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formação 02 - 25 02 2021 - grupo

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A CRIANÇA E A DEFICIÊNCIA: 
CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
2º encontro 
Formação em Educação Especial para auxiliares de sala
25/02/2021
Situações excludentes que acontecem e não causam mais espanto.
EXCLUSÃO NATURALIZADA
MACROINCLUSÃO E MICROEXCLUSÃO
Macroinclusão: inclusão em âmbito maior.
Microexclusão: exclusão cotidiana.
(Faustino et al, 2018)
A sociedade categoriza as pessoas
Os ambientes sociais estabelecem os encontros entre as categorias de pessoas
Nasce o processo de Estigma. O Estigma não é uma coisa, é um processo, uma relação entre atributo e estereótipo. (Goffman, 2004)
ESTIGMA
O fato de um grupo se sentir “o outro” ou então menos capacitado em relação a outro grupo (por meio de critérios socialmente atribuídos) contribui para sua percepção de inferioridade, ou self (MEAD, apud GOLDENBERG, 2004). 
Relato de Mirela: a estudante tem treze anos de idade e possui Deficiência Intelectual Grave. Frequenta o sétimo ano do ensino fundamental. Mirela lembra de uma situação em que as colegas a desprezaram pelo fato de frequentar o Centro de Atendimento Especializado no município (APAE): porque eu vou na APAE, me chamam de deficiente, daí como as meninas são muito atentadas, elas aproveitam que os deficientes não tem possibilidade de se defender.
SELF
ESTIGMA – CAPACITISMO - SELF
EU NÃO SOU BOM...
CAPACITISMO
Barboza (2019): crianças da educação infantil, quando estão diante de uma brincadeira de faz-de-conta, delegam às crianças com deficiência papeis submissos e que exigem cuidados constantes. 
Confirma-se assim, uma realidade em que as relações de inferioridade às pessoas com deficiência histórica e socialmente construída se mostram ainda nos dias de hoje. 
“Concepção presente no social que lê as pessoas com deficiência como não iguais, menos aptas ou não capazes para gerir a próprias vidas” (DIAS, 2013, p. 2). O capacitismo considera as pessoas com deficiência como incapazes (MELLO, 2016) e, por isso, necessitam de uma tutela.
Ele é tão inteligente que nem parece cego!
CAPACITISMO + ESTIGMA + SELF = DISTANCIAMENTO (excerto retirado da dissertação de mestrado de Ariane)
	Mirela fotografou a sala de aula como o espaço de que mais gostava, “porque ali tem alguns amigos de que eu gosto”, e também como o lugar de que menos gostava:
PESQUISADORA: A tua sala é um lugar de que você gosta ou não gosta? 
MIRELA: Gosto e não gosto. 
PESQUISADORA: Por quê? 
MIRELA: Porque ali tem alguns amigos de que eu gosto e de que eu não gosto. 
PESQUISADORA: Porque você não gosta de alguns? 
MIRELA: Porque alguns sentem nojo de mim. 
PESQUISADORA: Por quê? 
MIRELA: Eu sei lá. 
PESQUISADORA: Mas então como você sabe que eles sentem nojo? 
MIRELA: Porque eles nem ficam perto de mim. 
PESQUISADORA: Mas porque você acha que eles sentem nojo de você? 
MIRELA: [não respondeu]. 
BARREIRAS (LBI)
a) barreiras urbanísticas 
b) barreiras arquitetônicas 
c) barreiras nos transportes
d) barreiras nas comunicações e na informação
e) barreiras atitudinais 
f) barreiras tecnológicas
IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre outros, classificadas em:
BARREIRAS ATITUDINAIS
O estigma e a autoimagem atribuídos aos estudantes com deficiência são considerados, por exemplo, como barreiras atitudinais no cotidiano (RIEGEL, 2020). 
ACESSIBILIDADE
I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida;
TECNOLOGIAS ASSISTIVAS
III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social;
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CONFERINDO
Games Autista, por sua vez, declarou que possuía um problema. Quando escrevia as palavras, passava o lápis ou a caneta várias vezes por cima de alguma letra até ficar perfeita: 
GAMES AUTISTA: Isso é um problema meu, eu não consigo parar. Tem as vezes que eu faço isso, tem as vezes que eu não faço, eu escrevo sem passar por cima. 
