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História da África

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Prévia do material em texto

2010
História Da África
 Prof.ª Tânia Cordova
Copyright © UNIASSELVI 2010
Elaboração:
Prof.ª Tânia Cordova
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
 960
C796h Cordova, Tânia.
 História da África/ Tânia Cordova. Centro Universitário
 Leonardo da Vinci – Indaial:Grupo UNIASSELVI,
 2010.x ; 201. p.: il
 
 Inclui bibliografia.
 ISBN 978-85-7830-301-3
 1. História da África 2. África – História e Formação
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
 II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título
 
III
apresentação
Caro(a) acadêmico(a)!
Iniciamos nossos estudos sobre a História da África. Com essa 
disciplina buscamos romper com uma historiografia fundamentada numa 
visão eurocêntrica da História.
Esta é uma disciplina importante à formação do professor de História, 
haja vista a obrigatoriedade, desde 2003, da temática África e Afro-brasileiros 
no currículo da Educação Básica. Todavia, para além desta obrigatoriedade, 
o conhecimento relacionado ao Continente Africano, é essencial para que 
possamos conhecer e trabalhar com a formação histórica, social, cultural e 
econômica do Brasil.
Ao observarmos a composição social em que vivemos, podemos 
confirmar que os negros africanos possibilitaram importantes contribuições 
para a construção do Brasil. Depois de retirados à força do Continente 
Africano, terem atravessado a duras penas o oceano Atlântico, serem 
obrigados a mudar sua maneira de viver, com a adaptação de seus costumes 
e suas tradições a um novo ambiente, os que aqui chegaram misturaram-se 
à sociedade já existente e configuraram novos elementos à cultura. Nesse 
sentido, é inegável a presença e a influência dos diferentes povos africanos à 
História do Brasil.
A primeira unidade trata do contexto do surgimento da Lei nº 10.639 
que institui a obrigatoriedade do Ensino da História e Cultura Afro-brasileira 
e Africana no currículo da Educação Básica no Brasil. A opção por iniciar 
este caderno partindo desta discussão se justifica por acreditar ser necessário 
refletir sobre o surgimento desta nova disciplina no Curso de História. Assim, 
teremos conhecimento que esta disciplina não surgiu a esmo, e nem do nada, 
pelo contrário, ela é fruto de reivindicações sociais pautadas e fundamentadas 
na luta pelos direitos de uma sociedade mais justa, mais igualitária.
A segunda unidade busca compreender o Continente Africano 
anterior à presença europeia. Para esse intento, optou-se por apresentar a 
diversidade (cultural, política, religiosa e econômica) deste continente. Nesta 
unidade, foram abordados os reinos, bem como as relações comerciais, 
sociais e culturais desenvolvidas pelas sociedades africanas anteriores ao 
contato com os europeus.
Finalmente, a terceira unidade, dividida em cinco tópicos tem o 
objetivo de apresentar o tráfico negreiro, as transformações ocorridas a partir 
do tráfico e a inserção do africano no mundo atlântico.
IV
Como você pode perceber, esta é uma disciplina densa e tem uma 
carga enorme de conteúdo, afinal, estudar a história de um continente 
milenar, não é uma tarefa fácil. Pelo contrário, exigirá, além do Caderno de 
Estudos, outras fontes de pesquisa. Lembre-se: a pesquisa é uma prática que 
deve ser inerente ao trabalho do professor.
Sucesso nos seus estudos!
Prof.ª Tânia Cordova
V
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
VI
VII
UNIDADE 1 - A ÁFRICA NA SALA DE AULA ................................................................................ 1
TÓPICO 1 - POR QUE ESTUDAR ÁFRICA, TRÁFICO E AFRICANOS NO BRASIL? ............ 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 UM CONTINENTE NO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO BÁSICA ........................................... 4
2.1 O MOVIMENTO NEGRO E A LUTA PELA INSERÇÃO DA HISTÓRIA DA ÁFRICA ...... 5
2.1.1 Um panorama das lutas e conquistas das ações afro no Brasil ........................................ 5
2.2 AÇÕES AFIRMATIVAS E AS COTAS PARA AFRODESCENDENTES 
 NAS UNIVERSIDADES .................................................................................................................. 8
3 DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO 
 DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E PARA O ENSINO DE HISTÓRIA 
 E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA .......................................................................... 11
3.1 POLÍTICAS DE REPARAÇÕES, DE RECONHECIMENTO E 
 VALORIZAÇÃO DE AÇÕES AFIRMATIVAS ............................................................................. 11
3.2 EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS ................................................................... 12
3.3 HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA: 
 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO TRABALHO PEDAGÓGICO .......................................... 12
3.3.1 Consciência política e histórica da diversidade ................................................................. 13
3.3.2 Fortalecimento de identidade e de direitos ........................................................................ 13
3.3.3 Ações educativas de combate ao racismo e a discriminação ............................................ 14
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 14
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 17
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 18
TÓPICO 2 - A LEI 10.639 E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES .................................................. 19
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 19
2 ENSINAR A RIQUEZA E A DIVERSIDADE DA HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA ..... 20
3 PROBLEMÁTICA DIDÁTICA ........................................................................................................... 20
3.1 AS FONTES DE ENSINO PARA HISTÓRIA DA ÁFRICA ....................................................... 20
4 ASNOVAS ABORDAGENS NO ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA................................. 21
4.1 OS NOVOS DESAFIOS ................................................................................................................... 22
4.2 A CULTURA NEGRA EM SALA DE AULA: ERROS E ACERTOS ......................................... 23
RESUMO DO TÓPICO 2 - .................................................................................................................... 25
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 26
TÓPICO 3 - A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOBRE ÁFRICA, 
 AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS .......................................................................... 27
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 27
2 AS REPRESENTAÇÕES DO NEGRO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA .............. 29
2.1 AS CONSEQUÊNCIAS PARA A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA NO BRASIL .. 32
2.2 O NEGRO E A LITERATURA ........................................................................................................ 34
3 ÁFRICA, AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NAS VIDEOTECAS ..................................... 35
4 ÁFRICA, AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NOS BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS 37
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 41
sumÁrio
VIII
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 42
TÓPICO 4 - SUBSÍDIOS PARA TRABALHAR A HISTÓRIA DA ÁFRICA ............................... 43
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 43
2 POSSIBILIDADES INTERDISCIPLINARES PARA O ENSINO 
 DE HISTÓRIA DA ÁFRICA ............................................................................................................... 44
2.1 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E A DISCIPLINA DE HISTÓRIA ........................... 45
2.2 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E A GEOGRAFIA ..................................................... 45
2.3 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E A EDUCAÇÃO FÍSICA ........................................ 46
2.4 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E A DISCIPLINA DE ARTE .................................... 48
2.5 A LÍNGUA PORTUGUESA, A LITERATURA E A HISTÓRIA DA ÁFRICA ......................... 49
2.6 A BIOLOGIA E O ENSINO DA HISTÓRIA DA ÁFRICA ......................................................... 50
2.7 A SOCIOLOGIA E O ENSINO DA HISTÓRIA DA ÁFRICA ................................................... 51
3 ESPAÇOS DE VALORIZAÇÃO, RESGATE E DIFUSÃO DA MEMÓRIA, 
 DA HISTÓRIA E DA CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA ..................................... 51
RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 53
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 54
UNIDADE 2 - A INVENÇÃO DA ÁFRICA ........................................................................................ 55
TÓPICO 1 - AS MUITAS ÁFRICAS: ASPECTOS DA HISTORIOGRAFIA AFRICANA ........ 57
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 57
2 RACISMO E RACIALISMO ............................................................................................................... 58
3 PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EXTERNO SOBRE A ÁFRICA ....................................... 58
4 PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO INTERNO SOBRE A ÁFRICA ..................................... 59
4.1 A HISTORIOGRAFIA “AFROCÊNTRICA” ................................................................................. 60
4.2 O PENSAMENTO DE CHEIK ANTA DIOP ................................................................................ 63
4.3 O PENSAMENTO DE JOSEPH KI-ZERBO ................................................................................. 64
5 PROBLEMAS METODOLÓGICOS ................................................................................................. 65
6 AS FERRAMENTAS HISTORIOGRÁFICAS ................................................................................. 65
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 66
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 68
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 69
TÓPICO 2 - FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DAS SOCIEDADES AFRICANAS
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 71
2 ÁFRICA, BERÇO DA HUMANIDADE ............................................................................................ 71
3 ÁFRICA, BERÇO DA CIVILIZAÇÃO .............................................................................................. 72
4 CIVILIZAÇÕES AFRICANAS: POVOS E REINOS ...................................................................... 73
4.1 OS POVOS AFRO-ASIÁTICOS ...................................................................................................... 74
4.2 OS POVOS NILO-SAARIANOS .................................................................................................... 74
4.3 OS POVOS NÍGER-CONGOLESES .............................................................................................. 75
4.4 OS POVOS KHOI-SAN ................................................................................................................... 76
5 AS CIVILIZAÇÕES AFRICANAS ANTIGAS ................................................................................ 76
5.1 O DESERTO DO SAARA ............................................................................................................... 77
5.1.1 No Oriente: Egito, Sudão, Núbia e Aksum ......................................................................... 78
