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RECUPERAÇÃO E FALÊNCIA UNIDADE 1 RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS

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- -1
RECUPERAÇÃO E FALÊNCIA
RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS
Paula Muzzi
- -2
Olá!
Olá,
Você está na unidade de Recuperação de Empresas. Conheça aqui um pouco mais sobre a Lei de Falências (Lei
11.101/2005) e aprenda como funciona os processos e os procedimentos que envolvem esse instituto jurídico.
Descubra também os motivos que levaram o Direito brasileiro a oferecer esta modalidade e as vantagens que as
empresas têm a partir daí.
Bons estudos!
- -3
1 Recuperação de Empresas
A recuperação empresarial surge da necessidade do Direito em criar mecanismos para que as empresas em crise
pudessem se reestabelecer e retornar ao mercado em condições de competir. O instituto trouxe um novo olhar
sobre a atividade empresária, que não mais se limita somente à figura do sócio, acionista ou investidor: ela
também passou a ser vista como uma fonte produtora, geradora de empregos, coletiva e ambientalmente
responsável e integrante de uma ordem econômica muito mais ampla.
Por isso, o Direito atua para remediar os problemas e tentar encontrar soluções para as crises organizacionais,
no caso delas aparecerem. Essa crise pode se manifestar de pelo menos três formas, segundo Coelho (2012):
Crise econômica
Quando as vendas deixam de ser suficientes para a manutenção do negócio.
Financeira
Quando falta dinheiro em caixa para a empresa conseguir pagar as suas obrigações.
Patrimonial
Quando o ativo (rendimentos) se torna menor que o passivo (saídas) e as dívidas superam os bens da empresa.
As adversidades pelas quais passa uma empresa, contudo, podem não se restringir ao âmbito da atividade
empresária e aos prejuízos suportados pelos sócios e investidores (que alocaram recursos no desenvolvimento
de um negócio) e pelos credores (que enfrentarão dificuldades na satisfação de seu crédito). Muito mais do que
isso, a crise empresária pode significar a extinção de cargos de trabalho, a diminuição de investimentos para o
desenvolvimento de um território, deficiências e encarecimento na oferta de produtos ou serviços para a
população e a diminuição da arrecadação de tributos.
Fique de olho
Uma das primeiras decisões envolvendo recuperação judicial de empresas surgiu em 1934 nos
Estados Unidos para atenuar os efeitos da crise provocada pela da Bolsa de Valores de Nova
York, em 1929, segundo Coelho (2012). Em outros lugares do mundo demorou um pouco mais
para o instituto ser introduzido na lei. Na França foi somente em 1987. Na Itália, no fim dos
anos 1970 (sob a denominação “administração extraordinária). Em Portugal, em 1976 (com a
“declaração da empresa em situação econômica difícil”, que, mais tarde, daria origem ao
Código dos Processos Especiais de Recuperação da Empresa e da Falência). No Brasil, a Lei de
- -4
No Brasil, a recuperação de empresas foi inserida no ordenamento jurídico em 2005, com a entrada em vigor da
Lei de Falências (Lei 11.101/2005). Na ocasião, dois mecanismos foram instituídos:
a recuperação judicial;
a recuperação extrajudicial.
Ambas surgiram em substituição às previsões feitas em leis anteriores sobre concordata, que visava a evitar a
falência, mas não oferecia meios hábeis à recuperação da atividade empresária, conforme se verá.
Mesmo assim, Coelho (2012) defende o fato de que nem toda empresa deve ou merece ser recuperada. Segundo
ele,
A reorganização de atividades econômicas é custosa. Alguém há de pagar pela recuperação, seja em
forma de investimentos no negócio em crise, seja na de perdas parciais ou totais de crédito. Em
última análise, como os principais agentes econômicos acabam repassando aos seus respectivos
preços as taxas de riscos associados à recuperação judicial ou extrajudicial do devedor, o ônus da
reorganização das empresas recai na sociedade brasileira como um todo. O crédito bancário e os
produtos e serviços oferecidos e consumidos ficam mais caros porque parte dos juros e preços se
destina a socializar os efeitos da recuperação de empresas (COELHO, 2012, p. 251/252).
