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EXCLUDENTE DE ILICITUDE Estado de Necessidade Consiste no sacrifício de um bem jurídico em detrimento de outro bem jurídico, cuja perda não era razoável em relação ao segundo, pelo agente que não tendo o dever legal de enfrentar uma situação de perigo e o qual, também não pode ter provocado a situação de perigo por sua vontade Implica em que para a preservação de um bem jurídico tido como maior é necessária depreciação de outro bem jurídico, tido como menor. De modo a tornar justificável tal sacrifício Classificações Quanto à titularidade do interesse protegido: próprio de terceiro Quanto ao aspecto subjetivo do agente: real putativo Quanto ao terceiro que sofre a ofensa: defensivo (agressão contra o provocador dos fatos) agressivo (destrói bem de terceiro inocente) Requisitos Perigo atual: O perigo deve estar ocorrendo, sendo atual, e o dano deve estar iminente O perigo deve ameaçar direito próprio ou alheio: o direito aqui seria qualquer bem ainda tutelado pelo ordenamento jurídico, de maneira que um condenado à morte não poderia alegar estado de necessidade contra o carrasco. E quanto ao direito de terceiro não é preciso a autorização do terceiro, basta que seja razoável a conduta O perigo não pode ter sido causado voluntariamente pelo agente Inexistência do dever legal do agente de enfrentar o perigo: pois quem tem o dever legal de agir (art 13, CP) deve tentar salvar o bem sem sacrificar nenhum outro, o que não significa que o agente não possa se recusar a salvar o bem quando for impossível salvar o bem e o risco for inútil Situação de Perigo Inevitabilidade do comportamento: somente será aceito o sacrifício se não houver outro meio de salvar o bem posto em perigo, devendo o comodus dicessus ser evitado. Razoabilidade do sacrifício: a razoabilidade deve levar em conta o homem comum e não o valor do bem, pois ninguém está obrigado a andar por ai com calculadoras e tabelas para avaliar os valores dos bens jurídicos. Salvo tratando-se do Código Penal Militar Conhecimento da situação justificante: segunda a teoria finalista, só haverá estado de necessidade se o agente tiver conhecimento real da situação de perigo. Conduta Lesiva http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10638340/artigo-13-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028353/c%C3%B3digo-penal-militar-decreto-lei-1001-69 Crimes habituais, permanentes e reiteração criminosa: nestes casos não há estado de necessidade, pois não há atualidade no perigo, embora se admitida excepcionalmente. Ex: exercício ilegal da medicina, salvo se estiver numa ilha deserta estando lá por desastre. Dificuldades Econômicas e furto famélico: de regra não caracteriza estado de necessidade, senão legitimaria todos os crimes das camadas mais pobres da população, só uma situação extrema autorizaria a conduta típica, em casos extremos com atualidade real do perigo demonstrada. “Não cabe reconhecimento de estado de necessidade se o agente, podendo subtrair gêneros alimentícios de primeira necessidade, opta por bebidas e guloseimas” (TJRS, Ap. 70000864828, Rel. Tupinambá Pinto Azevedo, j. 17.5.2000) Porte de arma: não basta o agente alegar que passa por locais perigosos, para justificar o porte de arma, pois poderia a qualquer momento pedir a concessão administrativa para tanto. Admissível o porte ilegal, apenas havendo agressão imediata à pessoa que porta a arma sem permissão ou que haja invasão à sua casa. Maus tratos: não configura crime de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345) o pai que exercendo o seu direito de visita, retira seus filhos do poder de sua ex-companheira e não os devolve justificando sua atitude diante da constatação de maus-tratos por ela impingidos aos menores, tendo, em seguida, ingressado com ação de modificação de guarda (TACrSP, Ap. 1.391.887/4, j. 1.3.2004, in Bol. IBCCr 141/824) Direção perigosa: “motorista que, para evitar sua morte quase certa pelo choque de seu veículo com uma jamanta que invadira sua meia pista, devia-o para o acostamento, atropelando um ciclista. Estado de necessidade caracterizado” (RT 560/362) Motorista não habilitado: “Pai que se utilizou do carro à noite para adquirir medicamento para filho enfermo. Estado de necessidade. Absolvição” (RT 603/354, 725/593) Jogo do bicho: “estado de necessidade reconhecido. Acusada cujo marido