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Voluntariado - Impacto na construção de uma sociedade melhor (OK)

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Voluntariado
Impacto na construção de uma sociedade melhor
Tatiana da Silva Lucas Tavares de Lima
Recife, 2004
Voluntariado
Impacto na construção de uma sociedade melhor
Tatiana da Silva Lucas Tavares de Lima
Recife, 2004
Universidade Católica de Pernambuco
Libertas Consultoria e Treinamento
Centro de Pesquisa e Pós-graduação
Curso de Curso de Especialização em Gestão Solidária
para Organizações Sociais
Trabalho apresentado como requisito
complementar para conclusão do Curso
de Especialização em Gestão Solidária
para Organizações Sociais, orientado
pelo Profº José Ricardo Paes Barreto.
Ao Recife Voluntário, instituição que realmente
cumpriu sua missão ao fomentar a cultura do
voluntariado em mim e tantas outras pessoas de meu
ciclo de relações.
As admiradas amigas Liliane Fell, Tchaurea Gusmão,
Vanusa Lack, Elisabete Mercadante e Sully Freire
que foram em diferentes momentos, minhas
mentoras, ídolas e aprendizes dessa paixão sobre
voluntariado, o qual fez possível nosso encontro.
A minha mãe pelo apóio e credibilidade nos trabalhos
que decidi apostar pela minha paixão, ainda que com
tantos atropelos.
Ao Projeto Escola Aberta, onde tive e tenho a
excelente oportunidade de colocar em prática muito
do que aprendi sobre esse mundo fantástico que o
voluntário é capaz de promover.
A todos do curso de Gestão Solidária e a equipe do
Libertas pelo apoio, estímulo, aprendizado e carinho
compartilhado.
“Sei que meu trabalho é uma gota no
oceano, mas, sem ela, o oceano seria
menor”.
Madre Tereza de Calcutá
“Ser voluntário é incluir no projeto de
vida o projeto de vida dos outros”.
Maria Helena
Sumário
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
1. INTRODUÇÃO 01
2. JUSTIFICATIVA 03
3. O VOLUNTARIADO: UMA DISCUSSÃO CONCEITUAL 07
3.1 Motivação do Voluntário 11
3.2 Direitos e responsabilidades 13
 3.3 Legislação do voluntário 15
 3.4 Benefícios do trabalho voluntário 19 
4. VOLUNTARIADO NO MUNDO 21 
5. VOLUNTARIADO NO BRASIL 26
6. VOLUNTARIADO E CIDADANIA 31
7. VOLUNTARIADO E PARTICIPAÇÃO 34
8. VALORES HUMANOS 38
9. RECIFE VOLUNTÁRIO 42
10. O VOLUNTARIADO NO PROJETO ESCOLA ABERTA 44
11. CONCLUSÃO 52
12. REFERÊNCIAS 55
APÊNDICES
Lista de Abreviaturas e Siglas
AVB – Association of Volunteer Bureau
CDL - Câmara de Dirigentes Lojistas
DGVJ – Dia Global do Voluntariado Jovem
GACC - Grupo de Apoio a Crianças com Câncer
IMIP - Instituto Materno Infantil de Pernambuco
NACC - Núcleo de Apoio a Crianças com Câncer 
NCVA - National Center of Volunteer Action 
ONG - Organização Não Governamental
ONU - Organização das Nações Unidas
RMR - Região Metropolitana do Recife 
WWF - World Wildlife Fund
YSA - Youth Service America
Apresentação
Este documento dirigido à coordenação do Libertas Socializante apresenta a monografia para
obtenção do título de especialista em Gestão Solidária em Organizações Sociais. O tema
aborda o impacto que o voluntariado é capaz de proporcionar na construção de uma sociedade
melhor 
1
Introdução
Apesar de ser um tema muito debatido, o voluntariado ainda merece uma maior atenção e
estudo. Voluntários em todo mundo têm vivido no anonimato, pouco se sabe a respeito do
impacto que suas atuações têm causado neles mesmos e na sociedade como um todo. 
Este trabalho tem como objetivo expor evidências de que a atividade voluntária tem sido capaz
de desenvolver uma sociedade mais justa, humana e solidária. Para isso são apresentados
conceitos sobre o serviço voluntário, seu crescimento e sua importância para os diversos
públicos, benefícios gerados, sua relação com a participação social e com a cidadania, além de
uma pesquisa elaborada com um grupo de voluntários do Projeto Escola Aberta, uma
iniciativa da UNESCO em parceria com o Governo do Estado que promove cultura de paz nos
finais de semana através da oferta de oficinas de cultura, esportes, lazer e informática em
comunidades carentes na Região Metropolitana do Recife. 
Parte da literatura atual sobre o voluntariado situa-o no terceiro setor. No entanto, se
não explica a variedade de formas e heterogeneidade que apresenta hoje o
voluntariado; mais bem apresenta sérias dificuldades para interpretar a situação
atual e inclusive impede captar a novidade do momento presente e as trocas
protagonizadas pelas organizações voluntárias. Roca 1994 (apud Meister 2003).
Diante da carência de documentos e de produção literária, pretende-se contribuir para o
aprimoramento do tema, tendo em vista a importância dos resultados que o voluntariado é
capaz de proporcionar no desenvolvimento da sociedade, sobretudo em relação ao capital
social, isto é, o que cada pessoa oferece de si para a comunidade, otimizando, dessa forma, o
bem-estar desta localidade e os interesses pessoais de cada indivíduo (Domeneghetti 2001).
Assim pode ser observado que no trabalho desses protagonistas, valores mais humanos estão
sendo cultivados, além do desenvolvimento social de várias comunidades.
São muitos os problemas sociais a serem solucionados: crianças abandonadas, órfãos,
deficientes, gestantes, carentes, idosos, dependentes de drogas, ex-presos, vítimas de
violência, da prostituição, de abusos familiares, de doenças, famintos, sem moradia, enfim
pessoas sem apoio, sem carinho, sem ajuda, sem compreensão. 
Há, portanto, um enorme leque de públicos para quem deseja ajudar. Muitas pessoas ainda
alegam falta de tempo e dificuldades de deslocamento, porém o avanço tecnológico também
vem tornando possível a colaboração on-line de voluntários em diversas organizações. 
O serviço voluntário deixa de ser considerado uma alternativa somente para aqueles que
desejam ocupar seu tempo ou para aqueles que procuram se dedicar à caridade. Pode ser
considerado como um novo comportamento que vem se contrapor à atual cultura do
individualismo e que na maioria das vezes, promove a passividade das pessoas. 
Por meio do serviço voluntário, é possível consolidar a cidadania e contribuir para mudanças
promovidas pela participação social. Lembrando que a cidadania não é apenas a exigência de
direitos, mas cobrança de uma melhoria nas condições de vida e no ato de assumir deveres e
papéis bastante definidos e comprometidos com o bem-estar social.
Dessa forma, acredita-se que é possível desempenhar o papel de cidadão e fortalecer valores
mais humanos – como a solidariedade, a compaixão, a tolerância mútua e minimizar as atuais
injustiças sociais.
2
Justificativa
A sociedade está indo para um caminho em que os valores humanos, como solidariedade,
coletividade, caridade, compaixão, indignação com a injustiça, estão cada vez mais perdidos
pela influência do modelo de desenvolvimento atual que muito contribui para o individualismo
das pessoas, tornando-as mais egoístas, bastante preocupadas com seu progresso material, com
uma busca da juventude eterna, com dificuldade de tecer vínculos, banalização do sexo e da
violência, culto ao prazer: tudo isso em nome do consumo.
Segundo Martineli (1992) a sociedade vive tempos críticos, violentos e desesperados e isso
acontece pelo fato de grande parte da humanidade ter esquecido seus valores e tê-los
considerado até ultrapassados e desinteressantes. Outros podem considerar que esses valores
não estão esquecidos, mas que simplesmente se dá importância a certas coisas que prejudicam
a humanidade.
Esse pode ser um retrato da sociedade contemporânea: a família está em crise, a idealização
cultural do dinheiro, do lucro e do sucesso econômico, a escolarização é uma questão
secundária para o poder público, o trabalho não é visto como um valor cultural, apenas como
um meio de garantir sobrevivência. O ter é mais importante que o ser, mostrando ser uma
sociedade de aparências, onde o modelo de auto-estima é externo, vinculando o crescimento
pessoal ao ter: aparência, dinheiro, status, poder, vantagens,etc.
A educação parece perdida, a universidade “doente” porque prepara as pessoas medianamente
para o mercado de trabalho, no entanto não as desenvolve como seres humanos para que todos
estejam preparados para uma vida em coletividade. Há uma verdadeira crise de valores e
papéis, onde muitos esquecem que todos, na verdade, dividem o mesmo espaço coletivo: a
sociedade.
No artigo A Felicidade de Dois Tostões de Costa (1997), ele afirma que nos grupos de
marginais, de empresários, de tagarelas da internet, de rock, de políticos ou mesmo nas
relações de parceria afetiva e sexual, tudo tende a nivelar-se pela lei do maior proveito.
Lealdade, fidelidade, cortesia, cooperação, amizade e tantas outras formas de ligação
simbólica, outrora cultuadas como bens morais passam a segundo plano.
Costa (1997) ainda relata que na escola despreza-se a educação humanitária, ridicularizando-a
como obsoleta, e tenta-se cada vez mais, fazer da formação intelectual dos indivíduos, etapas
de treinamento para formação de mão de obra das empresas privadas. Ele acredita que os
indivíduos, adultos ou crianças, começam pouco a pouco, a aprender que devem contar
exclusivamente consigo mesmos para sobreviverem ou terem sucesso econômico-social.
