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SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL E PRÁTICAS CAMBIAIS AULA 4 Prof. Henri Siro 2 CONVERSA INICIAL Como já colocamos na aula passada, o mercado de moedas é o maior mercado do mundo, movimentando, segundo o Bank of International Settlements, em torno de U$5,1 trilhões todos os dias (BIS, 2016). No entanto, desse movimento, em torno de U$1,7 trilhão se trata de negociações no mercado à vista, ou seja, que gera pagamento e recebimento das moedas. O restante do mercado de moedas, R$3,4 trilhões, que se trata de duas vezes mais do que o mercado à vista, são negociações com contratos derivativos. Portanto, é muito importante compreendermos o que são esses derivativos, uma vez que grande parte das negociações de moedas envolve esse tipo de instrumento financeiro. Derivativos são chamados assim porque “derivam” dos ativos. Ou seja, são instrumentos financeiros vinculados aos ativos reais. No caso do mercado de moedas, o ativo real se trata da própria moeda. A compra ou venda de dólar americano, por exemplo, não precisa envolver a negociação da própria moeda do dólar americano, mas pode ser realizada pelos derivativos do dólar americano. Ou seja, os instrumentos financeiros que “derivam” da moeda. Os derivativos mais importantes para compreendermos, e que são amplamente utilizados nas negociações na bolsa de valores aqui no Brasil (BM&F Bovespa, 2016), são os: a) contratos futuros e b) opções. Nesta aula, iremos compreender melhor o funcionamento dos contratos futuros de dólar e, na próxima aula, o de opções. São mercados extremamente interessantes e muito importantes para as empresas que querem se proteger da variação cambial e/ou para quem quer negociar a moeda de uma forma geral. CONTEXTUALIZANDO O mercado futuro no Brasil é tão importante que o próprio Banco Central, para vender e comprar dólar no mercado, não costuma realizá-lo em espécie, ou seja, no mercado à vista. O Banco Central utiliza contratos de Swap cambial, que equivalem à compra ou à venda de contratos futuros de dólar americano. Um exemplo é a utilização desse instrumento pelo Banco Central, de modo a conter a valorização do dólar no mercado, durante o ano de 2014 (Estadão, 2014). Isso ocorre porque a compra ou venda dos contratos de dólar no mercado futuro influencia o preço em que a moeda em espécie é negociada 3 (Ventura; Garcia, 2012). Ao contrário das negociações com o dólar pronto, com entrega física, que é negociado na bolsa de valores somente por instituições habilitadas a operar no mercado de câmbio (BM&F Bovespa, 2016b), o mercado de contratos futuros pode ser negociado por todo mundo. Isso significa que você pode operar nesse mercado. É só abrir um cadastro em uma corretora de valores e pedir que realizem esse tipo de negociações. Devido a essa facilidade de acesso, o mercado de contratos futuros é altamente líquido. Isso significa que existe uma grande movimentação de compra e venda desses contratos na bolsa de valores. Como existe uma relação entre o preço do contrato futuro de dólar e o preço do dólar à vista, muitas vezes a variação que ocorre no preço do contrato futuro de dólar acontece anteriormente à variação que ocorre no preço do dólar à vista (Ventura; Garcia, 2012). Por conta dessa relação entre o preço da moeda à vista e o valor do contrato futuro da moeda, que o Banco Central utiliza do mercado futuro da moeda para influenciar no mercado de câmbio, aqui no Brasil. Portanto, o mercado futuro se trata de um mercado muito importante, tanto pelas possibilidades que se abrem para os participantes que o utilizam, quanto pela sua influência na taxa de câmbio aqui no Brasil. TEMA 1 – AJUSTE DIÁRIO O mercado futuro é muito diferente do mercado à vista. Temos de entender o mercado à vista como aquele em que, quando você “compra”, você deve pagar algo em troca daquilo que está adquirindo, ou, em outros termos, “levando pra casa”. E quando você “vende”, você recebe algo por aquilo que está entregando. No mercado futuro de câmbio, as coisas não funcionam assim. Quando você “compra”, você não “leva pra casa” nada, e também não precisa pagar por aquilo que comprou. Da mesma forma que, quando você vende contratos de dólar futuro, não recebe um pagamento e também não precisa entregar nada. Parece não fazer muito sentido, né? É realmente esquisito, à primeira vista, mas faz