vive de “biscates”, que é mãe de numerosa prole e que auxilia na manutenção da família praticando aquela infração. Absolvição decretada.” (RT 649/290) Jurisprudências e Exemplos Legítima Defesa A Legítima Defesa é considerada, pelo Código Penal, como Excludente de Ilicitude. Isso implica dizer que quem age em legítima defesa não comete crime. Não confunda: não é a mesma coisa que dizer que o crime existe, mas não existe pena. Simplesmente não houve crime e, portanto, não há que se falar em pena. Espécies de Legítima Defesa Legítima defesa sucessiva: ocorre quando existe repulsa da vítima. Legítima defesa real e putativa: na real, existe situação de perigo; na putativa o agente imagina ou por erro, supõe a existência de agressão injusta. Legítima defesa subjetiva: excessiva repulsa de lesão ocorrida por erro de entendimento dos fatos, agindo o defensor em excesso. Requisitos Trata-se da conduta praticada, pela ação ou omissão de uma atitude humana, a qual coloca em situação de risco um bem jurídico. A agressão é injusta por ser contrária ao direito, sem que esta seja totalmente típica, podendo ser real, em que a ofensa existe de forma concreta, ou putativa, na qual o agente supõe a agressão. A agressão ainda pode ser classificada em atual ou iminente: será atual se estiver acontecendo no tempo presente; e será iminente se estiver em momento perto de ocorrer. Entende-se como meio necessário a forma ou o instrumento menos lesivo e disponível para o agredido defender-se. A partir do meio necessário, o uso deve ser de forma suficiente para cessar a lesão de modo competente, havendo proporcionalidade entre a ofensa e a defesa. A legítima defesa pode ser aplicada para a proteção de qualquer bem jurídico, podendo ser este próprio ou de terceiro. Agressão Injusta Uso Moderado de Meios Necessários Proteção do Direito Próprio (in persona) ou Alheio (ex persona) Jurisprudências e Exemplos Injusta agressão não demonstrada – inocorrência de legítima defesa Acórdão 1340441, 07008153520208070017, Relator: ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO, Segunda Turma Criminal, data de julgamento: 13/5/2021, publicado no PJe: 21/5/2021. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 Jurisprudências e Exemplos Uso moderado dos meios necessários para repelir injusta agressão – inocorrência – reação desproporcional – legítima defesa não reconhecida "2. Inviável o reconhecimento da excludente de ilicitude da legítima defesa, pois para a sua configuração mostra-se imprescindível o uso moderado dos meios necessários para repelir injusta agressão, o que não restou verificado no caso." Acórdão 1313448, 00010723620178070008, Relator: ROBERVAL CASEMIRO BELINATI, Segunda Turma Criminal, data de julgamento: 28/1/2021, publicado no PJe: 10/2/2021. Discussão encerrada – ausência de agressão atual ou iminente – legítima defesa inexistente "3. Não havia agressão atual ou iminente no momento em que o apelante arremessou café sobre a vítima, considerando que a discussão entre as partes já havia se encerrado, o que afasta a alegação de que a conduta do apelante configurou legitima defesa." Agressão futura – inaptidão para a exclusão da ilicitude por legítima defesa "4. Para que haja configuração da excludente de ilicitude da legítima defesa, é necessário que o agente tenha agido para repelir injusta agressão, atual ou iminente, que não se confunde com agressão futura, sendo que a aquisição de arma de fogo para fins de prevenção de eventual crimenão configura a referida excludente. (...)." Legítima defesa não reconhecida – vingança "1. Não há que se falar em legítima defesa quando, cessada a suposta agressão, o denunciado, estando sozinho e sem sofrer agressão, além de não estar na iminência de sofrê-la, ateia fogo na motocicleta da vítima. Nessa situação, o que se percebe é que o acusado agiu imbuído de verdadeiro sentimento de vingança." Legítima defesa recíproca - inadmissibilidade "1. Para que se configure a legítima defesa, a agressão que se repele deve ser injusta, razão pela qual não se admite, em nosso ordenamento jurídico, a legítima defesa recíproca (legítima defesa contra legítima defesa)." STF- Legítima defesa da honra – não exclusão da ilicitude "Referendo de medida cautelar. Arguição de descumprimento de preceito fundamental. Interpretação conforme à Constituição. Artigos 23, inciso II, e 25, caput e parágrafo único, do Código Penal e art. 65 do Código de Processo Penal. 