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TCC MEMÓRIA E IDENTIDADE

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SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO..........................................................................................................2-3
CAPÍTULO I
A CRÔNICA NA CONTEMPORANEIDADE.......................................................4
1.1 Breve histórico do gênero crônica.........................................................................4-5
1.2 Surge um gênero nacionalista..............................................................................5-16
1.2 A crônica como elemento identitário e memorial..............................................17-21
CAPÍTULO II
MEMÓRIA E IDENTIDADE COMO FENÔMENO DE CONSTRUÇÃO HISTÓRICA...............................................................................................................21
2.1 A memória em uma perspectiva social regionalista..........................................21-24
2.2 A memória como um elemento constituinte do sentimento de identidade........24-29
2.3 Processo de rememorização: Em busca de elementos constituintes da cultura do povo vigiense...........................................................................................................29-32
CAPÍTULO III
A CONSTITUIÇÃO IDENTITÁRIA E MEMORIAL NA CRÔNICA “A MORTE DO PADRE MESTRE” ........................................................................32-33
4.1 Elementos comportamentais de memória e identidade presentes na crônica…33-43
4.2 Traços da cultura religiosa apresentada na crônica...........................................44-49
CONCLUSÕES......................................................................................................50-51
REFERÊNCIAS..............................................................................................................APÊNDICE......................................................................................................................
ANEXOS..........................................................................................................................
INTRODUÇÃO
A partir da crônica na contemporaneidade, analisaremos esse gênero que foi tão adorado por leitores que gostavam de leituras simples e bem estruturadas, o objetivo principal da crônica era descrevera eventualidades do dia-a-dia, como forma de registrar os acontecimentos, atos por vezes heroicos, para que não se perdesse no tempo, todavia, a princípio essas transformações foram sobrevindas com o próprio tempo, passou a ter características e qualidade literária, com isso concretizou-se como literatura, porém foi considerada por muitos críticos literários como uma texto inferior por usar uma linguagem menos rebuscada o que a diferenciou dos demais gêneros. Após algum tempo a crônica deixa de ser um meio de relatar fatos históricos, para tonar-se uma obra de cunho totalmente literária, leitura que provoca diversos sentimentos, igualando-se a romances e novelas, escritas em ocasiões de grande inspiração, caindo no gosto popular, deixando de ser história de momento, que envelhece e morre para ressurgir uma nova no dia seguinte, que eterniza-se nos livros e engrandece a literatura brasileira.
A crônica constituída como um elemento identitário e memorial, surgindo inicialmente quando os cronistas passam a descrever subsídios culturais e da própria essência humana, fazendo com que estabeleça uma relação intima com o leitor, que ver sua própria imagem dentro da narrativa, em uma relação mútua com a sua realidade, sobretudo quando repassada por meio da memória coletiva que se constrói por meio de lembranças comuns dos indivíduos. Desta forma, a memória e a identidade são fenômenos de construção histórica, em uma relação dialógica, que perpassa por certo armazenamento de acontecimentos que eclode em uma formação de identidade de cada sujeito, por isso que o regionalismo também está ligado a memória, por estabelecer uma singularização cultural e social, proporcionado um sentimento de ancestralidade, vinculando o passado e o presente à uma certa identidade local.
Esse regionalismo identitário e memorial presente em muitas crônicas, sobretudo, aquelas que foram escritas em regiões que apresentam uma carga histórica de grande significação, é resultado do processo sociocultural inerente de uma construção temporal, atrelada ao passado mas que permanece viva no presente. No Brasil esse processo se deu por diversas gerações, por meio de resquícios deixados desde a colonização portuguesa nas cidades brasileiras.
A cidade de Vigia de Nazaré, do estado do Pará, localizada na região do salgado, apresenta essas marcas memoriais e identitárias em seus escritos, principalmente nas crônicas que foram escritas por autores da própria cidade, que no passado ainda foi conhecida como berço cultural e que abrigava escritores consagrados. Por isso, é imprescindível o processo de rememorização, em busca de elementos constituintes da cultura do povo vigiense, assim é possível trazer à tona acontecimentos do passado que irão ajudar na formação da cultura vigiense e sua organização social. Cidade que foi resultado do processo de colonização portuguesa e recebeu diversas influências desse povo, principalmente em suas tradições culturais como o Círio de Nazaré, evento católico de grande prestigio na região norte, que está intimamente ligada a religiosidade que foi trazida pelos jesuítas, durante o processo de catequização dos indígenas, que viviam nesta localidade.
Desta forma, chegamos ao nosso objeto de pesquisa, a crônica “A morte do Padre-Mestre”, do autor Aécio Palheta, que trata de fatos históricos que fizeram parte dos seus primeiros vinte anos de vida, e que proporciona aos seus leitores uma relação familiar com a Cidade de Vigia de Nazaré, uma vez que esses inscritos revelam as marcas memorias do povo vigiense por meio das lembranças, que reconstroem o passado e auxiliam na compreensão das suas identidades. Assim é estabelecido a constituição identitária dessas pessoas, a organização social e política dessa comunidade, a cultura e a religiosidade integrada as demais expressões, manifestada no cotidiano dos moradores, uma vez que essa cultura representa um todo e não um único indivíduo, refletindo experiências comuns, que deixaram vivos vestígios vocabulares pertinentes dessa localidade e de seus moradores, marcas discursivas que constroem por completo a identidade e memória.
A leitura dessa crônica proporciona momentos de intimidade com a própria cidade de Vigia de Nazaré, e leva-nos a uma viagem lendária pela cidade. Para os moradores de Vigia cada frase lida e as entrelinhas deixadas é como reviver novamente o passado, e cada lembrança deixada é eternizada nesta terra tão amada e adorada, como ressalta o grande poeta vigiense Carlos Cordeiro Gomes: 
A Vigia é como uma namorada antiga, que a gente não esquece. E, no reencontro, a gente revive lado a lado todas emoções, que somente um grande amor pode proporcionar (Cordeiro, 2005, p.17).
Assim, as lembranças de Vigia de Nazaré, permanecem vivas na memória daqueles que ali viveram e partilharam dos fatos ocorridos ao decorrer do tempo, sendo consequentemente formada, a competência memorial de cada sujeito e sua noção de identidade.
CAPÍTULO I
A CRÔNICA NA CONTEMPORANEIDADE
1.1 Breve histórico do gênero crônica
Esse gênero textual tão adorado por leitores que gostam de uma leitura mais simples, porém bem estruturada, trilhou um longo caminho até se constituir no que é hoje. Os primeiros escritos com esse caráter cronológico e circunstancial da crônica, estão presentes na bíblia sagrada, a partir dos relatos de Heródoto, no livro “crônicas”, e em muitas outras passagens da bíblia, em que são descritas variadas situações, por meio de uma linguagem bastante metafórica.
O termo crônica, de origem grega vem de khronos, que remete a tempo, e essa característica específica, fundamenta o tipo estrutural desse gênero. O objetivo central da crônica era relatar os acontecimentos, como forma de armazenar os feitos, por muitas vezes heroicos, para que não se perdesse no tempo, no entanto, a partir das mutações ocorridas como próprio tempo, acabou adquirido uma qualidade literária, e se consolidando como literatura. No entanto, é vista como uma literatura inferior pelos críticos literários, por ser textos na grande maioria, curtos e com uma linguagem menos rebuscada, diferente das novelas e romances; o que Jorge Sá chama de “gênero nobre”, quando diz que o cronista Rubem Braga é: “certamente capaz de escrever contos, novelas e romances, mas não se deixou seduzir pelo brilho dos chamados gêneros nobres”. (SÁ, 1988, p.13).
A forma peculiar como as crônicas conseguem prender a atenção do leitor, estão intimamente ligadas ao fato de os narradores em muitos casos, presenciarem as situações, que são inspirações de sua escrita. E assim, descrever as cenas com mais riqueza de detalhes, se colocando como o observador dos fatos, e transmitindo ao texto a sua sentimentalidade. Quando não, criam uma história ficcional, transpassando à ela, uma condição de realidade, algo que faz parte do cotidiano das pessoas. Como pode-se observar no dizer de Jorge Sá:
Em vez, do simples registro formal, o comentário de acontecimentos que tanto poderiam ser de conhecimento público como apenas do imaginário do cronista, tudo examinado pelo ângulo da recriação do real (SÁ, 1987, pg.9).
A partir de José de Alencar, Lima Barreto, Francisco Otaviano e Olavo Bilac, autores que se destacaram, a crônica deixa de ser apenas um meio de relatos históricos, para se tornar obra literária, capaz de provocar a mesma efervescência de sentimentos, quanto os grandes romances e novelas, compostos no momento de maior inspiração do autor. E assim, a crônica cai no gosto popular, e deixa de ser uma história de momento, que envelhece e morre no dia seguinte, para se eternizar nos livros, e engrandecer a literatura brasileira.
1.2 Surge um gênero nacionalista
No Brasil a crônica surge a partir das cartas do português Pero Vaz Caminha, ao monarca D. Manuel, que percebeu a necessidade de enviar juntamente com as tropas de navios da capitania portuguesa, alguém que pudesse relatar as descobertas da nova terra. Esse relato ficou conhecido como “crônica de viagem”, por relatar descritivamente os feitos ocorridos durante a viagem, as novas descobertas, sendo tratado por muitos estudiosos como documento histórico. Como afirma José Marques de Melo:
O que nos dão, assim, esses cronista, não é mais do que borboletear da curiosidade pelos horizontes de sua experiência de colonos, antes de mais nada preocupados com aspectos práticos da vida, e as vezes picados pela surpresa do exótico e do excêntrico (MELO, 2002, p.15).