todo o sentido quando compreender a dinâmica do mercado futuro. O mercado futuro de câmbio funciona a partir da VARIAÇÃO DO PREÇO. Isso significa que os recebimentos e os pagamentos acontecem quando os preços dos contratos de câmbio oscilam para cima ou para baixo. Os preços do dólar em relação ao real estão sempre variando. Alguns dias o 4 valor do dólar sobe, em outros dias cai, e é sobre esta DIFERENÇA DOS PREÇOS do dólar que acontecem os pagamentos e os recebimentos de quem compra e vende os contratos futuros de dólar. Suponha que você queira comprar U$10.000,00 em contrato futuro de dólar, ao preço de R$3,00/USD. Ao fazer isso, você somente pagará as taxas de intermediação do contrato, mas não precisará pagar os R$30.000,00 referente aos dólares (U$10.000,00 x R$3,00). No entanto, imagine que o dólar subiu, do preço que você comprou, R$0,10. Ou seja, saiu dos R$3,00/USD para R$3,10/USD. Nesse momento, houve DIFERENÇA NO PREÇO do dólar, e sobre as diferenças é que ocorrem o pagamento/recebimento de quem negocia esses contratos. No nosso exemplo, como você comprou o dólar a R$3,00/USD, e agora o preço do câmbio está em R$3,10, pode-se dizer que você está “ganhando” R$0,10/USD sobre o preço que pagou. Nesse caso, você receberá um depósito de R$0,10/USD, totalizando R$1.000,00 (U$10.000,00 x R$0,10) na sua conta. Ou seja, você estaria recebendo a variação do preço do dólar. Mas vamos supor, agora, que o preço do dólar tivesse caído R$0,10/USD, de R$3,00/USD para R$2,90/USD. Em vez de receber os R$0,10/USD, você teria de pagar essa diferença. Ou seja, seria retirado R$1.000,00 da sua conta, para pagar a variação do dólar. Todos os dias acontecem os pagamentos/recebimentos pela variação do dólar. Por esse motivo, o nome chamado a esses pagamentos/recebimentos é Ajuste Diário. Os pagamentos/recebimentos acontecem diariamente para todos que possuem posições “compradas” ou “vendidas” (explicação desses termos no Tema 5 desta aula) no mercado futuro de dólar. O ajuste diário é a característica do contrato futuro que faz equivaler a compra do contrato à compra do ativo à vista. Ou seja, se alguém quer comprar dólar, em vez de comprar a moeda, essa pessoa pode comprar o dólar futuro. A equivalência se dá porque as compensações financeiras advindas dos ajustes diários do contrato futuro acabam equivalendo os valores, como se a pessoa tivesse comprado os dólares à vista. A compensação financeira que ocorre com os ajustes diários faz com que o participante do mercado futuro acompanhe o poder aquisitivo do valor da moeda à vista. No Tema 5 desta aula, será possível compreender melhor como se dá o uso do contrato futuro para quem quer acompanhar a variação do valor da moeda. 5 TEMA 2 – GARANTIA Agora já sabemos que os participantes do mercado futuro de dólar são creditados ou debitados de acordo com a VARIAÇÃO do preço do dólar. Mas, se o participante não tiver dinheiro para pagar, o que acontece? Devemos começar entendendo que quem realiza o crédito ou o débito na conta do participante do mercado futuro é a própria bolsa de valores. É a chamada Clearing da BM&F Bovespa quem se responsabiliza realizar os pagamentos/recebimentos (BM&F Bovespa, 2016c) de todos os participantes do mercado futuro. Assim, se o participante tem dinheiro a receber, ele não precisa ter medo de inadimplência de outro participante, porque a própria bolsa de valores é responsável por essaoperação. Agora, se o cliente que tem dinheiro a pagar não tiver como honrar com sua obrigação, o que acontece? Pois bem, é para evitar qualquer tipo de inadimplência que, para realizar operações no mercado futuro, é necessário que os participantes depositem uma margem de garantia. Em caso de um participante ter a necessidade de pagar um ajuste diário e não tiver o dinheiro para realizar o pagamento, a bolsa de valores pode executar a garantia do participante. Dessa forma, a garantia funciona como uma maneira de preservar a saúde do esquema de pagamentos/recebimentos do mercado futuro. A garantia não precisa ser, necessariamente, dinheiro. São aceitos valores mobiliários dos mais diversos, como títulos públicos, CDB’s, ações e outros ativos financeiros. Assim, o participante pode aplicar o dinheiro em um instrumento financeiro que lhe ofereça uma rentabilidade, e colocar esse instrumento como garantia para as operações no mercado futuro (BM&F Bovespa, 2016d). Assim, não é