5.2 O SAHEL ........................................................................................................................................... 79
5.2.1 A África Ocidental .................................................................................................................. 80
5.2.2 O Reino de Gana ..................................................................................................................... 80
5.2.3 Os Reinos Iorubás e o Benim ................................................................................................ 83
5.2.4 O reino do Congo.................................................................................................................... 86
5.2.5 O reino do Monomotapa ....................................................................................................... 88
IX
RESUMO DO TÓPICO 2 ...................................................................................................................... 89
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 90
TÓPICO 3 - AS RELAÇÕES COMERCIAIS EM ÁFRICA .............................................................. 91
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 91
2 ORGANIZAÇÃO DO COMÉRCIO EM ÁFRICA ANTERIOR
 A PRESENÇA EUROPEIA ..................................................................................................................91
3 O MAR MEDITERRÂNEO E O MAR VERMELHO ..................................................................... 92
4 A ÁFRICA CENTRAL: A DISPERSÃO DOS BANTOS ................................................................ 93
5 AS RELAÇÕES COM O LITORAL DO OCEANO ÍNDICO ....................................................... 95
6 PELO OCEANO ATLÂNTICO ........................................................................................................... 96
7 O COMÉRCIO TRANSAARIANO ................................................................................................... 98
8 A ÁFRICA E A RELAÇÃO COM O SOBRENATURAL ................................................................ 99
RESUMO DO TÓPICO 3 .....................................................................................................................102
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................103
TÓPICO 4 - A ÁFRICA E O ISLAMISMO ........................................................................................105
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................105
2 A ISLAMIZAÇÃO DO NORTE DA ÁFRICA ...............................................................................107
2.1 A CONQUISTA DE IFRIQIYA .....................................................................................................107
2.2 O CALIFADO FATÍMIDA ............................................................................................................108
2.3 O MAGREBE SOB OS ALMORÁVIDAS ....................................................................................108
3 O SAHEL SOB A INFLUÊNCIA ISLÂMICA ................................................................................109
3.1 O REINO DO MALI ................................................................................................................... 110
3.1.1 Mansa Musa.......................................................................................................................... 111
3.1.2 As estruturas do Reino do Mali ......................................................................................... 114
3.2 O IMPÉRIO SONGHAI DE GAÔ ................................................................................................115
3.3 O SUDÃO CENTRAL: O KANEM-BORNU E OS HAÚÇAS .................................................116
3.3.1 O Kanem-Bornu ....................................................................................................................117
3.3.2 Os Estados Hauçás ...............................................................................................................117
4 A ÁFRICA ORIENTAL E O ISLÃ ....................................................................................................117
4.1 OS CONFLITOS RELIGIOSOS NA ETIÓPIA ............................................................................118
4.2 A CIVILIZAÇÃO SWAHILLI .......................................................................................................118
5 O COMÉRCIO NA ÁFRICA ISLÂMICA .......................................................................................119
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................121
RESUMO DO TÓPICO 4 - ..................................................................................................................125
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................126
UNIDADE 3 - ESCRAVIDÃO: A ÁFRICA ESCRAVISTA E ESCRAVIZADA ..........................127
TÓPICO 1 - ESCRAVO NA ÁFRICA ................................................................................................129
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129
2 O CONCEITO DE ESCRAVIDÃO E ESCRAVISMO ..................................................................130
2.1 A SEMÂNTICA E A ESCRAVIDÃO ...........................................................................................131
2.2 O DIREITO E A ESCRAVIDÃO ...................................................................................................132
2.3 PARENTES E ESTRANHOS .........................................................................................................133
3 TORNAR-SE ESCRAVO NA ÁFRICA ...........................................................................................133
3.1 A GUERRA .....................................................................................................................................134
3.2 PROCEDIMENTOS JUDICIAIS ...................................................................................................134
3.3 A ESCRAVIZAÇÃO VOLUNTÁRIA ..........................................................................................135
4 OS USOS DO ESCRAVO NA ÁFRICA ..........................................................................................135
5 A ESCRAVIDÃO PRÉ-MODERNA ................................................................................................138
X
5.1 A ESCRAVIDÃO E O ISLAMISMO .............................................................................................. 138
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 139
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 141
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 142
TÓPICO 2 - A RELAÇÃO DO COMÉRCIO DE ESCRAVOS ENTRE 
 E UROPEUS E AFRICANOS ........................................................................................... 143
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 143
2 A ESTRUTURA SOCIAL E A ESCRAVIDÃO NA ÁFRICA ....................................................... 144
3 O COMÉRCIO DE ESCRAVOS ......................................................................................................... 145
4 AS FORMAS DE CAPTURA .............................................................................................................. 148
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 149
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 154
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 155
TÓPICO 3 - TRANSFORMAÇÕES NAS SOCIEDADES AFRICANAS 
 DECORRENTES DO COMÉRCIO ATLÂNTICO ...................................................... 157
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 157
2 O ESVAZIAMENTO DO INTERIOR ............................................................................................... 157
2.1 A DESTRUIÇÃO DO CONGO ...................................................................................................... 158
2.2 A CRISE DO SAHEL OCIDENTAL .............................................................................................. 159
3 AS TROCAS DE ELEMENTOS CULTURAIS ................................................................................. 160
RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................................162
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 163
TÓPICO 4 - A DIÁSPORA AFRICANA .............................................................................................. 165
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 165
2 O PIONEIRISMO PORTUGUÊS ....................................................................................................... 166
3 A DISPUTA PELA COSTA AFRICANA........................................................................................... 168
4 O APOGEU DO TRÁFICO ................................................................................................................. 169
5 O COMÉRCIO ILEGAL DE AFRICANOS ...................................................................................... 171
6 OS NÚMEROS DO TRÁFICO ........................................................................................................... 173
7 A TRAVESSIA ATLÂNTICA .............................................................................................................. 174
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 179
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 180
TÓPICO 5 - OS AFRICANOS NO BRASIL ........................................................................................ 181
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 181
2 QUEM ERAM OS AFRICANOS TRAZIDOS PARA O BRASIL ................................................ 182
3 O COMÉRCIO DE ESCRAVOS ......................................................................................................... 185
4 O TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL .......................................................................................... 188
5 RESISTÊNCIA NEGRA À ESCRAVIDÃO ...................................................................................... 190
6 MOVIMENTOS ABOLICIONISTAS ............................................................................................... 191
7 CULTURA AFRO-BRASILEIRA ........................................................................................................ 192
8 O FIM DA ESCRAVIDÃO E O NEGRO NA SOCIEDADE BRASILEIRA: 
 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ........................................................................................................ 193
RESUMO DO TÓPICO 5 ....................................................................................................................... 196
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 197
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 198
1
UNIDADE 1
A ÁFRICA NA SALA DE AULA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade, você será capaz de:
• compreender o contexto histórico e social de surgimento da Lei nº 10.639;
• refletir sobre a formação de professores e a obrigatoriedade da temática da 
História e Cultura Africana e Afro-brasileira;
• perceber a construção da imagem do negro no Brasil em diversos contextos;
• avaliar as possibilidades do trabalho interdisciplinar e a temática África e 
Afro-brasileiros na escola.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. Ao final de cada um 
deles você encontrará atividades que o(a) auxiliarão na apropriação dos 
conhecimentos aqui disponibilizados.
TÓPICO 1 – POR QUE ESTUDAR ÁFRICA, TRÁFICO E AFRICANOS NO 
 BRASIL?
TÓPICO 2 – A LEI 10.639 E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
TÓPICO 3 – A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOBRE ÁFRICA, 
 AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS
TÓPICO 4 – SUBSÍDIOS PARA TRABALHAR A HISTÓRIA DA ÁFRICA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
POR QUE ESTUDAR ÁFRICA, TRÁFICO E AFRICANOS 
NO BRASIL?
