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Perspectivas do voluntariado no turismo Universidade Federal de Pernambuco Centro de Artes e Comunicação Núcleo de Hotelaria e Turismo Curso de Bacharelado em Turismo Sully Campos Freire Tatiana da Silva Lucas Tavares de Lima Perspectivas do voluntariado no turismo Sully Campos Freire Tatiana da Silva Lucas Tavares de Lima Recife, 2005 Trabalho apresentado como requisito complementar para obtenção do grau de Bacharel em Turismo, orientado pelo Profº, MSc, Raimundo Alvino de Lima Júnior. Perspectivas do voluntariado no turismo Sully Campos Freire Tatiana da Silva Lucas Tavares de Lima Trabalho submetido ao corpo docente da Universidade Federal de Pernambuco Banca Examinadora: Raimundo Alvino de Lima Júnior Professor MSc. FUNDAJ. Professor da Disciplina Elaboração e Avaliação de Projetos Turísticos da UFPE. (Orientador) ____________________________________________________________________________ Fabiana dos Santos Firmino Professora Bacharel – UFPE. Professora da Disciplina Elaboração e Avaliação de Projetos Turísticos da UFPE. (Examinador 1) Liliane Albuquerque Fell Coordenadora de Relacionamento de Comunidade do Recife Voluntário (Examinador 2) Thays Pinho Professora Bacharel – UFPE. Professora da Disciplina Teoria e Técnica do Turismo (Examinador 3) Dedico este trabalho a todos os responsáveis diretos e indiretos pela minha paixão pelo social e pela causa do voluntariado, especialmente a Deus por me dar oportunidade de conviver com pessoas tão maravilhosas como meus pais, meu irmão, os que fazem o Projeto Escola Aberta e o Recife Voluntário. (Sully Campos Freire) Dedico aos meus pais por fazerem possível mais uma etapa da minha vida, aos amigos que ajudaram na orientação e aconselhamentos durante a elaboração da monografia e aos que promovem e desejam desenvolver um turismo mais humano. (Tatiana Lucas) Agradecimentos Primeiramente gostaríamos de agradecer a Deus por tudo o que nos tem proporcionado viver, principalmente juntas. Ficamos muito agradecidas pela paciência e carinho de todos os nossos amigos e familiares durante a construção da monografia. No entanto, gostaríamos de agradecer especialmente a algumas pessoas que participaram mais ativamente deste processo: À Maria Eduarda Guerra e Kleber Fernando, pelo apoio nas traduções. A Frederico Arthur, pelo empréstimo do computador. À Tchaurea Gusmão, pela compreensão quanto ao nosso horário de trabalho. À Ana Carla Lemos, pela “edição” de texto. Aos Professores Raimundo Alvino Júnior e Fabiana Firmino, pela disponibilidade e dedicação. E a todos os voluntários e representantes de ONGs entrevistados, pela receptividade e sinceridade. “Sei que meu trabalho é uma gota no oceano, mas, sem ela, o oceano seria menor”. Madre Tereza de Calcutá “Nada pode deter a força de uma idéia cujo tempo chegou”. Victor Hugo “Não se pode conhecer nada num minuto e só por isso é que os turistas não conhecem o mundo”. Mário Quintana Resumo O desenvolvimento precisa ser compreendido de forma holística, ou seja, deve integrar aspectos sociais, culturais e econômicos. Este trabalho visa analisar como o turismo e o voluntariado são capazes de contribuir para alcançá-lo. Dessa forma, pretende-se apresentar a pesquisa, demonstrando que a associação entre turismo e voluntariado tem ganhado força e necessita de maior investigação. A atividade turística foi estudada em suas múltiplas variáveis, levando em conta os impactos positivos e negativos na economia, na cultura, na população e no meio ambiente - sem supervalorizar ou menosprezar nenhum em especial. O turismo deve ser visto como um excelente meio de conquista do desenvolvimento sustentável, quando planejado e monitorado corretamente. A prática do voluntariado pode ser encarada de forma análoga. Este agente de transformação social, motivado por valores de participação e solidariedade, costuma prestar serviços não remunerados na busca de soluções para a construção de um mundo melhor. Números expressivos, conforme serão apresentados neste trabalho atestam o grande interesse de pessoas por este tipo de serviço em diversos áreas de atuação (educação, cultura, esportes, qualificação, comunicação, meio ambiente, etc.) e locais (comunidades carentes, escolas, hospitais, reservas ecológicas, entre outros). Observando a relação entre os tópicos supracitados, apresentaram-se as perspectivas do voluntariado no turismo por meio do estudo dos referidos temas e de pesquisas (qualitativas e quantitativas) realizadas com turistas e entidades da cidade do Recife. Palavras chave: voluntariado, turismo sustentável, desenvolvimento, social. Abstract The development must be understood as a completed meaning, integrating social, cultural and economic aspects. This work intents to analyze how the tourism and the volunteering contributes to reach it. It is intent to present the research showing the relation between both activities that are growing and needs bigger inquiry. The tourist was studied in its all aspects considering the positives and negatives impacts in economy, culture, local people and environment - without supervalue or dispise none in special. The tourism must be seen as an excellent way to conquest the sustainable development, when it is planned and monitored correctly. It is possible to analyze the volunteering in the same way. This social actor, is motivated for participation and solidarity values and it is use to do free services looking for solutions to do a better world. Important numbers in this document will certify the people´s interest about those services in many areas (education, culture, sports, qualification, communication, environment) and places (poor communities, schools, hospitals, ecological reserves, and others). Observing the relation between the mentioned topics, this work intent to present the perspectives of the volunteering in the tourism by the study of the related subjects and research (qualitative and quantitative) with tourist and Recife´s non profit organizations. Keywords: Volunteering, Sustenable Tourism, Development, Social Lista de Abreviaturas e Siglas ABIH - Associação Brasileira da Indústria de Hotéis ASPAC - Associação de Silves para Preservação Ambiental e Cultural Aspan – Associação Pernambucana de Defesa da Natureza AVB – Association of Volunteer Bureau BITS - Bureau Internacional du Tourisme Social CCEP - Centro Cristão de Educação Popular CDL - Câmara de Dirigentes Lojistas DGVJ – Dia Global do Voluntariado Jovem Embratur - Instituto Brasileiro do Turismo Empetur - Empresa de Turismo de Pernambuco GACC - Grupo de Apoio a Crianças com Câncer GINI - Índice que mede a concentração de riquezas GTZ - Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit GmbH(Cooperação Técnica Alemã) IDH - Índice de Desenvolvimento Humano IMIP - Instituto Materno Infantil de Pernambuco INFRAERO - Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária NACC - Núcleo de Apoio a Crianças com Câncer NCVA - National Center of Volunteer Action NEIMFA - Núcleo Educacional Irmãos Menores Francisco de Assis OIT - Organização Internacional do Trabalho OMT – Organização Mundial do Turismo ONG - Organização Não Governamental ONU - Organização das Nações Unidas PIB - Produto Interno Bruto PRODETUR - Programa de Desenvolvimento do Turismo RMR - Região Metropolitana do Recife SESC - Serviço Social do Comércio WRI - World Resources Institute WWF - World Wildlife Fund YSA - Youth Service America ZEIT - Zonas Especiais de Interesse Turístico Sumário Resumo Abstract LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 1. INTRODUÇÃO 10 2. TURISMO E VOLUNTARIADO: UMA DISCUSSÃO CONCEITUAL 13 2.1 TURISMO 13 2.1.1 Impactos da atividade turística 14 2.1.2 Desenvolvimento sustentável e turismo sustentável 18 2.1.3 As possibilidades do ecoturismo 22 2.1.4 Perspectivas do turismo social 23 2.2 VOLUNTARIADO 27 2.2.1 Motivação do serviço voluntário 32 2.2.2 Direitos e responsabilidades do voluntário 34 2.2.3 Legislação do voluntariado 36 2.2.4 Benefícios do serviço voluntário 37 2.2.5 Voluntariado no mundo 39 2.2.6 Voluntariado no Brasil 43 2.2.7 Voluntariado, cidadania, participação e valores humanos 47 3. METODOLOGIA 55 4. TURISMO E A PRÁTICA DO VOLUNTARIADO: PERSPECTIVAS 58 4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 58 4.2 TURISMO ASSOCIADO AO SERVIÇO VOLUNTÁRIO 63 4.2.1 Áreas de atuação 67 4.2.2 Benefícios da atividade voluntária para o turismo 67 4.3 PESQUISAS SOBRE O TEMA 69 4.3.1 Instituições que trabalham com voluntariado em Recife 72 4.3.2 Análise preliminar dos impactos do serviço voluntário 76 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 81 6. REFERÊNCIAS 86 APÊNDICES 1 Introdução O desenvolvimento sustentável tem sido bastante debatido atualmente, assim como as possibilidades de atingi-lo com a colaboração de todos os setores da sociedade (público, privado, sociedade civil). Desta forma este documento propõe-se a discutir sobre o voluntariado dentro da atividade turística demonstrando um aspecto de grande relevância social, mas pouco abordado pelos gestores do turismo e pelos envolvidos com a atividade. Sabe-se que várias pessoas desenvolvem ações