Esse caráter referencial da crônica, pôs em dúvida durante muito tempo, se esse gênero pode ser considerado de fato literatura, já que sua função primordial era apenas repassar informações, sem o comprometimento com a literariedade do texto. Contudo, as cartas escritas por Caminha, possuem uma carga estética muito grande, sendo vista pelo autor Jorge Sá, como a “certidão de nascimento” do Brasil, em seu livro Crônicas e sendo reconhecida como a primeira expressão literária do país.
 O fato é que houve uma evolução da crônica enquanto gênero literário, recebendo caraterísticas nacionais, que a diferenciam daquele tipo de escrita da época das grandes navegações. Foram incorporadas à crônica não mais a simples tarefa de relatar acontecimentos, como a descobertas de novas terras ou riquezas minerais, mas o de se apropriar de fatos aparentemente simplórios e dela extrair significação. Como diz Antônio Cândido:
É curioso como elas mantêm o ar despreocupado, de quem está falando coisas sem maior consequência; e, no entanto, não apenas entram fundo no significado dos atos e sentimentos do homem, mas podem levar longe a crítica social (CANDIDO,1992, p.23).
Estabelecendo essa característica circunstancial, a crônica ganha uma característica fundamental para se estabelecer como gênero tipicamente brasileiro, ao incorporar no gênero o ar de “conversa fiada” e se inserir nos estudos da literatura brasileira. O cronista consegue tratar de várias questões, como os sentimentos íntimos do ser humano e os múltiplos problemas sociais, em textos curtos e com uma linguagem simples e acessível, dando a possibilidade de todas as classes sociais terem contato com essa literatura, que desde muito tempo, e quase que exclusivamente, de consumo apenas da elite.
No início do século XIX, a imprensa começa a se firmar no cenário nacional, lançando os primeiros periódicos em 1808, momento em que o público leitor cresce deliberadamente, e o acesso às informações em periódicos passam a ser bem aceitos na sociedade da época. 
Por influência francesa os jornais brasileiros, dão entrada ao folhetim, que surge inicialmente na França em 1799, no jornal de Débats, por intermédio do jornalista Julien-Louis Geofroy, que pioneiramente estabelece a nomenclatura feuilletons. A crônica ganha notoriedade a partir do momento em que é inserida no jornal impresso, como forma de amenizar as notícias, muitas vezes, de teor obsceno; que deixava o leitor um tanto aterrorizado; tendo a função de divertir e entreter os leitores diários do jornal. Assim como diz Sá: “Ao longo deste percurso, foi largando cada vez mais a intenção de informar e comentar (deixada a outros tipos de jornalismo), para ficar sobretudo com a de divertir. (SÁ, 1987). Divertimento este, que estimulou a compra diária dos jornais, não apenas pelo desejo de informação, mas para o deleite das histórias tão atrativas e bem escritas pelos cronistas brasileiros. 
O termo crônica era frequentemente usado para designar determinados textos jornalísticos que abordavam diversos conteúdo do cotidiano, e acabou por estender-se a definição própria de literatura que nela se produzia. Assim a crônica ganhou outra significância, passando a ser um gênero literário em prosa, ao qual menos importa o assunto abordado na produção. Mostra Machado que os folhetins obtém grande sucesso devido seu veículo de origem os jornais “[...] o folhetim nasceu do jornal, o folhetinista por consequência do jornalista. Esta última afinidade é que desenha as saliências fisionômicas na moderna criação” (ASSIS,1947), francamente calcados na imprensa europeia.
O público acolheu muito bem esse espaço destinado a crônica, o que vinha sempre aumentando, com o decorrer do tempo o folhetim passou a ser um atrativo de leitores, existindo dois tipos que se destacavam, o folhetim-romance e o folhetim-variedades.
 Os folhetins-romance eram textos de ficção, ancestrais às radionovelas e às telenovelas do século XX. Eram divididos os capítulos, para que os leitores ficassem cada vez mais entusiasmados com o decorrer da trama; esses escritos deram margem a uma grande produção nacional, ao lado das produções estrangeiras, pode-se citar: O guarani, de José de Alencar, Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, O Ateneu, de Raul de Pompéia e O triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto. 
Os folhetins variedades deram vida ao gênero crônica, além de vim nos rodapés dos jornais, capítulos de alguns romances vinha também em outras folhas que não a inicial, alguns textos que comentavam o modo de vida provinciano e do mundo, eram matérias periódicas do jornal que moldou a literatura brasileira, firmando um determinado público de leitores que passam a se habituar à leitura. Nesse sentido, Bender e Laurito afirmam que:
[...] O valor e a sedução dessa seção do jornal dependiam do talento e do estilo do escritor, ainda que a marca fosse o tom ligeiro e descomprometido geralmente e propositadamente “frívolo”, para conquistar empatia do leitor (BENDER &LAURITO, 1993, p.16).
Deste modo, o bom folhetinista devia saber registrar fatos diversos da vida cotidiana, tanto sociais, políticos, artísticos e literários. De forma que o seu leitor diário, criasse um gosto pelas suas histórias, que a primeira vista poderiam parecer simplórias.
Conhecido como folhetinista, os cronistas do século passado eram os grandes responsáveis pelo sucesso das suas crônicas, se um determinado escritor conseguisseconquistar um público com esses escritos, criava-se uma expectativa desses leitores em relação à continuidade dos textos do autor, privilegiando ainda mais suas obras. Escritores como Joaquim Manuel Macedo, José de Alencar, Machado de Assis, França Junior, Aluísio de Azevedo, Raul Pompéia, Olavo Bilac, foram os grandes nomes que definiram o gênero e consagraram-se como grandes cronistas. Os folhetins do século XIX eram extensos, abrangiam diversas áreas de conhecimento, tomemos como exemplo José de Alencar que enfatizava em suas crônicas as ingratas funções de seu encargo ou a guerra do oriente entre outros. Com comentários graciosos e às vezes humorístico, tecia também algumas críticas relacionadas a fatos cotidianos da cidade, do país e do mundo. Como ressalta Bender e Laurito:
Nos tempos atuais, dificilmente essa multiplicidade de assuntos estaria delimitada numa seção de jornal. Isso porque, com a evolução da imprensa, o abrangente folhetim de variedades do século XIX foi desaparecendo, para dar lugar a seções especializadas de articulista, comentarista, analistas e críticos, ou seja, jornalistas também especializados em determinadas matérias. Entre eles, o que se chama hoje de cronista, especializado em tudo e em nada. Melhor dizendo, aquele escritor-jornalista ou jornalista-escritor que, ao mesmo tempo, prende e solta a sua imaginação criadora num espaço específico e bem caracterizado da imprensa diária ou periódica (BENDER & LAURITO, 1993, p. 22).
Mesmo na modernidade os cronistas não se separam de seus antecessores “folhetinistas”, ao discorrer sobre o gênero que escolheram ou pelo qual foram escolhidos, necessitam de técnicas utilizadas por seus antecessores, assim como Henrique Pongetti enfatiza sobre os aspectos intrínsecos da crônica, quando cita que a crônica morre a cada instante, desenvolve-se ao recriar e salva do esquecimento o fato efêmero.
Com o apogeu da imprensa brasileira, os folhetins da França nela se aclimataram, progrediram e encontraram uma feição de tal maneira própria, marco que fez muitos críticos contemporâneos, assegurar que a crônica é um fenômeno literário brasileiro. Desde o Romantismo ao Modernismo, até nos dias atuais muitos escritores descobriram nos jornais e revistas um lugar de adestramento e profissionalização, além da deleitável comunicação com o público. Grandes poetas, contistas ou romancistas fizeram da crônica um gênero subsidiário em suas obras, como Machado de Assis e Mário de Andrade, ao buscar na crônica esse fazer estético uma identidade pessoal que os guindaram à categoria de artistas das palavras, transcendendo o momento passageiro e o espaço descartável nas páginas do jornal, que se estabeleceu com:
[...] João do Rio que no ano de 1905, promoveu um inquérito, depois transformado em livro, sobre O momento literário. Dentre os vários escritores entrevistados na ocasião, deles, Félix Pacheco, disse, respondendo ao inquérito: “Toda a melhor literatura brasileira dos últimos trinta cinco anos fez escala na imprensa” (BENDER E LAURITO, 1993, p. 28).
Essa “escala na imprensa” incluía, as crônicas do século XIX, principiada com os folhetins amplos e ligeiros do Romantismo e posteriormente afirmada como gênero literário específico, acoplado embora ao jornal e à revista, mas passível de se perpetuar em livro. Antônio Candido lembra que a crônica “[...] não foi orginalmente para o livro, mas para essa publicação efêmera que se compra num dia e no dia seguinte é usada para embrulhar um par de sapatos ou forrar o chão da cozinha.” (CANDIDO, 1992, p.14). O autor elucida características do jornal que não são ignoradas pelos cronistas, o que vale dizer que a transitoriedade do veículo é unificada pela própria crônica, manifestando, desta forma, uma ausência de pretensões no gênero. 