preciso deixar o dinheiro “parado” para colocá- lo em garantia. Tanto é o caso de colocar ativos mobiliários como garantia que, no final do ano de 2016, dos totais de R$169 bilhões depositados em garantias na Bm&f Bovespa, R$160 bilhões se tratavam de títulos públicos federais, R$5 bilhões em ações e R$1 bilhão em dinheiro (BM&F Bovespa, 2016e). O valor a ser depositado em garantia pode mudar de acordo com a política de risco da BM&F Bovespa (BM&F Bovespa, 2016f). Em momentos de maior volatilidade (oscilação), a bolsa de valores pode exigir um valor maior para as garantias, e diminuí-las quando o mercado voltar a ficar mais estável. Mas, em geral, o valor da garantia gira em torno de 10% do valor total do 6 contrato negociado. Ou seja, se um participante deseja comprar U$10.000,00 ao valor de R$3,00, totalizando um volume de R$33.000,00 em negócios, será necessário que ele deposite, em torno, de R$3.300,00 em garantias. Essa característica torna o mercado futuro um mercado alavancado. Para cada R$1,00 colocado em garantias, é possível negociar R$10,00 em volume financeiro. Por essa razão, podemos dizer que o mercado futuro se trata de um mercado “alavancado”, pois é possível negociar volumes muito maiores do que aqueles depositados na garantia. Neste momento, é importante enfatizar que a garantia não é da bolsa de valores. Ela é do participante, e está sob a custódia da bolsa de valores para que, somente no caso de o participante não conseguir pagar o ajuste diário, ela seja executada. Quando um participante do mercado futuro deixa de estar “posicionado” em alguma operação, a garantia não é mais necessária, e o valor integral da garantia sai da custódia da Bm&F Bovespa de volta para que o participante possa utilizá-la como queira. TEMA 3 – VENCIMENTO Outra característica importante dos contratos do mercado futuro é que possuem vencimentos. Cada contrato futuro possui data para acabar. A data é um dia limite até quando os ajustes diários estarão válidos. A partir da data de vencimento, a variação do preço da moeda já não afetará mais quem estava “comprado” ou “vendido” nos contratos futuros. Se um participante estiver com um contrato que está vencendo e quiser continuar “comprado” ou “vendido” no mercado futuro, ele pode fazer a “rolagem” do contrato futuro. O termo “rolagem” se refere ao ato de migrar de um contrato com vencimento mais próximo para um contrato com vencimento mais distante. Os contratos de dólar futuro possuem vencimento para todo primeiro dia útil de cada mês do ano. A rolagem é realizada da mesma forma que se terminam e começam as negociações com contratos futuros. Vamos supor que você tenha comprado um contrato com vencimento para o primeiro dia útil de abril/2017. Ao chegar próximo desse dia, você decide que quer permanecer com contratos de dólar futuro até maio/2017. O que você deve fazer é vender o contrato que comprou com vencimento em abril/2017, e comprar um contrato com vencimento em maio/2017. Nesse momento, dá para perceber que você pode comprar e vender os contratos futuros com liberdade, sem precisar esperar o dia do 7 vencimento do contrato. Há especuladores que, inclusive, compram e vendem o mesmo contrato diversas vezes no mesmo dia. E isso é possível para qualquer participante do mercado futuro. Outra característica importante é que, no dia do vencimento do contrato futuro de dólar americano, o preço do contrato futuro é exatamente igual ao preço do dólar à vista. Isso significa que existe uma convergência dos valores entre os contratos do dólar futuro com os contratos do dólar à vista, que acontece ao longo do tempo. Quanto maior o tempo entre o vencimento do contrato e o dia atual, maior a diferença entre o preço do contrato futuro e o preço do dólar à vista. O tempo adiciona um valor sobre o contrato, o qual é muito próximo do valor dos juros entre o dia do vencimento do contrato e o dia atual. Na Figura 1, a seguir, é possível ver a convergência do valor de um contrato futuro e o valor à vista do ativo ao longo do tempo. No dia do vencimento do contrato, o valor do contrato futuro e o valor do ativo à vista são exatamente iguais. Figura 1 – Convergência entre o valor entre um contrato futuro e o valor do ativo à vista. O exemplo se refere ao valor do contrato futuro do Ibovespa (azul) contra o valor do contrato futuro de Ibovespa (vermelho). É possível observar, na Figura 1, que