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CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA E DA NEUROLOGIA PARA PERCEPÇÃO DE DIFICULDADES NO APRENDIZADO Faculdade de Minas 2 Sumário 1 Dificuldades de aprendizagem ................................................................... 4 2 Conceitos das dificuldades de aprendizagem ............................................ 6 3 Dificuldade de aprendizagem da matemática (DAM) - breve reflexão ..... 10 4 O professor frente à dificuldade de aprendizagem .................................. 12 5 Neurologia ............................................................................................... 18 5.1 Neurologia na percepção da dificuldade no aprendizado .................. 19 6 Discalculia e suas concepções ................................................................ 26 6.1 Intervenções para o auxílio das crianças que possuem discalculia .. 31 6.2 Sugestões de jogos para realizar a intervenção junto à criança discacúlica .......................................................................................................... 34 7 Contribuições da psicologia na educação matemática ............................ 38 7.1 Psicologia da educação matemática ................................................. 38 7.2 O Papel do Psicólogo na Escola ....................................................... 44 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 46 Faculdade de Minas 3 FACULESTE A história do Instituto Faculeste, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Faculeste, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Faculeste tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. Faculdade de Minas 4 1 Dificuldades de aprendizagem As dificuldades de aprendizagem abrangem vários fatores, uma vez que envolvem a complexidade do ser humano. Acredita-se que podem ser decorrentes de um problema fisiológico, um estresse grande vivido pela criança, como por exemplo problemas familiares envolvendo a perda de algum parente, problemas com alcoolismo ou drogas, separação dos pais, doenças, falta de alimentação, falta de material e estímulos, tédio na sala de aula, baixa auto estima, problemas patológicos como a TDAH (transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade), dislexias, psicopatias, alterações no desenvolvimento cerebral, desequilíbrios químicos, hereditariedade, problemas no ambiente doméstico e/ou escolar. Ao resgatar a história das dificuldades de aprendizagem, Sánchez (1998) afirma que há um consenso geral em situar a fundação oficial desse campo em 1963, quando um grupo de pais que compartilhavam em comum ter algum filho que sem razão aparente manifestava dificuldades persistentes na aprendizagem da leitura, se reuniram em um hotel de Chicago e convocaram um grupo de médicos, neurologistas e psicólogos na esperança de que esses dessem alguma explicação sobre esses problemas. A neurologia é uma área especializada da medicina que se refere a desordens e a doenças do sistema nervoso que varia da doença de Alzheimer completamente à infecção e aos transtornos de personalidade. A neurologia envolve diagnosticar e tratar condições dos sistemas nervosos centrais, periféricos e autonómicos. Na mesma época, o psicólogo Samuel Kirk (apud Sanchéz, 1998) apresentou uma proposta inovadora na qual relatava o fato de algumas crianças que não possuíam dificuldades auditivas nem visuais, muito menos atraso mental, apresentavam uma Faculdade de Minas 5 dificuldade inexplicável para a aprendizagem da leitura. Com base nessas características Kirk deu o nome de dificuldades de aprendizagem para referir-se a problemas dessa ordem na aprendizagem escolar. Foi assim que surgiu um novo campo de pesquisa, pois a solução dada por Kirk agradou à especialistas. A partir disso, os mesmos pais que haviam se reunido em Chicago organizaram a Associação de Crianças com Dificuldades de Aprendizagem, tendo como objetivo pressionar as autoridades governamentais para a obtenção de fundos que possibilitassem a criação de serviços educativos especializados e de qualidade, que atendessem crianças com algum tipo de dificuldade de aprendizagem nas próprias escolas. Kirk justificou a necessidade de serviços de educação especial específicos para as pessoas com dificuldades de aprendizagem, contribuindo de maneira significativa para a mudança de um paradigma predominantemente médico para um enfoque mais educacional, por esse motivo ele é considerado como o pai da teoria das dificuldades de aprendizagem. É provável que as dificuldades de aprendizagem sempre existiram, talvez antes desse período elas fossem explicadas através de áreas médicas como a deficiência mental ou lesões cerebrais. O que o ano de 1963 marca, é o surgimento de uma área nova, com um termo específico no que tange os problemas de aprendizagem. Vale ressaltar que esse campo de estudo é de caráter próprio norte-americano e canadense, mas sua influência se expandiu para o resto do mundo. A história do campo das dificuldades de aprendizagem, segundo Sanchéz (1998) está dividido em três etapas. A primeira, denominada Etapa de Fundação, inclui todo o período anterior a fundação oficial do campo das dificuldades de aprendizagem. Nesse período, compreendido entre 1800 a 1963 o oftalmologista Samuel Orton se destacou por, em 1917, informar um caso de dificuldades na leitura ao observar e estudar cento e vinte e cinco casos clínicos em que constatou que pessoas faziam a troca de letras do tipo p/q, d/b, apesar desse transtorno aparecer em um contexto em que a inteligência era normal. O que chamou a atenção de Orton foi a discrepância 49 entre o CI (coeficiente de inteligência) e os Faculdade de Minas 6 níveis de leitura ou dificuldades de leitura apesar do adequado nível de inteligência. A influência de Orton fez com que, em 1949, fosse fundada a Sociedade Orton de Dislexia, constituindo a primeira organização nesse campo, sua maior contribuição foi preocupar-se basicamente com problemas na leitura. A proposta de nomear termos mais específicos como dislexia, discalculia, disfunção cerebral mínima, propiciou um avanço ao reconhecer a complexidade de um fenômeno que abrange problemas diferentes ainda que não necessariamente sejam coincidentes numa mesma pessoa. A segunda etapa chamada de Primeiros Anos começa em 1963 e vai até 1990. Esse período ficou marcado pela histórica reunião de pais em Chicago e pela conquista da identidade desse campo de estudo frente a outros âmbitos da educação especial, em que se abandonam os modelos médicos e neurológicos e se introduz modelos educativos e institucionais. No fim dos anos sessenta, as dificuldades de aprendizagem constituíram um fenômeno social que culminou na classificação de um transtornoe um campo profissional com apoio legislativo. A última etapa, chamada de Etapa Projeção, começa a partir dos anos 90 e designa a evolução dos estudos nessa área, contando com a participação e incorporação de vários pesquisadores procedentes de outros campos e de vários países. Nesse período, o tema dificuldade de aprendizagem torna-se uma nova disciplina que envolve pais, profissionais e pesquisadores tanto do âmbito educacional como clínico, tendo todos em comum a busca por respostas. 2 Conceitos das dificuldades de aprendizagem Sanchéz (1998) menciona que as dificuldades de aprendizagem acabavam sendo referência de três crenças que são tidas como reais. A crença de que a causa da dificuldade de aprendizagem está no indivíduo; a crença de que as pessoas que a sofrem são inferiores em algo, como a capacidade na aprendizagem escolar; e a crença de que necessitam de ajuda em aulas especiais para Faculdade de Minas 7 solucionar suas dificuldades. Entretanto, atualmente a dificuldade de aprendizagem é entendida como um grupo heterogêneo de transtornos que afetam crianças, adolescentes e adultos, e que se manifestam por meio de atrasos ou dificuldades na leitura, escrita e cálculo, em pessoas com inteligência potencialmente normal ou superior, sem deficiências visuais, auditivas, motoras, ou com desvantagens no meio social ou cultural. A dificuldade não afeta todas as áreas de uma só vez, podendo também estar relacionada a problemas emocionais, de coordenação, memória, atenção, comunicação e adaptação social, sendo talvez agravada pela falta de motivação ou baixa auto estima, ocasionadas em decorrência do fracasso escolar. A dificuldade em criar um termo mais restrito para designar as dificuldades de aprendizagem nas atividades escolares, como relata Leal (1991), tem dado origem a vários nomes, tais como distúrbios de aprendizagem, neurofrenia (sintomas de comportamento que resultam da deterioração do sistema nervoso central), síndrome de strauss, distúrbios psiconeurológicos de aprendizagem, síndrome da disfunção cerebral mínima (distúrbios neurogênicos devido a disfunções corticais ou subcorticais), lesão cerebral mínima, dislexia, dentre outros. Salienta ainda, que os primeiros estudos sobre os distúrbios de aprendizagem preocupavam-se com as dificuldades que as crianças apresentavam devido a problemas de leitura, e que a expressão “distúrbios de aprendizagem” foi introduzida em 1962 por Kirk e Bateman, expressando distintas e amplas dificuldades de aprendizagem nas atividades escolares, tais como dislexias, disgrafias, disortografias, hiperatividade, discalculia e ecolalia. O termo distúrbios de aprendizagem, segundo Leal (1991), está ligado a uma conotação