1 INTRODUÇÃO
A inserção do africano no mundo atlântico foi consequência de um 
processo que teve o objetivo de exploração do trabalho. Do século XVI ao XIX, 
aproximadamente 4.010.000 indivíduos foram trazidos de suas terras de origem, 
na África, amontoados em porões de navios e submetidos como escravos no 
Brasil. Hoje, o contingente dos afrodescendentes chega a cerca de 80 milhões de 
pessoas, 46,2% da população nacional, o que tem levado à afirmação de que o 
Brasil seria a segunda maior nação com população de origem africana no mundo, 
ficando atrás da Nigéria. Nestes quase cinco séculos, o trabalho negro possibilitou 
que a metrópole portuguesa num primeiro momento e as elites brancas nativas 
em outro constituíssem fortunas.
Este grande amálgama que se convencionou chamar de cultura brasileira 
é também devedor das línguas, das habilidades e dos saberes africanos. Das 
apreciações culinárias aos movimentos corporais, das expressões idiomáticas às 
produções musicais, das formas de convivência às manifestações religiosas, cada 
um de nós brasileiros, traz um pouco daquelas Áfricas ancestrais dentro de si. No 
entanto, a tão propalada democracia racial de que tanto nos orgulhamos, e que 
está presente no discurso das condições de igualdade no Brasil, ainda está longe 
de ser realidade.
Há muito já se percebeu que a grande riqueza cultural e o diferencial 
do Brasil residem em ser um país mestiço em que povos se misturaram. São 
negros, brancos e amarelos; bantos, iorubas, nagôs, tupinambás, guaranis, carijós, 
portugueses, italianos, alemães, japoneses e tantos outros.
No entanto, no processo de construção histórica e social do Brasil, alguns 
desses povos não foram reconhecidos pelas suas contribuições e acabaram sendo 
ignorados, inferiorizados, invisibilizados ou tratados de forma desqualificada 
na historiografia nacional, mencionados em muitas vezes como os dominados, 
incivilizados. Entre esses povos encontram-se os africanos.
A nova historiografia brasileira e estudos recentes vêm avançando na 
crítica aos preconceitos embutidos nos discursos científicos de século XIX e XX. 
Vêm também resignificando visões distorcidas da presença africana e resgatando 
as multifacetadas presenças negras no país. 
UNIDADE 1 | A ÁFRICA NA SALA DE AULA
4
No Brasil, o início do século XXI é o marco que representa este avanço 
e a concretização de um novo olhar ao Continente Africano. Em 9 de janeiro de 
2003, foi aprovada a Lei nº 10.639, tornando obrigatório o ensino de história e 
cultura africana e afro-brasileiras nos níveis de Ensino Fundamental e Médio. 
Os currículos deverão incluir temáticas que orientem a presença, a contribuição 
africana e afrodescendente nas disciplinas escolares.
Se no Brasil, os primeiros anos do século XXI são importantes, pois 
concretizaram os resultados de ações em prol das reivindicações dos movimentos 
negros, o ano de 2010 projetará o Continente Africano mundialmente. Os olhares 
estarão voltados para este continente, que é sede da Copa do Mundo. 
Assim, espera-se nessa unidade, não responder, mas alinhar conhecimentos 
no sentido de compreendermos a importância do porque estudar África, tráfico 
e africanos no Brasil.
IMPORTANT
E
Caro(a) acadêmico(a)! Cabe aqui orientar que o Continente Africano está inserido 
em quatro momentos das divisões temporais da história ocidental: A Pré-História, a Idade 
Antiga, a Idade Moderna e a Idade Contemporânea. No entanto, não se pode desconsiderar 
que a menção a este continente se faz dentro de uma situação de imposição de uma 
historiografia eurocêntrica que coloca o Continente Africano como palco de acontecimentos 
e ações que favoreceram os europeus. Desta forma, chamamos atenção para a compreensãode que os marcos da história ocidental não auxiliam na compreensão da História da África.
Para reforçar essa orientação, leia ao final deste tópico o texto de Joseph 
Ki-Zerbo.
2 UM CONTINENTE NO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Diversas políticas de reparação, reconhecimento e valorização da 
população afro-brasileira vem sendo concretizadas. Uma dessas ações é a Lei nº 
10. 639, de 9 de janeiro de 2003, que tornou obrigatório o ensino de História e 
Cultura Africana e afro-brasileira no currículo oficial.
Esta lei é importante na medida em que a sociedade brasileira reconhece 
o valor da história e da cultura africana, trazida pelos escravizados para o Brasil 
e hoje, da afro-brasileira, dos descendentes destes escravizados. 
TÓPICO 1 | POR QUE ESTUDAR ÁFRICA, TRÁFICO E AFRICANOS NO BRASIL?
5
No entanto, esta Lei é resultante da atuação de alguns políticos e, 
principalmente, da pressão exercida por grupos de defesa dos direitos dos negros. 
Ou seja, a Lei 10. 639 não é um produto da burocracia, mas um produto da união de 
forças vindas da sociedade brasileira. Desta forma, passamos a conhecer um pouco 
das ações que culminaram nessas diretrizes curriculares.
2.1 O MOVIMENTO NEGRO E A LUTA PELA INSERÇÃO DA 
HISTÓRIA DA ÁFRICA
Como já sinalizado, as reivindicações dos grupos de defesa das ideologias 
africanas e afro-brasileiras foram fundamentais para compreender a determinação 
da Lei nº 10.639.
Neste item, busca-se abordar ações que precederam a instituição dessa lei.
2.1.1 Um panorama das lutas e conquistas das ações 
afro no Brasil
O entendimento de que os movimentos sociais pelos direitos culturais, 
políticos, seja ele qual for, não é um ato neutro, mas é fundamental para a 
discussão do contexto das lutas e reivindicações dos grupos que defendem a 
ideologia africana e afro-brasileira. Para iniciarmos um diálogo sobre essas ações 
no Brasil, é necessário conceituar movimentos sociais.
Movimentos sociais são movimentos populares de representação de 
um grupo de interesses cuja ação social é orientada, o que descaracteriza como 
espontâneo, a fim de obter transformações políticas e econômicas em um 
novo cenário de transformações naturais, e sociais, levando em consideração 
a metodologia adotada, sua organização, seu contexto geográfico, seus 
representantes, ideologia, políticas, vitórias, derrotas, estrutura e experiência para 
se consolidar como representativo dentro de uma sociedade. (BRAGA, 1999).
 
As primeiras expressões do Movimento Negro no Brasil podem ser 
representadas a partir das formas de resistência dos africanos a escravidão ainda 
nos navios que os transportavam até o continente americano. Os quilombos, que 
representam no período escravista a expressão concreta da resistência negra são 
também configurações desse movimento negro.
No final do século XIX, algumas iniciativas de denúncia à discriminação 
racial se fazem presentes no cenário brasileiro. Entre elas, pode ser citada a criação 
do jornal paulista O Menelick, em 1915, que foi seguido de vários outros jornais, 
que buscaram denunciar a condição do negro na sociedade brasileira. Todavia, 
é somente a partir dos anos 30 do século XX, que organizações em defesa aos 
direitos dos negros começaram a surgir no Brasil.
UNIDADE 1 | A ÁFRICA NA SALA DE AULA
6
NOTA
A população negra em São Paulo, sentindo a necessidade de um movimento 
de identidade étnica e enfrentando as barreiras de uma imprensa branca (grande Imprensa) 
impermeável aos anseios e reivindicações da comunidade, recorreu à solução mais viável, que 
era fundar uma imprensa alternativa, em que os seus desejos, as denúncias contra o racismo, 
bem como a sua vida associativa, cultural e social se refletissem. Para mais informações sobre 
O Menelick acessar o texto: SANTOS, P. de S.; SALVADORI, M. A. B. CIDADANIA E EDUCAÇÃO 
DOS NEGROS ATRAVÉS DA IMPRENSA NEGRA EM SÃO PAULO (1915-1933). Disponível 
em: <http://www.faced.ufu.br/colubhe06/anais/arquivos/323PedroSouzaSantos _e_Maria 
AngelaSalvadori.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2010.
Em 1931, Henrique Cunha e José Correia Leite fundaram a Frente Negra 
Brasileira (FNB), que chegou a transformar-se em partido político em 1936.
O Primeiro congresso afro-brasileiro, realizado em Recife em 1934, reuniu 
intelectuais e homens do povo interessados em compreender a influência africana 
na formação do Brasil. O congresso buscou valorizar a tradição africana a fim de 
torná-la mais próxima da sociedade que ainda relutava em reconhecer e aceitar sua 
presença na cultura nacional. Esse Congresso foi organizado por Gilberto Freyre e 
pelo psiquiatra Ulisses Pernambucano. Participaram ainda nomes proeminentes da 
sociedade brasileira como: o pintor Cícero Dias, Jorge Amado e Renato Mendonça.