de ajuda ao próximo com o desejo de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa. O que muitos desconhecem é que algumas dessas pessoas prestam serviços voluntários durante suas viagens. A discussão a respeito do tema é bem recente e há dificuldade em encontrar estudos e pesquisas sobre sua abrangência na sociedade, notadamente relacionados aos seus impactos. Há os que se movem para um destino com o objetivo único de fazer o bem ao próximo, outros com o propósito de conhecer um local de maneira “exótica” e os que durante sua própria permanência despertam para o interesse de ser um agente de transformação. Ao debater sobre o turismo haverá reflexões a respeito dos problemas que atingem toda sociedade, do modelo “insustentável” de desenvolvimento atual, os impactos positivos e negativos de suas atividades, as premissas para um turismo sustentável e algumas experiências realizadas na busca de reverter esse modelo, demonstrando um pouco de seus benefícios e implicações na construção de uma sociedade mais justa. É fácil constatar a influência do comportamento dos envolvidos com a atividade turística (empresas, governo e o próprio turista) e que a maior parte deles não cumpre seu papel como deveria para promover o desenvolvimento. Demonstra-se que este não é atingido apenas por meio do crescimento econômico e de políticas compensatórias do Estado. O papel de cada pessoa – individual e coletivamente – nesse processo não é levado em consideração em diversos segmentos da sociedade, não sendo, portanto, diferente dentro do turismo. Na discussão sobre voluntariado serão apresentados conceitos, áreas de atuação, benefícios, diferenças da cultura do voluntariado entre países, perspectivas e potencialidades, além da relação com a sociedade e temas, como: cidadania, participação e valores humanos. O turismo e o voluntariado são discutidos separadamente com o intuito de fortalecer a construção da relação entre eles, a partir da constatação de turistas que prestam serviço voluntário durante sua viagem e seu papel no desenvolvimento da localidade. Será apresentada a análise dos dados da pesquisa realizada com turistas voluntários em Recife e instituições diretamente beneficiadas com a atuação deste público. Também será analisado o panorama das perspectivas do voluntariado no turismo, sua promoção e sua potencial contribuição à localidade. Justifica-se a realização do trabalho devido ao fato da atividade turística ser, geralmente, evidenciada por seus benefícios econômicos. Porém, ao perceber o turismo como uma atividade exclusivamente econômica, desconsideram-se outras variáveis importantes para o desenvolvimento da localidade e limitam-se as diversas possibilidades de impactos positivos existentes para a atividade turística. Diante deste panorama evidencia-se a necessidade do exercício da cidadania não apenas para cobrar seus direitos, mas também para cumprir seus deveres com a coletividade. A cidadania zela pelos direitos básicos de todos à sobrevivência, mas é por meio de sua prática que será possível alcançar o desenvolvimento. Tanto a atividade turística, quanto o voluntariado, isoladamente ou integrados, contribuem para o desenvolvimento. A discussão deste tipo de turismo, pouco conhecido, de difícil classificação, mas de positivos e concretos impactos na destinação e no visitante pretende contribuir para o meio acadêmico. Além disso, visa-se enaltecer a importância da atuação destes turistas voluntários na participaçãodo desenvolvimento sustentável da localidade estudada, Recife. Desta forma, este documento tem como objetivo geral demonstrar as perspectivas do voluntariado no turismo em Recife. Traz ainda os seguintes objetivos específicos: • Apresentar uma discussão conceitual sobre o binômio turismo e voluntariado. • Apresentar algumas instituições que possibilitam a prática do voluntariado para turistas em Recife. • Entrevistar turistas que tenham desenvolvido algum serviço voluntário durante sua permanência na capital pernambucana. 2 Turismo e Voluntariado: uma Discussão Conceitual 2.1 Turismo A atividade turística tem despertado o interesse de estudiosos por todo o mundo nos últimos anos devido à sua abrangência e à sua contribuição para o crescimento econômico de muitos países. Novas definições e classificações são feitas sobre o turismo a cada ano. Porém, por ser uma atividade dinâmica, que abrange vários campos de estudo, seu conceito não pode ser encarado de forma rígida e estática. A conceituação do turismo não pode ficar limitada a uma simples definição, pois este fenômeno ocorre em destinos campos de estudo, em que é explicado conforme diferentes correntes de pensamento, e verificado em vários contextos da realidade social (BENI, 2001, p.39). Contudo, a definição mais usada por estudiosos e profissionais da área é a da Organização Mundial de Turismo (OMT): O turismo é um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou de grupos de pessoas que, fundamentalmente, por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem do seu local e residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas inter- relações de importância social, econômica e cultural (OMT apud DE LA TORRE, 1992, p.92). Para a elaboração deste documento, a atividade turística foi entendida como um fenômeno social holístico, que abrange os impactos positivos e negativos na economia, na cultura, na população e no meio ambiente, sem supervalorizar ou menosprezar nenhum deles. Também é vista como um excelente meio de conquista do desenvolvimento sustentável, quando planejada e monitorada de maneira correta. O turismo não compreende somente o deslocamento de pessoas de um local de origem e outro de destino, nem tampouco uma atividade que apenas proporciona geração de riqueza como tantos autores priorizam. É um fenômeno social, cultural, ambiental e econômico que possibilita inúmeras transformações na sociedade como um todo. Na economia, movimenta os mais diversos ramos de atividades: artesanato, fábricas, construção civil, restaurantes, hotéis, operadoras de turismo, mercado de capitais, a demanda e a oferta global, geração de empregos e outros. Na cultura, o turismo interfere e sofre influências locais e externas por conta da busca pelo conhecimento do novo e do antigo no que diz respeito à música, folclore, artesanato, culinária, mitos, costumes, religião e representações similares. Além do intercâmbio cultural, o turismo também proporciona novos comportamentos tanto na localidade receptora quanto no turista. Os grupos sociais recebem e provocam mudanças no comportamento quando se relacionam, desfazendo e construindo novos grupos que interagem entre si ou com as atividades relacionadas ao turismo. Como conseqüência do turismo, o meio ambiente também sofre constantes alterações, uma vez que são criados projetos e políticas (nacionais ou internacionais) em prol das causas ambientais e, com isso, novos hábitos são estimulados. Percebe-se a importância do turismo nas transformações que acontecem na sociedade e suas influências no desenvolvimento mundial. Apesar de muitos estudos se concentrarem, simplesmente, nos aspectos econômicos e os ressaltarem em um discurso de desenvolvimento, principalmente argumentando a geração de empregos, sabe-se que os impactos (positivos e negativos) também atingem âmbitos sociais, culturais e ambientais. Os atrativos turísticos são um conjunto de componentes que despertam no turista o interesse pela localidade, podendo variar de acordo com objetivos, valores e expectativas de cada turista para com a destinação. Cada atrativo pode motivar a visita do turista de maneira distinta ou ainda alterar a motivação no mesmo indivíduo dependendo do momento de vida em que se encontra. De acordo com a escolha dos atrativos são formados os tipos de turismo. Por exemplo: museus, povos e sítios arqueológicos são atrativos para o turismo cultural, já os rituais de fé e as instituições religiosas funcionam como atrativos para o turismo religioso, assim como áreas naturais preservadas, sua fauna e flora caracterizam o turismo ecológico. A atividade turística vem sendo fomentada como alternativa econômica para as localidades onde acontece e tem despertado a atenção dos governos por trazer retorno rápido e barato no que se refere à geração de empregos e arrecadação de impostos. Desta forma, o turismo é divulgado na mídia e em algumas publicações como a panacéia dos problemas econômicos e, como conseqüência, sociais do Brasil. É evidente que a atividade turística tem uma importância econômica muito grande e que as tendências mercadológicas precisam ser levadas em consideração. Porém, o turismo é também um fenômeno social, político e ambiental. Privilegiar apenas uma faceta desse fenômeno tão complexo e dinâmico causa problemas graves para a implantação e o desenvolvimento de um turismo articulado com outras atividades da economia, que seja sustentável e duradouro (TRIGO, 2003). Muitos estudiosos e curiosos do assunto, principalmente os que não fazem parte do trade turístico, acreditam que ao aumentar o número de postos de trabalho devido à atividade turística, soluciona-se grande parte dos problemas sociais. No entanto, da forma como é praticado atualmente, ou seja, com uma divisão injusta dos lucros conquistados, o turismo nem se aproxima de atingir este objetivo. A atividade beneficia economicamente de fato os grandes empresários, as indústrias, o governo e uma pequena parcela da população. Enquanto que a comunidade receptora, por ser mais vulnerável às influências da atividade, geralmente sofre grandes impactos negativos em troca de alguns poucos novos postos de trabalho. Com o discurso de aumentar a oferta de trabalho na localidade - normalmente, empregos com pouca ou nenhuma qualificação e baixa remuneração -, muitos empresários poluíram rios, acabaram com a pesca e artesanato local e, como se não bastasse, distribuíram os lucros da atividade turística com uma minoria mais favorecida, isto quando não levam o investimento para fora do país, geralmente, com o apoio ou a negligência dos órgãos públicos. Entretanto, cresce o número de críticas e discussões sobre esse tipo de turismo predatório. 