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Broncodilatadores e IBPs associados a procinéticos Referência: WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia Ilustrada. 6ª Ed., Porto Alegre: ArtMed, 2016. 1BRUNTON, L. L. et al. As Bases Farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman. 12ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2012 Wathyson Alex de Mendonça Santos –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– BRONCODILATADORES ► β2-agonistas adrenérgicos: A inalação de β2- agonistas adrenérgicos relaxa diretamente o músculo liso das vias aéreas. Eles são usados para o alívio rápido dos sintomas, bem como no tratamento auxiliar para controle de longo prazo da asma. • Alivio rápido: Os β2-agonistas de curta ação (BACAs) o Ex: Salbutamol, Levossalbutamol, Fenoterol e Terbutalina (agonistas seletivos diretos) o Têm rápido início de ação (5-30 minutos) e proporcionam alívio de 4 a 6 horas. o São usados no tratamento sintomático do broncoespasmo e dão alívio rápido na broncoconstrição aguda o Um inalante BACA é indispensável a um asmático o Não têm efeito anti-inflamatório e nunca devem ser usados como terapêutica única para os pacientes com asma crônica. o A monoterapia com BACA pode ser apropriada para pacientes com asma intermitente ou broncoespasmo induzido por exercício. o Uso clínico: prevenção ou tratamento dos sibilos em pacientes com doenças obstrutivas reversíveis das vias aéreas • Controle por longo prazo: β2-agonistas de longa ação (BALAs) o Ex: Salmeterol (agonista parcial) e formoterol (início de ação mais rápido – agonista completo) o Administrados por inalação, e a duração de ação é de 8 a 12 horas o Monoterapia é contraindicada, devendo ser usada em associação com outro medicamento que controle a asma o Os corticosteroides por via inalatória (CSIs) permanecem como os fármacos de escolha para o controle da asma de longa duração, e os BALAs são considerados úteis como tratamento auxiliar para esse controle. o Alguns BALAs estão disponíveis em produtos associados com um CSI o Uso clínico: prevenção de broncoespasmos (ex: à noite ou com o exercício) em pacientes que necessitem de terapia de longo prazo com broncodilatadores. • Ultralonga duração: há apenas um β2-agonista de ultralonga duração no mercado o Ex: Indacaterol o Efeito broncodilatador começa em minutos e permanece por 24 horas • EA: mais comum é o tremor; taquicardia, arritmia. ▪ Os efeitos adversos são minimizados pela via inalatória ▪ Recomenda-se higiene oral a cada inalação • Mecanismo de ação: A ação broncodilatadora dos β2-agonistas se dá através da ativação de receptores β2 (β2AR) resulta em ativação da adenililciclase (AC), através de uma proteína G estimulatória (Gs), levando a um aumento do AMP cíclico intracelular e na ativação da PKA. Esse último causa fosforilação de um grande número de proteínas alvo, relaxando o músculo liso peribrônquico. O AMPc inibe a liberação de cálcio dos depósitos intracelulares e reduz o influxo de cálcio através da membrana, auxiliando o relaxamento da musculatura lisa e a broncodilatação (4). A ativação do Rβ2A também potencializa a atividade anti- inflamatória dos glicocorticosteroides, aumentando a translocação do receptor de glicocorticosteroide do citoplasma para o núcleo da célula • Inaladores combinados. Os inaladores combinados que contêm um LABA e um corticosteroide (p. ex., fluticasona/salmeterol, budesonida/formoterol) são hoje amplamente utilizados no tratamento da asma e DPOC. Na asma há uma forte razão científica para combinar um LABA com um corticosteroide, porque estes tratamentos têm ações sinérgicas complementares (Barnes, 2002). O inalador combinado é mais conveniente para os pacientes, simplifica a terapia e melhora a adesão ao tratamento com CEI porque os pacientes percebem o benefício clínico, mas pode haver uma vantagem adicional, pois administrar os dois fármacos no mesmo inalador garante que eles sejam distribuídos simultaneamente para as mesmas células das vias respiratórias, possibilitando que ocorram interações moleculares benéficas entre LABA e corticosteroides. ► Metilxantinas: As metilxantinas compreendem um grupo de substâncias alcalóides encontradas na natureza, particularmente no chá, café e cacau, cujo principal representante é a teofilina • Sua solubilidade é baixa, necessitando de uma