava que o meio era responsável pelo desenvolvimento do ser humano. - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 15 c) Pierre Jean Georges Cabanis (1757-1808) acreditava que todas as ações do ser humano, orgânicas ou mentais, eram reflexo natural do organismo. Trouxemos essa primeira reflexão para observarmos as diversas correntes que fundamentam a psicologia como ciência ao longo dos séculos e alguns dos pensadores e es- tudiosos, baseado e sedimentado no brilhante trabalho de BINHARDI. 1.2 CONCEITOS BÁSICOS DA PSICOLOGIA Prossegue ainda BINHARDI: Inconsciente: o comportamento do homem é im- pulsionado pela relação entre o consciente e o inconsciente. Surge então a necessidade do psicólogo conhecer os prin- cipais enfoques que cercam os mecanismos intrapsíquicos. A estrutura do psiquismo: a existência do incons- ciente, reconhecida por Sigmund Freud, comprova que os processos mentais seguem uma lógica particular, que varia de um indivíduo para o outro. Pois cada indivíduo é único. Freud estruturou o aparelho psíquico em três partes: a) Id: opera em nível inconsciente. Possui impulsos instintivos que nascem da organização somática e se trans- mutam em expressão psíquica, ideias e recordações que foram reprimidas. Constitui o reservatório de energia psí- quica que alimenta o ego e o superego. É regido pelo prin- cípio do prazer, sempre buscando a satisfação, ignorando - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 16 diferenças e contradições, sem a capacidade para se atentar ao tempo e ao espaço. Os impulsos do id são controlados e avaliados pelo ego e superego que vão permitir a satisfa- ção do indivíduo, adia-la ou inibi-la. A relação entre eles é conflituosa. b) Ego: estabelece o contato com a realidade externa. Atua sobre a realidade externa visando à adaptação, prin- cípio da realidade. O ego é responsável pelas percepções sensoriais, os controles e as habilidades para atuar sobre o mundo externo, a capacidade de lembrar, comparar, e pensar. Desempenha o papel de mediador entre os impul- sos instintivos do id e as exigências do superego para adap- tá-las ao mundo externo, é o ponto de equilíbrio entre os mecanismos. c) Superego: nasce a partir das identificações com os genitores, dos quais apreende proibições e ordens. Enquanto o id busca a satisfação, o superego visa à perfei- ção.O superego incumbe-se de muitos elementos incons- cientes que são fruto do passado do indivíduo e que podem entrar em conflito com seus valores atuais, proibições, limi- tes e relações com o papel da autoridade. Age como uma au- toconsciência moral, assumindo um papel de juiz. O papel da justiça na sociedade se equivale ao papel do superego na mente humana, uma vez que a justiça faz conhecer e exige o cumprimento das normas éticas e morais na sociedade. - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 17 A psicologia é uma ciência que estuda através de um modelo científico o comportamento dos in- divíduos e seus processos mentais. 1.3 FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO PSICOLOGICA Para embasar o presente trabalho, optou-se por fa- zer uma pesquisa junto ao Conselho Federal de Psicologia, órgão responsável pelo pleno exercício da profissão e veri- ficou-se a existência de uma cartilha publicada em 2.007, que trata a avaliação psicológica, conforme segue: PSICOLOGIA (2.007) assim conceitua: A avaliação psicológica é um processo amplo que envolve a integração de informações prove- nientes de diversas fontes, dentre elas, testes, en- trevistas, observações, análise de documentos. A testagem psicológica, portanto, pode ser considera- da uma etapa da avaliação psicológica, que implica a utili- zação de teste(s) psicológico(s) de diferentes tipos. O processo de avaliação psicológica apresenta alguns passos essenciais para que seja possível alcançar os resulta- dos esperados, a saber: Levantamento dos objetivos da avaliação e particularidades do indivíduo ou grupo a ser ava- liado. Tal processo permite a escolha dos instrumentos/ - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 18 estratégias mais adequados para a realização da avaliação psicológica; Coleta de informações pelos meios escolhidos (entrevistas, dinâmicas, observações e testes projetivos e/ ou psicométricos, etc.). É importante salientar que a inte- gração dessas informações devem ser suficientemente am- plas para dar conta dos objetivos pretendidos pelo proces- so de avaliação. Não é recomendada a utilização de uma só técnica ou um só instrumento para a avaliação; Integração das informações e desenvolvimen- to das hipóteses iniciais. Diante destas, o psicólogo pode constatar a necessidade de utilizar outros instrumentos/es- tratégias de modo a refinar ou elaborar novas hipóteses; Indicação das respostas à situação que moti- vou o processo de avaliação e comunicação cuidadosa dos resultados, com atenção aos procedimentos éticos im- plícitos e considerando as eventuais limitações da avaliação. Nesse processo, os procedimentos variam de acordo com o contexto e propósito da avaliação. O processo de avaliação psicológica é capaz de prover informações importantes para o desenvolvimento de hipó- teses, por parte dos psicólogos, que levem à compreensão das características psicológicas da pessoa ou de um grupo. Essas características podem se referir à forma como as pessoas irão desempenhar uma dada atividade, à quali- dade das interações interpessoais que elas apresentam, etc. Assim, dependendo dos objetivos da avaliação psicológica, - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 19 a compreensão poderá abranger aspectos psicológicos de natureza diversa. É importante notar que a qualidade do conhecimento alcançado depende da escolha de instrumentos que maxi- mizem a qualidade do processo de avaliação psicológica. Por intermédio da avaliação, os psicólogos buscam informações que os ajudem a responder questões sobre o funcionamento psicológico das pessoas e suas implicações. Como o comportamento humano é o resultado de uma complexa teia de dimensões inter-relacionadas que intera- gem para produzi-lo, é praticamente impossível entender e considerar todas as nuances e relações a ponto de prevê-lo deterministicamente. As avaliações têm um limite em relação ao que é pos- sível entender e prever. Entretanto, avaliações calcadas em métodos cientificamente sustentados chegam a respostas muito mais confiáveis que opiniões leigas no assunto ou o puro acaso. A Resolução CFP n° 002/2003, no artigo 11, orienta que “as condições de uso dos instrumentos devem ser consideradas apenas para os contextos e propósitos para os quais os estudos empíricos indicaram resultados favoráveis”. PSICOLOGIA (2.007) o que esse artigo quer dizer é que a simples aprovação no SATEPSI não significa que o - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 20 teste possa ser usado em qualquer contexto, ou para qual- quer propósito. A recomendação para um uso específico deve ser bus- cada nos estudos que foram feitos com o instrumento, prin- cipalmente nos estudos de validade e nos de precisão e de padronização. Assim, os requisitos básicos para uma determinada utilização são os resultados favoráveis de estudos orienta- dos para os problemas específicos relacionados às exigên- cias de cada área e propósito. No novo formulário de avaliação dos testes psicológi- cos, foram descritos cinco propósitos mais comuns: clas- sificação diagnóstica, descrição, predição, planeja- mento de intervenções e acompanhamento. Também são definidos vários contextos de aplicação: Psicologia clínica, Psicologia da saúde e/ou hos- pitalar, Psicologia escolar e educacional, neuropsicologia, Psicologia forense, Psicologia do trabalho e das organiza- ções, Psicologia do esporte, social/comunitária, Psicologia do trânsito, orientação e ou aconselhamento vocacional e/ ou profissional e outras. Dependendo da combinação de propósitos e con- textos, pode-se pensar melhor quais estudos são necessá- rios para justificar o uso de determinados instrumentos/ estratégias. Por exemplo, considerando a avaliação de personali- dade no contexto organizacional, se o propósito for somente - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 21 descrever as características de personalidade das pessoas, são necessários