patológica genérica e é utilizado para referir-se a crianças com distintos problemas de aprendizagem que obedecem a diversas etiologias. Ao realizar uma retrospectiva histórica, Lopera (1983) menciona os distintos momentos e enfoques que abrangem o termo distúrbio de aprendizagem. Segundo esse autor, as teorias mais unidimensionais (Bender 1957, Frostig 1964, Wepman 1971) explicavam as dificuldades de aprendizagem baseando-se em um só fator ou na combinação Faculdade de Minas 8 de dois elementos, consideravam que as dificuldades de aprendizagem se originavam por deficiências perceptuais na discriminação e memória visual. No modelo interacionista (Adelman 1971 apud Lopera 1983) o problema era explicado como sendo resultado do cruzamento de variáveis orgânicas e ambientais. Numa outra perspectiva, cuja explicação provém da informática e da psicologia cognitiva, a dificuldade de aprendizagem era explicada referindo-se às dificuldades como irregularidades no processo de integração da informação, juntando a incidência de tarefas inapropriadas à ansiedade que geralmente as acompanha. Lopera (1983) ainda apresenta uma perspectiva contemporânea, que centra-se na relação entre o desenvolvimento das capacidades linguísticas e perceptuais da criança, sua idade e os sucessos de aprendizagem correspondentes, sendo as dificuldades de aprendizagem um produto da defasagem nessas habilidades. Para Ross (1979) os problemas de aprendizagem podem ser explicados como dificuldades da criança no armazenamento e reorganização da experiência de aprendizagem, ou seja, a criança com distúrbio de aprendizagem, possui um problema em manter a atenção seletiva e para concentrar-se em determinadas atividades, não apresentando nenhum defeito físico, sensorial ou intelectual, tendo portanto, inteligência normal. Lozano e Rioboo (1998) dividem as dificuldades de aprendizagem em duas categorias, a das dificuldades permanentes e a das dificuldades transitórias ou temporais. A categoria das dificuldades permanentes fazem parte do campo da área da educação especial e englobam deficiências neuropsicológicas como deficiência mental (leve, média, severa ou profunda), cegueiras, surdez, mudez, transtornos congênitos da linguagem oral, escrita e cálculo, paralisia cerebral, transtornos psicomotores, psicoses, autismo. Faculdade de Minas 9 A categoria das dificuldades transitórias ou temporais compõem deficiências no desenvolvimento psicomotor como orientação espacial, coordenação motora fina, deficiência no esquema corporal, deficiências perceptivas transitórias na audição, visão e atenção, deficiências na liguagem oral (dislalia, disfasia, disfonia), transtornos na compreensão e expressão da linguagem falada e escrita (dislexia e disgrafia), deficiência na habilidade de raciocínio lógico matemático e solução de problemas. Também podem englobar deficiências devido a baixa qualidade sócio ambiental e sócio cultural, inadaptação familiar, baixa estimulação cognitiva, afetiva, emocional e de linguagem, transtornos de conduta e afetivo emocionais como hiperatividade, depressão, ansiedade, agressividade e baixa tolerância à frustração. Levando em conta todos os fatores anteriormente citados, que incidem e afetam diretamente nas dificuldades de aprendizagem, Lozano e Rioboo (1998) apontam três outros fatores que são tidos como os principais responsáveis pela dificuldade de aprendizagem, são eles; o contexto familiar e social, a personalidade do sujeito e as instituições educativas incluindo suas áreas metodológicas e organização. Partindo dessa mesma perspectiva, Miguel e Martín (1998) alertam para o fato dos problemas de auto estima serem tanto causa como efeito das dificuldades de aprendizagem, inclusive mais efeito que causa. Smith (2001) reforça falando sobre a consequência emocional da dificuldade de aprendizagem, em que a criança deixa de crer em si mesma e em suas possibilidades de sucesso, resistindo a aprendizagem e muitas vezes deixando de tentar realizar uma atividade por medo do fracasso. Os problemas mais típicos das pessoas que apresentam dificuldade de aprendizagem podem ser descritos, como salienta Martinelli (2001), por falhas na escola, certa desorientação e deficiências na leitura e linguagem, embora apresentem certas características como inteligência normal, ausência de problemas sensoriais e motores, adequada oportunidade escolar e adaptação emocional. Como afirma Lovitt (1978), as dificuldades de aprendizagem são decorrentes da Faculdade de Minas 10 interação entre a qualidade da instrução e as características emocionais e motivacionais dos alunos, nesta perspectiva, um aluno pode estar desmotivado apenas em alguma(s) área(s), algum(ns) conteúdo(s) específico(s), ou em todas as disciplinas do curso. Por isso, é importante que esse aluno seja muito bem observado e avaliado, pois o problema pode estar relacionado não só à disciplina em si, mas também ao professor, ao próprio aluno, ao método, ao ambiente, dentre outras variáveis.Para Oliveira (1996) as dificuldades de aprendizagem são multideterminadas, isto é, possuem um associação de causas e podem estar relacionadas à escola como conseqüência de currículos inadequados, de um sistema de avaliação falho, do método e da própria relação com o professor, assim como a falta de estímulo dos professores, alunos trabalhando com material didático desatualizado e desprovido de significado, salas de aula com um número grande de alunos, crianças com diferenças culturais, sociais, econômicas, bem como seu nível de maturidade. Indo mais além, em relação ao aluno, problemas de ordem neurológica, fisiológica, de visão, falta de trocas e interação entre pais e filhos, perturbação afetiva e emocional. 3 Dificuldade de aprendizagem da matemática (DAM) - breve reflexão É sabido, que a dificuldade de aprendizagem da matemática baseia-se nos processos cognitivos, que na maioria das vezes são apresentados na escola. No geral, um grande número de crianças apresentam algum tipo de dificuldade nesta disciplina e acaba se estendendo até a idade adulta. Essa dificuldade apresentada na área da disciplina de matemática acaba provocando uma preocupação muito grande com o ensino aprendizado das crianças, na qual, podem ser consideradas como um dos fatores para o fracasso escolar. A dificuldade de aprendizagem da matemática interfere de uma forma significativa no desenvolvimento escolar da criança e também no seu cotidiano, pois essa Faculdade de Minas 11 habilidade sempre se apresenta na vida de todos, na qual envolve um fator de cálculos e interpretações. Os alunos precisam aprender a ler matemática e ler matemática para aprender, pois, para interpretar um texto matemático, é necessário familiarizar-se com a linguagem e com os símbolos próprios desse comportamento curricular e encontrar sentido naquilo que lê, compreendendo o significado das formas escritas. (NACARATO; MENGALI e PASSOS, 2009, p. 44). Dessa forma, verifica-se, que as disciplinas estão interligadas umas às outras, e para que o aluno consiga superar a dificuldade da disciplina de matemática é necessário saber interpretar o que o texto matemático está pedindo. Quando o aluno fala, lê, escreve ou desenha, ele não só mostra quais habilidades e atitudes estão sendo desenvolvidas no processo de ensino, como também indica os conceitos que domina e as dificuldades que apresenta. Com isso, é possível verificar mais um aspecto importante na utilização de recursos de comunicação para interferir nas dificuldades e provocar cada vez mais o avanço dos alunos. (NACARATO; MENGALI e PASSOS, 2009, p. 45) Diante das explicações educativas possíveis para a dificuldade de aprendizagem de matemática, segundo NACARATO; MENGALI e PASSOS (2009), muitas podem ser explicadas por vários fatores ou questões, como por exemplo: reforço inadequado ou insuficiente, falta de oportunidades para que os alunos vão á prática, pois materiais ou ato concreto ajuda a dar sentido e aprender a parte teórica, ausência ou pouca instrução, falta de estímulos ou forma errada de incentivar, apresentação de dificuldades nas habilidades, entre outras. Diante do contexto, pode-se afirmar que essa dificuldade é um transtorno estrutural da maturação das habilidades matemáticas, na qual apresenta-se por erros quantitativos e variados no que diz respeitos à dos números, saber contar, habilidades computacionais, interpretação e soluções de problemas. Faculdade de Minas 12 Em suma, as DAM devem ser compreendidas a partir das necessidades biológicas e educativas apresentadas pelas crianças, mediante observação, intervenções e um trabalho em conjunto para realizar adaptações no âmbito escolar. 