os valores entre o contrato futuro e o valor do dólar à vista vão convergindo lentamente ao longo do tempo. Essa diferença é o “juros” existente no tempo. É o próprio mercado que ajusta esses preços a partir do princípio da “arbitragem” que vimos na Aula 1. Os juros existentes no valor dos contratos futuros se justificam da seguinte forma: como Ibovespa vs INDV15 40.000,00 45.000,00 50.000,00 55.000,00 60.000,00 65.000,00 9 /1 0 /2 0 1 4 9 /1 1 /2 0 1 4 9 /1 2 /2 0 1 4 9 /1 /2 0 1 5 9 /2 /2 0 1 5 9 /3 /2 0 1 5 9 /4 /2 0 1 5 9 /5 /2 0 1 5 9 /6 /2 0 1 5 9 /7 /2 0 1 5 9 /8 /2 0 1 5 9 /9 /2 0 1 5 9 /1 0 /2 0 1 5 Ibovespa INDV15 Fonte: BM&F Bovespa 8 é possível comprar sem pagar em dinheiro, é possível comprar o equivalente em dólar, mas sem dispender de dinheiro para isso. Portanto, em vez de o participante comprar dólares agora, ele pode deixar o dinheiro em alguma aplicação que tenha o rendimento dos juros no período, comprar o contrato futuro e terá, no futuro, comprado o dólar e mais os juros da aplicação. Isso torna atrativo para que, toda vez que a diferença entre o contrato de dólar futuro e o preço do dólar à vista estiver um pouco menor do que os juros do período, os grandes bancos e instituições financeiras vendam seus dólares à vista, coloquem esse valor a juros, e comprem contratos futuros de dólares, pois assim, no final do período, eles ganham uma diferença adicional sem correr mais riscos. Esse movimento é chamado de “arbitragem”. O fato de os bancos venderem os dólares à vista e comprarem os dólares futuros para ter esse ganho adicional sem risco faz pressão no mercado de modo a aumentar, novamente, a diferença entre o preço do dólar futuro e o dólar à vista, colocando essa diferença ajustada aos juros existentes no período. TEMA 4 – COMPRADOS E VENDIDOS Como vimos até agora, no mercado de contratos futuros, o pagamento não envolve o pagamento tanto como a venda não envolve o recebimento de valores. Os contratos do mercado futuro funcionam a partir da diferença dos preços. Isso significa que os pagamentos e recebimentos acontecem somente com a oscilação do preço dos contratos futuros. Os contratos futuros de dólar americano, portanto, não funcionam com a entrega física da moeda em espécie. Seu funcionamento se dá pela compensação financeira dos valores do dólar americano, em reais, pela diferença diária (ajuste diário)do preço dos contratos de dólar. Essa característica permite que seja possível comprar contratos futuros com a mesma facilidade com que se possa vendê-los. Ao comprar um contrato futuro, uma pessoa fica “comprada” em dólar, e, ao vender um contrato futuro, a pessoa fica “vendida” em dólar. E é sobre as posições “compradas” e “vendidas” no mercado de futuro que este Tema procurará esclarecer um pouco mais do que se trata. No mercado futuro de dólar, você pode escolher uma entre as duas posições possíveis: “comprado” ou “vendido”. Uma posição “comprada” significa que você receberá o ajuste diário na sua conta da corretora, no caso 9 da alta do ativo, mas terá de pagar o ajuste diário, no caso da queda do ativo. Uma posição “vendida” é o inverso. Significa que você terá de pagar o ajuste diário, no caso da alta do ativo, mas receberá o ajuste diário no caso da queda do dólar. Vamos entender um pouco melhor a posição “comprada”. Suponha que a empresa X está “comprada” em U$100.000,00 em contrato futuro de dólar americano. Vamos supor, também, que o dólar subiu de R$3,20 para R$3,30 no dia, ou seja, subiu R$0,10/USD no dia. Isso significa que, para cada dólar americano, a empresa X teve um ganho de R$0,10. Considerando uma posição “comprada” de U$100.000,00, o ganho da empresa X nesse dia foi de R$10.000,00 (R$0,10 x U$100.000,00). O que acontece, nesse caso, é que, no dia seguinte, a conta da empresa X receberá um ajuste diário de R$10.000,00. Esse valor será depositado na sua conta. Vamos supor que no segundo dia o dólar suba os mesmos R$0,10/USD mais uma vez. Novamente a empresa X receberá um ajuste positivo na sua conta de R$10.000,00. Somando os dois dias de ajustes, a empresa X já recebeu R$20.000,00, referente à valorização de R$0,20/USD – R$0,10 do primeiro dia + R$0,10 do segundo dia. Agora imagine que no terceiro dia o dólar tenha caído R$0,05/USD. Como a posição da empresa X é “comprada”, ela ganha com a alta do preço, mas perde com a queda dos preços. Devido à oscilação de queda de R$0,05 no dólar nesse terceiro dia, a empresa X sofrerá, agora, um saque de R$5.000,00 da sua conta (U$100.000,00 x R$0,05). Na Figura 2 a seguir, é possível ver um exemplo desse movimento do dólar e qual o efeito para uma posição “comprada” em dólar. 