2.1.1 Impactos da atividade turística O turismo é uma atividade híbrida, pois ao mesmo tempo em que se caracteriza como um enorme potencial de desenvolvimento, pode trazer impactos negativos para a destinação, quando não regulamentada e fiscalizada adequadamente. Cada impacto é positivo ou negativo, em maior ou menor escala, de acordo com a realidade, o conhecimento e o discernimento de quem emite juízo sobre o fato ou ação, variando proporcionalmente com sua atribuição de valores Os impactos do turismo referem-se à gama de modificações ou à seqüência de eventos provocados pelo processo de desenvolvimento turístico nas localidades receptoras. As variáveis que provocam os impactos têm natureza, intensidade, direções e magnitude diversas, porém os resultados interagem e são geralmente irreversíveis quando ocorrem no meio ambiente natural (RUSCHMANN, 1997,p.34). Os impactossão conseqüências da interação entre o turista, a comunidade e os meios receptores, podendo ocorrer em várias áreas. Os tipos de impactos mais importantes, dentre outros, são econômicos, sócio-culturais e ambientais. A atividade turística pode trazer o desenvolvimento econômico da localidade quando há ganho em moedas estrangeiras, criação de empregos para a população autóctone, aumento da arrecadação de impostos, desenvolvimento da infra-estrutura, diversificação econômica, entre outros. Porém, o turismo também pode ser responsável pela “falência” da destinação quando: considera a atividade turística como a única alternativa econômica, gera a inflação dos preços, possibilita o escape de dinheiro para outras regiões e/ou países e limita as opções de cargos operacionais sem capacitação para a população local. É difícil evitar os impactos sócio-culturais do turismo, pois por meio da interação entre o turista e a comunidade local há uma influência mútua entre eles. O visitante leva consigo seus costumes, sua ética, seus sistemas de valores, suas concepções sociais e, ao chegar na destinação, está ávido para conhecer as diversas facetas da localidade. Este intercâmbio, se não bem orientado e fiscalizado, pode trazer danos catastróficos para a comunidade receptora. O turismo convencional e predatório realizado atualmente se insere em áreas pobres de forma freqüentemente desordenada. A tendência, nesses casos, é fazer enormes divisões econômicas e sociais, que são verdadeiros guetos fechados, estabelecendo um distanciamento em relação à sociedade local. Desta forma, pode ocorrer a retirada da população de seu lugar habitual para dar lugares a hotéis e/ou centros de convenções, além do aumento de criminalidade, prostituição e uso de drogas. Contudo, a atividade turística pode resgatar a identidade cultural, a auto-estima da população local e proporcionar a conservação do patrimônio cultural da destinação. Ambientalmente, a atividade turística pode ser responsável pela poluição do ar e da água, agravamento da falta de local para a destinação do lixo ou ainda representar perigo para a arqueologia e história. No entanto, o turismo também pode ser o meio mais viável à conservação de áreas naturais e lugares históricos importantes para a região. 2.1.2 Desenvolvimento sustentável e turismo sustentável O termo desenvolvimento está associado a progresso, crescimento, melhoria de qualidade de vida. Contudo, para tudo isso ocorrer, é necessário que haja um desenvolvimento econômico. Por esta ligação ser muito forte, a palavra desenvolvimento acaba, muitas vezes, sendo limitada ao aspecto econômico, prejudicando uma visão integrada da situação. Desta forma, surge uma nova terminologia para um tipo de desenvolvimento mais holístico, chamado de sustentável. Segundo Murphy: “o desenvolvimento sustentável não deve colocar em risco os sistemas naturais que permitem a vida na Terra: a atmosfera, a água, os solos e os seres vivos” (apud SWARBROOKE, 2000 p.7). O crescimento econômico está relacionado ao aumento do PIB (Produto Interno Bruto) de uma localidade. Já o desenvolvimento é diferente, pois para que ele ocorra, é preciso que, além do aumento do PIB, também seja feita a distribuição da riqueza nas diversas áreas, como saúde, educação, cultura, habitação e infra-estrutura. O desenvolvimento sustentável permite ver além dessa distribuição, uma vez que se preocupa com seus impactos sobre as próximas gerações. Como define Fritjof Capra, em sua obra O Ponto de Mutação, o desenvolvimento sustentável é aquele que “satisfaz as nossas necessidades hoje, sem comprometer a capacidade das pessoas satisfazerem as suas no futuro". No entanto, na tentativa de dissociar o termo desenvolvimento dos fatores econômicos, erra-se da mesma maneira ao restringir o significado da palavra, visto que na prática, muitos projetos estão associando o desenvolvimento sustentável, simplesmente, à proteção ambiental. Se esta perspectiva não for modificada, em breve surgirá mais um termo para definir a mesma idéia, apenas com outro foco. Faz-se necessário portanto, uma visão integrada sobre todos os aspectos do desenvolvimento, sem menosprezar ou supervalorizar nenhuma das vertentes. Dentro de um debate mais amplo sobre o turismo, é preciso incluir a reflexão e a discussão sobre sua sustentabilidade, pois a atividade é um importante fator de conquista do desenvolvimento sustentável. Segundo Swarbrooke (2000), os principais benefícios do turismo sustentável: • Estimula uma compreensão dos impactos do turismo nos ambientes natural, cultural e humano; • Assegura uma distribuição justa de benefícios e custos; • Gera entrada de divisas para o país e injeta capital e dinheiro novo na economia local; • Estimula o desenvolvimento do transporte local, das comunicações e de outras infra- estruturas básicas da comunidade; • Intensifica a auto-estima da comunidade local e oferece a oportunidade de uma maior compreensão e comunicação entre os povos de diversas origens; • Demonstra, do ponto de vista do meio ambiente, a importância dos recursos naturais e culturais para a economia de uma comunidade e seu bem-estar social, e pode ajudar a preservá-los; • Monitora, assessora e administra os impactos do turismo, desenvolve métodos confiáveis de obtenção de respostas e opõe-se a qualquer efeito negativo. O turismo sustentável não é apenas proteção à natureza; ele também está ligado à viabilidade econômica a longo prazo e, principalmente, à justiça social. Segundo a World Comission of Environment and Development (Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento), vinculada à ONU (Organização das Nações Unidas), o desenvolvimento sustentável do turismo é “aquele que atende as necessidades dos turistas atuais, sem comprometer a possibilidade do usufruto dos recursos pelas gerações futuras” (apud RUSCHMANN, 1997, p. 10). Com base nesta definição, deve-se desenvolver o turismo buscando conciliar os interesses dos visitantes, ansiosos por explorar o local visitado. Por outro lado, deve-se garantir aos nativos a permanência dos elementos fundamentais que caracterizam a sua localidade - o meio ambiente, a cultura, a história, o estilo de vida – e, assim, possibilitar que seus herdeiros possam usufruir dos mesmos. Deve haver um equilíbrio entre os interesses diversos, tais como a conservação dos recursos naturais, a promoção do desenvolvimento sustentável nas comunidades locais, a melhoria da balança comercial e o enriquecimento da experiência dos turistas. Por ser uma atividade dinâmica, o turismo deve ser monitorado e avaliado constantemente. Contudo, o progresso em direção a formas mais sustentáveis de turismo dependerá muito mais das atividades do trade turístico e das atitudes do turista que de ações dos órgãos do setor público. O turismo tem grande capacidade de geração de renda e para beneficiar a todos deve ser realizado de maneira planejada. A renda deve ser distribuída de acordo com os principais problemas da localidade e recursos arrecadados por meio dos impostos oriundos do turismo não devem voltar, unicamente, para a própria atividade, mas proporcionar a distribuição dos lucros e melhoria direta na qualidade de vida da população no que se refere à saneamento básico, rede de esgotos, coleta adequada de lixo e outros serviços. Além disso, o turismo praticado atualmente vem extinguindo os “recursos” fundamentais para a sua prática e, por isso, corre o risco de se autodestruir. Desta forma, é preciso uma atitude de prudência em relação ao uso do meio ambiente, jáque a ação do homem pode causar o seu comprometimento por meio de transformações irreversíveis. Recentemente, certas nomenclaturas definem tipos de turismo que se propõem a, de alguma maneira, alcançar este turismo sustentável. No entanto, ainda não é possível achar nenhuma que atenda a todos os aspectos da sustentabilidade. Mesmo assim, alternativas como o ecoturismo e o turismo social representam o início de uma nova perspectiva. 