Por outro lado o autor Eduardo Portella, na década de 1950, após algumas avaliações de Alceu Amoroso Lima e Massaud Moisés, tece opiniões pertinentes sobre usar os livros de crônicas como pontos de partida para outras constatações:
A constância com que vêm aparecendo, ultimamente, os chamados livros de crônicas, livros de crônicas que transcendem a sua condição puramente jornalística para se constituir em obra de arte literária, veio contribuir, em forma decisiva, para fazer da crônica um gênero literário específico, autônomo (PORTELLA, 1958, p.111).
Já nos anos 50 os livros de crônicas são lançados num ritmo tão intenso, que Portella é levado a pesquisar sobre a caracterização desse gênero e seu processo de consignação dentro do círculo de produções literárias. Antônio Cândido no final nos anos 1970 e início dos anos 1980, como crítico literário passa a encarar de maneira positiva o novo espaço destinado à crônica, “[...] quando passa do jornal ao livro, nós verificamos meio espantados que a sua durabilidade pode ser maior que ela própria pensava.” (CANDIDO, 1992, p.14). Ao fazer uma análise sobre os autores e edições atuais para outros períodos da história literária, constata-se a grande relevância que a crônica ganhou ao ser incluída nos livros, a lista de autores que ganharam reconhecimento crítico em suas obras, estas que encontram-se até hoje com várias reedições por obterem valores múltiplos. Afinal como desafia Margarida de Souza Neves: “Em que outro documento será possível encontrar o cotidiano monumentalizado como crônica?” (NEVES, 1995, p.25). De fato, o material publicado dialoga com o tempo em que foi publicado e suas particularidades memoriais e identitárias, proporcionando um inestimável objeto de pesquisa para as diversas áreas do conhecimento. 
	A crônica só ganha caráter nacional durante o século XX, a partir de Machado de Assis, autor modernista de sua época, que se diferenciava dos demais escritores do período, por se apoderar de um pré- modernismo, que somente dava entrada a algo maior que viria depois. O romancista e contista, ao aderir à escrituração de crônicas transfere ao gênero, com toda sua genialidade, características que a tornam efetivamente brasileira. Machado iniciou como os demais colegas, nos folhetins dos jornais, começando desde muito cedo, com apenas 20 anos, entretanto se tornando referência para os cronistas posteriores. 
O narrador das crônicas utiliza fatos corriqueiros da vida diária, para mostrar de forma simples e descontraída, com algumas doses de humor, observações próprias sobre as atitudes do ser humano, que é responsável por inúmeros problemas dentro de uma sociedade falsamente estruturada. Assim, consegue alcançar o gosto popular, justamente pelos leitores conseguirem extrair do texto a identificação de uma realidade sua, do mundo que o rodeia. E esse aspecto da crônica moderna, afasta o gênero de sua origem europeia, e o traz para o contexto nacional, engrandecendo ainda mais a literatura brasileira.
O modernismo proporcionou à crônica justamente, o que pretendia os movimentos às várias expressões artística, quebrar com as características europeias, para dar entrada num gênero genuinamente brasileiro. A partir do momento que o cronista abandona a linguagem pomposa do folhetim, da qual os escândalos políticos e os demais fatos que rodeavam a grande elite eram o foco central, para utilizar do coloquialismo, da conversa informal, com assuntos que passariam despercebidos pelo público leitor, é quando de fato introduz no gênero a “brasilidade”, que necessitava para a crônica se tornar algo nacional.
É interessante o modo como o cronista consegue evoluir de forma brilhante, quando abandona uma técnica que não lhe pertencia de fato, e elabora uma escrita que poderia possivelmente fracassar, devido sua simplicidade, mas que atrai o leitor, que depois de uma pequena leitura se vê preso naquele pequeno texto até o final. E isso é o que realmente, pode representar o bom texto literário, que além de sensibilizar o leitor, de provocar nele uma catarse constante, o prende, até que se sinta saciado. Como diz Cândido a respeito do cronista: “Em lugar de oferecer um cenário excelso, numa revoada de adjetivos e períodos candentes, pega o miúdoe mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas” (Candido, 1992:14). 
Esse cronista moderno carrega consigo uma das características marcantes do movimento, seu desejo de liberdade, com o interesse de provocar com sua escrita uma espécie de revolução literária. Assim:
 Os cronistas das primeiras horas do modernismo são, em grande parte, panfletários da nova estética, fazendo uma crônica que se equipara à crítica, ou uma crítica que se equipara à crônica, contaminada de impressões pessoais e do calor das paixões do momento (BENDER E LAURITO, 1993, p. 36).
Deste modo, o gênero se estabelece no Brasil, com uma carga literária de alto valor estético e com uma funcionalidade, que poderia passar despercebido pelos olhos de leitores desatentos, mas que interpretados, remetem aos diversos segmentos sociais e complexidades da essência humana. O narrador se utiliza de pequenos feitos do dia, como uma chuva no final da tarde, a fruta de uma goiabeira, para explorar os mais raros assuntos, que dificilmente seria foco de discursões.
É possível perceber nas crônicas outro elemento nacional, a metalinguagem, comumente utilizado pelos cronistas, afim de explicar sua própria composição, transmitindo ao gênero uma certa intimidade entre o escritor e o leitor, que se sente participando da construção de um texto literário. Dessa metalinguagem, utiliza-se o autor Lourenço Diáferia, e brilhantemente Rubem Braga, em sua crônica “Ao respeitável público”, em que utiliza sua técnica discursiva para falar sobre todo esse universo da crônica, lançando recorrentemente críticas ao próprio leitor, que é um dos alicerces para a existência do gênero. Os cronistas utilizam esse recurso linguístico, muitas vezes para atrair o leitor, para esse mundo imaginário, “falam com frequência do seu fazer cronístico, mencionam o que fazem, como se sentem ou o que estavam fazendo quando tiveram uma inspiração cronicável.” (Laurito e Bender, 1993: 42) e também lançam críticas ao fato desse gênero ser considerado de menor valor. 
O jornal foi um suporte crucial para que a crônica conseguisse conquistar o espaço que possui hoje, sendo uma espécie de oposição às grandes notícias do jornal, ganha seu caráter fundamental, que é tirar de fatos miúdos, corriqueiros da vida diária, algo interessante, que acaba atraindo o público todos os dias, e conquistando uma intimidade devido sua simplicidade linguística e estilística. Contudo, isso acaba gerando a ideia de que esse gênero não possui o mesmo valor que um romance ou uma novela, justamente por não se prolongar tanto como os demais gêneros e ser acessível a todos os públicos leitores, a respeito disso, Cândido afirma que: 
A crônica não é um “gênero maior”. Não se imagina uma literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos e poetas. Nem se pensaria em atribuir o prêmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse. Portanto, parece mesmo que a crônica é um gênero menor. “Graças a Deus”, _seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica perto de nós. (CANDIDO, 1980, p.34.)
Assim como afirma Cândido, a crônica tem uma característica que a diferencia do gênero considerado “maior”, algo que a torna mais pertencente às pessoas comuns, que podem “degustar” do texto literário a qualquer momento, e em qualquer lugar, sendo facilitado pelo extensão reduzida. Ao contrário dos romances ou poemas, que a pouco tempo atrás eram de quase total acesso à burguesia, sendo esta possuidora de poder aquisitivo e conhecimento. E por isso a crônica acaba caindo no gosto popular, e evoluindo para a edição em livros.
O autor considerado hoje, o pioneiro em produzir essa crônica de caráter nacionalista, é Rubem Braga, nascido no Espírito Santo, em Cachoeiro do Itapemirim, no ano de 1913, formado em direito, preferiu seguir outra carreira, no caso, o jornalismo, em que se destacou precocemente com apenas 22 anos, ao lançar sua primeira coletânea de crônicas “O conde e o passarinho”. Pertencente à linhagem de Manuel Bandeira e João do rio, fez jus ao seu parentesco, se tornando um exemplar escritor de narrativas curtas, e se dedicando quase que exclusivamente à elas. “Usando do coloquialismo pretendido pelos modernistas, a crônica passa na década de 30 do século XX, com Rubem Braga à frente, a uma gradual redução de assuntos e de tamanho (SIMÕES, 2009, p. 54).
O autor ganha notoriedade, em meio aos folhetinistas da época, por fugir do padrão estabelecido pelo jornal, em que os assuntos abordados nos folhetins tratam sobre política ou festas, em que a alta sociedade é o foco central. Braga dedica suas crônicas ao “instante”, ao breve momento, que poderia parecer insignificante, mais que visto de maneira “lírica reflexiva”, como diz Sá, acarreta várias interpretações a respeito do ser humano. Em muitas de suas crônicas, está presente, a saudade da sua infância no interior, do seu antigo lar, muitas vezes remetendo a crônica à uma casa, afirmando que as narrativas igualassem à construção de sua própria casa, em que cada frase é como se fosse os tijolos ou as telhas. Assim como afirma Sá: 
O autor está construindo a sua casa interna, procurando discriminar cada aposento e estabelecendo leis que governarão o seu universo_ e que se faz sem palavras, pelo silêncio do discurso_, que nada mais é do que a compreensão do que somos, para melhor prosseguirmos em nossa viagem existencial (SÁ, 1987, p.17).
Justamente por se dedicar somente a crônica, com exceção do seu livro de versos, Braga ver a necessidade de a crônica abandonar essa transitoriedade da qual o jornal é responsável, para se firmar em livros e se eternizar, já que um texto com tanta riqueza literária, não poderia cair no esquecimento, como uma notícia qualquer. E assim, o cronista faz uma espécie de revisão de suas produções, excluindo aqueles narrativas ligadas à um fato datado, pra deixar somente às crônicas que produzam efeito catártico, sendo adaptadas em livros.