A lei do mais esperto é muito difundida, com a corrupção dos políticos, há um aumento de
desesperança e uma sensação do salve-se quem puder. E neste contexto, o marginal pode ser
qualquer um que, tentando levar vantagem, transgride a lei do coletivo.
Dalai Lama (2000) afirma que os problemas atuais que vividos são causados por uma falta de
ética e faz um apelo para que a sociedade distancie-se da habitual preocupação com o eu e se
volte para a ampla comunidade de seres com os quais está ligada, adotando uma conduta que
reconheça o interesse dos outros paralelamente ao seu.
Alguns podem afirmar que o homem se surpreende, porém não age. Que assim sofre de uma
dormência que o torna capaz de chorar quando vê um menino se drogando com cola, magro e,
dentro de alguns instantes, volta para casa e apaga a cena.
Nessa contextualização, observa-se um individualismo exacerbado que conduz a
uma desmobilização e a despolitização da sociedade. Saturada de informações e
serviços, ela começa a não se preocupar com as coisas públicas – a indiferença e a
desresponsabilização reinam. É exatamente disso que o sistema precisa: todos
conformados e consumindo. Os valores foram trocados pelos modismos, os ideais,
pelo ritmo cotidiano. (Santos, 1986)
O avanço da tecnologia já mostrou que ainda que haja mais progresso não se conseguirá
resolver as mazelas da humanidade, até porque muitas descobertas não beneficiam aqueles que
realmente precisam. O Estado há muito se mostra ineficaz em atender a população com as
necessidades básicas. No entanto, em vez dos indivíduos dependerem um dos outros,
dependem cada vez mais de máquinas e serviços.
A decadência da fé em muitas religiões também tem feito com que muitas pessoas não tenham
um referencial e se sintam perdidos. A sociedade sente uma falta de identidade, um sentimento
de vazio, alguns valores foram trocados pelos modismos.
Vê-se que não se pode organizar a vida da nação somente em prol da questão mercantil, ela é
necessária para desenvolver a economia, mas não se pode supervalorizar isso como a única
razão de viver.
Costa (1997) diz que neoliberalismo apenas aceita e consagra a tendência histórica do ocidente
de fazer dos interesses econômicos o centro da atividade humana, e o progresso tecnológico
pode ser perfeitamente compatível com o que se tem de melhor em matéria de moral. Ele tenta
mostrar, com isso, que a idealização cultural do dinheiro, do lucro e do sucesso econômico
fabrica aspirações pessoais contrárias à forma de vida democrática. 
É preciso que as pessoas reconheçam os ganhos de se viver com a noção de comunidade, de
pertencer a um grupo, tenham consciência de que todos fazem parte de um sistema e que estão
sozinhas. Dentro deste panorama é evidente a necessidade das pessoas participarem e não só
esperarem para exercer a cidadania como cobrança de direitos, mas com os deveres que se tem
para com todos e com si própria.
O voluntariado é uma das vias para que num futuro próximo possamos construir um
mundo mais solidário, de forma sustentável, eliminando desigualdades e criando
meios de inserção social para todos. Dessa maneira, acredita que serão disseminadas
idéias socialmente responsáveis e será plantada a semente da solidariedade. Marco
Antônio Konopacki, coordenador do Projeto Universitário Solidário (UFPR)
As pessoas desenvolvem uma consciência critica e percebem não só o mundo ao seu redor,
mas a sociedade em que vivem como um todo. É necessária uma sociedade que procure
formar cidadãos e não apenas consumidores, homens e mulheres altruístas, e não egocêntricos;
pessoas abertas ao contexto social em que vivem, e não voltadas a sua realidade.
Desse modo, este documento pretende mostrar que através do exercício do voluntariado, as
pessoas podem exercitar valores humanos: compaixão, solidariedade, fraternidade, tornam-se
mais participativas e conscientes dos problemas em sua comunidade, se co-
responsabilizabilizando pela mudança da realidade em que vivem para uma sociedade melhor.
3
Voluntariado
O termo voluntário vem do latim voluntarìu que de acordo com os conhecidos dicionários da
língua portuguesa é a pessoa que se compromete a cumprir determinada tarefa ou função sem
ser obrigada a isso e sem obtenção de qualquer benefício material em troca.
O voluntário está por toda parte, em comunidades carentes, escolas, hospitais, creches,
promovendo campanhas de arrecadação de alimentos, brinquedos, remédios ou defendendo o
meio ambiente. Também atua com diversos públicos (crianças, jovens, adultos e idosos, entre
outros) e em várias áreas (educação, saúde, habitação, meio ambiente e outras).
Vários são os conceitos apresentados sobre o tema do voluntariado. Segundo a ONU
(disponível em <http://www.davison.com.br/novembro/voluntario.html> acesso em 15 set. de
2004):
O voluntário é o jovem ou o adulto que, devido ao seu interesse pessoal e ao seu
espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas
formas de atividades, organizadas ou não, de bem-estar social ou outros campos.
Segundo a Associação Internacional de Esforços Voluntários - Internacional Association for
Volunteer Effortes – IAVE –(disponível em < http://www.cvcg.org.br/cvcgoque.htm> acesso
em 15 set. de 2004)
Trata-se de um serviço comprometido com a sociedade e alicerçado na liberdade de
escolha. O voluntariado promove um mundo melhor e torna-se um valor para todas
as sociedades.
Segundo a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, em uma das primeiras tentativas de
definir o conceito de voluntariado no Brasil, em 1996:
O voluntário, como ator social e agente de transformação, presta serviços não
remunerados em benefício da comunidade, doando seu tempo e seus conhecimentos,
realiza um trabalho gerado pela energia de seu impulso solidário, atendendo tanto às
necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa, como às suas próprias
motivações pessoais, sejam estas de caráter religioso, cultural, filosófico, político ou
emocional (CORULLÓN & WILHEIM, 1996, p. 1).
Explicando alguns termos utilizados no conceito anterior, pode-se dizer que na vida têm-se
vários papéis: o de professor, o de médico, o de colega, o de irmã (o), o de pai, o de mãe, o de
tio, o de amigo, ser um ator social é apenas mais um papel a desempenhar na sociedade. O
voluntário é agente de transformação porque acredita que seu trabalho irá gerar uma mudança,
sendo necessário conscientizar-se de que, em geral, esse resultado vem a longo prazo.
Diz-se que neste tipo de trabalho não há remuneração, porém sempre haverá ganhos. As
pessoas, em geral,se tornam mais pacientes, mais solidárias, mais conscientes, se envolvem e
desenvolvem a si mesmo e, acima de tudo, à comunidade. O voluntário sabe que o governo
sozinho não resolve todos os males existentes em nossa volta, que é possível mostrar que não
se é vítima, mas agente de transformação da realidade. 
Segundo o Recife Voluntário (2002):
Ser voluntário é ser você, assim como você é, uma pessoa consciente do seu papel
no exercício da cidadania, e disposta a dividir os seus sonhos na busca de um ideal
comum.
Vários são os conceitos apresentados para esse nobre título que é ser voluntário. São das mais
diferentes etnias, idades, preferências sexuais e possuem as mais adversas motivações para se
engajarem nos trabalhos: alguns pela dor, outros pela gratidão, pela indignação, pela
identidade com a causa ou pela vontade de mudar.
Para a elaboração deste trabalho o voluntário é entendido como a pessoa que, motivada por
valores de participação, de ajuda a uma causa e indignação com a realidade, doa seu tempo de
maneira espontânea e não remunerada para a busca de soluções que levam à construção de
uma sociedade mais humana e justa. É alguém que deseja ver sua comunidade crescer, sua
sociedade se desenvolver, procurando contribuir e fazer a sua parte. 
Entretanto, algumas distorções são feitas a respeito do tema em questão. Por exemplo, a
palavra doação freqüentemente é confundida com o serviço voluntário. Um doador de sangue,
ainda que todo ano faça sua doação, não é um voluntário. Porém, se um cidadão mobiliza um
grupo de pessoas e participa de uma campanha para doar sangue, nesse caso, ele atua como
voluntário. Ele não doou somente algo, doou de si mesmo, prestou um serviço, doando tempo
em prol de uma causa. 
Outro exemplo é o de uma antiga assistente social da LBA – Legião Brasileira de Assitência
que recebia a doação de cereais para ser repassada às famílias com crianças subnutridas.
Constatou-se que as crianças continuavam subnutridas, pois seus pais trocavam por cachaça,
fumo ou davam para os porcos como ração. Tudo isso porque não foram orientados para
importância desse alimento tão nutritivo.
A voluntária então mobilizou um grupo de pessoas para informar o valor nutritivo daquele
alimento e como deveria ser preparado. Esse tipo de trabalho teve uma transformação, foi uma
ação de qualidade. Ela passou a prestar um serviço, agregando valor à doação.
Outra discussão com relação ao tema é que ações assistencialistas são erroneamente
denominadas de serviço voluntário. A principal diferença entre esses dois perfis é que o
primeiro costuma causar dependência e acomodação no público beneficiado, enquanto que o
voluntariado estimula a emancipação e a transformação da realidade das pessoas e/ou
comunidades atendidas.
Acredita-se que ambos continuam sendo necessários, pois se uma pessoa está morrendo de
fome e não tem condições de comer, oferecer qualquer tipo de capacitação para que ele
consiga um trabalho, não sentirá efeito algum. Primeiro é preciso dar comida a quem tem
fome, mas ao mesmo tempo oportunizando que a pessoa se emancipe da ajuda prestada, cresça
sozinha e não fique eternamente dependente da boa vontade de outrem.
Existe ainda muita confusão com relação à diferença entre o serviço voluntário e o estágio não
remunerado. Em ambos os casos não há nenhum tipo de remuneração, porém a motivação é
que distingue um do outro. O voluntário busca exercer sua atividade para gerar uma
transformação na sociedade, fazer algo pelo outro; já o estagiário está em busca de uma
experiência profissional, de se aperfeiçoar, faz algo por si, não podendo desta maneira ser
caracterizado como voluntário. 