formação de complexos com outras substâncias solúveis para seu uso farmacológico o teofilina e a etilenodiamina → aminofilina (teofilina) • A teofilina é o principal fármaco desta classe e tem sido usada há muito tempo como broncodilatador • Principais representantes: teofilina, cafeína e teobromina. • Mecanismo de ação: inibição da fosfodiesterase (e, portanto, o aumento intracelular do AMP-c), efeito na concentração de cálcio intracelular (direto e indireto via hiperpolarização da membrana celular), desacoplamento do cálcio intracelular favorecendo elementos contráteis musculares e antagonizando receptores de adenosina o A teofilina afeta vários tipos de células nas vias respiratórias o Inibição das PDEs: inibidor fraco não seletivo de fosfodiesterases. O efeito relaxante sobre a musculatura lisa tem sido atribuído à inibição das isoenzimas da fosfodiesterase (PDE), com resultante aumento do AMPc e/ou do GMPc ▪ Inibição da PDE3 mais envolvida no relaxamento da musculatura lisa das vias respiratórias ▪ Inibição da PDE4 mais envolvida na liberação de citocinas e quimiocinas o Antagonismo do receptor de adenosina: A teofilina antagoniza receptores de adenosina em concentrações terapêuticas. A adenosina causa broncoconstrição nas vias respiratórias de pacientes asmáticos através da liberação de histamina e leucotrienos ▪ O antagonismo dos receptores A1 pode ser responsável por efeitos colaterais graves, como arritmias cardíacas e convulsões o Liberação de interleucina-10: A IL-10 tem um amplo espectro de efeitos anti-inflamatórios, e há evidências de que sua secreção é reduzida na asma. ▪ A liberação de IL-10 é aumentada pela teofilina, e este efeito pode ser mediado através da inibição de atividades de PDE o Ativação de histona desacetilase (HDAC): O recrutamento de histona desacetilase 2 (HDAC2) por receptores de glicocorticoides desliga genes inflamatórios. Concentrações terapêuticas de teofilina ativam HDAC, aumentando assim os efeitos anti-inflamatórios de corticosteroides o Estimulantes do SNC: a estimulação respiratória pode ser benéfica em pacientes com DPOC e respiração reduzida, causando retenção de CO2. • Efeitos adversos: Os efeitos colaterais mais comuns são cefaleia, náuseas e vômitos (devido à inibição de PDE4), desconforto abdominal e inquietação o Devido sua ação nos outros sistemas, pode ocasionar: insônia, nervosismo, arritmias, crises convulsivas o O ponto negativo das metilxantinas reside na proximidade entre as doses terapêuticas e as tóxicas, além de a faixa terapêutica ser estreita • Farmacodinâmica o Efeitos sobre o SNC: Todas as metilxantinas. Em especial a cafeína – causam ativação cortical suave com aumento do nível de alerta e redução da fadiga. o Efeitos cardiovasculares: As metilxantinas têm efeitos cronotrópicos e inotrópicos positivos sobre o coração. ▪ Em baixas concentrações, esses efeitos são causados por inibição de receptores pré-sinápticos de adenosina nos nervos simpáticos, aumentando a liberação de catecolamina nas terminações nervosas o Efeitos sobre o TGI: As metilxantinas estimulam a secreção de ácido gástrico e de enzimas digestivas. o Efeitos sobre os rins: As metilxantinas – especialmente a teofilina – são diuréticos fracos. Esse efeito pode envolver aumento da filtração glomerular e redução da absorção tubular de sódio o Efeito sobre o músculo liso: A broncodilatação produzida pelas metilxantinas é a principal ação terapêutica noscasos de asma o Efeito sobre o músculo esquelético: fortalecem a contratilidade de músculos esqueléticos e revertem a fadiga do diafragma em pacientes com DPOC. • Uso clínico: o Em conjunção com esteroides, em pacientes cuja asma não responde adequadamente a agonistas β2-adrenérgicos. o Em conjunção com esteroides na DPOC o Via intravenosa (na forma de aminofilina) na asma grave aguda • Aspectos farmacocinéticos o A teofilina é administrada por via oral em preparação de liberação prolongada. o É bem absorvida no TGI o É metabolizada pelas enzimas P450 no fígado, principalmente por CYP1A2 (membro da superfamília de enzimas que são responsáveis por metabolizar xenobióticos no fígado) o Meia-vida média de eliminação é de cerca de 8 horas em adultos ▪ A meia-vida aumenta com hepatopatia, insuficiência cardíaca e infecções virais e diminui nos grandes tabagistas (em decorrência de indução enzimática). o Aumento da