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Elson Ferreira Costa Edilson Coelho Sampaio Organizadores DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Evidências Científicas e Considerações Teóricas-Práticas 1ª Edição 2020 Copyright© 2020 por Editora Científica Digital Copyright da Edição © 2020 Editora Científica Digital Copyright do Texto © 2020 Os Autores EDITORA CIENTÍFICA DIGITAL LTDA Guarujá - São Paulo - Brasil www.editoracientifica.org - contato@editoracientifica.org O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores. Permitido o download e compartilhamento desde que os créditos sejam atribuídos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Todo o conteúdo deste livro está licenciado sob uma Licença de Atribuição Creative Commons. Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0). CORPO EDITORIAL Editor Chefe Reinaldo Cardoso Editor Executivo João Batista Quintela Editor Científico Prof. Dr. Robson José de Oliveira Assistentes Editoriais Elielson Ramos Jr. Érica Braga Freire Erick Braga Freire Bianca Moreira Sandra Cardoso Arte e Diagramação Andrewick França Bruno Gogolla Bibliotecário Maurício Amormino Júnior - CRB6/2422 Jurídico Dr. Alandelon Cardoso Lima - OAB/SP-307852 CONSELHO EDITORIAL Prof. Dr. Robson José de Oliveira - Universidade Federal do Piauí Prof. Dr. Carlos Alberto Martins Cordeiro - Universidade Federal do Pará Prof. Me. Ernane Rosa Martins - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás Prof. Dr. Rossano Sartori Dal Molin - FSG Centro Universitário Prof. Dr. Carlos Alexandre Oelke - Universidade Federal do Pampa Prof. Me. Domingos Bombo Damião - Universidade Agostinho Neto, Angola Prof. Dr. Edilson Coelho Sampaio - Universidade da Amazônia Prof. Dr. Elson Ferreira Costa - Universidade do Estado Do Pará Prof. Me. Reinaldo Eduardo da Silva Sale - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará Prof. Me. Patrício Francisco da Silva - Faculdade Pitágoras de Imperatriz Prof. Me. Hudson Wallença Oliveira e Sousa - Instituto Nordeste de Educação Superior e Pós-Graduação Profª. Ma. Auristela Correa Castro - Universidade Federal do Oeste do Pará Profª. Drª. Dalízia Amaral Cruz - Universidade Federal do Pará Profª. Ma. Susana Martins Jorge - Ferreira - Universidade de Évora, Portugal Prof. Dr. Fabricio Gomes Gonçalves - Universidade Federal do Espírito Santo Prof. Me. Erival Gonçalves Prata - Universidade Federal do Pará Prof. Me. Gevair Campos - Faculdade CNEC Unaí Prof. Esp. Flávio Aparecido de Almeida - Faculdade Unida de Vitória Prof. Me. Mauro Vinicius Dutra Girão - Centro Universitário Inta Prof. Esp. Clóvis Luciano Giacomet - Universidade Federal do Amapá Profª. Drª. Giovanna Faria de Moraes - Universidade Federal de Uberlândia Profª. Drª. Jocasta Lerner - Universidade Estadual do Centro-Oeste Prof. Dr. André Cutrim Carvalho - Universidade Federal do Pará Prof. Esp. Dennis Soares Leite - Universidade de São Paulo Profª. Drª. Silvani Verruck - Universidade Federal de Santa Catarina Prof. Me. Osvaldo Contador Junior - Faculdade de Tecnologia de Jahu Profª. Drª. Claudia Maria Rinhel Silva - Universidade Paulista Profª. Drª. Silvana Lima Vieira - Universidade do Estado da Bahia Profª. Drª. Cristina Berger Fadel - Universidade Estadual de Ponta Grossa Profª. Ma. Graciete Barros Silva - Universidade Estadual de Roraima Prof. Dr. Carlos Roberto de Lima - Universidade Federal de Campina Grande CONSELHO EDITORIAL Prof. Dr. Júlio Ribeiro - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Prof. Dr. Wescley Viana Evangelista - Universidade do Estado de Mato Grosso Carlos Alberto Reyes Maldonado Prof. Dr. Cristiano Souza Marins - Universidade Federal Fluminense Prof. Me. Marcelo da Fonseca Ferreira da Silva - Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória Prof. Dr. Daniel Luciano Gevehr - Faculdades Integradas de Taquara Prof. Me. Silvio Almeida Junior - Universidade de Franca Profª. Ma. Juliana Campos Pinheiro - Universidade Federal do Rio Grande do Norte Prof. Dr. Raimundo Nonato F. do Nascimento - Universidade Federal do Piauí Prof. Dr. Iramirton Figuerêdo Moreira - Universidade federal de Alagoas Profª. Dra. Maria Cristina Zago - Faculdade de Ciências Administrativas e Contábeis de Atibaia Profª. Dra. Gracielle Teodora da Costa Pinto Coelho - Centro Universitário de Sete Lagoas Profª. Ma. Vera Lúcia Ferreira - Centro Universitário de Sete Lagoas Profª. Ma. Glória Maria de França - Universidade Federal do Rio Grande do Norte Profª. Dra. Carla da Silva Sousa - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano SUMÁRIO CAPÍTULO 01 .......................................................................................................................................... 15 A AUTORIA ENUNCIATIVA DAS CRIANÇAS DURANTE A APROPRIAÇÃO CULTURAL MEDIADA PELA LINGUAGEM NO JOGO Santiago Daniel Hernandez-Piloto Ramos CAPÍTULO 02 .......................................................................................................................................... 31 A CONCEPÇÃO DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA CRIANÇA SOB A VISÃO DO PROFISSIONAL E DO CUIDADOR: MAPEAMENTO BIBLIOGRÁFICO EM PERIÓDICOS NACIONAIS DE 2006 A 2010 Lucieny Almohalha; Tássia Ribeiro Roza CAPÍTULO 03 .......................................................................................................................................... 49 A INTERFACE DA PSICOLOGIA COM A SURDEZ: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA Gláucio Silva Camargos; Laszlo Antônio Ávila CAPÍTULO 04 .......................................................................................................................................... 67 A ELIMINAÇÃO DAS DIFERENÇAS ENTRE OS SEXOS: UMA LEITURA PSICANALÍTICA Nádia Laguárdia de Lima; Adilson Pereira dos Santos; Alice Oliveira Rezende; Carolina Marra Melo; Fabiana Cerqueira; Ronaldo Sales de Araújo CAPÍTULO 05 .......................................................................................................................................... 86 A FREQUENCIA E IMPORTÂNCIA DO COMPORTAMENTO DE FICAR SOZINHO NA ADOLESCÊNCIA Márcia Regina Fumagalli Marteleto; Teresa Helena Schoen CAPÍTULO 06 ........................................................................................................................................ 100 A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO PATERNA NA PRIMEIRA INFÂNCIA: CRIANDO VÍNCULOS Diego Tadeu; Gabriele Vita; Haynna Queiroz; Vitória Terzian; Laura C. P. Maia; Pammela de Jesus CAPÍTULO 07 .........................................................................................................................................110 A INFLUÊNCIA DE HABILIDADES COGNITIVAS NA ADAPTAÇÃO SOCIAL DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA Márcia Regina Fumagalli Marteleto; Brasília Maria Chiari; Jacy Perissinoto CAPÍTULO 08 ........................................................................................................................................ 124 ACIDENTES NA PRIMEIRA INFÂNCIA: DIAGNÓSTICO IDENTIFICANDO O CENÁRIO NACIONAL E AS PRINCIPAIS ORIGENS QUE LEVAM AOS ACIDENTES NA PRIMEIRA INFÂNCIA Raissa Rangel Tavares; Murialdo Gasparet; Mauricio Soares do Vale SUMÁRIO CAPÍTULO 09 ........................................................................................................................................ 138 AÇÕES COMUNITÁRIAS NA MELHORIA DE ACESSO A SERVIÇOS DE SAÚDE INFANTIL: RELATO DE EXPERIÊNCIA Bruna de Souza Diógenes; Eder Ferreira de Arruda; Isabela Nicoli de Araujo Lopes; Jéssica Amorim de Carvalho Nery; Yara Martins Gurgel CAPÍTULO 10 ........................................................................................................................................ 154 ALTERAÇÕES OFTALMOLÓGICAS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 1 EM UM HOSPITAL FILANTRÓPICO DE VITÓRIA - ES Yasmin Duarte Acha Moysés; JéssicaRibeiro Zanotti; Renato Vieira Gomes; Christina Cruz Hegner; Bruno de Freitas Valbon CAPÍTULO 11 ........................................................................................................................................ 171 ANÁLISE DA GRAVIDADE CLÍNICA DE PACIENTES ADMITIDOS NA EMERGÊNCIA PEDIÁTRICA DE UM HOSPITAL DE REDE PÚBLICA Davi Santana Sousa; Ana Beatriz Santos Viana; Raquel da Silva; Aida Carla Santana de Melo Costa CAPÍTULO 12 ........................................................................................................................................ 186 ANÁLISE DO PERFIL CLÍNICO E LABORATORIAL DOS PACIENTES DIABÉTICOS PEDIÁTRICOS EM TRATAMENTO EM HOSPITAL FILANTRÓPICO DE VITÓRIA Aminy Rampinelli Loureiro; Larissa Fiorotti Daleprane; Luiza Souza Cani CAPÍTULO 13 ........................................................................................................................................ 202 ANEMIA FERROPRIVA EM ADOLESCENTES AO FINAL DA GESTAÇÃO: AMAZÔNIA OCIDENTAL BRASILEIRA, ACRE Lilian Uchôa Lima; Maria Taynaria Correia Martins; Maria Tamires Lucas dos Santos; Cícero Francalino da Rocha; Sneyla Ferreira Teles Souza; Kleynianne Medeiros de Mendonça Costa; Maria José Francalino da Rocha Pereira CAPÍTULO 14 ........................................................................................................................................ 