Muitos estagiários podem atuar em um trabalho focado no desenvolvimento social, porém o
interesse em realizá-lo, geralmente, é de cunho profissional. Não há interesse de desvalorizar
este tipo de trabalho, mas o estágio não remunerado não se enquadra nos conceitos de
voluntariado.
São várias as áreas em que o voluntário pode atuar. Na área da saúde, por exemplo, pode-se
realizar ações de promoção da saúde e bem-estar, campanhas preventivas e de doação de
sangue, atendimento psicológico, apoio aos soropositivos, entre outros. Em relação à
educação, é possível facilitar o acesso ao conhecimento e ao aprendizado, alfabetização de
crianças, jovens e adultos. Na área ambiental, pode-se proteger a fauna e a flora, sensibilizar
para a educação ambiental por meio da reciclagem do lixo, da coleta seletiva ou da limpeza de
praias, cidades e escolas. Nas áreas de cultura e arte, pode-se atuar com a educação
patrimonial, teatro, dança, música, artesanato, origami e uma infinidade de outros campos.
Para isso, existem canais de participação, ou seja, pode-se recorrer a uma instituição social
como muitas que existem em Recife: Casa de Passagem, IMIP (Instituto Materno Infantil de
Pernambuco), Lar do Neném, NACC (Núcleo de Apoio a Crianças com Câncer), GACC
(Grupo de Apoio a Crianças com Câncer), Pastoral da Criança, Centro de Voluntários (Recife
Voluntário), entre outras. Outra possibilidade é de entrar em contato com organizações
comunitárias, a exemplo de igrejas, associações de moradores e projetos sociais. Pode-se ainda
atuar na administração pública, já que existem vários órgãos estimulando o serviço voluntário,
como é o caso da Prefeitura da Cidade do Recife, desde 2001. 
O voluntariado é um instrumento de formação e ampliação do capital social, sendo capaz de
contribuir para que as organizações e projeto sociais possam melhorar e/ou ampliar seus
serviços prestados aos beneficiários.
As empresas preocupadas com a responsabilidade social, também vêm promovendo
programas de voluntariado empresarial, estimulando que seus funcionários engajem-se em
causas sociais. Sua mão-de-obra, muitas vezes, é disponibilizada para ajudar a melhora da
gestão de ONGs, por exemplo.
Algumas estatísticas são capazes de demonstrar um pouco do que vem sendo desenvolvido no
Brasil com relação ao voluntariado. Segundo pesquisa realizada pelo Portal Universia Brasil
em parceria com a H2R Pesquisas Avançadas, onde foram entrevistados 882 estudantes em 10
capitais do Brasil, incluindo Recife, apenas 21% dos universitários brasileiros participam de
algum programa social. Além de mostrar que são poucos os alunos de universidades
comprometidos com programas sociais, a pesquisa indica a falta de tempo (41%) como o
principal empecilho para a não-participação dos estudantes nessas iniciativas, seguido de falta
de oportunidade ou de convite (33%) e desinteresse ou comodismo (31%). Mesmo assim, a
grande maioria dos entrevistados (94%) afirmou que deseja participar de algum projeto social.
(Disponível em < http://www.universia.com.br/materia.jsp?materia=1289> acesso em 08 de
set. de 2004).
Vale considerar que, muitas vezes, o indivíduo afirma que tem interesse em ser voluntário por
um impulso emocional, ou seja, naquele momento ele responde que gostaria de realizar ações
voluntárias, mas, por outros motivos, não leva à frente este desejo. De qualquer maneira, esse
é o desafio para aqueles projetos, centros de voluntários dentre outras instituições que buscam
estimular a participação das pessoas como voluntárias, orientando, informando e
sensibilizando-as sobre os conceitos, os compromissos, os direitos e as várias maneiras de
exercer esse tipo de atividade.
3.1. Motivação do serviço voluntário
Sempre tive a consciência de que devo muito aos que viveram antes de mim” Hélio
Mattar, presidente da Fundação Abrin e do Instituo Akatu. (FREITAS, 2003) 
No voluntariado, a mola propulsora básica é a solidariedade. No entanto, são muitas “forças
internas” que levam à solidariedade e, mesmo sem perceber, o voluntário espera algum tipo de
contrapartida.As seguintes expectativas podem estar ligadas à decisão de executar um serviço voluntário:
• Fortalecimento da cidadania – muitos indivíduos acreditam que precisam cumprir seu
dever, devolvendo à sociedade a oportunidade que ela lhe deu;
• Desenvolvimento pessoal – algumas pessoas buscam seu crescimento pessoal e uma
satisfação que o trabalho remunerado, muitas vezes, não é capaz de proporcionar;
• Retribuição de algo que recebeu – depois de receber ajuda por conta das dificuldades
pelas quais passou na infância ou adolescência, o cidadão acredita que chegou o momento de
retribuir;
• Motivações religiosas - muitos ajudam pelo compromisso que possuem com sua
crença;
• Preencher o tempo de forma útil - grande parte das mulheres que nunca trabalharam e
aposentados passam a ocupar seu tempo desta maneira e oferecem, com sua ajuda, experiência
de vida e formação profissional.
Domenico De Masi (2000) afirma que o trabalho ainda é visto como a maneira pela qual nos
desenvolvemos, além de ser vangloriado pela família, igreja e educação que recebemos. Já o
ócio tem significado majoritariamente negativo, notadamente como preguiça. Em seu livro,
Ócio Criativo, ele propõe uma mudança a esses paradigmas presentes. Afirma que a família, a
escola e a mídia devem colocar ao lado da atual educação profissional dos jovens, um outro
tipo de educação, com vistas às atividades lúdicas e culturais.
Infelizmente, o tempo livre das pessoas não é trabalhado como deveria pela família, escolas e
mídia, pois o lazer, em muitos casos, é utilizado para exercer atividades que não contribuem
para uma sociedade melhor. O lazer vem sendo consumido, freqüentemente, com jogos
clandestinos, drogas e atividades sexuais mercantilizadas, aumentando, com isso, a destruição
de valores éticos. Por outro lado, há um outro rumo que está sendo tomado pelo lazer
contemporâneo. Várias pessoas têm procurado prestar serviço voluntário, atividades
prossociais ou de participação na construção de uma nova sociedade.
Ainda há aqueles que, por estarem enfrentando problemas, desejam atuar como voluntários,
acreditando que esse tipo de atividade funciona como terapia. Porém, Domeneghetti (2001)
adianta que, em um estudo realizado durante cinco anos, verificou-se que apenas 20% dos
indivíduos que atuavam como voluntário conseguem permanecer em suas respectivas
atividades e desenvolver um trabalho excelente. Os outros 80% procuram no serviço
voluntário a solução de seus problemas pessoais e não permanecem, porque o indivíduo só doa
o que está sobrando em termos emocionais, espirituais e etc. Se a pessoa se apresenta
querendo preencher lacunas, sobra pouco para doar.
O voluntário lida com as expectativas das pessoas e das instituições onde atua, por isso é
necessário que, ao decidir atuar como voluntário, o indivíduo perceba que sua contribuição
seja direcionada para ajudar o outro, ou seja, essa deve ser sua motivação principal.
Há uma outra pesquisa, também citada no livro de Domeneghetti (2001), realizada pelo
Independent Sector, em 1993, questionando a motivação das pessoas para exercer o serviço
voluntário. Neste estudo, foi constatado que 61,8% acham que aqueles que têm mais recursos
devem ajudar os que têm menos; 50,2% procuram atingir certo grau de satisfação pessoal;
46,1% querem devolver à sociedade algum benefício por ela recebido; e ainda 44% afirmam
ter sido convidados por um amigo ou colega a ser voluntário. 
Vale ressaltar que muitos começam o serviço voluntário motivados somente por interesse
pessoal, como crescimento profissional, status, ingresso no mercado de trabalho do terceiro
setor, dentre outros. Para isso, centros de voluntariado têm realizado sensibilizações no intuito
de esclarecer algumas definições, conceitos, direitos, deveres, motivações e benefícios que a
atividade em prol do bem comum proporciona.
3.2 Direitos e responsabilidades do voluntário
Para demonstrar a grande profissionalização por que vêm passando o serviço desenvolvido por
esses atores sociais, diversas entidades em todo o país utilizam, em suas capacitações,
materiais produzidos pelo Programa Voluntários (Comunidade Solidária), os quais explicam
os direitos e deveres desses agentes.
Direitos:
• Desempenhar uma tarefa que o valorize e seja um desafio para ampliar e desenvolver
habilidades;
• Receber apoio no trabalho que desempenha (capacitação, supervisão e avaliação
técnica);
• Ter a possibilidade da integração, como voluntário, na instituição, no projeto e/ ou na
comunidade, onde presta serviços e ter as mesmas informações que o pessoal
remunerado, além de descrições claras sobre tarefas e responsabilidades;
• Participar das decisões;
• Contar com os recursos indispensáveis para o serviço voluntário;
• Respeitar os termos acordados quanto à sua dedicação, tempo doado e não ser
desrespeitado na disponibilidade assumida;
• Receber reconhecimento e estímulo;
• Ter oportunidades para o melhor aproveitamento de suas capacidades recebendo
tarefas e responsabilidades de acordo com seus conhecimentos, experiência e interesse;
• Contar com ambiente de trabalho favorável por parte do pessoal remunerado da
instituição, do projeto e/ou da comunidade.