PESQUISADORA: Mas quando você passa por cima várias vezes, você lembra que não deve fazer isso? 
GAMES AUTISTA: Às vezes eu esqueço. 
PESQUISADORA: E você acha que isso é um problema? Por quê?
 GAMES AUTISTA: Sim, porque a minha letra vai ficar muito feia, vai passar do outro lado do caderno, porque eu aperto demais. E também quando tem atividades que eu faço, mas nem todas eu termino na escola, algumas eu tenho que fazer em casa. 
1. MODELO BIOMÉDICO DA DEFICIÊNCIA
2. MODELO SOCIAL DA DEFICIÊNCIA
3. SELF
4. DESENHO UNIVERSAL
Diniz (2007, 2009) declara que, no Brasil, a deficiência ainda está enfatizada na área biomédica, ou seja, na deficiência/lesão da pessoa, e o desafio está justamente em olhar para ela como estilo de vida. O estudante Games Autista concebeu sua própria situação sob o viés clínico: seu problema.
EU NÃO SOU BOM!
SELF
OFÍCIO DE ALUNO
BARREIRA
MACROINCLUSÃO
Mead (apud GOLDENBERG, 2004) diz que o indivíduo vê a si mesmo através das definições feitas por outros. A essa manifestação o autor chama self, que caracteriza a interação do indivíduo consigo mesmo da mesma forma com que interage com os outros. Os critérios que o estudante Kauã atribui a si mesmo o colocam na condição de inferiorizado. Talento indica uma aptidão que ele considera não possuir. 
BARREIRA ARQUITETÔNICA
	Quando Pimentinha fotografou o banheiro como um dos lugares de que menos gostava, justificou sua escolha da seguinte maneira: 
	PESQUISADORA: Por que você não gosta do banheiro? 
	PIMENTINHA: Porque tem gente mais gordinha que não consegue entrar, e aí tem que usar o último banheiro. E o último banheiro – sabe, aquele grandão? – geralmente está lotado de gente, e tem gente que não dá licença pra gente ir. Eu falo isso porque eu sou gordinha, eu não consigo entrar no banheiro, dependendo do banheiro.
BARREIRA NOS TRANSPORTES
BARREIRA ATITUDINAIS
BARREIRA TECNOLÓGICAS
A
B
C
D
SOBRE O CONCEITO DE DEFICIÊNCIA
“[...] a deficiência resulta da interação entre pessoas com deficiência e as barreiras devidas às atitudes e ao ambiente” (BRASIL, 2009).
 ( )	 A definição buscou não mais restringir a pessoa à 	deficiência, mas estabelecer relação com o contexto 	e as influências nele contidas;
 ( )	 O conceito restringe a pessoa à deficiência;
 ( ) Nessa perspectiva, a inclusão social passa a ser uma 	questão de toda a sociedade.
	
	MIRELA: Provocavam, sim, porque eu vou na Apae [Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais], me chamam de deficiente. Daí, como as meninas são muito atentadas, elas aproveitam que os deficientes não têm possibilidade de se defender.
Para fazer...
ALVÍSSARAS
Hebdomadário
Faça um texto descritivo sobre sua rotina hebdomadário. 
Faça um desenho sobre sua rotina Hebdomadário
O que é Hebdomadário?
Semanal.
Exemplo: Participar daquelas reuniões exaustivas era o seu sacrifício hebdomadário.
REFERÊNCIAS
ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Trad. Dora Flasksman. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981.
BARBOZA, Adriana Maria Ramos. O Brincar da criança com deficiência física em processo de inclusão na Educação Infantil. 2019. 315 f. Dissertação de Mestrado em Educação. Universidade Federal de Goiás. Faculdade de Educação (FE). Goiânia, 2019.
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BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução nº 4, de 2 de outubro de 2009. Institui diretrizes operacionais para o atendimento educacional especializado na educação básica, modalidade educação especial. Diário Oficial da União: Brasília, DF, Seção 1, p. 17, 5 de out. 2009. Disponível em: encurtador.com.br/ckVW7. Acesso em: 20 set. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008. Não paginado. Disponível em: https://bit.ly/3fAyK6e. Acesso em set. 2019.
BRASIL. Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial da União: Brasília, DF, Seção 1, p. 2, 7 jul. 2015. Disponível em: encurtador.com.br/bcfhs. Acesso em: 24 nov. 2019.
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