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O Consenso de Washington e a crise

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O Consenso de Washington e a crise na américa latina
Pablo Gentili
Mudanças “(tecnológicas e de novas formas de organização produtiva nos processos de trabalho) têm sua gênese e desenvolvimento na “crise estrutural” do capitalismo eclodida na década de 1970 e que se estende aos nossos dias”. 
Segundo Mészáros (2004, p.4) essa crise é estrutural e se diferencia das demais por “atingir três dimensões fundamentais do sistema capitalista - produção, consumo e circulação/realização” (MELLO, 2009, p.133).
raízes e características da crise atual: esgotamento do modelo keynesiano, do modo de organização da produção taylorista fordista (Idem, Ibidem, p.134).
Processo de reestruturação produtiva – acumulação flexível.
GENTILI, Pablo. A falsificação do consenso: simulacro e imposição na reforma educacional do neoliberalismo. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 2001. 
Início dos anos setenta se inicia uma ditadura no Chile após a queda do governo constitucional de Salvador Allende. Início das reformas do neoliberalismo nos países da América Latina. “[...] regimes políticos democráticos de caráter tutelar e com alto grau de corrupção [...]. Hegemonia alcançada na década de oitenta levou a um rigoroso programa de ajuste econômico em razão da crise da dívida”(13).
Ortodoxia neoliberal promovida pelos organismos Internacionais, especialmente Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional foi assumida pelas elites nacionais. 
O Consenso de Washington, conforme expressão de John Williamson, inclui dez tipos de reforma implementadas, quase sempre, com intensidade pelos governos latino-americanos:
 
1) disciplina fiscal; 
2) redefinição das prioridades do gasto público; 
3) reforma tributária; 
4) liberalização do setor financeiro; 
5) manutenção de taxas de câmbio competitivas; 
6) liberalização comercial; 
7) atração das aplicações de capital estrangeiro; 
8) privatização das empresas estatais; 
9) desregulação da economia; 
10) proteção dos direitos autorais 
(PORTELLA FILHO, 1994, apud GENTILI, 1998, p.14).
O consenso de Washington na educação (p.15)
Pode-se notar uma homogeneidade nas reformas educacionais na AL mediante os diagnósticos, propostas e argumentos oficiais a respeito da crise educacional. 
Também, no impacto que os documentos do Banco Mundial e FMI têm na definição das políticas públicas neste setor (15). Um “senso comum tecnocrático” orienta diagnósticos e decisões dos administradores do sistema escolar (15-6).
“De fato, podemos dizer que esse conjunto de discursos, ideias e propostas sintetiza o que poder ser definido como a forma neoliberal de pensar e delinear a reforma educacional na América Latina dos anos noventa” (p.16).
Quatro questões para caracterizar o Consenso de Washington (doravante CW) na educação: 
-Como os neoliberais entendem a crise educacional? 
-Quem são os culpados? 
-Que estratégias permitirão sair dessa crise? 
-Quem deve ser contrado para encontrar uma saída para a situação que a escola enfrenta? 
Gentili informa que tentará responder estas questões reconhecendo “as regularidades, os aspectos globais, os núcleos comuns e invariantes da política educacional na América Latina, para além das especificidades locais” (16).
A crise (16). 
Os sistemas educacionais LA, para os neoliberais, enfrentam uma crise de eficiência, eficácia e produtividade, devido à expansão da educação após a segunda metade do século sem o correspondente amento da qualidade. 
Seria uma crise de gerenciamento das políticas educacionais que expressa a crise da qualidade (16-7).
Essa crise expressa a “incapacidade estrutural do Estado para administrar as políticas sociais”. Essa crise de produtividade da escola reflete o centralismo e a burocracia do Estado interventor (p17).
Três premissas fundamentam esse diagnóstico: 
a) governos são incapazes se assegurar quantidade e qualidade; 
b) a expansão dos serviços educacionais já foi alcançada na AL, sendo a exclusão e marginalidade uma expressão da ineficiência do sistema e não “de sua escassa universalização”;
 
c) combinar quantidade e qualidade com igualdade e universalidade é uma mentira do Estado interventor e populista (17-8).
O monopólio estatal da educação conduz a uma ineficácia competitiva da escola. 
Os sistemas educacionais LA não seguem uma lógica interinstitucional, flexível e meritocrática. 
Os critérios competitivos, não institucionalizados na escola, que não garantiram “uma distribuição diferencial do serviço, que se fundamente no mérito e no esforço individual dos ‘usuários’ do sistema” (p.18). 