Responsabilidades:
Apesar de não ser remunerado, o voluntário precisa atuar com compromisso, pois sua ausência
pode deixar uma expectativa frustrada naquele que contava com os seus serviços e confiou na
sua disponibilidade. Desta forma, seguem abaixo algumas dessas responsabilidades:
• Conhecer a instituição e/ou a comunidade onde presta serviços, levando em conta essa
realidade social e as tarefas que lhe foram atribuídas;
• Escolher cuidadosamente a área onde deseja atuar conforme suas identificações,
interesses, objetivos e habilidades pessoais, garantindo um trabalho eficiente;
• Ser responsável no cumprimento dos compromissos contraídos livremente como
voluntário. Só se comprometer com o que de fato puder fazer;
• Respeitar valores e crenças das pessoas com as quais se relaciona;
• Aproveitar as capacitações oferecidas de forma aberta e flexível;
• Atuar de maneira integrada e coordenada com a entidade ou projeto onde presta
serviço;
• Manter os assuntos confidenciais em absoluto sigilo;
• Acolher de forma receptiva a coordenação e a supervisão de seu serviço;
• Usar de bom senso para resolver imprevistos, além de informar aos coordenadores da
instituição. 
Diante de tanto profissionalismo e de atribuições, há certas características que são peculiares
nesses agentes de transformação:
• Assiduidade;
• Pontualidade;
• Responsabilidade;
• Proatividade;
• Boa vontade;
• Paciência;
• Criatividade;
• Flexibilidade.
3.3. Legislação do voluntariado
Buscando limitar responsabilidades e direitos na prestação do serviço voluntário, foi criada
uma lei do voluntariado no Brasil, em 1998, com a finalidade de legitimar o exercício da
atividade voluntária que há muito existe no país, sem, contudo limitar a liberdade natural dos
cidadãos de exercerem seus direitos de consciência e iniciativa. 
Muitos podem achar um absurdo tanto protocolo, mas antes da lei havia uma série de conflitos
trabalhistas de pessoas que agiam de má fé, trabalhavam numa instituição como voluntários e
depois colocavam a mesma na justiça do trabalho. Assim como também houve casos de
instituições que exploravam a mão de obra voluntária, querendo com isso reduzir seus custos
na organização, colocando-os para trabalharem tantas horas fossem necessárias, podendo
facilmente ser caracterizado como um trabalho regular.
Para que esse grande potencial do voluntariado não se perca, é necessário que haja alguns
protocolos a fim de que esta energia não seja canalizada erroneamente e não se desperdice o
grande esforço que esses atores sociais vêm desempenhandomundo afora. É possível
encontrar o documento na íntegra pelo site: http://www.voluntario.org.br/lei.htm acessado em
14 de set. 2004.
Lei n 9.608, de 18 de Fevereiro de 1998
(Publicada no Diário Oficial da União de 19 de fevereiro de 1998)
alterada pela Lei 10.748 de 22 de Outubro de 2003
Dispõe sobre o serviço voluntário e dá outras providências
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Artigo 1o - Considera-se serviço voluntário, para fins desta Lei, a atividade não remunerada, prestada
por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou instituição privada de fins não lucrativos,
que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social,
inclusive, mutualidade.
Parágrafo único – o serviço voluntário não gera vínculo empregatício nem obrigação de natureza
trabalhista, previdenciária ou afim.
Artigo 2o – O serviço voluntário será exercido mediante a celebração de termo de adesão entre a
entidade pública ou privada, e o prestador do serviço voluntário, dele devendo constar o objeto e as
condições do seu exercício.
Artigo 3o – O prestador do serviço voluntário poderá se ressarcido pelas despesas que
comprovadamente realizar no desempenho das atividades voluntárias.
Parágrafo único – As despesas a serem ressarcidas deverão estar expressamente autorizadas pela
entidade a que for prestado o serviço voluntário.
Artigo 3ºA. – Fica a União autorizada a conceber auxílio financeiro ao prestador de serviço voluntário
com idade de dezesseis a vinte e quatro anos integrante de família com renda mensal per capita de
até meio salário mínimo.
 
§ 1o – O auxílio financeiro a que se refere o caput terá valor de até R$ 150,00(cento e cinqüenta
reais) e será custeado com recursos da União por um período máximo de seis meses, sendo destinado
preferencialmente:
I – aos jovens egressos de unidades prisionais ou que estejam cumprindo medidas sócio-educativas;
II – a grupos específicos de jovens trabalhadores submetidos a maiores taxas de desemprego. 
§ 2o – O auxílio financeiro será pago pelo órgão ou entidade pública ou instituição privada sem fins
lucrativos previamente cadastradas no Ministério do Trabalho e Emprego, utilizando recursos da União,
mediante convênio, ou com recursos próprios.
§ 3o – É vedada a concessão do auxílio financeiro a que se refere este artigo ao voluntário que preste
serviço a entidade pública ou instituição privada sem fins lucrativos, na qual trabalhe qualquer
parente, ainda que por afinidade, até o terceiro grau, bem como ao beneficiado pelo Programa
Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego para os Jovens – PNPE.
§ 4o – Para efeitos do disposto neste artigo, considera-se família a unidade nuclear, eventualmente
ampliada por outros indivíduos que com ela possuam laços de parentesco, que forme um grupo
doméstico, vivendo sob o mesmo teto e mantendo sua economia pela contribuição de seus membros. 
Artigo 4o – Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Artigo 5o – Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 18 de fevereiro de 1998; 117 da Independência e 110 da República
Fernando Henrique Cardoso
Comentário sobre a alteração da lei:
A alteração no artigo 3º da lei do voluntariado está gerando muita polêmica e discussão. É útil
como um artifício jurídico do Governo Federal para prever a participação dos jovens no
Programa Primeiro Emprego. Como os jovens não preenchiam os pré-requisitos do jovem
aprendiz que precisa estar estudando, foi criada uma bolsa para o jovem e a denominaram de
trabalho voluntário.
Há grandes distinções, uma delas é acerca do objetivo do serviço voluntário proposto pela a
ação: a bolsa do programa tem como fundamento a inserção do jovem, em situação de
vulnerabilidade social, no mercado de trabalho. O auxílio financeiro oferecido pelo Programa
descaracteriza a natureza do serviço voluntário que tem como característica a espontaneidade
de realizar a ação, este programa obriga ao jovem a execução do trabalho para poder receber
sua bolsa.
Outra controvérsia é que a ajuda de custo deve ser comprovada pelo voluntário com gastos
realizados durante o serviço prestado, não precisando que esse agente de transformação
necessariamente seja de família com uma renda máxima pré-estabelecida para poder ser
voluntário. O voluntariado também não existe para reduzir o problema do desemprego.
Ainda é possível destacar a questão da motivação para realização do trabalho que é algo
espontâneo, altruísta, lembrando o conceito da ONU (disponível em
<http://www.davison.com.br/novembro/voluntario.html> acesso em 15 set. de 2004):
O voluntário é o jovem ou o adulto que, devido ao seu interesse pessoal e ao seu
espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas
formas de atividades, organizadas ou não, de bem-estar social ou outros campos.
(grifos meus)
A definição da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, citada anteriormente, é capaz de
demonstrar a discordância desta alteração da lei com os que formam conceitos sobre o tema: 
O Voluntário, como ator social e agente de transformação, presta serviços não
remunerados em benefícios da comunidade, doando seu tempo e seus
conhecimentos, realiza um trabalho gerado pela energia de seu impulso solidário,
atendendo tanto as necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa,
como às suas próprias motivações pessoais, sejam estas de caráter religioso,
cultural, filosófico, político ou emocional. (CORULLÓN & WILHEIM, 1996, p. 1).
(grifos meus)
Toda essa discussão não tira o mérito do Programa, mas prejudica aqueles que trabalham com
voluntários, porque enquanto há tempos se tenta mudar um estereotipo do voluntariado,
profissionalizá-lo e orientar a sociedade a seu respeito, a alteração da lei conduz a uma
discussão não condizente com a realidade.
3.4. Benefícios do trabalho voluntário
Com tanta exigência feita ao voluntário, ele pode pensar bem antes de decidir
exercer algum trabalho, porém acredita-se valer a pena segundo Liliane Fell ex-
presidente do Recife Voluntário em entrevista concedida ao Jornal do Commercio
quando afirma: No ajudar, você é ajudado. (oficina incentiva os que querem ajudar,
2003) 
Só o engajamento pode ajudar um líder entender os problemas da cidade que
atingem seus vizinhos. Cerca de 95% das pessoas não pensam no coletivo, só no seu
umbigo”, lamenta Lisboa, líder comunitário. (MOREIRA, s/ ano) 
A experiência de ser voluntário é muito gratificante, principalmente por eu não ter
nenhum bem material que possa ser compartilhado com outras pessoas. Meu maior
patrimônio, talvez o maior de todos, é o conhecimento. O Projeto Escola Aberta me
proporcionou fazer algo em torno de 50 novos amigos e deixar em cada um deles
um pouco de mim e levar comigo um pouquinho de cada um, pois na vida estamos
sempre aprendendo coisas novas. Michael Arruda - Voluntário de Informática da
Escola Estadual Engenheiro Lauro Diniz 2004 Projeto Escola Aberta. Recife-PE
(Relatório 2004 do Programa de Inclusão Digital do Projeto Escola Aberta)
É muito comum ouvir de pessoas que são ou foram voluntárias depoimentos como: “aprendi
muito”, “cresci como pessoa”, “mudei muito”, “tive uma das mais importantes experiências
em minha vida”, “amadureci” e etc. São muitos e diversos os benefícios gerados por quem
desempenha um serviço voluntário. Não apenas para aquele que recebe um carinho, um
ensinamento, uma casa, um atendimento médico, mas também para aquele que se doou. 