estudos de validade atestando que o teste mede o construto pretendido (por exemplo, análise fatorial, correlação com outras variáveis, dentre outros). Mas, se o propósito for prever o comportamento fu- turo, como geralmente é o caso nos processos seletivos, são necessários estudos de validade de critério demonstrando que o teste é capaz de prever bom desempenho no trabalho. No contexto do trânsito, geralmente, o objetivo da avaliação é a previsão de comportamentos inadequados a partir de variáveis psicológicas levantadas pelos testes. Assim, estudos de validade de critério mostrando que as variáveis medidas no teste preveem comportamentos importantes nessa situação (tais como comportamentos de risco, envolvimento culposo em acidentes, etc.) são os re- quisitos básicos que justificam o seu uso nesse contexto, já que irão sustentar a decisão sobre a habilitação. Em suma, a escolha adequada de um instrumento/ estratégia é complexa e deve levar em conta os dados empí- ricos que justifiquem simultaneamente o propósito da ava- liação associado aos contextos específicos. No caso da escolha de um teste específico, é necessá- rio que o psicólogo faça a leitura cuidadosa do manual e das pesquisas envolvidas na sua construção para decidir se pode ou não ser utilizado naquela situação. A aprovação no SATEPSI indica que o teste possui, pelo menos, um conjunto mínimo de estudos que atesta a - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 22 sua qualidade. A utilidade para algum propósito e contex- to específicos dependerá de uma análise cuidadosa desses estudos. 1.4 PRINCIPAIS CUIDADOS A SEREM SEGUIDOS NA ELABORAÇÃO DE UM RELATÓRIO/LAUDO PSICOLÓGICO PSICOLOGIA (2.007) sempre levando em considera- ção sua finalidade, o laudo deverá conter a descrição dos procedimentos e conclusões resultantes do processo de avaliação psicológica. O documento deve dar direções sobre o encaminha- mento, intervenções ou acompanhamento psicológico. As informações fornecidas devem estar de acordo com a demanda, solicitação ou petição, evitando-se a apresenta-ção de dados desnecessários aos objetivos da avaliação. A Resolução CFP nº 07/2003, ainda traz mais alguns detalhes, sobre a elaboração dos laudos por parte dos psicó- logos, mas para o presente trabalho essas informações são, em primeiro momento, suficientes. O laudo deve se basear em informações obtidas a par- tir dos testes aplicados, não devendo o profissional sofrer qualquer pressão, para aprovar ou reprovar determinado candidato. A parte ética será abordada no capitulo quatro, porem, é de todo oportuno se fazer menção desse aspecto, uma vez que o Psicólogo deve ter toda a liberdade para elaborar seu - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 23 laudo, como enfatizamos, baseado, exclusivamente nas in- formações resultantes da aplicação do teste, de forma au- tônoma, sem beneficiar ou prejudicar, quem quer que seja. Para tanto, se integrar o quadro de uma empresa ou se foi contratado para tal finalidade, deve ser ouvido de maneira técnica e assim emitir seu parecer. 1.5 COMPETÊNCIAS QUE UM PSICÓLOGO NECESSITA PARA REALIZAR A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PSICOLOGIA (20017), em princípio, basta que o pro- fissional seja psicólogo para que ele possa realizar avaliação Psicológica. Entretanto, algumas competências específicas são importantes para que esse trabalho seja bem fundamen- tado e realizado com qualidade e de maneira apropriada. Passaremos a fazer menção de alguns aspec- tos citados pelo Conselho Federal de Psicologia: Ter amplos conhecimentos dos fundamentos básicos da Psicologia, dentre os quais podemos des- tacar: desenvolvimento, inteligência, memória, atenção, emoção, etc., construtos esses avaliados por diferentes tes- tes e em diferentes perspectivas teóricas; Ter domínio do campo da psicopatologia, para poder identificar problemas graves de saúde mental ao rea- lizar diagnósticos; Possuir um referencial solidamente embasado nas teorias psicológicas (psicanálise, Psicologia analí- tica, fenomenologia, Psicologia sócio histórica, cognitiva, - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 24 comportamental, etc.), de modo que a análise e interpreta- ção dos instrumentos sejam coerentes com tais referenciais; Ter conhecimentos da área de psicometria, para poder julgar as questões de validade, precisão e nor- mas dos testes, e ser capaz de escolher e trabalhar de acordo com os propósitos e contextos de cada um; Ter domínio dos procedimentos para aplica- ção, levantamento e interpretação do(s) instru- mento(s) utilizados para a avaliação psicológica. Como vimos para a aplicação do teste é necessário ser psicólogo e ter esses conhecimentos para que se possa legi- timar essa importante atividade. A aplicação de testes é, portanto, privativa de psicólogos. 1.6 FUNDAMENTOS LEGAIS SOBRE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA Agora, passaremos a mencionar as principais legisla- ções que regulamenta a profissão de psicólogo, bem como as demais resoluções para aprovação e aplicação dos testes psicológicos. Vamos a elas: A Lei nº 4.119/62 dispõe sobre os cursos de formação em Psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo, como vimos no inicio do presente trabalho. Resolução CFP n° 011/2000 Dezembro/2000 Resolução CFP n° 012/2000 Dezembro/2000 Institui o Manual para Avaliação Psicológica de candidatos à - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 25 Carteira Nacional de Habilitação e condutores de veículos automotores. Resolução CFP nº 018/2000 (revogada pela Resolução CFP nº 003/2007) Dezembro de 2000 Institui a Consolidação das Resoluções do Conselho de Federal de Psicologia. Resolução CFP n° 025/2001 (revogada pela Resolução CFP n° 002/2003) Novembro/2001 Define teste psicológi- co como método de avaliação privativo do psicólogo e regu- lamenta sua elaboração, comercialização e uso. Resolução CFP n° 30/2001 (revogada pela Resolução CFP n° 017/2002) Dezembro/2001 Institui o Manual de Elaboração de Documentos, produzidos pelo psicólogo, de- correntes de avaliações psicológicas. Resolução CFP n° 001/2002 Abril/2002 Regulamenta a avaliação psicológica em concurso público e processos se- letivos da mesma natureza. Resolução CFP n° 016/2002 Dezembro/2002 Dispõe acerca do trabalho do psicólogo na avaliação psicológica de candidatos à Carteira Nacional de Habilitação e condutores de veículos automotores. Resolução CFP n° 017/2002 (revogada pela Resolução CFP n° 007/2003) Dezembro/2002 Institui o Manual de Elaboração de Documentos, produzidos pelo psicólogo, de- correntes de avaliações psicológicas. - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 26 Resolução CFP n° 002/2003 Março/2003 Define e re- gulamenta o uso, a elaboração e a comercialização de testes psicológicos e revoga a Resolução CFP n° 025/2001. Resolução CFP n° 007/2003 Junho/2003 Institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo psicólogo, decorrentes de avaliação psicológica, e revo- ga a Resolução CFP nº 17/2002. Resolução CFP nº 03/2007 Fevereiro de 2007 Institui a Consolidação das Resoluções do Conselho Federal de Psicologia. Notem caros alunos (as) que tudo esta previsto em le- gislação desde a regulamentação da profissão até a norma- tização, a realização, a aprovação e a emissão de pareceres dos testes psicológicos. 