O Teatro Experimental do Negro (TEN) fundado em 1944, no Rio de Janeiro, 
por Abdias do Nascimento, foi responsável por expressiva produção teatral em 
que se buscava dinamizar a consciência da negritude brasileira e combater a 
discriminação racial. Ainda sob a orientação do TEN, foi realizado em 1950, na 
cidade do Rio de Janeiro o Congresso do Negro Brasileiro que trouxe para o 
cenário temas, como: a sobrevivência religiosa e folclórica africana e afro-brasileira, 
formas de luta (capoeira, batuque, pernada), línguas africanas, entre outros temas 
abordados pelos integrantes de diversas entidades de defesa ao direito do negro.
Ainda nos anos 50, iniciaram-se os primeiros estudos sobre preconceitos 
e estereótipos raciais em livros didáticos no Brasil. Estes estudos foram coibidos 
pela ditadura militar instaurada no Brasil na década posterior. O regime militar 
oficializou a democracia racial e a militância que ousou desafiar esse mito foi 
acusada de imitadora dos ativistas norte-americanos.
Nos anos 80, com a redemocratização do país, os estudos sobre preconceitos 
e estereótipos raciais em livros didáticos são retomados. Os resultados desses 
estudos apresentavam a depreciação de personagens negros, associada a uma 
valorização dos brancos.
A Comissão de Educação do Conselho de Participação e Desenvolvimento 
da Comunidade Negra e o Grupo de Trabalho para Assuntos Afro-brasileiros 
promoveram, em 1984, no estado de São Paulo, discussões com professores de 
TÓPICO 1 | POR QUE ESTUDAR ÁFRICA, TRÁFICO E AFRICANOS NO BRASIL?
7
várias áreas sobre a necessidade de rever o currículo e introduzir conteúdos não 
discriminatórios na educação.
Atendendo a reivindicações do Movimento Negro, o estado da Bahia, em 
1986, inseriu a disciplina Introdução aos Estudos Africanos na Educação Básica 
das escolas estaduais.
Em 1996, o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) instituiu como 
critério de avaliação dos livros didáticos comprados e distribuídos as temáticas 
que abordavam as questões raciais.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), em 1998, apresentavam a 
inclusão da Pluralidade Cultural entre os temas transversais, como orientação ao 
trabalho do professor.
Em 2003, a publicação da Lei nº 10.639 tornou obrigatório o ensino de 
História da África e dos afro-brasileiros na Educação Básica.
Entre as entidades que buscaram denunciar o racismo e organizar a 
comunidade Negra no Brasil, podemos destacar:
• O Grupo Palmares, criado em Porto Alegre em 1971.
• O CECAN (Centro de Estudos e Arte Negra), fundado em São Paulo em 1972.
• O SINBA (Sociedade de Intercâmbio Brasil-África), inaugurado no Rio de 
Janeiro em 1974.
• O Bloco Afro Ilê Aiyê, fundado em Salvador, também no ano de 1974.
• O MNU (Movimento Negro Unificado), criado em São Paulo em 1978. A 
segunda Assembleia Nacional do MNU, realizada em Salvador no mesmo ano, 
declarou a data de 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares como 
o Dia da Consciência Negra.
Na comemoração do centenário da abolição no Brasil, uma série de 
manifestações denunciava as condições dos negros no país. Aprovava-se uma 
nova constituição, e duas importantes reivindicações do MNU viraram textos 
constitucionais – a criminalização do racismo (Art. 5º) eo reconhecimento da 
propriedade das terras de remanescentes de quilombos (Art. 68) do Ato das 
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). Com o governo Fernando 
Henrique Cardoso, foi criado um Grupo de Trabalho Interministerial para a 
Valorização da População Negra, dando a partida nas primeiras iniciativas de 
ação afirmativa na administração pública federal. Em 2001, foi realizada a III 
Conferência Mundial de Combate ao Racismo, na cidade de Durban na África 
do Sul, que mobilizou o governo e as entidades do Movimento Negro e resultou 
em novos acontecimentos, como a reserva de vagas para negros em algumas 
universidades do país e novos compromissos assumidos pelo Estado em âmbito 
internacional. (FCRCN-MG - Fundação Centro de Referência da Cultura Negra).
FONTE: Adaptado de: <http://www.webartigos.com/articles/20706/1/MOVIMENTO-NEGRO/
pagina1.html>. Acesso em: 28 jun. 2010.
UNIDADE 1 | A ÁFRICA NA SALA DE AULA
8
E ainda, em março de 2003, o governo Federal criou a Seppir (Secretaria 
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) e instituiu a Política 
Nacional de Promoção da Igualdade Racial. O objetivo dessas ações é promover 
alteração positiva na realidade vivenciada pela população negra e rumar para 
uma sociedade democrática, justa e igualitária, revendo os desumanos séculos de 
preconceitos, discriminação a que foram submetidos os afro-brasileiros.
Nesse sentido, podemos afirmar que atualmente no Brasil, se tem criado 
condições para uma maior abertura para se discutir os problemas da sociedade 
negra, como as conferências contra a intolerância racial. Esse movimento se 
organizou em associações, grupos de apoio, fundações etc., com os objetivos 
de buscar a efetivação dos direitos à igualdade, promover a equidade entre a 
sociedade, através de ações afirmativas e políticas de integração social. Mas as 
velhas demandas continuam sendo lutas constantes do genérico Movimento 
Negro, como a luta pelo fim do racismo e exclusão da sociedade negra no mercado 
de trabalho e do conjunto de direitos que constituem dignamente um cidadão 
ativo no meio em que vive.
2.2 AÇÕES AFIRMATIVAS E AS COTAS PARA 
AFRODESCENDENTES NAS UNIVERSIDADES
Ocorrida em Durban, na África do Sul, entre os dias 31 de agosto e 8 
de setembro de 2001, a Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação 
Racial, Xenofobia e Intolerância Conexa reuniu mais de 2.500 representantes 
de 170 países, incluindo 16 chefes de Estado, cerca de 4.000 representantes 
de 450 organizações não governamen tais (ONG) e mais de 1.300 jornalistas, 
bem como representantes de organismos do sistema das Nações Unidas, 
instituições nacionais de direitos humanos e público em geral. Essa conferência 
representou um evento de importância primordial nos esforços empreendidos 
pela comunidade internacional para combater o racismo, a discriminação racial 
e a intolerância em todo o mundo.
ESTUDOS FU
TUROS
Remissão a Leituras – Caro(a) acadêmico(a)! Para aprofundar os seus 
conhecimentos no que diz respeito à Conferência Mundial contra o racismo, discriminação 
racial, xenofobia e intolerância conexa, sugerimos a leitura do documento resultante desse 
movimento. Disponível em: <https://www.safernet.org.br/site/sites/default/files/Racismo.pdf>. 
Acesso em: 24 abr. 2010.
TÓPICO 1 | POR QUE ESTUDAR ÁFRICA, TRÁFICO E AFRICANOS NO BRASIL?
9
Entre as ações resultantes desta conferência, encontra-se no plano 
educacional a adoção do sistema de cotas para negros nas universidades.
O que justificaria a adoção das ações afirmativas para afrodescendentes 
no sistema educacional brasileiro? Para responder essa questão vamos ler o texto 
de Flavia Piovesan, em que são apresentados elementos para refletir sobre esse 
questionamento. 
TRÊS SÃO OS ARGUMENTOS QUE SUSTENTAM A NECESSIDADE DE 
TAIS MEDIDAS NO CASO BRASILEIRO
O primeiro deles refere-se à própria exigência de uma educação 
voltada para valores e para a promoção da diversidade étnico-racial. Se o 
objetivo maior do processo educacional há de ser o pleno desenvolvimento 
da personalidade humana, guiado pelo valor da cidadania, do respeito, da 
pluralidade e da tolerância, afirma-se como absolutamente legítimo o interesse 
da Universidade em promover a diversidade étnico-racial, o que traduziria o 
benefício de maior qualidade e riqueza do ensino e da vivência acadêmica, 
contribuindo, ainda, para a eliminação de preconceitos e estereótipos raciais. 