2.1.3 As possibilidades do ecoturismo O ecoturismo é o segmento turístico onde a paisagem é a principal variável como ponto de confluência entre os fatores ambientais e antrópicos, cujo objetivo é a interação entre o visitante, o meio natural e a população que participa dos serviços prestados aos turistas (CROSBY apud PIRES, 1998, p. 80). Desta forma, prioriza a preservação do espaço natural onde é realizado e o seu projeto contempla, antes de tudo, a conservação diante de qualquer outra atividade. De acordo com o recente relatório do World Resources Institute (WRI), o ecoturismo tem uma taxa de crescimento anual entre 10% e 30%, que o torna o setor de crescimento mais rápido do mercado internacional de viagens e turismo, visto que a atividade turística, como um todo, cresce a uma taxa anual de 4% (LOPATA ET AL apud DE ROURE & PÁDUA, 2001). O Ecoturismo surge na intenção de minimizar os impactos negativos da atividade turística no meio ambiente e na comunidade receptora, ou seja, compromete-se com a preservação da natureza e com o bem-estar da população local, atuando com pilares do desenvolvimento sustentável e da responsabilidade social no turismo. Desta forma, caracteriza-se como uma das principais alternativas para o desenvolvimento sustentável em diversas destinações no mundo, principalmente em regiões e países em desenvolvimento. 2.1.4 Perspectivas do turismo social As definições encontradas a respeito do turismo social tratam-no como uma alternativa de proporcionar aos menos favorecidos o acesso aos serviços da atividade turística, por meio de subsídios governamentais ou tarifas reduzidas no que se refere aos serviços, como transportes, meios de hospedagem (hotéis, albergues, clubes, associações) e pacotes turísticos, além de políticas que incentivem aos empregadores de liberar as férias de seus funcionários em épocas que coincidam com a baixa estação do ramo da atividade para assim, facilitar o acesso a esse mercado. Desta maneira, a atividade turística é encarada como uma forma de melhor aproveitamento dos recursos de alguns estabelecimentos, proporcionando um aquecimento da economia em uma época em que possivelmente estaria enfraquecida, pois há uma redução nos postos de trabalhos, na ocupação dos quartos, no número de refeições dos meios de hospedagem e na venda de passagens aéreas e de pacotes turísticos. TRIGO (1995) afirma que esse tipo de turismo é o justo desejo de uma sociedade que se quer mais aberta, justa e democrática, pois entende que o turismo social tem como objetivo estender as condições de deslocamento, hospedagem e vivência da atividade em geral (esportivas, culturais, artísticas, comerciais ou simplesmente de ócio) a todas as pessoas da sociedade. O Bureau Internacional du Tourisme Social (BITS) conceitua o turismo social como: O conjunto de relações e fenômenos resultantes da participação no turismo das camadas sociais menos favorecidas, participação que se torna possível ou é facilitada por medidas de caráter bem definidas, mas que implicam um predomínio da idéia de serviço e não de lucro. (BITS, apud SESC, s/ ano, p.5) Apesar desse último conceito do Bureau, sabe-se que poucas atividades lucrativas teriam condições de operar, mesmo que numa determinada época, sem lucro, já que há todo um mercado financeiro de investidores a influenciar o aumento do faturamento dessas empresas, afora toda folha de pagamento de pessoal e despesas comuns a qualquer uma delas. O turismo jamais deve ser tratado como a solução para todos os problemas. Sabe-se que questões como: a fome, as doenças, o subdesenvolvimento econômico ou cultural, a miséria, o excesso de lixo, a falta de saneamento básico, a violência não desaparecerão se, simplesmente, mais pessoas viajarem. De forma branda, no Brasil, tem-se buscado formas para que a população possa usufruir de equipamentos turísticos – hotéis, centros de recreação, entre outros -, como é o caso do SESC (Serviço Social do Comércio), por meio das colônias de férias e das parcerias realizadas com operadoras na busca de preços compatíveis com seu público-alvo, além da criação de linhas de crédito da Caixa Econômica Federal, denominada “giro de caixa”, com juros subsidiados, de até 2% ao ano. O dinheiro destinado a operadoras é usado para financiar o turismo social. O Governo Federal também estimula que as empresas banquem total ou parcialmente as viagens de seus empregados, segundo matéria Um Desafio para Indústria Nacional. (Disponível em <http://www.ivt-rj.net/clipping/clipping03.cfm?clip_id=2279 > acessado em 31 mar. 2005.) Entretanto, o SESC visa atender, prioritariamente, aos trabalhadores dos setores do comércio e serviços, bem como seus dependentes, disponibilizando também seus bens, serviços e produtos turísticos ao público não comerciário, só que com adoção de preços diferenciados, mas sem prejudicar a sua demanda interna. Ou seja, os preços praticados para os não associados, normalmente, sofrem aumento, dificultando ainda mais a participação da camada menos favorecida. Convém ressaltar que esse tipo de turismo, apesar de não garantir a inclusão de todos, contribui socialmente por compensar a exclusão do turismo convencional a uma parcela da população (que talvez seguisse excluída, caso não existisse) e por ser reguladora do equilíbrio econômico, visto que proporciona a circulação de moeda a estabelecimentos normalmente não aquecidos em determinadas épocas do ano, além da abertura de novos empreendimentos voltados exclusivamente para esse público, sendo um novo nicho de mercado de pouco capital, mas muito numeroso. No entanto, a atividade promovida desta forma traz com ela suas limitações, já que muitos ainda continuarão excluídos de poder fazer turismo, pois não têm, sequer, acesso aos direitos básicos. Muitas famílias também não poderiam viajar juntas, já que os períodos de baixa estação não coincidem com as férias dos filhos em idade escolar com as férias do trabalho. Além disso, devido ao baixo preço pago por estes serviços, muitos deles não seriam de boa qualidade ou não teriam o compromisso de tentar diminuir os impactos negativos da atividade no local de destino. O turismo social abrange públicos não visados pelo mercado, uma vez que não gera divisas compatíveis com seus investimentos, como é o caso do turismo voltado para a juventude, a terceira idade e estudantes. Muitas das iniciativas desse tipo de turismo são organizadas por grupos, associações e sindicatos que enfrentam limitações financeiras. Logo, a definição do turismo social deveria não só proporcionar a um maior número de pessoas a possibilidade de viajar, mas trazer junto à atividade uma maior abrangência em seu âmbito social, ou seja, possibilitar que os impactos sociais positivos sejam mais concretos à população, ao meio ambiente e à localidade, além de estimular a descoberta de alternativas para que o direito ao turismo possa ser estendido a mais pessoas, entendendo com isso que já teriam então conquistado o acesso a alguns direitos básicos. Se o turismo social é feito para proporcionar o bem-estar da sociedade, é importante chamar atenção aos cuidados com a atividade para que possa beneficiar a todos sem, no entanto, prejudicar a destinação (cultura, população, meio ambiente), o turista, os empresáriose os comerciantes que dela vivem. Tem sido de fundamental importância a ação de instituições, sobretudo ONGs que trabalham com a questão ambiental, nas áreas em que o turismo causa maiores impactos negativos, uma vez que falta acompanhamento integral da região após a promoção da atividade turística e não há interesse dos órgãos públicos, nem dos empresários em analisar como os impactos do turismo têm modificado a região. O processo de exclusão das comunidades locais e a necessidade de desenvolver o turismo sustentável podem despertar o interesse das organizações civis cujas missões estão voltadas para melhoria da qualidade de vida dos indivíduos. Para isto, pode-se contar com o apoio de ONGs nas seguintes áreas de atuação: capacitações de organizações locais, projetos de educação ambiental educação e conscientização do turista, planejamento da gestão da atividade na comunidade, entre outras. O terceiro setor possibilita trocas de experiências as quais introduzem uma qualificação maior nos diversos setores (ambiental, econômico, cultural e social) da atividade turística. 