Apesar disso, a própria lei traz algumas exceções a quais não cabem aplicar a recuperação de empresas. O art. 2º
da Lei de Falências enumera os tipos que são exceção ao instituto:
empresa pública
sociedade de economia mista
instituição financeira pública ou privada
cooperativa de crédito
consórcio
entidade de previdência complementar
sociedade operadora de plano de assistência à saúde
Código dos Processos Especiais de Recuperação da Empresa e da Falência). No Brasil, a Lei de
Falência de 2005 introduziu o procedimento da recuperação de empresas, em substituição à
concordata (COELHO, 2012).
- -5
sociedade seguradora
sociedade de capitalização
outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.
Assim, a ingerência do Direito deve se limitar aos casos em que atividade empresária se mostre viável, pois, só
assim, a empresa recuperada estaria apta para atender à sua função social.
- -6
2 O princípio da função social
O conceito de função social surgiu, inicialmente, voltado às questões da propriedade privada. O mundo vivia um
contexto de migração: passava do Estado Liberal (que primava pela fruição absoluta dos direitos subjetivos e
pela diminuta intervenção do Estado nas relações privadas) para o Estado Social (que busca garantir a
propriedade privada e a liberdade de iniciativa, sem negligenciar, contudo, os interesses da sociedade como um
coletivo).
A ideia da função social da propriedade privada foi, então, se alastrando para outros ramos do direito. Nos
contratos, por exemplo, deu início a discussões sobre a liberdade de contratar, a boa-fé contratual e o uso de
ferramentas de mitigação de desigualdades substanciais entre os contratantes.
Não tardou que o conceito chegasse também à atividade empresária. Em um primeiro momento, no entanto, ele
estava atrelado e um aspecto mais patrimonial e ligado aos bens de produção, de forma a promover alterações
estruturais para atender a interesses de empregados, consumidores e da coletividade em geral.
Assista aí
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/544e034799ec223896c398cae2227783
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2.1 A função social da empresa
Com o tempo, a função social passou a atingir o controle e a administração das empresas, entendendo que a
gestão deveria estar alinhada com os anseios e necessidades coletivas e atender às regras da concorrência. Isso
tudo de forma a garantir os direitos dos consumidores, a busca pelo pleno emprego e prática da defesa do meio
ambiente - princípios norteadores da ordem econômica nacional e elencados no art. 170 da Constituição da
República de 1998.
A função social da empresa, portanto, surge do atendimento a esses princípios constitucionais, cujo
compromisso é proporcionar benefícios para todos os indivíduos que estejam envolvidos direta e indiretamente
na atividade. Assim, diante desta previsão constitucional, surge para o Estado o interesse em promover a
regulação legislativa de tais princípios, de forma a garantir-lhes efetividade.
Foi assim que, dois anos depois, nasceu o Código de Defesa do Consumidor (CDC), que concretiza a previsão
trazida pelo inciso V do art. 170. Em 2000, o Estado brasileiro criou também a Lei 10.101/2000, que garante
participação dos trabalhadores nos lucros empresariais, regulando o inciso VIIII do art. 170 e o art. 7º da
Constituição Federal, e também o parágrafo único do art. 140 da Lei das Sociedades Anônimas (Lei 6.404/1976),
que passou a admitir as sociedades anônimas contem com representantes dos trabalhadores no seu Conselho de
Administração.
Figura 1 - Leis trazem benefícios aos trabalhadores
Fonte: Monkey Business Images, Shutterstock (2020).
#PraCegoVer: a imagem mostra seis pessoas sentadas ao redor de uma mesa comprida, três de um ladoe três
do outro, todas frente a frente e com um computador.
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É certo, contudo, que o sentido de função social da empresa não se esgota nos princípios trazidos pelo art. 170 da
Constituição. O alcance dela também implica, muitas vezes, em ampliar ou modificar o interesse social da
sociedade empresária para abranger todos aqueles afetados pela atividade. Esse interesse social “é o parâmetro
que conforma os fins e os meios pelos quais tal atividade deve ser exercida, diante dos valores ou objetivos
maiores que justificam a existência da própria sociedade” (FRAZÃO, 2018, s./p.).
Segundo Perlingieri (1984), a função social da empresa não serve para representar apenas uma forma
meramente limitadora. Ela também assume uma dimensão ativa, que conduz a criação de deveres positivos a
serem observados pelos gestores. Isso pode ser efetivado de diversas maneiras, como, por exemplo,
normas imperativas a serem observadas pelos gestores
incentivo para desenvolvimento de programas filantrópicos
implementação de modelos de co-gestão em que trabalhadores são internalizados nos Conselhos de
Administração (como acontece com a possibilidade trazida pelo art. 154 da Lei das SAs).