213 AS INFLUÊNCIAS DO CUIDAR NOS PAPÉIS OCUPACIONAIS DE PAIS DE CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL Alessandra Cristina de Souza Conceição; Brenda Cunha Freitas; Letícia Mercedes Pinto Costa; Edilson Coelho Sampaio; Elson Ferreira Costa; Luísa Sousa Monteiro Oliveira; Danusa Eny Falcão Batista CAPÍTULO 15 ........................................................................................................................................ 227 AS PRINCIPAIS ALTERAÇÕES SENSÓRIO-MOTORAS E A ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA Fabiana Sarilho de Mendonça; Mariana Callil Voos; Tarita Inoue Oliveira Garcia; Wania Christina Jorge SUMÁRIO CAPÍTULO 16 ........................................................................................................................................ 253 ASMA, ANTIASMÁTICOS E ANOMALIAS CONGÊNITAS Valdemir Pereira de Sousa; Leticia Admiral Louzada; Gabriela Lira Devens; Maria do Carmo de Souza Rodrigues; Aline Ximenes Fragoso; Maria Regina Galvêas de Oliveira Rebouças; Andrea Lube Antunes de S.Thiago Pereira; Iuri Drumond Louro; Eliete Rabbi Bortolini; Flavia Imbroisi Valle Errera CAPÍTULO 17 ........................................................................................................................................ 276 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AOS CUIDADOS COM RECÉM-NASCIDOS GEMELARES PREMATUROS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Lilian Ravena Ferreira Evaristo; Joel Marrocos Fernandes Filho; Gabriela Miranda Andrade; Cristina Costa Bessa; Aline de Souza Pereira CAPÍTULO 18 ........................................................................................................................................ 284 AUTISMO E SEUS (DES)ENLACES EM NARRATIVAS DA SÉRIE “ATYPICAL”: REFLEXÕES PSICANALÍTICAS Tânia de Miranda Santos; Dorivaldo Pantoja Borges Junior; Samara Lima; Julio Fernandes Costa Passos; Arina Marques Lebrego CAPÍTULO 19 ........................................................................................................................................ 308 AUTOLESÃO NÃO SUICIDA NA ADOLESCÊNCIA Tânia Mara Martinez da Silva; Teresa Helena Schoen CAPÍTULO 20 ........................................................................................................................................ 325 AVALIAÇÃO DAS SUJIDADES ENCONTRADAS EM AMOSTRAS DE LEITE HUMANO ORDENHADO PROCESSADAS EM UM BANCO DE LEITE Pâmela Suéllen Ferraz Garcia Siqueira CAPÍTULO 21 ........................................................................................................................................ 339 CARACTERIZAÇÃO DE HABILIDADES COGNITIVAS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM FISSURA PALATINA Leidiana Peixoto Ribeiro Domingues; Márcia Regina Fumagalli Marteleto CAPÍTULO 22 ........................................................................................................................................ 352 CARIÓTIPO COMPLEXO EM ADOLESCENTE COM LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA REFRATÁRIA Maisa Dias Pedrotti; Leonardo Assad Lomonaco SUMÁRIO CAPÍTULO 23 ........................................................................................................................................ 359 CESARIANA EM ADOLESCENTES SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO DE ROBSON: REGIÃO DE ATENÇÃO À SAÚDE JURUÁ TARAUACÁ/ENVIRA, ACRE Maria José Francalino da Rocha Pereira; Robson José Lima da Silva Filho; Carla Evangelista de Araújo; Luciana Braga da Silva; Suelen Cardoso da Silveira de Souza; Cícero Francalino da Rocha; Aline Fernanda Silva Sampaio CAPÍTULO 24 ........................................................................................................................................ 377 CESARIANA NA REGIÃO DE ATENÇÃO À SAÚDE BAIXO ACRE/PURUS, ACRE José Ítalo Menezes de Almeida; Josinaldo Lacerda Lima; Simone Silva Souza; Suelen Cardoso da Silveira de Souza; Ana Paula Ramos; Luciana Braga da Silva; Cícero Francalino da Rocha; Aline Fernanda Sampaio; Maria José Francalino da Rocha Pereira CAPÍTULO 25 ........................................................................................................................................ 392 COMPORTAMENTO DA ATIVIDADE FÍSICA NAS REDES DE ENSINO Josivana Pontes dos Santos; Caroline Lopes Vieira; Luciana Botelho Praça Melo; Marcelo Tiago Balthazar Corrêa; Daniel Delani; Luis Gonzaga de Oliveira Gonçalves; Kátia Fernanda Alves Moreira; Paulo Renato Vitória Calheiros; Orivaldo Florêncio de Souza; Edson dos Santos Farias CAPÍTULO 26 ........................................................................................................................................ 409 CONHECIMENTO DE ADOLESCENTES SOBRE MÉTODOS CONTRACEPTIVOS Maria José Francalino da Rocha Pereira; Cícero Francalino da Rocha; Sneyla Ferreira Teles Souza; Maria Tamires Lucas dos Santos; Kleynianne Medeiros de Mendonça Costa; Néia Schor CAPÍTULO 27 ........................................................................................................................................ 429 CONHECIMENTO E USO PRÉVIO DE CONTRACEPTIVOS ENTRE ADOLESCENTES GRÁVIDAS DA AMAZÔNIA Maria do Socorro Vilanova Pyles; Rosangêla Maria Rodrigues Oliveira; Maria Tamires Lucas dos Santos; Kleynianne Medeiros de Mendonça Costa CAPÍTULO 28 ........................................................................................................................................ 442 CONHECIMENTO MATERNO SOBRE A IMPORTÂNCIA DO ALEITAMENTO PARA O PREMATURO Cristiane de Oliveira Negrão; Maria Cristina Porto e Silva CAPÍTULO 29 ........................................................................................................................................ 460 CONSEQUÊNCIAS DO USO DE ÁLCOOL E CIGARRO SOBRE O BINÔMIO MÃE- FETO Alesandro Lima Rodrigues; Denisa Rosa de Souza; Jovane de Lima Borges SUMÁRIO CAPÍTULO 30 ........................................................................................................................................ 470 COR DA PELE E SUBJETIVIDADE: RACISMO, SAÚDE E INFÂNCIA Kenia Soares Maia; Maria Helena Navas Zamora CAPÍTULO 31 ........................................................................................................................................ 486 DAILY MATERNAL SEPARATIONS DURING STRESS HYPORESPONSIVE PERIOD DECREASE THE THRESHOLDS OF PANIC-LIKE BEHAVIORS TO ELECTRICAL STIMULATION OF THE DORSAL PERIAQUEDUCTAL GRAY OF THE ADULT RAT Ana Cristina Borges-Aguiar; Luana Zanoni Schauffer; Edo Ronald de Kloet; Luiz Carlos Schenberg CAPÍTULO 32 ........................................................................................................................................521 DESENVOLVIMENTO INFANTIL, PSICOMOTRICIDADE E EDUCAÇÃO FÍSICA: UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS Maria de Fátima Vasconcelos; Pedro Humberto Campos CAPÍTULO 33 ........................................................................................................................................ 531 DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR: PANORAMA SOBRE AS PRINCIPAIS TEMÁTICAS DE ESTUDO A PARTIR DA ANÁLISE DE GRAFOS Elson Ferreira Costa; Edilson Coelho Sampaio CAPÍTULO 34 ........................................................................................................................................ 544 DIAGNÓSTICO PRECOCE DE DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: ESTUDO DE CASO Teresa Helena Schoen; Aline Hanazumi; Heloisa Galbiatti Abreu; Márcia Regina Fumagalli Marteleto CAPÍTULO 35 ........................................................................................................................................ 559 EFEITOS DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E NA APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS COM HISTÓRICO DE INFECÇÕES HELMÍNTICAS Luciana Netto CAPÍTULO 36 ........................................................................................................................................ 593 EXCESSO DE PESO E PERFIL LIPIDICO EM ESCOLARES DE VITÓRIA - ES Patrícia Casagrande Dias de Almeida; Janine Pereira da Silva; Gustavo Carreiro Pinasco; Kátia Valéria Manhabusque; Elaine Guedes Gonçalves de Oliveira; Juliana Peterle Barbosa; Lucas Merchak Vieira; Ana Carolina Merchak Vieira; Valmin Ramos da Silva; Joel Alves Lamounier SUMÁRIO CAPÍTULO 37 ........................................................................................................................................ 603 GASTROSQUISE: INCIDÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS Rafaela Martins Togneri; Hector Yuri Conti Wanderley; Maria do Carmo de Souza Rodrigues; Ingrid Hellen André Barreto; Renata Cristina Moreira Queiroz; Marya Duarte Pagotti; Aline Ximenes Fragoso; Regina Galvêas Oliveira Rebouças; Andrea Lübe Antunes de S. Thiago Pereira; Eliete Rabbi Bortolini; Flávia Imbroisi Valle Errera CAPÍTULO 38 ........................................................................................................................................ 619 HORMÔNIO DE CRESCIMENTO LEVANDO À CARDIOMIOPATIA HIPERTRÓFICA Mariana Chaves Penteado; Deborah de Oliveira Togneri Pastro; Bruno Gemilaki Dal Poz; Victor Yuri Pereira Damasceno; Manoela Sandri Schafer; Melissa Chaves Vieira Ribera; Silvane da Cruz Chaves Rodrigues; Ricardo Batista Ribera; Danilo Chaves Rodrigues CAPÍTULO 39 ........................................................................................................................................ 