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Contexto de Renovação do Serviço Social Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Esp. Mauricio Vlamir Ferreira Revisão Textual: Profa. Ms. Rosemary Toffoli O Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina 5 • Introdução • A Busca de uma Identidade Latinoamericana e a Erosão do Serviço Social Tradicional • Pressupostos Históricos do Processo de Renovação do Serviço Social Brasileiro • Revisão · Contextualizar o movimento de reconceituação como um momento importante de aproximação do Serviço Social com as lutas sociais. · Explicar de que forma a repressão no Brasil e na América Latina atrapalhou o desenvolvimento natural do Serviço Social. · Identificar os processos de libertação e ruptura do Serviço Social com o conservadorismo. · Pontuar os avanços e conquistas do Serviço Social e dos Assistentes Sociais até os dias atuais. Nesta unidade, explicaremos a história do serviço Social no Brasil, partindo da análise conjuntural do processo histórico social econômico e político brasileiro. Você vai perceber que o processo de reconceituação do Serviço Social na América Latina contribuiu para a identificação da profissão com as expressões da questão social. Vamos identificar o processo de repressão dos países da América Latina e de que forma a falta de liberdade prejudicou o avanço do Serviço Social, tanto na prática, como em seu desenvolvimento acadêmico. Assim, você poderá compreender que a intenção de ruptura foi um processo importante em um processo de construção intelectual que rompeu com o conservadorismo. Também, nesta unidade, serão abordados os avanços e conquistas do Serviço Social, do projeto ético-político e das conquistas e direitos dos Assistentes Sociais. Nesse processo de aprendizado, será muito importante a sua participação no fórum de discussão online e também na realização dos exercícios no ambiente virtual. Lembramos a você sobre importância de realizar todas as atividades propostas dentro do prazo estabelecido. Dessa forma, você evitará que o conteúdo se acumule e que você tenha problemas ao final do semestre. O Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina 6 Unidade: O Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina Contextualização O período de repressão às liberdades democráticas e de opressão da classe trabalhadora fortaleceu a articulação do Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina. A ausência de mudanças políticas e sociais faria crescer a insatisfação dos profissionais que se conscientizavam de suas limitações teóricas, instrumentais, e pela falta de participação política e a não identificação ideológica. Assim, a semente do movimento de mudança social nos países latino-americanos germinaria em territórios vividos pela falta de liberdade, pelo sentimento de opressão e dominação. A profissão estaria sob a imposição da doutrina de segurança nacional e pelo artificial desenvolvimento imposto pelo capital, fundamentado nas bases imperialistas de dominação, decorrente do pensamento conservador. Nesse período, o Serviço Social latino americano é movido pela prática. Nesse sentido, a reconceituação passa a ser o momento de criticidade de uma profissão desgastada e usurpada pelos governos autoritários do continente. A aposta da evolução do Serviço Social estaria no fortalecimento do trabalho coletivo da categoria, na discussão e na nova teorização da profissão. A comunidade acadêmica nesse período sofreu a intervenção de agentes governamentais da repressão e os componentes curriculares dos cursos universitários sofreram alterações de modo que houve um grande regresso da formação profissional para uma lógica conservadora. Também podemos considerar a falta de condições para o desenvolvimento universitário, no apoio financeiro para a inserção dos filhos de trabalhadores na comunidade acadêmica. Mesmo que de forma tardia, o Serviço Social identificou-se em desenvolver uma estrutura de ação profissional que se identificasse com a realidade latino-americana. 7 Introdução O Serviço Social é uma profissão que tem como foco a identificação dos aspectos conflitantes na sociedade. As expressões da questão social, se inserem nas áreas da educação, família, criança e adolescente, saúde, trabalho, justiça segurança entre outras no sentido de planejar e inserir políticas públicas nas áreas onde atua. Este trabalho acontece de forma individual com os usuários dos serviços públicos ou em empresas ou entidades não governamentais (ONGs), na lida direta ou através de gestões e planejamentos. Esta realidade atual, encontra no embasamento no Movimento de Reconceituação do Serviço Social, diante do avanço da teórico e metodológico a compreensão das relações sociais. Para tanto, é importante estarmos atentos aos processos de transformação do Serviço Social e sua premissa de acompanhar a evolução social e histórica da sociedade. Devemos destacar que o Serviço Social não deve retomar sua característica conservadora, burocrática e