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MÓDULO 14 – DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA Lúria Niemic Onofre – Medicina, turma XXXIV PROBLEMA 1 PARASITOSES NA INFÂNCIA EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES Recomendação: Não comer carne vermelha ou mal passada na noite anterior. Coleta e conservação: coletar 2-3 amostras em dias alternados. 1. Evacuar no penico ou em uma folha de papel 2. Coletar um pouco das fezes (do início, meio e fim) com a pazinha e coloca-la dentro do frasco Sem conservante: levar imediatamente no laboratório, se possível, deixar na geladeira por até 12h. Com conservante: pode deixar até 24h na geladeira. Dividida em: Analise macroscópica: consistência e odor das fezes; muco ou sangue; vermes adultos ou parte deles. Analise microscópica: ovos e larvas de helmintos, trofozoítos, oocistos e cistos de protozoários. Pode ser classificado em quantitativo e qualitativo. Métodos: Quantitativos: Método de Kato-Katz: ovos de helmintos. Qualitativos: Sedimentação espontânea: método de Hoffman, Pons & Janer ou Lutz – ovos e larvas de helmintos, cistos de protozoários. Sedimentação por centrifugação: método de Blagg ou MIFC e método de Richie – cistos e oocistos de protozoários. Flutuação espontânea: método de Willis – ovos leves de helmintos. Centrifugoflutuação: método de Faust – cistos e oocistos de protozoários. Concentração de larvas de helmintos: métodos de Baermann-Moraes, Rugal e Harada – larvas. QUADRO CLÍNICO GERAL DAS PARASITOSES Dor abdominal inferior, diarréia, astenia, flatulência, fadiga e febre. Síndrome de Loeffler: acúmulo de eosinófilos no tecido por parasitas com ciclo pulmonar, causando febre, tosse seca, dor torácica e bronquite. Necator americanos Ascaris lumbricoides Strongyloides stercoralis Ancylostoma duodenale ASCARIS LUMBRICOIDES CARACTERÍSTICAS Forma infectante: ovos contendo L3 Transmissão: ingestão de água e alimentos contaminados ou vetores mecânicos Epidemiologia: verminose mais frequente no mundo. MÓDULO 14 – DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA Lúria Niemic Onofre – Medicina, turma XXXIV CICLO BIOLÓGICO MONOXENO 1. Ingestão do ovo contendo L3 (forma filaróide) 2. Rompimento do ovo no intestino delgado (pH, temperatura, agentes redutores e CO2) 3. As L3 liberadas invadem a parede intestinal no ceco caindo na circulação linfática e/ou sanguínea 4. Chegam ao fígado pelo sistema porta e ao coração pelas veias cava 5. Chegam ao pulmão (Ciclo de Loss) e sofrem mudança para L4 6. Rompem os capilares e chegam aos alvéolos onde mudam para L5 7. Chegam na traqueia e depois na faringe onde podem ser expectoradas ou deglutidas 8. Ao serem deglutidas se fixam no intestino delgado transformando-se em vermes adultos 9. Após a cópula liberam ovos não embrionados e são liberados nas fezes 10. Em condições favoráveis no ambiente se tornam embrionados evoluindo para L1 e L2 (forma rabditoide) QUADRO CLÍNICO Sintomas gerais: ranger dos dentes, desconforto abdominal, cólica, náuseas, emagrecimento, febre e vermes expelidos pela boca ou nariz. Larvas: Fígado: pequenos focos hemorrágicos e de necrose que se tornam fibrosados. Pulmões: edemaciação dos alvéolos com infiltrado parenquimatoso eosinofílico, manifestações alérgicas, febre, bronquite e pneumonia (Sd de Loeffler). Na tosse produtiva, o catarro pode ser sanguinolento e apresentar larvas do helminto. Vermes adultos: Ação espoliadora: os vermes consomem proteínas, carboidratos, lipídios e vitaminas A e C, levando o paciente a subnutrição e depauperamento físico e mental. Ação tóxica: reação entre antígenos parasitários e anticorpos alergizantes do hospedeiro, causando edema, urticária e convulsões epileptiformes. Ação mecânica: causam irritação na parede e podem enovelar-se na luz intestinal, levando à sua obstrução. Localização ectópica: pacientes com altas cargas parasitárias ou quando o verme sofre alguma ação irritativa (febre, uso impróprio de medicamento e ingestão de alimentos muito condimentados) ele desloca-se de seu hábitat normal atingindo locais não-habituais, causando apendicite, pancreatite, etc. DIAGNÓSTICO Clínico e Epidemiológico: observar áreas endêmicas. Laboratorial: EPF (3 amostras ) Qualitativo: Hoffman, Lutz, Pons (sedimentação em água) Quantitativo: Kato Katz (quantificação de ovos através da solução de Verde de Malaquita Glicerinada) HMG: Anemia leve a moderada, associada à eosinofilia RX de tórax: infiltrado pulmonar uni ou bilateral (padrão migratório). RX de abdome: bolo de ascaris (suboclusão), distensão de alças com ou sem nível liquido. TRATAMENTO Mebendazol (100mg/5ml ): 100 mg, 2x/ dia, por 3 dias. Repetir após 15 a 60 dias (parasitoses múltiplas). Eficácia de 90%. MÓDULO 14 – DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA Lúria Niemic Onofre – Medicina, turma XXXIV Pamoato de Pirantel (associado à enterobíase): 10-20 mg/kg, VO, DU. Levamisol (se infecção isolada): VO em DU 30 min antes das refeições; repetir após 3 semanas. < 2 anos = 20 à 40 mg 2 à 8 anos = 40 à 80 mg > 8 anos = 80 à 150mg Albendazol (ovicida, larvicida e vermicida): 400mg