4 O professor frente à dificuldade de aprendizagem Ciasca (2000) aponta o sensível aumento no número de crianças atendidas no Ambulatório de Distúrbios de Aprendizagem da FCM/Unicamp, que freqüentam a pré-escola, de 5,3% para 10,4%, fator esse extremamente preocupante pois indica a precocidade com que as crianças estão sendo encaminhadas para avaliação neuropsicológica, sem que as vezes demonstrem real problema de aprendizado, não se respeitando o nível de maturidade da criança. Também alerta que os resultados destas avaliações demonstraram que a maioria das crianças avaliadas estão dentro dos critérios considerados como normais, não existindo portanto comprometimento cognitivo, perceptivo ou neurológico que pudessem ser considerados como fatores responsáveis pela não aprendizagem, o que por sua vez, encontra-se vinculado exclusivamente ao fator pedagógico. Ao pesquisar as duas formas mais comuns de explicação dada por professores em relação às dificuldades de seus aluno, Azzi e Silva (2000) descrevem que primeiro as dificuldades são identificadas como problemas familiares, ou seja, a família é tida como responsável pelo bom ou mau desempenho do aluno, em segundo; os problemas são derivados de variáveis de saúde, sendo os alunos portadores de algum tipo de anormalidade, neste caso, a possibilidade de auxílio é transferida para especialistas como neurologistas, psicólogos, fonoaudiólogos, dentre outros. Fini (1996) alerta que freqüentemente os professores atribuem o por quê do aluno não aprender à aspectos relacionados à deficiências de natureza biológica, psicológica e cultural, à carências de diferentes tipos e origens, deixando de lado pesquisas mais abrangentes e análises mais criteriosas capazes de esclarecer a situação com maior aprofundamento. Faculdade de Minas 13 Diante desta citação, é possível perceber o quanto é imprescindível ao professor conhecer a dificuldade de aprendizagem de seu aluno, buscando verificar através de observações constantes em sala de aula, entrevistas com os pais e relatório de outros profissionais, se há efetivamente um problema na aprendizagem, para que a criança não seja rotulada nem estigmatizada como portadora de uma dificuldade de aprendizagem. Somente investigando a fundo o problema será possível levantar o verdadeiro motivo dessa não aprendizagem e buscar sua solução. É fundamental que professores não convertam problemas de ensino em dificuldades de aprendizagem, pois esse primeiro revela a necessidade de um olhar mais crítico, analítico e cuidadoso no que diz respeito ao ensino, ao currículo e a metodologia empregada na instituição educacional, não sendo portanto, o aluno portador de algum déficit ou patologia. Kiguel (1976) alerta para o fato da escola estar contribuindo para o fracasso escolar vivenciado por algumas crianças. Isso pode ocorrer devido à classes muito numerosas, salas de aula planejadas inadequadamente, a mudança contínua de professores, professores inexperientes ou insuficientemente treinados, utilização por parte do professor de uma metodologia inadequada. Todos esses fatores podem interferir e impedir que o ensino atenda às necessidades e propicie possibilidades de aprendizagem para as crianças, sobretudo para aquelas que estão iniciando o aprendizado escolar. De acordo com Corsini (1998) que atuou no ambulatório de neuro dificuldades de aprendizagem da Unicamp, muitas das queixas de dificuldade de aprendizagem não eram exatamente problemas específicos das crianças. Ao prestar atendimento à crianças que foram encaminhadas por médicos, psicólogos e professores, a referida autora pode constatar através de exames clínicos, que muitas das crianças apresentavam um bom potencial cognitivo, níveis de atenção e concentração adequados e que essa dificuldade para aprender poderia estar relacionada à fatores externos à criança, como a metodologia de ensino, recursos didáticos e a própria postura do professor em sala de aula. Num outro estudo realizado por Rossi (1997), Faculdade de Minas 14 constatou-se que muitosdos encaminhamentos solicitados por professores foram aleatórios e com um diagnóstico pré-concebido e pré-determinado. Em uma pesquisa realizada no Chile por Leal (1991), procurou-se investigar se as dificuldades que os alunos apresentavam durante a primeira série eram vistas pelos professores como indicadores de dificuldade de aprendizagem. Constatou-se a visão de que se a criança não aprende é devido a alguma circunstância ou motivo que se encontra dentro ou ligada a ela, sendo descartado outros fatores tais como a metodologia empregada e a maneira pela qual o conteúdo é enfocado. Na fala de uma das professoras não aparece a possibilidade de questionamento frente ao método de ensino adotado, ela não se questiona sobre as estratégias de ensino que utiliza nem se isso poderia interferir na dificuldade de aprendizagem das crianças. Apesar do professor dizer que não faz um diagnóstico da criança, ele estabelece que as dificuldades de aprendizagem são possíveis transtornos específicos de aprendizagem, tendo como causas a imaturidade, problemas psicológicos e sociais, justificado assim o por quê da criança não aprender. Uma outra professora explica a dificuldade de aprendizagem como sendo causada por problemas no lar, carência, incapacidade da criança ou pela imaturidade, fatores esses que, no discurso dessa professora escapam ao seu trabalho, apesar de seu esforço, por isso a necessidade destas crianças serem atendidas por um especialista. As dificuldades transformam-se em doença por isso a necessidade de um especialista, para curar o problema. Para explicar o por que a criança não aprende, as professoras usaram expressões como imaturidade, falta de estimulação, falta de apoio no lar, falta de exercitação de leitura e escrita, alteração orgânica. Nesse ponto as dificuldades são vistas como indicador de algo errado, sintomático, assemelhando-se à visão de doença, por isso a necessidade de um especialista, pois só ele pode conseguir a cura. Na pesquisa de Kiguel (1976) os professores atribuíram como causas das dificuldades de aprendizagem fatores como imaturidade, problemas emocionais, falta de assiduidade, falta de interesse da família, agressividade, doenças, falta de Faculdade de Minas 15 atenção e concentração, dificuldade na linguagem oral e na escrita. E a medida que avança a escolaridade menos sintomas são referidos pelos professores, havendo uma maior queixa e um número maior de sintomas apontados por esses na primeira série. Kiguel (1976) relata que a maioria dos estudos que tentam constatar a relação entre as variáveis dificuldade de aprendizagem e a classe social, de modo geral, centram-se na leitura, ortografia e vocabulário. E, quando os resultados comprovam a relação entre essas duas variáveis, estas relacionam-se por que o vocabulário é reduzido nas classes mais baixas, assim como a fala incorreta também irá interferir na ortografia, causando a freqüência dos erros na escrita. A autora constatou a necessidade dos professores de ensino fundamental conhecerem melhor o processo de desenvolvimento das operações cognitivas da criança, pois desta forma será possível diminuir a freqüência das dificuldades evidenciada por pelo menos grande número de crianças. Os resultados da pesquisa de Kiguel (1976) indicam que as crianças de classes sócio econômicas mais baixas, apresentam significativamente maior freqüência de sintomas de dificuldade de aprendizagem, os meninos apresentam maior freqüência que as meninas para a maioria dos sintomas e há uma certa tendência da maior parte dos sintomas diminuírem na terceira série. Quanto ao conhecimento dos professores, estes possuem pouco domínio dos termos técnicos da área, não identificam com clareza os tipos de dificuldades de aprendizagem, mas reconhecem que as crianças inteligentes possam apresentar dificuldades de aprendizagem, e que a maioria das escolas não estão aparelhadas para o diagnóstico e tratamento de crianças com dificuldade de aprendizagem. A princípio toda criança com dificuldade de aprendizagem apresenta problemas emocionais de alguma ordem, Kiguel (1976) ressalta que as vivências de situações de fracasso na escola determinam um série de conseqüências, como desinteresse pelos estudos, recusa em executar a tarefa, faltar as aulas, sintomas de agressividade e principalmente diminuição da auto estima. Essas conseqüências irão variar na intensidade conforme as condições da criança e de sua estrutura familiar. Por outro lado, esse tipo de reação desencadeia mais dificuldade para a Faculdade de Minas 16 aprendizagem na medida que afeta a atenção, concentração, interesse e memória. Deve-se reconhecer o quanto é difícil para a criança que apresenta dificuldade de aprendizagem compreender o por quê de sua dificuldade, ainda mais quando ela observa que o mesmo não acontece com seus colegas de classe. A experiência clínica de Kiguel (1976) facilitou a constatação de que uma das principais mudanças que podem ser observadas na criança que inicia o tratamento para a superação das dificuldades de aprendizagem, é a diminuição da tensão emocional, tornando-a mais receptiva às tarefas escolares. A escola não deve se omitir, precisa sim reconhecer seu papel e contribuir para um melhor desempenho deste aluno, seja revendo sua metodologia e dando respaldo para o trabalho do professor, quando a origem da dificuldade for decorrente de problemas da própria instituição, bem como orientar os pais, possibilitando desta forma, uma educação justa, que visa propiciar o desenvolvimento pleno do aluno. Sanchéz (1998) afirma e conclui com base em seus estudos que, atualmente se dispõe de conhecimentos suficientes para não se permitir a confusão terminológica do conceito, podendo afirmar que as dificuldades de aprendizagem constituem um entidade distinta, heterogênea, que pode acontecer ao longo da vida das pessoas, e que constitui uma ciência independente, apaixonante e promissora, que irá resolver esse complexo quebra-cabeça dando respostas educativas e institucionais, contribuindo para a melhora da qualidade de vida das pessoas que sofrem desse transtorno, e que poderão se beneficiar dos instrumentos de avaliação e dos programas institucionais desenvolvidos para as pessoas com dificuldade de aprendizagem, em