funcionalista do passado, estando, desta forma, cada vez mais integrado com seu presente para pensar na evolução das relações sociais, por um futuro com menos injustiças. Ao final da década de 1950 e início da década de 1960 vivia-se a crise capitalismo acumulativo, onde sua internacionalização fortaleceu a iniciativa privada e o capital externo em detrimento a indústria nacional. Assim o projeto de justiça social, e de suas dimensões políticas, era na época pautada de forma secundária com a perda da sua importância na pauta política, e na ação do governo deste período. A identificação do Serviço Social com as classes dominantes afastava sua permeabilidade diante das comunidades menos favorecidas. Porém o Serviço Social neste período obtém o reconhecimento da Organização das Nações Unidas (ONU) e outros órgão internacionais na e divulgação e sistematização pela atuação do Desenvolvimento de Comunidade (DC). Com este reconhecimento, através da contribuição para a integração da população aos planos nacionais e regionais de desenvolvimento, o Serviço Social passa a ter um relativo destaque perante os órgãos governamentais no início da década de 1960. Diante dessa realidade, boa parte dos profissionais do Serviço Social se inseriu junto às ideias da igreja católica progressista, organizada no Movimento de Educação de Base (MEB), núcleo idealizado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Neste período inicial da década de 1960 e anterior ao golpe militar de 1964, o Serviço Social atuava na área da educação, com a assimilação dos conceitos de Paulo Freire, apoiando a organização sindical da classe trabalhadora e também nas comunidades rurais na luta pela reforma agrária. 8 Unidade: O Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina Com a ditadura militar, o Serviço Social assumiu uma postura de neutralidade de ação, e de acordo com a nova realidade, o retorno do conservadorismo influenciou a ação da profissão até o início dos anos 1970. Com uma característica fascista, a ditadura militar impôs a quebra do diálogo da sociedade civil com o governo por 21 anos. Quando o Movimento de Reconceituação é abordado não é possível a comparação ou a semelhança com o Serviço Social atual. Da mesma forma não há a possibilidade de se elaborar uma mesma linha de momento histórico para todos os países da América Latina. A construção de um Serviço Social durante a Reconceituação não se deu num mesmo período e os acontecimentos sociais e políticos nos países latino-americanos também contribuíram para que o avanço da profissão se desse em momentos diferentes. Como referência contextual é possível datar a década de 1970, pelos acontecimentos de domínios das ditaduras militares que impossibilitaram uma troca efetiva de experiências do Serviço Social entre os países latino-americanos. Apenas grupos pertencentes à Associação Latino-Americana de Escolas de TrabalhoSocial (ALAETS) e ao Centro de Estudos Latino-Americano de Trabalho Social (CELATS), conseguiram efetuar a troca de conhecimento, sem a condição de criar encontros de maior participação da categoria na dimensão internacional. Ideologicamente na América Latina, os trabalhadores do Serviço Social passariam a enxergar na Teologia de Libertação, fundamentada na opção pelos pobres, condições filosóficas oferecidas pela Igreja Católica progressista a partir do Concílio Vaticano II. O Concílio Vaticano II foi u ma sequência de eventos e conferênc ias realizadas pela igreja católica entre 1962 e 1965. Esta reunião da Igreja Cat ólica pode ser considerada o evento ma is estratégico e importante para a c onstrução do catolicismo como o con hecemos nos dias atuais. Além do Papa João XXIII, for am convocados todos os bispos da Igreja Ca tólica mundial para discutir e votar as decisões que tinham como objetivo agreg ar novos fiéis e identificar o novo papel da Igreja católica no contexto do século XX. Dentro dessa lógica de avanço no campo progressista católico, a América Latina encontrou um grande apoio de sua comunidade, uma vez que que a imensa maioria de sua população era católica. A identificação da população mais excluída do modo capitalista de dominação pela aproximação do trabalho social da igreja progressista aproximou o Serviço Social para a compreensão da importância da participação popular e pelas reivindicações sociais do movimento de luta das classes menos favorecidas. 