O segundo argumento é de ordem político-social. Se se pretende uma 
sociedade mais democrática, com a transformação de organizações, políticas 
e instituições, o título universitário ainda remanesce como um passaporte 
para ascensão social e para a democratização das esferas de poder, com o 
“empoderamento” dos grupos historicamente excluídos. Para ampliar o número 
de afrodescendentes juízes(as), advogados(as), procuradores(as), médicos(as), 
engenheiros(as), arquitetos(as), dentre outros, o título universitário mostra-
se essencial. Acentua-se, ainda, que os afrodescendentes constituem menos 
de 2% dos estudantes nas Universidades públicas brasileiras, embora sejam 
45% da população brasileira, que é a segunda maior população negra do 
mundo, com exceção da Nigéria. A pirâmide dos estudantes universitários 
brasileiros aponta na sua base os negros(as) provenientes das escolas públicas, 
seguidos dos brancos(as) das escolas públicas, por sua vez, seguidos dos 
negros(as) de escolas privadas e tendo em seu ápice os brancos(as) de escolas 
privadas. As ações afirmativas, enquanto medidas especiais e temporárias, 
simbolizariam medidas compensatórias, destinadas a aliviar o peso de um 
passado discriminatório, que faz do Brasil um dos últimos países a abolir a 
escravidão. Significariam, ainda, uma alternativa para enfrentar a persistência 
da desigualdade estrutural que corroeu a realidade brasileira, por sucessivas 
décadas. Além disso, permitiriam a concretização da justiça em sua dupla 
dimensão: redistribuição (mediante a justiça social) e reconhecimento de 
identidades (mediante o direito à visibilidade de grupos excluídos).
Por fim, há o argumento jurídico, pois a ordem constitucional, somada 
aos tratados internacionais de proteção dos direitos humanos ratificados 
pelo Brasil (em especial a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas 
UNIDADE 1 | A ÁFRICA NA SALA DE AULA
10
de Discriminação Racial), acolhem não apenas o valor da igualdade formal, 
mas também da igualdade material. Reconhecem que não basta proibir a 
discriminação, sendo necessário também promover a igualdade, por meio 
de ações afirmativas. Além disso, a Constituição Federal de 1988 estabelece 
o princípio do pluralismo no campo do ensino e consagra como objetivos 
fundamentais da República, a construção de uma sociedade justa e solidária, 
com a redução das desigualdades sociais – o que vem a conferir lastro jurídico 
aos demais argumentos já expostos.
FONTE: PIOVESAN, Flavia. STF e a Diversidade Racial. Disponível em: <http://www.mundojuridico.
adv.br>. Acesso em: 24 abr. 2010.
O sistema de cotas para afrodescendentes nas universidades justifica-
se diante da constatação de que a universidade brasileira, ao longo da história 
desta instituição no Brasil, foi um espaço de formação profissional de maioria 
esmagadoramente branca, valorizando assim apenas um segmento étnico, onde 
a condição racial constituiu um fator de privilégios para brancos e de exclusão e 
desvantagens para os não brancos.
No entanto, se por um lado as políticas de ação afirmativa representam uma 
conquista, por outro, elas representam uma série de impactos sociais a exemplo: 
• instauração, no espaço acadêmico, de um mecanismo reparador das perdas 
infringidas à população negra brasileira; 
• acusar a existência do racismo e combatê-lo de forma ativa; 
• possibilidade de avaliação das consequências da inclusão de negros e negras na 
vida universitária; 
• convivência plural e diária com a diversidade humana em sua variedade de 
experiências e perspectivas;• estímulo da confiança de crianças e adolescentes negros em sua capacidade de 
realização; 
• estímulo aos estudantes negros para demandar de suas escolas um melhor 
nível educacional; 
• conscientização sobre o que é ser negro no Brasil; 
• irradiação dessas influências benéficas para todo o país.
TÓPICO 1 | POR QUE ESTUDAR ÁFRICA, TRÁFICO E AFRICANOS NO BRASIL?
11
3 DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO 
DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E PARA O ENSINO DE 
HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA
A Lei nº 10.639, de 2003, alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Brasileira em seu artigo 26 A, oportunizou a elaboração de um documento com 
vistas a orientar o trabalho na educação. 
Art. 26 – A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, 
oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura 
afro-brasileira.
§ 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo 
incluirá o estudo de História da África e dos Africanos, a luta dos negros no 
Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, 
resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política 
pertinentes à História do Brasil.
§ 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura afro-B=brasileira serão 
ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de 
Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.
FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.639.htm>. Acesso 
em: 22 abr. 2010.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações 
Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura afro-brasileira e Africana 
destinadas a orientar os trabalhos educacionais, fundamentar a prática docente 
e dar sustentação à obrigatoriedade da Lei nº 10.639, foi posto em circulação, a 
partir de março de 2004. Neste item, vamos buscar compreender os princípios 
que norteiam este documento.
3.1 POLÍTICAS DE REPARAÇÕES, DE RECONHECIMENTO E 
VALORIZAÇÃO DE AÇÕES AFIRMATIVAS
As chamadas políticas de ação afirmativa ou políticas compensatórias 
são muito recentes na história das ideologias antirracistas. Estas ações visam 
oferecer aos grupos discriminados e excluídos um tratamento diferenciado para 
compensar as desvantagens devidas à sua situação de vítimas do racismo e de 
outras formas de discriminação.
UNIDADE 1 | A ÁFRICA NA SALA DE AULA
12
As ações afirmativas atendem as determinações do Programa Nacional de 
Direitos Humanos, aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, com 
o intento de combater o racismo e a discriminação, como a Conferência da ONU 
em Durban, África do Sul em 2001.
3.2 EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
As relações étnico-raciais dizem respeito à reeducação de diferentes 
grupos étnicos, no caso brasileiro em específico, aos grupos negros e não negros. 
Dependendo de ações que priorizem trabalhos conjuntos, articulações entre 
processos educativos escolares, políticas públicas e movimentos sociais. Vale 
a pena destacar que as mudanças éticas, culturais, pedagógicas e políticas nas 
relações étnico-raciais nãos se limitam à escola. Mas exigem esforços da sociedade 
como um todo.
De acordo com as Diretrizes Curriculares, a educação das relações 
étnico-raciais deverá oportunizar aprendizagens, troca de conhecimento, 
desenvolvimento de projetos que visem à construção de uma sociedade justa, 
igual, equânime aos diferentes grupos étnicos.
3.3 HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA: 
PRINCÍPIOS NORTEADORES DO TRABALHO PEDAGÓGICO
É importante compreendermos que a obrigatoriedade da inclusão da 
História e Cultura afro-brasileira e Africana nos currículos da Educação Básica 
não apresenta o objetivo em mudar, ou substituir o foco etnocêntrico assentado 
nas raízes europeias por um africano. Todavia, o de ampliar o foco nos currículos 
escolares para a diversidade cultural, racial, social e econômica brasileira.
Assim, é preciso ter a clareza que o art. 26 A, acrescido à Lei nº 9.394/96, 
promove bem mais que a inclusão de novos conteúdos. Ele oportuniza o 
repensar das relações étnico-raciais, sociais, pedagógicas no sentido de orientar a 
reelaboração de estratégias que promovam novos olhares para a educação.
Para exemplificar, citamos alguns dos princípios que estruturam as 
Diretrizes Curriculares
TÓPICO 1 | POR QUE ESTUDAR ÁFRICA, TRÁFICO E AFRICANOS NO BRASIL?
13
3.3.1 Consciência política e histórica da diversidade
Este princípio deve conduzir:
• à igualdade básica de pessoa humana como sujeito de direitos;
• à compreensão de que a sociedade é formada por pessoas que pertencem 
a grupos étnico-raciais distintos, que possuem cultura e história próprias, 
igualmente valiosas e que em conjunto constroem, na nação brasileira, sua 
história;
• ao conhecimento e à valorização da história dos povos africanos e da cultura 
afro-brasileira na construção histórica e cultural brasileira;
• à superação da indiferença, injustiça e desqualificação com que os negros, os 
povos indígenas e também as classes populares às quais os negros, no geral, 
pertencem, são comumente tratados.
FONTE: Lei nº 10.639, 9 jan. 2003.
3.3.2 Fortalecimento de identidade e de direitos
O princípio deve orientar para:
• o desencadeamento de processo de afirmação de identidades, de historicidade 
negada ou distorcida;
• o rompimento com imagens negativas forjadas por diferentes meios de 
comunicação, contra os negros e povos indígenas; 
• as excelentes condições de formação e de instrução que precisam ser 
oferecidas, nos diferentes níveis e modalidades de ensino, em todos os 
estabelecimentos, inclusive os localizados nas chamadas periferias urbanas 
e nas zonas rurais.
FONTE: Lei nº 10.639, 9 jan. 2003.
UNIDADE 1 | A ÁFRICA NA SALA DE AULA
14
3.3.3 Ações educativas de combate ao racismo e a 
discriminação
O princípio encaminha para:
• a conexão dos objetivos, estratégias de ensino e atividades com a experiência de 
vida dos alunos e professores, valorizando aprendizagens vinculadas às suas 
relações com pessoas negras, brancas, mestiças, assim como as vinculadas às 
relações entre negros, indígenas e brancos no conjunto da sociedade;
• condições para professores e alunos pensarem, decidirem, agirem, assumindo 
responsabilidade por relações étnico-raciais positivas, enfrentando e superando 
discordâncias, conflitos, contestações, valorizando os contrastes das diferenças;
FONTE: Lei nº 10.639, 9 jan. 2003.