É o caso, por exemplo, dos arts. 129 e seguintes da Lei de Falências que limita os atos de gestão em prol da
proteção dos credores, e dos arts. 54 e 83, inciso I, que protege detentores de créditos oriundos da legislação
trabalhista.
No entanto, além dessa faceta positiva, a função social da empresa também apresenta uma dimensão negativa.
Isso porque ela limita o exercício de direitos subjetivos e de liberdades que, embora estejam em conformidade
com o direito (sejam lícitos), são contrários ao fim social assumido pela sociedade empresária. Esse lado
negativo do princípio costuma estar muito atrelado à figura do abuso de direito, cujos atos possuem trajes de
licitude, mas, por outro lado, culminam em um prejuízo aos interesses da coletividade.
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3 A evolução da Lei de Falências no Brasil
A concordata era o instituto jurídico que antecedeu a recuperação de empresas. Ela surgiu com o objetivo de
solucionar a questão da insolvência de uma empresa e representava uma saída para a situação de endividamento
como forma de evitar a decretação da falência e suspender seus efeitos.
A antiga Lei de Falências (Decreto-Lei 7.661/1945), em vigor no país antes de 2005, definia as espécies de
concordata no seu art. 139:
Art. 139 - A concordata é preventiva ou suspensiva, conforme for pedida em juízo antes ou depois da
declaração de falência.
A concordata preventiva era aquela requerida para prevenir a decretação da falência do devedor comerciante. E
a suspensiva era concedida já no decorrer do processo falimentar, logo após a sentença declaratória da quebra,
para evitar a liquidação imediata da empresa e, assim, suspender a falência e proporcionar ao comerciante a
oportunidade de se reestabelecer. Assim, ao sustar os efeitos danosos da falência, a concordata suspensiva
permitia ensejar “melhor forma de pagamento aos credores (em lugar da venda dos bens pela melhor oferta ou
em leilão), ao mesmo tempo que, evitando a liquidação do estabelecimento, possibilita a continuidade da
” (ALMEIDA, empresa 1996, p. 422). 
A concordata se dividia em três subgrupos:
Moratóriaou dilatória
Quando o devedor requeria dilação de prazo para que pudesse pagar a dívida em sua integralidade.
Remissória
Quando o devedor objetivava obter um desconto no valor do débito, por meio da negociação com os próprios
credores.
Mistaou dilatória-remissória
Quando a ideia era obter ambos os efeitos ao mesmo tempo.
Com a suspensão das cobranças, a empresa ficava mais capitalizada e poderia se reorganizar para, dentro do
prazo concedido, gerar a receita necessária para quitação do seu passivo. Mas caso isso não acontecesse, a
falência seria decretada com a liquidação dos seus bens para pagamento das dívidas contraídas.
A exposição de motivos do Decreto-Lei 7.661/1945 qualificava a concordata como um verdadeiro favor judicial
(BRASIL, 1945). Esse era o entendimento de sua natureza jurídica processual, uma vez que não havia um acordo
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ou um contrato com os credores, apenas um pedido destinado ao juízo e que poderia vir a ser acatado, caso
houvesse atendimento aos requisitos imposto pela lei. Na concordata, portanto, era o magistrado quem possuía
amplos poderes de decisão para deferir ou não o requerimento – e não os credores, como acontece hoje.
O pedido de concordata tinha o desejo de congelar o valor do débito, o que, em um período em que a inflação no
Brasil crescia desenfreadamente, favorecia amplamente o devedor na solução dos problemas financeiros de sua
empresa, tornando possível que os pagamentos fossem realizados nos prazos fixados. Caso contrário, quando
chegava a data para a quitação do débito, o montante cobrado estava absolutamente depreciado, aumentando
sensivelmente a possibilidade de solução.
A questão, portanto, é que o objetivo da concordata se restringia a evitar a falência. Ela não se ocupava em
promover a efetiva recuperação da empresa e, muito menos, de ajudá-la a se reinserir no mercado de forma apta
a participar da concorrência que o rege.
3.1 O advento da Lei 11.101/2005
A Lei 11.101/2005 representa um verdadeiro divisor de aguas ao estabelecer os novos regimes da recuperação
judicial e extrajudicial em substituição da concordata, que foi extinta com a chegada desse novo ordenamento.
Desde então, o Brasil possui duas medidas judiciais voltadas para a recuperação da empresa em crise: a
recuperação judicial e a homologação judicial do acordo de recuperação extrajudicial.