628 INCIDÊNCIA DE BULLYING EM ADOLESCENTES E SUA AUTOPERCEPÇÃO SOBRE O PAPEL QUE DESEMPENHAM Deborah Zacarias Guedes; Teresa Helena Schoen-Ferreira; Márcia Regina Fumagalli Marteleto; Kopelman Benjamin Israel CAPÍTULO 40 ........................................................................................................................................ 638 MEU FILHO TEM MEDO: A INCIDÊNCIA DESTA EMOÇÃO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES Márcia Regina Fumagalli Marteleto; Teresa Helena Schoen CAPÍTULO 41 ........................................................................................................................................ 651 NECESSIDADE DE APOIO E SUPORTE: UMA EXPERIÊNCIA COM A TERAPIA ASSISTIDA POR CAVALOS Sandra dos Santos; Teresa Helena Schoen CAPÍTULO 42 ........................................................................................................................................ 669 O FIO DA CONVERSA: PROSA COM CRIANÇAS PEQUENAS, DESENCADEANDO PROJETOS Luciana Teston Sivalle; Márcia Maria C. Ramos CAPÍTULO 43 ........................................................................................................................................ 679 O KINECT® COMO TRATAMENTO NA OSTEOPOROSE PEDIÁTRICA Darcisio Hortelan Antonio; Aline Papin Roedas da Silva; Juliana Rodrigues Sigolo; Roger Palma; Simone Cristina Chiodi Prestes; Thaisa Rino de Oliveira Freitas SUMÁRIO CAPÍTULO 44 ........................................................................................................................................ 692 PADRÃO DO USO DE TABACO POR ESTUDANTES ADOLESCENTES RESIDENTES EM MUNICÍPIO DA REGIÃO SUL DO PAÍS Queli Cristina Schutz; Adriana Barni Truccolo CAPÍTULO 45 ........................................................................................................................................ 704 PERCEPÇÕES DE CUIDADORES SOBRE ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA DA INFÂNCIA Samyra Said de Lima; Angélica Homobono Nobre; Elson Ferreira Costa; Dalízia Amaral Cruz CAPÍTULO 46 ........................................................................................................................................ 724 RELAÇÃO ENTRE A SOBRECARGA DO CUIDADOR E O NEURODESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS COM SÍNDROME CONGENITA DO ZIKA VIRUS Raphaela Barroso Guedes-Granzotti; Carla Patrícia Hernandez Alves Ribeiro César; Jamille Rodrigues Costa do Nascimento; Larissa Santos de Jesus; Barbara Cristina da Silva Rosa; Danielle Ramos Domenis; Kelly da Silva CAPÍTULO 47 ........................................................................................................................................ 739 RELAÇÃO TEÓRICA-PRÁTICA ENTRE A POLÍTICA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E OS CONCEITOS DE EDUCAÇÃO DE PAULO FREIRE: REVISÃO INTEGRATIVA Maryldes Lucena Bezerra de Oliveira; Cicero Gonçalves Pereira; Sabrina Alaide Amorim Alves; Italla Maria Pinheiro Bezerra CAPÍTULO 48 ........................................................................................................................................ 749 RELATO DE CASO: INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA EM CRIANÇA COM VÍRUS DA INFLUENZA Maria Amélia de Jesus Ramos Albuquerque; Caroline Nolasco de Melo; Teresa Cristina Maia dos Santos; Déborah de Oliveira Togneri Pastro; Gustavo Peres Valadão; Nádia Beatriz Desto; Isis Marinho França; Tayná Feltrin Dourado CAPÍTULO 49 ........................................................................................................................................ 758 RESSIGNIFICANDO A HISTÓRIA DE VIDA DE UMA CRIANÇA EM ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: RELATO DE PESQUISA Julyana Sueme Winkler Oshiro CAPÍTULO 50 ........................................................................................................................................ 781 ASPECTOS SOCIOCULTURAIS DA SAÚDE E DA DOENÇA E SUAS REPERCUSSÕES PRAGMÁTICAS Maryldes Lucena Bezerra de Oliveira; Sabrina Alaide Amorim Alves; Italla Maria Pinheiro Bezerra SUMÁRIO CAPÍTULO 51 ........................................................................................................................................ 791 SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA: CONTRIBUIÇÕES DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NA PREVENÇÃO Kamilla Kleanny Silva Sousa; Maria das Graças Teles Martins CAPÍTULO 52 ........................................................................................................................................ 805 UM PALÁCIO ABANDONADO: UM ESTUDO SOBRE A PSICOSE NA INFÂNCIA Larissa Arruda Aguiar Alverne; Karla Patrícia Holanda Martins CAPÍTULO 53 ........................................................................................................................................ 816 USO TERAPÊUTICO DE CANABINÓIDES NO TRATAMENTO DE EPILEPSIA EM CRIANÇAS NO BRASIL Luciane Aparecida Gonçalves Manganelli; Yago Soares Fonseca; Aline Prates Correia; Grasiely Faccin Borges; Wilcler Hott Vieira; Lilian Santos Lima Rocha de Araujo CAPÍTULO 54 ........................................................................................................................................ 828 VIVÊNCIAS LÚDICAS COMPARTILHADAS: AS EXPERIÊNCIAS DO BRINCAR EM PROL DA FORMAÇÃO MÉDICA Júlia Mata da Costa; Maisa Rezende Nazarethde Freitas Cardoso; Isadora Barros Previato; Patrícia Uebe Ribeiro; Flávia Magela Rezende Ferreira SOBRE OS ORGANIZADORES ............................................................................................................ 834 ÍNDICE REMISSIVO .............................................................................................................................. 835 “ 01 A autoria enunciativa das crianças durante a apropriação cultural mediada pela linguagem no jogo Santiago Daniel Hernandez-Piloto Ramos 10.37885/200901521 https://dx.doi.org/10.37885/200901521 Palavras-chave: Alfabetização, Criança, Educação Infantil. RESUMO O artigo aborda o nascimento social e a influência da literatura na apropriação cultural, mediada pela linguagem no jogo. Parte-se do uso dos gêneros textuais para a leitura de mundo das crianças bem pequenas. Pretende-se responder como as crianças, no proces- so de humanização –nascimento social- mediado pela linguagem e no uso da literatura, se apropriam da cultura e expressam nas brincadeiras os conhecimentos adquiridos na sala de aula. Objetiva-se discorrer sobre a importância da leitura como experiência psíquica e seu desdobramento na apropriação das formas culturais de escrita, usadas socialmente, de forma lúdica e sem combater a verdadeira experiência. Conclui-se que a inserção neste mundo da linguagem, por parte dos bebes e as crianças, tem lugar muito antes de entrarem no ciclo de alfabetização, entretanto compreende-la como uma forma especial permite à criança novas formas de expressão e comunicação. Desenvolvimento da Criança e do Adolescente: Evidências Científicas e Considerações Teóricas-Práticas 17 INTRODUÇÃO Este relato de experiência parte do trabalho desenvolvido, em 2015, dentro de um Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei), em Vila Nova de Colares, no município de Serra, por professoras da educação infantil no uso de diferentes gêneros textuais (BAKHTIN, 2003); (MARCUSCHI, 2008) - contos, mitos, lendas-, de acordo com o plano de ação da escola, que deveriam perpassar os projetos de sala de aula, para permitir a apropriação cultural e leitura de mundo das crianças bem pequenas do grupo 31 a partir da influencia da literatura sobre o brincar das crianças no processo de apropriação mediado pela linguagem e o jogo (JUKOVSKAIA, 1975); (ELKONIN, 1985); (VIGOTSKY, 2003b, 2007a, 2007b); (VIGOTSKI, 2007); (RAMOS; HERNANDEZ PILOTO, 2013); (RAMOS, 2014). Entende que, o desenvolvimento psíquico da criança dentro do espaço escolar dá-se tanto a partir do ato responsivo quanto responsável (BAKHTIN, 2010) do professor e a interação social com os Outros, assim como pela relação como o mundo dos objetos concretos da cultura criados historicamente pelo homem. Por tanto se pretende responder como as crianças, como leitores e autores de seu discurso, no processo de humanização (LEONTIEV, 1978), mediado pela linguagem no uso dos diferentes gêneros textuais presentes na literatura, se apropriam da cultura e expressam no brincar os conhecimentos adquiridos na sala de aula. Uma primeira hipótese do artigo parte da premissa de que o trabalho com os diferentes gêneros textuais dentro das obras literárias, como manifestação artística de representação estética da realidade objetiva durante o ato criador, é uma condição que proporciona à criança relações sociais, e produto da sua força emocional e expressiva, induze-a a par- ticipar ativamente de sua criação e desfrute em outros momentos da vida social. Vários autores, seguidores de Vigotski2, defenderam a disposição sensorial adequada para tal atividade. Já que, quanto mais ativos se desenvolvam os movimentos de apropriação por parte do corpo da criança, mais completas e intensas serão as sensações e percepção do mundo objetivo. Estas reações estéticas, as