por 3 à 5 dias, DU (independente de idade ou peso). Contra indicado em <2 anos. Eficácia de 90 a 100%. Nitazoxanida (Annita ® - 20mg/ml): 7,5 mg/kg a cada 12 horas, por 3 dias, com alimentos. ANCYLOSTOMA DUODENALE CARACTERÍSTICAS Agente etiológico: Ancylostoma duodenale e Necator americanus Forma infectante: larva L3 (filaróide) Transmissão: penetração cutânea (necator) ou ingestão das larvas ou ovos em alimentos ou agua (ancylostoma) Epidemiologia: perde apenas para ascaridíase, predomina nas regiões de baixas condições socioeconômicas CICLO BIOLÓGICO MONOXENO 1. Pelas fezes são eliminados os ovos do parasitas no solo 2. As larvas rabditoides saem dos ovos e vão permanecer no solo 3. As larvas rabditoides sofrem mudança para filaróide (L3), forma contaminante 4. As larvas penetram na pele 5. Atingem a circulação sanguínea e linfática, sendo levadas até o coração direito 6. Atingem os vasos pulmonares, onde sofrem mudança para L4 (ciclo de Loss) 7. Migram para a árvore traqueobrônquica 8. São deglutidas após chegarem na glote 9. No duodenojejuno se maturam a vermes adultos e se fixam à mucosa intestinal 10. Após 6-7 semanas, as fêmeas produzem seus ovos QUADRO CLÍNICO Fase Invasiva: Dermatite Larvária (prurido, eritema, edema e erupção papulovesicular por até 2 semanas). Migração Larvar: Pneumonite Larvária/ Sd. de Loëffler (tosse, rouquidão, sibilos). Fixação do verme adulto na mucosa intestinal: Parasitismo intestinal. Espoliação/Hemorragia: Sangue perdido no tubo digestivo (anemia/hipoproteinemia) Sangue ingerido pelo parasita. Manifestações GI: Perversão do apetite, diarreia profusa ou constipação intestinal, anorexia, dor abdominal, enterorragia ou melena, polifagia e geofagia (relacionada à carência de ferro). OBS: Quando o paciente tem uma anemia ferropriva importante, pode ter perversão alimentar: vontade de comer terra, tijolo, papel, chupar gelo, comer açúcar, se chama pica que é perversão alimentar por anemia ferropriva. DIAGNÓSTICO Clínico: áreas endêmicas + sintomas Laboratorial: MÓDULO 14 – DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA Lúria Niemic Onofre – Medicina, turma XXXIV EPF (3 amostras) – identificação dos ovos por técnicas de flutuação em solução saturada de Cloreto de Sódio (Willis) e em solução de Sulfato de Zinco (Faust); ovos e larvas pelas técnicas de Hoffman, Pons e Janner e Kato-Katz HMG: anemia microcítica/hipocrômica e eosinofilia Proteínas totais e frações: hipoproteinemia Sangue oculto nas fezes TRATAMENTO Mebendazol (100mg/5ml): 100mg, 2xdia, por 3 dias. Repetir após 15 a 30 dias (parasitoses múltiplas – eficácia 80-90%). Albendazol(400mg/10ml): 400mg, dose única, por 3-5 dias. Não há estudoem <2 anos (eficácia 80-100%). Pamoato de Pirantel: 10mg/kg/dia, dose única, por 3 dias (droga de 2ªlinha – eficácia 50%). Nitazoxanida (Annita ® - 20mg/ml): 7,5 mg/kg a cada 12h, por 3 dias, com alimentos. ENTAMOEBA HISTOLYTICA CARACTERÍSTICAS Transmissão: fecal/oral, contaminação acidental e vetores mecânicos Forma infectante: cistos Período de incubação: 2-6 semanas, podendo variar dias, meses e anos Epidemiologia: doença típica de países em desenvolvimento, somente 10% dos parasitados desenvolve sintomas ao longo de 1 ano, maior frequência em homens. CICLO BIOLÓGICO MONOXENO 1. Ingestão de cistos do parasita por meio do alimento ou águaa contaminada 2. Passagem pelo estômago (resistente ao suco gástrico) 3. No final do intestino delgado ou inicio do grosso ocorre desencistamento liberando metacistos 4. Metacistos sofrem divisão, formando trofozoítos metacísticos 5. Migração para o intestino grosso onde realizará o comensalismo Quebra da homeostasia 6. Invasão da submucosa intestinal 7. Multiplicação nas úlceras e disseminação pela circulação porta (trofozoíto magna) 8. Atinge órgãos como fígado, pulmões, derme, rins e cérebro 9. Encistamento no intestino grosso 10. Eliminação de cistos nas fezes PATOGENIA Bactérias anaeróbias, colesterol e infecções sucessivas favorecem a virulência do parasito; Mudança do perfil comensal para agressivo; Presença de produtos amebianos: lectina, ameporos e proteinases; Formação de amebona: massa granulomatosa causada pela resposta inflamatório. QUADRO CLÍNICO AMEBÍASE ASSINTOMÁTICA: elimina cistos nas fezes (90% das infecções – trofozoítas na luz intestinal) AMEBÍASE INTESTINAL: Colite não-disentérica: 2-4 evacuações/dia, fezes mucossanguinolentas, desconforto abdominal ou cólicas, pode apresentar febre. Colite disentérica: 8-10 evacuações/dia, tríade de evacuações com pus e sangue, cólicas abdominais e tenesmo, febre e distensão abdominal. MÓDULO 14 – DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA Lúria Niemic Onofre – Medicina, turma XXXIV Colite Necrotizante: invasão da parede do colón podendo ocorrer úlceras, isquemia, hemorragia, megacólon tóxico e perfuração. Ameboma: granuloma com parede fibrosa, podendo causar suboclusão /oclusão intestinal. AMEBÍASE EXTRAINTESTINAL: Abscesso Hepático (2ª forma mais frequente de amebíase invasiva): febre alta, distensão abdominal, irritabilidade, queda do estado geral e hepatomegalia dolorosa; em < 30% dos casos