A diretriz mestra do legislador ao estabelecer mecanismos de recuperação é atender às normas constitucionais
que preveem a função social da propriedade e o incentivo à atividade econômica previstas no inciso II do art.
170 e no art. 174 da Constituição Federal, respectivamente (NEGRÃO, 2013). Ou seja, é das normas
constitucionais que decorre o objetivo da recuperação de empresas: “fonte produtora, emprego dos
trabalhadores e interesses dos credores” (NEGRÃO, 2013, p. 158).
Para Coelho (2012, p. 403/404), ambas objetivam buscar “o saneamento da crise econômico-financeira e
patrimonial, preservação da atividade econômica e dos seus postos de trabalho, bem como o atendimento aos
interesses dos credores”.
Além disso, a Lei de Falências traz o conceito de empresa como o “exercício da atividade empresarial”, de forma
a distingui-lo, indiretamente, da figura do empresário, conforme lembra Negrão (2013, p. 158). Isso significa o
principal ponto de virada da legislação: concentrar toda a tutela à empresa e não ao seu condutor, visão que a faz
se distanciar das legislações que a precederam e que tentavam, em verdade, promover a recuperação do
devedor, empresário, titular da empresa e não da atividade em si (NEGRÃO, 2013).
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3.2 As diferenças entre a recuperação de empresas e a concordata
Enquanto a concordata buscava evitar ou suspender a falência, a recuperação e empresas objetiva a preservação
da empresa e a manutenção dos interesses dos credores, dos empregados e da sociedade como um todo.
O quadro a seguir faz uma breve comparação entre os institutos:
Figura 2 - Recuperação de empresas X concordata
Fonte: Elaborado pela autora (2020).
#PraCegoVer: O quadro está dividido em duas colunas; à esquerda mostra as características da recuperação
judicial (conforme a lei em vigor atualmente no Brasil) e, à direita, as características da concordata (que fazia
parte da legislação anterior).
Assista aí
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/5e602263cbbc68d26dc9d2357ff27226
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4 Pressupostos da recuperação judicialA recuperação judicial é um processo judicial específico que pressupõe a prática de atos judiciais. Justamente por
consistir em procedimento desenvolvido em juízo sobre regramentos postos na legislação, entende-se que sua
natureza jurídica é de . Consequentemente, se atribui ao plano de recuperação judicial a naturezaação judicial
de uma vez que se realiza ao longo de um processo e se submete à homologaçãonegócio jurídico processual, 
judicial.
O mesmo se aplica no caso do acordo de recuperação extrajudicial, que, embora seja realizado de forma
administrativa, ainda depende da homologação judicial. Isso porque o acordo, propriamente dito, é estabelecido
dentro do âmbito judicial, com procedimento e requisitos específicos pré-definidos em lei.
Pelos mesmos motivos, a concordata também possuía natureza jurídica de ação judicial. O único instituto que
foge a essa regra, apresentando natureza jurídica diversa, é a recuperação extrajudicial não homologada – que,
como o próprio nome diz, consiste em mero acordo entre as partes.
Assim, é preciso que a empresa esteja de acordo com alguns requisitos específicos para pleitear a recuperação
judicial. Todos eles estão definidos no art. 48 da Lei 11.101/2005.
O principal deles envolve o registro regular da empresa. O devedor, portanto, deve provar que está exercendo
regulamente as suas atividades empresárias há pelo menos dois anos. Esse é o período mínimo para que ele
possa estar apto a pedir a sua recuperação. Ao determinar essa condição, a legislação pretendia evitar que
empresários sem registro nos órgãos competentes conseguissem pleitear a sua recuperação. Afinal, o
empresário que sequer conseguiu superar as primeiras dificuldades de implementação de seu negócio
certamente não estará habilitado a prosseguir em sua atividade.
O segundo requisito diz respeito às condições de falências já sofridas anteriormente pelo mesmo empresário.
Para requerer a recuperação nestes casos, ele precisa provar, no momento do pedido, que as suas obrigações e
responsabilidades como falido já tenham sido declaradas extintas por sentença.
O terceiro requisito, na mesma linha do anterior, compreende os pedidos de recuperação já feitos no passado.
O devedor, no caso, não pode ter obtido outra recuperação judicial há menos de cinco anos, conforme preconiza
os incisos II e III do art. 48. A ideia dos legisladores é reforçar o fato de que o instituto da recuperação visa a
sanar crise temporária, o que não condiz com a necessidade de socorrer-se de tempos em tempos a essa
proteção. Pelo contrário, isso só evidencia que os problemas pelos quais a empresa passa são perenes,
insuperáveis e a recuperação não se presta a promover a recuperação de empresas inviáveis.