Outro cronista que se destacou no período, foi Paulo Mendes Campos, nascido em Belo Horizonte em 1922, filho do médico e escritor Mário Mendes Campos e Maria Jóse Lima, passou por estudos em várias áreas, mas em 1939 começou a se dedicar ao jornalismo na sua cidade. O escritor pode ser considerado cronista-poeta, pela forma lírica que escreve, que muitas vezes mais parece um poema. A crônica de cunho informativo, são dispensados pelo escritor, sendo seu objetivo maior transpassar, através das narrativas a essências das coisa e do próprio homem, em contrapartida com as notícias frias do jornal diário, afim de aguçar a sensibilidade do público leitor.
Assim, Paulo Mendes queria poetizar as crônicas, pois via a necessidade daquele leitor diário do jornal, que lia todos os dias notícias ruins, em alimentar um pouco sua alma com um bom texto literário, assim como menciona Sá: “A crônica, neste contexto, se revela como um respiradouro, como fonte do ar puro que limpa os nossos pulmões, gostoso bosque no meio do caos urbano”, (SÁ,1987: 54). Para Mendes a crônica era como um complemento do jornal, as pessoas deviam ter acesso às várias informações sobre o mundo, sendo este uma extensão de cada um, mais devia compreender o factual e nele refletir mais profundamente, a partir da crônica. Assim como diz Sá:
Portanto a função da crônica é aprofundar a notícia e deflagrar uma profunda visão das relações entre o fato e as pessoas, entre cada um de nós e o mundo em que vivemos e morremos, tornando a existência mais gratificante (SÁ, 1987, p. 56).
 Por isso Paulo Mendes aderiu à um tipo de crônica poética, com a intenção de aguçar a sensibilidade dos leitores, para estes entenderem a própria existência, que é posta diariamente entre vários conflitos sociais. 
Fernando Sabino foi o cronista que mais trouxe inovações para ao gênero, seus escritos embasados no uso constante de narração em terceira pessoa, fugindo da subjetividade explicita, a adoção da crônica apenas com diálogos, sem a mediação de qualquer narrador, o uso incontável de humor, sãoalguns recursos usados pelo autor que ampliaram as possibilidades do gênero que obtém de grande influência entre os autores até hoje. Sabino utiliza de metalinguagem para patentear que também o cronistas tem sua “fase de escrever”, que, sobretudo apesar da pressa característica de seus ofício, recebe impulso da inspiração, porém é um autor assíduo pela pesquisa. Como ressalta Jorge de Sá:
 [...] Em uma palavra: trabalha o texto em suas diferentes fases de elaboração até que ele esteja pronto para ser publicado sabendo que, infelizmente, esse ato de trabalhar o texto não pode prolongar-se muito (SÁ, 1987, p.21).
Ao optar por determinados assuntos que merecem ser usados para se escrever uma crônica, o autor revela, que não se estabelece naturalmente como aparenta, e nem democrática como se estabeleceu. Embora não possua preconceitos temáticos e é construindo por meio de qualquer matéria, logo “[...] a crônica deve escolher um fato capaz de reunir em si mesmo o “disperso conteúdo humano”, pois só assim ela pode cumprir o antigo princípio da literatura: ensinar, comover e deitar” (SÁ, 1987, p.22). O escritor Fernando Sabino procurava “ensinar” ao seu público leitor que vida ao conviver cotidianamente com outras pessoas, voltamos um olhar mais profundo para nós mesmos, desvendando a venustidade do outro, mesmo evocado de forma simplória quase ingênua, mas sempre numa profundidade que ultrapassa os patamares do egocentrismo.
O autor Fernando Sabino recria personagens tão presentes em nossas vidas, fazendo uma ligação do real com o ficcional, desencadeando uma aproximação da crônica com uma estrutura mais dramática, confrontando diálogos com características que se diferem, que vai do cômico a ironia, sem qualquer tipo de agressividade, moldando o texto cuja característica básica é a leveza, acentuando sempre um teor de criticidade em seus escritos. Suas crônicas valem-se de recursos provenientes de diálogos com total ausência do narrador, e com a concentração de descrições numa situação exemplar, suas composições fazem um paralelo entre o conto e a crônica, porém não esquece da verdadeira essência das crônicas com suas particularidades específicas.
Utilizando “a genérica designação de crônicas”, Sabino revela sua aferição consciente que o gênero detém de uma ambiguidade. Escrevendo para determinados espações como revistas, cujo espaço costuma ser maior que nos jornais, ele é favorecido pela oportunidade de ampliar seu espaço de ação, mostrando que “[...] a crônica é, pois, uma narrativa curta por excelência, uma “conversa fiada”, como dizia Vinicius de Moraes, mas que recebe tratamento literário, mesmo que não seja considerado ficcional” (SÁ, 1987, p.28), Fernando Sabino usa as entrelinhas como suporte básico da crônica, confirmando a hipótese que ele é um romancista marcado pela prosa do dia-a-dia, por meio do lirismo reflexivo acompanhado por um fino humor inseparável. 
O humor típico brasileiro que fizeram parte dos poemas satíricos de Gregório de Matos Guerra reapareceu nas crônicas de Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do escritor Sergio Porto, personagem ficcional criado com uma característica bem diferenciada quanto a falta de caráter, porém um sujeito popular e com vida própria, demonstrada inclusive ao “assinar” ele mesmo suas crônicas que foram publicadas em jornais, revistas e perpetuadas nos livros para assegurar sua preservação.
Sergio Porto cria Stanislaw Ponte Preta para readquirir as particularidades dos cronistas mundanos, registrando cenas do cotidiano embasadas em críticas designadas a sujeitos incultos que inventavam palavras ou expressões ridicularizadas, porém não obteve êxito, mas conseguiu analisá-los por meio do riso popular, “caricaturando” o cronista mundano, autêntico símbolo do festival de besteiras que ainda hoje assola o país, carregado com um humor magnífico repassadas de forma natural aos leitores. Como salienta Jorge de Sá:
[...] Ponte Preta nos mostra que o jornalismo também é uma forma literária de registrar os acontecimentos dando-lhes maior carga de emoção e verossimilhança, ainda que o faça através de humor. Afinal, a função poética da linguagem consiste basicamente na construção da frase de forma que a sua economia linguística produza uma ampla significação (SÁ, 1987, p.32).
A função poética é desempenhada principalmente na linguagem jornalista ao recriar uma notícia captando o seu misterioso encantamento, é exatamente essas características que encontramos em “Notícia de jornal”, exemplificado pela marcação humorística de Sergio Porto que obteve grande influência do escritor Manuel Bandeira. O jornalista genuíno “[...] não deve simplesmente registrar uma notícia. Cabe a ele explorar o poder das palavras para que o leitor possa vivenciar, com emoção semelhante à do repórter, aquilo que está sendo narrado” (SÁ, 1987, p.33), o cronista é consciente das técnicas narrativas e dos recursos da língua portuguesa, o humor presente em seus escritos assume a função de resgatar a poesia, enfatizando que as crônicas em seu contexto jornalístico são realizações literárias.
Outro recurso peculiar do escritor é a construção das frases em uma essência carioca, e que nem sempre são oriundas da norma culta. O mais interessante é o tom brejeiro das expressões, evidenciadas às vezes por gírias que são incorporadas às falas pela consagração do uso ou um termo pouco usado, que causa no leitor surpresa por soar de maneira engraçada. No entanto a principal forma de explorar o coloquialismo pela via humorística, está na forma como Stanislaw Ponte mantém o diálogo com o leitor, propagados pelos meios de comunicação, como ressalta Moraes na revista Brasileira de História:
É patente, portanto, a relação de Stanislaw com os meios de comunicação de massa, que ele ajudou a constituir. Stanislaw fazia parte de um conjunto de intelectuais que escreviam simultaneamente em vários meios de comunicação e que, muitas vezes sem o perceberem, estavam construindo uma nova linguagem — sintética, metafórica, leve e bem humorada —, própria para esses veículos: o jornal, o rádio, o teatro musical, o cinema e a televisão (MORAES, 2004, p.63).
As crônicas escritas por Sergio Porto são irreverentes e o próprio autor afirma que suas crônicas são “escritos levianos”, ao levar a imprudência na medida que desnudam o ridículo coletivo a parti de figuras individuais demonstrados levemente “[...] Sem cansar os leitores, Stanislaw os conduz a uma reflexão, oferecendo-lhes em cada texto (algumas vezes, recriação de velhíssimas piadas) uma crítica amena e contundente.”(SÁ, 1987, p.37), sua linguagem é tipicamente brasileira que rompe com os padrões da norma culta e constrói com grande magnitude uma linguagem nova, dinâmica e séria.
Outro cronista brasileiro de grande destaque, foi Rubem Alves, escritor nascido em minas Gerais, no ano de 1933. Após um tempo sua família resolve mudar-se para o Rio de Janeiro, e a partir desse momento o escritor inicia sua jornada de estudos em diversas áreas, tendo como foco o protestantismo. Rubem Alves, fez bacharelado em teologia, no seminário Teológico Presbiteriano, em Campinas, e a partir de então, passa a se dedicar aos conhecimentos religiosos. Acreditava fielmente em uma teologia libertadora, na qual o ser humano poderia ser capaz de recriar seu mundo e a si mesmo, pensamento este que lhe trouxe sérios problemas dentro do protestantismo presbiteriano. Quanto a sua produção, se dedicou a livros religiosos, educacionais, existenciais e infantis, e como cronista ganhou irreverência, por ser um dos únicos cronistas em tratar de religiosidade em textos curtos e envolventes como a crônica. As suas ideias libertadoras, preencheram suas crônicas, assim como o fazia nas demais obras, e este aspecto fez de seus escritos mais humanizados.