contraste com aquilo que parecia ser inexplicável aos pais e profissionais naquele 6 de abril de 1963. É importante investigar a maneira pela qual o professor se utiliza do conhecimento que têm sobre a área das dificuldades de aprendizagem e de sua relação com o aluno, para promover (ou atravancar) o avanço cognitivo, visto que crianças com dificuldades de aprendizagem não apresentam apenas a dificuldade específica, mas trazem consigo sentimentos como insegurança, baixa auto estima, medo, Faculdade de Minas 17 agressividade, apatia, carência, dentre outras variáveis, fatores esses que também interferem no seu processo de aprendizagem. Considerando que a diferença é muito sutil entre os termos dificuldade e distúrbio de aprendizagem, a presente pesquisa partirá do pressuposto que o distúrbio seja um problema mais intensificado, com maior comprometimento e que está vinculado à questões neurológicas e orgânicas, enquanto que a dificuldade de aprendizagem pode ser trabalhada na escola e decorre de problemas como falta de estimulação, motivação, inadaptação; problemas que não estão apenas no aluno, mas que interferem na sua aprendizagem. O rendimento e desempenho escolar podem ser influenciados tanto por problemas afetivos, cognitivos, como por problemas relacionados à escola. O aluno pode estar apresentando dificuldades de aprendizagem como conseqüência de não estar se adaptando à metodologia usada, ou por dificuldades na relação com o professor e com os colegas. Paratanto, é imprescindível a observação global deste aluno, para que seja possível levantar hipóteses sobre a origem de sua dificuldade antes de se categorizar como sendo de ordem familiar ou patológica, restringindo assim, o auxílio a esse aluno. Acredita-se que uma dificuldade de aprendizagem quando não bem trabalhada ou quando ignorada, poderá agravar-se de tal forma com o decorrer do tempo, que acabe por se intensificar e efetivar um distúrbio. Um exemplo disso seria uma criança que não é estimulada a falar, tendo todos os seus gestos interpretados, não existindo a necessidade da fala, a ausência da linguagem acarretará problemas em sua comunicação. Assim como uma dificuldade motora, principalmente no período de alfabetização, poderá fazer com que a criança tenha sérias dificuldades no escrever. Por isso é importante que pais e educadores estejam atentos às dificuldades de aprendizagem dos alunos, para que esta possa ser trabalhada em tempo hábil, não acarretando problemas futuros mais sérios que poderão influenciar no processo de construção de conhecimento desse indivíduo. Tendo como base tudo o que foi anteriormente tratado, fica claro o quanto é importante e até imprescindível, ter conhecimento acerca da representação de Faculdade de Minas 18 professores sobre a dificuldade de aprendizagem, para que seja possível, através deste levantamento, tornar o professor mais consciente do seu papel e da influência de sua concepção e postura frente ao tema. Esclarecê-lo que a dificuldade não é um distúrbio, portanto, pode ser trabalhada em sala de aula, que sua causa e aparecimento não são devidos unicamente ao aluno, à sua família ou de ordem patológica, mas sim um conjunto de fatores, incluindo a prática pedagógica, metodologia e a relação professor aluno, não estando o problema apenas fora da escola, mas muitas vezes surgindo dentro dela. Uma dificuldade não é uma doença, portanto não pode ser entendida como determinante do insucesso do aluno, mas como um desafio, que propõe à escola rever suas estratégias e ao professor rever suas concepções. 5 Neurologia A neurologia é uma especialidade da área médica responsável pelo tratamento de doenças que atingem o sistema nervoso de forma geral, considerando todas as partes que compõem esse conjunto interligado. Um dado interessante é que a neurologia trata não apenas doenças neurológicas, mas sintomas de fundo neurológico, geralmente originados de outras condições como o diabetes, doenças autoimunes, neoplásicas, entre outras. Considerando que o TDAH é um transtorno neuropsiquiátrico, percebe-se quão necessárias são a neurociência e a neurologia para a proposição de investigação e pesquisas que visam ao avanço das técnicas adotadas em tratamentos. Já a Neurociência consiste no estudo sobre o sistema nervoso e suas funcionalidades, além de estruturas, processos de desenvolvimento e alguma alteração que possa surgir no decorrer da vida. É uma análise minuciosa sobre o que manda e desmanda em nossa vida. Vale ressaltar que a neurociência é responsável por analisar de forma bastante minuciosa três elementos de extrema importância para essa rede https://neurosaber.com.br/o-que-e-neurociencia/ Faculdade de Minas 19 interligada no corpo de todo ser vivo: o cérebro, a medula espinhal e os nervos periféricos. Estima-se que o TDAH atinge uma média que varia entre 3% e 7% das crianças em idade escolar em todo o mundo. Além disso, adolescentes e adultos também convivem com ele, sendo que muitas vezes o indivíduo acima dos 20 anos descobre a existência do TDAH após chegar a essa fase da vida. 5.1 Neurologia na percepção da dificuldade no aprendizado As dificuldades de aprendizagem, segundo a perspectiva de Feurerstein e Rand (apud Rubinstein, 1996), podem surgir em decorrência de fatores responsáveis pelo déficit cognitivo. Esses fatores são divididos em dois grupos; o primeiro nomeado por fatores proximais, estão relacionados com a qualidade na relação mediador/mediado, na qual a boa relação entre aprendiz/aprendente pode compensar os problemas de aprendizagem. O segundo grupo, fatores distais, relaciona-se à aspectos de ordem orgânica, afetivo - emocional, cultural e sócio-econômica e está subdividido em três itens: fatores endógenos – que compreendem a herança, características genéticas, orgânicas e nível de amadurecimento; fatores endo-exógenos - como equilíbrio emocional da criança, dos pais e estímulos ambientais; fatores exógenos - que englobam o status sócio–econômico, nível educacional e diferenças culturais. Já para Arantes (1996), as dificuldades de aprendizagem não dependem exclusivamente de características individuais, mas também de uma série de fatores externos à pessoa, originados de diversas causas como contexto educacional, Faculdade de Minas 20 ambiente físico, crescimento biológico, desenvolvimento intelectual, social e afetivo emocional. França (1996) aponta que aspectos orgânicos, como anomalias em órgãos sensoriais ou problemas do sistema nervoso central, trazem dificuldades para as exigências escolares, e que aspectos cognitivos interferem no processo de aprendizagem por razões de deficiência mental, de problemas ligados ao desenvolvimento das estruturas cognitivas e assim por diante. Também esclarece que numa abordagem mais neurológica, os distúrbios de aprendizagem estariam vinculados ao aprendiz, na medida em que podem refletir comprometimento neurológico; enquanto as dificuldades de aprendizagem seriam decorrentes de problemas psicopedagógicos e/ou sócio-culturais, ou seja, o problema não estaria na criança. Nessa perspectiva, Arantes (1996), considera que as dificuldades não dependem exclusivamente de características individuais, mas também de uma série de fatores externos à pessoa, tais como contexto educacional, ambiente físico, crescimento biológico, desenvolvimento intelectual, social e afetivo emocional. Kiguel (1976) ressalta que crianças com dificuldade de aprendizagem não constituem um grupo homogêneo, mas algumas características aparecem com frequência, como deficiências específicas da aprendizagem na leitura (dislexia), na ortografia (disortografia), Faculdade de Minas 21 na grafia (disgrafia) e na matemática (discalculia). A dislexia pode ser entendida como dificuldade na aprendizagem da leitura, considerando que leitura significa captação do significado daquilo que se lê, e não simplesmente a tradução do código visual em código fonético. Será apresentado agora um breve resumo, de acordo com os estudos de Kiguel (1976), sobre essas quatro características específicas das dificuldades de aprendizagem. Os erros mais comuns numa criança com dislexia, segundo Kiguel (1976) são falhas na associação do símbolo visual com o seu correspondente, dificuldade em unir dois fonemas conhecidos para a leitura de uma sílaba ou juntar sílabas para formar uma palavra, tendência a ignorar os detalhes dentro de uma palavra e basear o reconhecimento da mesma na letra inicial, no tamanho da palavra e em outras pistas insuficientes, lentidão demasiada ou seja, a criança prolonga o tempo de reconhecimento visual para conseguir decodificar a palavra, ocasionando leitura vacilante, silabada ou deletreada com perda de significação, leitura aparentemente fluida mas com acréscimo, aglutinações, inversões e ou substituições semânticas, falhas no ritmo da leitura, ausência de entonação e de melodia verbal durante a leitura que se torna silábica, monótona e cansativa. A disortografia, nas palavras de Kiguel (1976: 46): caracteriza-se por erros na transformação do som no símbolo gráfico, é uma “perturbação” quanto ao uso corretoFaculdade de Minas 22 dos grafemas e quanto à manutenção da individualidade das palavras. A disortorgrafia pode ser observada na omissão, transposição e agregado das letras, na fragmentação e agregado de palavras (bola / pola, pete / pente, encrontar / encontrar, muinto / muito). Ela pode ser observada na confusão de letras de som semelhante (p /b, t /d, f /v, c /g), na confusão