há relato de diarreia prévia. Se não tratado, o abscesso pode perfurar para o peritônio, pleura ou pericárdio. DIAGNÓSTICO Laboratorial: EPF Fezes formadas: pesquisa de cistos (exame direto ou técnica de concentração) em 3 amostras, no mínimo. Fezes disentéricas: pesquisa dos trofozoítos (até 30 min após a evacuação). Imagem: USG e TC: detectam abscessos hepáticos e em outros locais (extra-intestinais). Retossigmoidoscopia (ulcerações características da colite amebiana). TRATAMENTO Todo portador assintomático da E.histolytica deve ser tratado. Atuam como fonte de propagação do parasita e podem ocasionar a doença e desenvolver a forma invasiva. AMEBICIDAS DE AÇÃO DIRETA SOBRE O PROTOZOÁRIO, NÃO ABSORVÍVEIS (ASSINTOMÁTICO): Teclosan: até 40 kg: 20mg/dose, 8/8 h, VO; >40 kg: 40 mg/dose, 8/8hs, VO Etofamida: 100mg/dose, 8/8 h, VO, por 3 a 5 dias DOENÇA INTESTINAL LEVE A MODERADA (COLITE DISENTÉRICA E NÃO-DISENTÉRICA) Metronidazol: 20 mg/kg/dose, 3 vezes/dia , por 10 dias Secnidazol: 30mg/kg, dose única Tinidazol: 50mg/kg, dose única, por 2 a 5 dias Nitazoxanida (Annita ® - 20mg/ml): 7,5 mg/kg a cada 12h, por 3 dias, com alimentos. DOENÇA INTESTINAL GRAVE OU AMEBÍASE HEPÁTICA Metronidazol ( droga de escolha) : 15mg/kg/dose, 3 vezes/dia, por 10 dias, EV Tratamento com derivados nitroimidazólicos deve ser completado com drogas de ação exclusiva luminal nas infecções por E.histolytica (teclosan e etofamida). STRONGYLOIDES STERCORALIS CARACTERÍSTICAS Forma infectante: larva L3 MÓDULO 14 – DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA Lúria Niemic Onofre – Medicina, turma XXXIV Transmissão: via percutânea, autoinfestação Epidemiologia: no Brasil a prevalência varia entre 15-82%. CICLO BIOLÓGICO MONOXENO Direto (partenogênico – L3): larva raditóide L1 alcança o solo e se transforma em filaróide L3 (infectante) ocorre a penetração. Indireto (sexuado ou de vida livre – L1 e L2): Larva rabditoide passa por 4 transformações, originando machos e fêmeas de vida livre. Cópula com liberação de L3. 1. Pode ocorrer penetração ativa da L3 na pele, chegando a circulação sanguínea 2. Atingem os pulmões (ciclo de Loss), ocorre mudança de L3 para L4 nos capilares pulmonares 3. Chegam à faringe onde são expectorados ou deglutidos 4. Ao serem deglutidos, atingem o intestino delgado onde se transformarão em fêmeas partenogênicas, dando origem aos ovos sendo eliminados nas fezes. QUADRO CLÍNICO Assintomático. Lesões cutâneas (Dematite Larvária): prurido e placas urticariformes em pés, mãos, nádegas ou região anogenital. Sintomas pulmonares (Pneumonite Larvária): tosse, dispneia, febre, pneumonite eosinofílica -> Sd. de Loëffer (Rx com infiltrado intersticial migratório). Sintomas intestinais: Enterite catarral (fêmeas invadem a mucosa) -> diarréia secretora, anorexia, náuseas, vômitos, distensão e dor abdominal em cólica; ou dor epigástrica, pirose, queimação (mimetizam uma úlcera péptica) -> Síndrome Pseudoulcerosa. DIAGNÓSTICO Laboratorial: EPF (3 amostras) – Técnica de Baermann-Moraes (identificação das larvas nas fezes) HMG: eosinofilia Sorologias (Elisa e IFI) Imagens: EDA (alterações inflamatórias inespecíficas) Biópsia de ID: parasitas no interior das criptas TRATAMENTO Tiabendazol (eficácia : 90 a 100%, 1ª escolha): 25mg/kg/dose de 12/12h por 3 dias. Repetir após 15 dias (Thiaben 250mg/5ml). Dose máxima 3g/dia. Está mudando um pouco isso, devido ter muito efeito colateral. Então estudos vem mostrando que uma outra droga que é tão eficaz quanto o tiabendazol e que tem muito menos efeito colateral é a Ivemectina. Cambendazol (eficácia: 90 a 95%, vermes adultos e larvas): 5 mg/kg, dose única. Ivermectina (eficácia : 90 a 100%, poucos efeitos colaterais): 200mcg/kg DU. Contra indicado em < 15kg. Na estrongiloidíase disseminada, tratar por 2 dias seguidos e repetir após 15 dias. Albendazol (eficácia: 30 a 85%): 800mg 1x ao dia por 3 dias (eficácia inferior – dose dobrada). Contra indicado em < 2 anos. MÓDULO 14 – DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA Lúria Niemic Onofre – Medicina, turma XXXIV ENTEROBIUS VERMICULARES CARACTERÍSTICAS Forma infectante: ovo Transmissão: auto-infecção, retro-infecção e heteroinfecção Epidemiologia: comum na infância, em instituições infantis. CICLO BIOLÓGICO MONOXENO 1. Fêmea e macho copulam (macho morre e é liberado nas fezes) 2. No interior das fêmeas terão os ovos 3. No período noturno, a fêmea se move da região fecal para a anal 4. Aonde ela vai se romper e liberar os ovos, que após 6 h se tornarão contaminantes 5. Ingestão de ovos 6. Liberação das larvas rabditoides no intestino delgado, onde sofrem duas mudas até o ceco 7. No ceco transformam-se em vermes adultos 8. 