LEITURA COMPLEMENTAR
OS QUADROS CRONOLÓGICOS
Os quadros cronológicos da história da África põem também um 
problema muito delicado: tudo depende da região considerada. Certos setores, 
como a costa oriental ou a orla sul do Sara, evoluíram durante longos períodos, 
a par e passo com o mundo árabe. Outros, desde o início do tráfico de escravos 
(a costa da Guiné), estiveram estreitamente ligados à Europa. Enquanto certas 
regiões apenas tomarão contato com o mundo moderno no século XX. A data de 
1591 (Tondibi), tão significativa para o Sudão ocidental, não tem o mesmo valor 
para os reinos Luba ou Lunda. Mas, por outro lado, datas como a tomada de 
Constantinopla (1453), que não exerceram qualquer influência direta na história 
da África, não podem ser utilizadas como pontos de referência. As expressões 
Idade Média e Renascimento não terão, portanto, o mesmo sentido (se algum tem) 
para a nossa história. Da mesma maneira, as datas da Magna Carta inglesa, 
das Revoluções Americanas e Francesa, da Revolução Soviética de Outubro, 
por muito significativas que sejam para a história universal, não podem servir 
de marcos específicos para a história da África. Mesmo a data da colonização, 
tão importante para a história recente da África e para a delimitação das atuais 
fronteiras dos Estados, não constitui a única e nem a principal charneira em torno 
da qual se ordenaria toda a história destes países. O único método justo consistiria 
ao que parece, em estabelecer divisões de base que englobem as grandesépocas 
históricas dominadas pelo mesmo complexo de fenômenos. No interior dessas 
épocas é necessário demarcar regiões históricas caracterizadas por situações e 
TÓPICO 1 | POR QUE ESTUDAR ÁFRICA, TRÁFICO E AFRICANOS NO BRASIL?
15
condições particulares no decorrer de todo o período, e apenas no decorrer dele. 
Enfim, no interior de cada região histórica, em primeiro lugar analisada como tal, 
é preciso observar políticas que oferecem uma originalidade suficiente. Tendo em 
conta estes princípios, poder-se-iam distinguir as fases seguintes:
1º As civilizações paleolíticas caracterizadas por leadership incontestável da África.
2º A revolução neolítica e as suas consequências (desenvolvimento demográfico, 
migrações etc.).
3º A revolução dos metais ou a passagem dos clãs e reinos e impérios.
4º Os séculos de reajustamento: primeiros contatos europeus; tráfico de escravos 
e suas consequências (século XV-XIX).
5º A ocupação europeia e as reações africanas até ao movimento de libertação 
após a segunda guerra mundial.
6º A independência e os seus problemas.
É bem evidente que nunca existe uma separação perfeitamente nítida e 
que nem todas as regiões de África entram ao mesmo ritmo em cada um destes 
períodos. Mas o cenário geral não deixa de ser este.
Esta divisão tem a vantagem de pôr em realce os principais elementos 
motores da evolução humana, ou seja, os fatores socioeconômicos. É por esta 
razão que as grandes viragens não podem ser assinaladas pelos famosos marcos 
cronológicos em que a data de uma batalha leva à mudança de capítulo em certos 
compêndios escolares. De resto, ainda que se quisesse utilizar datas precisas, isso 
seria as mais das vezes impossível. Não se vá dizer, por esse motivo, que seja 
impossível escrever uma história da África, nem que se tenha de fazer tantas 
histórias quantas as regiões com ritmo de evolução diferente. Não se escreveram 
histórias da Europa quando, por exemplo, a revolução industrial em Inglaterra 
precedeu por vezes de um século a sua chegada à Europa meridional e central? 
Aliás, mesmo no interior de cada país não se veem ritmos históricos absolutamente 
diferentes? Não acederam certas regiões à vida moderna um ou dois séculos 
depois de outras?
Poder-se-ão assim distinguir como grandes regiões os países da África 
Ocidental até ao Kanem, subdividindo talvez os países da savana e os da floresta; 
os países da África do Norte, da África Oriental, da África Central e da África 
do Sul. No entanto, deve-se sublinhar de forma bem clara que se trata apenas 
de divisões, digamos, operacionais, metodológicas, para maior comodidade. 
UNIDADE 1 | A ÁFRICA NA SALA DE AULA
16
Com efeito, as relações que uniram fortemente todas estas partes integrantes são 
suficientes, apesar dos obstáculos naturais e do nível medíocre das técnicas de 
deslocação, para que se possa afirmar que tem havido, desde a pré-história, certa 
solidariedade histórica continental entre o vale do Nilo e o Sudão até à floresta 
guineense; entre aquele mesmo vale e a África Oriental, com, entre outras coisas, 
a dispersão dos Lwos; entre o Sudão e a África Central pela diáspora dos Bantos; 
entre a África Central e a África Oriental pelo comércio transcontinental, etc. 
houve trocas inter-africanas que constituem um puzzle apaixonante e explicam 
as analogias surpreendentes que se verificam através do continente do ponto de 
vista das estruturas políticas e das culturas materiais ou artísticas.
FONTE: KI–ZERBO, Joseph. Os quadros cronológicos. In: História da África Negra. Publicações 
Europa-América, s/d. p. 32-34.
17
Neste tópico, você viu que:
• A Lei nº 10.639 não é um produto da burocracia, mas um produto da união de 
forças vindas da sociedade brasileira.
• As reivindicações dos negros por melhores condições sociais no Brasil não é 
recente. Pelo contrário, desde a chegada do africano ao Brasil, já são perceptíveis 
indícios de que os africanos não foram totalmente submissos ao processo que 
os escravizou.
• Em 2001, a III Conferência Mundial de Combate ao Racismo realizado em 
Durban, na África do Sul, delineou os contornos das ações que resultaram 
no movimento pela reserva de cotas para afro-brasileiros nas Universidades 
brasileiras.
• A compreensão de como estão estruturadas as Diretrizes Curriculares 
Nacionais para a Educação das relações étnico-raciais e para o ensino de 
História e Cultura afro-brasileira e Africana, é fundamental para a inserção 
da temática em sala de aula.
RESUMO DO TÓPICO 1
18
Caro(a) acadêmico(a)! Resolva as questões a seguir:
1 Dos aspectos a seguir, quais você associaria à imagem do continente africano? 
Quais sinônimos você associaria a este continente? Após as suas escolhas, 
justifique sua resposta.
• A África é sinônimo de:
a) Riqueza.
b) Pobreza.
• A África é sinônimo de:
a) Estabilidade política.
b) Instabilidade política.
• A África é sinônimo de:
a) Atraso.
b) Desenvolvimento.
• A África é sinônimo de:
a) Saúde.
b) Doença.
• A África é sinônimo de:
a) Tribo.
b) Civilização.
2 A Lei nº 10.639 não é um produto da burocracia, mas um produto da união 
de forças vindas da sociedade brasileira. A partir desse apontamento, elabore 
um texto a respeito da luta pelas reivindicações do direito negro no Brasil.
AUTOATIVIDADE
F IGURA 1 – IMAGEM DO 
CONTINENTE AFRICANO
FONTE: Disponível em: <http://
www.guiageograf ico .com/
mapas/mapa/africa-globe.gif>. 
Acesso em: 25 abr. 2010.
19
TÓPICO 2
A LEI 10.639 E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
As diretrizes curriculares para a educação étnico-racial e para o ensino de 
História e Cultura Afro-brasileira e Africana sinalizam que entre os direitos dos 
cidadãos brasileiros, encontram-se o de cursar cada um dos níveis de ensino e de 
serem orientados por professores qualificados e com formação para lidar com as 
tensas relações produzidas pelo racismo e discriminações, sensíveis e capazes de 
conduzir a reeducação das relações entre diferentes grupos étnicos.
O fator chave para a implementação da Lei nº 10.639 é a formação dos 
professores. Eles serão os atores fundamentais desse processo. Para isso é 
necessário difundir, divulgar a proposta dessa lei, bem como ampliar o acesso à 
produção histórica em relação ao Continente Africano. 
Os conteúdos pertinentes ao ensino de história da África vêm se 
constituindo como uma realidade aos cursos de formação de professores. Essa 
realidade é problemática, sobretudo, porque se tem a obrigatoriedade da inserção 
dos conteúdos referentes a essa temática no currículo da educação básica. Mas as 
iniciativas em proporcionar formação específica nessa temática ao professor se 
encontram em processo de construção no ensino brasileiro. No entanto, não se 
pode negar e nem deixar de citar os núcleos de estudos afro-brasileiros e africanos 
junto às universidades federais, estaduais e também as iniciativas em âmbito 
estadual, municipal, privadas entre outros, engajados em divulgar e difundir as 
questões relacionadas aos estudos da África.
