Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI PARASITOSES INTESTINAIS Ascaris Lumbricoides, Ancylostoma Duodenale, Strongyloides Stercoralis, Enterobius Vermicularis, Trichuris Trichiura, Taenia Solium e Saginata CONCEITO/EPIDEMIOLOGIA: Parasitoses intestinais são infecções causadas por parasitas que habitam o trato intestinal. São causadas por helmintos e protozoários que se manifestam no organismo dos seres vivos, provocando uma série de efeitos nocivos à saúde do infectado; São muito frequentes na infância, principalmente, em pré-escolares e escolares; Estão associados a fatores sociais, econômicos, ambientais e culturais que proporcionam condições favoráveis à disseminação; Os indivíduos afetados são, em maioria, os residentes em áreas que ainda carecem de infraestrutura, sendo expostos constantemente às formas infectantes, seja através de alimentos contaminados, contato direto com o solo, capacidade de evolução das larvas e ovos de helmintos, e de cistos de protozoários, higiene pessoal e coletiva; Constituem uma das principais causas de morte mundial e abrangem cerca de dois a três milhões de óbitos por ano; No Brasil, apresentam-se bastante disseminadas e com alta prevalência, decorrente das más condições de vida; Estudos realizados no Brasil, indicam que entre as regiões Sul e Sudeste prevalência de 23 a 68,9% e entre as regiões Norte e Nordeste > 50%. ASCARIDÍASE AGENTE ETIOLÓGICO: Ascaris Lumbricoides; O principal reservatório é o homem, onde o verme habita em seu intestino delgado; Tem como principal mecanismo de transmissão a ingestão de alimentados ou água contaminados com ovos infectantes do parasita; Os ovos possuem resistências a condições ambientais desfavoráveis como congelação e ressecamento. EPIDEMIOLOGIA: A. lumbricoides é o helminto mais frequente nos países pobres, sendo sua estimativa de prevalência de aproximadamente 30%, ou seja, 1,5 bilhão de pessoas em todo o mundo; Distribuído por mais de 150 países e territórios, atinge cerca de 70 a 90% das crianças na faixa etária de 1 a 10 anos; Por se tratar de uma geo-helmintíase, água potável ou alimentos contaminados são fatores da maior relevância para a disseminação dessa parasitose. CICLO/TRANSMISSÃO: Inicia-se com a ingestão de ovos com larvas L3 em seu interior ao chegarem no intestino delgado eclodem e liberam lavas L3 na luz intestinal (1, 2, 3 e 4); Próximo ao ceco as larvas penetram a parede intestinal e entram na corrente sanguínea ou linfática, invadindo o fígado algumas horas depois e chegando ao coração, sendo encontradas no pulmão 4 ou 5 dias depois (5 e 6); 2 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI Se transformam em L4, rompem os capilares e invadem os alvéolos, onde sofrem mudanças e tornam-se L5; Ascender pela árvore brônquica até a faringe, onde podem ser expelidas pela expectoração ou deglutidas (7); As larvas que forem deglutidas se fixarão e virarão adultos no intestino delgado, adquirindo a maturidade sexual e iniciado a postura de ovos que serão liberados nas fezes ainda não embrionados (8, 9); No ambiente externo, esses ovos irão se tornar embrionados, tendo a primeira forma larval L1, conhecida como rabditoide (10); Após 1 semana L1 virará L2, em seguida ocorre nova mudança para L3, larva filarióide (ovo infectante (11 e 12); Se ingerido, inicia-se o ciclo novamente; Obs: O período de incubação dos ovos férteis até o desenvolvimento da larva infectante (L3), no meio exterior e em condições favoráveis é de, aproximadamente, 20 dias. O período pré-patente da infecção (desde a infecção cm ovos embrionados até a presença de ovos nas fezes do hospedeiro) é de 60 a 75 dias. FISIOPATOLOGIA: As formas larvárias podem provocar dano tecidual diretamente ou por uma resposta inflamatória, depende da carga parasitária e contato prévio do hospedeiro