1-2 meses depois as fêmeas são encontradas na região perianal QUADRO CLÍNICO Na maioria dos casos, é assintomático. Só nota o verme quando sente ligeiro prurido anal (à noite, principalmente) ou quando vê o verme nas fezes. Em infecções maiores, pode provocar enterite catarral por ação mecânica e irritativa. O ceco apresenta-se inflamado e, às vezes, o apêndice também é atingido. Sintomas GI (raros) decorrentes da fixação dos vermes na mucosa: dor abdominal, diarréia, náuseas e vômitos; A mucosa local mostra-se congesta, recoberta de muco contendo ovo e, ás vezes, fêmeas inteiras.O ato de coçar a região anal pode lesar ainda mais o local, possibilitando infecção bacteriana secundária. O prurido ainda provoca perda de sono e nervosismo. A presença de vermes nos órgãos genitais femininos pode levar a vaginite, metrite, salpingite e ovarite. DIAGNÓSTICO Clínico e epidemiológico (queixa de prurido anal noturno) Laboratorial: Fita gomada e/ou Swab anal (método de Graham) TRATAMENTO Pamoato de Pirvínio (eficácia: 90-100%): 10 mg/Kg, VO, DU. (Tem uma eficácia boa, só que não tem na rede publica); Albendazol (eficácia: 90-100%, poliparasitismo): 400 mg/dia, DU.(é ótimo, pega muito bem, 1 dose só é o suficiente) Mebendazol (eficácia: 90 – 100%): 100 mg /dia, VO, DU ou por 3 dias (quando associada a outras parasitoses). Pamoato de Pirantel (eficácia: 90%, indicado em associações com a ascaridíase): 10 mg/Kg, VO, DU. PREVENÇÃO Tratar todos os familiares, especialmente as outras crianças. Impedir a contaminação dos dedos das crianças com os ovos (unhas cortadas); Lavar o vestuário e roupas de cama; Repetir o medicamento após 15 a 20 dias, devido a alta infectividade. MÓDULO 14 – DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA Lúria Niemic Onofre – Medicina, turma XXXIV GIARDIA LAMBLIA CARACTERÍSTICAS Forma infectante: cistos Transmissão: fecal/oral, unhas com cistos, contaminação acidental e vetores mecânicos Período de incubação: 1-4 semanas, com média de 7-10 dias Epidemiologia: alta nos países subdesenvolvidos (20-30%) CICLO BIOLÓGICO MONOXENO 1. Ingestão de cistos em alimentos ou água contaminada 2. Desencistamento no estômago (pH ácido) com finalização no duodeno 3. Colonização do duodeno e jejuno na forma de trofozoíto 4. Divisão binária 5. Encistamento no ceco 6. Eliminação nas fezes PATOGENIA Alterações morfológicas na mucosa intestinal Perda da superfície de contato Causas: ação das proteases e ativação de linfócitos com liberação de histamina e PG QUADRO CLÍNICO Assintomático (vai depender da carga parasitária, se tiver pouco verme, não vai ter sintoma); Diarreia Aguda: início abrupto, fezes líquidas, explosivas e fétidas, com curso autolimitado. Geralmente pode haver sintomas dispépticos gerais como náuseas, vômitos, distensão abdominal alta, dor abdominal difusa ou epigástrica e flatulência. Diarreia Crônica: persistência ou recorrência da diarreia (a cada 15-30 dias) e quadros de má absorção (perda de peso, distensão abdominal). É comum em crianças desnutridas devido às alterações da mucosa intestinal e maior exposição a infecções. No geral: diarreia explosiva de odor fétido (duração de poucos dias), esteatorréia, dores abdominais acompanhada de gases, fezes mucossanguinolentas, dificuldade de absorção de nutrientes, perda de peso e vômitos. DIAGNÓSTICO EPF (3 amostras colhidas a cada 3-4 dias): Fezes formadas: pesquisa de cistos pela técnica de Faust ou de Ritchie Fezes disentéricas: pesquisa dos trofozoítos (até 40 min após a evacuação) – exame direto a fresco Sondagem duodenal: pesquisa de trofozoítos no fluido duodenal Testes Sorológicos: ELISA, RIFI e PCR Biópsia duodeno-jejunal (diagnóstico diferencial de outras doenças-Doença Celíaca) TRATAMENTO Metronidazol (1ª escolha - 90% eficácia): 5 a 10mg/kg/dose, VO, 3 vezes ao dia, por 5 - 10 dias Secnidazol (90% eficácia): 30mg/kg/dose, dose única, VO Tinidazol (90% eficácia): 50mg/kg/dose, dose única, VO Nitazoxanida (Annita ® - 20mg/ml): 7,5 mg/kg a cada 12 horas, por 3 dias, com alimentos. MÓDULO 14 – DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA Lúria Niemic Onofre – Medicina, turma XXXIV Nimorazol (eficácia reduzida): 15- 20mg/kg/dia, 2 vezes ao dia, por 5 dias (máximo: 500mg/dose). Albendazol: 400mg/dia, VO, por 5 dias (crianças > 2 anos e adultos) Furazolidona (eficácia reduzida): 6 mg/kg/dia, VO, 4 vezes ao dia , por 7-10 dias PREVENÇÃO Medidas de higiene pessoal (lavar as mãos), destino correto das fezes, proteção dos alimentos e tratamento da água. TAENIA SOLLIUM E SAGINATA CARACTERÍSTICAS Hospedeiros: intermediário desenvolve cisticercose e definitivo desenvolve teníase Epidemiologia: cerca de 77 milhões de pessoas estejam infestadas pela T. saginata e cerca de 2,5 milhões pela T. solium em todo mundo. CICLO BIOLÓGICO MONOXENO 1. Ingestão dos ovos pelo hospedeiro intermediário 2. No estômago sofre ação da pepsina sobre a quitina 3. No intestino, sais biliares atuam e liberam a oncosfera 4. Oncosfera penetra nas vilosidades intestinais chegando a corrente sanguínea e indo em direção aos tecidos 5. Nos tecidos (muscular, cardíaco, nervoso e subcutâneo) a oncosfera se diferencia em cisticerco HETEROXENO 6. Ingestão da carne contaminada com cisticerco pelo hospedeiro definitivo 7. Cisticerco sofre ação do suco gástrico no estômago e evagina-se 8. Fixação na mucosa intestinal através do escolex transformando-se em tenia adulta 9. Depois de 3 meses, forma proglotes grávidas que serão liberadas nas fezes PATOGENIA / QUADRO CLÍNICO TENÍASE Devido ao longo período em que a T. solium ou