9 Soma-se a este fator a identificação na análise teórica e metodológica do marxismo pela comunidade acadêmica, criou-se um movimento de rompimento do tradicionalismo conservador do Serviço Social nestes países. Para uma maior compreensão sobre aspectos socioculturais da América Latina, recomendamos que você assista ao vídeo “Diários de Motocicleta”. O vídeo apresenta uma série de momentos da viagem do jovem Ernesto Che Guevara e seu companheiro de viagem pela América do Sul, passando por diversas localidades até atingir o seu local de estágio de medicina. O link deste filme pode ser encontrado no material complementar para atividades de aprofundamento. A Busca de uma Identidade Latinoamericana e a Erosão do Serviço Social Tradicional O período de repressão as liberdades democráticas, e de opressão da classe trabalhadora fortaleceu a articulação do Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina. A ausência de mudanças políticas e sociais faria crescer a insatisfação dos profissionais que se conscientizavam de suas limitações teóricas, instrumentais, e pela falta de participação política e pela não identificação ideológica. Assim a semente do movimento de mudança social nos países latino-americanos germinaria, em territórios vividos pela falta de liberdade, pelo sentimento de opressão e dominação. A profissão estaria sob a imposição da doutrina de segurança nacional e pelo artificial desenvolvimento imposto pelo capital, fundamentado nas bases imperialistas de dominação, decorrente e do pensamento conservador. Neste período, o Serviço Social latinoamericano é movido através de sua prática. A reconceituação passa a ser o momento de criticidade de uma profissão desgastada e usurpada pelos governos autoritários do continente. A aposta da evolução do Serviço Social estaria no fortalecimento do trabalho coletivo da categoria, na discussão e na nova teorização da profissão. No contraponto, o Estado utilizaria a política social como uma estratégia para minimizar as consequências do capitalismo monopolista marcado pela grande exploração da força do trabalho e pela forte concentração de renda. Podemos destacar que uma tentativa de pontuar o movimento de reconceituação na América Latina foi a efetivação do I Seminário Regional Latinoamericano de Serviço Social, realizado em 1965 na cidade de Porto Alegre no estado do Rio Grande do Sul. 10 Unidade: O Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina Neste encontro, países como Argentina, Chile e Uruguai, além do Brasil tiveram grande destaque nos apontamentos e questionamentos dos profissionais do Serviço Social. A boa articulação dos profissionais do Serviço Social nas décadas de 1960 e início dos anos 1970 que se dava através de projetos de conhecimento e sofreu um distanciamento e um período hermético devido às ditaduras latino-americanas. Em um momento importante para a troca de conhecimentos, com o aprofundamento e endurecimento dos regimes ditatoriais latino-americanos, a profissão passaria a se desenvolver distintamente em cada país da América Latina. A comunidade acadêmica neste período sofreu a intervenção de agentes governamentais da repressão e os componentes curriculares dos cursos universitários sofreram alterações de modo que houve um grande regresso da formação profissional para uma lógica conservadora. Também podemos considerar que neste período a falta de condições para o desenvolvimento universitário, tanto no apoio financeiro para a inserção dos filhos de trabalhadores na comunidade acadêmica. Neste período, o desenvolvimento de pesquisas além do incentivo a complementação da universidade, evitou a ampliação da pós-graduação, e impediu a ampliação de novos quadros intelectuais e profissionais especializados no Serviço Social. Durante este período muitos professores universitários perderam seus direitos de docência, vários foram presos e torturados e assassinados, e alguns conseguiram sair do país, retomando a profissão, ou então trabalhando em outra qualificação da mão de obra local. A precarização da classe docente a falta da estabilidade dos professores e a ausência da dedicação exclusiva, contribuíram negativamente, e colocaram o curso de Serviço Social com uma gritante defasagem teórica. A falta da produção intelectual antenada aos avanços científicos e aos tempos de mudança no mundo, ocasionou em uma produção de conteúdo insípida para o final da década de 1970, contribuindo para o atraso do Serviço Social e da sua criticidade intelectual nos países vítimas da ditadura militar. A perspectiva neoliberal, junto à agudização da crise do petróleo, formam fatores que também contribuíram para a luta social por uma sociedade menos injusta, uma vez que os países latino-americanos perderiam o trem do estado de bem-estar social. Dadas as condições do avanço do monopólio, da ausência da democracia e do imperialismo capitalista neoliberal, o Serviço Social na América Latina, buscará o encontro com sua identidade contemporânea nos momentos de retorno democrático e no avanço das lutas sociais, porém com novos desafios no combate a precarização do trabalho profissional e na conquista de novos avanços tanto para a profissão, quanto para a população atendida por seus profissionais. 