- -14
O último requisito envolve o fato do devedor não ter sido condenado nos crimes de natureza falimentar
previstos na mesma Lei 11.101/2005, assim como também o seu sócio administrador ou o seu controlador.
4.1 Legitimidade ativa
O ordenamento jurídico brasileiro autoriza apenas o a requerer a própria recuperação judicial, nosdevedor
termos do art. 48 da Lei 11.101/2005.
A única exceção diz respeito ao devedor já falecido. Neste caso, poderão pugnar pela recuperação judicial em seu
nome o cônjuge, os herdeiros, o inventariante ou, ainda, o sócio remanescente (que assumiu a empresa em seu
lugar).
Assim, o procedimento de recuperação judicial só será deflagrado por opção do devedor. Pouco importa se seus
credores ou empregados assim desejem (Coelho, 2012).
Coelho (2013, p.430) ainda ressalta uma questão curiosa sobre a temática: o legitimado ativo para o processo de
recuperação judicial coincide com o legitimado passivo para o processo de falência. Isto porque, “somente quem
está exposto ao risco de ter a falência decretada pode pleitear o benefício da recuperação judicial”.
Fique de olho
Alguns autores fazem severa crítica acerca deste último requisito por entenderem que ele
penaliza a empresa em si, enquanto deveria atingir apenas à pessoa do dirigente que cometeu
o ilícito (seja o titular da empresa individual, o seu administrador ou o seu controlador).
- -15
4.2 Créditos submetidos
A lei orienta que o plano de recuperação de uma empresa englobe todos os créditos existentes na data da
propositura da ação. E isso independe deles estarem vencidos ou não. A determinação está no art. 49 da Lei de
Falências, onde se vê:
Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda
que não vencidos (BRASIL, 2005).
Ocorre que o próprio artigo prevê também algumas exceções. O parágrafo 3º, por exemplo, contempla os
chamados credores de domínio e o parágrafo 4º cuida da recuperação dos créditos decorrentes de adiantamento
por contrato de câmbio.
§ 3º Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de
arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos
contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de
proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da
recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais,
observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o
§ 4º do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a
sua atividade empresarial.
§ 4º Não se sujeitará aos efeitos da recuperação judicial a importância a que se refere o inciso II do art. 86
desta Lei (BRASIL, 2005).
O inciso II do art. 86, por sua vez, prevê:
Art. 86. Proceder-se-á à restituição em dinheiro:
I – se a coisa não mais existir ao tempo do pedido de restituição, hipótese em que o requerente
receberá o valor da avaliação do bem, ou, no caso de ter ocorrido sua venda, o respectivo preço, em
ambos os casos no valor atualizado;
II – da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional, decorrente de adiantamento a
contrato de câmbio para exportação, na forma do art. 75, §§ 3º e 4º , da Lei nº 4.728, de 14 de julho
de 1965, desde que o prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações, não exceda o
previsto nas normas específicas da autoridade competente (BRASIL, 2005).
Antes disso, os arts. 6 e 7 da mesma lei mencionam que os créditos de natureza fiscal também estão excluídos da
recuperação.
- -16
Contudo, é importante ter claro que o conteúdo do art. 68 - que prevê que as Fazendas Públicas e o Instituto
Nacional de Seguridade Social (INSS) podem deferir o parcelamento dos seus créditos em sede de recuperação
judicial - já foi, há muito, superada pela jurisprudência.
4.3 Créditos trabalhistas
Embora estejam sujeitos à recuperação, os créditos trabalhistas possuem algumas peculiaridades, especialmente
no que diz respeito ao prazo para o seu pagamento. Diz o art. 54 da Lei 11.101/2005:
Art. 54. O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a 1 (um) ano para
pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho
vencidos até a data do pedido de recuperação judicial.
Parágrafo único. O plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dias para o
pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, dos créditos de natureza
estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores ao pedido de recuperação judicial
(BRASIL, 2005).
Assim, pode-se afirmar que a verificação e a habilitação de créditos trabalhistas na recuperação de empresas
segue o mesmo procedimento estabelecido para a falência.