No que diz respeito à produção de Carlos Drummond de Andrade, há uma conjuntura diferente dos outros escritores, em suas crônicas há uma intensa presença da poesia, afinal em tudo que ele escreve seja na forma de poema ou narrativa curta, existe a magiada síntese, o ritmo que circunda as palavras, com um humor que revela a essência do desgaste da vida e sua frequente renovação, revelando o lirismo de suas crônicas. Como enfatiza Luiz Carlos Simon: 
[...] Para se ter uma ideia da proporção entre a representatividade das obras em versos, é possível mencionar a organização de um congresso realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2002, por ocasião do centenário de nascimento do autor (SIMON, 2004, p. 58).
 Drummond nos mostra em suas crônicas a construção do imaginário, vislumbrando a memória dos lugares, principalmente o Rio de Janeiro explorado como efeito estilístico, com uma intensa reflexão acerca dos acontecimentos impactantes que permeiam seus escritos. Ao narrar o mudo, o cronista narra a si mesmo, e ambos vencem a passagem do tempo, com isso “O renascer ocorre de várias maneiras, sendo que, no caso do escritor, é pela palavra escrita que ele acontece” (SÁ, 1987, p.68). E isso é evidenciado ao longo de suas obras, como no livro de crônicas “Cadeira de balanço”. O ser humano tentando compreender o mundo a sua volta a partir da sua correlação com outros seres humanos, objetos e fatos, por mais efêmero que sejam. “O cronista-poeta não fantasia sensações, registra-as usando seus recursos estilísticos, mas sempre consciente de que a crônica oscila entre o visto e o imaginário” (SÁ, 1987, p. 71), ao conjecturar um país em que ações governamentais não estejam voltados somente ao interesse político, mais as cidades e seus habitantes, como pode ser vistos em suas crônicas ao demonstrar que ao decorrer da convivência entre os indivíduos a nossa percepção diminui, e pequenos detalhes tornam-se invisíveis aos nossos olhos.
Drummond em sua crônica “A descoberta do mar” acaba mostrando a nossa necessidade mais longínqua de conhecer outras realidades diferentes, afastadas de nós, para melhor compreensão do meio que se vive, “[...] Tal como acontece na poesia, a crônica também ensina que o homem se encontra no que está fora do homem” (SÁ, 1987, p.72), parafraseando tão ilustre autor, para viver é preciso ser mágico, como poeta e cronista.
1.3 A crônica como elemento identitário e memorial
O gênero crônica, desde sua origem na Grécia antiga, foi utilizada para documentar, as guerras, os atos heroicos, para que nunca se perdesse com o tempo, desta forma o homem teria como saber o que se sucedeu no passado e a sua própria origem. Assim não há como separar a crônica do conceito de identidade e memória, sendo estes de natureza histórica, em que o objetivo central era relatar um acontecimento, decorrentes de um descobrimento ou outro fato qualquer de deveria ficar na lembrança de um povo. Deste modo, os estudos voltados para a crônica admitem uma relação intrínseca, com a identidade e a memória, elementos estes trabalhados de forma brilhante pelos cronistas modernos. 
Na crônica a identidade é mostrada pelos olhos do cronista, o que este consegue extrair das miudezas que ver, de forma que acaba transpassando ao leitor um sentimento de identidade, de pertencimento a uma determinada comunidade. Assim, como já foi visto anteriormente, o cronista acaba tendo como guia de seus inscritos, o meio que está inserido e as relações que estabelece entre as pessoas de sua localidade, sendo este um dos motivos, de a crônica possuir um caráter identitário, que a torna ainda mais interessante. A ideia de identidade surge quando as crônicas, passam a mostrar elementos culturais e da própria essência humana, sendo o cultural responsável pela construção do sujeito, como diz Stuart Hall: “As culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre a nação, sentidos com as quais podemos nos identificar, constroem identidades (HALL, 2011, p.51). Identidades essas, sujeitas a mudanças constantes, conforme o próprio eu e o meio social, e neste sentido a crônica consegue estabelecer uma relação íntima com o leitor, que se ver inserido dentro da narrativa, e agente modificador da sua realidade. 
Nos tempos modernos em que a sociedade está inserida hoje, existe uma imensa variação cultural, sendo que dentro de uma mesma nação, há inúmeras dessas representações, que muitas vezes não são destacadas quando se fala de forma global “cultura nacional”, mais certo seria dizer culturas nacionais, sendo o Brasil uma país rico em expressões culturais. Deste modo Hall diz que:
As culturas nacionais são uma forma distintivamente moderna. A lealdade e a identificação que, numa era pré-moderna ou em sociedades mais tradicionais, eram dadas à tribo, ao povo, à religião e à região, foram transferidas, gradualmente, nas sociedades ocidentais, à cultura nacional. As diferenças regionais e étnicas foram gradualmente sendo colocadas, de forma subordinada, sob aquilo que Gellner chama de teto político do estado-nação, que se tornou, assim, uma fonte poderosa de significados para as identidades culturais modernas (HALL, 2011, p.49)
A outra forma de identificação, mais ligado ao íntimo humano, é uma das caraterísticas marcantes da crônica, pois utiliza do circunstancial, para extrair a significação. O cronista ao usar pequenos acontecimentos da vida corriqueira, mostra coisas que as pessoas dificilmente observariam, e destes feitos mostra aspectos do comportamento humano, manias que todos possuem e que nunca foram fonte de reflexões, deste modo, o leitor consegue perceber ele próprio dentro do texto, e passa a se conhecer o seu interior. Roger Scruton diz sobre essa auto identificação, que:
A condição de homem exige que o indivíduo, embora exista e aja como um ser autônomo. Faça isso somente porque ele pode primeiramente identificar a si mesmo como algo mais amplo – como um membro de uma sociedade, grupo, classe, estado ou nação, de algum arranjo, ao qual ele pode até não dar um nome, mas que ele reconhece instintivamente como seu lar (Scruton, 1986, p. 156).
É necessário ressaltar como o elemento identidade, se modifica com o decorrer do tempo; sendo de caráter transitório; com a mudança do meio o indivíduo passa a apresentar outras atitudes, toma para si outras formas de representações, que por sua vez acha essencial. Um fator, que revolucionou o modo de vivência da sociedade, foi a globalização, que trouxe consigo uma modificação nas formas de produção e de relações sociais, essa modificações aliadas à modernização, influenciou o comportamento das pessoas de forma que seu censo de identidade também se modificou, acompanhando a evolução dos tempos.
Esta globalização apresentou a noção de homogeneização cultural, as pessoas passaram a aderir à um sistema capitalista, que infligiu em várias mudanças de comportamentos sociais, que acabaram prejudicando as representações culturais com a qual havia a identificação do sujeito, perdendo-se muitos costumes com a chegada da modernização.
As identidades nacionais estão sendo “homogeneizadas”? A homogeneização cultural é o grito angustiado daqueles que estão convencidos de que a globalização ameaça solapar as identidades e a ‘unidade’ das culturas nacionais. Entretanto, como visão do futuro das identidades num mundo pós- moderno, este quadro, da forma como é colocado, é muito simplista, exagerado e unilateral (HALL, 2011, p. 77).
Desta forma, a crônica passa a subtrair desses novos elementos que identificam a sociedade, fatos que estejam inserido na vida de leitor pós- moderno, algo que ele veja interesse, apesar de se tratar do circunstancial e simplório da vida cotidiana.
A crônica é um gênero, que como muitos outros, experimentou diversas mudanças ao decorrer do tempo, como já falado anteriormente e adquiriu configurações abundantemente diversificadas, mas conserva como uma das suas fundamentais fontes a memória. As mais decrépitas crônicas tinham um caráter historiográfico, agregando fatos intercorridos a uma relevante figura histórica, uma ocorrência política-militar, mesmo a vida de uma eminência religiosa ou de seus membros numerosos contos. Como salienta Le Goff: 
[...] memória, como propriedade de conservar certas informações, remete-nos emprimeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele represente como passado (GOFF, 1992, p.423)
 No século XIX, foi-se extinguindo o caráter mais histórico da crônica, ao corromper sua amplitude e passou a deter do que Machado de Assis discorre como “coisas miúdas”, assumindo características bastante diversificadas: crônica social, crônica esportiva, crônica policial, e outras especificações, ou simplesmente crônica, acompanhando as transitoriedades do tempo, assim, valendo-se também da memória discursiva muitos cronistas organizavam seus textos ancorados nas lembranças de tantos outros, de diversos gêneros e origens, que perpassaram ao longo do tempo, criando crônicas que instauram um diálogo com o interlocutor de determinado período. Como enfatiza Eduardo Portella:
[...] É antes uma deliciosa recomposição artística do passado, através de uma utilização como o que proustiana da memória. Este método, por sua vez, apresenta-se como uma eficaz maneira de fugir do cotidiano para transcender em arte (PORTELLA, p.115).