saginata parasitam o homem, podem causar fenômenos tóxicos alérgicos, através de substâncias excretadas, provocar hemorragias através da fixação na mucosa, destruir o epitélio e produzir inflamação com infiltrado celular com hipo ou hipersecreção de muco. O rápido crescimento do parasito requer um considerável suplemento nutricional, que leva a uma competição com hospedeiro, provocando consequências maléficas para o mesmo. Podem apresentar tonturas, astenia, apetite excessivo, náuseas, vômitos, alargamento do abdômen, dores fortes em diferentes regiões do abdômen e perda de peso. Obstrução intestinal provocada pelo estróbilo, ou ainda a penetração de uma proglote no apêndice, são raras. CISTICERCO É uma doença pleomórfica pela possibilidade de alojar-se o cisticerco em diversas partes do organismo. Pode ser assintomático ou apresentar sintomas como crises epiléticas, cefaleia, meningite cisticercótica, distúrbios psíquicos, cisticercose cardíaca, neurocisticercose, cisticercose ocular e nódulos subcutâneos. DIAGNÓSTICO Clínico: visualização das proglotes nas fezes MÓDULO 14 – DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA Lúria Niemic Onofre – Medicina, turma XXXIV Laboratorial: Tamisação (peneiragem das fezes e encontro dos proglotes); Swab anal ou fita gomada (ovos); EPF (ovos) – Hoffman, Pons e Janer ou de Faust. TRATAMENTO Praziquantel ( eficácia 95 – 100%): 10 – 20 mg /kg , 1x/dia por 4 dias; Na neurocisticercose a dose é 30-50mg/kg/dia por 15 dias. Niclosamida (eficácia 90%): < 35kg => 1g; > 35kg => 2g (em jejum), DU Mebendazol: 200mg/dose, de 12/12 horas, durante 4 dias; Nitazoxanida (Annita ® - 20mg/ml): 7,5 mg/kg a cada 12 horas, por 3 dias, com alimentos. TOXOCARA (TOXOCARÍASE) CARACTERÍSTICAS Agentes etiológicos: Toxocara canis (+ comum), Toxocara catis e Ascaris suum (raro) Hospedeiro definitivo: cão Hospedeiro acidental: homem Forma infectante: ovo Transmissão: ingestão de ovos Epidemiologia: depende da contaminação de áreas públicas com fezes de cães e gatos. Frequente em portadores de PICA. CICLO BIOLÓGICO 1. Liberação dos ovos nas fezes do hospedeiro definitivo 2. Os ovos contaminam o solo e a água 3. Ingestão de ovos pelo humano 4. Liberação das larvas no TGI 5. Perfuração da parede intestinal 6. Invasão da corrente sanguínea 7. Atingem a veia porta, fígado e circulação sistêmica. Quando estão em vasos pequenos, desviam para tecidos. PATONGENIA Ação direta das larvas Reação granulomatosa do hospedeiro (granulomas eosinofílicos) QUADRO CLÍNICO Sd. de Loeffler, dor abdominal, hepatomegalia, rash cutâneo, dispnéia e broncoespasmos. DIAGNÓSTICO EIA ELISA Biópsia Hemograma: leucocitose com eosinofilia e hipergamaglobulinemia policlonal TRATAMENTO Albendazol MÓDULO 14 – DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA Lúria Niemic Onofre – Medicina, turma XXXIV Mebendazol Corticoides sistêmicos (casos graves) TRICHURIS TRICHIURA CARACTERÍSTICAS Forma infectante: ovo embrionado Transmissão: ingestão de ovos Epidemiologia: no Brasil a prevalência oscila em torno de 40% CICLO BIOLÓGICO 1. Ingestão dos ovos pelo hospedeiro 2. Eclodem na parte superior do intestino delgado penetrando nas vilosidades 3. Liberam as larvas que vão para o intestino grosso 4. Atingem a maturidade sexual e acasalam 5. Ovos não embrionados são liberados pelas fezes do hospedeiro 6. Em um ambiente climático favorável, os ovos evoluem em 2-3 semanas para embrionados infectantes QUADRO CLÍNICO Assintomática Infestação Leve: desconforto abdominal e dor em FID, anorexia, anemia (perdas sanguíneas pequenas). Infestação Grave (tricuríase maciça): disenteria crônica com fezes mucossanguinolentas (ulcerações), anemia hipocrômica e microcítica, distensão abdominal e cólicas. Pode ocorrer prolapso retal em alguns casos (relaxamento esfincteriano e hipotonia muscular, tensão retal devido ao tenesmo e aumento da pressão sobre a mucosa devido fixação dos vermes). DIAGNÓSTICO Laboratorial: EPF (3 amostras) – Hoffman, Pons e Janer (sedimentação)/ Faust e Willis (flutuação) HMG anemia hipocrômica-microcítica e eosinofilia Imagens: Retossigmoidoscopia (mucosa friável + vermes adultos) TRATAMENTO Pamoato de Oxipirantel (1ªescolha, eficácia: 70-90%, efeitos colaterais minímos): 8mg/kg, VO, DU Mebendazol(100mg/5ml; eficácia: 75-80%): 100mg, 2x ao dia/3 dias. Na tricuríase maciça recomenda-se 3 sessões de 3 dias com intervalo de 15 dias. Albendazol (400mg/10ml): 400mg, 1x ao dia, 3 a 5 dias (eficácia: 80%) SHISTOSOMA MANSONI CICLO BIOLÓGICO 1. Eliminação de ovos nas fezes 2. Liberação dos miracídios que infestam caramujos do gênero Planorbidae 3. Após 4-6 semanas os caramujos eliminam cercarias que 4. Penetram ativamente pela pele do novo hospedeiro fazendo 5. Ciclo pulmonar obrigatório MÓDULO 14 – DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA Lúria Niemic Onofre – Medicina, turma XXXIV PATOGENIA O verme adulto se localiza preferencialmente na veia mesentérica inferior. A ovopostura provoca reações granulomatosas no fígado, baço, pulmões e intestinos. QUADRO CLÍNICO Forma aguda: quadro inespecífico de febre dor abdominal e anorexia. Forma crônica