11 Pressupostos Históricos do Processo de Renovação do Serviço Social Brasileiro Diante da necessidade de se reavaliar dentro de um período antidemocrático no Brasil, a perspectiva modernizadora tem seu início, quando os rumos do Serviço Social são discutidos no I Seminário de Teorização da profissão, conhecido também como “Encontro de Araxá” na cidade de Araxá, localizada no estado de Minas Gerais em 1967. Porém apesar da necessidade de se reposicionar ideologicamente, o Serviço Social neste período confirmou seu caráter de alinhamento com o posicionamento ideológico do regime militar. Durante esta fase, a tecnocracia e a burocracia do sistema vigente colocava a imposição da política social governista, sem a existência de saber os problemas reais da população. O desconhecimento da realidade para o profissional do Serviço Social, acabava por criar uma situação hermética, ou seja, limitava a sua condição de ação e desenvolvimento intelectual e prático, enfraquecendo a luta da categoria por transformações importantes que não aconteceriam no fim da década de 1960. As mudanças na sociedade brasileira neste período de regime militaracabam provocando um novo movimento que levaria o Serviço Social a assumir uma prática com tendências modernizadoras. Este novo movimento objetivava a mudança na postura da prática do Serviço Social, e este período foi marcado como momento inicial do Movimento de Reconceituação do Serviço Social no Brasil. O resultado da perspectiva modernizadora seria a impossibilidade de uma compreensão mais aprofundada das origens das expressões da questão social. Para tanto, o conservadorismo, a manutenção da tradicionalidade, fazia-se impor sobre a formação dos novos profissionais da área social. Neste sentido o profissional, negando a autonomia e a capacidade crítica do profissional, sendo este por muitas vezes, um trabalhador na área da psicologia social. No segundo encontro realizado na cidade de Teresópolis no estado do Rio de Janeiro em 1970, a renovação do Serviço Social analisou as ligações entre a superficialidade do empirismo da prática social e a sua relação com o método de ação. Sobressaiam desta maneira, os aspectos operacionais e os seus resultados, com a teorização de novas técnicas de intervenção no sentido da afirmação da profissão como uma ciência moderna e técnica. Porém o Serviço Social insistia na superficialidade e ignorava a necessidade da ação da intervenção objetiva sobre a realidade social. A profissão reafirmava desta forma, o conservadorismo da profissão, ou como ficou conhecido este momento, seria a reatualização do conservadorismo. 12 Unidade: O Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina Os desgastes dos governos militares com a população após a crise mundial do petróleo em 1973 se aprofundaram. A crise fez o ressurgir os movimentos populares, como o movimento contra a carestia, além disso mobilizou os trabalhadores para a reorganização de sua classe. A pressão popular pela anistia e pela redemocratização do país, fez com que a categoria de profissionais do Serviço Social se repensasse e se reorganizasse com os avanços teórico- metodológicos que iam de encontro a nova ordem social no fim da década de 1970. Apesar de na prática o conservadorismo manter as rédeas do Serviço Social, o intenso processo de discussões dos encontros de Araxá e de Teresópolis. A partir de então, haveria a procura por um novo posicionamento que criasse uma identificação dos Assistentes Sociais. A classe trabalhadora marcou os parâmetros fundamentais para a formação dos Assistente Sociais. Os documentos registrados nesses encontros, dariam início ao processo posterior de questionamento e a intenção de ruptura da profissão. Com a chegada da década de 1970, as transformações políticas e econômicas no mundo, motivam a comunidade acadêmica do Serviço Social a conhecer novas possibilidades de análise e na busca por novos caminhos para a profissão. O Serviço Social começa assim, uma fase de contestação pelos profissionais, ao identificarem a perspectiva marxista, com um conceito das instituições identificadas ideologicamente com o Estado. A partir da necessidade da construção de uma nova lógica de ação profissional de uma nova forma de análise da transformação da sociedade brasileira, a partir da segunda metade da década de 1970, o Serviço Social identifica tardiamente a insatisfação da população frente as desigualdades sociais. No fim dos anos 1970, a opressão da classe trabalhadora e a exploração da população pelas oligarquias, latifundiárias e a burguesia nacional, acabam por levar a classe média a uma série de dificuldades de se estabelecer. Com a chegada dos anos 1980, durante os processos de reinstitucionalização democrática de diversos países – fundamentalmente no cone sul latinoamericano –, a profissão e as universidades, em geral, reiniciam seu caminho histórico de reestruturação, com uma defasagem de mais de 15 anos. Com este quadro, pode-se afirmar que a estratégia assumida por muitos países hispano- americanos para se reestruturar profissionalmente. 