2.2 Voluntariado O termo voluntariado vem do latim voluntarìu, o substantivo, designando, de acordo com conhecidos dicionários da língua portuguesa, a pessoa que se compromete a cumprir determinada tarefa ou função sem ser obrigada a isso e sem obtenção de qualquer benefício material em troca. Vários são os conceitos apresentados sobre o tema do voluntariado. Segundo a ONU (disponível em <http://www.davison.com.br/novembro/voluntario.html> acesso em 15 mar. de 2005): O voluntário é o jovem ou o adulto que, devido ao seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem-estar social ou outros campos. O voluntário está por toda parte, em comunidades carentes, escolas, hospitais, creches, promovendo campanhas de arrecadação de alimentos, brinquedos, remédios ou defendendo o meio ambiente. Também atua com diversos públicos (crianças, jovens, adultos e idosos, entre outros) e em várias áreas (educação, saúde, habitação, meio ambiente e outras). Segundo a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, em uma das primeiras tentativas de definir o conceito de voluntariado no Brasil, em 1996: O voluntário, como ator social e agente de transformação, presta serviços não remunerados em benefício da comunidade, doando seu tempo e seus conhecimentos, realiza um trabalho gerado pela energia de seu impulso solidário, atendendo tanto às necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa, como às suas próprias motivações pessoais, sejam estas de caráter religioso, cultural, filosófico, político ou emocional (CORULLÓN & WILHEIM, 1996, p. 1). Diz-se que neste tipo de trabalho não há remuneração, porém sempre há benefícios. As pessoas, em geral, tornam-se mais pacientes, mais solidárias, mais conscientes, envolvem-se e desenvolvem a si mesmos e, acima de tudo, a comunidade. O voluntário sabe que o governo não consegue resolver sozinho todos os males existentes em uma sociedade e que cada indivíduo pode ser um agente de transformação da realidade. Pode-se desempenhar vários papéis sociais: o de pai, de mãe, de professor, de médico, de aluno, de amigo e, inclusive, de voluntário. Desta forma, ao atuar como voluntário, o indivíduo torna-se um agente de transformação, pois acredita que seu trabalho gera mudança social. Verifica-se que as pessoas que se interessam pela prática do voluntariado são das mais distintas etnias, idades e possuem diferentes motivações para o engajamento nos serviços prestados: alguns pela dor, outros pela gratidão, pela indignação, pela identidade com a causa ou pela vontade de transformar a realidade. Para a elaboração deste trabalho o voluntário é entendido como a pessoa que, motivada por valores de participação, de ajuda a uma causa e indignação com a realidade, doa seu tempo de maneira espontânea e não remunerada para a busca de soluções que levam à construção de uma sociedade mais humana e justa. É alguém que deseja ver sua comunidade crescer, sua sociedade se desenvolver, procurando contribuir e fazer a sua parte. Entretanto, algumas distorções são feitas a respeito do tema em questão. Por exemplo, a palavra doação freqüentemente é confundida com o serviço voluntário. Um doador de sangue, ainda que todo ano faça sua doação, não é um voluntário. Porém, se um cidadão mobiliza um grupo de pessoas e participa de uma campanha para doar sangue, nesse caso, ele atua como voluntário. Ele não doou somente algo, doou de si mesmo, prestou um serviço, doando tempo em prol de uma causa. Outra discussão com relação ao tema é que ações assistencialistas são erroneamente denominadas de serviço voluntário. A principal diferença entre esses dois perfis é que o primeiro costuma causar dependência e acomodação no público beneficiado, enquanto que o voluntariado estimula a emancipação e a transformação da realidade das pessoas e/ou comunidades atendidas. Existe ainda muita confusão com relação à diferença entre o serviço voluntário e o estágio não remunerado. Em ambos os casos não há nenhum tipo de remuneração, porém a motivação é que distingue um do outro. O voluntário busca exercer sua atividade para gerar uma transformação na sociedade, fazer algo pelo outro; já o estagiário está em busca de uma experiência profissional, de se aperfeiçoar, faz algo por si, não podendo desta maneira ser caracterizado como voluntário. Muitos estagiários podem atuar em um trabalho focado no desenvolvimento social, porém o interesse em realizá-lo, geralmente, é de cunho profissional. Não há interesse de desvalorizar este tipo de trabalho, mas o estágio não remunerado não se enquadra nos conceitos de voluntariado. São várias as áreas em que o voluntário pode atuar. Na área da saúde, por exemplo, pode-se realizar ações de promoção da saúde e bem-estar, campanhas preventivas e de doação de sangue, atendimento psicológico, apoio aos soropositivos, entre outros. Em relação à educação, é possível facilitar o acesso ao conhecimento e ao aprendizado, alfabetização de crianças, jovens e adultos. Na área ambiental, pode-se proteger a fauna e a flora, sensibilizar para a educação ambiental por meio da reciclagem do lixo, da coleta seletiva ou da limpeza de praias, cidades e escolas. Nas áreas de cultura e arte, pode-se atuar com a educação patrimonial, teatro, dança, música, artesanato, origami e uma infinidade de outros campos. Para isso, existem canais de participação, ou seja, pode-se recorrer a uma instituição social como muitas que existem em Recife: Casa de Passagem, IMIP (Instituto Materno Infantil de Pernambuco), Lar do Neném, NACC (Núcleo de Apoio a Crianças com Câncer), GACC (Grupo de Apoio a Crianças com Câncer), Pastoral da Criança, Centro de Voluntários (Recife Voluntário), entre outras. Outra possibilidade é de entrar em contato com organizações comunitárias, a exemplo de igrejas, associações de moradores e projetos sociais. Pode-se ainda atuar na administração pública, já que existem vários órgãos estimulando o serviço voluntário, como é o caso da Prefeitura da Cidade do Recife, desde 2001. O voluntariado é um instrumento de formação e ampliação do capital social, sendo capaz de contribuir para que as organizações e projeto sociais possam melhorar e/ou ampliar seus serviços prestados aos beneficiários. As empresas preocupadas com a responsabilidade social, também vêm promovendo programas de voluntariado empresarial, estimulando que seus funcionários engajem-se em causas sociais. Sua mão-de-obra, muitas vezes, é disponibilizada para ajudar a melhora da gestão de ONGs, por exemplo. Algumas estatísticassão capazes de demonstrar um pouco do que vem sendo desenvolvido no Brasil com relação ao voluntariado. Segundo pesquisa realizada, em 2003, pelo Portal Universia Brasil, em parceria com a H2R Pesquisas Avançadas - na qual foram entrevistados 882 estudantes em dez capitais do Brasil, incluindo Recife - detectou-se que apenas 21% dos universitários brasileiros participam de algum programa social. Além de mostrar que são poucos os alunos de universidades socialmente comprometidos, a pesquisa indica a falta de tempo (41%) como o principal empecilho para a não-participação dos estudantes nessas iniciativas, seguido da falta de oportunidade ou de convite (33%), e desinteresse ou comodismo (31%). Mesmo assim, grande parte dos entrevistados (94%) afirmou que deseja participar de algum projeto social. (Disponível em <http://www.universia.com.br/materia.jsp?materia=1289> acesso em 08 maio 2005). Vale considerar que, muitas vezes, o indivíduo afirma que tem interesse em ser voluntário por um impulso emocional, ou seja, naquele momento ele responde que gostaria de realizar ações voluntárias, mas, por outros motivos, não leva à frente este desejo. De qualquer maneira, esse é o desafio para aqueles projetos, centros de voluntários dentre outras instituições que buscam estimular a participação das pessoas como voluntárias, orientando, informando e sensibilizando-as sobre os conceitos, os compromissos, os direitos e as várias maneiras de exercer esse tipo de atividade. 