com o parasita; Ao penetrarem a mucosa ou submucosa intestinal, pode ocorrer a morte de diversas larvas ocasionando em alterações teciduais caracterizadas como micro-hemorragias e infiltrado inflamatório constituído por macrófagos e eosinófilos; No fígado, apenas as cargas larvárias maciças pode levar a um quadro inflamatório que resulta em áreas de hemorragia e necrose com manifestações clínicas (hepatomegalia e icterícia (raramente)); Do fígado, atingem a circulação sistêmica, câmaras cardíacas direitas e chegam aos pulmões onde ocasionarão a ruptura alveolar; Vão estabelecer áreas de hemorragias, edema e infiltrados inflamatórios (neutrófilos e eosinófilos); Há uma resposta imunológica adaptativa, do tipo Th2- representado por IgA, IgE, eosinofilia, mastocitose e secreção de muco; A presença de sintomas respiratórios nessa fase caracteriza a síndrome de Loeffler (febre, bronquite, pneumonia); A resposta humoral com predominância de IgE há reações de hipersensibilidade; Vermes adultos não conseguem invadir a mucosa, mas consegue gerar alterações patogênicas devido a liberação de substância antigênicas dentre eles: ABA-1, que induz a produção de IgE, causando reações de hipersensibilidade manifestadas por reações cutâneas (urticária) e respiratórias (broncoespasmos); MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Cursam, incialmente, assintomáticos; Síndrome de Loeffler (febre, tosse, bronquite, pneumonia); Anorexia, dor abdominal, distensão abdominal, cólicas, náuseas, vômitos e diarreia (presença de vermes adultos no tubo digestivo); Obstrução intestinal, devido a enovelação dos parasitos na luz intestinal, + comuns em crianças – dor abdominal súbita em cólicas e vômitos; Desnutrição e depauperamento físico e mental (ocorro pela ação espoliadora, na qual os vermes consomem grande quantidade de proteínas, carboidratos, lipídios e vitaminas A e C); Crianças intensamente infectadas podem desenvolver doença biliar ou pancreatite secundárias (obstrução dos ductos pelo parasito); Outro sinal possível é a alteração cutânea, principalmente em crianças, que consiste em manchas circulares espalhadas pelo rosto, tronco e braços. Essa alteração está relacionada à diminuição de vitamina A e C. 3 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: Estrongiloidíase, amebíase, apendicite, pneumonias bacterianas e outras parasitoses. DIAGNÓSTICO: Parasitológico de fezes (não necessita de nenhum método específico); TRATAMENTO: Albendazol, 400 mg/dia, em dose única para adultos e em crianças, 10mg/kg, dose única; Mebendezol, 100 mg, 2x/dia, durante 3 dias; Ivermectina, 150-200 mcg/kg, em dose única; Levamizol, 150 mg, VO, em dose única para adultos e crianças menos de 8 anos, 40 mg; criança acima de 8 anos, 80 mg; Tratamento da obstrução intestinal: Piperazina, 100 mg/kg + óleo mineral 40 a 60 ml/dia + antiespasmódicos + hidratação. Nesse caso, estão indicados sonda nasogástrica e jejum + mebendazol, 200 mg/dia, divido em 2 tomadas, por 3 dias. PROFILAXIA: Devem-se desenvolver programas de controle com ênfase a atenção aos hábitos higiênicos, principalmente no preparo e manipulação adequados dos alimentos, tratamento e conservação da água, educação e engenharia sanitária; Não usar fezes como adubo; ANCILOSTOMÍASE AGENTE ETIOLÓGICO: Ancylostomidae duodenale e necator americanus; Também conhecida como amarelão ou doença de Jeca Tatu; Principal reservatório: homem; EPIDEMIOLOGIA: Tem distribuição é mundial, mas afeta de maneira mais prevalente nas regiões tropicais e subtropicais, pois favorecem um solo adequado para crescimento e desenvolvimento do verme; Estima-se mais de 1 bilhão de pessoas no mundo infestadas por ancilostomídeos; Tem maior frequência em regiões de baixas condições socioeconômicas e em áreas rurais; CICLO/TRANSMISSÃO: Após o acasalamento