Fique de olho
Ainda que os créditos trabalhistas estejam sujeitos à recuperação, a apuração de sua existência
e a sua quantificação serão promovidas perante a Justiça do Trabalho a qual foi atribuída
competência constitucional e inderrogável para tal.
- -17
5 Meios para recuperaçãojudicial e seus efeitos
A legislação apresenta 16 soluções diferentes para a empresa em crise poder aplicar a recuperação judicial. A
ideia é oferecer ao devedor variadas possibilidades de elaborar o seu plano de recuperação, de acordo com a
melhor estratégia para solucionar a crise em que se encontra. Dentre as opções, ele poderá escolher se as utiliza
de forma isolada ou combinada.
Todos os meios, meramente explicativos, estão elencados no art. 50 da Lei 11.101/2005.
Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinente a cada caso,
dentre outros:
I – concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou vincendas;
II – cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de subsidiária integral, ou
cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios, nos termos da legislação vigente;
III – alteração do controle societário;
IV – substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus órgãos
administrativos;
V – concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder de veto
em relação às matérias que o plano especificar;
VI – aumento de capital social;
VII – trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos
próprios empregados;
VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou
convenção coletiva;
IX – dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de garantia
própria ou de terceiro;
X – constituição de sociedade de credores;
XI – venda parcial dos bens;
XII – equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo como
termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive aos
contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação específica;
XIII – usufruto da empresa;
XIV – administração compartilhada;
- -18
XV – emissão de valores mobiliários;
XVI – constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos créditos,
os ativos do devedor (BRASIL, 2005).
Como se pode apreender da lista, a empresa conta com possibilidades diversificadas, desde meios dilatórios para
pagamento dos débitos (soluções que se limitam a estipular um prazo e uma condição melhor para pagamento)
até meios que buscam solucionar o problema com foco no seu próprio perfil subjetivo da empresa.
Segundo Coelho (2013, p. 407), o art. 50 da Lei de Falências traz
instrumentos financeiros, administrativos e jurídicos que normalmente são empregados na
superação de crises em empresas. Os administradores da sociedade empresária interessada em
pleitear o benefício em juízo deve analisar, junto com o advogado e demais profissionais que o
assessoram no caso, se entre os meios indicados há um ou mais que possam mostrar-se eficazes no
reerguimento da atividade econômica. Como se trata de lista exemplificativa, outros meios de
recuperação da empresa em crise podem ser examinados e considerados no plano de recuperação.
Normalmente, aliás, os planos deverão combinar dois ou mais meios, tendo em vista a complexidade
que cerca as recuperações empresariais.
Assista aí
https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2
/2aff234edfb72ddaba664dd28a9d973d
é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• aprender que existem dois tipos de recuperação de empresas na legislação brasileira atual;
• compreender que a crise de uma empresa pode ser econômica, financeira ou patrimonial;
• entender a evolução existente entre os institutos legais que visavam proteger a empresa;
• compreender o conceito de função social e a sua relação com o papel da empresa na sociedade;
• conhecer os créditos que podem ser submetidos à recuperação judicial.
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Referências
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BRASIL. . Disponível em: <Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 http://www.planalto.gov.
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empresário e da sociedade empresária. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006
>. Acesso em: 19 fev. 2020./2005/Lei/L11101.htm#art200
COELHO, F. U. . 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.Curso de Direito Comercial
FILHO, M. J. B. F. . 2 ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018.Recuperação empresarial e falência
FRAZÃO, A. Função social da empresa. , ed.1, jul. 2018. Disponível em:Enciclopédia Jurídica da PUCSP
<https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/222/edicao-1/funcao-social-da-empresa>. Acesso em: 19 fev.
2020.
NEGRÃO, R. . 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.Manual de direito comercial de empresa
PERLINGIERI, P. . 1 ed. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 1984.O direito civil na legalidade constitucional
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del7661.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del7661.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11101.htm#art200
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11101.htm#art200
	Olá!
	1 Recuperação de Empresas
	2 O princípio da função social
	Assista aí
	2.1 A função social da empresa
	3 A evolução da Lei de Falências no Brasil
	3.1 O advento da Lei 11.101/2005
	3.2 As diferenças entre a recuperação de empresas e a concordata
	Assista aí
	4 Pressupostos da recuperação judicial
	4.1 Legitimidade ativa
	4.2 Créditos submetidos
	4.3 Créditos trabalhistas
	5 Meios para recuperação judicial e seus efeitos
	Assista aí
	é isso Aí!
	Referências

Outros materiais