2.2.1 Motivação do serviço voluntário No voluntariado, a mola propulsora básica é a solidariedade. No entanto, são muitas as “forças internas” que levam à solidariedade e, mesmo sem perceber, o voluntário espera algum tipo de contrapartida. As seguintes expectativas podem estar ligadas à decisão de executar um serviço voluntário: • Fortalecimento da cidadania – muitos indivíduos acreditam que precisam cumprir seu dever, devolvendo à sociedade a oportunidade que ela lhe deu; • Desenvolvimento pessoal – algumas pessoas buscam seu crescimento pessoal e uma satisfação que o trabalho remunerado, muitas vezes, não é capaz de proporcionar; • Retribuição de algo que recebeu – depois de receber ajuda por conta das dificuldades pelas quais passou na infância ou adolescência, o cidadão acredita que chegou o momento de retribuir; • Motivações religiosas - muitos ajudam pelo compromisso que possuem com sua crença; • Preencher o tempo de forma útil - grande parte das mulheres que nunca trabalharam e aposentados passam a ocupar seu tempo desta maneira e oferecem, com sua ajuda, experiência de vida e formação profissional. Domenico De Masi (2000) afirma que o trabalho ainda é visto como a maneira pela qual nos desenvolvemos, além de ser vangloriado pela família, igreja e educação que recebemos. Já o ócio tem significado majoritariamente negativo, notadamente como preguiça. Em seu livro, Ócio Criativo, ele propõe uma mudança a esses paradigmas presentes. Afirma que a família, a escola e a mídia devem colocar ao lado da atual educação profissional dos jovens, um outro tipo de educação, com vistas às atividades lúdicas e culturais. Infelizmente, o tempo livre das pessoas não é trabalhado como deveria pela família, escolas e mídia, pois o lazer, em muitos casos, é utilizado para exercer atividades que não contribuem para uma sociedade melhor. O lazer vem sendo consumido, freqüentemente, com jogos clandestinos, drogas e atividades sexuais mercantilizadas, aumentando, com isso, a destruição de valores éticos. Por outro lado, há um outro rumo que está sendo tomado pelo lazer contemporâneo. Várias pessoas têm procurado prestar serviço voluntário, atividades prossociais ou de participação na construção de uma nova sociedade. Ainda há aqueles que, por estarem enfrentando problemas, desejam atuar como voluntários, acreditando que esse tipo de atividade funciona como terapia. Porém, Domeneghetti (2001) adianta que, em um estudo realizado durante cinco anos, verificou-se que apenas 20% dos indivíduos que atuavam como voluntário conseguem permanecer em suas respectivas atividades e desenvolver um trabalho excelente. Os outros 80% procuram no serviço voluntário a solução de seus problemas pessoais e não permanecem, porque o indivíduo só doa o que está sobrando em termos emocionais, espirituais e etc. Se a pessoa se apresenta querendo preencher lacunas, sobra pouco para doar. O voluntário lida com as expectativas das pessoas e das instituições onde atua, por isso é necessário que, ao decidir atuar como voluntário, o indivíduo perceba que sua contribuição seja direcionada para ajudar o outro, ou seja, essa deve ser sua motivação principal. Há uma outra pesquisa, também citada no livro de Domeneghetti (2001), realizada pelo Independent Sector, em 1993, questionando a motivação das pessoas para exercer o serviço voluntário. Neste estudo, foi constatado que 61,8% acham que aqueles que têm mais recursos devem ajudar os que têm menos; 50,2% procuram atingir certo grau de satisfação pessoal; 46,1% querem devolver à sociedade algum benefício por ela recebido; e ainda 44% afirmam ter sido convidados por um amigo ou colega a ser voluntário. Vale ressaltar que muitos começam o serviço voluntário motivados somente por interesse pessoal, como crescimento profissional, status, ingresso no mercado de trabalho do terceiro setor, dentre outros. Para isso, centros de voluntariado têm realizado sensibilizações no intuito de esclarecer algumas definições, conceitos, direitos, deveres, motivações e benefícios que a atividade em prol do bem comum proporciona. 2.2.2 Direitos e responsabilidades do voluntário Para demonstrar a grande profissionalização por que vêm passando o serviço desenvolvido por esses atores sociais, diversas entidades em todo o país utilizam, em suas capacitações, materiais produzidos pelo Programa Voluntários (Comunidade Solidária), os quais explicam os direitos e deveres desses agentes. Direitos: • Desempenhar uma tarefa que o valorize e seja um desafio para ampliar e desenvolver habilidades; • Receber apoio no trabalho que desempenha (capacitação, supervisão e avaliação técnica); • Ter a possibilidade de integração, como voluntário, na instituição, projeto e/ou comunidade onde presta serviços, e ter as mesmas informações que o pessoal remunerado, além de descrições claras sobre tarefas e responsabilidades; • Participar das decisões; • Contar com os recursos indispensáveis para o trabalho voluntário; • Respeitar os termos acordados quanto à sua dedicação, tempo doado e não ser desrespeitado na disponibilidade assumida; • Receber reconhecimento e estímulo; • Ter oportunidades para o melhor aproveitamento de suas capacidades, recebendo tarefas e responsabilidades de acordo com seus conhecimentos, experiência e interesse; • Contar com ambiente de trabalho favorável por parte do pessoal remunerado da instituição ou projeto. Responsabilidades: Apesar de não ser remunerado, o voluntário precisa atuar com compromisso, pois sua ausência pode deixar uma expectativa frustrada naquele que contava com os seus serviços e confiou na sua disponibilidade. Desta forma, seguem abaixo algumas dessas responsabilidades: • Conhecer a instituição e/ou a comunidade onde presta serviços, levando em conta a realidade social e as tarefas que lhe foram atribuídas; • Escolher cuidadosamente a área onde deseja atuar conforme suas identificações, interesses, objetivos e habilidades pessoais, garantindo um trabalho eficiente;• Ser responsável no cumprimento dos compromissos contraídos livremente como voluntário. Só se comprometer com o que de fato puder fazer; • Respeitar valores e crenças das pessoas com as quais se relaciona; • Aproveitar as capacitações oferecidas de forma aberta e flexível; • Atuar de maneira integrada e coordenada com a entidade ou projeto onde presta serviço; • Manter os assuntos confidenciais em absoluto sigilo; • Acolher de forma receptiva a coordenação e a supervisão de seu serviço; • Usar de bom senso para resolver imprevistos, além de informar aos coordenadores da instituição. Diante de tanto profissionalismo e de atribuições, há certas características que são peculiares nesses agentes de transformação, como: assiduidade, pontualidade, responsabilidade, proatividade, boa vontade, paciência, criatividade, flexibilidade. 2.2.3 Legislação do voluntariado Buscando limitar responsabilidades e direitos na prestação do serviço voluntário, foi criada a lei do voluntariado no Brasil (Lei n 9.608), em 1998, com a finalidade de legitimar o exercício da atividade voluntária que há muito existe no País, contudo, sem limitar a liberdade natural dos cidadãos de exercerem seus direitos de consciência e iniciativa. Muitos podem achar um absurdo tanto protocolo, mas antes da criação da lei havia uma série de conflitos trabalhistas de pessoas que agiam de má fé, atuando como voluntárias em uma instituição, e depois colocavam a mesma na justiça do trabalho. Assim como também houve casos de instituições que exploravam a mão-de-obra voluntária – querendo, com isso, reduzir seus custos na organização – colocando várias pessoas para trabalhar quantas horas fossem necessárias, o que poderia ser facilmente caracterizado como um trabalho regular. Para que esse grande potencial do voluntariado não se perca, é necessário que haja alguns protocolos a fim de que esta energia não seja canalizada erroneamente e não se desperdice o grande esforço que esses atores sociais vêm desempenhando mundo afora. É possível encontrar a lei, na íntegra, pelo site: http://www.voluntario.org.br/lei.htm acessado em 14 mar. 2005. 2.2.4 Benefícios do serviço voluntário É muito comum ouvir de pessoas que são ou foram voluntárias depoimentos como: “aprendi muito”, “cresci como pessoa”, “mudei muito”, “tive uma das mais importantes experiências em minha vida”, “amadureci” e etc. São muitos e diversos os benefícios gerados por quem desempenha um serviço voluntário. Não apenas para aquele que recebe um carinho, um ensinamento, uma casa, um atendimento médico, mas também para aquele que se doou. Além de atuar na melhora da qualidade de vida em comum, o voluntário se sente útil por participar das transformações necessárias para construção de um mundo melhor. Satisfação pessoal, elevação da auto-estima, desenvolvimento pessoal e profissional, conquistas de novas amizades, aprendizado e novos desafios, boa utilização do tempo livre, apoio a uma causa e aquisição de mais estabilidade emocional são apenas alguns dos ganhos mais citados. É possível descobrir talentos desconhecidos e desenvolver o espírito de liderança e de equipe. Por conviver com tantas diferenças, como acontece quando um voluntário decide ensinar uma habilidade ou conhecimento a uma turma, é necessário aprender a ser mais tolerante por lidar com vários tipos de pessoas. A satisfação é ver o sorriso, o aprendizado, a alegria, o agradecimento, o desenvolvimento do outro. Saber que de alguma forma é possível contribuir para o crescimento e/ou emancipação de várias pessoas e não para a dependência de uma ajuda, seja ela de qualquer natureza. Há ainda estudos e pesquisas a respeito da qualidade de vida proporcionada por esse tipo de atividade, como é o caso de um artigo recente de Luis Rojas Marcos, diretor sanitário e hospitalar público em Nova York, mostrando que os voluntários têm menos ansiedade, dormem melhor, têm menos estresse e melhor saúde em geral (KLISBERG, 2003). Através do trabalho, o indivíduo tem como resultado a sensação de conforto espiritual muito grande, por ter satisfeito sua necessidade interior de fazer o bem. Não são raras às vezes que esses atores sociais revisam seus valores, corrigem certos rumos em suas vidas, adquirindo, dessa forma, um grau de satisfação pessoal bastante alto, que nenhum valor monetário suplantaria (DOMENEGHETTI, 2001, p. 77). Se as experiências demonstram que os voluntários, possivelmente, passam a viver melhor, que comprovadamente têm bom estado de saúde, que geram benefícios ao próximo e que valores mais humanos são desenvolvidos por meio dessa prática - como solidariedade, compaixão e paciência -, podemos afirmar que a ação voluntária colabora para a construção de uma sociedade melhor. 