Uma estratégia discursiva bastante utilizada pelos cronistas na construção de seus textos é um aproveitamento de textos que preservam na memória do autor e na memória coletiva, a “[...] a memória coletiva, que se constrói, por sua vez, das lembranças comuns a todos os indivíduos de um grupo, que conheceram os mesmos acontecimentos e guardaram os rastros deixados por estes” (CUESTA, 2008, p. 63), a memória é a faculdade que conserva ideia ou noções anteriormente adquiridas, assim por extensão preserva também na lembrança fatos e acontecimentos, a nossa “competência discursiva” se constrói por meio da memória, tudo na vida é memória. 
Ecléa Bosi (1994, p. 48-49) cita a diferenciação estabelecida por Bérgson: a memória-hábito, cujos comportamentos são automatizados, é essa memória que permite nossas ações cotidianas; e a memória-lembrança que “se atualiza na imagem-lembrança (...) momento único, singular, não repetido”, é dessa evocação que a literatura se nutre. Todo texto exerce uma função, inclusive a crônica, que foi além dos rodapés dos jornais, ou até mesmo do cotidiano pessoal do cronista, ao buscar mecanismos que a perpetuem como gênero e que a preservem nas memórias de seus leitores, a crônica permite um olhar mais crítico do fato ao colocá-lo na cadeia histórica. À medida que busca inspiração no passado, propicia um novo olhar sobre os fatos e a sua relação com o presente.
Para W. Benjamim, “a experiência que passa de pessoa a pessoa é a fonte a que recorrem todos os narradores” (1985, p. 198). (E o cronista é um grande narrador) E, a reminiscência funda a cadeia da tradição, que transmite os acontecimentos de geração em geração. (..) Ela tece a rede que em última instância todas as histórias constituem entre si (1985, p. 211).
Desse modo, qualquer leitor traz na memória uma experiência com esquemas de coordenação textual que reconhece e põe em funcionamento durante a leitura. Essa memória-lembrança apresenta-se de variadas maneiras. Às vezes uma simples referência a obras conhecidas; outras, pela transcrição de vozes de outros textos; outras, ainda, originam-se de conhecimentos partilhados não “mostrados” na tessitura.
O cronista é alguém que discorre por experiência e memória, o que é típico do gênero crônica. Como já mencionado, o seu tema, talvez mais motivo que tema é um fato atual, do cotidiano, mas a crônica não é como uma notícia que propende apenas informar, ela é em si uma reflexão em relação ao fato que lhe deu procedência e tem a aspiração de transportar o leitor à reflexão, buscando nele um sufrágio por meio de uma expressão, na maioria das vezes, lírica ou irônica. Para Maurice Halbwachs:
[...] o indivíduo participa de dois tipos de memória: a memória individual em que as lembranças têm lugar no contexto de sua personalidade ou de sua vida pessoal e a memória coletiva, que evoca e mantém lembranças impessoais, que interessam ao grupo ao que faz parte (HALBWACHS, 1990, p.72).
Assim, a memória seria semelhante a dados salvos em várias pastas e arquivos guardados no computador. Esses dados, ou lembranças, podem ser consultados tanto de forma individual como coletiva. A partir de uma análise parcial, temos que a memória e a crônica andam juntos, sejam no aproveitamento de recursos linguísticos propriamente ditos, seja na utilização de uma memória que busca, nas lembranças, fragmentos que são associados sob uma nova perspectiva, na qual se incluem tanto os deslocamentos para uma nova veiculação do gênero, como os modos que exteriorizam e constituem o novo discurso, o novo texto. Os recursos linguísticos e expressivos apontados na crônica permitem ao texto literário, converter-se numa espécie de repositório de memórias, enquanto a memória se localiza no espaço, a crônica se segmenta no tempo, ambas se consolidam no social, no qual as conquistas certificam o prestígio.
O processo de memorização e rememorização é um fator determinante para que haja a construção da identidade de um determinado povo ao decorrer dos tempos, sendo a literatura um caminho primordial, em que fica-se registrado além dos sentimentos humanos, elementos que os representam em determinado momento da história, sendo analisado neste trabalho em particular a crônica, no qual ocorre de forma brilhante ambos os aspectos memorias. Para isso, é necessário que não deixe de rememorar, por meio da leitura dessas histórias, ir à busca das raízes, das origens, da essência da sua história. A memória tem um caráter primordial para ascender uma nação de um grupo étnico, pois aporta elementos para sua transformação.
CAPÍTULO II
MEMÓRIA E IDENTIDADE COMO FENÔMENO DE CONSTRUÇÃO HISTÓRICA
Para se restabelecer um passado histórico é fundamental recorrer à memória e consequentemente à identidade, afim de promover um estudo sobre determinada região e a cultura que nela existe, assim, tais elementos são responsáveis por mostrar de que modo se consolidou as formas representacionais dessa sociedade. A memória refere-se nada mais, que a busca ao passado, de feitos que de alguma forma marcaram a vida dos sujeitos e a constituição do sistema social, promovendo a possibilidade de reconstrução de sentido sobre aquilo que já aconteceu e formação de uma nova mentalidade no indivíduo ou no coletivo, revelando o quão importante é o estudo sobre memória, quando se vai analisar algo remetente à história de um povo. Assim como explica Michel Pollack:
A priori, a memória parece ser um fenômeno individual, algo relativamente íntimo, próprio da pessoa. Mas Maurice Halbwachs, nos anos 20-30, já havia sublinhado que a memória deve ser entendida também, ou sobretudo, como um fenômeno coletivo e social, ou seja, como um fenômeno construído coletivamente e submetido a flutuações, transformações, mudanças constantes. (POLLACK, 1989, pg. 2)
A identidade, por estabelecer uma relação direta com a memória, ganha também um espaço deveras importante dentro desses estudos de cunho social, sendo que a partir do repertório memorial, vai ser possível ao sujeito, se auto identificar dentro de determinado espaço, com suas devidas representações culturais estabelecidas, que o tornaram parte formadora de determinado povo. E a partir do elemento memorial e identitário, é possível entender de que forma se deu a construção histórica da região e a cultura presente, que fundamenta os comportamentos dos indivíduos dentro da sociedade.
2.1 A memória em uma perspectiva social regionalista
A Memória é fundamental para o ser humano, e está intrinsicamente relacionado ao homem. Apesar dos inúmeros estudos que permeiam a temática, ainda não está decifrada, apresentando-se assim sob várias óticas. Segundo o funcionalismo, não existe somente uma memória, mas diversas fases de memória, o que também poderia ser designado de múltiplas memórias. O estágio mais elevado da memória é a memória social, sustida e mantida pela exigência dos que dependem dos interesses sociais. Dessa forma, as lembrançasligadas a uma deliberada esfera da memória normativa, como religião, profissão, região ou família, são mais delineadas. 
O regionalismo mostra-se também interligado a memória, por meio de unidades de singularização cultural e social, o regionalismo aqui entendido como a constituição da experiência em um relato encadeado, capaz de proporcionar um sentido de ancestralidade, isto é, de continuidade e coerência entre passado e presente, vinculado à certa identidade local, à indigência de se ver nele as marcas de um determinado espaço social, cultura regional, vista como um conjunto de normas de comportamento, de crenças, de instituições, de valores materiais e imateriais. As culturas, assim como as lembranças, são construídas em determinados espaços ao longo do tempo. O autor Michael Pollak ao evidenciar os lugares da memória analisados por Pierre Nora ressalta sobre: 
“[...] o patrimônio arquitetônico e seu estilo, que nos acompanham por toda a nossa vida, as paisagens, as datas e personagens históricas de cuja importância somos incessantemente relembrados, as tradições e costumes, certas regras de interação, o folclore e a música, e, por que não, as tradições culinárias” (POLLAK, 1989, p.2).
A organização da memória está pautada em diferentes níveis – histórico, social, político, simbólico, cultural e pessoal – que se influenciam e sofrem interferência de forma simultânea, edificadas por um regionalismo caracterizado por um espaço geográfico ou de caracterização do homem a seus costumes típicos de um lugar, “nessa perspectiva as memórias se constituem como processos subjetivos entremeados com as relações sociais, com as políticas e com a história” (CARDOSO, 2015, p.4), relacionados por vivências pessoais mediadas por laços sociais que se faz dentro de grupos específicos.
Grande parte dos saberes da cultura popular são transmitidos através da oralidade, uma vez que não há registros escritos dos mesmos. Esses processos ocorrem de pessoa a pessoa, de pai para filho, de um grupo para outro, de geração a geração. Nessa forma de comunicação, a memória social exerce um papel fundamental, pois a preservação e a continuidade das tradições dos grupos dependem das lembranças dos seus membros. A transmissão dos valores culturais e da tradição ocorre através da memória social dos grupos que compartilham um mesmo tempo e um mesmo espaço geográfico (MORIGI, 2012, p.5).
A memória é construída e edificada inconscientemente e conscientemente em uma relação com o próprio sujeito, observando os padrões de aceitabilidade e credibilidade social, em que o mesmo esteja diretamente inserido, com isso a sua memória reagirá de acordo com os fatores sociais que estão atuando sobre este, resultando em aspectos de grande relevância da memória coletiva e individual “na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução de si” (POLLAK, 1992, p.5).