e clássica: distúrbios inapetência, emagrecimento e hepatoesplenomegalia. HYMENOLEPIS NANA CICLO BIOLÓGICO 1. Eliminação de ovos nas fezes com ingestão pelo novo hospedeiro 2. Os ovos se transformam em larvas e em seguida em vermes adultos PATOGENIA Discreta ação inflamatória e pequenas ulcerações da mucosa do intestino delgado QUADRO CLÍNICO Maior parte dos casos é assintomática, pode evoluir com distúrbios GI. DIAGNÓSTICO Achado de ovos no EPF, através de técnica de concentração de ovos. TRATAMENTO Prazinquantel ou niclosamida, devendo ser repetido 20 a 30 dias após, devido a possibilidade de auto-infecção. DOR ABDOMINAL NA INFÂNCIA INTRODUÇÃO A dor abdominal está entre as causas mais comuns de consulta médica ao gastroenterologista e ao clínico geral. É associada a agressões teciduais a 1 ou + órgãos contidos dentro dessa cavidade ou à parede do abdome. Pode ser também relacionada aos distúrbios funcionais do aparelho digestivo. A sensação de dor decorre da interação de fatores objetivos, de ordem fisiopatológica, e fatores subjetivos, de ordem psicossocial. Os determinantes fisiopatológicos da dor abdominal guardam relação com o tipo de órgão atingido, com a intensidade do estímulo, com as vias neurológicas desde o local do estímulo até sua projeção no SNC e com a integridade das áreas cerebrais envolvidas na interpretação da mensagem dolorosa. Assim, as sensações dolorosas provenientes da parede abdominal, do peritônio parietal ou das vísceras terão características diferentes. Os determinantes psicossociais da dor estão relacionados às características da personalidade do paciente, à sua particular capacidade de aceitação da doença, ao impacto provocado por ela em sua vida pessoal, à ansiedade em relação à evolução da dor e à possibilidade de enfrentar exames agressivos, cirurgias, ou mesmo a morte. A transmissão do estímulo doloroso, desde as vísceras abdominais até o córtex cerebral, se dá por meio de 3 níveis de neurônios. O primeiro nível é o de neurônios aferentes, que vão desde as estruturas abdominais até a sinapse no corno anterior da medula. As fibras envolvidas têm características diferentes, conforme a área de onde partem. As existentes no peritônio, MÓDULO 14 – DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA Lúria Niemic Onofre – Medicina, turma XXXIV mesentério e vísceras são de condução lenta e produzem uma sensação insidiosa e não localizada de dor, e aquelas distribuídas na pele e nos músculos geram uma sensação aguda e mais localizada. O segundo nível faz o cruzamento até o lado contralateral da medula e sobe, chegando respectivamente ao tálamo e à substância reticular. O terceiro nível é o que leva o estímulo ao córtex, com ramos para o sistema límbico (onde a dor é percebida e interpretada). Esse sistema servirá como um modulador da sensação dolorosa e leva em conta o estado emocional e as experiências anteriores. O córtex está envolvido na identificação do local da dor e no reconhecimento da intensidade do estímulo. A dor abdominal pode ser visceral quando vinda de órgãos intra-abdominais, parietal quando compromete o peritônio, ou referida, se ocorre em ponto diferente do local acometido. Outras vezes, poderá estar relacionada a distúrbios ainda não totalmente compreendidos, como ocorre nas doenças funcionais do aparelho digestivo, em que estímulos endógenos normais, atuando em estruturas com sensibilidade aumentada, causam sensação de dor. Ocasionalmente, ela poderá decorrer de comprometimento inflamatório ou traumático da parede abdominal. Hormônios e mediadores inflamatórios, como as citocinas, também influenciam no limiar do impulso doloroso. Essa integração entre os vários componentes explica a grande variabilidade na maneira com que diferentes indivíduos se queixam de uma dor de mesma origem. Os receptores das vísceras abdominais respondem a estímulos mecânicos e químicos. Diferentemente do que ocorre com os somatorreceptores, cortar ou comprimir uma víscera não resulta em dor. A estimulação desses receptores ocorre quando se distende a víscera, por exemplo, nas fortes contrações observadas na obstrução intestinal, biliar ou ureteral. Também ocorre dor na distensão rápida da cápsula de uma víscera maciça, como se dá no fígado, em virtude de uma insuficiência cardíaca direita, ou nas torções de alça que englobam o mesentério. TIPOS DE DOR / FISIOPATOLOGIA Dor visceral tende a ser insidiosa, não tão bem localizada, e apontada como cólica, queimação ou dor persistente. Associa-se frequentemente a fenômenos gerais como sudorese, palidez, náuseas e vômitos. Dor parietal tende a ser mais aguda, intensa e localizada. Essa melhor definição se deve a uma inervação realizada com outros tipos de fibras e também ao fato de cada região do peritônio parietal ser representada em apenas um lado do SN, ao contrário da representação visceral feita de ambos os lados. Um exemplo ilustrativo dessa diferença entre dor parietal e visceral é o que ocorre na apendicite aguda. No início, quando apenas o apêndice está acometido, a dor é pouco precisa na região periumbilical; depois, torna-se bem mais intensa e localizada