A crise educacional é administrativa, não se trata de aumentar os recursos, mas de direcionar corretamente os já existentes (p. 18).
Nessa lógica:
“[...] a questão central não está em aumentar o orçamento educacional, mas em “gastar melhor”; que não faltam mais trabalhadores na educação, mas “docentes mais bem formados e capacitados”; que não faz falta construir mais escolas, mas “fazer um uso mais racional do espaço escolar”; que não faltam mais alunos, mas “alunos mais responsáveis e comprometidos com o estudo”. 
Com os mesmos recursos financeiros, a mesma quantidade de professores e professoras, de alunos, de escolas e de salas de aula, os governos neoliberais prometem fazer uma verdadeira revolução educacional” (p.19). 
A condição para isso, conforme os neoliberais, é uma reforma administrativa que legitime o mercado como orientador da destinação dos recursos e como promotor dos necessários mecanismos competitivos e meritocráticos para selecionar e hierarquizar as instituições e indivíduos que atuam nelas (19).
Transferência da educação da esfera política para a esfera do mercado, deixa de ser direito social para ser possibilidade de consumo individual, variável segundo mérito e capacidade dos consumidores. 
Ocorre a despublicização da educação com sua transferência para a “esfera da competição privada”, afirmando-se sua condição de mercadoria (19). 
A educação deixa de ser protegida como direito social para o ser como “propriedade privada por parte de seus legítimos proprietários” (p.19-20). “O modelo do homem neoliberal é cidadão privatizado, responsável, dinâmico: o consumidor” (p.20).
OS CULPADOS (20).
Estado interventor – que gestou esse modelo de escola.
Os grandes sindicatos, especialmente dos trabalhadores em educação, que exigiram dos governos coisas como aumento de recursos, igualdade, intervenção e expansão da escola pública e atuar impedindo a transformação da escola em um conjunto de mercados competitivos e flexíveis. 
A Sociedade – que não cultivou o valor da competição necessário para a busca do sucesso individual, da vitória. Sem a cultura da competição e essa ética do individualismo perdeu-se o amor ao trabalho, excluída por um coletivismo, pelas promessas do Estado de Bem-estar, criou-se uma indisciplina social e buscou-se a escola pública, gratuita e de qualidade para todos (21).
Para os neoliberais, a educação é um capital humano e deve fazer parte das escolhas privadas de cada um para melhorar sua posição relativa no mercado (21-2). 
O sucesso e o fracasso escolar são também privatizados, decorrem da falta de reconhecimento da vantagem que o mérito e o esforço individual proporcionam: alunos não estudam o suficiente, professores não são competentes (22).
Se os culpados pela crise da educação são o Estado e a sociedade, não se pode esperar deles a solução para tal crise, mas, reconhecer que depende “do esforço e do mérito incessante de cada indivíduo (professores, alunos, pessoal não docente, pais, etc.) para mudar seu próprio trabalho, na sua própria escola. [...] 
Em suma, a mudança educacional depende, aparentemente, de que “cada um faça o que tem que fazer” e reconheça a responsabilidade que teve com relação à crise de qualidade da escola” (p.22-3).
As estratégias - Traçar um conjunto de propostas em níveis macro e microinstitucionais para institucionalizar o princípio da competição deve regular o sistema escolar/mercadoeducacional. 
São traçados dois grandes objetivos: 
a)Estabelecer mecanismos de controle de qualidade; 
b) subordinar a produção do sistema educacional às demandas do mercado de trabalho (23). Mediante este segundo objetivo temos que tanto é o mercado que define as políticas educacionais quanto é a partir dele que a avaliação deve medir a qualidade da educação (23-4).
O neoliberalismo combina duas lógicas aparentemente contraditórias: a centralização e a descentralização.
 Descentralização das “funções e responsabilidades no âmbito educacional”, que dizem respeito principalmente as formas de financiamento e flexibilização das formas de contratação de funcionários. 
Centralização dos processos avaliativos, dos conteúdos curriculares e da formação de professores, segundo os princípios da reforma (24-5).
Os “experts” (25)
Os culpados pela crise, conforme a lógica neoliberal, não devem ser consultados. 
Aqueles que conseguiram êxito, os homens de negócio, são os que devem ser consultados. Já que o sistema educacional deve ser transformado em um mercado, aqueles que mais entendem de negócios devem ajudar a escola a sair da sua ineficiência e improdutividade, inclusive adotando ou criando escolas (25).