depuração: fumantes de cigarro e maconha, devido à indução da CYP1A2. A interação medicamentosa com: rifampicina, fenitoína e carbamazepina, diminui sua concentração plasmática o Redução da depuração: na doença hepática, pneumonia e insuficiência cardíaca. Fármacos que inibem as enzimas P450 aumentam a concentração plasmática, tais como: eritromicina, claritromicina, ciprofloxacino, diltiazem e fluconazol ► Antagonistas do receptor de cisteinil-leucotrieno: É um tipo de terapia moderna para a asma, e deve ser realizada em conjunto com os CSIs, e não como medicação única. Os cisteinil-leucotrienos (LTC4, LTD4 e LTE4) atuam nos receptores CysLT1 e CysLT2, os quais são expressos na mucosa respiratória e nas células inflamatórias infiltrativas, mas a significância funcional de cada um ainda não foi esclarecida. Diferentemente dos leucotrienos, esses possuem o aminoácido cisteína em sua molécula. Os fármacos da classe “lucaste”: montelucaste, zafirlucaste e pranlucaste (3 a 5 vezes menos potentes que os outros) antagonizam somente o receptor CysLT1. • Inibem a asma induzida pelo exercício e diminuem respostas precoces e tardias a alérgeno inalatório • Eles relaxam as vias aéreas na asma leve, mas são menos eficazes que o salbut, com o qual sua ação é aditiva • Os lucastes são administrados por via oral, em combinação com um corticosteroide inalatório, e geralmente não são bem tolerados; os efeitos adversos consistem principalmente em cefaleia e distúrbios gastrointestinais. • Farmacocinética: Alimentos impedem a absorção do zafirlucaste. Os fármacos são extensamente biotransformados no fígado • São potentes broncoconstritores e de ação prolongada • Sensibilizam a outros agonistas broncoconstritores • Vasodilatam • Aumentam a permeabilidade vascular e o edema de vias aéreas • Aumentam a produção de muco • Promovem o recrutamento de eosinófilos para as vias aéreas • Estimulam a proliferação do musculo liso das vias aéreas ► Antagonistas dos receptores muscarínicos: Os anticolinérgicos bloqueiam a contração dos músculos lisos das vias aéreas e a secreção de muco mediadas pelo vago. Por inalação, o brometo de ipratrópio e o brometo de tiotrópio (principal exemplo da classe), um derivado quaternário da atropina. • Não é recomendado para uso de rotina no broncospasmo agudo da asma (inicio de ação mais lento do que os BACAs) o O efeito máximo ocorre depois de aproximadamente 30 minutos após a inalação e persiste por 3-5 horas. • Oferece vantagem adicional quando é usado com um BACA para o tratamento de crises agudas de asma em pronto-socorros. • Mecanismo de ação: antagonistas competitivos da ligação de ACh a receptores colinérgicos muscarínicos o Atuam bloqueando os efeitos da ACh endógena em receptores muscarínicos, incluindo o efeito constritor direto sobre o músculo liso brônquico mediado através da via M3-Gq-PLC-IP3-Ca2+ o Os efeitos da ACh sobre o sistema respiratório: broncoconstrição + aumento da secreção traqueobrônquica e estimulação dos quimiorreceptores da carótida e corpos aórticos o Não seletivo ▪ é possível que seu bloqueio de autorreceptores M2 nos nervos colinérgicos aumente a liberação de acetilcolina e reduza a eficácia de seu antagonismo nos receptores M3 na musculatura lisa. Não é particularmente eficiente contra estímulos por alérgenos, mas inibe o aumento da secreção de muco que ocorre na asma e pode aumentar a depuração mucociliar das secreções brônquicas. • Não tem efeito sobre a fase inflamatória tardia da asma. • Pode ser usado juntamente com agonistas β2- adrenérgicos • É administrado em aerossol por inalação. Compostos de nitrogênio quaternário são altamente polar e não é bem absorvido na circulação, limitando os efeitos sistêmicos. • Uso clínico: Em pacientes asmáticos, os fármacos anticolinérgicos são menos eficazes como broncodilatadores que os β2-agonistas e oferecem proteção menos eficaz contra estímulos provocatórios brônquicos o Inaladores de combinação de um anticolinérgico e um β2-agonista, como ipratrópio/salbutamol são populares, especialmente entre os pacientes com DPOC • Efeitos adversos: geralmente são bem tolerados o Efeitos colaterais sistêmicos são incomuns porque há pouca absorção sistêmica o Os efeitos adversos, como xerostomia e gosto amargo, são relacionados com os efeitos anticolinérgicos locais. ▪ O brometo de ipratrópio nebulizado pode precipitar