Em um projeto chamado “Um teto para o Brasil”, onde voluntários utilizavam suas férias para
ajudar na construção de casas populares foi coletado este depoimento: Para o estudante do
Ensino Fundamental Helton Rodrigo Xavier, 16, o fatode ter trocado os dias de férias pelo
trabalho pesado de pedreiro foi motivo de alegria. “Nunca vivi uma situação como essa. Além
de fazer novos e bons amigos, sei que estou ajudando pessoas que precisam”, comentou
Helton. (AZEVEDO, 2002)
Além de atuar na melhora da qualidade de vida em comum, o voluntário se sente útil por
participar das transformações necessárias para construção de um mundo melhor. Satisfação
pessoal, elevação da auto-estima, desenvolvimento pessoal e profissional, conquistas de novas
amizades, aprendizado e novos desafios, empregar boa utilização do tempo livre, apoio a uma
causa e aquisição de mais estabilidade emocional são apenas alguns dos ganhos mais citados.
É possível descobrir, em muitos casos, talentos que não se conheciam, desenvolver uma
liderança e um maior espírito de equipe. Por conviver com tantas diferenças, em alguns casos,
como é o do ensino de alguma habilidade/conhecimento é necessário ser mais tolerante para
conviver com um grupo tão diversificado.
A satisfação é ver o sorriso, o aprendizado, a alegria, o agradecimento, o desenvolvimento do
outro. Saber que de alguma forma, é possível contribuir para o crescimento e/ou emancipação
de várias pessoas e não para dependência de uma ajuda, seja ela de qualquer natureza.
Segundo Klisberg (2003), ainda há estudos e pesquisas a respeito da qualidade de vida
proporcionada por esse tipo de atividade, como é o caso de um artigo recente de Luis Rojas
Marcos, diretor sanitário e hospitalar público em Nova York, mostrando que os voluntários
têm menos ansiedade, dormem melhor, têm menos estresse e melhor saúde em geral.
Através do trabalho, o indivíduo tem como resultado a sensação de conforto
espiritual muito grande, por ter satisfeito sua necessidade interior de fazer o bem.
Não são raras às vezes que esses atores sociais revisam seus valores, corrigem certos
rumos em suas vidas, adquirindo, dessa forma, um grau de satisfação pessoal
bastante alto, que nenhum valor monetário suplantaria (DOMENEGHETTI, 2001,
p. 77).
Se as experiências demonstram pessoas que possivelmente vivem melhor, que
comprovadamente tem bom estado de saúde, que geram benefícios ao próximo e que valores
mais humanos são desenvolvidos através dessa prática, como solidariedade, compaixão,
paciência, podemos afirmar que a ação voluntária colabora para a construção de uma
sociedade melhor. 
4
Voluntariado no mundo
O voluntário, gente que faz coisas para os outros, gera em diversos países
desenvolvidos mais de 5% do PIB em bens e serviços sociais. Na Europa Ocidental,
o valor das operações, entre rendas e trabalhos gratuitos, superou em 1995 US$ 500
bilhões anuais; nos Estados Unidos, US$ 675 bilhões; e no Japão, US$ 282 bilhões
(Johns Hopkins University). A América Latina apresenta um enorme potencial que
poderia aliviar muito seus graves problemas sociais e que apesar de enormes
riquezas potenciais, 60% das crianças estão abaixo da taxa de pobreza, há mais de
20% de desemprego juvenil, 18% dos partos não têm assistência médica e a taxa de
escolaridade é de apenas 5,2 anos.” (Grifos nossos) (KLISBERG, 2003) 
O trabalho desempenhado por milhares de agentes de transformação não vem substituir o
governo de seu papel. O terceiro setor, o qual o voluntariado faz parte, vem permitir que se
estabeleça uma parceria para que assim se consiga realizar ações para diminuir os problemas
sociais.
Sempre que se fala no terceiro setor, vale a pena defini-lo com termos que ajudem a entender
melhor suas atribuições e esclarecer dúvidas que muitos ainda possuem.
Domeneghetti (2001) demonstra que o terceiro setor é uma expressão traduzida do inglês –
Third Sector – que, no Brasil, é confundida com o setor terciário. A classificação econômica
tradicional de um país é divida em três setores:
• Setor Primário: diz respeito à agricultura;
• Setor Secundário: diz respeito à indústria;
• Setor Terciário: diz respeito aos serviços.
Há alguns anos, começou-se a falar, nos Estados Unidos, de dois novos setores de uma
sociedade moderna (1º e 2º) e mais tarde do 3º setor:
• 1º Setor: setor público, que se refere ao governo e suas empresas estatais;
• 2º Setor: setor privado, que se refere às empresas ou ao mercado, que gera capitais e
possui fins lucrativos;
• 3º Setor: organizações que cuidam dos problemas ligados a educação, saúde, meio
ambiente, assistência social, abuso de álcool e drogas, sindicatos, museus, entre outros.
Segundo Rubem César (apud DOMENEGHETTI, 2001), terceiro setor é o conjunto de
organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela ênfase na participação voluntária, no
âmbito não governamental, dando continuidade às práticas tradicionais de caridade e
filantropia, expandido o seu sentido para outros domínios, graças, sobretudo, à incorporação
do conceito de cidadania e de suas múltiplas manifestações na sociedade civil.
O Estado como tal é insubstituível e necessário, cabe a todos então partir para fazer aquilo que
ele não consegue fazer e cobrar uma ação que ele pode fazer. Deve-se perceber que não é
possível fazer uma sociedade sem a participação e fiscalização dos cidadãos. 
É difícil afirmar sobre a origem do voluntariado, já que há pouco registro sobre esse tema.
Vários autores comentam a influência da religião, que incentivava as pessoas a agir
caritativamente. A virtude da caridade era estimulada para que ações viessem a ajudar os mais
necessitados, os pobres, os doentes e os famintos.
Uma outra idéia que se faz presente em todos os recanteos da humanidade é a
associação de pessoas surgiu para elas se autoprotegerem. Isso teve um forte
impulso dado na época da Reforma Luterana quando associar-se livremente era uma
necessidade de sobrevivência por conta das mudanças que aconteciam na época,
sejam pela religião, sejam proporcionadas pela revolução industrial. Meister ainda
afirma que há registros de grupos de bombeiros voluntários na Europa, como é o
caso de um grupo de Portugal que já conta história de 600 anos. (MEISTER, 2003,
p.103).
Por forte influência da maneira como foram colonizados em meio às reformas religiosas e
políticas da época, os EUA desenvolveram um forte sentido comunitário, pois se acreditava
que a ação possibilitava uma melhora na qualidade de vida das pessoas e das comunidades.
Além disso, percebia-se que a resolução dos problemas sociais cabia a própria sociedade e não
que deveria ser esperado por generosidade de alguns ou pelo governo, por exemplo.
Seguindo a cronologia citada por Meister (2003), há registros de grupos de bombeiros
voluntários na Europa, como é o caso de um grupo de Portugal que já conta história de 600
anos. Um grande impulso se deu a partir dos anos 30, enquanto no Brasil esse impulso só se
deu a partir de 1990.
Em 1933, foi criado o Bureau de Voluntários, implantado em diferentes cidades, funcionando
mais ou menos como os atuais centros de voluntariado no Brasil, indicando voluntários para
várias organizações sociais. 
A partir da II Guerra Mundial, a necessidade de organizar o trabalho foi maior pela ajuda que
se precisava. Foram criados mais de 4.300 escritórios ligados ao órgão de defesa civil com o
objetivo de recrutar voluntários em ajudar doentes, feridos e comunidades atingidas. 
Já em 1951, surgiu a AVB (Association of Volunteer Bureau), que realizava treinamentos e
desenvolvia o voluntariado nas comunidades. Nos anos 70, a United Way desenvolveu o
NCVA (National Center of Volunteer Action) com o objetivo de continuar os trabalhos
desenvolvidos pela AVB e dar consultoria na área. A década de 80, por sua vez, registrou a
criação de vários centros de voluntários pelo NCVA.
Na Espanha, apesar da lei do voluntariado só ter sido aprovada em 1996, algumas
comunidades autônomas já possuíam legislação pararegulamentar este tipo de serviço. A
ONU criou um programa de voluntariado em 1970, o United Nation Volunteer Program, por
meio de uma resolução da assembléia geral em consideração à importância do serviço
voluntário. Em 1981, a Comunidade Européia promulgou os estatutos da volunteurope, que
tem como objetivo estimular a colaboração de ações não remuneradas. 
Já em 1985, a ONU por meio de uma comissão de voluntariado, instituiu o dia 5 de dezembro
como o Dia Internacional do Voluntário. Com o objetivo de promover reflexões sobre a
cidadania e a solidariedade como valores indispensáveis para melhoria de vida do planeta.
Neste dia inúmeras organizações, grupos de voluntários e até empresas que estimulam este
tipo de ação se reúnem para divulgar idéias, realizar outras atividades voluntárias em
comemoração a data e sensibilizar mais pessoas para a causa.
Além desses marcos de caráter normativo, vale ressaltar ainda a recomendação nº. R(85)9 do
comitê de ministro do conselho da Europa para o trabalho voluntário nas atividades de bem
estar social.
Se destaca a importância do fenômeno do voluntariado nas sociedades européias por sua
contribuição na execução de sociedades mais justas e equilibradas. Ressaltam que sua
expansão não deve permitir que desde os poderes públicos se relaxe a necessária satisfação das
carências em determinados coletivos sociais que devem ser atendidos desde a esfera pública e
destacam a necessidade de estabelecer uma adequada regulamentação da realização de
serviços voluntários para evitar que se converta em um substituto do trabalho remunerado.