quais se referia Vigotski3 (1999), não podem ser limitadas à base sensorial. Pois precisam o emprego, por parte da criança, de numero- sos processos funcionais para o desenvolvimento das funções psíquicas superiores (FPS), que representam o substrato da consciência humana (VIGOTSKI, 2004), como: memoria, linguagem, pensamento e imaginação, e fantasia. De tal forma não se pode limitar a relação da criança bem pequena com a literatura às atividades programadas. Pois os diferentes gêneros textuais passam a ser objetos so- ciais concretos da “criação humana para atender às necessidades das interações verbais” (GONTIJO; SCHWARTZ, 2009, p. 97) e cumprem também seu papel quando as crianças os incluem nas brincadeiras e nos jogos de papeis, os empregam em seus atos de fala e nas Desenvolvimento da Criança e do Adolescente: Evidências Científicas e Considerações Teóricas-Práticas18 relações com os outros. Nestes jogos, a criança toma a inciativa e emprega-os socialmente nas interações verbais, tornando-os instrumentos de suas práticas individuais. Isto leva a refletir, que todo conhecimento humano, por mais simples que possa parecer, e se realize numa atividade concreta, e seja mediado por instrumentos, “não se limita à experiência pessoal de um indivíduo, antes se realiza na base da aquisição por ele da experiência e da pratica social” (LEONTIEV, 2004, p. 90). Pois a criança somente se torna historicamente real e culturalmente produtiva como parte do todo social, a través do Outro e dentro dele. Ou seja, para a psicologia histórico-cultural (PHC), este elemento produtor de conhecimento não é de natureza biológica, mas “humana, pois são as pessoas que realizam a mediação” (GONTIJO; SCHWARTZ, 2009, p. 12) e os empregam de acordo com suas necessidades individuais e sociais. Uma segunda hipótese que orienta este trabalho, de acordo com os estudos de Gontijo e Schwartz (2009), parte do pressuposto que é possível aprender brincando e brincar apren- dendo, pois “mediante a atividade lúdica, a criança reorganiza suas experiências, com e no mundo, incorporando elementos do contexto cultural que contribuem com o desenvolvimento da imaginação” (RAMOS, HERNANDEZ-PILOTO, p. 124), sem a qual seria “[...] impossível conhecer corretamente a realidade, [...] sem se afastar dela, das impressões isoladas ime- diatas, concretas, em que essa realidade está representada nos atos elementares de nossa consciência” (VIGOTSKI, 2003, p. 128-129). Os estudos de Ariès (1981) permitiram uma aproximação à noção de infância e a visão socialmente construída sobre elas de acordo com as formas de organização da sociedade. Assim, os professores da educação infantil, por muito tempo, cristalizaram, também, tal visão de Ser inerte, ingênuo, frágil e ausente de saberes, levando-a a ser controlada dentro dos projetos educativos que impediram sua autonomia, seu direito ao brincar, como processo de aprendizagem e desenvolvimento intelectual, social e humano. Por outro lado, este olhar adulto de superioridade combateu a infância e cassou seu direito à memoria (BENJAMIN, 2002) e a experiência verdadeira - Erfahrung - com a leitura de mundo e o processo de apropriação da linguagem escrita (GONTIJO, 1996; 2003); (VYGOTSKY, 2005) como ato de fala humana impresso. Os objetivos deste trabalho visam, a partir do relato de experiência das professoras da educação infantil de um Centro Municipal de Educação Infantil, abordar o papel da cultura no processo de humanização da criança; apresentar como se apropria da linguagem oral a criança, mediada pelos gêneros textuais, na vivencia com a obra literária como experiência psicológica; e analisar as possibilidades apresentadas no relato de experiência do trabalho com diferentes gêneros textuais com as crianças no cotidiano da Educação Infantil de forma lúdica e sem combater a verdadeira experiência nem perder por parte dos adultos “o “espirito brincalhão” Desenvolvimento da Criança e do Adolescente: Evidências Científicas e Considerações Teóricas-Práticas 19 e a “alegria” que tal vez conheceram na infância” (BENJAMIN, 1989, p. 9) no ato responsável de ensinar as “formas culturaisde escrita” (GONTIJO, 2003, p. 6) usadas socialmente. O referencial teórico que fundamenta o estudo está ancorado nos postulados da (PHC), por estudar o desenvolvimento da criança a partir das relações sociais mediadas pelos ins- trumentos elaborados historicamente pelo homem. Assim, tomando como ponto de partida o fato que “[...] a aprendizagem da criança começa muito antes da aprendizagem escolar”4 (VIGOTSKY, 2005, p. 8), ou seja, sempre carrega uma pré-história, pelo que nunca parte de zero. É possível afirmar que a inserção neste mundo da linguagem, por parte dos bebes tem lugar muito antes das crianças entrarem no espaço escolar. Entretanto os estudos na área da alfabetização possibilitam compreende-la como uma “forma especial de linguagem” que a partir de sua apropriação permite ao sujeito da fala “novas formas de expressão e comunicação” (GONTIJO; SCHWARTZ, 2009, p. 14) durante o processo de humanização. PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO DA CRIANÇA NO MUNDO NÃO NATURAL Para Vigotski e seguidores da (PHC) tudo que é humano, é um produto da vida em sociedade mediada nas relações com os Outros e na apropriação e uso dos instrumentos elaborados historicamente pelas gerações anteriores. Portanto, os instrumentos utilizados pelo homem, no seu processo de transformação e desenvolvimento humano, também são objetos sociais, elaborados no decurso das atividades coletivas. Dispor deles, para Leontiev, não significa possuí-los, mas dominá-los, ou seja, produzi-los, utiliza-los. Para este psicólogo russo “o home é um ser de natureza social, que tudo que tem de humano nele provém da sua vida em sociedade, no ceio da cultura criada pela humanidade” (LEONTIEV, 2004, p 279). Tudo que compõe a consciência do homem é produto das diversas objetivações e apropriações durante a atividade humana. Outra das vertentes que abordam o tocante à transformação do homem, e, a criação de um novo patamar, superior, da personalidade ou da conduta humana, buscam seus fundamentos nos postulados teóricos de Nietzche, mas o próprio Vigotski alertara já em seu trabalho sobre A transformação socialista do homem, em 1930, o erro desta teoria, que ignorava a diferença entre as leis de evolução biológicas [natureza] das leis de evolução histórica. Portanto não resta duvida que o “ser humano evolui e se desenvolver como um ser histórico, social” (VIGOTSKI, 1930, p. 7). Por conseguinte, a sua elevação biológica ao novo patamar se poderá objetivar ao dominar os processos gerais que dominam sua própria natureza. E assim conclui que “a transformação biológica do ho- mem não representa um pré-requisito senão que, ao invés disso, é resultado da libertação social do homem” (VIGOTSKI, 1930, p. 7). Na atividade deste novo homem, se reflete o meio social e cultural - constituído pela ação realizada historicamente por homens e mulheres ao longo de seu desenvolvimento: Desenvolvimento da Criança e do Adolescente: Evidências Científicas e Considerações Teóricas-Práticas20 ação transformadora do meio natural e ao mesmo tempo transformação do conjunto das relações sociais, entretanto, corresponde a ele a apropriação e constituição de sua indivi- dualidade. Além de ser um reflexo do social (intrapsíquico) do mundo é, ao mesmo tempo, criador de si mesmo e de seu próprio mundo subjetivo (intrapsíquico). Por isso, em suas experiências, o ser social apropria-se da cultura e o faz mediado por instrumentos e signos presentes na linguagem, carregada das influências culturais externas que determinam seu desenvolvimento qualitativo, embora essa determinação qualitativa opere no sujeito em virtude do processo ativo e criativo interno e subjetivo. De acordo com o anteriormente apresentado é possível afirmar que os bebês não nascem em um mundo “natural”, mas humano, rodeada pelas objetivações produzidas a partir da atividade e trabalho humano, e para sua entrada na história da humanidade não vasta seu nascimento físico- animal-, pois “é necessário algo como um segundo nascimento, um nascimento social” (BAKHTIN, 2004, p. 11). Nas relações sociais se apropria e passa a participar das atividades e práticas culturais. Seria errado, então, pensar que o simples fato do homem (Ser hominizado) nascer no mundo humano (não natural) o levaria em direção ao Ser humanizado. Para que essa inserção ocorra, “não é suficiente nascer e viver em sociedade, não basta o contato imediato com as objetivações humanas” (MARTINS, 2013, p. 10), mas a apropriação e sintetização do conjunto de fenômenos produzidos pela historia humana, se situando assim no cerne da construção da humanidade. Este gênero humano “expressa-se como construção histórica, como resultado da história social posta na forma de objetivações genéricas” (MARTINS, 2007, p. 89). As reações naturais, biologicamente herdadas, da criança se transformam com as intera- ções. Neste processo dialético a criança –social, espacial e temporariamente localizada- passa de produto do meio, a sujeito criador ativo, que constrói sua individualidade dentro do meio em que se encontra inserida. “Só essa localização social e histórica do homem o torna real e lhe determina o conteúdo da criação da vida e da cultura” (BAKHTIN, 2004, p. 11). Portanto a cultura como produto objetivado pelo homem é parte da natureza