glaucoma em pacientes idosos devido a um efeito direto do fármaco nebulizado no olho. Isto pode ser evitado através de nebulização com um bocal, em vez de uma máscara facial. o Tiotrópio: secura na boca em 10 a 15% dos pacientes INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS ASSOCIADOS OU NÃO AOS PROCINÉTICOS (DOMPERIDOMA E BROMOPRIDA) ► IBPs: inibidores da bomba de prótons H+/K+-adenosina trifosfatase Os IBPs se ligam à enzima H+/K+-ATPase (bomba de prótons) e suprimem a secreção de íons hidrogênio para o lúmen gástrico. A bomba de prótons ligada à membrana é a etapa final da secreção de ácido gástrico. Os IBPs disponíveis incluem dexlansoprazol, esomeprazol, lansoprazol, omeprazol, pantoprazol e rabeprazol. Omeprazol, esomeprazol e lansoprazol estão disponíveis em formulações de venda livre para tratamento de curto prazo da DRGE. AGENTES PROCINÉTICOS (ESTIMULADORES DA CONTRATILIDADE GI) Os agentes procinéticos são fármacos que estimulam a motilidade GI coordenada e favorecem o trânsito do bolo alimentar no trato GI. A maioria dos fármacos procinéticos úteis na clínica atua “antes” da ACh, nos locais receptores do próprio neurônio motor, ou ainda mais indiretamente nos neurônios ou células não neuroniais situados uma ou duas posições distantes dele. Esses fármacos parecem estimular a liberação do neurotransmissor excitatório na junção neuromuscular, sem interferir no padrão e no ritmo fisiológico normal da motilidade. ► Antagonistas dos receptores da dopamina (DA) o Exemplos: domperidona e metoclopramida (mecanismo semelhante a bromoprida) o A DA está presente em altas quantidades TGI e produz vários efeitos inibitórios na motilidade, como: ▪ redução das pressões do esfincter esofágico inferior e intragástricas, efeitos que resultam aparentemente da supressão da liberação da ACh pelos neurônios motores mioentéricos e são mediados por receptores dopaminérgicos D2. ▪ Aliviar as náuseas e os vômitos por meio do antagonismo aos receptores dopaminérgicos na zona de gatilho dos quimiorreceptores (ZGQ) o Mecanismo de ação: Antagonizando o efeito inibidor da DA nos neurônios motores mioentéricos A asma pode ser oriunda dos sintomas atípicos advindos de manifestações extraintestinais da Doença do Refluxo Gastresofágico (DRGE). Três principais mecanismos apontam o RGE como desencadeante de asma (Araujo et al., 2005) 1. reflexo vagal, em que nervos aferentes submetidos a um estímulo (ácidoou substâncias irritantes do refluxato) geram potenciais de ação que resultam em liberação periférica de neuropeptídios pró-inflamatórios que, presentes na mucosa esofágica e pulmonar, são capazes de promover inflamação da mucosa da via aérea e contração do músculo liso peribrônquico; a. Tono vagal exacerbado, decorrente da estimulação dos receptores do esôfago inferior pelo refluxo ácido. (resumo) 2. refluxo levando a hiper-reatividade brônquica, devido à inflamação brônquica causada pelo mecanismo neural descrito; a. Intensificação da hiper-responsividade brônquica (resumo) b. hiper-responsividade brônquica não específica à provocação pela metacolina, histamina ou hiperventilação isocápnica que se encontra exacerbada em pacientes com RAGE. Além disso, a estimulação ácida esofagiana é capaz de agravar a asma por aumento da responsividade broncomotora a outro estímulo, por interação dos receptores esofagianos ácido sensíveis com o tono colinérgico brônquico através de um reflexo mediado pelo vago. 3. microaspiração do ácido para laringe e vias aéreas superiores. a. Microaspiração de ácido, determinando broncoconstrição e edema da mucosa Nesse caso, os inibidores da bomba de prótons (IBPs) são mais utilizados para tratamento, podendo ser associado ou não a um procinético. A associação de um agente procinético e um IBP ja demonstrou efetividade maior do que a monoterapia no tratamento da DRGE (BILLI, 2012) Em pacientes asmáticos com DRGE após tratamento com um IBP e um procinético (ex: bromoprida e domperidona) houve redução significativa nos sintomas diurnos de asma (Carvalhaes et al., 2011). Os inibidores da bomba de prótons têm sido utilizados com algum sucesso em certos pacientes com esses distúrbios, geralmente em doses mais altas e por perío dos mais longos, em comparação com os pacientes que apresentam sintomas mais clássicos de DRGE.
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