1.7 OBJETIVOS DOS TESTES PSICOLÓGICOS ULYSSEA (2.015) teste é uma palavra de origem in- glesa que significa “prova”; deriva do latim testis e é usada internacionalmente para denominar uma modalidade de medição bastante conhecida hoje em dia em diversos cam- pos científicos e técnicos. “Uma medição só é chamada de teste se for usada, primordialmente, para se descobrir algo sobre o indivíduo, em vez de responder a uma questão geral. ( Tyler, 1973). - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 27 Essencialmente, a finalidade de um teste consiste em medir as diferenças existentes, quanto à determinada ca- racterística, entre diversos sujeitos, ou então o comporta- mento do mesmo indivíduo em diferentes ocasiões – dife- rença inter e intra – individual, respectivamente. O instrumento psicométrico mais típico é o teste. Todavia, não é o único. Trata-se de uma situação estimula- dora padronizada (itens de teste e ambiente de aplicação) à qual uma pessoa responde. Entende-se por situação experimental tudo aquilo que faz parte do teste e da aplicação do mesmo, definidos an- teriormente, ou seja, material empregado, instruções, local da aplicação, etc. Essas condições precisam ser padronizadas para que se evitem variações nas condições da administração. Em segundo lugar, se o teste é um estímulo que gera uma resposta do indivíduo, o registro desse comportamen- to é deveras importante. Deve ser preciso para ser confiável. No caso dos testes em que cabe ao indivíduo registrar a pró- pria resposta, não há problema. Entretanto, quando se precisa anotar a resposta do in- divíduo e, ao mesmo tempo, observar sua responsividade não verbal, todo o cuidado é pouco. A seguir, mencionaremos alguns testes psico- lógicos e suas finalidades: IFP – Inventário Fatorial de Personalidade - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 28 Finalidade: O inventário visa avaliar o indivíduo nor- mal em 15 necessidades ou motivos psicológicos, a saber: Assistência, Dominância, Ordem, Denegação, Intracepção, Desempenho, Exibição, Heterossexualidade, Afago, Mudança, Persistência, Agressão, Deferência, Autonomia e Afiliação. AC – Atenção Concentrada Finalidade: Avaliar a capacidade que o sujeito tem de manter a sua atenção concentrada no trabalho durante um período. Palográfico Finalidade: Trata-se de um teste de personalidade cuja aplicação é muito simples e rápida, mas sua avaliação e interpretação exigem certo grau de preparação e experi- ência do psicólogo com a técnica. Quati Finalidade: Avaliar a personalidade através das esco- lhas situacionais que cada indivíduo faz. Pode ser utilizado em Seleção de Pessoal, Avaliação de Potencial, Orientação Vocacional, Psicodiagnóstico etc. BFM 3 – Teste de Raciocínio Lógico Finalidade:Foi elaborado com a finalidade de inves- tigar, avaliar e mensurar o raciocínio lógico de motoristas. Pode ser aplicado desde sujeitos alfabetizados até sujei- tos com nível superior de instrução. Pode ser utilizado na - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 29 avaliação psicológica no trânsito, abrangendo candidatos à obtenção da C. N. H. (Carteira Nacional de Habilitação), motoristas que estão mudando de categoria, bem como aqueles que estão renovando os exames. Também pode ser indicada para avaliação neuropsicológica de idosos, seleção de pessoal – principalmente vigilantes e seguranças e ava- liação de potencial de funcionários. BFM 4 – Atenção Concentrada Finalidade: A função mental da atenção é uma área de extrema importância na investigação dos processos cog- nitivos dos condutores em geral. A BFM – 4 através de seus testes TACOM – C e TACOM – D pretende acrescentar um novo modelo de investigação da atenção concentrada com- plexa, permitindo que se possa avaliar com maior profun- didade e sob uma maior pressão de tempo, os candidatos à obtenção da C. N. H. e motoristas em geral. G36 – Teste Não Verbal de Inteligência Finalidade: Avaliar a capacidade intelectual através de questões que estão dispostas como se segue: a) Compreensão de relação de identidade simples; b) Compreensão de relação de identidade mais racio- cínio por analogia; c) Raciocínio por analogia envolvendo mudança de posição; - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 30 d) Raciocínio por analogia de tipo numérico e en- volvendo mudança de posição e raciocínio de tipo espacial. G38 – Teste Não Verbal de Inteligência Finalidade: Medir a capacidade intelectual do in- divíduo. Neste teste, usa-se a compreensão de relação de identidade simples; compreensão de relação de identidade mais raciocínio por analogia; raciocínio por analogia envol- vendo mudança de posição; raciocínio por analogia do tipo numérico ou mudança de posição; raciocínio por analogia do tipo espacial. Forma paralela do G-36, muito utilizado em seleção de pessoal para reteste de candidatos. R1 – Teste Não Verbal de Inteligência Finalidade: Medir a capacidade intelectual do indi- víduo. Teste constituído com a finalidade específica de sele- cionar motoristas amadores e profissionais, cujo uso poten- cialmente foi estendido a outros grupos da população. Não exige escolaridade, podendo inclusive ser aplicado a estran- geiros, pois os sinais de trânsito que aparecem em alguns problemas são internacionais. População: Analfabetos e de escolaridade até o ensino médio. ADT – Inventário de Administração de Tempo Finalidade: O Inventário ADT é um instrumento que tem por objetivo colher informações sobre a forma como as pessoas utilizam o seu tempo no trabalho. - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 31 É constituído por um conjunto de 96 questões rela- cionadas, direta ou indiretamente, com a forma como as pessoas utilizam o seu tempo no ambiente de trabalho e tem por objetivo diagnosticar os tempos desperdiçados do inquirido. Escala Beck Finalidade: As escalas Beck São excelentes avalia- doras de ansiedade, ideação suicida, depressão e podem ser utilizadas na clínica, no acompanhamento de pessoal, e até mesmo em hospitais e avaliação psicológica. É composto por: Inventário de Depressão (BDI) Inventário de Ansiedade (BAI) Escala de Desesperança (BHS) Escala de Ideação Suicida (BSI). O BDI mede a intensidade da depressão, e o BAI, a intensidade da ansiedade. A BHS é uma medida de pessimismo e oferece indícios sugestivos de risco de suicídio em sujeitos deprimidos ou que tenham história de tentativa de suicídio. A BSI detecta a presença de ideação suicida, mede a extensão da motivação e planejamento de um comporta- mento suicida. Todas as escalas são apropriadas para pacientes psi- quiátricos. A BDI, o BAI e a BHS podem ser usadas em - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 32 sujeitos não-psiquiátricos, mas as normas foram desenvol- vidas para uso com pacientes psiquiátricos. ISSL – Inventário de Sintomas de Stress Para Adultos De Lipp Finalidade: Instrumento útil na identificação de quadros característicos do stress, possibilitando diagnosti- car o stress em adultos e a fase em que a pessoa se encontra. Baseia-se em um modelo quadrifásico e propõe um método de avaliação do stress que enfatiza a sintomatologia somá- tica e psicológica etiologicamente a ele ligada. PMK Finalidade: O teste é muito utilizado na avaliação de candidatos a motorista, operadores de máquinas e para quem vai portar de arma de fogo. Ele nos dá uma visão bas- tante clara e diferenciada da personalidade humana, sua estrutura e dinâmica, mostrado como a pessoa é em sua es- sência e como ela reage em contato com o meio ambiente: Tônus vital (elação e depressão), Agressividade (hetero e auto), Reação vivencial (extra e intratensão), Emotividade, Dimensão tensional (excitabilidade e inibição), Predomínio tensional (impulsividade e rigidez/controle). Teste de Zulliger Finalidade: Sua aplicação pode ser individual ou coletiva, para toda e qualquer finalidade (psicodiagnóstico, avaliação da personalidade, seleção de pessoal, avaliação de desempenho, etc.). A interpretação integrada das três - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 33 pranchas propicia uma visão muito aprofundada da per- sonalidade humana, seja em sua estrutura ou em sua di- nâmica, especialmente em relação aos seus aspectos afeti- vo-emocionais, bem como em termos de intelectualidade, pensamento, objetivos de vida, sociabilidade, relaciona- mento interpessoal, etc. O Teste de Zulliger constitui-se de três pranchas: Prancha I – Aspectos primitivos da personalidade Prancha II – Afetividade / Emoções Prancha III – Relacionamento Teste Wartegg Finalidade: O Teste de Wartegg é uma técnica de investigação da personalidade através de desenhos obtidos por meio de uma variedade de pequenos elementos gráfi- cos que servem como uma série de temas formais a serem desenvolvidos pelo indivíduo de maneira pessoal. São oito campos onde o testando deverá realizar oito desenhos, na sequência que desejar, o tema que quiser, de acordo com seu próprio ritmo. Cada campo tem um valor arquetípico: Campo 1 – O eu, ego, autoestima Campo 2 – Fantasias, afetividade Campo 3 – Ambição, metas, objetivos Campo 4 – Angústia, como lida com conflitos Campo 5 – Energia vital, transposição de obstáculos Campo 6 – Criatividade - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 34 Campo 7 – Sexualidade, sensualidade e sensibilidade Campo 8 – Social, empatia com os outros Finaliza a autora mencionando que a integração des- ses campos constituem a própria personalidade humana, tanto na sua estrutura como na sua dinâmica. 