humana a ser apropriada para seu desenvolvimento e constituição como Ser humanizado e desenvolvido culturalmente. Este processo evidencia uma transformação qualitativa superior de um Ser natural (biológico), que já nasce inserido na cotidianidade, em um Ser cultural (humanizado), não desde o postu- lado nietzchiano, mas da abordagem histórico-cultural. Assim, o desenvolvimento cultural da criança estará em estreita relação com o desenvolvimento de sua consciência, e sua máxima humanização “pressupõe a apropriação de formas elevadas acimada vida cotidiana, e, nessa elevação, a forma escolar exerce um papel insubstituível” (MARTINS, 2006, p, 53). De acordo com Pino (2000) durante a apropriação do saber sistematizado e construído historicamente pelo homem, e do desenvolvimento cultural, as funções biológicas adquirem Desenvolvimento da Criança e do Adolescente: Evidências Científicas e Considerações Teóricas-Práticas 21 novas formas qualitativas de existência na consciência da criança. O salto qualitativo no desenvolvimento do Ser criança humanizado, como para Bakhtin (2004), “implica um novo nascimento, o cultural, uma vez que só o nascimento biológico não dá conta da emergência dessas funções definidoras do humano” (PINO, 2005, p. 47). Vigotski (1997) conceitua o desenvolvimento da criança como um processo dialético de natureza cultura, onde “a natu- reza transforma-se em cultura, sem perder suas caraterísticas, e a cultura materializar-se em natureza constitui um paradoxo que só o caráter simbólico da cultura pode desvendar” (PINO, 2005, p. 53). Este nascimento cultural ao qual Angel Pino faz menção constitui o processo de propagação das (FPS) por meio de práticas sociais e não biológicas, como as elementares, durante este desenvolvimento cultural a criança apropria-se das significações e sentidos atribuídos pela humanidade aos objetos e à natureza. Entretanto como é possível a humanização da criança e seu pleno desenvolvimento cultural se lhe é negado o acesso aos bens materiais – portadores de significações – produzidos pelos homens? Apoiado em Marx, Vigotski defende o papel central da educação na “transformação do homem, no percurso de formação [social] consciente de novas gerações, a base mesma [forma básica] para transformar o tipo de humano [histórico] concreto” (VIGOTSKI, 1930, p. 6). Este Ser criança-hominizada torna-se Ser Social-Cultural se apropriando da humanidade produzida historicamente, e a ela não negada nas relações sociais, pois o individuo humano não elabora seu conhecimento individualmente, mas nas relações dialógicas com os Outros, se apropriando do saber historicamente produzido e socialmente existente e compartilhado nas relaçõessociais pelas diferentes formas de linguagens. Seu desenvolvimento cultural não pode se resumir à inserção dela na cultura, mas à apropriação da cultura dos outros, agora transformada em cultura-alheia-dela. A CULTURA E SUA APROPRIAÇÃO PELA CRIANÇA Como explicitado anteriormente a criança não nasce humana, mas inserida num mundo humano (não natural). Por conseguinte cabe nos questionar em que mediada este Ser-criança hominizado relaciona-se com a palavra social-alheia, como ato de fala ou como ato de fala impresso, antes de torna-la palavra interior, quando se relaciona com o psiquismo. Pode-se afirmar, então, que para o desenvolvimento psíquico da criança é importante a apropriação das diferentes formas de linguagem, em especial da palavra, como parte da realidade mate- rial, pois a partir dela é possível ao sujeito a relação direta com a realidade transmutando-a em signos carregados de significados produzidos socialmente pelos usuários da língua. Também fora discutido no tópico anterior, a importância da apropriação das objetivações humanas dentro do processo de transformação do Ser-criança homonizado em direção ao ser-crinaça humanizado. Ao analisar, de acordo com Vigotski, que a atividade criadora é Desenvolvimento da Criança e do Adolescente: Evidências Científicas e Considerações Teóricas-Práticas22 “toda realização humana criadora de algo novo” (VIGOTSKY, 2003a, p. 7), seja esta como parte do reflexo dos objetos do mundo material exterior a consciência, seja esta determi- nada por processos complexos da própria consciência, tanto como um impulso reprodutor ou reprodutivo da experiência alheia-social ou da experiência vivenciada permite pensar a literatura e os diferentes gêneros textuais utilizados nos atos de fala como um patrimônio produzido pela humanização do Ser hominizado, e com isto sua compreensão como direito cultural a ser compartilhado com as demais gerações para sua apropriação e uso social. Os bebês desde os primeiros dias inicia seu processo de leitura de mundo como forma de emancipação de seu estagio biológico, em direção a um estagio cultural. Esta emanci- pação, hereditária das funções elementares, permite começar a construir significados e dar sentido aos mais diversos estímulos do mundo material exterior. A compreensão, como forma de diálogo, por parte desta criança hominizada, dos dife- rentes signos, intercambiados nas trocas sociais, e seus significados, é um ato necessário não só para a compreensão, mas para se fazer compreender pelos outros sujeitos de sua comunidade linguística e social. Quando a criança compreender os enunciados (unidades de significações) orais e escritos, a ela destinadas ou presentes nas relações dialógicas com os Outros, já em sua manifestação discursiva no ato responsivo para com o Outro, opõe-se a palavra-alheia do outrem, com uma contrapalavra. Esta nova enunciação “como processo de atividade de linguagem tanto exterior como interior, é ininterrupto, não tem começo nem fim” (BAKHTIN; VOLOCHINOV, 2004, p. 125). Neste processo dialógico social de apropriação dos diferentes gêneros textuais do dis- curso (BAKHTIN, 2003), presentes em todos os campos da atividade humana e ligados ao uso da linguagem, a criança realiza suas primeiras percepções e internalização de informa- ções trocadas socialmente, com relação à linguagem-alheia. Pois, como alerta Bakhtin, nada a ela pertence antes da inclusão no mundo não natural, nem mesmo o nome que carrega desdo o nascimento vem do mundo biológico natural, ou seja, que desde esta perspectiva a tomada de consciência do Ser não é individual, mas novamente social. Destarte a crian- ça toma consciência dela, originalmente, “[...] através dos outros: deles recebo a palavra, a forma e o tom que servirão para a formação original da representação que terei de mim mesmo” (Bakhtin, 2003, p. 373-374). Este princípio da alteridade permite à criança tomar do outro sua completude provi- sória e necessária para, na relação dialógica o Outro fornecer os elementos que o tornam o ser que é social e cultural. Portanto o outro toma papel vivo e falante como ato educativa nos enunciados portadores dos mais diversos gêneros do discurso. No primeiro momento cabe ao outro a tradução das sensações da criança em palavras, e, posteriormente a partir da apropriação dos signos construídos pela criança a significação do mundo dos adultos, antes distante e incompreensível. Aqui, se inicia o primeiro estagio de leitura da criança do Desenvolvimento da Criança e do Adolescente: Evidências Científicas e Considerações Teóricas-Práticas 23 mundo do adulto: leitura de vozes, sons, gestos, entre outros, ou seja, o infante lê o mundo com todos os sentidos. Neste processo de trocas-apropriações-enunciados-respostas nenhum dos sujeitos do discurso permanece inalterado, portanto, desloca-se a outro nível sociocultural diferente de quando entrou na interação dialógica. Este excedente de visão do Outro sobre a criança permitem o acabamento provisório do Ser-criança hominizada. Consequentemente, o pas- sado discursivo do falante determina o presente cultural da criança, de forma criadora, pela linguagem. A qual não funciona de forma igual para vários grupos, pois “[...] a palavra (o discurso interior) se revela como material semiótico privilegiado do psiquismo” (BAKHTIN; VOLOCHINOV, 2004, p. 52). Esta, utilizada nos enunciados concretos pelos usuários da lín- gua, é um fenômeno ideológico por excelência, se posicionando sempre na relação Eu-Outro. Tanto Vigotski quanto Bakhtin ressaltam a importância do outro no processo mediáti- co de construção e apropriação cultural da criança. No caso especifico da linguagem para aprender a falar, a criança, deve “aprender a construir enunciados” (BAKHTIN, 2003, p. 283) e isto não é uma ação biológica, mas cultural alcançado nas trocas com os outros. Porem estes enunciados no ato da fala apenas são possíveis “através do domínio de determinados gêneros do discurso” (BAKHTIN, 2003, p. 282), os quais não são dados da mesma forma que nos é dada a língua materna, e na maioria das vezes a criança passa a ter conheci- mento e domina-los a partir de seu estudo teórico na escola. Para este autor “aprender a falar significa aprender a construir enunciados” (BAKHTIN, 2003, p. 283), pois não falamos mediante palavras o frases isoladas, mas por meio de enunciados concretos presentes dentro dos diversos gêneros textuais do discurso. Entretanto, ao se estudar os enunciados, não pode se deixar de lado a importância da palavra, como ponte entre mim e o outro, a qual se relaciona com o contexto social e carrega um conjunto de significados que socialmente foram dados a ela dentro dos diferentes gêneros do discurso. Radicando, nisto, seu