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CRIMES CONTRA HONRA - CALUNIA

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ANA CAROLINA SANTOS GOMES 
DOS CRIMES CONTRA HONRA: CALUNIA
VITORIA DA CONQUISTA-BA
2021
1. INTRODUÇÃO
 Entende- se por honra, o conjunto de atributos morais, físicos e intelectuais da pessoa, que lhe conferem autoestima e reputação. A Constituição Federal nos assegura o direito à honra em seu Art. 5º, X, que diz: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
 O Código Penal, por sua vez cuida dos crimes contra honra no capítulo V. Tais crimes são divididos em três figuras delituosas: a Calúnia (art. 138 do CP), a Difamação (Art. 139 do CP) e a Injúria (Art. 140 do CP).
Magalhães Noronha diferencia as espécies criminosas da seguinte forma: 
Caluniar é falsamente imputar a alguém fato definido como crime; difamar é imputar a alguém fato não criminoso, porém ofensivo a sua reputação; injuriar, ao inverso do que sucede na calúnia e na difamação, não é imputar fato determinado, mas sim atribuir qualidades negativas ou defeitos. (apud. SANCHES. p. 178. 2017). 
A doutrina comumente divide a honra em objetiva e subjetiva. A primeira refere- se à reputação e boa fama que o indivíduo desfruta no meio social, ou seja, é a conceituação dele perante a sociedade. A calúnia e a difamação ofendem a honra objetiva, pois atingem o valor social do indivíduo (nesse caso, tais delitos só se consumam quando terceiro toma conhecimento da ofensa). Já a segunda está relacionada com a dignidade e o decoro pessoal da vítima, isto é, o juízo que cada indivíduo tem de si (estima própria). O crime de injúria atinge a honra subjetiva (aqui dispensa o conhecimento por terceiros). 
A doutrina, também, distingue a honra dignidade da honra decoro. A Honra dignidade compreende aspectos morais, como a honestidade, a lealdade e a conduta moral como um todo. Já a Honra decoro consiste nos demais atributos desvinculados da moral, tais como a inteligência, a sagacidade, a dedicação ao trabalho, a forma física, etc.
Por fim, uma última diferenciação feita pela doutrina é entre a Honra comum a honra profissional. Esta diz respeito a determinado grupo profissional ou social, por exemplo, chamar um médico de açougueiro. Aquela, por sua vez, faz referência à honra que todos os homens possuem. 
1. NATUREZA JURÍDICA
Os crimes contra a honra são considerados crimes formais. O agente age com dolo de dano, quer ofender a honra alheia, contudo para se ter o crime como consumado prescinde-se da ocorrência do resultado, ou seja, que o agente cause danos à reputação do ofendido.
2. CONSENTIMENTO DO OFENDIDO
O núcleo (verbo) de cada uma das ações típicas descritas nos arts. 138, 139 e 140 do Código Penal pressupõe que a ofensa se dê contra a vontade do ofendido, razão pela qual o seu consentimento opera uma causa geradora de atipicidade. Importante lembrar que o consentimento posterior ao crime, revelado pela não propositura da ação penal privada, não tem o mesmo condão, sendo, nessa hipótese, causa extintiva da punibilidade, manifestada pela decadência (CP, art. 107, IV).
3. CONCURSO DE CRIMES
Sem sombras de dúvidas, existe o concurso de infrações quando são praticados dois ou mais delitos contra a honra (ainda que diferentes), em contextos fáticos autônomos. Entretanto, quando essas espécies delituosas são praticadas no mesmo contexto de fato, tem- se decisões diferentes. Uma dessas decisões reconhece a continuidade delitiva, pois ofendem o mesmo bem jurídico. Por outro lado, existe a corrente que prefere aplicar ao caso o princípio da consunção, isto é, o crime mais leve é absorvido pelo mais grave, não importando a espécie de honra ofendida. Por fim, há quem pense que há possibilidade do concurso de delitos somente quando da(s) conduta(s) são atingidas honras diferentes. Assim, esta corrente admite o concurso, material ou formal, a depender do caso, entrecalúnia (ou difamação) e injúria.
O STJ, portanto,decidiu ser possível o concurso entre calúnia, difamação e injúria na situação em que o agente divulga, por meio do mesmo escrito, dizeres ofensivos que se subsumam às três figuras delituosas.