10 Figura 2 – Efeito positivo/negativo da movimentação do dólar para uma posição “comprada” em contratos futuros. Nos primeiros dois dias, a empresa X recebeu R$0,10/USD, e, no terceiro dia, teve de pagar R$0,05/USD. Agora que já entendemos como funciona a posição “comprada” em dólar, vamos entender melhor como funciona a posição “vendida”. A posição “vendida” tem o efeito de recebimento e pagamento exatamente ao contrário da posição “comprada”. Ou seja, se na posição “comprada” a empresa X recebia a variação no caso da alta e pagava a variação no caso da queda do dólar, para a posição “vendida” o efeito é exatamente ao contrário: nessa posição, a empresa pagaria a variação no caso da alta e receberia a variação no caso da queda. Isso mesmo! Recebe dinheiro no caso da queda do dólar. Agora vamos supor que a empresa X, em vez de estar “comprada” nos contratos de dólares futuros, estivesse “vendida”. Vamos supor os mesmos movimentos de variação do dólar que citei anteriormente: no primeiro dia, uma alta de R$0,10; no segundo dia, uma alta de R$0,10 e, no terceiro dia, uma queda de R$0,05. Como ficariam os pagamentos e recebimentos dos ajustes diários? O ajuste referente ao primeiro seria a de um pagamento de R$0,10/USD (R$10.000,00), ao segundo dia, o ajuste seria um pagamento também de R$0,10/USD (R$10.000,00), e no terceiro dia o ajuste seria um recebimento de R$0,05/USD (R$5.000,00). Na Figura 3 a seguir, é possível observar o exemplo de movimentação do dólar e o efeito positivo/negativo para uma posição “vendida” em contratos futuros. t USDBRL 3,20 3,30 3,40 +0,10 +0,10 -0,05 C 11 Figura 3 – Efeito positivo/negativo da movimentação do dólar para uma posição “vendida” em contratos futuros. Nos primeiros dois dias, a empresa X pagou R$0,10/USD, e, no terceiro dia, recebeu R$0,05/USD. A partir do que expusemos neste Tema, foi possível observar que as posições “compradas” e “vendidas” em dólar são ambas possíveis. A posição “comprada” gera recebimentos devido à variação de alta do câmbio, enquanto gera pagamentos com o movimento de queda do preço da moeda. Inversamente, a posição “vendida” gera pagamentos a partir da variação de alta do câmbio, e recebimentos com o movimento de queda do preço da moeda. No próximo Tema, você poderá entender como um contrato futuro pode beneficiar as empresas e indivíduos a se protegerem da variação do câmbio. TEMA 5 – HEDGE (PROTEÇÃO) Segundo a BM&F Bovespa (2016), o Contrato Futuro de Dólar dos Estados Unidos da América pode servir para proteção ou especulação sobre o preço da moeda em data futuro, assim como para investidores que, por exemplo, tenham recebíveis em dólares dos Estados Unidos da América, ou exposição para pagamentos de passivos na moeda em datas futuras ou até mesmo negociar sobre a tendência da moeda no futuro e assim auferir lucro. t USDBRL 3,20 3,30 3,40 +0,05 -0,10 V C -0,10 12 Isso significa que dois grandes tipos de pessoas operam no mercado futuro de dólar: aqueles que querem se proteger da variação da moeda, ou aqueles que querem obter ganhos a partir da variação da moeda. Para aqueles que querem se proteger da variação da moeda, a operação que realizam é denominada de hedge, o que, em inglês, significa proteção. O contrato futuro de dólar americano é um importante instrumento para realizar a proteção (hedge) para empresas ou indivíduos que possuem dólares a pagar ou a receber. Utilizando o mercado futuro de dólar, é possível se proteger das oscilações do câmbio. Vamos supor, a título de exemplo, um importador que compra um produto em dólares e que irá pagar a mercadoria quando a receber em 30 dias. Nesse caso, ele está sujeito à alta ou à queda da taxa de câmbio. Se o dólar americano cair em relação ao real, no momento em que ele receber a mercadoria, ele deverá dispor de uma menor quantia de reais para pagar o produto. No entanto, se o dólar americano subir, ele deverá pagar uma maior quantia de reais pelo mesmo produto. Podemos dizer que ele está “exposto” à oscilação cambial. Para que ele não fique exposto à oscilação do câmbio, o importador poderá fazer um hedge, protegendo-se da oscilação cambial, utilizando