Já, os especialistas em currículo, formação de professores, diminuição de gastos, eficiência e produtividade que devem ser consultados não estão nas escolas e universidades, mas são encontrados nos organismos internacionais, especialmente o Banco Mundial. 
Os intelectuais a serviço do capital também são globalizados (26). Sobre a globalização dos technopols pedagógicos.
 Gentili destaca o exemplo dos espanhóis, especialmente do coordenador da reforma curricular espanhola, Cesar Coll (26-7). Esse psicólogo coordenou a elaboração do novo Currículo Nacional no Brasil de forma psicotecnicista, fascinado pelas modas lexicográficas e desconsiderando a realidade das escolas (27).
O Consenso de Washington é uma conspiração maligna (e exitosa)? (p.28)
Nem é sério pensar em um grupo reduzido e maligno de pessoas que pensaram uma conspiração, como não é falar em consenso, ou seja, um acordo comum entre nações ou grupos que tratam de interesses comuns, pois foram utilizadas indiscretas e violentas formas de persuasão na AL para impor o conjunto de reformas (28-9).
O que o “Consenso de Washington sintetiza é a hegemonia neoliberal” no capitalismo globalizado e, como processo hegemônico, se dá pelo consentimento e pela coerção. 
Os organismos internacionais exercem uma função político-estratégica fundamental nos processos de ajuste e reestruturação neoliberal nos países LA, sob a supremacia político-militar norte-americana constituída no pós Guerra Fria (29).
SAPs – Structural Adjustment Programmes , programas de ajuste estrutural implementados a partir de 1980 que demonstram o caráter tutelar sobre as economias latino-americanas. Dissolução das barreiras entre FMI e Banco Mundial que buscam garantir o pagamento da inesgotável dívida (30).
Pressão exercida pelos OI para “uma drástica redução do supostamente elevado gasto público social nos países da AL”. A renegociação das dívidas com novos empréstimos foram uma forma de chantagem para afastar os governos das esferas públicas e sociais. Programa de privatização de empresas produtivas, do sistema de seguridade social e bem-estar social, sendo a educação um dos setores mais submetidos ao ajuste de tais políticas (30-1).
Duas tendências da intervenção do Banco Mundial e do FMI:
 1 – o instrumentalismo, a submissão das políticas sociais à dinâmica e lógica da política econômica; 
2 – os condicionamentos dos limites e conteúdos da política social, pois os OI se mostram cada vez mais presentes no “financiamento direto e crescente” de programas nessa área.
 O FMI determina as precondições para a aprovação de recursos investidos nessa área (31). Por trás de volumosas somas de dinheiro que aumentam as dívidas públicas, o controle ideológico rigoroso define conteúdo e limites dos projetos implementados. [Ver nota 22].
Tal projeto não se constrói somente dos EUA para a AL, mas as elites econômicas, políticas e culturais latino-americanas são parte constitutiva e indissolúvel dessa nova hegemonia (32). Esses ajustes estão custando a vida de milhares de homens e mulheres, meninos e meninas, privados dos direitos humanos mais elementares (32).
Está sendo exitoso o programa de ajuste? (p.33)
Políticos e intelectuais são unificados pelo pragmatismo: as políticas neoliberais podem ter um custo social elevado, é o argumento deles (33).
Negação e destruição dos direitos humanos mais elementares (33).
Os países LA que aplicaram os programas de ajuste estrutural e setorial do Banco Mundial tiveram resultados contrários aos prometidos. 
Observaram-se algumas tendências nesses países: 
diminuição progressiva dos gastos em educação, com deterioração das condições infraestruturas dos sistemas educacionais; 
diminuição dos salários dos trabalhadores em educação; -
aumento do pagamento das taxas da dívida externa; -
aumento da responsabilidade das famílias com o financiamento da educação, privatização direta ou indireta do sistema público; 
maior dificuldade para ascender do nível primário ao secundário; -
manutenção e aumento das taxas de retenção; 
persistência do analfabetismo estrutural de amplos setores sociais (33-4).
O consenso de Washington aprofundou o caráter antidemocrático dos sistemas educacionais da região. 
Ainda persistem enormes problemas de quantidade no sistema: o aumento da exclusão agravou o problema do acesso de amplo setores. 
“Sociedades dualizadas e marcadas pela miséria e discriminação não podem ter senão sistemas educacionais dualizados, miseráveis e discriminadores” (p.35). Nossas escolas, após o dilúvio neoliberal, serão piores porque mais excludentes (p.35).

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