(AMO, apud Meister, 2003, p. 152)
 
Já em 1985, a ONU por meio de uma comissão de voluntariado, instituiu o dia 5 de dezembro
como o Dia Internacional do Voluntário. Com o objetivo de promover reflexões sobre a
cidadania e a solidariedade como valores indispensáveis para melhoria de vida do planeta.
Neste dia inúmeras organizações, grupos de voluntários e até empresas que estimulam este
tipo de ação se reúnem para divulgar idéias, realizar outras atividades voluntárias em
comemoração a data e sensibilizar mais pessoas para a causa.
Em 1997, a ONU escolheu 2001 como o Ano Internacional do Voluntariado, proposta
apresentada pelo Japão, juntamente com 122 Estados-membros da organização, objetivando
com isso: aumentar o reconhecimento, facilitar a promoção, criar uma rede mundial de
valorização e ampliar a capacidade de divulgação do tema.
Foi criado nos Estados Unidos, numa iniciativa das organizações norte-americanas Youth
Service America (YSA) e Youth Action Network, o DGVJ – Dia Global do Voluntariado
Jovem, evento mundial realizado anualmente, que têm a missão de promover e incentivar a
cidadania juvenil por meio do estímulo ao serviço voluntário. Desta maneira, oportuniza ao
jovem um papel ativo na solução de problemas concretos da comunidade. São milhões de
jovens em mais de 150 países realizando ações em favor de suas comunidades, mostrando que
é possível melhorar o mundo com a força do voluntariado. 
De fato, no ano de 2001, o tema do voluntariado foi mencionado em todo o mundo. No Brasil,
eventos, comemorações, propagandas e divulgações de projetos de voluntariado estiveram
presentes em vários tipos de mídia. Muitos cidadãos despertaram seus desejos, tomaram
conhecimento de como podiam ser voluntários, e outros começaram a atuar. Prova disso é que
naquele ano, o Centro de Voluntários do Recife, aumentou o número de seu cadastro de
voluntários em 50%.
As ações voluntárias estão presentes em todo o mundo durante o decorrer da história. Os mais
diferentes exemplos podem ser observados há tempo, como as Santas Casas de Misericórdia
no século XV e a Cruz Vermelha em 1863. Entre os movimentos e iniciativas recentes estão o
Greenpeace, a Anistia Internacional, a ONU, a Care, o WWF, assim como organizações que
apóiam o voluntariado em todo o mundo.
É possível observar o grande potencial da cultura do voluntariado presente nos diversos países,
pois segundo Meister (2003), a Irlanda possui 33% da população adulta atuando como
voluntária, no Peru 31%, no Japão 26%, na Holanda 24%, na Argentina 20% e no México
10%. Ele ainda afirma que em 1998 os EUA contavam com cerca de 109 milhões de adultos
voluntários. Voluntários fazem a sua parte seja localmente ou em outra fronteira. Para muitos
a ação é o que mais importa.
5
Voluntariado no Brasil
Muitos autores acreditam que a diferença entre o voluntariado desenvolvido nos EUA –
Estados Unidos da América, caracterizado pelo espírito comunitário – e o praticado no Brasil
se justifica pelos tipos de colonização vividos nestes países, no primeiro, prevaleceu a idéia de
ocupação, enquanto que aqui os portugueses estavam simplesmente interessados em explorar
as riquezas das terras brasileiras. 
Meister (2003) acredita que isso poderia ser repensado, já que houve incentivo religioso em
ambas as nações. Porém, há de se analisar que tanto o fato da colonização ter sido realizada de
maneira diferente, como os brasileiros terem sido catequizados pelos jesuítas (que tinham uma
visão assistencialista, intensificando, assim, a relação de dependência) contribuíram para a
formação de nossa cultura atual e, conseqüentemente, a maneira dos voluntários atuarem.
A diferença entre os tipos de voluntariado não se refere somente ao número de atores sociais
em cada país, mas ao estilo de participação que, no Brasil, é mais voltado para ações de
filantropia, enquanto nos EUA está ligado à cidadania. 
Segundo Domeneghetti (2001), num levantamento recente sobre filantropia e cidadania no
Brasil realizado pelo Instituto de Estudos de Religião foi constatado que 70% dos
entrevistados afirmaram que fazer doações ou participar de atividades voluntárias em
organizações sociais faz parte de sua crença religiosa.
É de fundamental importância ressaltar que a caridade religiosa não é exclusividade da
religião católica, como muitos podem achar, ela está presente em quase todas as religiões.
Domeneghetti (2001) retrata bem essa questão dedicando um capítulo de seu livro falando da
caridade do voluntariado mostrando como cada religião se refere a isso, como demonstra a
citação abaixo:
Quase todas as religiões do mundo, desde as mais antigas até as mais novas,
consideram a caridade como a maior das virtudes” Esse ensinamento, ditado por
Jesus, Alá e Buda, está expresso na Bíblia, no Alcorão e na Torah
(DOMENEGUETTI, 2001).
Domeneguetti (2001) ainda comenta que a história já nos mostrou que as pessoas que
sobreviveram para formar as grandes nações de hoje foram aquelas dotadas de grande
generosidade para com o próximo. Alguns deles: Jesus Cristo, Gandhi, Madre Teresa de
Calcutá, São Francisco de Assis, Dom Helder Câmara, Betinho.
Não há como negar a grande contribuição dos movimentos religiosos, que foram grandes
difusores da filantropia pelo mundo. Alguns autores afirmam que esses movimentos foram os
primeiros a pregar a caridade e o doar-se ao próximo, buscando a elevação do ser por meio da
boa ação, do assistencialismo, da benevolência.
Heloísa Coelho (apud DOMENEGHETTI, 2001), afirma que o enfoque era o ato do dar, não
sendo observado se a ação teria como conseqüência benefícios dos que a recebiam. Ela ainda
afirma que, diferentemente dos países da Europa, nos EUA a preocupação com a solução dos
problemas e a busca de melhorias na qualidade de vida da comunidade eram a base da
filantropia, não vista como simples caridade. Importava gerar benefícios e resolver seus
próprios problemas, não somente o ato de dar. 
Segundo a cronologia de Domeneghetti (2001), devido à nossas origens culturais e históricas,
o voluntariado esteve, durante muito tempo, ligado a questõesreligiosas e a ações de caridade
muito centradas na área da saúde. Em 1543, em uma pequena vila do litoral paulista, surgiu o
primeiro hospital brasileiro, a Santa Casa da Misericórdia de Santos, marcando o início dos
movimentos de caráter assistencialista. 
O Conselho da Comunidade Solidária reconhece que a participação direta dos cidadãos em
atividades voltadas para melhoria da qualidade de vida contribui, e muito, para o
enfrentamento da exclusão social e para a consolidação de uma cidadania participativa.
Podendo ser feita uma analogia com a citação que segue. 
William Aramony, presidente da United Way, afirma com relação ao Brasil: Somos
uma nação de pessoas que gostam de ajudar, de resolver problemas, e o trabalho
voluntário é uma segunda natureza dentro de todos nós. Somos participativos na
política, temos compromissos religiosos e fazemos trabalho voluntário em muitas
áreas, incluindo as artes, problemas comunitários, cuidado com a saúde, educação e
assuntos difíceis. (ELLIS, Meister. 2003, p. 17) 
Panorama histórico do voluntariado no Brasil (Recife Voluntário, 2002)
• 1543 Fundação da Santa Casa da Misericórdia, na Vila de Santos – Capitania de São
Vicente;
• 1908 A cruz Vermelha chegou ao Brasil;
• 1910 Os escoteiros estabelecem-se no Brasil, com objetivo de “ajudar o próximo em
toda e qualquer ocasião”;
• 1961 Surgimento da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE;
• 1983 Criação da Pastoral da Criança;
• 1993 Hebert de Souza, Betinho, cria a Ação da Cidadania Contra Miséria e pela Vida;
• 1995 Criação do Programa Comunidade Solidária;
• 1997 Criação dos primeiros Centros de Voluntários do País;
• 1998 É promulgada a Lei 9.608, a Lei do Serviço Voluntário;
• 2001 Proclamação da ONU o Ano Internacional do Voluntariado 
O nascimento formal do voluntariado teve origem na segunda metade do século XIX, quando,
em uma “cruzada filantrópica”, toda a sociedade brasileira se mobilizou para reorganização
das instituições, em vista da disseminação das doenças contagiosas. O serviço voluntário era
executado pelas damas caridosas da sociedade, em hospitais, escolas, asilos, creches,
orfanatos. Tratava-se, portanto, de um contexto filantrópico.
A partir do século XX, pós-guerra, os países desenvolvidos criam o bem-estar social que
visava atender aos necessitados. O Estado era o responsável pelas condições de vida da
população, que se caracterizava como um contexto paternalista. Porém, a partir de 1930, o
Estado transfere à sociedade civil esta responsabilidade.
O Voluntariado “combativo”
No final da década de 50, começam a surgir movimentos sociais trazendo um novo perfil de
voluntariado. São os movimentos de reivindicação de melhorias urbanas e sociais, de
desfavelamento, voltados à organização das próprias comunidades carentes.
A sociedade assume sua participação ativa nas questões sociais e inúmeras organizações são
criadas caracterizando uma atuação voluntária de ação social. Surge um voluntariado
combativo, que começava a se distanciar de suas práticas originárias.
O modelo dos anos 80
Na metade da década de 80, os estados passam por uma ampla reforma político-adminstrativa
e econômica. A questão social, então, deixa de ser de enfrentamento exclusivo do Estado,
passando a uma co-responsabilidade entre este e a sociedade civil, incluindo a atuação de
ONGs, fundações e empresas. O serviço voluntário passa a ser debatido como peça
fundamental nessa abordagem da intervenção social.