de vermes adultos no intestino delgado, os ovos são expulsos nas fezes e liberados no ambiente; Em condições ambientes tornam-se embrionados até 24 horas; A larva rabditoide, após 1 semana, transformam-se em larvas filarióides infectantes; As larvas filarióides penetram na pele, migram para os capilares linfáticos da derme, depois para os capilares sanguíneos onde são levadas pela circulação até o coração, pulmões, perfuram os capilares e a parede dos alvéolos, migrando pelos bronquíolos até chegarem à faringe pelo mecanismo da tosse; Com a deglutição, alcançam o intestino delgado, onde se tornam adultas; Outra forma de contaminação é pela larva encistada a qual, se é ingerida oralmente, alcança o estado adulto no intestino delgado, sem ocorrência de ciclo pulmonar. IMUNOPATOLOGIA: Quando a infecção se instala ocorro uma forte resposta imunológica mediada por Th2, com a presença de eosinofilia, mastocitose intestinal e elevada produção de IgE; Há uma resposta simbiótica do N. americanus com o hospedeiro, com produção de IL-5 que durante a infecção primária parece aumentar a função eosinofílica em limitar uma segunda infecção por larvas filarióides; Os vermes adultos também ativam a produção de IL-4, IL-5, IL-10, IL-13 que estão ligadas mais a uma resposta por células Th2 do que de Th1; Também produzem um fator inibidor de células NK e, logo, suprimem a produção de IFN-gama e a resposta Th2, responsáveis pela expulsão dos parasitas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Alguns casos podem cursar assintomáticos; 4 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI Prurido, eritema e edema (penetração ativa das larvas); Síndrome de Loeffler; Síndrome de Wakana (pessoas infectadas com um grande número de A. duodenale, por via oral, pode desenvolver um quadro de hipersensibilidade imediata, caracterizada por prurido faringeal, tosse, rouquidão, dispneia, náusea, vômito e eosinofilia); Náuseas, vômitos, anorexia, obstipação ou diarreia; Anemia (ocorre devido à perda sanguínea intensa resultante da fixação dos helmintos em diversos pontos da parede intestinal, produzindo mínimas ulcerações e hemorragias na mucosa); Pode ocorrer acometimento cardiovascular- dispneia, taquicardia, palpitações e dores anginosas podendo evoluir com insuficiência cardíaca; Outras manifestações clínicas encontradas nos casos avançados são: edema generalizado (anasarca), hipoproteinemia, cardiomegalia, insuficiência cardíaca e sopros cardíacos. DIAGNÓSTICOS: Parasitológico de fezes (utiliza-se, para a visualização dos ovos, os métodos Lutz, Willis ou Faust, ou mesmo pela contagem dos ovos pelo método Kato-Katz); Hemograma (avaliação da anemia, pode ocorrer leucocitose com eosinofilia mais acentuada na fase aguda); TRATAMENTO: Mebendazol 100 mg, 2 vezes ao dia, durante 3 dias consecutivos; Albendazol 2 comprimidos, VO, em dose única (1 comprimido=200 mg), ou 10 ml de suspensão (5 ml=200 mg); Pamoato de Pirantel 10 mg/kg/VO, dose única. Obs: Repetir a medicação após 30 dias após o início do tratamento. O controle de cura é realizado no 7º, 14º e 21º dias após o tratamento, mediante exame parasitológico de fezes. ESTRONGILOIDÍASE AGENTE ETIOLÓGICO: Strongiloides stercoralis; O principal reservatório é o homem, mas também são encontrados em cães, gatos e primatas. EPIDEMIOLOGIA: Tem distribuição é mundial, mas afeta de maneira mais prevalente nas regiões tropicais e subtropicais; Há mais de 600 milhões de pessoas infectadas no mundo; No Brasil, a prevalência varia de 3% a 82% por causa da variação regional em função da idade, diferenças geográficas e socioeconômicas do país; CICLO/TRANSMISSÃO: As larvas infectantes (filarioides), presentes no solo, penetram através da pele e chegam aos pulmões, traqueia e epiglote; Após serem deglutidas atingem o trato digestivo