de letras de forma semelhante ( m/n, u /n, d /b, p /q, s /c /ss /ç / sc), omissões de letras, transposições, falhas na acentuação gráfica e pontuação. A deficiência na grafia ou disgrafia como é chamada (Kiguel, 1976), se refere ao ato motor de escrever, tornando a grafia praticamente indecifrável. Pode estar relacionada a fatores como capacidade de inibição e de controle neuro-muscular, coordenação óculo-manual, organização espaço-temporal, ou ser um problema específico da coordenação funcional da mão, independência mão-braço ou dos dedos, coordenação entre preensão e pressão. Já a discalculia está associada à dislexia embora não seja um sintoma freqüente. Ela inclui problemas no reconhecimento do número e falhas nas operações aritméticas, pode ser observada na inversão de números por letras ( E por 3, S por 5), na inversão da posição do número (69 por 96), ou no tratamento dos números como independentes (10028 por 128), tem dificuldade no reconhecimento visual e auditivo do número, não consegue colocar as cifras adequadamente ou não consegue realizar o cálculo mentalmente. Ao estudar essas características específicas das dificuldades de aprendizagem, Kiguel (1976) faz menção sobre os distúrbios da aprendizagem que, em sua concepção, englobam a hiperatividade e a motricidade, embora deixe claro que nem sempre as dificuldades de aprendizagem são originadas de alterações no sistema nervoso central. Segundo essa autora, a hiperatividade é considerada como um dos principais distúrbios do comportamento e se insere dentro do quadro da disfunção cerebral mínima, é caracterizada pela criança que está incessantemente em movimento e está ligada à ansiedade. Faculdade de Minas 23 O hiperativo apresenta dificuldade em se concentrar, prestar atenção e controlar emoções, são crianças que quase sempre assumem o papel de líder por não terem medo do perigo. Algumas características se sobressaem na criança hiperativa, como ter dificuldade de pensar antes de agir e para trabalhar com objetos por um tempo mais longo, freqüentemente são inquietas com as mãos e pés, dificilmente conseguem permanecer sentadas por longo período, falam excessivamente, parecem não ouvir o que está sendo dito, mudam de atividade constantemente interrompendo o que estavam fazendo e deixando as atividades incompletas, na hora de brincar ou jogar tem dificuldade para esperar sua vez. A hiperatividade é, segundo Oliveira (1995), um fenômeno comportamental visível, fácil de ser observado até mesmo na labilidade do humor, pois a criança é sujeita a crises explosivas tanto de ira quanto de desespero, tendo inclusive uma ansiedade inexplicável. A motricidade também se insere no quadro da disfunção cerebral mínima, para Kiguel (1976), sua deficiência é manifestada principalmente através de gestos imprecisos, movimentos desordenados, postura inadequada, lentidão excessiva, fazendo com que a criança seja vista como desajeitada ou estabanada. Mais especificamente em relação à coordenação motora fina, a criança com problemas na motricidade poderá ter dificuldade para amarrar sapatos, cortar alimentos, recortar, seus traçados costumam não obedecer os limites e a preensão e pressão do lápis é inadequada. Avaliando todas essas características e sintomas apresentados por crianças com dificuldade de aprendizagem, se torna imprescindível a atenção do professor ao momento em que a criança começa a ler e escrever, e posteriormente quando passa a produzir pequenos textos, pois é comum a troca e inversão de letras e erros na ortografia quando a criança está começando a avançar na leitura e na escrita. Para se caracterizar o problema na ortografia, como disortografia, é preciso que os erros da criança sejam mais ou menos consistentes e com freqüência considerável. A disortografia, de acordo com a pesquisa de Kiguel (1976), aparece mais Faculdade de Minas 24 precisamente na segunda série, quando a criança começa a empregar a ortografia como mecanismo adquirido conscientemente. Em relação ao trabalho do professor, este precisa estar atento à algumas condições para que ocorra a aprendizagem. Em primeiro lugar, ele deve ter uma exata noção de seus objetivos ao ensinar, levando em conta as características do aluno e da classe, seu domínio e suas habilidades. Oliveira (1995) destaca que é de suma importância o professor ter uma visão do quadro da dificuldade da criança, e que sobretudo aceite essas dificuldades inerentes, minimizando assim as angústias e ansiedades tanto em relação ao desempenho escolar, como em relação ao relacionamento com os colegas e com ele próprio. Nesse sentido, para diagnosticar um indivíduo portador de dificuldades de aprendizagem, é imprescindível num primeiro momento, fazer um levantamento da sua história de vida, ouvir a queixa e realizar um mapeamento de todos os seus sintomas, para que não seja feito um diagnóstico superficial e errôneo, que poderá causar sérios prejuízos à vida escolar desse indivíduo. Sendo assim, para que este trabalho seja realizado de forma coerente com a realidade, é preciso saber ouvir sem julgar, ser imparcial e não se deixar levar por falsas ilusões, frente a queixa de professores a respeito da criança em questão. Os professores devem estar, ou melhor, devem ser habilitados para detectar os sintomas das dificuldades de aprendizagem e saber como trabalhá-las em classe. Uma de suas principais tarefas, além de perceber a dificuldade de aprendizagem, é solicitar o encaminhamento para providenciar o diagnóstico e meios para um atendimento adequado. Segundo Paín (1985), quatro fatores precisam ser levados em consideração no diagnóstico de um problema de aprendizagem: fatores orgânicos como problemas no funcionamento glandular, auto-intoxicação por mau funcionamento renal ou hepático, hipoacusia, miopia, lesões ou desordens corticais primárias, genéticas, neonatais ou pós encefálicas, déficit alimentar crônico dentre outros; fatores específicos em que as desordens específicas na aprendizagem encontram-se Faculdade de Minas 25 ligadas freqüentemente a uma indeterminação na lateralidade do sujeito; fatores psicógenos em que o problema de aprendizagem pode surgir como uma reação neurótica, e por último; fatores ambientais que envolvem o meio material do sujeito, as possibilidades reais que esse meio lhe fornece, a qualidade, quantidade, freqüência e abundância dos estímulos que constituem seu campo de aprendizagem habitual, bem como as características da moradia, bairro e escola. O diagnóstico de uma criança com dificuldade de aprendizagem, segundo Kiguel (1976), deve ser feito por uma equipe interdisciplinar envolvendo o médico da criança, um pedagogo, psicólogo, psicopedagogo, terapeuta, envolvendo também o professor e a família. Somente através de uma anamnese realizada com a família da criança, caracterizando a queixa apresentada pelo professor, fazendo um exame clínico que procure investigar possíveis disfunções neurológicas no sistema nervoso central, uma avaliação psicopedagógica que identifique o nível e as condições de aprendizagem dessa criança e de um exame psicológico objetivando analisar características pessoais, patologias, é que será possível ter a certeza e comprovar uma dificuldade de aprendizagem ou um distúrbio de aprendizagem. Weiss (2000:17) relata sobre: o caso de três irmãos de 9, 8 e 6 anos que se matricularamjuntos, pela primeira vez na vida, em uma classe de alfabetização de uma escola pública no mês de março. Já no mês de junho, os três foram encaminhados para diagnóstico em uma clínica comunitária porque não conseguiam prosseguir na alfabetização. A escola nada questionou em relação a profunda “carência social” dessa família de migrantes que chegava ao Rio de Janeiro fugindo de outra miséria pior. De imediato, “culpou” os três alunos, alegando que deveriam ter um problema físico familiar para não aprender. Através do diagnóstico, foi provada a absoluta normalidade dessas crianças e a necessidade da escola rever sua conduta. Esse fato, comentado por Weiss (ibid), remete novamente à importância de uma investigação séria, antes de categorizar determinado aluno como um indivíduo com dificuldades de aprendizagem. Faculdade de Minas 26 6 Discalculia e suas concepções A discalculia é uma dificuldade de aprendizagem apresentada na disciplina de matemática, na qual se caracteriza pela dificuldade de fazer operações matematicamente. Segundo BARBOSA (2008, p. 132), a palavra discalculia apresenta duas raízes gregas: “dis” que significa dificuldade e “calculia”, que se relaciona à arte de contar. O portador de discalculia apresenta um baixo nível de desempenho nas tarefas de matemática que envolve competências aritméticas. Em geral, essa dificuldade é descoberta na escola, ao desenvolver atividades como estruturação de textos escritos, gráficos, compreensão de tabelas, interpretação de soluções problemas, entre outros. Na discalculia do desenvolvimento, alguns processos cognitivos demonstram-se afetados, como: Velocidade de processamento da informação; Memória de trabalho; Memória em tarefas não-verbais, Memória de curto e longo prazo; Memória seqüencial auditiva; Habilidades visuo-espaciais; Habilidades psicomotoras e perceptivo-táteis; linguagem matemática. (WAJNSZTEJN e WAJNSZTEJN, 2009, p.188). A discalculia é um transtorno na habilidade da matemática que se apresenta na forma estrutural da maturação, elencada por inúmeras quantidades de erros nas habilidades de contar, habilidades