1.8 TESTE PSICOLÓGICO APLICADO NA POLICIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO Na tese de Doutorado de ALMEIDA (2.012), verificou- -se que o Dr Emilio Mira y Lopez desenvolveu o perfil psi- cológico ideal dos integrantes, da então FORÇA PUBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, hoje POLICIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Mira (1956) estabeleceu, pela primeira vez, o perfil profissional para os integrantes da então Força Publica, in- tegrado pelas seguintes características: – Agressividade positiva, porém controlada; – Capacidade de adaptação; – Controle emocional; – Atenção flutuante, mas capacitada a con- centrar-se em detalhes; – Resistência à fadiga e causas de distração; – Inteligência lógica, intuitiva, reflexiva, cria- dora e criativa; – Memória de identificação para pessoas, lu- gares e objetos; - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 35 – Ausência de sinais fóbicos; – Moderada rigidez. Esse perfil, contemplando apenas nove itens, foi utili- zado por quase 40 anos no concurso público de ingresso aos cursos de formação de Soldados e de formação de Oficiais. Entretanto, o desenvolvimento social impôs a necessi- dade de atualização do perfil, visando a acompanhar a mo- dernização que ocorreu e, continua aocorrer na sociedade. O perfil psicológico na POLICIA MILITAR teve sua primeira configuração estruturada em 26 de novembro de 1992: “Características Básicas de Personalidade a serem observadas”, e era composto por nove itens a serem considerados na avaliação psicológica destinada aos candidatos: controle emocional, relacionamento interpessoal, resistência à fadiga, canalização da agressividade, coordenação motora, nível mental, controle de ansiedade, características impulsivas e memória visual. (PMESP, 1992, item 10, apud PEREIRA, 2011, p. 30) - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 36 No ano de 1999 teve início a avaliação psicológi- ca dos candidatos participantes do concurso público ao Curso de Formação de Oficiais, usando como base, o Perfil Psicológico, exclusivamente, desenvolvido para este fim. Com isso, foi inserido no edital de concurso, o referido perfil, bem como a definição de cada item e dos níveis exigi- dos para todos os traços de personalidade avaliados. Exame psicológico: destina-se à avaliação do perfil psicológico do candidato, verificando sua capacidade de adaptação e potencial de desempenho positivo como alu- no oficial e oficial, segundo os parâmetros estabelecidos no respectivo perfil psicológico adotado como padrão pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, por meio das se- guintes características e dimensões respectivas: 1) controle emocional (elevado); 2) ansiedade (diminuída); 3) impulsividade diminuída; 4) domínio psicomotor adequado; 5) autoconfiança (boa); 6) resistência à frustração (elevada); 7) potencial do desenvolvimento cognitivo (bom); 8) memoria auditiva visual (boa); 9) controle e canalização produtiva da agressividade (elevado); 10) disposição para o trabalho (elevada); 11) resistência à fadiga psicofísica (boa); - FUNDAMENTOS E PRATICAS DA AVALIAÇÃO - 37 12) iniciativa (boa); 13) potencial de liderança (elevado); 14) capacidade de cooperar e trabalhar em grupo (boa); 15) relacionamento interpessoal (adequado); 16) flexibilidade de conduta (adequada); 17) criatividade (boa); 18) fluência verbal (adequada); 19) sinais fóbicos e disritmicos (ausentes); e. 20) interesse pela atualização intelectual (elevado). Notem a evolução dos testes psicológicos, chegando a detalhar o perfil que se espera do policial militar, passando de nove para 20 traços a serem observados quando do in- gresso do candidato ao Curso de Formação de Oficiais. Trouxemos esses traços para mostrar a seriedade e a confiabilidade das ciências psicológica no processo seleti- vo de ingresso na Policia Militar do Estado de São Paulo, e como os referidos testes são importantes para formar o perfil que se espera de determinada organização. CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 2. EXIGÊNCIAS TÉCNICAS NA ESCOLHA DE INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - EXIGÊNCIAS TÉCNICAS EM INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - 39 PINTO (2.018) enfatiza que a Resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 009/18, estabelece diretrizes para a realização de Avaliação Psicológica no exercício profissio- nal da psicóloga e do psicólogo e regulamenta o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos – SATEPSI Artigo. 1º. Avaliação Psicológica é definida como um processo estruturado de investigação de fenômenos psi- cológicos, composto de métodos, técnicas e instrumentos, com o objetivo de prover informações à̀ tomada de de- cisão, no âmbito individual, grupal ou institucional, com base em demandas, condições e finalidades específicas. Foi estabelecido na Resolução CFP nº 007/03, que trata do Manual de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelos psicólogos, que: “os resultados das avaliações devem consi- derar e analisar os condicionantes históri- cos e sociais e seus efeitos no psiquismo, com a finalidade de servirem como instrumentos para atuar não somente sobre o indivíduo, mas na modificação desses condicionantes que operam desde a formulação da deman- da até́ a conclusão do processo de avaliação psicológica”. Atualmente, existem diversas ferramentas no campo de trabalho da Avaliação Psicológica. Entre elas, há um gru- po de testes utilizados para avaliar de forma mais objetiva alguns aspectos psicológicos. - EXIGÊNCIAS TÉCNICAS EM INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - 40 Dentro desse grupo, destaque é dado aos cha- mados testes psicológicos, pois, são de uso restrito à área, podendo ser aplicados apenas por psicólo- gos regularmente inscritos no Conselho Regional de Psicologia. Para que possam ser utilizados, esses testes precisam apresentar parecer favorável para uso e comercialização, emitido pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). Seus autores ou editoras responsáveis apresentam estudos que garantem que eles irão medir o que propõem, com o devido embasamento científico. Sendo aprovados, passam a compor a lista de testes favoráveis pelo SATEPSI. De acordo com consulta realizada em julho de 2017, 173 testes para avaliações psicológi- cas, estão no grupo de aprovados. Mesmo com a sua comercialização e utilização auto- rizadas, os dados empíricos das propriedades do teste de- vem ser revisados periodicamente pelos autores ou respon- sáveis, não podendo o intervalo entre um estudo e outro ultrapassar: 5 (quinze) anos para os dados referentes à padronização; 20 (vinte) anos, para os dados referentes à va- lidade e precisão, seguindo padrões determinados pela Resolução do CFP nº 006/2004. Esta revisão garantirá que os testes continuem ade- quados e com embasamento científico para serem mantidos. - EXIGÊNCIAS TÉCNICAS EM INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - 41 PINTO (2.018) explica que trata-se de uma lista dinâ- mica, pois a todo o momento autores podem submeter no- vos testes à avaliação do Conselho, bem como testes ante- riormente favoráveis podem ser retirados da lista pela não atualização de seus estudos. Além disso, conforme destacado na Resolução do CFP nº. 002/2003,”usar os testes que constam na lista de apro- vados pelo SATEPSI é uma condição ética do psicólogo”. De acordo com a padronização proposta pelo SATEPSI, os tipos de testes psicológicos podem ser: • Escalas; • Inventários; • Questionários; • Métodos projetivo-expressivos. Como escolher o teste ideal para uma Avaliação Psicológica específica? Agora que já sabemos o objetivo dos testes psicológi- cos e como eles são importantes no processo da avaliação psicológica, vem à dúvida: Como escolher o teste ideal em meio a uma lista tão vasta? Como avaliar condições específicas?. PINTO (2.018) ressalta que o primeiro passo é veri- ficar quais são os testes disponíveis na lista do SATEPSI. “Isso pode ajudar o profissional a identificar quais opções para avaliar um determinado aspecto”. - EXIGÊNCIAS TÉCNICAS EM INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - 42 Mas se o profissional ainda tem receio na hora de escolher um teste, PINTO (2.018) separou qua- tro dicas importantes: 1. Saber o quê deseja avaliar 2. Identificar quais aspectos psicológicos pretende avaliar (personalidade, déficit de atenção, sinto- mas depressivos, entre outros). 