Desta forma, este tópico objetiva delinear e refletir sobre os desafios em 
introduzir a temática história e cultura afro-brasileira e africana nas salas de aula. O 
professor ao trabalhar com esta temática deve atentar para não reproduzir a condição 
de inferioridade e, em contrapartida, também, deve estar atento para não criar uma 
ideia de enaltecimento das sociedades africanas. Seu trabalho deverá possibilitar o 
entendimento do processo histórico, social, político e econômico que coloca a África 
na pauta de discussão em alguns momentos da História Geral e do Brasil.
UNIDADE 1 | A ÁFRICA NA SALA DE AULA
20
2 ENSINAR A RIQUEZA E A DIVERSIDADE DA HISTÓRIA E 
CULTURA AFRICANA
Para nós brasileiros, a África, como já sinalizado, tem uma importância 
peculiar, sendo juntamente com Portugal uma das grandes matrizes da nossa 
sociedade.
No entanto, como apresentar um continente rico em sua diversidade, 
como alinhar a significativa contribuição africana ao processo deconstrução 
histórica do Brasil. Se, esse mesmo continente é ainda alvo da divulgação de 
imagens depreciativas, onde os conflitos étnicos, genocídios, crianças famélicas 
e aidéticas, líderes corruptos e cruéis são apontados como sendo a realidade das 
muitas sociedades que compõem a mosaica África. 
Essa realidade é indicativa de que não basta fazer referência à África 
e à história e cultura afro-brasileira nas salas de aula, é preciso atentar para a 
abordagem dos conteúdos que serão trabalhados. Ela aponta, também, para a 
necessidade da formação docente, uma vez que os problemas decorrem da 
estratificação de um imaginário sobre a África, que a concebe como um continente 
pobre, subdesenvolvido, subalterno e incivilizado.
3 PROBLEMÁTICA DIDÁTICA
Considerando o olhar negativo sobre a África e africanos que predominou 
na sociedade brasileira durante um longo período, a questão abordada diz 
respeito ao problema com as fontes para ensino de História desse continente. 
O problema reside em: onde buscar leituras que propiciem informações sobre o 
Continente Africano, sua história e sua diversidade?
Como só há pouco tempo o tema passou a fazer parte do currículo escolar 
e a incorporar as preocupações dos pesquisadores, a carência de material e de 
fontes é relevante.
3.1 AS FONTES DE ENSINO PARA HISTÓRIA DA ÁFRICA
Nortear os estudos sobre a África na perspectiva de desnaturalizar, de 
desmistificar a imagem negativa e errônea que se construiu ao longo do tempo, 
requer um esforço didático sobre um corpo de obras interdisciplinares desprovidas 
de preconceitos ideológicos e que levem a compreender a configuração histórica 
desse continente e das sociedades africanas.
No Brasil existe um descompasso entre a produção acadêmica e os saberes 
que circulam nos espaços da educação básica, isto é, o conhecimento científico 
produzido nas universidades, nem sempre chegam às escolas.
TÓPICO 2 | A LEI 10.639 E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
21
O livro didático, instrumento importante na difusão do conhecimento, 
nem sempre é produzido à luz de novos saberes.
ESTUDOS FU
TUROS
Caro(a) acadêmico(a)! No próximo tópico, abordaremos com mais profundidade 
as questões acerca da História da África e a produção do livro didático.
Para mudar a forma como em geral lidamos com conteúdos relativos à 
África e os africanos, é indispensável conhecer acerca de suas realidades passadas 
e presentes. Para isso, já sinalizamos a importância de um esforço didático. Para 
auxiliá-lo disponibilizamos no ambiente virtual, um acervo contendo indicações 
de leituras sobre a História da África.
No entanto, é relevante lembrar que não são somente as fontes escritas 
que proporcionam conhecimento sobre a África.
4 AS NOVAS ABORDAGENS NO ENSINO DE HISTÓRIA DA 
ÁFRICA
Caro(a) acadêmico(a)! Para compreendermos a dinâmica que transfere um 
continente desprovido de história, constituído por sociedades ditas incivilizadas, 
composto por sujeitos inferiorizados para um continente rico em diversidade 
cultural, formado por diferentes sociedades com estruturas políticas, religiosas 
específicas, que viveram processos históricos variados e que devem ser entendidos 
como parte da história da humanidade. Precisamos voltar um pouco na história 
das disciplinas que compõem o Curso de História da Uniasselvi.
A disciplina de Processos Historiográficos possibilitou-nos compreender 
a dinâmica das novas correntes historiográficas que nos revelaram a existência, a 
possibilidade de novos olhares para a História. Ou seja, que existe uma variedade 
de abordagens históricas (como a questão de gênero, das migrações, da elaboração 
dos padrões próprios de organização política, econômica e social, dos valores 
estéticos, filosóficos e culturais, entre vários outros). A África também se insere 
nessa perspectiva de um novo olhar para a história.
Precisamos romper com a visão de que esse continente se constitui num bloco 
monolítico. Isto é, precisamos perceber a existência de várias Áfricas dentro de um 
extenso território. Áfricas que apresentaram e apresentam diferenças e semelhanças.
UNIDADE 1 | A ÁFRICA NA SALA DE AULA
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É fundamental que se entenda que a História desse continente não começa 
com a vinda dos escravos para as Américas, que não inicia com o colonialismo 
dos séculos XV e XVI e que também não começa e nem se esvai com a história da 
civilização egípcia. Na verdade, a história da África pré-colonial é uma história 
rica, em que povos estão organizados, no mínimo em clãs. Muitos deles formando 
reinos, estados e impérios, portanto com estruturas políticas diferentes (algumas 
com mais governo centralizado, outras com governo menos centralizado), mais 
estruturas políticas definidas.
Importante evidenciar que os africanos que vieram para as Américas, em 
específico para o Brasil, como cativos e que aqui se tornaram escravos, muitas 
vezes eram originários da nobreza africana.
DICAS
Livro “Reis Negros no Brasil Escravista – História da Festa de Coroação de Rei Congo” 
(Editora UFMG, 2002, 390 páginas), de Marina de Mello e Souza, professora de História 
da África na Universidade de São Paulo.
FONTE: Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/images/sps4_19.jpg>. 
Acesso em: 25 abr. 2010.
O livro busca traçar o processo histórico no qual as festas de coroação 
de Rei Congo se constituíram, privilegiando a perspectiva do encontro 
de culturas diferentes, que, em dado contexto de dominação social 
produziu manifestações culturais mestiças. Para tanto, foi necessário 
aprofundar o conhecimento da história e da cultura da África Centro-
Ocidental, que compreende a região chamada pelos portugueses, dos 
séculos XVI ao XIX, de Congo e Angola e preencher uma lacuna nos 
estudos de manifestações culturais afro-brasileiras, no que diz respeito 
às contribuições do mundo banto.
FIGURA 2 – CAPA DO LIVRO REIS NEGROS NO BRASIL ESCRAVISTA
4.1 OS NOVOS DESAFIOS
Um dos objetivos do acesso à História da África é possibilitar elementos 
que desnaturalizem a África como terra de escravos e os africanos como inferiores.
O professor engajado nesse desafio será, num primeiro momento, 
obrigado a desconstruir os estereótipos e preconceitos que povoam o imaginário 
social em relação à África.
 
TÓPICO 2 | A LEI 10.639 E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
23
4.2 A CULTURA NEGRA EM SALA DE AULA: ERROS E 
ACERTOS
Abordar questões como discriminação, racismo, preconceito, nem sempre 
é algo confortável. Tratar de temas que geram polêmicas são, ainda, práticas 
inovadoras no universo da escola.
E ainda, compreender que a história desse continente requer a conjunção 
de dois fatores essenciais: construir uma sensibilidade empática para com a 
experiência histórica dos povos africanos, e uma constante atualização dos 
referenciais sobre África, africanos e afro-brasileiros.
A obrigatoriedade do ensino da História da África está atrelada às múltiplas 
interações do corpo social brasileiro, estimulando o surgimento do que há de 
melhor, mas também aguçando as tendências mais conservadoras ligadas a um 
passado escravista mal assumido. É nesse sentido que o novo esforço do educador 
pode se transformar num fator democratizante. (WEDDERBURN, 2005).