I. CALÚNIA
1. TIPIFICAÇÃO
 Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
 Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
Exceção da verdade
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141;
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.(BRASIL, 1940)
2. OBJETO JURÍDICO
Tutela-se a honra objetiva (reputação), ou seja, aquilo que as pessoas pensam a respeito do indivíduo no tocante às suas qualidades físicas, intelectuais, morais, e demais dotes da pessoa humana. 
Em razão da pena cominada, são aplicáveis tanto a transação penal como a suspensão condicional do processo, salvo se incidente a causa de aumento do art. 141, que obstará a transação.
3. SUJEITOS DO CRIME
 Via de regra, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime de calúnia. Excepcionalmente não podem ser autores do crime contra honra pessoas que desfrutam de inviolabilidade (senadores, deputados, vereadores, estes nos limites do município em que exerçam a vereança).
É saliente lembrar que caluniador não é apenas o autor original da imputação, mas também quem a propala ou divulga.
Quanto ao sujeito passivo, não se exige qualidade especial da vítima. Aliás, incriminando-se a falsa imputação de fato “definida como crime" (que não se confunde com imputar a "prática de crime"), os menores e loucos também podem ser sujeitos passivos. Entretanto, Noronha discorda, dizendo o seguinte:
''A verdade é que, diante de nossas leis, o menor de dezoito anos não pratica crime, e, portanto, este não lhe pode ser imputado. Diga-se o mesmo dos enfermos mentais. Como para aquele, falta-lhes imputabilidade penal e, consequentemente, não podem ser caluniados." (apud. SANCHES. p. 182. 2017).
4. CONDUTA
É o verbo caluniar, que significa imputar falsamente fato definido como crime. O agente atribui a alguém a responsabilidade pela prática de um crime que não ocorreu (falsidade que recai sobre o fato) ou que não foi por ele cometido (falsidade que recai sobre o sujeito). Trata-se de crime de ação livre, que pode ser praticado mediante o emprego de mímica, palavras (escrita ou oral).
A falsa imputação de contravenção penal não caracteriza calúnia, e sim difamação.
5. VOLUNTARIEDADE
O dolo de dano consiste na vontade de ofender ou denegrir a honra da vítima. Exige-se que tanto o caluniador quanto o propalador tenham consciência da falsidade da imputação. Dessa forma, o dolo também pode ser direto ou eventual quando ao caput , contudo, poderá somente ser direto ao que se refere o § 1º. 
Não se admite a modalidade culposa.
6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Consuma- se o crime no momento que a falsa imputação torna-se conhecida por outrem, que não o sujeito passivo. Trata-se de delito formal, perfazendo-se independentemente do dano à reputação do ofendido.
Somente quando praticada por escrito é que admite tentativa.
7. EXCEÇÃO DA VERDADE
Em defesa do interesse da moralidade pública, o nosso Código admite a exceptio veritatis (exceção da verdade), isto é, a prova da verdade da imputação, e a consequente atipicidade da conduta. Provada a veracidade do fato criminoso imputado, não há que se falar na configuração do crime de calúnia, ante a ausência do elemento normativo “falsamente”.
Em regra, a exceção da verdade é admissível no crime de calúnia, salvo nas seguintes hipóteses:
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;
 II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I doart. 141;
 III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.(BRASIL, 1940)
Por tal razão, segundo o inc. I, permitir ao caluniador provar a verdade dos fatos imputados seria admitir a terceiro provar crime sobre o qual a própria vítima, real titular do direito de perseguir os fatos, preferiu o silêncio. A ressalva final do inciso em comento deixa claro que, havendo condenação definitiva, a exceção da verdade é cabível.
Quanto ao inc. II, a ressalva deve ser ampliada pelo intérprete, abrangendo a expressão "chefe de governo estrangeiro" também o primeiro ministro. Razões políticas e diplomáticas ditam a pertinência da ressalva aqui estudada.
Outrossim, de acordo com o inc. III, tendo proclamada a absolvição do acusado, deve ser reconhecida a autoridade da coisa julgada, presumindo-se, absolutamente, a falsidade da imputação.
8. EXCEÇÃO DE NOTORIEDADE
 A notoriedade do fato imputado consiste na oportunidade facultada ao réu de demonstrar que suas afirmações são do domínio público.
REFERENCIAS
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte Especial (arts 121 ao 212). 19ª ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019
CUNHA, S. Rogério. Manual de Direito Penal: Parte Especial (arts 121 ao 361). 9ª ed. Salvador: JusPODIVM, 2017.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, volume II: introdução à teoria geral da parte especial: crimes contra a pessoa.14. ed.Niterói,RJ: Impetus, 2017.

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