como instrumento contratos do mercado futuro de dólar. Para esse caso do importador, vamos supor que ele comprou U$100.000,00 em produtos importados, e que, ao realizar a compra do produto, o dólar estava a R$3,30. Portanto, no momento da compra do produto, ele estava comprando aqueles produtos por R$330.000,00 (U$100.000,00 x R$3,30). Isso significa que, para cada R$0,01 de variação na taxa de câmbio, o importador poderá ter de pagar R$1.000,00 a mais ou a menos (U$100.000,00 x R$0,01). Como o importador não é capaz de prever como será a variação do dólar, e com medo de ter de pagar um valor muito mais alto pelo seu produto importado, o importador vai querer se proteger da variação cambial. Para isso, ele poderá usar o mercado futuro de dólar. Nesse caso, o importador deverá comprar U$100.000,00 em contratos futuros de dólar. Esse valor, como já foi dito anteriormente, não precisa ser “pago” pelo importador. Ao comprar um contrato futuro, não se paga nada, e, ao vender um contrato futuro, também não se recebe nada. O recebimento e o pagamento se dão pelas DIFERENÇAS do valor do contrato do dólar, diariamente. Hedge para um importador – vamos supor, então, que o importador realizou a compra dos produtos importados no valor de U$100.000,00, para 13 pagarem 30 dias, em um dia em que o dólar estava R$3,30/USD. Nesse mesmo dia, com medo da variação cambial, o importador realizou a proteção (hedge) no mercado futuro de dólar, comprando U$100.000,00 em contratos futuros. O que aconteceria se, entre o período da compra dos produtos importados e o dia do pagamento desses produtos, o dólar tivesse subido R$0,20/USD? Bom, vamos ao caso. Se o dólar subiu R$0,20/USD, então o dólar, no dia do pagamento dos produtos importados, estava a R$3,50. Isso significa que o importador comprou os produtos, imaginando que poderia gastar R$330.000,00 (R$3,30/USD), mas, quando chegou a data do pagamento, teve de dispor de R$350.000,00 (R$3,50/USD). Isso significa que o importador teve um “prejuízo” de R$20.000,00, que se refere ao valor que teve de pagar a mais pelos produtos importados. No entanto, o importador realizou um hedge na bolsa de valores, comprando contratos futuros de dólares. Supondo que ele tenha comprado U$100.000,00 em contratos futuros de dólares a R$3,30, e no dia do vencimento os dólares estivessem a R$3,50, o valor que o importador “ganhou” com a DIFERENÇA nos contratos futuros é +R$20.000,00. Esses R$20.000,00 foram o total da variação cambial, que foi diariamente sendo creditado/debitado da conta do importador. Todos os dias a bolsa de valores creditaria/debitaria valores da conta do importador, equivalente à variação do dólar. No nosso exemplo, o resultado final dos débitos/créditos totalizou, positivamente para o importador, o saldo de R$20.000,00. Onde está o hedge, nesse caso? O importador teve de pagar, realmente, R$350.000,00 pelos produtos importados, ou seja, R$20.000,00 a mais do que seria o valor quando realizou a compra dos produtos. Como ele fez o hedge na bolsa de valores, na sua conta na corretora de valores, foram creditados justamente os R$20.000,00 da variação cambial do período. A bolsa de valores não precisou ficar sabendo da operação do importador daqueles produtos importados, especificamente; assim como a contraparte que negociou os produtos com o importador também não precisou ficar sabendo da proteção que o importador realizou em contratos futuros. Foram operações independentes, mas uma realizada para equiparar a outra. O resultado final para o importador foi pagar R$20.000,00 a mais pelos produtos, mas obteve um resultado positivo na bolsa de valores de R$20.000,00. Dessa forma, o importador se protegeu da oscilação cambial, de 14 modo que suas perdas com os produtos importados foram equiparadas pelos seus ganhos com a operação nos contratos futuros de dólar americano. No entanto, a proteção não acontece somente quando o dólar sobe, no caso do importador. A lógica permanece para quando o câmbio vai na direção contrária. No caso que vimos, o dólar americano teve alta na taxa de câmbio, provocando prejuízos para o importador na compra dos produtos, mas lucro com os contratos futuros. Agora suponha que o dólar americano, em vez de ter subido, tenha caído os mesmos R$0,20/USD. Nesse caso, os dólares americanos teriam variado dos R$3,30/USD para R$3,10/USD. Nesse caso, o importador teria de