Ainda segundo esse autor, um novo olhar sobre a África se converte numa 
exigência pragmática, acadêmica, cultural e política. As medidas capazes de garantir 
a generalização do ensino da história da África num país onde prepondera cultural 
e demograficamente o componente surgido desse continente, correspondem, 
efetivamente, a uma perspectiva de construção nacional de longo alcance.
Desta forma, inserir a história de um continente em sala de aula não será 
uma tarefa fácil, como já sinalizado, exigirá comprometimento e constante pesquisa.
IMPORTANT
E
Preconceito racial é o conceito negativo com relação a uma determinada raça. 
Discriminação racial implica ações discriminadoras baseadas em princípios preconceituosos.
UNIDADE 1 | A ÁFRICA NA SALA DE AULA
24
As discussões que envolvemo Continente Africano, certamente, não 
fugirão de discussões, reflexões, posicionamento, enfim, a inserção dessa temática 
dará novos contornos às aulas.
Seguem sugestões sobre como abordar o tema.
Erros 
Abordar a história dos negros a partir da 
escravidão.
Acertos
Aprofundar-se nas causas e consequências da 
dispersão dos africanos pelo mundo e abordar 
a história da África antes da escravidão.
Apresentar o continente africano cheio de 
estereótipos, como o exotismo dos animais 
selvagens, a miséria e as doenças, como a 
AIDS.
Enfocar as contribuições dos africanos para o 
desenvolvimento da humanidade e as figuras 
ilustres que se destacaram nas lutas em favor 
do povo negro.
Pensar que o trabalho sobre a questão racial 
deve ser feito somente por professores 
negros para alunos negros.
A questão racial é assunto de todos e deve 
conduzir para a reeducação das relações entre 
descendentes de africanos, de europeus e de 
outros povos.
Acreditar no mito da democracia racial.
Reconhecer a existência do racismo no Brasil 
e a necessidade de valorização e respeito aos 
negros e à cultura africana.
FONTE: BENCINI, Roberta. Educação não tem cor. Revista Nova Escola. Ano XIX, n. 177, nov. 
2004, p. 47-53.
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você viu:
• A inserção da temática História e Cultura Africana e Afro-brasileira é um 
desafio na educação brasileira.
• A África, junto com Portugal, é uma das grandes matrizes da sociedade 
brasileira.
• Não basta fazer referência à África e à história e cultura africana e afro-brasileira 
na sala de aula. É preciso atentar para a abordagem dos conteúdos que serão 
trabalhados.
• Precisamos romper com a visão de que o Continente Africano se constitui num 
bloco monolítico. Precisamos perceber as diversas Áfricas que compõem esse 
extenso continente.
• Desnaturalizar a África como terra de escravos e africanos como inferiores.
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Exercite seus conhecimentos adquiridos, resolvendo as questões a 
seguir:
1 Elabore um pequeno texto sobre a importância das fontes para o ensino da 
História da África. Sugestão: Aponte dificuldades, possibilidades e o uso 
em sala de aula. 
2 Reflita sobre o seguinte apontamento: O livro didático, instrumento 
importante na difusão do conhecimento, nem sempre é produzido à luz 
de novos saberes.
3 Aponte os novos desafios ao ensino de história da África.
4 No item 4.2 desse tópico, apresentamos possíveis erros e acertos à abordagem 
da História e Cultura Africana e Afro-brasileira. Escolha um desses itens e 
escreva um texto analisando a possibilidade desse tipo de abordagem em 
sala de aula.
AUTOATIVIDADE
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TÓPICO 3
A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOBRE ÁFRICA, 
AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
As ideias e imagens que povoam os cenários mentais da sociedade brasileira 
sobre a África e os africanos são resultados de um intenso processo de apropriação 
e invenção do diversificado e heterogêneo conjunto de formas e sentidos utilizados 
para observar às sociedades daquele continente. Representações formadas por 
elementos herdados de uma longa e multifacetada tradição e por outros fabricados 
a partir das experiências históricas que mostram os africanos e afro-brasileiros como 
submissos, inferiorizados, incivilizados e passíveis de escravização, o certo é que, 
boa parte dessas imagens, associa os africanos a uma série de leituras depreciativas, 
apesar de existirem também os esforços em sentido contrário. 
A imagem caricatural do africano na sociedade brasileira é a do negro 
acorrentado aos grilhões do passado, imagem construída pela insistência e 
persistência das representações da África como a terra de origem dos negros 
escravizados, de um continente sem história e repleto de amimais selvagens. A 
África é tida sempre como a diferente com relação aos outros continentes, há um 
bloqueio sistemático em pensar o africano sem o vínculo da escravidão. 
O imaginário social brasileiro tem dificuldades no processo do exercício 
da cidadania na formulação do modelo de origem dos afro-brasileiros. E são 
essas imagens que, ainda, povoam os livros didáticos no Brasil.
Para delinear essa reflexão acerca da representação do continente africano 
no imaginário social brasileiro, leia o fragmento do texto de Anderson Ribeiro 
Oliva.
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UNIDADE 1 | A ÁFRICA NA SALA DE AULA
VISÕES SOBRE A ÁFRICA
Em recente viagem à África, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva 
demonstrou a intenção do Estado brasileiro, pelo menos de forma simbólica, 
de quebrar o silêncio de algumas décadas nas relações econômicas e 
diplomáticas mais vantajosas entre as duas margens do Atlântico. Deixando 
de lado as perspectivas figurativas do tour pela região sul do Continente – 
São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Namíbia e África do Sul - o 
presidente, em seus improvisados, e, portanto, mais reveladores discursos, 
cometeu o que foi para alguns uma gafe, para outros uma dura ofensa à África. 
Ao fazer comentários sobre a limpeza e organização de Windhoek, capital da 
Namíbia, Lula evidenciou as imagens que incorporamos e perpetuamos sobre 
o Continente. Não tiremos as palavras do presidente, sua íntegra nos ajuda à 
reflexão sobre nosso imaginário acerca da África e dos africanos. 
Estou surpreso porque quem chega a Windhoek [capital da Namíbia], 
não parece estar num país africano. Poucas cidades do mundo são 
tão limpas, tão bonitas arquitetonicamente e têm um povo tão 
extraordinário como tem essa cidade [...]. A visão que se tem do 
Brasil e da América do Sul é de que somos todos índios e pobres. A 
visão que se tem da África é de que também é um continente só de 
pobre (CORREIO BRAZILIENSE, 2003, p. 2).
Não iremos crucificar o presidente como outros fizeram. Não que 
concordemos com tal disparate conclusivo, até porque, tendo oportunidade 
de se corrigir nos dias seguintes, Lula afirmou que apenas constatou o óbvio. 
Porém, é muito mais enriquecedor analisar os pensamentos do nosso chefe 
de Estado por outra dimensão. Independente de Lula ter formação superior 
ou não, ser presidente ou cidadão comum, nordestino ou gaúcho, pobre 
ou rico, sua postura de admiração com uma “cidade limpa” na África é 
surpreendentemente comum. Para ser mais claro: excluindo um seleto grupo 
de intelectuais e pesquisadores, uma parcela dos afrodescendentes e pessoas 
iluminadas pelas noções do relativismo cultural, nós, brasileiros, tratamos a 
África de forma preconceituosa. Reproduzimos em nossas ideias as notícias 
que circulam pela mídia, e que revelam um Continente marcado pelas misérias, 
guerras étnicas, instabilidade política, AIDS, fome e falência econômica. As 
imagens e informações que dominam os meios de comunicação, os livros 
didáticos incorporam a tradição racista e preconceituosa de estudos sobre 
o Continente e a discriminação à qual são submetidos os afrodescendentes 
aqui dentro. A África não poderia ter, fazendo uma breve inversão do olhar 
presidencial, ruas limpas, um povo extraordinário e bela arquitetura. Seguindo 
esse raciocínio, a viagem não poderia ter outra dimensão do que a econômica, 
e o Brasil não poderia ter outra postura do que a de ajuda humanitária à África, 
já que, por sermos tão melhores do que eles, seria ilógico esperar algo de lá.
 Para além da educação escolar falha, é certo afirmar que as interpretações 
racistas e discriminatórias elaboradas sobre a África e incorporadas pelos 
brasileiros são resultado do casamento de ações e pensamentos do passado 
TÓPICO 3 | A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOBRE ÁFRICA, AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS
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e do presente. Neste caso, percebe-se que as representações deturpadas sobre 
o Continente Africano não são uma exclusividade brasileira dos dias do 
presidente Lula. As distorções, simplificações e generalizações de sua história 
e de suas populações são comuns a várias partes e tempos do mundo ocidental. 
Dessa forma, sem continuarmos a reproduzir leituras e falas como a citada, é 
muito provável que o imaginário de nossas futuras

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