Essas marcas memoriais e regionalistas podem ser demostradas de vários ângulos, principalmente em regiões que constituem uma carga histórica de grande significância decorrente do processo sociocultural que foi construído ao longo do tempo, já que várias regiões foram instituídas por meio de resultados de acúmulos deixados e complementados por diversas gerações, no Brasil esse processo se deu desde a chegada dos colonizadores portuguesas, iniciando o processo de aculturação e a catequização dos indígenas pelas missões religiosas jesuíticas, alguns ícones monumentais e documentais foram deixados durante essas missões religiosas em algumas cidades por onde passaram, neste sentido “tudo aquilo que pode evocar o passado, perpetuar a recordação, por exemplo, os atos escritos”. (LE GOFF, 1990, p.486). A existência de inúmeras edificações sociais e culturais regionalistas, a história e a memória herdada por diversas gerações permitiu edificar um caráter inato para as regiões. Como bem salienta o autor Michael Pollak:
A memória, essa operação coletiva dos acontecimentos e das interpretações do passado que se quer salvaguardar, se integra. Como vimos, em tentativas mais ou menos conscientes de definir e de reforçar sentimentos de pertencimento e fronteiras sociais entre coletividades de tamanhos diferentes: partidos, sindicatos, igrejas, aldeias, regiões, clãs, famílias, nações etc. (POLLAK, 1989, p. 7).
No norte do Brasil tem-se como um desses elementos regionalistas deixados pelos colonos, o círio de Nossa Senhora de Nazaré, que apresenta as marcas memoriais e identitárias de um povo, que veem nessa tradição uma representatividade, marcada por um regionalismo amazônico, que nas últimas décadas passou a ser uma das principais regiões polarizadoras do ecoturismo no mundo, aliando os aspetos naturais e os culturais. Assim, essa tradição é responsável pelas trocas de experiências memoriais entre as pessoas que compartilham desse mesmo evento cultural, promovendo o fortalecimento de uma memória individual, que aliada à coletiva, é capaz de influenciar no sentimento de identidade de um povo. 
As pessoas possuem, em geral, uma significativa variedade de experiências de vida e guardam diversas memórias (soltas) mais ou menos separadas das que ocorrem no âmbito social (emblemáticas). Os membros de uma comunidade conectam o individual e o coletivo, mas, ao fazê-lo, dão um sentido maior ao ocorrido, tendo em vista que tais fatores não são somente pessoais, mas afetam a todo um grupo social. Desse modo, a liga entre a memória individual e a memória social envolve as experiências representativas da comunidade, construindo uma espécie de marco – a memória emblemática – que organiza, em certa instância, as várias memórias individuais. (CARDOSO, 1990, p.5 e 6)
	
A memória regionalista está atrelada ao passado, porém permanece viva no presente. Assim, a memória regionalista mantem uma relação de dependência da particularização cultural e social, suscetível a oferecer uma significação remota, ou seja, de persistência e conexão entre passado e presente. Vale ressaltar que o passado não se mantém vivo como uma espécie de precipitação do experimento em nossa consciência por meio do tempo. Se fosse assim, não teríamos memórias herdadas e instruídas no próprio processo de socialização pelo qual passamos ao longo da vida. Na verdade, a presentificação do passado está sujeita a um trabalho ativo de rememoração que, além de criativo e seletivo, é político porque é governado pela interação entre atores e grupos estabelecidos em conjunturas comumente desiguais na escala social. 
A memória então, não é uma consumação de eventos, mas uma possibilidade de leitura e releitura ao decorrer do tempo entrelaçada por diversas mudanças históricas, transformou-se no que é hoje, notada a importância das vivências repassadas pelo processo de rememorização, abrindo espaço para identificar nas sociedades vestígios da esfera maior da tradição, que é memória coletiva, tendo como principal instrumento socializador a linguagem. 
2.2 A memória como um elemento constituinte do sentimento de identidade
A formação de uma identidade individual, requer a contribuição de vários elementos, como o fator cultural, social e étnico, para que se compreenda a sua formação. E diante disso, a identidade estabelece uma relação dialógica com a memória, sendo esta uma espécie de armazenadora de acontecimentos que influência o sentimento de identidade de cada sujeito. Assim, se avalia de que forma o cidadão vigiense se apresenta, quanto à sua identidade, visto que este está inserido dentro de um contexto social que tem certos elementos culturais que perpetuam desde o surgimento da vila até sua constituição como cidade, ficando inserido na consciência dos cidadãos vigienses os fatos ocorridos durante essas transformações sociais.
A identidade enquanto parte formadora do indivíduo, vem sendo foco de estudos na área das ciências humanas e sociais nos últimos tempos, tendo em vista que o conceito de identidade se modificou, em decorrência da globalização,que contribui para o estreitamento entre as culturas nacionais. Desta forma, se estabeleceu uma espécie de crise de identidade, que para Stuart Hall seria a “descentração dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos” (HALL, 2011, p.9), quebrando a ideia de identidade homogeneizada que persistia no pensamento coletivo. 
A crise de identidade, surgiu em decorrência do avanço tecnológico e as relações entre as nacionalidades, tidas como consequência da globalização. Assim, o sujeito não estava mais isolado e afastado do resto do mundo, mas sim em relação direta com outros sujeitos de diferentes nacionalidades, proporcionando uma relação intercultural entre os povos. Desta forma, o sujeito que desde seu nascimento estava inserido dentro de um espaço que de certa forma determinava sua identidade, viu-se em confluência com outras identidades, que passou a influenciar o seu olhar sobre o mundo, podendo se identificar com a cultura do outro, o que mostra que a identidade não é algo fixo, imutável, mas está em constante formação. Assim, diz Stuart Hall:
A identidade torna-se uma celebração móvel: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (HALL, 2011, p. 13).
Essa noção de identidade nem sempre foi alvo de estudos, pode-se dizer que os questionamentos pessoais ou coletivos a esse respeito, são relativamente recentes, e tende ainda a causar um aprofundamento maior por profissionais da área. Assim como defende Hall, em seu livro “A identidade cultural na pós-modernidade”, a busca por uma identificação surgiu com o sujeito pós-moderno, que teve sua estabilidade abalada, com a aproximação cultural com outros países, assim se avalia que o processo de identificação supostamente jamais estará livre de mudanças, já que a sociedade se transforma com o passar do tempo. E diante desse posicionamento, tal autor supõe que “em vez de falar da identidade como uma coisa acabada, deveríamos falar de identificação, e vê-la como um processo em andamento” (HALL, p.39, 2011). Da mesma forma, Zygmunt Bauman trata a identidade, ou melhor a identificação como algo novo, que segundo ele começou nessa era líquido-moderna, em que homens e mulheres já não se encontram fixo em um único local, mas sim imigrantes, que muitas vezes são expulsos de seu próprio país, ou precisam sair para ir em busca de novas oportunidades. 
Aconteceu que, entre os vários problemas conhecidos como “minha identidade”, a nacionalidade ganhou uma proeminência particular. Eu compartilho essa sorte com milhões de refugiados e migrantes que o nosso mundo em rápido processo de globalização produz em escala bastante acelerada. Mas a descoberta de que a identidade é um monte de problemas, e não uma campanha de tema único, é um aspecto que compartilho com um número muito maior de pessoas, praticamente com todos os homens e mulheres da nossa era líquido-moderna (BAUMAN, 2004, p. 18)
Desta forma, o pensamento comum de que o local definia a identidade do indivíduo, entrou em decadência, proporcionando uma crise, mas ao mesmo tempo uma relação dialógica entre as nacionalidades, de forma que as pessoas puderam estabelecer relações e conhecer os costumes do outro, para que as culturas não permaneçam como antes, isoladas e fechadas em si. Vale ressaltar, que essas questões que envolvem a identidade, iniciou na modernidade tardia e se estabeleceu de fato na pós-modernidade, visto que o sujeito não estava mais isolado a um determinado grupo, mas propício ao convívio com indivíduos de outras nacionalidades ou locais próximos, mais que carregavam uma bagagem cultural diferenciada. Como esclarece Stuart Hall:
Um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades modernas no final do século XX, isso está fragmentando as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais. Estas transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a ideia que temos de nós próprios como sujeitos integrados. (HALL, 2011, p.9)
Hall, estabeleceu três concepções de sujeito ao decorrer da história, o sujeito do iluminismo, o sociológico e o pós-moderno. Essa noção de sujeito iluminista, estava pautado na ideia de um indivíduo centrado, que possuía todas as capacidades de razão e ação, e que carregava uma identidade que dependia somente dele, e que jamais se modificava; já o sujeito sociológico, que surgiu posteriormente, “refletia a consciência de que este núcleo interior do sujeito não era autônomo e autossuficiente, mas era formado na relação com outras pessoas importantes para ele” (HALL, 2011, p. 11), e por último o sujeito pós-moderno, que é a base dos estudos do autor sobre identidade, essa concepção de sujeito não apresenta mais uma identidade fixa, estável, mas em relação constante com seu meio, que passa a influenciar sua concepção de eu. E diante dessa abordagem, se tem a noção de identidade individual e identidade coletiva, que está intrinsecamente ligada à cultura nacional. 
A identidade individual de cada sujeito, está ligada a construção dos elementos que vão determinar o que ele é, e de onde veio, desta forma, desde seu nascimento e ao decorrer de sua vida, se vale de características físicas e culturais de sua comunidade e experiências pessoais, para se apoderar de sua identificação enquanto sujeito social. A identidade passa então, a fazer parte da vida de cada indivíduo, como se fosse uma necessidade biológica, e de certo é, já que para se encaixar no modelo de vida exigido pela sociedade, estabelecer funções sociais, é imprescindível que o indivíduo se conheça e se reconheça dentro de um espaço. Desta forma, quando ocorre as ditas crises identitárias, que antes não eram tão comum, pelo fato de o homem ter a ideia de que sua identidade era aquilo que tinham determinado a ele, se vê dentro de um processo de desconstrução identitário, e tenta buscar de alguma forma restituir esse elemento, que é quase que um alimento que o sustenta, para mantê-lo vivo. 