Em 1993, a ONG Ação da Cidadania contra Miséria e pela Vida revitalizou o sentimento de
solidariedade e despertou as empresas para a questão da responsabilidade social. Três anos
depois, foi criado, pelo Comunidade Solidária, o Programa Voluntários, com a missão de
contribuir com a promoção, valorização e qualificação do serviço voluntário.
Segundo dados coletados no site do Natal Voluntários, o DGVJ, em 2003, contou com 91
grupos participantes, mobilizando 13.463 voluntários em todo o Brasil, beneficiando cerca de
48.059 pessoas por meio de iniciativas como campanhas de coleta seletiva de lixo, controle da
dengue, arrecadação de alimentos, mutirões de limpeza e oficinas, totalizando 137 ações. 
Em 2004, o Brasil mobilizou mais de 17 mil jovens nas ações que envolveram o Dia Global do
Voluntariado Jovem - DGVJ. Foram registradas, pelo Natal Voluntários, mais de 360
diferentes ações em toda nação. “Esses números expressam o desejo e o potencial de
engajamento dos jovens brasileiros em transformar a cada dia o nosso país em um lugar
melhor para se viver”, declara Mônica Mac Dowell, presidenta do Natal Voluntários.
(disponível em http://www.natalvoluntarios.org.br/diaglobal/vernoticia.asp?id=255> acesso
em 08 set. 2004)
No restante do mundo não foi diferente, a YSA registrou mais de quatro milhões de
voluntários engajados em pelo menos 117 países, sendo três milhões só nos Estados Unidos,
onde o evento foi criado. Outros um milhão de jovens em países como França, Peru,
Colômbia, China, Japão, Índia, Taiwan, África do Sul, Iraque, Afeganistão e muitos outros,
também realizaram atividades voluntárias.
A novidade não é a existência do voluntariado, mas que sua atividade conta com uma
participação responsável e solidária em iniciativas de combate à exclusão social e melhoria da
qualidade de vida da sociedade.
Com isso, se pode afirmar que o serviço voluntário não mais se limita ao “assistencialismo”,
voltado apenas para dar comida a quem tem fome, remédio e cuidados aos doentes, roupa a
quem tem frio, apoio aos mais necessitados, cujos resultados não são eficazes à re-inserção
social, afirmação da dignidade e da cidadania dos indivíduos.
Infelizmente ainda há muito preconceito com relação ao serviço voluntário, pois muitos o
enxergam como um passatempo de pessoas desocupadas e sem especialização.
O voluntário representa a sociedade descobrindo o seu protagonismo. As pessoas
estão descobrindo que podem, devem e que é fundamental participar; a sociedade
está descobrindo que ninguém melhor do que ela sabe de suas próprias necessidades
e possibilidades. (CORULLÓN, 2000).
Há ações voluntárias que estão crescendo Brasil afora nas áreas de cultura, defesa de direitos
humanos, meio ambiente, esporte e lazer, qualificação, inclusão digital, alfabetização, gestão
organizacional em ONGs, habitação, entre outras, através da internet, como tradução de
textos.
6
Voluntariado e Cidadania
Falar em cidadania é dizer que o cidadão é o indivíduo no gozo de seus direitos e cumprindo
seus deveres. Para ter uma cidadania plena é necessário ter esses direitos, sendo portanto,
difícil que todos a tenham neste modelo de sociedade atual. Atuando como voluntário, cada
um pode exercer sua cidadania, colocando seu talento à disposição do outro para construção
de uma vida melhor para todos.
Para Domeneghetti (2001), existem alguns direitos que o cidadão possui:
• Direitos civis: segurança, dispor do próprio corpo e de ir e vir;
• Direitos políticos: livre expressão de pensamento, à liberdade de prática política, à
liberdade religiosa;
• Direitos sociais: atendimento das necessidades básicas do ser humano, direito à
alimentação, à saúde, à educação, à moradia etc.
Domeneghetti (2001) afirma que o serviço voluntário instala-se no centro da ação cidadã,
sendo a mola propulsora de todas as mudanças sociais. Ela ainda comenta sobre a diferença
entre o voluntariado ligado à saúde, dos ligados à educação e ao meio ambiente, por exemplo.
O primeiro se apresenta mais fortemente relacionado ao aspecto da caridade (ligado à cultura
da religião), diferentemente dos outros que estão mais ligados à cidadania.
Quanto mais fortes tornamos as pessoas, maior nossa capacidade de participação cidadã, e
quanto maior exercermos nosso papel na comunidade, mais chancestemos de nos fortalecer.
(Programa de Formação de Adolescentes Voluntários, 1993)
Em um programa de formação de adolescentes voluntários realizado entre 1993 e 1995 com o
apoio da Fundação Odebrecht, há em seu material didático a relação entre voluntariado e
cidadania.
É importante fazer com que os voluntários reflitam sobre suas possibilidades de contribuição
pessoal para ação coletiva e perceber essa importância na transformação da realidade.
Cidadania é a capacidade de participação consciente e solidária na realização de projetos e
objetivos que digam respeito ao interesse de todos. O serviço voluntário é uma experiência de
autonomia que permite às pessoas esse exercício da cidadania “no aqui e agora”. Ao mesmo
tempo, ao incentivar a autonomia das populações em relação aos governos, favorece o
crescimento do capital social e humano, e contribui para que a sociedade brasileira supere uma
cultura secular de paternalismo e dependência. 
É urgente criarmos em nosso país uma cultura de cidadania e participação. E um dos
caminhos para isso ocorrer é, a meu ver, o voluntariado juvenil, a visão do jovem
como solução e não como problema, isto é, como fonte de iniciativa (ação),
liberdade (opção), e compromisso (capacidade de sentir-se responsável pelas
escolhas que faz). (DA COSTA, 1999)
Não há dúvida de que estimular o voluntariado desde a escola é uma prioridade para que se
desenvolva a cidadania entre as pessoas, porém o estímulo a uma cultura do voluntariado não
precisa apenas ser direcionado aos jovens. Eles serão, certamente, mais responsáveis pela
construção do amanhã, porém não se pode deixar ninguém de fora, já que um mundo melhor é
de responsabilidade e direito de todos. Em princípio, toda e qualquer pessoa pode ser
voluntário, pois todos podem oferecer algo à sociedade dentro daquilo que sabem e têm
possibilidade para realizar.
Nesta poesia de uma voluntária é possível perceber a distinção e a forte relação entre a
solidariedade e cidadania, ambas necessárias para construção de um mundo melhor e
intrínsecas aos valores de um voluntário.
“A solidariedade brota do coração grande e generoso, enquanto a cidadania é
fruto da mente racional e esclarecida.
A solidariedade ao deparar com a pobreza diz: quero acolhê-lo, alimentá-lo,
abrigá-lo e educá-lo, porque é um ser humano como eu, e não posso vê-lo sofrer.
A cidadania ante a exclusão social se manifesta contra a corrupção e a favor de
uma sociedade mais justa, porque a pobreza de muitos prejudica a todos.
A solidariedade doa para a cultura e para as artes porque quer oferecer algo à
comunidade. A cidadania preserva o patrimônio artístico e cultural porque
assume seu papel de dono e se dono não cuida, quem cuidará?
A solidariedade floresce nas crises e emergências, enquanto que a cidadania se
exerce no dia-a-dia. A cidadania é a obrigação de todos, enquanto que a
solidariedade é vocação de alguns. Podemos educar jovens para a cidadania,
enquanto que para a solidariedade só podemos sensibilizá-los.
A solidariedade engrandece o homem.
A cidadania constrói a sociedade.
As duas juntas podem resgatar a dívida social de uma nação.” 
Cecília Berner, voluntária (Centro de Voluntariado de São Paulo)
7
Voluntariado e Participação
Apesar da falta de comprometimento da sociedade atual, o interesse em participar tem se
generalizado nos últimos anos, no Brasil e no mundo. Surgem associações as mais diversas:
amigos do bairro, movimentos ecológicos, associações de moradores, comunidades eclesiais
de base, movimento em prol da raça negra, da mulher, entre outros.
Bordenave (1983) afirma que para um grande número de pessoas, democracia não é apenas
um método de governo onde existem eleições. Para elas democracia é um estado de espírito e
um modo de relacionamento entre as pessoas. Democracia é um estado de participação.
Segundo mesmo autor, há dois pontos de vista que mostram as vantagens da participação. Ele
afirma que, segundo os progressistas, a participação facilita o crescimento da consciência
crítica da população, fortalece seu poder de reivindicação e a prepara para adquirir mais poder
na sociedade. Já os democráticos vêem a participação como garantia de controle das
autoridades por parte do povo, visto que as lideranças centralizadas podem ser levadas
facilmente à corrupção. Quando a população também fiscaliza os serviços públicos, estes
tendem a melhorar em qualidade e oportunidade.
O crescente interesse pelo tema é devido ao descontentamento com relação aos problemas
sociais. Há assuntos de interesse de muitos que são tratados e decididos por poucos.
A participação é uma necessidade vital do ser humano. É possível observar a satisfação
pessoal dos que participam em atividades na sua comunidade, além dos resultados que serão
trazidos com aquela ação. Isso demonstra essa necessidade do homem de participar, assim
como precisa do alimento, do sono, da saúde, do pensamento reflexivo, auto valoração, auto-
expressão. Algumas das motivações em participar é simplesmente porque sente-se prazer em
fazê-lo, além disso é mais eficaz e eficiente quando não se trabalha sozinho.
A participação é inerente à natureza social do homem, tendo acompanhado sua
evolução desde a tribo e o clã dos tempos primitivos até associações, empresas e
partidos políticos de hoje. Neste sentido, a frustração da necessidade de participar
constitui uma mutilação do homem social. Tudo indica que o homem só
desenvolverá seu potencial pleno numa sociedade que permita e facilite a
participação de todos. O futuro ideal do homem só se dará numa sociedade
participativa (BORDENAVE, 1983)
Para conseguir uma melhoria na qualidade de vida, para assegurar os direitos humanos, para
ampliar a justiça para todos, é preciso envolver-se em ações cívicas, ou seja, é preciso que a
sociedade civil se organize e trace metas. Sair do lugar de espectador para ator é tarefa que
muitos sentem prazer em realizar. 