na fossa ilíaca direita, quando envolve o peritônio parietal. Essa dor piora com a tosse, com movimentos bruscos, com a palpação e com a descompressão brusca. Dor referida é aquela que o paciente percebe em locais distantes do órgão doente. Por exemplo, a dor diafragmática oude uma gestação ectópica pode ser sentida em outros locais, como ombros e costas. Isso ocorre pela convergência de neurônios viscerais e somáticos de locais não vizinhos para o mesmo local na medula ou pelo uso de uma via comum da medula ao cérebro. Dor psicogênica esta relacionada a distúrbios psicológicos e a mecanismos neuro-hormonais levando a alterações secretoras, vasculares, de tônus e motilidade intestinal. CLASSIFICAÇÃO Segundo a Subcomissão de Dor Abdominal Crônica da AAP (American Academy of Pediatrics) e NASPGHN (North American Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition) podem ser utilizadas as seguintes definições, para designar os subgrupos existentes: Dor abdominal aguda (DAA) - episódio único com duração de horas ou dias. Dor abdominal crônica (DAC) - quadro de dor abdominal de longa duração (+3m) com padrão contínuo ou intermitente. Dor abdominal orgânica (DAO) - quando associada a uma causa anatômica, inflamatória ou dano tecidual. Dor abdominal funcional (DAF) - ocorre na ausência de uma causa anatômica, inflamatória ou dano tecidual. MÓDULO 14 – DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA Lúria Niemic Onofre – Medicina, turma XXXIV ETIOLOGIA DIAGNÓSTICO HISTÓRIA CLÍNICA: Ouvir o paciente com atenção e estimulá-lo a descrever seus problemas com as próprias palavras é o início mais adequado. Algumas perguntas bem dirigidas, conforme sugerido a seguir, trarão os detalhes necessários: Onde começou? Mostre. Ela permaneceu somente neste local ou atingiu outros pontos? Quando começou? Está relacionada com as refeições? É cólica, pontada ou dor contínua? É a primeira vez? Houve alguma mudança no funcionamento intestinal? Alguma alteração das fezes ou da urina? Eliminou gases? Vomitou? Junto com essa dor ocorreu algum outro problema? A dor é forte a ponto de mudar sua rotina? Após elucidar essas questões, complementa-se com um exame físico cuidadoso, procurando encontrar o local da dor, onde ela é mais intensa, se ela ocorre somente com a palpação, se há descompressão dolorosa ou se é sensível a manobras específicas. LOCALIZAÇÃO DA DOR: O local da dor pode limitar bastante o número de hipóteses diagnósticas. Embora esse seja um dado importante, é preciso atentar às variações de local da dor originada do mesmo órgão doente, assim como para a mudança de local em momentos diferentes. Exemplos: A úlcera perfurada tem início no epigástrio e depois em todo o abdome. A diverticulite durante algum tempo, pode ser do tipo visceral em fossa ilíaca esquerda e, a partir de determinado momento, com a perfuração, amplia-se, por acometer o peritônio local ou de toda a cavidade. Em outros casos, a dor, embora mais intensa em determinado local, poderá apresentar irradiação característica. Exemplos: A colecistite aguda que ocorre em QSD e que irradia para o ombro; A pancreatite aguda, em que a dor característica surge no epigástrio, com irradiação para os lados e para as costas. MÓDULO 14 – DOR ABDOMINAL, DIARREIA, VÔMITO E ICTERÍCIA Lúria Niemic Onofre – Medicina, turma XXXIV INÍCIO, EVOLUÇÃO E INTENSIDADE: O início súbito de uma dor muito intensa e persistente está relacionado às perfurações e infartos por trombose mesentérica. Embora de início não tão súbito e nem sempre tão drástico, a dor decorrente de obstrução por cálculo biliar ou renal tem sua instalação bem marcada. Nesses casos, a exemplo da obstrução intestinal, ela é bastante intensa, porém, pode ter momentos de melhora parcial ou ser intermitente. Pancreatite aguda e colecistite aguda também se manifestam com dor intensa, persistente, de instalação rápida, apesar de, em geral, não ser súbita. Em todos esses casos, não há relato de melhora com medicação analgésica oral. Com relação à evolução, em algumas doenças, como na apendicite aguda e na trombose mesentérica, a dor tende a piora rápida, e em outras, como na pancreatite aguda, permanece tão intensa quanto quando começou e só melhora com uma forte analgesia. Na gastroenterocolite, a dor com características de cólica varia em sua intensidade e tende a melhorar com a evacuação. Dor de longa duração, contínua ou intermitente, entra no grupo das doenças crônicas: DIP, a pancreatite crônica, a colecistopatia crônica, as dispepsias funcionais, a Sd. do intestino irritável e as doenças inflamatórias intestinais. A avaliação da intensidade, embora, na maioria das vezes, haja uniformidade nas informações dos pacientes sobre a dor de mesma origem, pode haver variações de um paciente para outro, em função de características pessoais e do estado emocional naquele momento. Quando há muitas dúvidas sobre a relevância da dor, podem ser procurados alguns indicadores que, com frequência, acrescentarão dados interessantes. Então, pergunta-se ao paciente, se a dor já o fez faltar ao trabalho ou a compromissos importantes, se já foi atendido