onde se transformam em verme adulto; A fêmea libera os ovos larvados que eclodem ainda no intestino, liberando larvas rabditoides (não infectantes), que saem pelas fezes; No meio externo, as larvas rabditoides (não infectantes) podem evoluir para a larva filarioide (forma infectante) ou para adultos de vida livre que ao se acasalarem geram novas formas infectantes; Há também a transmissão fecal-oral, com a ingestão de água ou alimentos contaminado com larvas infectantes; A autoinfecção externa ocorre quando as larvas presentes em resíduos de fezes na região anal e perianal penetram no indivíduo pela mucosa retal; Já a autoinfecção interna ocorre no próprio intestino do indivíduo infectado, quando fatores intestinais propiciam a transformação das larvas e permitem a invasão direta da mucosa, e esse fator pode cronificar a doença em vários meses e anos. 5 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI FISIOPATOLOGIA: Na infecção aguda, durante a migração das larvas filarioides pelos pulmões, pode ocorrer a pneumonite eosinofílica (Síndrome de Loffler); As fêmeas se alojam na mucosa ou submucosa do intestino delgado, a população parasitária tender a atingir determinado tamanho e se estabiliza; Na autoinfecção a transformação de larvas rabditoides em filarioides e a capacidade reprodutiva da fêmea são estimuladas por substâncias hormonais conhecidas como ecdisteroides; O processo infeccioso inicial é marcada pela resposta imunológica Th2, mediada por IgE, IL-4, IL- 5 e IL-13 e eosinofilia periférica e tecidual; Os eosinófilos desempenham um papel de células apresentadoras de antígenos (APC); IgG desempenhariam o papel de destruição das larvas com a participação do sistema complemento e de granulócitos; Condições de imunodepressão, por exemplo, principalmente motivadas pelo uso de substâncias glicocorticosteroides, podem interferir nos mecanismos imunes tanto do hospedeiro quanto do parasitas acelerando o mecanismo de autoinfecção, devido a supressão de eosinófilos, bloqueio da ativação de linfócitos; A imunodepressão por HIV, não se constitui, de forma importante, em fator predisponente para a hiperinfecção ou estrongiloidíase disseminada, uma vez que a resposta Th2 não é comprometida de forma intensa; Já os pacientes infectados pelo HTLV-1 há evidencias que a resposta Th2 é substituída pela Th1 (ineficaz no controle da estrongiloidíase). Isso ocorre em função da indução da produção de citocinas, como IFN-gama e TNF-B pelo HTLV-1. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Lesões urticariforme linear migratório; Tosse seca, dispneia ou broncoespasmo e edema pulmonar (Síndrome de Loeffer); Diarréia (secretora ou esteatorréia), desnutrição proteico-calórica, dor abdominal e flatulência, acompanhadas ou não de anorexia, náusea, vômitos e dor epigástrica, que pode simular quadro de úlcera péptica; Na hiperinfecção: febre, dor abdominal, anorexia, náuseas, vômitos, diarréias intensas, manifestações pulmonares (tosse, dispnéia e broncoespasmos e, raramente, hemoptise e angústia respiratória); Podem ocorrer infecções secundárias como: meningite, endocardite, sepse e peritonite. DIAGNÓSTICO: Laboratorial: Amostras fecais, utilizando solução salina e lugol, métodos de concentração de larvas como o Baermann-Moraes e o de sedimentação, além da cultura em placa de Agar e o método Harada-Mori; Pesquisa de larvas em fluídos corpóreos como em: lavados broncoalveolares, escarro, fluido cérebro-espinhal e aspirados duodenais; Imunológicos (casos graves): ELISA, hemaglutinação indireta, imunofluorescência indireta. Imagem: Raio-x; DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: Ascaridíase, giardíase, ancilostomíase, pneumonia, urticária, colecistite, pancreatite,eosinofilia pulmonar tropical. TRATAMENTO: Ivermectina, 200 mg/kg, dose