Educar para a participação é criar espaços para que o educando possa empreender a
construção de seu ser. As práticas e vivências são o melhor caminho, já que a
docência dificilmente dará conta das múltiplas dimensões envolvidas no ato de
participar. (DA COSTA, 1999)
Participar não é simplesmente ser incluído na sociedade como um indivíduo que recebe alguns
benefícios de políticas públicas ou de alguma instituição que o escolheu como público alvo
para seus projetos. É preciso haver um caráter conscientizador e libertador, através da tomada
de decisões e atividades sociais de todos os níveis.
As pessoas podem participar em diversas atuações: em grupos de amigos, família e
vizinhança, em associações profissionais, sindicatos, ou ainda em partidos políticos e
movimentos de classe. Ainda podem participar em níveis diferentes: a micro participação é
quando as pessoas se associam voluntariamente com uma ou mais pessoas numa atividade
comum, onde elas não pretendem tirar benefícios pessoais imediatos. Porém a macro ou
participação social que é quando intervém nas lutas sociais, econômicas e políticas de seu
tempo.
O sentido da participação social não é simplesmente a de alguém que toma parte de algo sem
que haja mudanças no panorama social, político e/ou econômico. Podendo este conceito ser
comparado com o de voluntariado desenvolvido na sociedade atualmente. 
Se o sujeito se integra em grupos de atuação de menor nível ou de micro participação, como a
família, trabalho, comunidade já é um grande aprendizado e é justamente esse tipo de
participação que precisa ser incorporado aos sistemas educacionais de todos os níveis.
Não se ensinou a participar, quando muito se aprende a tornar-se crítico e a exigir direitos do
governo, como se estefosse o “pai de todos”. A prática tem que ser constante para que
futuramente haja uma maior cultura de pessoas mais engajadas e preocupadas com o futuro. É
preciso desprender-se da cultura do paternalismo, onde estamos esperando receber, mas
raramente fazer.
Percebe-se o voluntariado como um potencial, uma maneira de estimular a participação, seja
em nível micro ou macro, notadamente se sensibilizado para questão. Por isso o voluntariado
não pode ser levado como uma onda, que vem e passa. É fundamental que seja considerado
como uma nova cultura, um comportamento que precisa ser discutido, estimulado e
reconhecido. 
A participação em uma atividade voluntária pode ser estimulada, mas não imposta, como é no
caso do exército, de cerimônias indígenas, onde os jovens são obrigados a participar. É preciso
que seja espontânea, por que se assim não for, jamais será legitima, não será voluntária se
quer. Tampouco pode ser dirigida ou manipulada, como é o caso de alguns casos de serviços
sociais, desenvolvimento de comunidades ou trabalhos de pastorais.
A participação da escola na comunidade e desta na escola é algo que pode trazer excelentes
resultados para ambos os lados. Nem tudo na escola é preciso esperar pelo recurso do governo,
na verdade os educadores podem formar parcerias com fábricas, oficinas, lojas e desta forma
proporcionar uma maior aprendizagem para seus alunos. 
Assim como os pais, alunos, funcionários e responsáveis juntos aos professores poderiam
discutir sobre os maiores problemas da comunidade para que isso fosse levado para dentro da
sala de aula. Sabemos da existência de milhões de problemas que sozinho o Estado não irá
resolver. Por que não haver uma maior interação entre o que a população realmente precisa e o
que ela pode oferecer em contrapartida na solução ou redução de determinado problema?
Um exemplo seria se uma associação de bairro conseguisse com a prefeitura terreno, água,
energia, esgotos, escolas e alguns mestres de obras, e as famílias beneficiadas ofereceriam
mão de obra. É uma excelente maneira de participar, se sentindo responsável por aquilo que se
está construindo. Vale ressaltar que a participação deve ser um importante processo
incorporado à educação porque facilita um conhecimento da realidade, uma reflexão,
superação de condições reais e aparentes. 
A participação não é um conteúdo que se possa transmitir, mas algo que precisa ser
estimulado, é uma vivência coletiva e não individual, de modo que somente se
aprende participando.(BORDENAVE, 1983)
Através da ação voluntária é possível exercer essa participação. Atividades nas escolas,
hospitais, instituições, campanhas sociais, ambientais, enfim, as diversas ações voltadas ao
bem comum constituem-se num estímulo ao convívio social.
8
Valores Humanos
O voluntariado é o espaço de experimentação dos valores sociais, tendo como
resultado relações interpessoais mais humanas. Para que os valores sociais passem a
orientar as nossas atividades diárias, eles não devem apenas ser explorados e
compreendidos mas sim vividos e experimentados. (Recife Voluntário, 2002)
Em uma cartilha sobre o programa de voluntariado empresarial elaborada pelo Recife
Voluntário em 2004, há uma explanação muito interessante sobre valores humanos. Segundo a
cultura oriental, existem doze valores-chave, que devem ser praticados a fim de humanizarmo-
nos cada vez mais, melhorando o relacionando interpessoal e o comportamento ético:
•Amor: sentimento que predispõe a desejar o bem de outrem;
•Respeito: considerar e acatar pontos de vistas, reconhecer e perceber o outro como
semelhante;
•Responsabilidade: responder pelos próprios atos;
•Tolerância: desculpar, que admite e respeita opiniões contrárias;
•Cooperação: colaborar, trabalhar em conjunto;
•Felicidade: estado de consciência, gerado pela união dos sentimentos de amor e paz;
•Harmonia: disposição ordenada entre as partes de um todo, equilíbrio;
•Liberdade: faculdade de cada um se decidir ou agir segundo a própria determinação;
•Unidade: Congruência entre consciência, pensamentos, sentimentos e ações;
•Paz: ausência de lutas, violências, perturbações sociais ou de conflitos entre pessoas,
serenidade;
•Simplicidade: sem complexidade, sem luxo ou aparatos, humildade; e
•Honestidade: honrado, digno, integro.
Não é possível encontrar uma definição precisa a respeito dos valores, visto que cada
indivíduo possui suas próprias crenças e se encontram em momentos distintos. A intenção é
passar uma idéia do que seriam esses valores. 
Vivenciar solidariedade é poder experimentar respeito e amor ao próximo, saindo do “Eu”
para o “Outro”, doando-se em sentimentos e ações. Cada um é criador da própria felicidade e
do próprio sofrimento, pois todas as coisas têm origem na mente. Sendo assim, é preciso
assumir a responsabilidade por tudo aquilo de bom ou de ruim que experimentamos. 
Parafraseando Rui Barbosa, quando fazemos o bem, sentimo-nos bem, e quando fazemos o
mal, sentimo-nos mal.
A prática dos valores independe de o indivíduo possuir alguma crença religiosa ou mesmo de
ser agnóstico, pois todos podem se empenhar pelos princípios morais. Basta ter disciplina e
foco no crescimento pessoal.
Não existe outro caminho para você produzir obras com qualidade e
melhorá-las, a não ser você mesmo querendo e tendo vontade de
pintar com as suas próprias mãos.
Falar a verdade, ter paciência, persistência, ritmo e disciplina.
Respeitar e servir ao outro, tratar bem. Fazer com dedicação.
Aprender a aprender... desaprender. Ter vontade de fazer e criar.
Agir... Agir... Agir...
São os princípios que precisamos semear e cultivar em nós mesmos,
em nossos relacionamentos, para que as transformações possam
ocorrer. 
Regina Drumond
Há alguns resultados que se observam a respeito do serviço voluntário citados por
Domeneghetti (2001, p.91) que estão interligados aos valores humanos:
• Restaura valores importantes que estavam adormecidos ou esquecidos;
• Enriquece espiritualmente e adquire uma nova personalidade repleta de bondade,
humildade, etc;
• Aumenta a responsabilidade e tolerância em relação a fatos e pessoas.
A autora ainda afirma que todo esse processo é gradual, além de vivenciado de maneira
diferente por cada pessoa, que passa a perceber que o “sucesso na vida” – sendo ele profissão,
riqueza – não é sinônimo de felicidade, pois esta advém do interior e não do exterior.
Há vários programas de educação em valores humanos, um dos mais conhecidos foi criado
pelo mestre espiritual Sai Baba, utilizado em dezenas de países há mais de 25 anos. Esse
programa contribui para formar seres humanos de caráter íntegro, livres de medos e de
preconceitos de raça, religião, cor ou sexo. Permite que a síntese cultural e espiritual da
humanidade seja compartilhada sem barreiras impostas pelo egoísmo ignorante e cruel e
prepara as pessoas para a vida, e não para “ganhar” a vida. Propõe o autoconhecimento e a
vivência dos valores.
Observa-se a relação da prática dos valores humanos com o exercício do voluntariado, onde é
possível vivenciá-los. O voluntariado não é e nunca será a solução dos problemas da
humanidade, mas é um dos instrumentos capazes de transformá-la de dentro para fora.
Há uma forte relação entre o exercício do serviço voluntário e a prática dos valores humanos.
Meister (2003) comenta em seu livro sobre os valores norteadores de uma ação voluntária, que
são: gratuidade (econômica, psicológica, etc.), compromisso (ao outro e à sociedade),
prestatividade e cooperação, generosidade, altruísmo, amor, solidariedade, liberdade, justiça,
ideais humanitários.
Ainda que houvesse tecnologia suficiente, capaz de proporcionar curas para as doenças;
empresas para criar postos de trabalhos