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Resenha Caminhos Cruzados

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Universidade de Caxias do Sul 
Área de Ciências Humanas 
Curso de História 
Leitura e Escrita na Formação Universitária 
Professora: Maria Helena Menegotto Pozenato 
Acadêmico: Rodrigo Santos Camargo 
Data: 16/05/2018 
Atividade: Fichamento de livro 
 
 
Resumo 
 
 
 
 Caminhos Cruzados de Érico Veríssimo escrito e 1935 relata o cotidiano de 
uma época, Porto Alegre dos anos 30. O titulo da obra não por acaso, visto que os 
personagens que são inúmeros e de variadas camadas da sociedade e mesmo fazendo 
parte de um espaço urbano comum se encontram ou não. Alguns são pobres como João 
Benévolo e outros ricos, família Leiria como exemplo. Mas Veríssimo não se resume 
apenas as diferenças sociais, mostra muito além disto, e apresenta o íntimo dos seus 
personagens, seus pensamentos, aflições e ambições. 
 No inicio do livro podemos pensar que se trata de mais uma história comum 
dos livros de ficção, um personagem, uma trajetória e uma visão da vida. Mas saindo do 
convencional, logo no decorrer dos capítulos percebemos o seu diferencial, 
apresentando os personagens detalhadamente, alguns tem ideias diferentes sobre o 
mesmo tema, mesmo não se encontrando fisicamente, um pode influenciar 
indiretamente no decorrer do percurso do outro. 
 Isto acontece justamente pela maneira do autor escrever, de forma detalhista 
nada passa desapercebido a sempre um comentário, um pensamento na cabeça dos 
atores, onde nestes pode ocasionalmente tecer sobre os outros personagens. Volta e 
meia o autor recorre ao professor Clarimundo, onde se atenta a suas questões, julgando 
tudo ao seu redor de forma minimalista, mesmo sabendo tanto não consegue o porquê 
das pessoas ao seu redor se importarem com coisas que para ele são superficiais. Mas 
mesmo assim, acaba por perceber oque acontece com seus vizinhos e esboça seus 
comentários ás vezes meio arrogantes a respeito de como os outros vivem suas vidas. 
Talvez o autor se enxergue um pouco no professor, que observa tudo a uma distancia 
segura, onde praticamente não interfere na história dos demais personagens. 
 Já com alguns é diferente, se importam em demasia com a vida dos seus 
próximos. Mas o cerne da obra se apega por questões egoístas e egocêntricas, um 
reflexo da sociedade individualista. Personagens ficam em devaneios intermináveis, 
fazendo suposições e em sonhos que dificilmente vão se concretizar. Entre os que mais 
ficam nestes devaneios podemos citar Chinita, que fica a se imaginar nos filmes de 
Hollywood e com seu amado; Dona Dodô, que se preocupa a todo momento como que a 
sociedade vai interpretar suas ações, que mesmo ela se enganando serem por altruísmo, 
na verdade são nada mais do puro egoísmo da sua parte, que usa a pobreza dos outros 
para se projetar socialmente. Ainda temos Noel e João Benévolo, que são os 
personagens a mais usar este recurso para saírem de suas realidades, por mais que sejam 
de realidades diferentes, um para lidar com sua insegurança em encarar a vida e outro 
das cobranças financeiras da sua mulher e da miserável situação se imaginam em 
histórias de seus livros, os levando para longe dos problemas por breves momentos que 
sejam. 
 E assim segue a obra, intercalando entre os personagens, até que surge a grande 
festa com vários atores juntos, onde interagem uns com os outros. Mas que no final da 
festa não acontecem coisas tão relevantes, nenhuma grande reviravolta. Aqui se percebe 
a genialidade do autor, que sua obra se parece muito mais com a realidade do que com 
as obras comuns de ficção. Após a festa tão aguardada, o dia seguinte vem e junto a 
velha rotina dos personagens. 
 E o livro segue sua premissa, onde as figuras em sua maioria terminam o livro 
como começaram. Mas o objetivo da obra estava alcançado, uma semana no íntimo de 
pessoas variadas que mesmo tão perto uma das outras se tornam tão distantes pelas 
circunstâncias da vida. 
 
VERÍSSIMO,Érico. Caminhos Cruzados. São Paulo: Companhia de Bolso, 2016. 
 
 
 
O COTIDIANO DE PORTO ALEGRE 
 As desigualdades sociais são latentes na obra e interferem no dia-dia das 
pessoas 
 As observações de Clarimundo sobre a rotina de seus vizinhos 
 Tentativas de fuga das suas rotinas e pressões, mediante a “viajar” por 
literaturas fantasiosas (Sonho x Realidade) 
 
 
 
 
Citação importante do texto 
Mas os olhos de Dodó procuram, procuram uma coisa que ela própria tem vergonha de 
confessar a si mesma... Mas procuram assim mesmo. A vaidade é um pecado. (...) É 
uma luta entre o Anjo da Guarda e Satanás. O Anjo da Guarda murmura: “Dodó, uma 
cristã verdadeira não deve ter vaidades mundanas. (...) não procures mais...” Satanás 
porém, salta com sua carantonha horrível e diz: “Procura, procura, porque isso é bom, a 
gente sente uma coisa agradável dentro do peito, (...).” Mas o Anjo não abandona a sua 
protegida. E vai vencer. Porque Dodó baixa os olhos depressa para ler outra notícia. 
Mas é tarde... Ela já viu. (...). Ali está o nome dela... 
 
 
 
Opinião 
Sem dúvida para mim uma das melhores obras que já li, os detalhes dos personagens e 
do ambiente são incríveis. Mas a grande pérola de Veríssimo é retratar a vida como ela 
é, com os percalços da vida miserável, as dificuldades de uma vida cheia de privações 
em contraste com os mais abastados. A burguesia de Porto Alegre da época, bem 
retratada, apresentado toda sua futilidade e desprezo com os mais pobres. Oque nos leva 
a refletir que pouca coisa mudou, como é fácil identificar Leitão Leiria e João Benévolo, 
na nossa atual sociedade.