'Legítima defesa da honra'. Não incidência de causa excludente de ilicitude. Recurso argumentativo dissonante da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF), da proteção à vida e da igualdade de gênero (art. 5º, caput, da CF). Medida cautelar parcialmente deferida referendada. ADPF 779 MC-REF/DF (grifos no original) http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15346469193&ext=.pdf Estrito Cumprimento do Dever Legal Tal excludente trata do agente que cumpre seu dever nos limites estritos autorizados e controlados pela lei. Por tais atos, que são obrigações legais do agente não poderia ele, ao mesmo tempo, estar praticando ilícitos penais. O estrito cumprimento do dever legal é uma causa excludente de ilicitude que ocorre em casos de funcionários públicos (ou agentes particulares que exercem funções públicas), os quais em determinadas situações são obrigados a violar bem jurídico de indivíduos pelo estabelecimento de um dever legal. Como o agente público é obrigado por lei a executar determinadas condutas, a penalização ocorreria se o mesmo não as realizasse. Entretanto, é apenas a obediência a normas já estabelecidas, sem abusos e sob pena de excesso. O excesso é a acentuação desnecessária a uma conduta permitida. Isso significa que, se é razoável praticar uma conduta que causa lesão corporal leve por se encontrar em uma situação de estrito cumprimento do dever legal, gerar lesão corporal grave configura um excesso, um abuso no comportamento que seria considerado lícito. Dever legal: consiste em qualquer obrigação direta ou indiretamente derivada de lei. Pode, portanto, constar de decreto, regulamento ou qualquer ato administrativo infralegal, desde que originário de lei. Vale notar que tais atos devem ter caráter geral, pois se forem endereçados diretamente a um agente subordinado, estaremos diante de obediência hierárquica. O cumprimento: deve se dar estritamente dentro da lei, se houve excesso haverá ilicitude, podendo configurar abuso de autoridade ou outros delitos. Função Pública: geralmente o beneficiado é agente ou funcionário público, mas nada impede que seja particular, desde que esteja exercendo função pública. Coautores: em regra a excludente beneficia a todos os coautores ou partícipes, contudo, segundo como defende (Fernando Capez), se houver desconhecimento pelo partícipe do dever legal do agente público, com o dolo de cometer o delito pelo coautor, deve responder pelo crime. Não é admissível em crimes culposos, pois a lei que autoriza o ato não pode admitir imperícia, negligência ou imprudência, contudo, eventualmente tal ato pode configurar estado de necessidade como, por exemplo, no caso de motorista de ambulância ou viatura que causa acidente indo atender uma ocorrência. Para a teoria finalista, tal excludente só é aplicável se o agente público tem conhecimento de que está agindo acobertado por dever legal e não com o dolo de cometer o crime. Jurisprudências e Exemplos Crimes culposos: “o estrito cumprimento do dever legal é incompatível com os delitos culposos.” (TACrSP, RT516/346) Advogados: “estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular do direito. Inocorrência. Causídico que, através de petição, assaca ofensas caluniosas contra o magistrado da causa. Poderes do profissional do Direito na sua esfera de atuação que não são absolutos e incontestáveis. Punibilidade de eventuais excessos e abusos.” (RT 797/559) Policial militar: “que, para evitar suposta agressão a seu colega de serviço por indivíduo que julgava ser bandido perigoso, nele atira por não atender à ordem de parar” (RT 573/420) “Policiais que revidam a tiros a reação de marginais, matando um deles, quando cumpriam suas funções.” (RT 473/368, 506/366, 508/398, 519/400, 580/447) Calúnia: “Testemunha sob compromisso. Narrativa dos fatos pertinentes à causa. Atribuição de fato criminosos a outrem. Atuação no estrito cumprimento do dever legal. Não caracterização de calúnia.” (RT 692/326) Legitimidade: “excludente só invocável por servidor público.” (RF 326/306) Exercício Regular de Direito Tal excludente deriva da máxima de que uma ação juridicamente permitida não pode ser ao mesmo tempo, proibida pelo direito penal, de maneira que o exercício de um legítimo direito nunca pode ser antijurídico. Pode ser definido como causa de exclusão de ilicitude