caráter plural, multifacético e polissêmico. Por isso, as diversas formas de linguagem com as quis nos expressamos, junto com a palavra são de valor social. Todo signo é social por natureza, tanto exterior quanto interior. Destarte encontramos, nos postulados bakhtinianos, uma con- cepção de linguagem que se aproxima dos fundamentos da (PHC). Por isso, o enunciado é apresentado por Bakhtin inserido na história, na cultura, na sociedade, ou seja, ele emerge a partir da vida do homem, “produto da interação de dois indivíduos socialmente organizados e, mesmo que não haja um interlocutor real, este pode ser substituído pelo representante médio do grupo social ao qual pertence o locutor. Não pode haver interlocutor abstrato” (BAKHTIN; VOLOCHINOV, 2004, p. 112). Essa natureza social do enunciado é resultado das interações sociais. Quando a criança apropria-se do uso real desses gêneros e aprende a se comunicar por meio de enunciados com seu interlocutor concreto de sua comunidade social, já esta dando em si Desenvolvimento da Criança e do Adolescente: Evidências Científicas e Considerações Teóricas-Práticas24 um salto qualitativo de seu primeiro estágio biológico para um novo momento de seu de- senvolvimento psíquicocultural. Mas como favorecer essa aprendizagem dentro da escola usando a literatura? O antes exposto permite repensar a importância da pratica docente e uso da literatura a partir do domínio dos gêneros textuais dentro da sala de aula com as crianças. Todavia, Walter Benjamin e Lev. S. Vigotski preocupavam-se com a importância da acumulação de numerosas experiências na primeira infância para alcançar a capacidade literária, pois para isto, “deve alcançar um elevado domínio da palavra, levando seu mundo interior a um grado altíssimo de desenvolvimento” (VIGOTSKY, 2003a, p. 54). Este ato de compreensão, ativo e criador do texto, é diferente do ato de compreender a linguagem oral, que surge na comunicação viva entres as pessoas, pois “continua a criação, multiplica a riqueza artística da humanidade” (BAKHTIN, 2003, p. 378). Até agora dedicamos ênfase a dissertar sobre a constituição da criança como Ser- criança humanizado a partir de seu segundo nascimento como ser sociocultural pela apro- priação da cultura mediada pela linguagem oral. Entretanto entende-se que como alerta Vigotski o domínio da linguagem escrita por parte da criança não é menos importante nesse processo de desenvolvimento psíquico e humanização. Blonskii citado por este autor (2003a, p. 57) falando sobre a importância de instruir a criança na linguagem escrita, enfatiza a necessidade dos professores selecionar adequadamente vários gêneros textuais (bilhetes, cartas pessoais e de negocio, pequenos relatos) dentro das obras literárias, para serem pedagógicas. E conclui que esta tarefa deveria na verdade difundir na criança este desejo, mas sem deixar de ajuda-lo a conseguir os meios para seu domínio. Introduzir as crianças na primeira infância a trabalhar e dominar os gêneros discursi- vos presentes na literatura, não significa adentra-las prematuramente neste mundo, nem as coloca-las a se expressar antes de tempo na linguagem dos adultos, mas uma forma de ajuda-las a elaborar e desenvolver sua própria linguagem literária e domínio dos gêneros do discurso como enunciados concretos dos atos de fala. Por outro lado se ela nasce num mundo humano, estes gêneros estão para ela presente e incompreensíveis no mundo cultu- ral e social onde realizam suas interações com os outros. Assim, “a educação em geral e a educação literária das crianças em particular, não é só possível, como totalmente inevitável” (VIGOTSKY, 2003a) e necessária. Nestes jogos infantis, com os brinquedos e os desenhos, onde se consolidam os processos de simbolização de primeira ordem (VIGOTSKI, 2007) a linguagem literária –simbolismo de segunda ordem- e o psiquismo misturam-se, relação esta que potencializa o próprio processo de simbolização. Nas mãos das crianças, durante os momentos lúdicos, o livro como objeto concreto passa a ser também um tipo de brinquedo pelo qual brinca e aprende e aprende brincando. Desenvolvimento da Criança e do Adolescente: Evidências Científicas e Considerações Teóricas-Práticas 25 As aproximações teóricas apresentadas, aqui nestes tópicos, possibilitaram as ba- ses para analisar uma pratica educativa desenvolvida dentro de um Cmei da Serra com gêneros textuais. COMPARTILHANDO EXPERIÊNCIAS: LITERATURA- MITOS E LENDAS NA SALA DE AULA COM CRIANÇAS BEM PEQUENAS. As crianças na primeira infância brincam durante grande parte do dia. Nestes momen- tos, se utilizam de suas experiências, como o conteúdo da literatura a ela apresentada tanto na vida cotidiana quanto no espaço escolar. O papel da literatura dentro das brincadeiras poderia ser apresentada aqui a partir de varias pesquisas e trabalhos desenvolvidos com as crianças dentro da escola. Entretanto nos deteremos no trabalho desenvolvido pelas pro- fessoras de um Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei), em Vila Nova de Colares, no município de Serra, cujos procedimentos metodológicos que foram aplicados nas atividades programadas também exerceram influência sobre o conteúdo dos jogos que realizaram as crianças após tais atividades. No início do ano letivo de 2016, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2009, p. 25), as professoras resolveram que o plano de ação da escola seria a utilização de diferentes gêneros textuais para possibilitar experiências narrativas e a apropriação cultural das crianças bem pequenas. Desta forma, o tema escolhi- do deveria perpassar os projetos de sala de aula para trabalhar outros conteúdos culturais. Em busca de uma temática que envolvesse toda a comunidade escolar, se propôs a realizar uma viagem imaginaria-cultural pelo Brasil. O que já em si seria uma forma de de- senvolver a imaginação delas. Cada grupo ficaria responsável por uma região, tornando essa variedade cultural mais próxima da criança e resgatando as belezas que estavam a sua volta. Os grupos III A, III B e III C, do turno matutino, escolheram visitar e fazer um grande “tour” pela região Norte, a fim de conhecer e se apropriar da cultura, dos costumes, da culinária, das danças, entre ou- tros. E assim, durante o ano as professoras foram realizando coletivamente os planejamentos semanais utilizando também livros de histórias, contos, lendas, mitos, desenhos, reportagens, que falassem sobre esta Região, a floresta amazônica e as influências, principalmente as indígenas, localizadas na área de estudo. Vale ressaltar que, levando em consideração a amplitude dos acontecimentos vivenciados pelas professoras e as crianças durante o ano, bem como a pequena dimensão desse relato para contemplá-los, deve-se afirmar que não se tem pretensão aqui de esboçar todos os enlaces em algumas páginas, devido a grande produção realizada pelas crianças em suas individualidades. Desenvolvimento da Criança e do Adolescente: Evidências Científicas e Considerações Teóricas-Práticas26 Desta forma, nos deteremos nesta experiência com a literatura e os diferentes gêne- ros textuais, os quais foram fundamentais para a apropriação de diversos saberes cultu- rais pelas crianças. Os gêneros textuais fazem parte do nosso dia a dia, e por isso trabalha-los dentro da educação infantil como forma de alfabetização é um elemento que impulsiona outras possibilidades de atividades. Deveriam sempre estar presente nos planejamentos de todos os professores alfabetizadores, pois “convivemos com uma diversidade de textos verbais, imagéticos, híbridos que foram produzidos por vários sujeitos em situações e contextos bem diferentes uns dos outros” (GONTIJO; SCHWARTZ, 2009, p. 96). Dai a importância de se conhecimento e domínio, tanto pelo professor quanto pela criança. O trabalho fundamentou-se nos princípios dialógicos de Bakhtin por entender que nas relações dialógicas, nas experimentações, indagações, criações, que se estabelecem com os Outros, não só transformamos como também somos transformados pela mediação, apropriação e ressignificação dos conhecimentos compartilhados e construídos socialmen- te. A linguagem dentro das relações dialógicas permite o agir de umas pessoas “sobre as outras num processo contínuo de autotransformação. Por isso, a linguagem é uma das mais importantes criações da humanidade” (GONTIJO, 2003, p.22), pela qual “os falantes tornam-se sujeitos” (GERALDI, 1999, p. 41). O exemplo a ser compartilhado refere-se ao projeto sobre as Olimpíadas Rio 2015. Levando a definir uma serie de perguntas que deveriam ser respondidas como eixos norteado- res do projeto: 1) De que forma poderia o estudo da Região Norte do Brasil estar relacionada com a história das olimpíadas em especial com a Grécia antiga? Um caminho apontado nas pesquisas orientou o trabalho pedagógico para a relação entre o mito do fogo5 e a tocha olímpica. Assim usando este gênero seria possível dar inicio ao trabalho com as crianças. Contou-se como surgira o fogo segundo os índios brasileiros. Conversou-se sobre os diversos costumes e tradições indígenas presentes nas diferentes regiões da área de estudo escolhida. As criançasbem pequenas passaram a conhecer a existência, ainda, de algu- mas tribos que moram regiões da floresta amazônica. Ademais foi possível neste trabalho comparar em conjunto como moram estes povos oriundos do Brasil. O trabalho não se resumiu as narrativas, mas também foram produzidos pratos indí- genas típicos da Região Norte. Alguns destes alimentos nunca comidos por elas e outras apenas os conheciam. Também fora contado outro mito sobre a história do fogo, mas agora segundo os gregos. Este seria o ponta pé inicial para falar sobre a tocha olímpica que estava circulando por algumas cidades do Brasil; a importância do fogo nos jogos; as modalidades; explicar o símbolo olímpico; e quais eram os mascotes das olimpíadas no Brasil. 