13 Em geral, este período foi o do retorno ao passado: foram reinstituídos os docentes e autoridades, anteriores às ditaduras, reimplantados os currículos antigos (dos anos 60, na melhor das hipóteses) e reintroduzida a bibliografia de referência dos inícios da reconceituação, como “textos atuais”. A política de baixos salários, e o aumento do custo de vida da população acarretaram na ampliação da miséria em grande parte da população brasileira com um momento inflacionário de grande impacto na sociedade brasileira, no início dos anos 1980, retratando assim a falência sócio-econômica do processo de ditadura militar. O Estado passaria a administrar a miséria social, evitando o aprofundamento da questão social, em favor das políticas conduzidas pelo no sentido de manusear o setor popular convivente da miséria. O Serviço Social então era entendido como uma profissão estratégica para evitar a organização e resistência e a capacidade de organização da população. O rompimento dos Assistentes Sociais com esta premissa, portanto foi fundamental para a reorganização e a contemporaneidade do Serviço Social, onde os profissionais deixaram a postura passiva de executores para construir conjuntamente os novos parâmetros da profissão. Assim, quanto maior a possibilidade de liberdade de reorganização política e social da população, maior seria a combatividade. A força da imposição ideológica da categoria tinha como consequência, um Serviço Social que lutasse pelo fortalecimento da sociedade brasileira de uma maneira geral, com uma postura independente do governo militar vigente. Mesmo que de forma tardia, o Serviço Social se identificou em desenvolver uma estrutura de ação profissional que se identificasse com a realidade latino-americana. A afirmação da profissão ao decorrer das décadas de 1970 e 1980 além de garantir sua efetividade, construiu uma sequência de posicionamentos e um grande teor crítico ao se repensar e reconstruir a profissão. Fica claro que a participação da população na contestação e luta pela redemocratização, além da mobilização da classe trabalhadora foram importantes para a virada ideológica do Serviço Social, pois a profissão passou de neutra, para uma ação da compreensão da existência de um sistema histórico de condições desiguais dominado pela classe dominante, que privilegia o acúmulo da riqueza e a ampliação da exploração perante os trabalhadores, fator esse que amplia a miséria no Brasil e na América Latina. A partir de 1973, o conflito do capital financeiro, através da ofensiva neoliberal, que impediu o crescimento e o desenvolvimento dos países latino-americanos, e que no final dos anos 1980 pelo Consenso de Washington na América Latina, aprofundou e precarizou as relações de trabalho em geral, as ações do Estado e particularmente, a condução das políticas sociais. 14 Unidade: O Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina O consenso de Washingto n foi um acordo que consisti u na imposição de políticas neolib erais nos países latino-americ anos, através da pressão exe rcida pelo governo dos Es tados Unidos e por instituições co mo o Fundo Monetário Internac ional (FMI), o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIRD). Dentre as condições impostas pela estrutura imperialista no Consenso de Washington, podemos destacar: • A desregulamentação progressiva do controle do Estado na economia e a retirada de importantes conquistas e direitos trabalhistas. • A disciplina fiscal, onde haveria a iniciativa dos governos de cortar gastos e eliminar ou diminuir as suas dívidas, reduzindo custos e a despesa com pessoal; • A implantação de um plano de privatização de empresas estatais, em áreas comerciais e em áreas estratégicas de infraestrutura, onde o controle privado pudesse ter participação majoritária e ativa; • A reforma fiscal e tributária, com a reformulação dos sistemas de arrecadação de impostos desonerando as empresas dos impostos; • A aberturacomercial e econômica dos países, beneficiando o capital estrangeiro. A crise ideológica passa a ser dada tanto pelos governos de direita, com crises econômicas e sociais intermináveis, como pela influência de renovação teórica dos movimentos de reforma da esquerda, abrindo perspectiva para rumos antes contestados, como a social democracia, trazendo assim novos dilemas ao Serviço Social, como por exemplo a luta contra a precarização das condições de trabalho dos Assistentes Sociais. Assim, a intenção de ruptura da categoria com o Serviço Social tradicional, passou a estabelecer nas décadas de 1980 e 1990, uma organicidade entre os Assistentes Sociais com as classes populares, buscando a conscientização dos profissionais na luta pelo desenvolvimento social, e pela diminuição da desigualdade social no país. Dentre as conquistas históricas da categoria a partir da década de 1980 podemos destacar: • A luta da categoria por um projeto ético-político; • O fortalecimento da representatividade dos profissionais (Conselho Regional de Serviço Social – CRESS, Associaçao Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPS, Conselho Federal do Serviço Social – CFESS e Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social – ENESSO); • O estabelecimento do código de ética em 1986 e sua atualização em 1993; • A luta pela criação de políticas específicas para uma Assistência Social pública e gratuita na constituição de 1988; • A implantação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) • A criação da Política Nacional de Assistência Social em 2004; • A criação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) em 2005; • A Lei da redução da jornada dos Assistente Sociais para 30 horas, em 2010; • A luta pelo piso salarial unificado da categoria; • A luta contra a precarização do trabalho dos Assistentes Sociais. 