única, VO; (tratamento para formas não complicadas e complicadas) Tiabendazol, 50 mg/kg/dia, dose única ou 20 a 30 mg/Kg/dia, por 3 dias; (tratamento para formas não complicadas e complicadas) Albendazol, 40 0mg/dia, durante 3 dias, não recomendado em gestantes; Cambendazol, 5mg/kg, em dose única, via oral; Obs: Controle de cura- Três exames parasitológicos de fezes, após 7, 14 e 21 dias do tratamento. ENTEROBÍASE/OXIURÍASE AGENTE ETIOLÓGICO: Enterobius vermicularis; O principal reservatório é o homem; TRANSMISSÃO: Auto-infecção externa ou Direta - Do ânus para a cavidade oral, através dos dedos, principalmente nas crianças, doentes mentais e adultos com precários hábitos de higiene; Indireta - Ovos presentes na poeira ou alimentos atingem o mesmo hospedeiro que os eliminou; 6 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI Heteroinfecção - Os ovos presentes na poeira ou alimentos atingem um novo hospedeiro; Retroinfestação - Migração das larvas da região anal para as regiões superiores do intestino grosso chegando até o ceco, onde se tornam adultas; Auto-infecção interna - processo raro no qual as larvas eclodem ainda dentro do reto e depois migrariam até o ceco, transformando-se em vermes adultos; CICLO: Após o acasalamento de vermes adultos no cólon ou ceco, a fêmea repleta de ovos migra e deposita ovos na região perianal e genito-urinária; Pode contaminar roupas de cama e íntima, mãos, águas e alimentos; Por maus hábitos de higiene ou inalação, são levados à cavidade oral e deglutidos havendo liberação da larva e transformação em verme adulto; Há copula e fixação cefálica do verme adulto no colón, ceco e apêndice; Não há ciclo pulmonar; Período de incubação de 2 a 6 semanas. FISIOPATOLOGIA: O processo inflamatório é leve, do tipo catarral e na maioria das vezes não chegam a causar lesão anatômica, uma vez que a mucosa não é penetrada; Nas regiões anal e perianal, a irritação local leva a um prurido mais ou menos intenso, não raro com sinais de proctite, apresentando mucosa congesta com pontos hemorrágicos dispersos, coberta com mucosidade sanguinolenta, contendo ovos ou mesmo vermes; Prurido anal associado com a enterobíase pode determinar irritação mecânica pela movimentação dos vermes ou reação de hipersensibilidade local aos vermes, seus ovos ou suas secreções; O envolvimento exraintestinal na mulher ocorre devido a migração do verme do ânus para a vagina, causando reações inflamatórias granulomatosas; Pode haver outros envolvimentos extraintestinais como: nariz, seios da face, ouvido externo, próstata, epidídimo, região inguinal, tecido subcutâneo; MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Prurido em região anal, preferencialmente à noite. Pode haver dor abdominal e irritabilidade. Complicações: Insônia, alteração de humor, infecção bacteriana secundária, apendicite, prolapso retal. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: Doenças do aparelho digestivo, vulvovaginites. DIAGNÓSTICO: Clínico, devido ao prurido característico; Método de pesquisa perianal: Hall (swab anal) ou Graham (fita gomada- tocar a pele perianal com fita adesiva transparente por três manhãs consecutivas antes da realização e higiene local); Exame parasitológico de fezes: só é viável se tiver alta parasitemia; TRATAMENTO: Pamoato de pirvínio, 10mg/kg, VO, dose única; Mebendazol, 100mg, 2 vezes ao dia, durante 3 dias consecutivos; Albendazol, 10mg/kg, VO, dose única, até no máximo de 400mg. Obs: Todas as 3 drogas são contra-indicadas em gestantes. Repetir a medicação após 14 a 21 dias após o início do tratamento. O controle de cura é realizado no 7º, 14º e 21º dias após o tratamento, mediante exame parasitológico ou fita gomada. Tratar toda família ao mesmo tempo para evitar infestação recorrente e realizar troca diária de roupas de cama e banho por