5 Mito indígena que conta como foi o surgimento do fogo Desenvolvimento da Criança e do Adolescente: Evidências Científicas e Considerações Teóricas-Práticas 27 Tornou-se um momento interessante o poder brincar procurando no mapa as regiões que estavam sendo estudadas. Encontrar a região onde moram, e todo o trajeto que per- correria a tocha até seu destino final. Além do mapa trabalhou-se com o globo terrestre e assim encontraram a origem geográfica dos jogos. Neste momento de aprender brincando e brincar aprendendo, comparavam os países, perguntavam se a terra era redonda a partir da representação simbólica com o globo terrestre. Este momento foi fundamental dentro da perspectiva seguida no trabalho, pois se abriu a janela para o mundo do conhecimento mediado pelas relações dialógicas. As crianças como autores de seus enunciados também contavam o que viam na mídia. Perguntavam para além do próprio conhecimento cotidiano das professoras ou as obrigava a procurar novas informações. Desta forma assim como ensinavam também neste processo de construir juntos aprendiam. O momento lúdico Após todo esse processo, surgiu a ideia de realizar em conjunto a própria tocha. Ou seja, uma nova ressignificação do símbolo das olimpíadas, mas agora produção da imaginação criadora das crianças (VIGOTSKY, 2003a). Foram utilizados vários materiais para sua confei- ção. Este novo elemento passaria de objeto de estudo a objeto de estudo brinquedo. Assim como o livro que transformou-se em brinquedo-conhecimento, agora era a hora do produto da atividade criadora ganhar vida nas mãos das crianças deixando aflorar a imaginação e a fantasia. Outra atividade, decorrente da sala de aula, foi o conhecimento do corpo, a eleva- ção da criança a atleta olímpico. Também foram criadas medalhas, trabalhando novamente a imaginação e a fantasia, dentro do processo criador. Aqui não importava em si a competição, mas a participação de todos. Para trabalhar a educação estética do olhar outro gênero entrou em cena, o cinematográfico, pois foram projetados desenhos animados com a temática de estudo. Por último, assim como na rea- lidade, a tocha passou simbolicamente por cada uma das salas representando as regiões pelas qual passaria na vida real. CONSIDERAÇÕES FINAIS O brincar é uma atividade própria da criança. Quando bem trabalhada pelo professor pode ganhar maior força educacional. Se alternado este momento, com outras etapas do processo educativo, será possível desenvolver nestas crianças bem pequenas qualidades tanto cognitivas quanto sócio afetivas e culturais. O trabalho apontou a potencialidade de desenvolvimento dentro deste momento lúdico formativo a partir de vários gêneros tex- tuais. A análise da experiência comprovou que o processo de ensino aprendizagem esteve pautado na construção coletiva, dialógica, dentro dos postulados bahktinianos e da (PHC). Desenvolvimento da Criança e do Adolescente: Evidências Científicas e Considerações Teóricas-Práticas28 Pode-se concluir que quando se trabalha visando o desenvolvimento de capacidades criadoras nas crianças bem pequenas, “desenvolvemos em si seu espírito de observação, construindo no desenvolvimento cognitivo de conhecimentos, conseguindo por médio da mediação e imitação reflexiva dos maiores no ato da brincadeira” (RAMOS, 2014, p. 100). Outra das importâncias da análise deste relato radica na dinâmica do trabalho com crianças, pois muitas das vezes o pré-planejamento previsto pelos professores vai para além do es- perado. As atividades desenvolvidas então não se detiveram no espaço físico da sala ou ao uso mecânico do livro, mas entenderam o processo de desenvolvimento relacionando corpo, pensamento, emoções, linguagens, etc, pois, é no movimentar que as crianças expressam seus pensamentos, emoções, sentimentos, desenvolvem o equilíbrio, a coordenação motora, interações, criatividade, imaginação, criticidade e se abre para o diálogo. REFERÊNCIAS 1. ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1981. 2. BAKHTIN, M. O freudismo: um esboço crítico. São Paulo: Perspectiva, 2004. 3. BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. São Carlos: Pedro & João Edi- tores, 2010. 4. BAKHTIN, Mikhail; VOLOCHINOV, V.N. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2004. 5. 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Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na Idade Escolar. In: Leontiev, A. [et al.]. Psicologia e pedagogia: bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento. São Paulo: Centauro, 2005. 34. VIGOTSKY, L.S. La imaginación y el arte en la infancia. Madrid: AKAL, 2003a. 35. VIGOTSKY, L.S. O desenvolvimento psicológico na infância. São Paulo: Martins Fontes, 2003b. 36. VIGOTSKY, L.S. Obras escogidas. Tomo I. Madrid: Visor, 1997. 37. VIGOTSKY, L.S. Sobre a questão da dinâmica do caráter infantil. In: Revista Virtual de Gestão de Incentivos Sociais. N8ª. Abril/2007b. 38. VYGOTSKY, L.S. A transformação socialista do homem.(1930) Disponível em: <http://mar- xists.anu.edu.au/portugues/vygotsky/1930/mes/transformacao.htm> acessado em: 02 jun. 2014. 39. VYGOTSKY, L.S; LURIA, A.R. Estudos sobre a história do comportamento: símios, homem primitivo e criança. Porto Alegre: Artes Médias, 1996. http://marxists.anu.edu.au/portugues/vygotsky/1930/mes/transformacao.htm http://marxists.anu.edu.au/portugues/vygotsky/1930/mes/transformacao.htm “ 02 A concepção da assistência à saúde da criança sob a visão do profissional e do cuidador: mapeamento bibliográfico em periódicos nacionais de 2006 a 2010 Lucieny Almohalha UFTM Tássia Ribeiro Roza UFTM 10.37885/200901474 https://dx.doi.org/10.37885/200901474 Palavras-chave: Cuidados da Criança, Serviços de Saúde da Criança, Qualidade dos Cuidados de Saúde. RESUMO Objetivo: Identificar a assistência à saúde prestada à criança segundo a visão do profis- sional e do cuidador de crianças que frequentam os serviços de saúde, através do ma- peamento e análise das publicações científicas do período de 2006 a 2010. Métodos: Foi realizada uma revisão de literatura, a partir da busca eletrônica de artigos indexados em periódicos nacionais na Biblioteca Virtual em Saúde, dentro da base de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, publicados no período supracitado. Resultados: Foram selecionados 17 artigos indexados no período pesquisado, sendo destacadas as revistas que apresentaram 2 publicações nos anos em que houve maior interesse pelo tema. A partir da análise dos artigos, apareceram como responsáveis pelas publicações, diversos profissionais de enfermagem, medicina, odontologia, en- genharia de produção e psicologia, onde pode ser observada a visão do profissional quanto a assistência em saúde a criança. A maioria dos artigos apresentou como públi- co-alvo pais e responsáveis pela criança, demonstrando assim a preocupação sobre a qualidade do atendimento prestado pela equipe e profissionais de saúde, frente à visão do acompanhante da criança, quanto à assistência recebida. Conclusão: Os estudos analisados vêm mostrar a capacidade de que, bons processos de assistência à saúde geram resultados positivos, porém remetem a necessidade do avanço em pesquisas e ações mais humanizadas, a fim de possibilitar melhores condições de saúde da criança. Desenvolvimento da Criança e do Adolescente: Evidências Científicas e Considerações Teóricas-Práticas 33 INTRODUÇÃO Pela Constituição Brasileira, todo cidadão tem direito a saúde e acesso universal e igualitário ao sistema de saúde público (BRASIL, 1997). A grande maioria da população brasileira depende exclusivamente da assistência pública em saúde ofertada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em relação aos diversos níveis de atendimento que se encontram organizados segundo uma complexidade assistencial assim definida: serviço primário de atenção à saúde com unidades básicas de saúde, pronto-atendimento, e pronto-socorro; serviço secundário com hospitais gerais e ambulatórios de especialidades e serviço terciário com hospitais especializados e universitários (BRASIL, 1997). O serviço primário de atenção à saúde vem compreender dentro dos três campos da assistência, das intervenções ambientais e das políticas externas ao setor saúde, o conjunto de ações compreendidas nos chamados níveis de atenção à saúde, representados pela pro- moção, pela proteção e pela recuperação, nos quais devem ser sempre priorizados o caráter preventivo, o tratamento de doenças e a redução de danos ou de sofrimentos que possam comprometer as possibilidades dos indivíduos de viver de modo saudável (BRASIL, 1996). O serviço secundário de atenção à saúde corresponde ao nível de atenção que in- corpora funções do nível primário e acrescenta aquelas de tratamento especializado e com objetivos de reabilitação. É representado por programas, sistemas e serviços de tratamen- to ambulatorial e pequenos hospitais de tecnologia intermediária, compostos por equipes