pagar uma quantia menor de reais para os produtos importados. Em vez de pagar os R$330.000,00 para os U$100.000,00 em compras, o importador pagaria R$310.000,00, uma vez que o dólar americano perdeu valor em relação ao real. Nesse caso, o importador teve um “ganho” de R$20.000,00 entre o momento do pagamento e o momento da compra. No entanto, no caso de o importador ter realizado um hedge na bolsa de valores, ele se protegeu da variação cambial. Isso significa que as variações no dólar americano não afetariam seu resultado. Isso é verdade tanto para o lado bom quanto para o lado ruim. Nesse caso, em que o dólar caiu e o importador teve de pagar um valor menor pelos produtos importados, o resultado da operação com os contratos futuros na bolsa de valores equiparou esse ganho na importação com uma compensação negativa dos contratos futuros. Ao ter feito o hedge comprando U$100.000,00 em contratos futuros, a variação de R$0,20 para baixo no dólar provocou débitos na sua conta da corretora de valores no valor de R$20.000,00. Portanto, o pagamento de R$20.000,00 a menos para os produtos importados foi equiparado por um “prejuízo” com contratos futuros em R$20.000,00, de modo que a variação cambial não afetou o resultado do importador. Ele fixou o câmbio aos R$3,30 para ambos os casos, tanto para a alta quanto para a queda do dólar americano. Hedge para um exportador – da mesma forma que um importador pode se proteger da oscilação da moeda com os contratos futuros, o exportador também pode fazê-lo. No entanto, para que um importador se proteja de ter de pagar mais pelos produtos por conta da alta do dólar, no caso do exportador, o risco está na queda do preço do dólar. Um exportador que vende seus produtos por U$100.000,00, mas irá receber esses produtos em um mês, tem o risco de receber um valor menor por esses produtos se a cotação do USD/Real 15 cair. Um exportador que vendeu seus produtos por U$100.000,00 com a cotação do dólar a R$3,00, tem a expectativa de receber R$300.000,00 pela sua venda (U$100.000,00 x R$3,00). No entanto, se o preço do dólar cair 10%, para R$2,70, por exemplo, em vez dos R$300.000,00, ele irá receber R$270.000,00. Isso significa que o risco para um exportador é a queda da cotação do câmbio. Para se proteger da queda da cotação do câmbio, o exportador deve realizar uma operação VENDIDA em contratos futuros. Conforme vimos no Tema 4, uma posição VENDIDA recebe os ajustes diários no caso da queda do dólar, e tem de pagar os ajustes diários no caso da alta do dólar. Portanto, para um exportador que “perde” dinheiro com a queda do dólar, ele precisa se proteger da movimentação do dólar quando a cotação da moeda cai. Para isso, ele deve ser compensado positivamente no seu hedge no caso da queda da moeda. Para que isso aconteça, o exportador deve vender os contratos do dólar futuro, de modo que, se a cotação do USD/Real cair, ele será prejudicado no recebimento dos seus produtos, mas será compensado positivo com os ajustes diários que receberá na bolsa de valores, com a posição “vendida” em contratos futuros. TROCANDO IDEIAS O mercado futuro é um mercado muito interessante, porque ele funciona de maneira muito diferente do mercado à vista. Ao mesmo tempo em que ele pode ser um instrumento financeiro muito interessante para as empresas e pessoas que realizam negócios com a moeda estrangeira, pela possibilidade de se proteger da oscilação cambial, o mercado futuro é um lugar em que há muitos especuladores. Isso ocorre pela característica alavancada das operações. Imagina que são necessários, aproximadamente, 10% do valor financeiro negociado em margem de garantia, para realizar as negociações com contratos futuros. Vamos imaginar que alguém que coloque R$10.000,00 em garantias, e realizou a compra de dólares equivalente ao valor financeiro de R$100.000,00. Assim, no caso de o dólar oscilar 3% no dia, ele oscilará 3% sobre o valor financeiro. Nesse caso, vamos supor que o dólar subiu 3%; o tamanho do ajuste diário sobre o valor financeiro de R$100.000,00 será equivalente a R$3.000,00. Agora vamos calcular o valor desse ajuste diário em relação à margem que o participante colocou em garantia. Se o ajuste foi de R$3.000,00 e essa 16 pessoa colocou somente R$10.000,00 em garantias, isso significa que o tamanho do ajuste em relação à garantia é de 30%! Isso mesmo. A pessoa colocou R$10.000,00 como garantia