3. Identificar quais são os testes disponíveis 4. Conhecer as propriedades psicométricas dos testes Entre os que o profissional identificou serem relacio- nados ao aspecto psicológico que será avaliado, quais aten- dem a sua demanda para aquele momento específico. Por exemplo, determinado teste é voltado para que faixa etária? Há testes voltados para o público adulto. Além disso, o teste tem estudo de validade para de- terminado contexto, com evidências científicas para as in- formações que se esta buscando, como por exemplo, para alguns grupos clínicos (finalidade diagnóstica). Não adianta ter boas ferramentas se o psicólogo não sabe usá-las. Então, é preciso saber como utilizar cada um desses testes psicológicos, buscando compreendê-los inte- gralmente, considerando todo o processo de aplicação, cor- reção e interpretação, assim como seus estudos psicométri- cos e embasamento teórico. Seguindo essas etapas,será possível identificar o teste mais adequado para cada avaliação psicológica. - EXIGÊNCIAS TÉCNICAS EM INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - 43 Lembrando que os testes psicológicos nos dão infor- mações pontuais Considerando a soma dessas informações, o psicólogo chegará a uma tomada de decisão na avaliação. Vamos a um último exemplo: a avaliação para diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Uma demanda presente no universo da avaliação psicológica infantil explica, a nobre Autora, que: “Quando se fala em usar testes, não é que exista um teste específico para a avaliação do TDAH, mas significa que vamos usar algumas ferramentas para avaliar algumas funções e a partir dessa avaliação global, o profissional poderá apontar a existência ou não de indica- dores para o diagnóstico”. Neste caso específico, por exemplo, é preciso fazer tan- to uma avaliação cognitiva, como aspectos comportamen- tais e emocionais, incluindo a avaliação da atenção, como é o processo de aprendizagem da criança na escola, quanto à leitura, escrita, outras habilidades específicas; bem como aspectos relacionados a comportamentos apresentados em casa e na escola. Vale destacar que as quatro etapas apresentadas não são utilizadas apenas em um ambiente clínico, mas também em qualquer contexto em que a avaliação psicológica esteja presente, como na seleção de pessoas, candidatos à CNH, - EXIGÊNCIAS TÉCNICAS EM INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - 44 permissão para porte de arma de fogo; pois é preciso saber o que você quer avaliar, dentro do que você precisa avaliar. Finaliza a autora que é essencial que o psicólogo con- sulte o manual do referido teste, de modo a obter informa- ções adicionais acerca do construto psicológico que ele pre- tende medir bem como sobre os contextos e propósitos para os quais sua utilização se mostra apropriada. 2.1 PRINCIPAIS CUIDADOS QUE O PSICÓLOGO DEVE TER PARA UTILIZAR UM TESTE PSICOLÓGICO PINTO (2018) antes de aplicar qualquer teste, o psicó- logo deverá verificar se as pessoas estão em condições físi- cas e psíquicas, adequadas, para realizar o teste. Utilizar o teste dentro dos padrões referidos por seu manual. Cuidar da adequação do ambiente, do espaço físico, do vestuário dos aplicadores e de outros estímulos que pos- sam interferir na aplicação. Salas ventiladas, com iluminação adequada, móveis em quantidade suficiente, numero de cópias dos testes, ma- terial de apoio necessário, dentre outras, são preocupações que deve ter o psicólogo antes de partir para a fase de apli- cação, incluindo, reunião previa com todos os envolvidos no processo. Para receber o parecer favorável do CFP, o teste deve preencher os requisitos mínimos de que trata o Anexo 1 da resolução nº 002/2003. Tais requisitos consideram a - EXIGÊNCIAS TÉCNICAS EM INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - 45 necessidade de o manual do teste trazer uma descrição cla- ra e suficiente das características técnicas do teste psicoló- gico no que tange: 1. há especificação do construto que ele pretende avaliar; 2. há caracterização fundamentada na literatura da área; 3. ha existência de, pelo menos um estudo brasileiro com evidências positivas de validade, no caso de testes com validade fora do país, ou pelo menos dois estudos de validade, quando se tratar de teste brasileiro ou estrangeiro com poucas evidências de validade; 4. ha estudo brasileiro de precisão com resultados iguais ou acima de 0,60 Notem caro aluno (a) que neste capitulo procuramos abordar as questões de forma clara e sucinta, baseados, fundamentalmente, na legislação que trata da matéria. Ficam claros e sedimentados alguns aspectos relevantes: Primeiramente que os testes psicológicos, so- mente podem ser aplicados por psicólogos e estes devem estar devidamente registrados no Conselho Regional de Psicologia. É portanto algo exclusivo da profissão. - EXIGÊNCIAS TÉCNICAS EM INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - 46 Sendo aprovados, passam a compor a lista de testes favoráveis pelo SATEPSI. Não pode assim, aplicar um teste que não esteja devi- damente aprovado. Vimos como os psicólogos devem fazer a escolha entre os testes, constantes da relação do SATEPSI e como deve proceder na busca do teste mais adequado para aquela finalidade. O teste deve ser utilizado da maneira prevista e padro- nizada pelo seu manual. Por fim, antes de aplicar o teste, verificar as condições das instalações físicas para sua aplicação, como salas ade- quadas, ventilação, iluminação e, o mais importante se o avaliado esta em condições físicas e psíquicas de se subme- ter ao teste. –EXERCÍCIOS PROPOSTOS UNIDADE 1– 47 EXERCÍCIOS PROPOSTOS UNIDADE 1 1) Conceitue superego? 2) Conceitue avaliação psicológica? 3) Qual a finalidade do teste psicológico? –EXERCÍCIOS PROPOSTOS UNIDADE 1– 48 4) Quem pode aplicar os testes psicológicos? 5) Antes de aplicar um determinado teste psicológico, quais as condições que devem ser observadas? 6) O que significa a sigla SATEPSI? –EXERCÍCIOS PROPOSTOS UNIDADE 1– 49 � GABARITO 1: O Superego nasce a partir das identificações com os ge- nitores, dos quais apreende proibições e ordens. 2: A avaliação psicológica é um processo amplo que envol- ve a integração de informações provenientes de diver- sas fontes, dentre elas, testes, entrevistas, observações, análise de documentos. 3: A finalidade de um teste consiste em medir as diferen- ças existentes, quanto à determinada característica, entre diversos sujeitos, ou então o comportamento do mesmo indivíduo em diferentes ocasiões – diferença inter e intra – individual, respectivamente. 4: Podem ser aplicados apenas por psicólogos regular- mente inscritos em Conselho Regional de Psicologia. 5: Antes de aplicar qualquer teste, o psicólogo deverá ve- rificar se as pessoas estão em condições físicas e psíqui- cas, adequadas, para realizar o teste. 6: Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos – SATEPSI U N I D A D E UNIDADE 2. 