15 Revisão O Serviço Social é uma profissão que tem como foco a identificação dos aspectos conflitantes na sociedade. Esta realidade atual, encontra no embasamento no Movimento de Reconceituação do Serviço Social, diante do avanço da teórico e metodológico a compreensão das relações sociais. A construção de um Serviço Social durante a Reconceituação não se deu num mesmo período e os acontecimentos sociais e políticos nos países latino-americanos também contribuíram para que o avanço da profissão se desse em momentos diferentes. Podemos destacar que uma tentativa de pontuar o movimento de reconceituação na América Latina foi a efetivação do I Seminário Regional Latinoamericano de Serviço Social, realizado em 1965 na cidade de Porto Alegre no estado do Rio Grande do Sul. Como referência contextual é possível datar a década de 1970, pelos acontecimentos de domínios das ditaduras militares que impossibilitaram uma troca efetiva de experiências do Serviço Social entre os países latino-americanos. A identificação da população mais excluída em relação ao modo capitalista de dominação pela aproximação do trabalho social da igreja progressista aproximou o Serviço Social para a compreensão da importância da participação popular e pelas reivindicações sociais do movimento de luta das classes menos favorecidas. Com a chegada da década de 1970, as transformações políticas e econômicas no mundo, motivam a comunidade acadêmica do Serviço Social a conhecer novas possibilidades de análise e na busca por novos caminhos para a profissão. Neste período, o desenvolvimento de pesquisas além do incentivo a complementação da universidade, evitou a ampliação da pós-graduação, e impediu a ampliação de novos quadros intelectuais e profissionais especializados no Serviço Social. Dadas as condições do avanço do monopólio, da ausência da democracia e do imperialismo capitalista neoliberal, o Serviço Social na América Latina, buscará o encontro com sua identidade contemporânea nos momentos de retorno democrático e no avanço das lutas sociais, porém com novos desafios no combate a precarização do trabalho profissional e na conquista de novos avanços tanto para a profissão, quanto para a população atendida por seus profissionais. Mesmo que de forma tardia, o Serviço Social se identificou em desenvolver uma estrutura de ação profissional que se identificasse com a realidade latino-americana. A crise ideológica passa a ser dada tanto pelos governos de direita, com crises econômicas e sociais intermináveis, como pela influência de renovação teórica dos movimentos de reforma da esquerda, abrindo perspectiva para rumos antes contestados, como a social democracia, trazendo assim novos dilemas ao Serviço Social, como por exemplo a luta contra a precarização das condições de trabalho dos Assistentes Sociais. Para uma maior compreensão sobre a luta dos Assistentes Sociais contra a Ditadura Militar, recomendamos que você assista ao vídeo “Projeto Serviço Social, memórias e resistências contra a ditadura”. Este vídeo foi elaborado pelo CFESS/CRESS para o 43º Encontro Nacional da categoria do Serviço Social. O vídeo apresenta uma série de relatos de Assistentes Sociais presas e torturadas no período da ditadura militar no Brasil. 16 Unidade: O Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina Material Complementar Para melhor aproveitamento de seu estudo, sugerimos os recursos didáticos dos livros e vídeos. Todo o material pode ser encontrado na internet. Os livros podem ser baixados em arquivo PDF. Vídeos: “Diários de Motocicleta”. Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=WhGR-CEfcCA “Projeto Serviço Social, memórias e resistências contra a ditadura”. Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=yFEo29Aqcn8 https://www.youtube.com/watch?v=WhGR-CEfcCA https://www.youtube.com/watch?v=yFEo29Aqcn8 17 Referências AMMANN, S. B. Ideologia do Desenvolvimento de Comunidade no Brasil. 10. ed. Sao Paulo: Cortez, 2003. IAMAMOTO, M. V. Renovação e Conservadorismo no Serviço Social: Ensaios Críticos. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2004. MONTAÑO, C. O Serviço Social na América Latina e o Debate no Brasil – Revista “Em Pauta”. Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro -UERJ. Rio de Janeiro/dezembro 2008 in http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/ revistaempauta/article/viewFile/57/56 NETTO, J. P. Ditadura e Serviço Social. Uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. 8ªed. São Paulo. Ed. Cortez, 2005. 18 Unidade: O Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina Anotações