que consiste no exercício de uma prerrogativa conferida pelo ordenamento jurídico, que ao mesmo tempo é caracterizada pelo Direito Penal como fato típico. Qualquer pessoa pode ser beneficiada. A expressão direito deve ser interpretada num sentido amplo, seja penal ou extra penal, como, por exemplo, o jus corrigendi, decorrente do pode familiar sobre os filhos, as normas internas das associações e estabelecimentos também o são, como o direito de professores castigarem alunos. José Frederico Marques defende que o trote também entraria nesta excludente, pois consagrado pelo costume, embora hajam divergências. Não pode haver excesso no exercício do direito, senão estaremos diante de crime por abuso de direito. E também é incompatível com homicídio, pois ninguém tem o direito de matar Segundo a teoria finalista deve o agente ter pleno conhecimento de toda a situação fática autorizadora da excludente, se há desconhecimento por qualquer motivo, bem como dolo de executar a conduta típica, haverá crime. Jurisprudências e Exemplos Intervenções médicas e cirúrgicas: configuram tal excludente, mas é indispensável o consentimento do paciente ou de seu representante legal, caso contrário pode-se estar diante de um estado de necessidade de terceiro. Violência desportiva: Algumas doutrinas consideram aplicável o exercício regular do direito, contudo, alguns doutrinadores entende que pela teoria da imputação objetiva, por tratar-se de risco permitido, trataria-se da fato atípico. Não cumpridas tais exigências, haverá excesso e, portanto, crime: EX; casos no futebol como os xigamentos ao Grafite (injúria racial) e soco recebido por Edmundo (lesão corporal), e no boxe como Mike Tyson mordendo Holyfield (lesão corporal). Ofendículos: Constitui exercício regular de um direito (CC, art. 1.210, § 1º), embora deva cumprir algumas exigências como: a) conter aviso e/ou serem facilmente perceptíveis e b) estarem colocadas em local razoável. Damásio E. De Jesus entende tratar-se de legítima defesa pré-ordenada e não exercício regular de direito. Excepcionalmente pode haver excesso e diante do excesso haverá crime. Defesa mecânica pré-disposta: Por ser oculta, na prática quase sempre configurará excesso, sendo tido como crime doloso ou culposo, embora teoricamente pode não haver excesso, e, portanto, pode não haver crime. Débito conjugal: “não age ao amparo do exercício regular de direito o marido que constrange sua esposa à copula “intra matrimonium”, tendo em vista que a recusa injustificada aos deveres do casamento constitui causa para a separação judicial e não autorização normativa para a prática de crimes sexuais.” (TJRS, Apelação 70009102377, Rel. Marco Antonio Ribeiro de Oliveira, j. 29.9.04) Direito de denúncia:“não há calúnia, mas exercício regular de direito (CR, art. XXXIV) na conduta de quem denuncia fiscal de tributos a superior hierárquico.” (STJ, RT 686/393) Desagravo: Não configura crime o advogado que solicita desagravo contra juiz Advogados – Direito de Representação e Desagravo: “não pratica crime contra a honra de juiz o advogado que representa à Comissão de Prerrogativas da OAB solicitando desagravo, afirmando que a autoridade “passou por cima da lei”, “agiu fora da lei”, “agiu com pura má-fé e intuito preordenado de prejudicar” o advogado representante, “comprovadamente... Demonstrou desconhecer totalmente o Estatuto da Advocacia quanto o Código de Ética da OAB e, sistematicamente, vem ´metendo os pé pelas mãos´, confundindo Jesus (não o filho de Deus) por Genésio, tais e tantos as arbitrariedades, ilegalidades e ofensas a diversos causídicos que vem cometendo”” (STF, HC 82.992/SP, rel. Min Gilmar Mendes, j. 20.9.2005, DJU 14.10.2005) Direito estatutário: “age no exercício regular de direito presidente de sociedade recreativa que emprega força física para expulsar do recinto pessoa que se comportava desrespeitosamente.” (TJRS, RF 267/318) Lugar Privado: “Exerce regular direito quem expulsa de seu escritório, empurrando, pessoa que ali fora insultá-lo.” (TACrSP, RT 421/248) Homicídio: “não se aplica a homicídio, pois a lei não confere a quem quer que seja o direito de matar.” (TJMG, RT 628/352) Limites e abuso de direito: “há abuso de direito e não o seu exercício regular, quando o agente exorbita dos limites.” (TACrSP, RT 587/340) Jurisprudências e Exemplos
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