2 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO DE INFORMAÇÕES PROVENIENTES DE DIFERENTES FONTES EM UM PROCESSO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA - EXIGÊNCIAS TÉCNICAS EM INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - 52 3.1 RESOLUÇÃO Nº 9, DE 25 DE ABRIL DE 2018 Na avaliação psicológica, o profissional da área, em determinados casos, pode recorrer a outras fontes, con- forme recomendação da Resolução nº 9 de 25 de abril de 2.018, conforme se destacará alguns artigos importantes para o nosso estudo: Art. 2º - Na realização da Avaliação Psicológica, a psicóloga e o psicólogo devem basear sua decisão, obri- gatoriamente, em métodos e/ou técnicas e/ou instrumen- tos psicológicos reconhecidos cientificamente para uso na prática profissional da psicóloga e do psicólogo (fontes fundamentais de informação), podendo, a depender do contexto, recorrer a procedimentos e recursos auxiliares (fontes complementares de informação). Consideram-se fontes de informação: I - Fontes fundamentais: b) Testes psicológicos aprovados pelo CFP para uso profissional da psicóloga e do psicólogo e/ou; c) Entrevistas psicológicas, anamnese e/ou; d) Protocolos ou registros de observação de compor- tamentos obtidos individualmente ou por meio de processo grupal e/ou técnicas de grupo. II - Fontes complementares: a) Técnicas e instrumentos não psicológicos que pos- suam respaldo da literatura científica da área e que - EXIGÊNCIAS TÉCNICAS EM INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - 53 respeitem o Código de Ética e as garantias da legis- lação da profissão; b) Documentos técnicos, tais como protocolos ou re- latórios de equipes multiprofissionais. RUEDA (2.018), aborda o presente assunto, avaliando aspectos relevantes que mudaram, com a edição da nova Resolução, conforme segue: Desde o início a resolução apresenta o entendimento da Avaliação Psicológica como processo, retirando o foco dos chamados testes psicológicos como ferramentas exclu- sivas para sua realização,assim como ampliando a noção de avaliação para além da testagem psicológica. Sobre a nomenclatura adotada na resolução é deixado em evidência que os testes psicológicos são instrumentos, assim como as escalas, inventários e questionários. No entanto, para padronização da resolução e para es- tar em concordância com o próprio nome do SATEPSI, todos os instrumentos serão chamados de “testes psicológicos”. Entende-se que isso também facilita a compreensão do psicólogo que, muitas vezes, precisa de referências obje- tivas no seu fazer profissional. Outro aspecto importante da nova resolução é a au- tonomia dada ao psicólogo para decidir quais métodos, técnicas e instrumentos utilizará no processo de Avaliação Psicológica que conduzirá. - EXIGÊNCIAS TÉCNICAS EM INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - 54 Contudo, essa escolha deve estar devidamente funda- mentada na literatura científica psicológica e nas normati- vas vigentes do CFP. Embora possa parecer óbvio, inserir tal informação em uma regulamentação do CFP é de suma importância para a categoria profissional, pois possibilita ao psicólogo amparo legal para não se submeter a imposições relaciona- das a determinados contextos de trabalho. Entre essas imposições as mais comuns são a deter- minação das ferramentas que o psicólogo deverá utilizar no processo de Avaliação, ou até mesmo, o teste psicológico que deverá utilizar. De posse desta resolução, o psicólogo tem argumen- tação legal para defender a utilização de uma ou outra téc- nica, instrumento ou “teste psicológico” em sua Avaliação. Mas, sem dúvida, a maior mudança apresentada neste eixo, e talvez na resolução como um todo, é a questão das chamadas “fontes fundamentais” e “fontes complementa- res” de informação. Ao pensar nessa nomenclatura, dois aspectos foram levados em consideração. Em primeiro lugar, ao entender por fontes fundamen- tais de informação, além dos testes psicológicos com pa- recer favorável do SATEPSI, a entrevista, anamnese e/ou protocolos ou registros de observação de comportamentos obtidos individualmente ou por meio de processo grupal e/ ou técnicas de grupo, o trabalho do psicólogo, passa a ter - EXIGÊNCIAS TÉCNICAS EM INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - 55 um caráter maior, no sentido de “tirar” o foco apenas dos testes psicológicos ou até igualar avaliação psicológica com testagem psicológica. A Resolução CFP n° 02/2003 tinha como foco o pro- cesso de avaliação dos testes psicológicos com base no SATEPSI. Em consequência, não fazia nenhuma menção a outras possibilidades de instrumentos no processo de ava- liação, o que deixava descoberto, do ponto de vista de uma regulamentação do CFP, tal aspecto. Com a Resolução n° 09/2018 fica claro que não ape- nas os testes psicológicos são instrumentos do processo de avaliação, mas também outras ferramentas. Entende-se esse fato como um grande avanço para a área, uma vez que regulamentar o processo de Avaliação, como maior que a mera aplicação de testes amplia a sua noção, no contexto profissional para diferentes abordagens teóricas ou metodológicas e leva o profissional psicólogo a refletir sobre sua prática e o processo avaliativo que pratica. Em segundo lugar, têm-se as fontes complementares de informação. Estas compreendem técnicas e instrumen- tos não psicológicos que possuam respaldo da literatura científica da área e que respeitem o Código de Ética e as garantias da legislação da profissão, assim como também documentos técnicos, como protocolos ou relatórios de equipes multiprofissionais. As fontes complementares também caracterizam um avanço, no sentido de permitir que o profissional psicólogo - EXIGÊNCIAS TÉCNICAS EM INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - 56 busque outras informações no processo de Avaliação para embasar sua decisão final. Importante destacar que o psicólogo poderá, a depen- der do contexto, recorrer a procedimentos e fontes comple- mentares, não significa, em hipótese alguma, que o profis- sional poderá realizar a avaliação “como bem entender”. Muito pelo contrário, a utilização dos recursos com- plementares vem para dar mais garantia à utilização das fontes fundamentais na tomada de decisão. De forma prática e a título de exemplo, um psicólogo ao avaliar uma criança com dificuldade de aprendizagem poderia usar um teste psicológico como fonte fundamental de informação (o WISC, por exemplo) e, além disso, com- plementar as informações obtidas por meio de um instru- mento não privativo como o Teste de Desempenho Escolar. Neste caso, o resultado da avaliação não poderá se fundamentar apenas no uso do Teste de Desempenho Escolar, visto que este instrumento sozinho não consegue descrever todo o fenômeno avaliado, mas complementa a informação obtida por meio da entrevista ou anamnese e teste psicológico. Desta forma, as fontes complementares devem cons- tar na elaboração do documento resultante do processo de Avaliação (elaborado com base nas resoluções vigentes do CFP), no entanto, é de extrema importância que o psicólogo se atente para o fato de sua decisão ser embasada, obrigato- riamente, em fontes fundamentais. - EXIGÊNCIAS TÉCNICAS EM INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - 57 Cabe destacar que mais um aspecto contemplado na nova resolução é o fato do profissional psicólogo poder fa- zer a consulta ao seu respectivo CRP em caso de dúvida sobre a classificação de um instrumento (teste psicológico ou instrumento não psicológico). Caso o profissional demande o CRP, este enviará o material para apreciação e resposta da CCAP. A iniciativa pode ser, também, do próprio CRP. A in- serção desta informação evitará casos em que possíveis tes- tes psicológicos que não foram avaliados pela CCAP sejam utilizados na prática profissional. Se constatado após consulta à CCAP que um instru- mento é considerado teste psicológico, este só poderá ser utilizado na prática profissional do psicólogo após sua sub- missão e aprovação do SATEPSI, não podendo ser usado sequer como fonte complementar de informação. Outras mudanças que a nova resolução trouxe dizem respeito ao processo e prazos de tramitação dos testes psi- cológicos submetidos ao SATEPSI. Pela Resolução n° 02/2003 era solicitado apenas um parecer de consultor ad hoc para avaliação do material, as- sim como a avaliação de um relator membro da CCAP (am- bos com prazo de 60 dias) e, em caso de desacordo entre os pareceres conclusivos, o teste era enviado para um novo parecerista (prazo de até 40 dias). Atualmente, a Resolução n° 09/2018 determina que sejam designados dois pareceristas, com prazo de 20 dias a - EXIGÊNCIAS TÉCNICAS EM INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - 58 partir do aceite, e que pode ser renovado por mais 20 dias, para emissão do parecer, e um relator da CCAP que fará a análise de ambos os pareceres e emitirá um relatório con- clusivo a ser analisado pela CCAP (tudo no prazo de 30 dias). Com isso, o prazo anterior, que podia chegar até 100 dias úteis, foi reduzido para 70. Ainda, tal procedimen- to permite tornar mais fluido o processo, uma vez que a CCAP fará apenas uma