em caráter de urgência, se precisou tomar medicação analgésica injetável, etc. FATORES QUE MODIFICAM A DOR: O conhecimento de situações que desencadeiam a dor e situações em que há melhora ou piora podem trazer alguma contribuição. Assim, para boa parte dos portadores de úlcera duodenal, há alívio temporário após a alimentação. Também é comum o aparecimento ou a piora da dor quando portadores de colecistite crônica ingerem alimentos gordurosos. Na pancreatite crônica, em fase sintomática, o simples fato de comer leva ao aparecimento ou à piora da dor. Alguns pacientes informam melhora da dor quando usam medicamentos de uso comum, até sem prescrição médica. É o que se observa com os anti-ácidos na úlcera péptica e os antiespasmódicos nas cólicas viscerais. Em algumas situações, a dor se altera com a posição ou com o movimento. É bem típica a posição antálgica, procurando se curvar sobre si mesmo – posição adotada pelos portadores de pancreatite crônica, nos episódios de dor aguda. Pacientes com cólica biliar, nefrética ou intestinal, tendem há ficar o tempo todo se movimentando, à procura de uma posição em que a dor melhore, ao passo que outros, com acometimento peritoneal, procuram ficar quietos, porque a movimentação piora a dor. SINTOMAS OU SINAIS ASSOCIADOS: Os vômitos são manifestações frequentes nas doenças do estômago, do duodeno e nas obstruções proximais do intestino delgado. Vômitos fecaloides aparecem nas obstruções mais baixas. Dor abdominal com disenteria pode ser decorrente das gastroenterocolites agudas ou da retocolite ulcerativa inespecífica. A presença de fístulas anais ou para a parede abdominal sugere doença de Crohn. Febre, artralgia, perda de peso, suor noturno, histórias anteriores de constipação ou diarreia constituem dados importantes na elucidação de alguns diagnósticos. ANTECEDENTES PESSOAIS E FAMILIARES: A constatação de episódios semelhantes no passado, de antecedentes familiares, de doença sistêmica de base, ou de riscos ocupacionais auxilia no diagnóstico. Doenças confirmadas, como porfiria, anemia falciforme, lúpus, síndrome nefrótica ou doenças vasculares, podem pressupor uma etiologia para a dor. Pacientes que informam cálculo biliar já detectado têm certamente maior chance de colecistite ou coledocolitíase, assim como aqueles que têm outros familiares com cálculo renal terão mais chance de ter cólica nefrética. EXAME FÍSICO DO PACIENTE COM DOR ABDOMINAL EXAME GERAL: Nos casos de dor crônica são importantes a avaliação nutricional, a presença de edema, de anemia e de emagrecimento. Nos agudos, são importantes a atitude no leito, a FR, a expressão facial, o humor, o grau de desconforto e de hidratação. Pacientes com doenças mais graves têm todos esses parâmetros alterados e apresentam-se frequentemente com taquicardia mantida, sudorese, lábios secos, respiração rápida e superficial. Hipotensão e baixa perfusão periférica são sinais de alarme. MÓDULO 14 – DOR ABDOMINAL, DIARREIA,VÔMITO E ICTERÍCIA Lúria Niemic Onofre – Medicina, turma XXXIV EXAME DO ABDOME: À inspeção o abdome poderá se apresentar distendido globalmente, como ocorre nas obstruções prolongadas ou no íleo paralítico, nos casos de peritonites. A presença de cicatrizes de cirurgias anteriores pode sugerir brida ou aderência, e o peristaltismo visível, com aumento de RHA, sugere oclusão ou suboclusão. A palpação superficial pode revelar dor generalizada ou localizada, com ou sem a contratura muscular associada à peritonite. É preciso ter atenção também para a detecção de eventuais acometimentos da própria parede abdominal. Celulites, hérnias, contraturas musculares, traumas e hematomas podem ser responsáveis por dor abdominal. Com a palpação, procura-se encontrar pontos mais localizados de dor, assim como detectar a descompressão dolorosa presente nas peritonites. Nunca se deve começar a palpação pelo ponto mais doloroso, e, sim, por áreas próximas, aparentemente menos acometidas. Isso facilita o exame e traz maior confiança para o paciente. Fígado doloroso e aumentado pode ser encontrado em abscessos hepáticos e, nesse caso, é acompanhado de sinais e sintomas infecciosos. Massas palpáveis podem ser encontradas nos tumores, na doença de Crohn ou em infecções bloqueadas na cavidade abdominal. Toque retal ou exame ginecológico também podem ser úteis. Nos casos agudos, é necessário acompanhar de perto a evolução do quadro. Piora da dor, aumento da área dolorosa, distensão abdominal crescente, diminuição de RHA e reação peritoneal são sinais de piora. A ausculta do abdome pode ser feita posteriormente. Nas gastroenterocolites, os RHA estão aumentados. Nas oclusões e suboclusões, além de aumentados, podem mostrar alteração de timbre com os ruídos metálicos, característicos da luta contra a obstrução. Quando o peritônio está comprometido ou nas fases mais avançadas de doenças obstrutivas e vasculares, os ruídos intestinais diminuem ou desaparecem. Completados a anamnese e o exame físico, vêm na sequência os exames laboratoriais e de imagem. Estes serão abordados nas situações específicas.
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