2.2.5 Voluntariado no mundo O voluntário, gente que faz coisas para os outros, gera em diversos países desenvolvidos mais de 5% do PIB em bens e serviços sociais. Na Europa Ocidental, o valor das operações, entre rendas e trabalhos gratuitos, superou em 1995 US$ 500 bilhões anuais; nos Estados Unidos, US$ 675 bilhões; e no Japão, US$ 282 bilhões (Johns Hopkins University). A América Latina apresenta um enorme potencial que poderia aliviar muito seus graves problemas sociais e que apesar de enormes riquezas potenciais, 60% das crianças estão abaixo da taxa de pobreza, há mais de 20% de desemprego juvenil, 18% dos partos não têm assistência médica e a taxa de escolaridade é de apenas 5,2 anos (KLISBERG, 2003) (grifo nosso). O trabalho desempenhado por milhares de agentes de transformação não vem substituir o governo de seu papel. O terceiro setor, do qual o voluntariado faz parte, vem permitir que se estabeleça uma parceria para que assim se consiga realizar ações para diminuir os problemas sociais. Sempre que se fala no terceiro setor, vale a pena defini-lo com termos que ajudem a entender melhor suas atribuições e esclarecer dúvidas que muitos ainda possuem. Domeneghetti (2001) demonstra que o terceiro setor é uma expressão traduzida do inglês – Third Sector – que, no Brasil, é confundida com o setor terciário. A classificação econômica tradicional de um país é divida em três setores: • Setor Primário: diz respeito à agricultura; • Setor Secundário: diz respeito à indústria; • Setor Terciário: diz respeito aos serviços. Há alguns anos, começou-se a falar, nos Estados Unidos, de dois novos setores de uma sociedade moderna (1º e 2º) e mais tarde do 3º setor: • 1º Setor: setor público, que se refere ao governo e suas empresas estatais; • 2º Setor: setor privado, que se refere às empresas ou ao mercado, que gera capitais e possui fins lucrativos; • 3º Setor: organizações que cuidam dos problemas ligados a educação, saúde, meio ambiente, assistência social, abuso de álcool e drogas, sindicatos, museus, entre outros. Segundo Rubem César (apud DOMENEGHETTI, 2001), terceiro setor é o conjunto de organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela ênfase na participação voluntária, no âmbito não governamental, dando continuidade às práticas tradicionais de caridade e filantropia, expandido o seu sentido para outros domínios, graças, sobretudo, à incorporação do conceito de cidadania e de suas múltiplas manifestações na sociedade civil. É difícil afirmar sobre a origem do voluntariado, já que há pouco registro sobre esse tema. Vários autores comentam a influência da religião, que incentivava as pessoas a agir caritativamente. A virtude da caridade era estimulada para que ações viessem a ajudaros mais necessitados, os pobres, os doentes e os famintos. Por forte influência da maneira como foram colonizados em meio às reformas religiosas e políticas da época, os EUA desenvolveram um forte sentido comunitário, pois se acreditava que esse tipo de ação possibilitaria uma melhora na qualidade de vida das pessoas e das comunidades. Além disso, a população americana acreditava que a resolução dos problemas sociais cabia à própria sociedade e que não se devia esperar pela generosidade de alguns ou pelo governo, por exemplo. Em 1933, foi criado o Bureau de Voluntários, implantado em diferentes cidades, funcionando mais ou menos como os atuais centros de voluntariado no Brasil, indicando voluntários para várias organizações sociais. Já em 1951, surgiu a AVB (Association of Volunteer Bureau), que realizava treinamentos e desenvolvia o voluntariado nas comunidades. Nos anos 70, a United Way desenvolveu o NCVA (National Center of Volunteer Action) com o objetivo de continuar os trabalhos desenvolvidos pela AVB e dar consultoria na área. A década de 80, por sua vez, registrou a criação de vários centros de voluntários pelo NCVA Na Espanha, apesar da lei do voluntariado só ter sido aprovada em 1996, algumas comunidades autônomas já possuíam legislação para regulamentar este tipo de serviço. A ONU criou um programa de voluntariado em 1970, o United Nation Volunteer Program, por meio de uma resolução da assembléia geral em consideração à importância do serviço voluntário. Em 1981, a Comunidade Européia promulgou os estatutos da volunteurope, que tem como objetivo estimular a colaboração de ações não remuneradas. Já em 1985, a ONU por meio de uma comissão de voluntariado, instituiu o dia 5 de dezembro como o Dia Internacional do Voluntário. Com o objetivo de promover reflexões sobre a cidadania e a solidariedade como valores indispensáveis para melhoria de vida do planeta. Neste dia inúmeras organizações, grupos de voluntários e até empresas que estimulam este tipo de ação se reúnem para divulgar idéias, realizar outras atividades voluntárias em comemoração a data e sensibilizar mais pessoas para a causa. Em 1997, a ONU escolheu 2001 como o Ano Internacional do Voluntariado, proposta apresentada pelo Japão, juntamente com 122 Estados-membros da organização, objetivando com isso: aumentar o reconhecimento, facilitar a promoção, criar uma rede mundial de valorização e ampliar a capacidade de divulgação do tema. Foi criado nos Estados Unidos, numa iniciativa das organizações norte-americanas Youth Service America (YSA) e Youth Action Network, o DGVJ – Dia Global do Voluntariado Jovem, evento mundial realizado anualmente, que têm a missão de promover e incentivar a cidadania juvenil por meio do estímulo ao serviço voluntário. Desta maneira, oportuniza ao jovem um papel ativo na solução de problemas concretos da comunidade. São milhões de jovens em mais de 150 países realizando ações em favor de suas comunidades, mostrando que é possível melhorar o mundo com a força do voluntariado. De fato, no ano de 2001, o tema do voluntariado foi mencionado em todo o mundo. No Brasil, eventos, comemorações, propagandas e divulgações de projetos de voluntariado estiveram presentes em vários tipos de mídia. Muitos cidadãos despertaram seus desejos, tomaram conhecimento de como podiam ser voluntários, e outros começaram a atuar. Prova disso é que naquele ano, o Centro de Voluntários do Recife, aumentou o número de seu cadastro de voluntários em 50%. As ações voluntárias estão presentes em todo o mundo durante o decorrer da história. Os mais diferentes exemplos podem ser observados há tempo, como as Santas Casas de Misericórdia no século XV e a Cruz Vermelha em 1863. Entre os movimentos e iniciativas recentes estão o Greenpeace, a Anistia Internacional, a ONU, a Care, o WWF, assim como organizações que apóiam o voluntariado em todo o mundo. É possível observar o grande potencial da cultura do voluntariado presente nos diversos países, pois segundo Meister (2003), a Irlanda possui 33% da população adulta atuando como voluntária, no Peru 31%, no Japão 26%, na Holanda 24%, na Argentina 20% e no México 10%. Ele ainda afirma que em 1998 os EUA contavam com cerca de 109 milhões de adultos voluntários. Voluntários fazem a sua parte seja localmente ou em outra fronteira. Para muitos a ação é o que mais importa. 2.2.6 Voluntariado no Brasil Muitos autores acreditam que a diferença entre o voluntariado desenvolvido nos EUA - caracterizado pelo espírito comunitário – e o praticado no Brasil se justifica pelos tipos de colonização vividos nestes países, no primeiro, prevaleceu a idéia de ocupação, enquanto que aqui os portugueses estavam simplesmente interessados em explorar as riquezas das terras brasileiras. Meister (2003) acredita que isso poderia ser repensado, já que houve incentivo religioso em ambas as nações. Porém, há de se analisar que tanto o fato da colonização ter sido realizada de maneira diferente, como os brasileiros terem sido catequizados pelos jesuítas (que tinham uma visão assistencialista, intensificando, assim, a relação de dependência) contribuíram para a formação de nossa cultura atual e, conseqüentemente, a maneira dos voluntários atuarem. A diferença entre os tipos de voluntariado não se refere somente ao número de atores sociais em cada país, mas ao estilo de participação que, no Brasil, é mais voltado para ações de filantropia, enquanto nos EUA está ligado à cidadania. Não há como negar a grande contribuição dos movimentos religiosos, que foram grandes difusores da filantropia pelo mundo. Alguns autores afirmam que esses movimentos foram os primeiros a pregar a caridade e o doar-se ao próximo, buscando a elevação do ser por meio da boa ação, do assistencialismo, da benevolência. Heloísa Coelho (apud DOMENEGHETTI 2001), afirma que o enfoque era o ato do dar, não sendo observado se a ação teria como conseqüência benefícios dos que a recebiam. Ela ainda afirma que, diferentemente dos países da Europa, nos EUA a preocupação com a solução dos problemas e a busca de melhorias na qualidade de vida da comunidade eram a base da filantropia, não vista como simples caridade. Importava gerar