avaliação, tendo em mãos a análi- se completa já realizada pelo relator do teste com base nos pareceres. Um aspecto importante a ser ressaltado é o § 2° do inciso XI do Art. 11, que informa que “Quando da análise dos pareceres pelo cole- giado da CCAP, esclarecimentos ou informa- ções complementares poderão ser solicitadas ao responsável técnico do teste psicológico”. Assim sendo, o prazo para análise do material sub- metido ao SATEPSI só será considerado a partir do envio do material completo. Submissões que demandem comple- mentação de material terão seu prazo contado a partir do recebimento de toda a documentação. Essa redação na nova resolução tem como objetivo tornar mais ágil o diálogo da CCAP com o psicólogo res- ponsável pelo teste. - EXIGÊNCIAS TÉCNICAS EM INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - 59 Na Resolução n° 02/2003, após a avaliação em rela- toria dos testes, a CCAP deveria emitirparecer favorável ou desfavorável, sem a possibilidade (que constasse na re- solução) de solicitar alterações a serem realizadas antes do resultado final da avaliação. Nesta nova redação, entende-se que quando há neces- sidade de alterações menores no material submetido, estas podem ser solucionadas no decorrer do processo de análise do material sem implicar em sua avaliação como desfavorá- vel em um primeiro momento. Ainda no que tange às mudanças, a Resolução n° 09/2018 uniformiza o prazo de vigência dos estudos de validade, precisão e normas dos testes psicológicos em 15 anos. Pela Resolução n° 02/2003, alterada pela Resolução n° 06/2004, os prazos eram de 15 anos para os dados refe- rentes à padronização e 20 anos para os dados referentes à validade e precisão. Entende-se que com a uniformização, em longo prazo, e nos novos testes psicológicos com parecer favorável, serão evitados problemas que estão ocorrendo atualmente, quais sejam, testes aprovados que precisam apresentar novos es- tudos de normatização, mas que seus estudos de validade e precisão continuam favoráveis. Tal fato faz necessário a disponibilização dessas novas normas junto a um material que já é comercializado e que, - EXIGÊNCIAS TÉCNICAS EM INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - 60 em muitos casos, as normas que constam no corpo do ma- nual já não estão mais vigentes. Esse aspecto tem trazido algumas dúvidas e deman- das dos profissionais, e a CCAP não tem medido esforços para prestar os devidos esclarecimentos e orientações. Contudo, a alteração aqui detalhada se aplica aos mate- riais analisados a partir da promulgação da nova resolução. Testes avaliados na vigência da Resolução n° 02/2003 com parecer favorável, poderão ser utilizadas até o venci- mento dos estudos de validade e precisão, desde que apre- sentem estudos de normatização vigentes. Também foi alterada a responsabilidade pela submis- são dos estudos de validade, precisão e de atualização de normas dos testes psicológicos. A partir desta nova resolução, a responsabilidade pas- sa a ser exclusiva do responsável técnico que deve ser um psicólogo com CRP ativo. A esse respeito, importante ressaltar que casos nos quais o responsável técnico não pode, por diversos motivos, dar sua anuência, deverão ser analisados um a um, confor- me prevê a resolução, ao mencionar os casos omissos. Uma alternativa nessas situações é a editora que co- mercializa o material entrar em contato com a CCAP expli- cando os motivos para essa impossibilidade e solicitando, quando pertinente, a alteração do responsável técnico do manual de teste. - EXIGÊNCIAS TÉCNICAS EM INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS - 61 Feito isso, o novo responsável técnico deverá se res- ponsabilizar pelo material ora submetido à avaliação para possível aprovação. Na Resolução n° 02/2003 tal responsabilidade podia ser também da editora que comercializava ou comercializa- ria o teste psicológico. No entanto, considerando que pelo §1°, do Art. 13, da Lei n° 4.119, o material é de uso privativo do profissional psicólogo, e que é ele quem deve responder pelo próprio material, não faz sentido uma editora ter essa prerrogativa. Os Conselhos Regionais de Psicologia não podem mais apreender lote de testes psicológicos não autorizados para uso, conforme preconizava a Resolução n° 02/2003. Finaliza o autor que essa informação foi retirada uma vez que, juridicamente, não seria prerrogativa da autarquia tal procedimento, cabendo a ela apenas notificar o profis- sional a respeito de irregularidade, dando prazo para a sua regularização, representar contra o profissional ou pessoa jurídica por falta disciplinar, e dar conhecimento às autori- dades competentes de possíveis irregularidades, conforme Art. 17 da Resolução n° 09/2018. CAPÍTULO 4CAPÍTULO 4. ASPÉCTOS ÉTICOS RELACIONADOS À AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA –ASPÉCTOS ÉTICOS RELACIONADOS À AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA– 63 4.1 CODIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO PSICOLOGO Em pesquisa realizada no site do Conselho Regional de Psicologia, disponível em www. crpsp.org.br, verifica-se a seguinte menção: Toda profissão define-se a partir de um corpo de práti- cas que busca atender demandas sociais, norteado por ele- vados padrões técnicos e pela existência de normas éticas que garantam a adequada relação de cada profissional com seus pares e com a sociedade como um todo. Um Código de Ética profissional, ao estabelecer pa- drões esperados quanto às práticas referendadas pela res- pectiva categoria profissional e pela sociedade, procura fomentar a autorreflexão exigida de cada indivíduo acerca da sua práxis, de modo a responsabilizá-lo, pessoal e co- letivamente, por ações e suas consequências no exercício profissional. A missão primordial de um código de ética profissional não é de normatizar a natureza técnica do trabalho, e, sim, a de assegurar, dentro de valores relevantes para a sociedade e para as práticas desenvolvidas, um padrão de conduta que fortaleça o reconhecimento social daquela categoria. Códigos de Ética expressam sempre uma concepção de homem e de sociedade que determina a direção das rela- ções entre os indivíduos. Traduzem-se em princípios e nor- mas que devem se pautar pelo respeito ao sujeito humano e seus direitos fundamentais. –ASPÉCTOS ÉTICOS RELACIONADOS À AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA– 64 Por constituir a expressão de valores universais, tais como os constantes na Declaração Universal dos Direitos Humanos; socioculturais, que refletem a realidade do país; e de valores que estruturam uma profissão, um código de ética não pode ser visto como um conjunto fixo de normas e imutável no tempo. As sociedades mudam, as profissões transformam-se e isso exige, também, uma reflexão contínua sobre o pró- prio código de ética que nos orienta. Ressalta que a formulação deste Código de Ética, o terceiro da profissão de psicólogo no Brasil, responde ao contexto organizativo dos psicólogos, ao momento do país e ao estágio de desenvolvimento da Psicologia enquanto campo científico e profissional. Este Código de Ética dos Psicólogos é reflexo da ne- cessidade, sentida pela categoria e suas entidades repre- sentativas, de atender à evolução do contexto institucional e legal do país, marcadamente a partir da promulgação da denominada Constituição Cidadã, em 1988, e das legisla- ções dela decorrentes. O Código de Ética pautou-se pelo princípio geral de aproximar-se mais de um instrumento de reflexão do que de um conjunto de normas a serem seguidas pelo psicólogo. Para tanto, na sua construção buscou-se: c) Valorizar os princípios fundamentais como gran- des eixos que devem orientar a relação do psicó- logo com a sociedade, a profissão, as entidades –ASPÉCTOS ÉTICOS RELACIONADOS À AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA– 65 profissionais e a ciência, pois esses eixos atraves- sam todas as práticas e estas demandam uma contí- nua reflexão sobre o contexto social e institucional. d) Abrir espaço para a discussão, pelo psicólogo, dos limites e interseções relativos aos direitos individu- ais e coletivos, questão crucial para as relações que estabelece com a sociedade, os colegas de profissão e os usuários ou beneficiários dos seus serviços. e) Contemplar