computacionais, compreensão de números, soluções de problemas verbais e não verbais. Quanto à discalculia (WAJNSZTEJN e WAJNSZTEJN, 2009, p.187) afirmam que: A discalculia é um transtorno estrutural da maturação das habilidades matemáticas, referente, sobretudo a crianças, e que se manifestaria pela quantidade de erros variados na compreensão dos números, habilidades de contagem, habilidades Faculdade de Minas 27 computacionais e solução de problemas verbais. (Jesus Nicasio Garcia, 1998). Ou ainda é um distúrbio neurológico que afeta a habilidade com números, em realizar operações matemáticas, em classificar números e colocá-los em sequência. Essa dificuldade de ordem neurológica e com evidência genética ocorre em razão de uma falha na formação dos circuitos neuronais, onde acredita-se que os dois hemisférios possam estar envolvidos. A D.D. (Discalculia do Desenvolvimento) parece ser um problema específico com o entendimento e ao acesso rápido de conceitos e fatos numéricos. Nesse contexto, como é sabido, boa parte das crianças que apresentam a discalculia é descoberto na escola. Na escola, esse transtorno pode ser encontrado em seis subtipos listados abaixo: Discalculia verbal: dificuldades em nomear as quantidades matemáticas, os números, os termos, os símbolos e as relações; Discalculia practognóstica: dificuldades para enumerar, comparar, manipular objetos reais; Discalculia léxica: dificuldades na leitura de símbolos matemáticos; Discalculia gráfica: dificuldades na escrita de símbolos matemáticos; Discalculia ideognóstica: dificuldades em fazer operações mentais e compreender os conceitos matemáticos; Discalculia operacional: dificuldades na execução de operações e cálculos numéricos. (WAJNSZTEJN e WAJNSZTEJN, 2009, p.188) Nesta perspectiva, os subtipos ajudam a compreender melhor como o aluno que apresenta a discalculia age em sala de aula ao aprendizado de matemática. Vale ressaltar que a discalculia é uma dificuldade que às vezes encontra-se junto com outros tipos de dificuldade como a Disgrafia, Dislexia e Transtorno de Déficit de Hiperatividade e Atenção (TDAH). “Essa dificuldade específica na matemática pode ocorrer concomitantemente a outros transtornos de aprendizagem como: TDAH, Dislexia, atraso de linguagem”. (WAJNSZTEJN e WAJNSZTEJN, 2009, p.187) Faculdade de Minas 28 É importante salientar que a discalculia não é causada por deficiência mental, por déficit auditivo ou visual e muito menos por má escolarização. As crianças que sofrem dessa dificuldade não conseguem entender o que se é expresso na sala de aula, questões que achamos simples como relação de quantidade, ordem, espaço, distância e tamanho elas não conseguem ter uma compreensão clara. Também apresentam dificuldades em somar, diminuir, dividir e multiplicar. Os sinais mais concretos da discalculia são percebidos na faixa etária dos 7 aos 8 anos de idade, quando as crianças começam a estudar o inícios da quatro operações. De acordo com WAJNSZTEJN e WAJNSZTEJN (2009, p.188-189), alguns sinais de crianças que apresentam a discalculia podem ser notados frequentemente pelo professor como: Símbolos numéricos são escritos em espelho ou em posição invertida. Dígitos similares como 6 e 9, 3 e 8, são confundidos entre eles. Inabilidade para compreender o espaçamento entre dois números, por exemplo: 9 17 será lido novecentos e dezessete. Dificuldade no relacionamento e uso dos símbolos das 4 operações aritméticas básicas. Problemas para entender mapas e tabelas. Problemas para tomar nota de objetos ou símbolos quanto aparecem junto a outros objetos e símbolos. Problemas em copiar números, dígitos ou figuras geométricas ou em reproduzi-las de memória. Problemas em compreender peso, direção, espaço e tempo. Falha na escrita ou leitura correta de valores com dois ou mais dígitos. Problemas em entender o significado de símbolos das quatro operações aritméticas básicas ou reconhecer o uso de sinal negativo. Problemas para entender a mudança de uma operação aritmética para outra. Não conseguir pensar automaticamente que 64 é cinco mais que 59. Incapacidade de incluir corretamente 7 e 25 numa série numérica. Problemas em organizar a sequência numérica, bem como problemas em ordenar os números; por exemplo, se 16 vem antes ou depois de 17. Faculdade de Minas 29 Ter péssima memória para fatos numéricos. Ter dificuldade em acessar informações já aprendidas. Problemas em associar palavras a símbolos ou vice-versa, ou em nomear objetos. Dificuldades para encontrar o melhor caminho para resolver um problema proposto. Problemas em seguir do nível concreto para o pensamento abstrato. Isso é percebido quando se alteram questões onde se trabalham objetos concretos para símbolos matemáticos. Dificuldade para seguir uma sequência de pensamentos na resolução de problemas, incluindo a inabilidade para introduzir uma estratégia de trabalho. Dificuldade em entender responder oralmente ou por escrito os problemas apresentados em termos verbais ou visuais. Problemas para realizar na prática as questões de vida diária. Problemas na resolução de assuntos relacionados a figura geométrica. Dificuldade em considerar o que pode ser calculado com valores estimados. Dificuldade em seguir corretamente estratégias para solucionar um problema matemático. Dificuldade em guardar todos os dados de um problema. Desta forma, vale ressaltar, que as crianças que sofrem desse tipo de dificuldade não sentem preguiça ao realizar as atividades propostas em sala de aula como muitos pais e professores pensam. Na verdade elanão consegue compreender realmente o que é para fazer. Neste caso, será necessário encaminhar a criança a profissionais especializados e em sala de aula o professor também poderá auxiliar na parte pedagógica com intervenções necessárias. É necessário também, motivar a criança quanto a sua autoestima, para que a mesma não sofra e encara esse desafio de forma natural do seu aprendizado. Quando se trata de analisar o domínio dos afetos, nada parece haver de muito misterioso: A afetividade é comumente interpretada como uma “energia”, portanto como algo que impulsiona as ações. Vale dizer que existe algum interesse, algum Faculdade de Minas 30 móvel que motiva a ação. O desenvolvimento da inteligência permite, sem dúvida, que a motivação possa ser despertada por um número cada vez maior de objetivo ou situações. Todavia, ao longo desse desenvolvimento, o princípio básico permanece o mesmo: a afetividade é a mola propulsora das ações, e a Razão está a seu serviço. (TAILLE; OLIVEIRA e DANTAS, 1992, p. 65). WAJNSZTEJN e WAJNSZTEJN (2009), afirmam que, a criança discalcúlica muito antes de entrar na escola já apresenta alguns traços da dificuldade com a matemática, porém como já foi dito anteriormente, apenas na escola que acaba tendo certeza, esse problema se não for bem trabalhado, pode criar um tipo de resistência ou bloqueio emocional, na qual irá interferir em todo o processo de aprendizagem e acabar se estendendo também na vida adulta. Outro aspecto importante, é que nem todas as dificuldades encontradas por alguns alunos no processo de aprendizagem da matemática podem ser detectadas como discalculia. Muitas vezes o que está acontecendo é apenas uma falta de sintonia entre a relação do aluno com o professor na forma do fazer ensino/ aprendizagem. O professor consciente chegará a uma conclusão de que o aluno não sofre desse transtorno da discalculia e irá procurar uma nova metodologia de ensino junto com o aluno que apresenta a dificuldade. Isso significa que é preciso ter atenção redobrada e muito cuidado com as escolhas da metodologia aplicada, na qual a mesma é de fundamental importância para o ensino aprendizagem, para não haver a confusão de discalculia com dificuldade metodológica que pode ser superada em sala de aula. “O papel do professor e da professora no processo de ensinar/aprender, portanto, é o de provocar situações nas quais aprender passe a ser interessante e consequentemente prazeroso.” (BARBOSA, 2008, p. 25). Faculdade de Minas 31 6.1 Intervenções para o auxílio das crianças que possuem discalculia Em geral, todos os profissionais da área da educação, fazem muito uso da palavra intervenção dentro e fora do âmbito escolar, de acordo com os dicionários a palavra intervenção significa mediação. Nesse caso, considera-se que a intervenção começa na vida familiar, na qual, precisamente são os pais que apresenta a criança ao mundo, ensina a elas os primeiros valores humanos, regras, leis, hábitos, entre outros, “A família tem a responsabilidade de formar o caráter, de educar para os desafios da vida, de perpetuar valores éticos e morais.” (CHALITA, 2001, p. 20). É na família que tudo começa e boa parte da aprendizagem depende dela e de sua organização de intervenção/mediação. A família é a fonte das primeiras aprendizagens da criança e o alicerce para o desenvolvimento cognitivo e social que se estende na vida escolar. A família é uma instituição em que as máscaras devem dar lugar à face transparente, sem disfarces. O diálogo é necessário. (...) [...] A preparação para a vida, a formação da pessoa, a construção do ser são responsabilidade da família. É essa a célula mãe da sociedade, em que os conflitos necessários não destroem o ambiente saudável. (...) (CHALITA, 2001, p. 21). Nesta perspectiva, a intervenção começa na família e dá continuidade na escola, esse processo de intervenção/mediação torna-se indispensável em uma atividade dinâmica, na qual o professor