benefícios e resolver seus próprios problemas, não somente o ato de dar. Segundo a cronologia de Domeneghetti (2001), devido à nossas origens culturais e históricas, o voluntariado esteve, durante muito tempo, ligado a questões religiosas e a ações de caridade muito centradas na área da saúde. Em 1543, em uma pequena vila do litoral paulista, surgiu o primeiro hospital brasileiro, a Santa Casa da Misericórdia de Santos, marcando o início dos movimentos de caráter assistencialista. O nascimento formal do voluntariado teve origem na segunda metade do século XIX, quando, em uma “cruzada filantrópica”, toda a sociedade brasileira se mobilizou para reorganização das instituições, em vista da disseminação das doenças contagiosas. O serviço voluntário era executado pelas damas caridosas da sociedade, em hospitais, escolas, asilos, creches, orfanatos. Tratava-se, portanto, de um contexto filantrópico. A partir do século XX, pós-guerra, os países desenvolvidos criam o bem-estar social que visava atender aos necessitados. O Estado era o responsável pelas condições de vida da população, que se caracterizava como um contexto paternalista. Porém, a partir de 1930, o Estado transfere à sociedade civil esta responsabilidade. No final da década de 50, começam a surgir movimentos sociais trazendo um novo perfil de voluntariado. São os movimentos de reivindicação de melhorias urbanas e sociais, de desfavelamento, voltados à organização das próprias comunidadescarentes. A sociedade assume sua participação ativa nas questões sociais e inúmeras organizações são criadas caracterizando uma atuação voluntária de ação social. Surge um voluntariado combativo, que começava a se distanciar de suas práticas originárias. Na metade da década de 80, os estados passam por uma ampla reforma político-adminstrativa e econômica. A questão social, então, deixa de ser de enfrentamento exclusivo do Estado, passando a uma co-responsabilidade entre este e a sociedade civil, incluindo a atuação de ONGs, fundações e empresas. O serviço voluntário passa a ser debatido como peça fundamental nessa abordagem da intervenção social. Em 1993, a ONG Ação da Cidadania contra Miséria e pela Vida revitalizou o sentimento de solidariedade e despertou as empresas para a questão da responsabilidade social. Três anos depois, foi criado, pelo Comunidade Solidária, o Programa Voluntários, com a missão de contribuir com a promoção, valorização e qualificação do serviço voluntário. Segundo dados coletados no site do Natal Voluntários, o DGVJ, em 2003, contou com 91 grupos participantes, mobilizando 13.463 voluntários em todo o Brasil, beneficiando cerca de 48.059 pessoas por meio de iniciativas como campanhas de coleta seletiva de lixo, controle da dengue, arrecadação de alimentos, mutirões de limpeza e oficinas, totalizando 137 ações. Em 2004, o Brasil mobilizou mais de 17 mil jovens nas ações que envolveram o Dia Global do Voluntariado Jovem - DGVJ. Foram registradas, pelo Natal Voluntários, mais de 360 diferentes ações em toda nação. “Esses números expressam o desejo e o potencial de engajamento dos jovens brasileiros em transformar a cada dia o nosso país em um lugar melhor para se viver”, declara Mônica Mac Dowell (2004), presidenta do Natal Voluntários. (disponível em http://www.natalvoluntarios.org.br/diaglobal/vernoticia.asp?id=255> acesso em 08 mar. 2005) A novidade não é a existência do voluntariado, mas que sua atividade conta com uma participação responsável e solidária em iniciativas de combate à exclusão social e melhoria da qualidade de vida da sociedade. Há ações voluntárias que estão crescendo Brasil afora nas áreas de cultura, defesa de direitos humanos, meio ambiente, esporte e lazer, qualificação, inclusão digital, alfabetização, gestão organizacional em ONGs, habitação, entre outras, através da internet, como tradução de textos. 2.2.7 Voluntariado, cidadania, participação e valores humanos O voluntariado por ser um tema muito abrangente, faz-se necessário para entendimento de suas interações relacioná-lo a conceitos, como: cidadania, participação e valores humanos. Falar em cidadania é dizer que o cidadão é o indivíduo no gozo de seus direitos e cumprindo seus deveres. Para ter uma cidadania plena é necessário ter esses direitos, sendo portanto, difícil que todos a tenham neste modelo de sociedade atual. Atuando como voluntário, cada um pode exercer sua cidadania, colocando seu talento à disposição do outro para construção de uma vida melhor para todos. Domeneghetti (2001) afirma que o serviço voluntário instala-se no centro da ação cidadã, sendo a mola propulsora de todas as mudanças sociais. Ela ainda comenta sobre a diferença entre o voluntariado ligado à saúde, dos ligados à educação e ao meio ambiente, por exemplo. O primeiro se apresenta mais fortemente relacionado ao aspecto da caridade (ligado à cultura da religião), diferentemente dos outros que estão mais ligados à cidadania. Cidadania é a capacidade de participação consciente e solidária na realização de projetos e objetivos que digam respeito ao interesse de todos. O serviço voluntário é uma experiência de autonomia que permite às pessoas esse exercício da cidadania “no aqui e agora”. Ao mesmo tempo, ao incentivar a autonomia das populações em relação aos governos, favorece o crescimento do capital social e humano, e contribui para que a sociedade brasileira supere uma cultura secular de paternalismo e dependência. Apesar da falta de comprometimento da sociedade atual, o interesse em participar tem se generalizado nos últimos anos, no Brasil e no mundo. Surgem associações as mais diversas: amigos do bairro, movimentos ecológicos, associações de moradores, comunidades eclesiais de base, movimento em prol da raça negra, da mulher, entre outros. Segundo BORDENAVE (1983), há dois pontos de vista que mostram as vantagens da participação. Ele afirma que, segundo os progressistas, a participação facilita o crescimento da consciência crítica da população, fortalece seu poder de reivindicação e a prepara para adquirir mais poder na sociedade. Já os democráticos vêem a participação como garantia de controle das autoridades por parte do povo, visto que as lideranças centralizadas podem ser levadas facilmente à corrupção. Quando a população também fiscaliza os serviços públicos, estes tendem a melhorar em qualidade e oportunidade. É possível observar a satisfação pessoal dos que participam em atividades na sua comunidade, além dos resultados trazidos com aquela ação. Isso demonstra a necessidade do homem de participar, assim como precisa do alimento, do sono, da saúde, do pensamento reflexivo, auto-expressão. De acordo com Bordenave (1983), a participação faz parte da natureza social do homem, tendo acompanhado sua evolução desde os tempos primitivos até hoje. Logo, não participar constitui uma mutilação do homem social. Tudo indica que o homem só desenvolverá seu potencial pleno numa sociedade que permita e facilite a participação de todos. O futuro ideal do homem só se dará numa sociedade participativa. O sentido da participação social não é simplesmente a de alguém que toma parte de algo sem que haja mudanças no panorama social, político e/ou econômico, podendo este conceito ser comparado com o de voluntariado desenvolvido na sociedade atualmente. Não somos ensinados a participar, quando muito aprendemos a nos tornar críticos e a exigir direitos do governo, como se este fosse o “pai de todos”. A prática tem que ser constante para que futuramente tenhamos uma maior cultura de pessoas mais engajadas e preocupadas com o futuro. É preciso desprender-se da cultura do paternalismo, onde estamos esperando receber, mas raramente fazer. Esta relação mostra o potencial do voluntariado como um meio de estimular essa participação, não podendo ser entendido como algo efêmero. É fundamental que seja considerado como uma nova cultura, um comportamento que precisa ser discutido, estimulado e reconhecido. A participação em uma atividade voluntária pode ser estimulada, mas não imposta, como é no caso do exército, de cerimônias indígenas, onde os jovens são obrigados a participar. A ação deve estar imbuída de espontaneidade, perdendo ela seu caráter voluntário no caso de imposições e obrigatoriedade. Tampouco pode ser dirigida ou manipulada, como é o caso de alguns casos de serviços sociais, desenvolvimento de comunidades ou trabalhos de pastorais. A participação da escola na comunidade e desta na escola é algo que pode trazer excelentes resultados para ambos os lados. Ademais, existe uma gama de atividades que não necessita de investimentos governamentais; podendo os educadores formar parcerias não onerosas com fábricas, oficinas, lojas e desta forma proporcionar uma maior aprendizagem para seus alunos. Assim como os pais, alunos, funcionários e responsáveis juntos aos professores poderiam discutir sobre os maiores problemas da comunidade para que isso fosse levado para dentro da sala de aula. Através da ação voluntária é possível exercer essa participação. Atividades nas escolas, hospitais, instituições, campanhas sociais, ambientais, enfim, as diversas
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