durante o tratamento. TRICURÍASE AGENTE ETIOLÓGICO: Trichuris trichiura; Principal hospedeiro é o homem; 7 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI EPIDEMIOLOGIA: Apesar de amplamente distribuída é mais prevalente em regiões de clima quente e úmido e condições precárias; É a 3ª infecção parasitária mais comum; Estima-se que 604 a 795 milhões de pessoas estejam infectadas em todo o mundo; No Brasil, a prevalência oscila em torno de 40%, variando de um local pro outro; Alta prevalência em crianças em idade escolar; CICLO/TRANSMISSÃO: As fêmeas e machos que habitam o intestino grosso se reproduzem sexuadamente e os ovos são eliminados para o meio externo com as fezes; O embrião contido no ovo, se desenvolve no ambiente para tornar-se infectante; Em condições ambientais favoráveis, os ovos contendo as larvas infectantes podem permanecer viáveis por um longo período de tempo; Os ovos infectantes podem contaminar alimentos sólidos e líquidos, podendo assim, serem ingeridos pelo homem; Após a ingestão dos ovos, as larvas eclodem no intestino delgado do hospedeiro, devido a exposição sequencial ao suco gástrico e pancreático; As larvas inicialmente penetram no epitélio da mucosa intestinal na região duodenal, permanecendo aí por 5 a 10 dias, posteriormente elas ganham a luz intestinal e migram para a região cecal onde completam seu desenvolvimento; Durante a migração, sofrem 4 mudas até se transformarem em vermes adultos; Estima-se que o tempo entre a infecção e a eliminação dos ovos pelas fezes, é de aproximadamente 60-90 dias. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Inicialmente se manifesta de forma assintomática e a gravidade depende da carga parasitária; Na infecção moderada: Dor de cabeça, dor epigástrica, hipogástrica, diarreia, náuseas e vômitos; A síndrome disentérica crônica (diarreia intermitente com tenesmo, presença de muco e algumas vezes sangue, dor abdominal, anemia, desnutrição e em casos extremos prolapso retal- ocorre devido a infestação da mucosa retal, associada a hipotonia muscular e a relaxamento do esfíncter anal, por efeito do parasitismo) ocorre em crianças com infecções intensas; DIAGNÓSTICO: O quadro clínico não é específico, portanto deve ser confirmado com exame laboratorial; Parasitológico de fezes: usando métodos de Faust, Lutz ou Kato-Katz; TRATAMENTO: Mebendazol, 100 mg, duas vezes ao dia por três dias consecutivos; Albendazol, 400 mg, em dose única; Pamoato de Oxipirantel, 10 mg/kg, VO, dose única. Obs: Controle da cura é realizado no 7º, 14º e 21º dia, após o tratamento, através de dois exames parasitológicos de fezes. TENÍASE/CISTICERCOSE AGENTE ETIOLÓGICO: Taenia solium (tênia da carne de porco); Taenia saginata (tênia da carne bovina); O homem é o único hospedeiro definitivo dos dois tipos; O suíno é o hospedeiro intermediário da Taenia solium e o boi é da Taenia saginata; Os ovos da T. solium desenvolvem infecções somáticas (nos tecidos), conhecida como ciscicercose; EPIDEMIOLOGIA: As tênias são encontradas em todas as partes do mundo com maior prevalência de infecção em lugares com hábito de comer carne de porco ou de boi, crua ou malcozida; A OMS estimou a existência de 50 milhões de pessoas contaminadas, com 50 mil mortes anuais, geralmente pelas complicações da neurocisticercose; 8 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI A maior prevalência está presente entre os adultos jovens e nos locais de região rural; A incidência da neurocisticercose é proporcional à prevalência de teníase solium na população; CICLO/TRANSMISSÃO: O homem desenvolve teníase ao ingerir carne contaminada crua ou mal cozida de porco ou boi contendo cisticercos; Os embriões (oncosferas)são liberados durante a digestão dessas carnes e o escólex ou cabeça, presente dentre do cisticerco, desenvagina mediante a ação da bile, fixando-se no intestino delgado do paciente; As primeiras proglotes repletas de ovos são eliminadas num período entre 60 a 70 dias, podendo contaminar o solo e a rede hídrica; As oncosferas penetram na mucosa intestinal e, em 24 a 72 horas, difundem-se no organismo através do sangue; Após isso, ocorre a formação de cisticercos no tecido nervoso, nos músculos esqueléticos e cardíaco, e o paciente; então, desenvolve a cisticercose. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Teníase: A doença, na maiorias dos casos cursam assintomáticas; Alguns pacientes apresentam sintomas decorrentes da inflamação da mucosa, devido à fixação do escólex, hipo ou hipersecreção de muco, alterações da motilidade intestinal e fenômenos tóxicos- alérgicos à distância; Fadiga, irritação, cefaléia, tontura, bulimia, anorexia, náuseas, dor abdominal, hiporexia, diarreia e/ou constipação, urticáriae eosinofilia; Raramente ocorre oclusão do intestino, do apêndice, do colédoco e do ducto pancreático. Se ocorrer, o paciente pode desenvolver apendicite, colangite ou pancreatite; Cisticercose: Muscular ou subcutânea: pouca alteração e em geral é assintomática. Todavia, se numerosos cisticercos se instalarem no tecido subcutâneo ou em músculos esqueléticos, podem provocar a formação de uma reação local com a formação de uma membrana adventícia fibrosa e dor, fadiga e cãibras (calcificados ou não), respectivamente; Cardíaca: pode resultar em palpitações e ruídos anormais ou dispneia quando os cisticercos se instalam nas válvulas; Ocular: perda de visão, uma vez que o cisticerco alcança o globo ocular através dos vasos da coroide, instalando-se na retina. Cresce, provocando o descolamento ou perfuração da mesma; Neurocisticercose: apresentação clínica da evolução da cisticercose para o SNC. Pode ocorrer calcificações desses cisticercos no encéfalo causando degeneração do tecido cerebral e até mesmo obstrução do fluxo liquórico caracterizado por sintomas como: hidrocefalia, HIC, cefaleia, náuseas, vômitos, papiledema e rebaixamento do nível de consciência. DIAGNÓSTICO: O diagnóstico da teníase se faz pelo achado de proglotes nas fezes, nas roupas íntimas ou nos lençóis; No parasitológico é muito difícil obter bons resultados, uma vez que o humano libera facilmente as proglotes; Na neurocisticercose utliza-se métodos sorológicos: ELISA, imunofluorescência e hemaglutinação; e avaliação do líquor; Exames de imagem: Raio-X, TC e RNM de cisticercos calcificados. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: Na neurocisticercose, tem-se que fazer diagnóstico diferencial com distúrbios psiquiátricos e neurológicos (principalmente epilepsia por outras causas). E na teníase outras parasitoses. TRATAMENTO: Teníase: Praziquantel, VO, dose única, 5 a 10mg/kg de peso corporal; Niclosamida ou Clorossalicilamida - adulto e criança com 8 anos ou mais, 2g e crianças 9 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI de 2 a 8 anos, 1g, VO, dividido em duas tomadas; Mebendazol - 200mg, 2 vezes ao dia, por 3 dias, VO; Albendazol, 400mg/dia, durante 3 dias. Neurocisticercose: Praziquantel, na dose de 50mg/kg/dia, durante 21 dias, associado à dexametasona para reduzir a resposta inflamatória, conseqüente à morte dos cisticercos; Albendazol, 15 mg/dia, durante 30 dias, dividido em 3 tomadas diárias, associado a 100mg de metilpredinisolona, no primeiro dia de tratamento, a partir do qual se mantém 20mg/dia, durante os 30 dias. Cirúgico: DVE ou DVP, para tratar a hidrocefalia. Remoção cirúrgica dos cistos. REFERÊNCIAS: BRASIL. Ministério da Saúde. Doenças Infecciosas e Parasitárias. Guia de Bolso. 4. ed. Brasília, 2004. CARVALHO et al. Cartilha Pediátrica de Doenças Infecto Parasitárias. Departamento de Pediatria. Universidade Federal de Minas Gerais. Veronesi
Compartilhar