sempre irá interagir com a criança e com o seu problema. Vale ressaltar que esse processo de intervenção deve sempre ser realizado com uma equipe de profissionais, “A intervenção pedagógica provoca avanços que não ocorreriam espontaneamente” (TAILLE; OLIVEIRA e DANTAS 1992, p. 33). Faculdade de Minas 32 Os sintomas das crianças que apresentam a discalculia são sempre constantes, e uma das intervenções que ajudará a criança a sanar um pouco das suas dificuldades serão novas possibilidades e metodologia de se trabalhar a matemática e sempre trabalhar com a criança quanto a sua capacidade de resolver possíveis problemáticas para assim aumentar a sua autoestima, pois com esse trabalho constante a criança sentirá encorajada viabilizando assim o sucesso em suas tarefas que antes pareciam impossível realizá-las. Outra intervenção necessária para auxiliar as crianças que apresentam a discalculia é o lúdico, na qual envolvem todo o processo cognitivo, motor e social. O lúdico é um promotor de aprendizagem que ajuda a criança a vivenciar várias situações e resolver os problemas encontrados. Todo o jogo por natureza desafia, encanta, traz movimento, barulho e uma certa alegria para o espaço no qual normalmente entram apenas o livro, o caderno e o lápis. Essa dimensão não pode ser perdida apenas porque os jogos envolvem conceitos de matemática. Ao contrário, ela é determinante para que os alunos sintam-se chamados a participar das atividades com interesse. [...] Por sua dimensão lúdica, o jogar pode ser visto como uma das bases sobre a qual se desenvolve o espírito construtivo, a imaginação, a capacidade de sistematizar e abstrair e a capacidade de interagir socialmente. Entendemos que a dimensão lúdica envolve desafio, surpresa, possibilidade de fazer de novo, de querer superar os obstáculos iniciais e o incômodo por não controlar todos os resultados. Esse aspecto lúdico faz do jogo um contexto natural para o surgimento de situações-problema cuja superação exige do jogador alguma aprendizagem e um certo esforço na busca por sua solução.. (SMOLE; DINIZ e CÂNDIDO, 2007, p. 12). Faculdade de Minas 33 Nesta perspectiva, observa-se que toda a experiência lúdica oferece oportunidades diversas para as crianças construir suas habilidades, na qual as mesmas aprendem brincando. “O jogo para a criança é o exercício, é a preparação para a vida adulta. A criança aprende brincando, é o exercício que a faz desenvolver suas potencialidades.” (LOPES, 2005, p. 35). Muitas pessoas acreditam que brincar é uma perca de tempo, que os jogos não contribuem e que ocorre uma desorganização nas aulas por haver uma euforia dos alunos e algumas conversas, enganam-se essa pessoas, pois no momento que é proposto a atividade do jogo, as crianças em primeiro lugar aprendem a se organizar, depois seguir as regras propostas do jogo e se concentram para realizar a atividade, acaba aprendendo de forma prazerosa No jogo, mediante a articulação entre o conhecimento e o imaginado, desenvolve-se o autoconhecimento até onde se pode chegar e o conhecimento dos outros o que se pode esperar e em que circunstâncias. (BRASIL, 2001, p.48). A brincadeira, o jogo ajuda a concretizar a aprendizagem da criança, na qual desenvolve a sua criatividade, pensamento, imaginação, afetividade, motricidade, linguagem, percepção, memória e no geral o lúdico é responsável pela construção do conhecimento. A criança, ao jogar, não só incorpora regras socialmente estabelecidas, mas também cria possibilidades de significados e desenvolve conceitos é o que justifica a adoção do jogo como aliado importante nas práticas pedagógicas. [...] O jogo pode ser considerado um dos elementos fundamentais para que o processo de ensino e de aprendizagem da matemáticapossam superar os indesejáveis métodos da decoreba, do conteúdo pronto, acabado e repetitivo, que tornam a educação escolar tão maçante, sem vida e em alegria. O jogo pode ser um elemento importante pelo qual a criança aprende, sendo Faculdade de Minas 34 sujeito ativo desta aprendizagem que tem na ludicidade o prazer de aprender. (MATO GROSSO, 2000, p. 157). Assim podemos afirmar, que o jogo é uma intervenção precisa para as crianças discacúlicas, na qual ajudará as mesmas a sanar algumas de suas dificuldades. 6.2 Sugestões de jogos para realizar a intervenção junto à criança discacúlica Nesse contexto, seguirá algumas sugestões de jogos que poderá ser aplica as crianças que apresentam dificuldade de aprendizagem ou discalculia, na qual poderá ajudar a despertar o raciocínio lógico-matemático, a criatividade, a atenção, concentração, esforço, socialização, quantidade, ordenação, habilidades motoras, ritmo, entre outras. Vale ressaltar que os jogos descritos abaixo foram retirados das obras de LOPES (2005) e GOMES E FERLIN (2009). 1. LISTA DE COMPRAS Objetivo: Trabalhar raciocínio matemático e estratégias de leitura. Material: Papel pardo, caneta hidrocolor, sulfite, fita adesiva, lápis de cor ou giz de cera. Desenvolvimento: O educador irá elaborar, junto com a criança, um quadro de coisas que se compra no supermercado que serão registrados em fichas. Em seguida, as crianças em grupo irão fazer os desenhos em outras fichas que serão anexadas no quadro grande. Faculdade de Minas 35 O desafio será o grupo encaixar as fichas escritas no desenho correspondente. O grupo que conseguir o maior número de acertos ganhará um prêmio. Outras possibilidades: Classificar: salgado, doce, frutas, etc. Os próprios alunos poderão trazer vazias para montarem um supermercado. Trabalhar o raciocínio matemático simulando situações de compra e venda. (FERLIN E GOMES, 2009. p. 128) 2. SEMPRE 9 Objetivos: Facilitar a integração. Estimular o raciocínio lógico-matemático, atenção, concentração, esforço, perspicácia e interesse pelo conhecimento. Material: Peças de dominó. Desenvolvimento: Grupo de 3. O aluno apresentará uma peça do dominó. De um lado da peça dois elementos e, do outro 4 elementos. O outro participante deverá completar até dar o número 9 e assim sucessivamente. Outras possibilidades: Ter mais de um jogo e trabalhar o grupo com todo, obedecendo a uma sequência. Não dando mais para agrupar o número 9, deverão somar quantos pontos sobraram. (FERLIN E GOMES, 2009. p. 134). 3. JOGOS DOS NÚMEROS Objetivos: Identificar os números e desenvolver ritimo. Trabalhar as habilidades motoras e atenção. Favorecer a interação e a socialização. Faculdade de Minas 36 Material: Cartões com números de 0-9. Desenvolvimento: Espalhar os cartões num espaço delimitado. Solicitar que pulem e saltem ao redor dos cartões seguindo o ritmo de uma música qualquer. Quando o educador der o sinal e indicar um determinado número, todos deverão parar no respectivo número. Outras possibilidades: Usar, no lugar dos números, figuras geométricas. Trabalhar com diversas cores. Usar objetos grandes e pequenos. Usar objetos compridos e curtos, largos e estreitos, etc. Jogo de bingo com os numerais. Dominó, de preferência confeccionado pelas crianças. Multiplicação (tabuada do número solicitado). Trilha matemática. Sequência numérica para descobrir um desenho. (FERLIN E GOMES, 2009. p. 137) 4. NÚMEROS EM GRUPOS Objetivos: Desenvolver o raciocínio lógico-matemático, quantidade, grupo e ordenação. Trabalhar as habilidades motoras, ritmo, atenção. Material: Cartazes com números de 1 a 9. Desenvolvimento: O educador conduz as crianças a uma área livre, orientando-as a caminharem desordenadamente em várias direções batendo palma. Num dado momento, dá um sinal para prepararem apresentando um cartaz com um dos números pedindo que se organizem em subgrupos, de acordo com o número solicitado. Colocar a mão sobre os ombros, uns dos outros, formando colunas. Faculdade de Minas 37 O educador dará as seguintes ordens para as colunas: “Andar para frente, andar para trás, andar de lado, andar apoiados nos calcanhares, andar a passos largos, depressa, pisando forte, lentamente, pontas dos pés, etc. Atenção: Caso algum aluno não consiga entrar em formação de acordo com o número indicado por falta de elementos, solicitar que procurem entre os cartazes o números correspondente à sua formação. Outras possibilidades: Na formação de colunas, sugerir ordem crescente e decrescente. Sugerir que intercalem crianças altas e baixas. Na formação de grupos diferentes, indagar: Quantos números faltam para chegar ao número solicitado? Quantos sobraram? Se eles se juntarem a um outro grupo, quantos ficarão? Números pares e ímpares (agrupamento). Formar figura geométrica de acordo com a ordem do locutor. Jogo de bingo com numerais e com a soma deles. Dominó de adição/subtração. (FERLIN E GOMES, 2009. p. 138-139). 