multidisciplinares que atendem indivíduos em diferentes faixas etárias, as mais variadas formas de patologias e diagnósticos. Os ambulatórios de pediatria, por exemplo, são classi- ficados como espaços de atenção secundária à saúde e locais nos quais diversos quadros clínicos e desenvolvimentais são acompanhados com periodicidade variável, de acordo com a demanda da criança e de sua família. Os espaços ambulatoriais se tornaram espa- ços de atenção à saúde infantil de extrema importância, uma vez que através dos serviços oferecidos podem ser realizados acompanhamentos periódicos do desenvolvimento infantil (BRASIL, 1996; 2007). Já o nível de atenção constituído por grandes hospitais especializados e hospitais uni- versitários, que concentram tecnologia de maior complexidade e de ponta, e que servem de referência para demais programas, sistemas e serviços, vem representar o serviço terciário de atenção à saúde (BRASIL, 1996). A integralidade da assistência é preconizada pelo SUS e conforme sua filosofia assis- tencial é necessário ser considerado como atendimento integral a saúde que vai além da formulação de um planejamento terapêutico, deve ser contemplado também a regulação de políticas públicas do setor, a reorientação das relações entre o Estado e a sociedade e o olhar para o sujeito-usuário dentro de uma lógica de atendimento que considere o cuidado Desenvolvimento da Criança e do Adolescente: EvidênciasCientíficas e Considerações Teóricas-Práticas34 nas mais diversas dimensões do ser humano (MATOS, 2004). Esta forma de oferecer a assistência e o cuidado integralizado deve englobar não só o sujeito usuário do sistema de saúde, seus familiares, os profissionais que no sistema atuam e os gestores que o executam. Todos têm o direito de ser protagonistas do sistema e participantes ativos do processo do cuidar (BRASIL, 1996). À criança e ao adolescente é preconizado “o direito à vida e à saúde que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio em condições dignas de existência” (BRASIL, 1996). São necessárias políticas públicas que venham contribuir no desenvolvimento de ações vol- tadas para o atendimento em saúde da criança e dos adolescentes para atender e estimular essa demanda a ter dignas condições de saúde e possuir melhor qualidade de vida. Assim como também é pressuposto, que o sistema de saúde considere como parte integrante e permanente de sua rotina as ações desenvolvidas nos variados espaços sociais, como a vigilância epidemiológica e sanitária, as ações educativas em saúde, a humanização de atendimento e as intervenções de ordem institucional, para que este funcionem de acordo com a proposta de atenção integral à criança e ao adolescente (BRASIL, 1995). Em geral, no Brasil os serviços de saúde tem tido significativos avanços tecnológicos, tem se aprimorado em equipamentos para manutenção da vida cada vez mais avançados, porém estes avanços não são seguidos juntamente com as relações humanas dentro dos serviços de saúde, ou seja, não são aprimorados ajustes também na habilidade da comuni- cação com os pacientes, através do respeito aos seus valores morais, do trabalho em equipe e atitudes mais humanitárias (CAPRACA; RODRIGUES, 2004). Pela filosofia preconizada pelo SUS em relação à assistência humanizada, é necessário que os profissionais estejam aptos a realizar uma assistência integral na qual o sujeito é participante ativo de todo o processo do cuidar, deve ter ouvido suas necessidades e suas opiniões em relação ao seu tratamento e ao serviço que lhe é prestado (BRASIL, 1996). Quando os profissionais desenvolvem ou aprimoram esta habilidade eles irão contribuir para o oferecimento de uma assistência mais humanizada e então perceberão o quanto a família e/ou cuidadores demonstram suas próprias necessidades, isso irá então sugerir o desenvolvimento de ações pelos profissionais de saúde como, a orientação e o apoio psico- lógico aos pais quanto aos aspectos específicos do tratamento, informações a respeito do estado de saúde do filho, do diagnóstico, tratamento, prognóstico, medicamentos, exames; explicações do motivo da hospitalização e tudo o que é feito com e para seu filho, cuidados especiais com a criança, além de orientações quanto à sua participação nos cuidados bá- sicos (GUARESCHI; MARTINS, 1997). Além da criança e do adolescente, seus familiares precisam participar do processo do cuidado. Pela política do SUS, é assegurado à família e aos cuidadores, o direito de Desenvolvimento da Criança e do Adolescente: Evidências Científicas e Considerações Teóricas-Práticas 35 participarem ativamente do processo do cuidador que envolve o diagnóstico, tratamento e prognóstico, recebendo informações sobre os todos os procedimentos que ocorrerão durante as intervenções. Dando assim, significado a garantia de participação destes nos cuidados básicos da criança e no processo de avaliação dos serviços prestados (BRASIL, 1995). A preocupação com a qualidade e a avaliação dos serviços é um tema que tem sido debatido, em nível mundial, sob os mais diversos enfoques, nas últimas seis décadas. Reconhece-se essa diversidade conceitual como, decorrente das diferentes posições que os atores ocupam no sistema de atenção à saúde, sejam eles os profissionais, as organiza- ções de assistência, os compradores de serviços, os usuários (FRANCO; CAMPOS, 1998). Nos últimos anos, os modelos teóricos têm influenciado bastante sobre a comunicação entre profissionais de saúde e usuários, embasando informações para a melhoria do processo de comunicação e seus efeitos frente à satisfação e a saúde do indivíduo. Determina com isso, que estes efeitos não são influenciados por apenas um aspecto, mas sim, vem englobar componentes afetivos como a necessidade de apoio emocional e de se fazer compreender, prescrições e explicações adequadas, como também diagnósticos claros e precisos, portanto, preconiza que, os atendimentos de saúde atendam as demandas do usuário, seja adulto ou criança, adotando um estilo partilhado de consulta, centrado nas necessidades apresentadas, através de uma interação do usuário do sistema de saúde com o profissional de assistência para atingir a satisfação da prestação do serviço em saúde (RODRIGUES, 2007). No Brasil, apenas na última década, mais especificadamente no ano de 2006, é que se delimitou esta preocupação, a partir da legalização dos direitos dos usuários da saúde, a fim de garantir uma melhoria da qualidade da atenção prestada nos serviços de saúde. De acordo com essa lei, torna-se possível o conhecimento quanto aos direitos do usuário do sistema de saúde e, portanto, existirá uma colaboração entre partes, para a melhoria da qualidade do atendimento à saúde dessas crianças (BRASIL, 2006). Essa legalização demonstra como primeiro princípio, o direito ao acesso ordenado e organizado ao sistema de saúde, enfocando a necessidade de um atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação, preconceito de raça, cor, idade ou orientação sexual, estado de saúde ou nível social. Assim é garantido que o atendimento prestado ao cidadão respeite a sua pessoa, seus valores e culturas e seus direitos. Ainda assegura ao paciente por exemplo, o conhecimento de seu prontuário médico, sempre que solicita- do (BRASIL, 2006). A compreensão da percepção dos profissionais e usuários de saúde a respeito da assistência do serviço em saúde prestado à criança em nível nacional, através de artigos publicados, vem a ser um aprimoramento para o planejamento e desenvolvimento de ações que objetivem auxiliar na melhoria da qualidade dos atendimentos prestados no âmbito da Desenvolvimento da Criança e do Adolescente: Evidências Científicas e Considerações Teóricas-Práticas36 saúde. Melhoria que deve ocorrer tanto por parte do gestor do sistema, que precisa conhe- cer o entendimento de ambos os clientes para poder melhor direcionar suas estratégias e ações, como também por parte dos próprios profissionais que, entendendo a percepção da qualidade sob a perspectiva de seus clientes, poderão estar mais preparados para atender suas expectativas. Esse entendimento permitirá compreender não apenas o significado da qualidade relacionada ao nível de satisfação ou insatisfação do cliente à assistência prestada, quanto às limitações referentes a esse atendimento do serviço para os diferentes grupos (FADEL; FILHO, 2009). OBJETIVO Identificar a assistência à saúde prestada à criança segundo a visão do profissional que atua no sistema de saúde e do cuidador da criança que o frequenta, através do mapeamento e análise das publicações científicas nacionais do período de 2006 a 2010. MÉTODOS Esta pesquisa foi realizada através de uma revisão de literatura (GRANT, 2009) a partir da busca eletrônica de artigos indexados em periódicos nacionais na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), dentro da base de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), a partir dos seguintes descritores: cuidados da criança, serviços de saúde da criança, e qualidade dos cuidados de saúde. As consultas foram realizadas no período de janeiro a setembro de 2011. Foram utilizados como critérios de inclusão os textos nacionais publicados entre 2006 e 2010 na BVS dentro da base de dados LILACS. Este período foi selecionado, pois os pesquisadores estavam interessados em entender as publicações a partir da documentação federal
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