na bolsa de valores e ganhou, em um só dia, 30% desse valor. Isso acontece porque o mercado futuro é um mercado alavancado. Não é necessário que o participante disponha de valores financeiros equivalentes ao tamanho total do negócio que realiza, mas somente uma parte do valor financeirototal negociado. Além da facilidade de acesso para negociar contratos futuros, essa característica alavancada dos contratos atrai muitos especuladores. Não é à toa que uma grande parte das negociações de moedas ocorre nesse mercado (BIS, 2016). NA PRÁTICA Imagine que um exportador está querendo se proteger da variação cambial de uma venda que ele fez no dia x, mas que irá receber no dia x+60. Para isso, ele quer fazer um hedge no mercado futuro para, no caso da variação do dólar, ele não ser prejudicado. Qual movimento do dólar se torna um risco para o exportador? O que ele deve fazer para se proteger no mercado futuro? O que acontecerá com os valores na sua conta na corretora no caso de o dólar subir ou cair? Para o exportador, o risco da variação cambial é o movimento da queda do valor do dólar em relação ao real. Se o valor USD/Real diminuir, ele irá receber uma quantia menor de reais por sua venda. Para se proteger da queda do dólar, o exportador deve ficar “vendido” no mercado futuro de dólares. Assim, se o dólar cair, ele receberá menos pelo seu produto exportado, mas essa diferença será compensada pelo recebimento dos ajustes diários na sua conta da corretora. Portanto, se o dólar cair, a sua conta na corretora receberá depósitos de dinheiro no valor da variação da queda do dólar. No entanto, se o dólar subir, apesar de o exportador receber uma quantia maior de reais pela sua exportação, ele sofrerá resgates da sua conta da corretora para pagar os ajustes diários advindos da movimentação de alta do dólar. Portanto, se o dólar subir, sua conta na corretora sofrerá resgates de dinheiro no valor da variação da alta do dólar. 17 FINALIZANDO O mercado futuro é um importante mercado de negociação de moedas. Ele é um mercado extremamente líquido, ou seja, em que ocorrem muitos negócios e movimentações. Qualquer pessoa pode participar desse mercado, desde que abra uma conta em uma corretora e coloque valores em margem de garantia para realizar as negociações. As principais características do mercado futuro são: ajuste diário; utilização de margem de garantia; data de vencimento dos contratos; possibilidade e facilidade iguais tanto para ficar “comprado” quanto para ficar “vendido”. Além de ser um mercado muito apetitoso para os especuladores, é um importante mercado para empresas e indivíduos que querem se proteger da variação cambial. O mercado futuro pode ser utilizado como um instrumento para o hedge da oscilação do valor da moeda tanto para exportadores quanto para importadores. REFERÊNCIAS BIS, 2016. Disponível em: <http://www.bis.org/publ/rpfx16fx.pdf>. Acesso em: 1 out. 2016. BM&FBOVESPA, 2016. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/produtos/listados-a-vista-e- derivativos/moedas/futuro-de-taxa-de-cambio-de-reais-por-dolar- comercial.htm>. Acesso em: 27 dez. 2016. BM&FBOVESPA, 2016b. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/produtos/listados-a-vista-e- derivativos/moedas/dolar-a-vista.htm>. Acesso em: 29 dez. 2016. 18 BM&FBOVESPA, 2016c. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/servicos/clearing/clearing-bm- fbovespa/>. Acesso em: 1 out. 2016. BM&FBOVESPA, 2016d. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/servicos/clearing/clearing-bm- fbovespa/administracao-de-riscos/garantias/garantias-aceitas/>. Acesso em: 29 dez. 2016. BM&FBOVESPA, 2016e. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/servicos/clearing/clearing-bm- fbovespa/administracao-de-riscos/garantias/garantias-depositadas/>. Acesso em: 29 dez. 2016. BM&FBOVESPA, 2016f. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/servicos/market-data/consultas/mercado- a-vista/administracao-de-risco/margem-de-garantia/>. Acesso em: 30 dez. 2016. ESTADÃO, 2014. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/blogs/descomplicador/swap-cambial-a-arma- do-bc-contra-a-valorizacao-do-dolar/>. Acesso em: 29 dez. 2016. VENTURA, A.; GARCIA, M. Mercados futuro e à vista de câmbio no Brasil: o rabo abana o cachorro. Revista Brasileira de Economia, v. 66, n. 1, p. 21-48, 2012.
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