5. BRINCANDO COM DADO Objetivos: Trabalhar habilidades motoras, criatividade, atenção, socialização, raciocínio lógico – matemático e estratégia de leitura, noções de quantidade, numeral, subtração e adição, habilidade de comparar. Refletir sobre a escrita. Material: Dado grande, seis cartelas (cada uma marcando um numeral de 1 a 6) e material para contagem que podem ser: palitos, tampinhas e ouros que servem para estimular o raciocínio. Desenvolvimento: Seis participantes, cada um com uma cartela. Faculdade de Minas 38 O animador orienta para que cada participante lance o dado, tentando obter o número correspondente ao numeral/quantidade de sua cartela. Caso isso não ocorra o animador deverá intervir, questionando se foi menos, se foi mais, quanto falta quanto tem mais? Etc. Outras possibilidades: Trabalhar a escrita dos numerais. Qual o número de letra utilizado para escrever determinado numeral? Usar fichas com os numerais escritos (para leitura), ao jogar o dado a crianças lê a sua cartela. Dividir a turma em dois grupos. Ao jogar o dado, imediatamente as crianças deverão agrupar-se de acordo com o número correspondente e o mediador poderá solicitar algumas propostas como: digam três palavras que vocês acreditam serem importantes para um bom relacionamento na turma. Escolham dois elementos do grupo para cantar/representar, etc. Usar material de sucata. Jogar o dado em duplas e pedir que montem aquele número com o material disponível, desenvolvendo também a criatividade. Trabalhar antecessor e sucessor. Ordem crescente e decrescente. Observar as características da figura espacial (sólido-geométrica). Em grupos, elaborar situações-problemas contextualizadas (jogar os dados alternamente, identificar os números), utilizando as quatro operações. Sugerir que montem com o próprio corpo o número referente ao dado. (FERLIN E GOMES, 2009. p. 140-141). 7 Contribuições da psicologia na educação matemática 7.1 Psicologia da educação matemática Faculdade de Minas 39 Referências à psicologia da educação matemática como campo de estudo ou como disciplina de cursos de formação profissional causam em muitos, ainda hoje, reações de estranheza, ao menos. São freqüentes as interrogações sobre a razão de ser, as intenções ou pretensões da referida área. Sua existência é, muitas vezes, colocada em dúvida ou criticada como mais um modismo inconseqüente no terreno da formação dos professores de matemática. Entretanto, a psicologia da educação matemática é internacionalmente reconhecida, já há algumas décadas, como área de conhecimento interdisciplinar comprodução científica pertinente a um terreno determinado: os processos psicológicos, cognitivos e afetivos-sociais, especificamente envolvidos no ensino e na aprendizagem da matemática. Logo, é área que faz a interseção da psicologia, da educação e da matemática. De qualquer forma, é legítimo perguntar como e por que surgiu a psicologia da educação matemática, e para que ela existe. Se o ano de 1976 pode ser visto como um marco pela criação do grupo internacional denominado PME (Psychology of Mathematics Education), em décadas anteriores podemos localizar importantes raízes científicas de sustentação da área e já alguma produção científica consistente relativa sobre como as crianças compreendem conceitos matemáticos; ou como os indivíduos pensam matematicamente, por exemplo (Schliemann et al., 1993; Brito, 2001). Podemos ver a presença daquelas raízes na psicologia do desenvolvimento e na psicologia da aprendizagem, na psicologia educacional e no terreno da didática das matemáticas. No que concerne à psicologia, desde sua primeira metade, o século XX foi pródigo em fornecer e solidificar resultados consistentes sobre o desenvolvimento cognitivo individual, sobre o processo de aprendizagem de conceitos e de princípios. Faculdade de Minas 40 Assim, por exemplo, firmaram-se contribuições científicas fundamentais à educação matemática: da Escola de Genebra, quando a epistemologia genética não só identificou e explicou a psicogênese de categorias lógicas essenciais ao conhecimento matemático (o espaço, o números, as classes, as séries, entre outras), como também o fez em relação à psicogênese de relações aritméticas, o chamado processo de aritmetização da criança. da corrente anglo-saxônica de estudos sobre a cognição a psicologia cognitiva ou o cognitivismo : vieram resultados sobre as formas humanas de aquisição de conceitos, de princípios, de relações e de solução de problemas, sob diversas óticas explicativas (as teorias de aprendizagem social, do processamento da informação, da aprendizagem significativa, por exemplo). das idéias de Vygotski, o exame da importância da aprendizagem escolar no processo de desenvolvimento das funções mentais superiores, conforme fundamentos sóciohistóricos; e, em particular, do papel naquele processo dos conteúdos de disciplinas escolares específicas, naquele processo, conforme a dinâmica do conhecer na escola. Sobre o lugar da psicologia educacional nesse quadro de apoio da psicologia da educação matemática, foram decisivas as transformações significativas sofridas pelo campo desde os anos sessenta, tanto no que se refere ao seu objeto central de estudo, quanto, em decorrência, ao seu sentido como disciplina dos cursos de formação de professores. Consequência evidente da força dos resultados da epistemologia genética, das correntes cognitivistas e das investigações na tradição vygotskianas, a psicologia educacional delimitou seu objeto de estudo: o processo ensino-aprendizagem, em particular, o ocorrente na escola. Foram, então, identificados como indissociáveis, inter-relacionados, na concepção e na investigação do objeto de estudo da área, os três seguintes aspectos do Faculdade de Minas 41 fenômeno do ensinar/aprender: o aluno e seu aprender; o professor e seu ensinar; e o conteúdo a ser aprendido, uma tripla presença assim justificada: o comportamento de aprender do aluno, subentendendo seu processo de elaboração dos conhecimentos específicos a cada disciplina ou área, e seus diferentes fatores. o comportamento de ensinar do professor e os diversos fatores que o afetam, em especial o conhecimento que ele tem do conteúdo que ensina e sua formação pedagógica. o conteúdo de cada disciplina em sua natureza e suas peculiaridades epistemológicas e situacionais conforme o modo de o professor transformá-lo quando o ensina em sala de aula. No que se refere à didática das matemáticas, sem dúvida a criação, na década de sessenta, e posterior consolidação desse movimento, de berço francês, muito significou e tem significado para, ao mesmo tempo, justificar e fundamentar a necessidade de pesquisas no terreno da psicologia da educação matemática, ao fortalecer decisivamente a perspectiva de transformação da psicologia educacional como área de estudo do tripé de relações acima identificado: foi sobretudo no terreno da matemática que ficaram demonstradas o quanto as peculiaridades psicogenéticas dos conceitos de uma área ou disciplina específica pesam no processo intercognitivo escolar professor/aluno (Artigue, 1988). Sob essa ótica, não parece ter sido por acaso que foi na e a partir da França que o movimento da Didática das Matemáticas nasceu e cresceu, com influências marcantes na comunidade internacional de estudiosos com sua decorrente especificação em psicologia da educação matemática pois, como bem nos lembra Kilpatrick (1994), o termo “didática” em francês não quer dizer arte ou ciência de ensinar, com tudo de generalidade ou de generalismos que essa expressão consigo carrega; mas esse termo inclui o estudo da aprendizagem e do ensino escolares. Ou, como expressa Brousseau (1994, p. 52), no quadro das ciências de cognição, a didática da matemática é Faculdade de Minas 42 “... ciência das condições específicas da difusão de conhecimentos matemáticos úteis ao funcionamento das instituições humanas.”. Logo, essas diversas definições apontam para uma aproximação entre o objeto de exame das didática da matemática e o foco contemporâneo da psicologia educacional, os processos psicológicos do ensino e da aprendizagem. Nessa mesma linha, compreende-se também porque temos em Guy Brousseau e em Gérard Vergnaud os “pais” do movimento, o primeiro como professor de matemática, especialista em ensino da área, o segundo como psicólogo, voltado às questões do desenvolvimento cognitivo e da aprendizagem. Portanto, e sem explicitamente o pretender, o movimento da Didática das Matemáticas parece ter tido papel decisivo na consolidação de uma psicologia educacional transformada, ao definir propósitos e ao fornecer resultados que foram ao encontro das tendências e aspirações anglo-saxônicas para aquela transformação. Dessa forma, ficou demonstrada, já na década de setenta, a pertinência do estudo das inter-relações aluno/professor/conteúdo e, em decorrência, a necessidade de delimitação de áreas de investigação específicas como a que a psicologia da educação matemática assumiu. Em progressiva expansão, nas décadas finais do século XX, o que a investigação em psicologia da educação matemática já nos oferece? A literatura, em geral, aponta-nos três tendências ou correntes principais de inspiração teórica da produção científica em psicologia da educação matemática: o construtivismo piagetiano, o cognitivismo anglo-saxônico, a escola russa, todas elas contendo várias diferenciações internas (ver Boero, 1994, para as pesquisas contemporâneas em didática das matemáticas). Tentando sintetizar os principais temas das investigações segundo as três perspectivas indicadas, temos o seguinte: Faculdade de Minas 43 do construtivismo de inspiração piagetiana, resultados sobre: a psicogênese de conceitos matemáticos tal como ocorrente no contexto escolar ou fora dele, com suas peculiaridades e obstáculos epistemológicos; a elaboração dos sistemas de notação matemática; formas infantis de apropriação e uso do número; estratégias cognitivas típicas da construção de conceitos matemáticos em situações de aprendizagem diversas, em ligação a modos de intervenção do professor. Atualmente, sustentam esse gênero de produção diferentes perspectivas do construtivismo: as que vão desde um construtivismo de tendência mais
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