a diversidade que configura o exer- cício da profissão e a crescente inserção do psi- cólogo em contextos institucionais e em equipes multiprofissionais. f) Estimular reflexões que considerem a profissão como um todo e não em suas práticas particula- res, uma vez que os principais dilemas éticos não se restringem a práticas específicas e surgem em quaisquer contextos de atuação. Ao aprovar e divulgar o Código de Ética Profissional do Psicólogo, a expectativa é de que ele seja um instrumen- to capaz de delinear para a sociedade as responsabilidades e deveres do psicólogo, oferecer diretrizes para a sua forma- ção e balizar os julgamentos das suas ações, contribuindo para o fortalecimento e ampliação do significado social da profissão. Princípios FundamentaisI. O psicólogo baseará o seu trabalho no respei- to e na promoção da liberdade, da dignidade, da –ASPÉCTOS ÉTICOS RELACIONADOS À AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA– 66 igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletivida- des e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade po- lítica, econômica, social e cultural. IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento profissional, contri- buindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo científico de conhecimento e de prática. V. O psicólogo contribuirá para promover a universa- lização do acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão. VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja sendo aviltada. VII. O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em que atua e os impactos dessas rela- ções sobre as suas atividades profissionais, po- sicionando-se de forma crítica e em consonância com os demais princípios deste Código. –ASPÉCTOS ÉTICOS RELACIONADOS À AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA– 67 Das Responsabilidades do Psicólogo Art. 1º - São deveres fundamentais dos psicólogos: a) Conhecer, divulgar, cumprir e fazer cumprir este Código; b) Assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado pes- soal, teórica e tecnicamente; c) Prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e apropriadas à natu- reza desses serviços, utilizando princípios, conhe- cimentos e técnicas reconhecidamente fundamen- tados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional; d) Prestar serviços profissionais em situações de cala- midade pública ou de emergência, sem visar bene- fício pessoal; e) Estabelecer acordos de prestação de serviços que respeitem os direitos do usuário ou beneficiário de serviços de Psicologia; f) Fornecer, a quem de direito, na prestação de servi- ços psicológicos, informações concernentes ao tra- balho a ser realizado e ao seu objetivo profissional; g) Informar, a quem de direito, os resultados decor- rentes da prestação de serviços psicológicos, trans- mitindo somente o que for necessário para a toma- da de decisões que afetem o usuário ou beneficiário; –ASPÉCTOS ÉTICOS RELACIONADOS À AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA– 68 h) Orientar a quem de direito sobre os encaminha- mentos apropriados, a partir da prestação de ser- viços psicológicos, e fornecer, sempre que solicita- do, os documentos pertinentes ao bom termo do trabalho; i) Zelar para que a comercialização, aquisição, doa- ção, empréstimo, guarda e forma de divulgação do material privativo do psicólogo sejam feitas con- forme os princípios deste Código; j) Ter, para com o trabalho dos psicólogos e de outros profissionais, respeito, consideração e solidarieda- de, e, quando solicitado, colaborar com estes, salvo impedimento por motivo relevante; k) Sugerir serviços de outros psicólogos, sempre que, por motivos justificáveis, não puderem ser conti- nuados pelo profissional que os assumiu inicial- mente, fornecendo ao seu substituto as informa- ções necessárias à continuidade do trabalho; l) Levar ao conhecimento das instâncias compe- tentes o exercício ilegal ou irregular da profissão, transgressões a princípios e diretrizes deste Código ou da legislação profissional. Art. 2º - Ao psicólogo é vedado: a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem negligência, discriminação, explora- ção, violência, crueldade ou opressão; –ASPÉCTOS ÉTICOS RELACIONADOS À AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA– 69 b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais; c) Utilizar ou favorecer o uso de conhecimento e a uti- lização de práticas psicológicas como instrumentos de castigo, tortura ou qualquer forma de violência; d) Acumpliciar-se com pessoas ou organizações que exerçam ou favoreçam o exercício ilegal da profis- são de psicólogo ou de qualquer outra atividade profissional; e) Ser conivente com erros, faltas éticas, violação de direitos, crimes ou contravenções penais pra- ticados por psicólogos na prestação de serviços profissionais; f) Prestar serviços ou vincular o título de psicólogo a serviços de atendimento psicológico cujos procedi- mentos, técnicas e meios não estejam regulamen- tados ou reconhecidos pela profissão; g) Emitir documentos sem fundamentação e qualida- de técnico-científica; h) Interferir na validade e fidedignidade de instru- mentos e técnicas psicológicas, adulterar seus re- sultados ou fazer declarações falsas; i) Induzir qualquer pessoa ou organização a recorrer a seus serviços; –ASPÉCTOS ÉTICOS RELACIONADOS À AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA– 70 j) Estabelecer com a pessoa atendida, familiar ou ter- ceiro, que tenha vínculo com o atendido, relação que possa interferir negativamente nos objetivos do serviço prestado; k) Ser perito, avaliador ou parecerista em situações nas quais seus vínculos pessoais ou profissionais, atuais ou anteriores, possam afetar a qualidade do trabalho a ser realizado ou a fidelidade aos resulta- dos da avaliação; l) Desviar para serviço particular ou de outra insti- tuição, visando benefício próprio, pessoas ou or- ganizações atendidas por instituição com a qual mantenha qualquer tipo de vínculo profissional; m) Prestar serviços profissionais a organizações con- correntes de modo que possam resultar em prejuí- zo para as partes envolvidas, decorrentes de infor- mações privilegiadas; n) Prolongar, desnecessariamente, a prestação de serviços profissionais; o) Pleitear ou receber comissões, empréstimos, do- ações ou vantagens outras de qualquer espécie, além dos honorários contratados, assim como in- termediar transações financeiras; p) Receber, pagar remuneração ou porcentagem por encaminhamento de serviços; q) Realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou apresentar resultados de serviços psicológicos em –ASPÉCTOS ÉTICOS RELACIONADOS À AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA– 71 meios de comunicação, de forma a expor pessoas, grupos ou organizações. Art. 3º - O psicólogo, para ingressar, associar-se ou permanecer em uma organização, considerará a missão, a filosofia, as políticas, as normas e as práticas nela vigen- tes e sua compatibilidade com os princípios e regras deste Código. Parágrafo único: Existindo incompatibilidade, cabe ao psicólogo recusar-se a prestar serviços e, se pertinente, apresentar denúncia ao órgão competente. Art. 4º - Ao fixar a remuneração pelo seu trabalho, o psicólogo: a) Levará em conta a justa retribuição aos serviços prestados e as condições do usuário ou beneficiário; b) Estipulará o valor de acordo com as características da atividade e o comunicará ao usuário ou benefi- ciário antes do início do trabalho a ser realizado; c) Assegurará a qualidade dos serviços oferecidos in- dependentemente do valor acordado. Art. 5º - O psicólogo, quando participar de greves ou paralisações, garantirá que: a) As atividades de emergência não sejam interrompidas; b) Haja prévia comunicação da paralisação aos usuários ou beneficiários dos serviços atingidos pela mesma. –ASPÉCTOS ÉTICOS RELACIONADOS À AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA– 72 Art. 6º - O psicólogo, no relacionamento com profis- sionais não psicólogos: a) Encaminhará a profissionais ou entidades habili- tados e qualificados demandas que extrapolem seu campo de atuação; b) Compartilhará somente informações relevantes para qualificar o serviço prestado,
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