O fato de o sujeito possuir uma identidade própria, não quer dizer que este não recebe influência externa, muito pelo contrário, o contato com o outro é essencial para a construção do conhecimento sobre si mesmo. Sendo o ser humano um ser social, o faz dependente das experiências alheia a ele, para que ele crie no seu psíquico sua própria concepção de identidade.
A partir da quebra das ideias tradicionais, e o processo de globalização, em que ocorre uma verdadeira revolução tecnológica dos meios de produção e comunicação, e o consequente estreitamento entre os lugares, passa-se a se levantar o conceito de cultura nacional, que para HALL, “constituem uma das principais fontes de identidade cultural” (HALL, p. 47, 2011). A identidade cultural nacional, está relacionado com a necessidade do sujeito de pertencer à um lugar, e o fato de o estado precisar que os indivíduos que formam essa sociedade nacional à valorizem em oposição aos demais. 
Tem-se a memória como elemento primordial para que se estabeleça essa identidade, uma vez que o indivíduo precisa recorrer às suas memórias e dos outros para conseguir formar uma concepção sobre si e seu meio. Assim a memória é a base para a constituição de uma identidade, e a confirmação da mesma quando há a necessidade. Como afirma Le Goff, em sua obra “História e memória”:
 A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia (LE GOFF, 1990, p.477).
A busca por auto identificação do indivíduo, faz necessário recorrer ao passado, sendo que este meio carrega as explicações que o indivíduo precisa para entender como se deu a formação, a organização, os costumes de seu povo, só a partir disto que vai haver de fato uma interação entre as pessoas que compõem tal grupo social.E dada a importância do elemento memorial na formação da identidade, os problemas relacionados a perda desse funcionamento psíquico, podem causar sérios problemas nesse processo de identificação, sendo que a memória é recorrentemente consultada pelo sujeito, a esse respeito esclarece Le Goff, sobre um dos principais problemas de perda de memória, a amnésia:
(...) num nível metafórico, mas significativo, a amnésia é não só uma perturbação no indivíduo, que envolve perturbações mais ou menos graves da presença da personalidade, mas também a falta ou a perda, voluntária ou involuntária, da memória coletiva nos povos e nas nações que pode determinar perturbações graves da identidade coletiva (LE GOFF, 1990, p. 426).
Com a evolução da civilização, a memória também evolui, deixando de se perpetuar apenas por meio da oralidade, que causam uma certa parcialidade de veracidade das informações, e passa a utilizar a escrita como fonte armazenadora dos fatos e outros meios de consolidação da memória, como os monumentos, as pinturas, a música, etc. Proporcionando ao indivíduo que a busca por sua identidade, não fosse algo tão inexato, como era nos povos sem escrita, mas sim mais concreto e mais facilitado, sendo esta uma necessidade do homem, para sua própria existência. 
Assim como há a diferenciação entre identidade individual e coletiva, há também com a memória individual e coletiva, revelando essa relação dialógica entre tais elementos. No sistema memorial, assim como ocorre com a identidade, há uma relação de interdependência, sendo que para que se forme uma memória individual é necessário, que seja solicitada ao coletivo informações suficientes para se preencher o vazio da falta de conhecimento. Como afirma Maurice Halbwachs: 
Certamente, se nossa impressão pode apoiar-se não somente sobre nossa lembrança, mas também sobre a dos outros, nossa confiança na exatidão de nossa evocação será maior, como se uma mesma experiência fosse recomeçada, não somente por uma mesma pessoa, mas por várias. (HALBWACHS, 1968, p. 25)
 Isso demostra, que a memória está em permanente interação, diretamente relacionado com o social, e dependendo desse elemento para se constituir enquanto propriedade de armazenação. Em contraposição à memória, tem-se o silêncio e o esquecimento, que para Pollak “é moldada pela angústia de não encontrar uma escuta, de ser punido por aquilo que se diz, ou, ao menos, de se expor a mal-entendidos” (POLAK, 1989, p.8). Assim entende-se que esse silenciamento envolve o fato do não querer lembrar, lembranças que de certa forma o sujeito prefere esquecer, e no coletivo, diz respeito às lembranças vergonhosas ou sofridas para um determinado povo, que fere o orgulho do pertencimento, havendo o esquecimento voluntário de fatos que fizeram parte da história. 
Então para que se possa tratar dos aspectos identitários de determinada comunidade, como se está fazendo neste trabalho em relação ao povo vigiense, é necessário recorrer ao passado por meio da memória, para compor um repertório histórico e cultural que vai determinar os comportamentos dentro dessa sociedade e sua construção identitária.
2.3 Processo de rememorização: Em busca de elementos constituintes da cultura do povo vigiense....................................................................................................................
Ao tratar a memória, como elemento primordial para a constituição da identidade de um povo, como se está fazendo com os cidadãos vigienses ao se analisar sua formação sociocultural, é imprescindível avaliar o processo de rememoração, como meio de relembrar fatos do passado, que contribuíram para a consolidação dos valores sociais, as tradições e comportamentos de determinada sociedade. Essa rememoração, só é possível a partir de um repertório memorial, que dará subsídio para que haja a busca ao passado por meio das lembranças, com o fim de projetar no presente aquilo que se viu ou se fez em outro momento da história, e desta forma poder estabelecer uma nova significação, que o tempo foi capaz de proporcionar. Assim, é possível trazer à tona elementos do passado que ajudarão a formar a cultura vigiense e sua organização social, e que perpetuam até hoje como forma de identificação do sujeito.
Sabe-se que a Vigia teve um longo processo de formação, que iniciou com a vinda dos portugueses com o intuito de se apropriar do território e afastar possíveis “invasores”, e dessa forma houve o processo de aculturação, guiado pelos colonizadores, assim com ressalta João Paulo Santos, autor do livro “Vigiando a cidade: um olhar contemporâneo sobre a sociedade e o espaço do município da Vigia”.
“A cultura que se fez presente na Vigia é o resultado do acúmulo deixado e complementado por várias gerações desde a chegada dos colonizadores portugueses. Aqui vale ressaltar que quem inicia o processo de aculturação é os portugueses com a introdução de colonos vindos de Portugal e a catequização dos indígenas pelas missões religiosas” (SANTOS, 2009, p. 20).
Então, os elementos históricos dentro dessa cidade, as tradições que sempre fizeram parte da vida de cada cidadão vigiense, recebeu sim a influências desses colonos, como no caso do círio de Nazaré, que é um evento marcante dentro dessa localidade, que ocorre todos os anos e traz uma estimada quantidade de turistas, que vêm prestigiar a passagem da santa, junto o acompanhamento dos devotos, tendo sido trazido pelos portugueses, por meio da fé católica.
Neste sentido, é importante salientar o modo como a cultura influencia na formação identitária de cada sujeito, e estabelece as regras que irão organizar o espaço social. Stuart Hall, em seu livro “Da diáspora: identidades e mediações culturais, trata sobre a cultura, e revela a tarefa difícil de conceituar tal elemento, “o conceito continua complexo – um local de interesses convergentes, em vez de uma ideia lógica ou conceitualmente claro” (HALL, 2003, p.134). O autor mostra que a cultura apresenta variadas definições, uma delas institui a cultura como a soma das descrições disponíveis pelas quais as sociedades dão sentido e refletem as suas experiências comuns, sendo uma espécie de acordo feita pela sociedade, afim de que haja a representação dos sujeitos.
	O repertório cultural que representa a cidade de vigia nas suas mais diversas facetas, mostra como se deu a formação desse território, mediante as condições que lhe foram impostas desde seu surgimento e consequentemente a identificação dos indivíduos. Tem-se na pesca mais do que um meio de produção de rentabilidade, muitos vigienses se dedicam a esse trabalho, e com isso a pesca acabou ganhando um espaço de destaque dentro do que se constitui enquanto cultura, são feitos eventos especiais com nome das espécies de peixe da região todos os anos, o que já faz parte da tradição desse povo, “essa condição natural da Vigia lhe proporcionou uma vocação que até hoje é ligada à pesca” (SANTOS, 2009, p. 44). Outro aspecto da cultura da cidade de Vigia está relacionada à religiosidade, mais precisamente ao catolicismo, que foi trazido pelos jesuítas, no processo de catequização. Em 1967, um sacerdote da Companhia de Jesus José Serafim, declarou que em passagem pela vila o padre José Ferreira, visitasse a imagem da santa, observou e descreveu romarias e novenas organizadas por devotos de Nossa Senhora de Nazaré. Essas romarias e novenas podem ter dado início a uma procissão melhor com vários objetos simbólicos e carros alegóricos que se denominou de “Círio” (uma grande vela acessa). “Mesmo aqueles que não vivenciaram o evento histórico tendem a incorporar elementos do presente com base em quadros sociais da memória” (HALBACWHS,1990, p.32). As marcas da religiosidade fortemente presente na cidade, está expressa através de seus monumentos históricos, como a igreja madre de Deus e senhor dos passos, que recorrentemente atraem turistas de vários lugares, e o tradicional círio de Nazaré, que faz parte da história dos vigienses.
O círio de Nazaré possui indícios de sua origem no município

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